FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE SAÚDE
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
VALÉRIA MOREIRA DA SILVA
CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA
ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO
DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO
Porto Velho/RO
2018
VALÉRIA MOREIRA DA SILVA
CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA
ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO
DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Ensino em Ciências da Saúde da
Fundação Universidade Federal de Rondônia, em
cumprimento aos requisitos necessários para
obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª. Dra. Janne Cavalcante Monteiro.
Porto Velho/RO
2018
VALÉRIA MOREIRA DA SILVA
CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA
ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO
DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Mestrado Profissional em Ensino em
Ciências da Saúde, Linha de Pesquisa: Integração
Ensino-Serviço, Processos Saúde-Doença e o
Sistema Único de Saúde, do Departamento de
Medicina da Fundação Universidade Federal de
Rondônia-UNIR, como requisito parcial para
conclusão do Mestrado, sob orientação da professora
Dra. Janne Cavalcante Monteiro.
Aprovado em: 28/03/2018
________________________________________________
(Profa. Dra. Janne Cavalcante Monteiro-Presidente da Banca)
Fundação Universidade Federal de Rondônia
________________________________________________
(Profa. Dra. Leila Amaral Gontijo)
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________________________________
(Profa. Dra. Nathalia Halax Orfão)
Fundação Universidade Federal de Rondônia
Porto Velho/RO
2018
DEDICATÓRIA
Aos meus avós paternos Antônio Ferreira da Silva e Francisca Rufino da Silva (in memorian)
por toda dedicação, amor incondicional e ensinamentos, que falta vocês me fazem.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela presença constante, sustento e dádiva da vida, oportunizando-me vivenciar cada
momento para a concretização dessa dissertação.
À professora Janne Cavalcante Monteiro, minha orientadora, por contribuir com seus
conhecimentos imprescindíveis, dedicação, compreensão e paciência nos momentos difíceis,
obrigado por ter acreditado em mim.
A Fundação Universidade Federal de Rondônia, por meio do Núcleo de Saúde e o Programa
de Pós-Graduação: Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde, por oferecer o
referido mestrado.
A todos os docentes do Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde, pelo
compartilhamento dos conhecimentos e incentivo ao longo da caminhada.
As professoras Leila Amaral Gontijo e Nathalia Halax Orfão, pelas valiosas contribuições no
exame de qualificação.
À Direção Geral do Hospital Público, Núcleo de Educação Permanente, Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho e a todos os
trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, pela colaboração na realização deste
trabalho.
Aos meus familiares, em especial ao meu esposo Claudenilson Paiva Abreu, pela
compreensão e incentivo nos momentos difíceis e ao meu filho Paulo Victor Moreira de
Oliveira, pelo aprendizado diário, você é a melhor parte de mim.
A todos os meus amigos, colegas de trabalho, que contribuíram de alguma forma para a
realização deste trabalho, obrigada!
"Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente.
Quem sobrevive é o mais disposto à mudança”.
Charles Darwin
RESUMO
SILVA, Valéria Moreira. Condições de trabalho e os fatores de risco para adoecimento no
centro de material e esterilização de um hospital geral público. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Rondônia-UNIR. 2018, 137p.
As condições e o processo de trabalho no Centro de Material e Esterilização (CME) expõe os
trabalhadores a diversos riscos ocupacionais: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e
psicossociais. Assim, esse estudo objetivou analisar as condições de trabalho e os riscos
ergonômicos que influenciam no adoecimento dos trabalhadores do CME. Utilizou-se a
metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), a qual parte-se da decomposição da
situação de trabalho, com estudo minucioso das interfaces que o compõem para assim
compreender esta situação através da recomposição da mesma. Trata-se de um estudo
descritivo com abordagem quanti-qualitativa, identificando-se primariamente a demanda
ergonômica do trabalho (técnica de observação sistemática participativa) e a partir do
exercício de confrontação entre o trabalho prescrito e o trabalho real pela análise documental,
correspondendo a segunda etapa da AET (Análise da Tarefa). Na etapa da análise da atividade
foram aplicados instrumentos de coleta de dados para caracterizar o perfil sociodemográfico e
ocupacional dos trabalhadores, assim como o Copenhagem Psychosocial Questionnaire
(COPSOQ) para avaliar o risco psicossocial, Diagrama de Corlett e Manenica (risco de
comprometimento musculoesquelético), bem como, a observação sistemática das condições
do ambiente e aferição dos riscos físico-ambientais, por meio do equipamento de medição
Termo-Higro-Decibel-Luxim, marca Instrutherm, modelo THDL-400 em parceria com os
órgãos responsáveis pela saúde do trabalhador do Estado: Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST) e Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho (SESMT). Participaram do estudo, 39 trabalhadores que atuam no CME
selecionado, 79,5% eram do sexo feminino, faixa etária entre 28-65 anos, 74,4% técnicos de
enfermagem e 15,4% enfermeiros. Evidenciou-se que os trabalhadores estão expostos à
iluminância inadequada, aos ruídos originados das autoclaves, central de ar condicionado
(área de esterilização) e do uso do gás medicinal (ar comprimido) durante o procedimento de
secagem de produtos para saúde e os produtos para saúde consignados (áreas de limpeza e
preparo). Os riscos para lesões musculoesqueléticos encontrados na coluna, ombro e membros
inferiores especificamente relacionam-se à sobrecarga exigida pelas posturas assumidas por
longo período. Considera-se que há uma necessidade premente de desenvolver estratégias de
Educação Permanente em Saúde em ações intersetoriais, com o Núcleo de Educação
Permanente (NEP), Núcleo de Saúde do Trabalhador e SESMT, para qualificar os
trabalhadores para o desenvolvimento de suas tarefas no sentido de instruí-los quanto aos
riscos ergonômicos a que estão sujeitos no trabalho executado no CME. Recomenda-se a
aquisição de materiais ergonômicos: tablados e apoio para os pés, protetor auditivo tipo
abafador (áreas de execução da tarefa de secagem dos materiais), adequação da iluminação,
inclusão do exame audiométrico nos exames periódicos de saúde dos trabalhadores. Outra
sugestão para minorar riscos musculoesqueléticos, diz respeito a um maior incentivo e
promoção à prática de atividade física por meio de um programa regular de exercícios
funcionais no ambiente laboral.
Palavras–chave: Condições de Trabalho. Esterilização. Saúde do Trabalhador. Ergonomia.
ABSTRACT
SILVA, Valéria Moreira. Working conditions and risk factors for illness in the material
center and sterilization of a general public hospital. Dissertation (Master degree) - Federal
University of Rondônia-UNIR. 2018, 137p.
It is understood that the conditions and the working process in the CME expose workers to
various occupational risks: biological, physical, chemical, ergonomic and psychosocial. Thus,
this study aimed to analyze the working conditions and the ergonomic risks that influence the
sickness of the CME workers. The AET methodology was used to study the work situation,
which starts from the decomposition of the work situation, with a detailed study of the
interfaces that compose the work to understand this situation through the recomposition of the
same. This is a descriptive study with a quantitative-qualitative approach, identifying
primarily the ergonomic demand of the work (technique of participatory systematic
observation) and from the exercise of confrontation between the prescribed work and the
actual work by the documentary analysis, corresponding to second stage of the AET (Task
Analysis). At the stage of the analysis of the activity, data collection instruments were applied
to characterize the sociodemographic and occupational profile of the workers, as well as the
Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) to assess psychosocial risk, Corlett
Diagram and Manenica (risk of musculoskeletal impairment), as well as systematic
observation of environmental conditions and assessment of physical and environmental risks,
Thermo-Hybrid-Decibel-Luxim, branded Instrutherm, model THDL-400 in partnership with
the organs responsible for the health of the State worker: Reference Center for Occupational
Health (CEREST) and Specialized Service in Safety Engineering and in Medicine of the
Work (SESMT). Thirty-nine professionals working in the selected CME participated in the
study, most of them female, 79.5%, 28 to 65 years of age, 74.4% of nursing technicians,
15.4 % nurses. It was evidenced that workers are exposed to inadequate lighting, noise from
autoclaves, central air conditioning located in the area of sterilization and the use of medical
gas compressed air in the procedure of drying medical articles with difficult to access lumen
and the articles consigned, mainly, in the area of preparation and sterilization. The risks for
musculoskeletal injuries found in the spine, shoulder and lower limbs specifically relate to the
overload required by long-term postures. It is considered that there is an urgent need to
develop strategies of Permanent Education in Health in intersectoral actions, with the core of
Permanent Education (NEP), Worker's Health Center and SESMT, to qualify the workers for
the development of their tasks in order to instruct them as to the ergonomic risks to which
they are exposed in the work of the CME. It is recommended to purchase ergonomic
materials: planks and feet support, hearing protector type damper (areas of task execution of
drying materials), adequacy of lighting, inclusion of audiometric examination in the periodic
health exams of workers. Another suggestion to alleviate musculoskeletal risks, concerns a
greater incentive and promotion to the practice of physical activity through a regular program
of functional exercises performed in the workplace.
Keywords: Working Conditions. Sterilization. Worker's health. Ergonomics.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AET Análise Ergonômica do Trabalho
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CC Centro Cirúrgico
CPRE Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica
CEREST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
CME Centro de Material e Esterilização
CEP Comitê de Ética e Pesquisa
CO Centro Obstétrico
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
COPSOQ Copenhagem Psychosocial Questionnaire
D Direito
Db Decíbeis
DML Depósito de Material de Limpeza
E Esquerdo
EPI Equipamento de Proteção Individual
FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia
FGV Fundação Getúlio Vargas
HBAP Hospital de Base Dr Ary Pinheiro
IMC Índice de Massa Corpórea
IRAS Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde
LUX Índice de Iluminância
NBR Norma Brasileira
NEP Núcleo de Educação Permanente
NPS Nível de Pressão Sonora
NR Norma Regulamentadora
OCT Organização Científica do Trabalho
OMH Odonto-Médico-Hospitalar
P.D Pé Direito
POP Procedimento Operacional Padrão
PPS Produtos para Saúde
PR Paraná
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
RO Rondônia
SESAU Secretaria de Estado da Saúde
SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
SOBECC Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação
Anestésica e Centro de Material e Esterilização
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
SS Serviço de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIR Fundação Universidade Federal de Rondônia
USP Universidade de São Paulo
UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Elementos envolvidos na situação de trabalho........................................... 32
Figura 2 - Dinâmica entre o Trabalho Prescrito e o Trabalho Real............................... 34
Figura 3 - Mapa de segmentos corporais (Diagrama de Corlett e Manenica)............... 43
Figura 4 - Escala Progressiva de intensidade de desconforto/dor.................................. 44
Figura 5 - Fluxo unidirecional das etapas do processamento dos produtos para saúde. 54
Figura 6 - Fluxograma da tarefa prescrita na área suja (contaminada)......................... 56
Figura 7 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de preparo (limpa)......................... 57
Figura 8 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Esterilização (limpa)................. 58
Figura 9 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Armazenamento e distribuição.. 59
Figura 10 - Altura da Bancada de Trabalho.................................................................. 60
Figura 11 - Fluxograma das áreas e respectivos equipamentos de proteção individual.. 62
Figura 12 - Dinâmica das atividades de trabalho no CME do hospital geral público,
Porto Velho, RO, 2017................................................................................
66
Figura 13 - Sala de recepção dos artigos sujos/contaminado provenientes do CC em
um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.....................................
66
Figura 14 - Etapas para produção de materiais de consumo único................................ 68
Figura 15 - Área de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização em um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................
70
Figura 16 - Posicionamento da região do pescoço e da cervical na área de preparo e
esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017............................................
72
Figura 17 - Carregamento da autoclave no Centro de Material e Esterilização em um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................
73
Figura 18 - Atividade de técnica de dobradura do tipo pacote do Centro de Material e
Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........
74
Figura 19 - Atividade de carregamento dos artigos na autoclave de barreira do Centro
de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho,
RO, 2017.....................................................................................................
75
Figura 20 - Área de esterilização química e de desinfecção de alto nível de produtos
para saúde do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................
76
Figura 21 - Área de Armazenamento e distribuição do Centro de Material e
Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........
78
Figura 22 - Sala Administrativa do Centro de Material e Esterilização em um hospital
geral público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................
79
Figura 23 - Área de preparo e esterilização dos produtos para saúde no Centro de
Materiais e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017.............................................................................................................
81
Figura 24 - Distribuição da frequência da intensidade do desconforto/dor referida pelo
trabalhador em relação aos segmentos corporais no Centro de Material e
Esterilização de um hospital geral, Porto Velho, RO, 2017.......................
93
Figura 25 - Área de armazenamento e distribuição do Centro de Material e
Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........
94
Figura 26 - Atividade de dobradura de compressas cirúrgicas e empacotamento de
caixas cirúrgicas na área de preparo e esterilização dos produtos para
saúde no Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho,
RO, 2017.....................................................................................................
95
Figura 27 - Área de armazenamento e distribuição dos produtos para saúde no Centro
de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.............
99
Figura 28 - Preparo da embalagem grau cirúrgico e técnica de dobradura de campos
operatórios na sala de preparo e esterilização dos produtos para saúde no
Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017.............................................................................................................
100
Figura 29 - Atividade de dobradura e empacotamento de campos cirúrgicos nos
balcões da área de preparo e esterilização do Centro de Material e
Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........
101
Figura 30 - Sala de limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital
geral público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................
102
Figura 31 - Sala de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................
103
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição das frequências relativas quanto ao gênero e categoria
profissional no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral
público, Porto Velho, 2017...........................................................................
46
Tabela 2 - Distribuição das frequências relativas quanto a faixa etária dos
trabalhadores do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral
público, Porto Velho, 2017..........................................................................
48
Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos
profissionais de saúde que trabalhavam no Centro de Material e
Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017....................
48
Tabela 4 - Distribuição das frequências relativas quanto a Classificação do Índice de
Massa Corporal dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização
de um hospital geral público, Porto Velho, 2017.........................................
51
Tabela 5 - Distribuição de frequência de trabalhadores que atuam em cada etapa do
processamento no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017..................................................................
52
Tabela 6 - Resultados dos riscos físico-ambientais nos postos de trabalho no Centro
de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho,
RO, 2017......................................................................................................
80
Tabela 7 - Distribuição da frequência da percepção da saúde geral dos trabalhadores
do Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017..............................................................................................................
92
Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos
corporais dos trabalhadores em relação às etapas do Processamento de
Produtos de Saúde no Centro de Material e Esterilização, Porto Velho,
RO, 2017......................................................................................................
97
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Subescalas e itens da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem
Psychosocial Questionnaire-COPSOQ.............................................................
42
Quadro 2 - Alternativas de respostas, pontuação e categorias do nível de Risco
Psicossocial da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem
Psychosocial Questionnaire..............................................................................
43
Quadro 3 - Distribuição das variáveis da dimensão exigências laborais do Copenhagem
Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.................................................
48
Quadro 4 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de
Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................
87
Quadro 5 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de
Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................
88
Quadro 6 - Distribuição das variáveis da dimensão justiça e respeito do Copenhagem
Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.................................................
89
Quadro 7 - Distribuição das variáveis da dimensão organização do trabalho e conteúdo
do Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de
Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017...................................................................................................................
90
Quadro 8 - Distribuição das variáveis da dimensão interface trabalho-indivíduo do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de
Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................
91
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17
1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 19
1.1.1 Geral ........................................................................................................................... 19
1.1.2 Específicos .................................................................................................................. 19
1.2 Justificativa................................................................................................................. 20
1.3 Estrutura do Trabalho ............................................................................................... 20
2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 22
2.1 O Trabalho para o Homem e suas Ambivalências .................................................... 22
2.2 O Processo de Trabalho no Centro de Material e Esterilização ............................... 25
2.2.1 Condicionantes e Determinantes dos Agravos à Saúde no Centro de Material e
Esterilização ........................................................................................................................ 28
2.3 Ergonomia e Análise Ergonômica do Trabalho ........................................................ 31
3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 37
3.1 Delineamento do Estudo ............................................................................................ 37
3.2 Cenário do Estudo ...................................................................................................... 37
3.3 População do Estudo .................................................................................................. 38
3.4 Procedimentos para a coleta de dados: Análise Ergonômica do Trabalho .............. 38
3.4.1 Primeira Etapa: Instrução da Demanda ........................................................................ 38
3.4.2 Segunda Etapa: Análise da Tarefa ............................................................................... 40
3.4.3 Terceira Etapa: Análise da Atividade ........................................................................... 41
3.4.3.1 Questionário Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) .......................... 42
3.4.3.2 Diagrama de Corlett e Manenica ............................................................................... 44
3.4.3.3 Riscos Físico-Ambientais ......................................................................................... 45
3.5 Tratamento dos Dados ............................................................................................... 45
3.5.1 Dados Quantitativos .................................................................................................... 45
3.5.2 Dados Qualitativos ...................................................................................................... 46
3.6 Considerações Éticas .................................................................................................. 46
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................ 47
4.1 Perfil Sociodemográfico e Ocupacional ..................................................................... 47
4.2.1 Análise da Tarefa ........................................................................................................ 54
4.2.1.1 Caracterização do cenário do estudo ......................................................................... 54
4.2.1.2 Dimensionamento de pessoal de enfermagem ........................................................... 56
4.2.1.3 Áreas destinadas ao processamento de PPS e fluxograma das tarefas ........................ 57
4.2.1.4 Dimensão da área e mobiliários dos postos de trabalho ............................................. 60
4.3 Análise da Atividade .................................................................................................... 63
4.3.1 Finalidades CME/HBAP ............................................................................................. 64
4.3.1.1 Fluxo Unidirecional das etapas de processamento ................................................ 65
4.3.1.3 Avaliação dos Riscos Físico-Ambientais .................................................................. 80
4.3.1.4 Análise dos fatores de Riscos Psicossociais .............................................................. 85
4.3.1.5 Diagrama de Corllet e Manenica ............................................................................... 94
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 107
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 110
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......... 117
APÊNDICE B - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM (FOTO) . 119
APENDICE C – INSTRUMENTO DE PESQUISA: QUESTIONÁRIO ...................... 120
ANEXO B - CARTA PARA AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM ...................................... 123
ANEXO C – COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE (COPSOQ) ........ 124
ANEXO D - DIAGRAMA DE CORLETT E MANENICA ........................................... 126
ANEXO E - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ............................................ 127
ANEXO F - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP- EMENDA......................... 130
ANEXO G - CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO ........................................................ 135
1 INTRODUÇÃO
A palavra trabalho diz respeito a forças e potencialidades humanas empreendidas para
cumprir com um determinado objetivo e atender as necessidades específicas demandadas pela
área correlata e para o trabalhador provê seu sustento. O processo de trabalho se dá, portanto,
em um campo de conflitos entre os interesses capitalistas e o trabalho em si (SILVA et al.,
2011).
Para que o trabalho se desenvolva de forma a alcançar seus objetivos determinados é
necessário que o trabalhador tenha condições adequadas para a execução das atividades.
Assim, na relação homem-trabalho é importante conhecer a concepção das tarefas e os
condicionantes inerentes que podem propiciar agravos à saúde do trabalhador. Ao se falar em
atividades desenvolvidas em um Centro de Material e Esterilização (CME) dever-se-á
considerar as peculiaridades específicas desse setor (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012), que
em uma unidade hospitalar de saúde tem como objetivo principal dispensar Produtos para
Saúde (PPS) esterilizados aos demais setores assistenciais e àqueles relacionados ao
diagnóstico, apoiando-os com o provimento para a execução do cuidado de saúde (GIL;
CAMELO; LAUS, 2013).
Tradicionalmente, o CME era um setor vinculado ao Centro Cirúrgico (CC) tendo sido
inicialmente administrado por este, em razão de ser a maior unidade hospitalar consumidora
dos PPS processados. Os trabalhadores designados para as tarefas realizadas nesse setor
comumente apresentavam limitações do ponto de vista assistencial para o cuidado direto ao
usuário, problemas de saúde, interpessoais, limitações intelectuais, resistência em obedecer a
ordens e/ou prestes a se aposentar (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).
Em decorrência do avanço das tecnologias em saúde e os investimentos em
instrumentos para novas abordagens cirúrgicas, nasce à necessidade de aperfeiçoamento no
processamento dos PPS. Assim, o CME passa a ser um setor independente, não mais
vinculado ao CC, mas como unidade de apoio técnico-operacional relevante na estrutura
hospitalar, provendo materiais de conformação complexa1 e esterilizados não somente ao CC,
mas para os demais setores hospitalares (RUBINI et al., 2014).
Nesse setor, o enfermeiro e sua equipe desenvolvem um trabalho diferenciado. O
processo de trabalho desenvolvido por esse profissional utiliza-se de um conjunto de
competências técnico-científicas voltadas para administração, desenvolvimento de atividades
1 Conformação complexa: produtos para saúde que possuam lúmen inferior a cinco milímetros ou com fundo
cego, espaços internos inacessíveis para a fricção direta, reentrâncias ou válvulas (Brasil, 2012a, p.2).
18
técnico-assistenciais, gestão de recursos humanos e ainda as relacionadas à interação entre os
demais setores hospitalares consumidores do produto processado com os setores de apoio
institucional, numa relação que se caracteriza pela interdependência (GIL; CAMELO; LAUS,
2013; OURIQUES; MACHADO, 2013).
Outra peculiaridade do processo de trabalho no CME diz respeito à instrumentalização
da assistência direta ao usuário. O trabalho realizado nesse setor é marcado pela invisibilidade
do cuidado direto, sendo esta desvalorizada pelos demais setores hospitalares e de menor
importância para a gestão, apesar de contribuir de maneira inexorável para o controle das
Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Deve-se, portanto, ressaltar que a
participação marcante do CME nesse controle, impacta positivamente na qualidade dos
serviços de saúde prestados (MACHADO; GELBCKE, 2009).
Acrescenta-se ainda, a existência de riscos ocupacionais por ser esse um setor
insalubre. Tal constatação se dá devido à frequente exposição dos trabalhadores aos riscos
físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e às condições externas, tais como: condições de
saúde, humor, ansiedade, esforços físicos e repetitivos, jornada de trabalho extenuante e ritmo
acelerado de trabalho. Ressalta-se que essas condições podem interferir nas atividades e na
qualidade de vida dos trabalhadores (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; SPAGNOL et al.,
2015).
Corroborando nesse sentido, Costa, Souza e Pires (2016) relataram a existência de
CME dotados de infraestrutura física inadequada, espaços pequenos e isolados, sistemas de
ventilação precários e outros condicionantes que podem agravar a saúde dos trabalhadores e
provocar adoecimentos. Nota-se também, no estudo realizado por Borgheti, Viegas e
Caregnato (2016), fatores de risco que podem acarretar em acidentes de trabalho, como
sobrecarga, jornadas extenuantes, desgastes físicos, escala de serviço noturno, desatenção,
excesso de confiança, falta de habilidades técnicas e condições do ambiente laboral. Diante
disso, os autores mostram que o contexto de trabalho nesse setor hospitalar é caracterizado
por situações de risco que podem ocasionar prejuízos na saúde dos trabalhadores que atuam
nesse ambiente laboral.
Nesse sentido, Costa, Souza e Pires (2016) identificaram que 61,76% dos
trabalhadores apresentaram alterações na saúde em decorrência do trabalho no CME e que
26,47% se afastaram do trabalho nos últimos seis meses, devido acidentes de trabalho
(trajeto), depressão, doenças do sistema osteomuscular e outros. Essa relação configura o
objeto de estudo da Ergonomia definida como o “estudo do relacionamento entre o homem e
o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de
19
anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento”
(ROYAS; MARZIALE, 2001, p. 103).
A partir dos problemas de saúde levantados na literatura inerentes à temática, acredita-
se que existam situações ergonômicas impróprias no contexto organizacional do CME que
impactam significativamente no processo de trabalho. Percebe-se a necessidade do
desenvolvimento de pesquisas científicas nesse setor, considerando a peculiaridade do
trabalho no CME e a lacuna na literatura sobre a Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
como metodologia para o estudo das condições da unidade relacionadas às exigências
crescentes de cunho físico, cognitivo e organizacional por elas desencadeadas para
trabalhadores em razão da complexidade das tarefas executadas nesse setor.
Diversos problemas podem ser levantados pela AET, como por exemplo, “problemas
ocasionados por má postura e sobrecarga física” (MONTEIRO, 2004, p.162), que causam
quadros álgicos musculares agudos e crônicos, sobretudo na região da coluna lombar e
cervical, membros inferiores, punho e demais regiões do corpo. Levando em consideração, a
particularidade do processo de trabalho no CME, fica evidente a importância da análise da
concepção de trabalho nesse setor, assim como as condições do ambiente dado à
complexidade das atividades ali desenvolvidas e os riscos que impactam na saúde do
trabalhador.
Este estudo parte do pressuposto que a ergonomia é a ciência que respalda o presente
trabalho a luz da AET, a partir da decomposição da situação de trabalho através do estudo
meticuloso das interfaces que o compõem, ou seja, os aspectos que se articulam na situação de
trabalho, como as características dos trabalhadores, organização do trabalho, equipamentos,
espaços, modos de produção do trabalho. Dessa forma, a questão do estudo é analisar se as
condições de trabalho configuram risco ergonômico para os trabalhadores de saúde que atuam
no CME de um hospital geral público.
1.1 Objetivos
1.1.1 Geral
Analisar as condições de trabalho e os riscos ergonômicos que podem influenciar no
adoecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização (CME) de um hospital
geral público.
1.1.2 Específicos
Descrever o perfil sociodemográfico e profissional dos trabalhadores do CME;
Caracterizar o processo de trabalho no CME por meio da AET;
20
Identificar os riscos ergonômicos a que estão expostos os trabalhadores do
CME;
Propor recomendações de melhoria no ambiente de trabalho do CME.
1.2 Justificativa
A motivação e o interesse para o desenvolvimento desse estudo surgiram da
necessidade de compreender os fatores condicionantes do ambiente de trabalho que podem
causar riscos de adoecimento dos trabalhadores que atuam no CME e consequentemente
afetar a qualidade do processamento dos PPS. Destaca-se ainda, que o local escolhido para
realização da pesquisa é cenário de referência para as práticas de ensino dos estudantes de
enfermagem em nível superior e técnico e os resultados do presente estudo poderão ainda,
contribuir para o ensino e pesquisas relacionadas à saúde do trabalhador nas instituições de
saúde.
Selecionou-se para o estudo a metodologia da AET, tendo em vista ser uma ferramenta
que busca a transformação do trabalho, a partir essencialmente da compreensão deste, sendo
possível uma transformação das condições de trabalho por meio da análise da demanda, da
tarefa prescrita (normas, regras, protocolos validados) e da atividade (ações e investimentos
feitos pelos sujeitos) (GUÉRIN, 2001).
A AET foi proposta uma vez que, no estudo da influência das condições de trabalho
no adoecimento dos trabalhadores no CME, encontra-se explícita uma relação entre o ser
humano, o trabalhador, e seu ambiente de trabalho. Assim, buscar-se-á compreender a
situação de trabalho nesse setor, por meio desta metodologia para a construção de
recomendações de melhoria. O olhar ergonômico para responder à questão objeto deste
estudo, que é analisar se as condições de trabalho configuram risco ergonômico para os
trabalhadores de saúde, possibilitará diferentes formas de intervenção, visto que analisa a
relação trabalho-homem sob várias perspectivas.
1.3 Estrutura do Trabalho
O trabalho foi estruturado em cinco partes, que são apresentadas a seguir:
Capítulo 1 - Introdução: foram abordados os tópicos referentes introdução, relevância
da pesquisa, objetivo geral e os específicos, justificativa para o desenvolvimento da pesquisa
no setor CME.
Capítulo 2 - Revisão de Literatura: neste capítulo é apresentado o Trabalho para o
Homem e suas Ambivalências, com a abordagem dos aspectos de significação do trabalho
21
para o homem, além da satisfação de suas necessidades de vida que traz em si e o que pode
ainda causar adoecimento. No segundo tópico foram abordadas as características do Processo
de Trabalho em um CME, além dos condicionantes e determinantes dos agravos à saúde que
podem advir de um trabalho nesse setor e no último tópico, como a Ergonomia e a AET
podem contribuir para melhorias de qualidade e prevenção do adoecimento dos trabalhadores.
Capítulo 3 - Metodologia: refere-se ao delineamento do estudo, tipo e abordagem da
pesquisa, caracterização do cenário, população e amostra. Descrição dos procedimentos para a
coleta de dados, as etapas da AET (análise da demanda, tarefa e atividade), tratamento dos
dados e considerações éticas.
Capítulo 4 - Análise e Discussão dos Resultados: foram apresentados os resultados
obtidos através do método proposto, com a construção do perfil sociodemográfico e
ocupacional dos trabalhadores que atuavam no CME e como a AET foi utilizada. Também
foram apresentados os riscos físico-ambientais, psicossociais e musculoesqueléticos e
sugestões e recomendações, considerando os achados da abordagem ergonômica realizada no
CME selecionado.
Capítulo 5 - Considerações Finais: neste capítulo apresenta-se as considerações finais
após a realização da AET e a constatação da necessidade de algumas adequações da situação
de trabalho evidenciados pelos achados ergonômicos dessa pesquisa.
22
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Trabalho para o Homem e suas Ambivalências
O trabalho é considerado uma atividade que tem por objetivo a socialização. É
compreendido por alguns estudiosos como a capacidade humana exclusiva de “transformar a
natureza e a si próprio, produzindo e modificando suas condições de vida” (ANTUNES, 2009,
p. 12). Sua importância para a vida do homem está em oportunizar o desenvolvimento de suas
capacidades físicas, cognitivas, psicológicas, sensoriomotoras num contínuo movimento de
descobertas e aprendizados (GIANOTTI, 2010).
Por meio do trabalho o homem busca atender às suas necessidades, ao sentimento de
satisfação e realização, assim como à produção e à reprodução da vida em sociedade. Nesse
sentido, caracteriza-se por ser fundamentalmente social, considerando o sentido de que os
sujeitos estabelecem relações sociais contínuas “entre si” e “para si” submetendo-se às
normas e regras para alcançar resultados satisfatórios (LHUILIER, 2013).
Para Guérin et al. (2001) o trabalho institui-se a partir de pontos de vistas peculiares e
é visto como produtor de valor de uso, assim como dos vínculos criados entre os diversos
sujeitos no ambiente laboral, promovendo satisfação das necessidades, transformação da
natureza e alcance de resultados. Corroborando nesse sentido, Abrahão et al. (2014) trazem a
ideia do trabalho como indutor do desenvolvimento humano e constitucionalmente é
assegurado como direito social, de acordo com o art. 6º da Constituição Federal Brasileira
(BRASIL, 1988).
O homem é vivificado e transformado biopsicossocialmente pelo e no ato de trabalhar
no qual permite-se criar, recriar, experimentar, ações factíveis exclusivamente ao homem, o
mentor de todo o trabalho, capaz de re(significar) suas experiências, assim como de buscar
sua identidade desvelando sua individualidade por meio de suas ações (FRANCO, 2011).
Enfatiza-se que o trabalho humano é idealizado mentalmente, antes mesmo de alcançar seu
resultado final, ou seja, perpassa por um planejamento prévio na mente do homem para sua
concretização (ANTUNES, 2009; BRASIL, 2011).
Então, pode-se dizer que a habilidade intelectual é o que realmente diferencia o
trabalho humano do instinto animal. O trecho abaixo corrobora com essa inferência:
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de
um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da
melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em
realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes
idealmente na imaginação do trabalhador (MARX, 2002, p.53).
Somente ao homem cabe a estruturação e planejamento mental do trabalho. Neste
23
sentido, acredita-se que o trabalho humano é uma ação vital que move o homem de maneira
emancipadora, provoca sentimentos de realização pessoal, criatividade, prazer, felicidade,
crescimento profissional, inclusão social e ganho salarial. Mas, não são somente sentimentos
de prazer, de realização e transformação do homem e da natureza. Por vezes, o trabalho pode
causar sofrimento e adoecimento advindos de transformações pelas quais a sociedade passa
no percurso histórico que a influencia (ANTUNES, 2009).
O trabalho permanece passando por transformações procedentes do modelo capitalista,
neoliberal vigente na sociedade com forte influência do preconizado por Frederick Taylor2.
Monteiro (2004) e Abrahão et al. (2014) apontaram que a Organização Científica do Trabalho
(OCT), proposta por Taylor, culminou na divisão do trabalho, diferenciando e separando os
que pensam e os que executam, marcando o que ficou conhecido como trabalho parcelar.
Durante praticamente todo o século XX, a partir da segunda década, as concepções
Tayloristas e também as Fordistas vigoraram no sistema produtivo ocidental impactando
maciçamente no processo de trabalho. Uma das características de sistema de produção seria o
foco no trabalho parcelar e fragmentado, primando pela racionalização das tarefas realizadas
pelos trabalhadores, em ritmos acelerados (FRANCO, 2011). Antunes (2009, p. 39) afirma
que esse “processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla da produção em série
fordista com o cronômetro taylorista”, assim como dicotomizou a elaboração e a execução das
tarefas.
Nesse contexto Gianotti (2010, p.62), aponta que o rumo do trabalho na sociedade
contemporânea se configura pela venda da força de trabalho em troca de salário, “o
trabalhador converte-se num mero objeto, numa mercadoria como outra qualquer, cuja
produção passa a ser regulada pela lei da oferta e da procura”. Neste excerto reside a
ambivalência do trabalho, ao mesmo tempo em que objetiva a satisfação, a realização, o
prazer, na conformação atual em um sistema de produção, observa-se sofrimento e o
adoecimento do trabalhador, considerado como um objeto que vende sua força de trabalho por
um salário.
Em sua trajetória histórica, o sentido do trabalho tinha uma concepção negativa e
desvalorizada por ser realizado por escravos, outrora se caracterizava por atividades
servis/servidão, de subsistência e de caráter religioso (RIBEIRO et al., 2012). Trazendo a
ideia de sofrimento e labuta, a palavra trabalho é etimologicamente originária do latim
2 Frederick W. Taylor: “pai da administração científica”, foi um engenheiro mecânico nas fábricas Midvale e
Bethleheim Steel, Pensilvânia, no final do século XIX, criou a Organização Científica do Trabalho (OCT)
(MARQUIS, B. F; HUSTON, C. J, p.35).
24
tripalium que significa ferramenta de tortura, refletindo um sentido de sofrimento e penar
(LHUILIER, 2013). Considerando as mudanças ocorridas no sentido pleno do trabalho,
resgata-se esse conceito no qual as relações foram e estão hoje marcadas por exigências,
pressão e esforços para o alcance dos resultados a que se propunha (ANTUNES, 2009).
Percebe-se então que, no contexto contemporâneo as relações homem-trabalho cada
vez mais estabelecem uma desapropriação que pressupõe a “sujeição do corpo” por um
processo “mudo e invisível”, alienante em benefício da produtividade, contribuindo para a
exaustão emocional e adoecimento (SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014). Posto isto, a anuência
dos trabalhadores às exaustivas cargas de trabalho com vistas ao fortalecimento das
perspectivas econômicas, tecnológicas e financeiras, tornaram-no menos críticos e reflexivos
sobre suas atividades, sujeitos a adoecer frente às fortes pressões impostas pelo modelo de
organização do trabalho com ênfase no lucro (BRASIL, 2011).
Os trabalhadores estão sujeitos fortemente ao trabalho prescrito (normatizado, normas
e regras), perdendo a governabilidade sobre os meios de produção, o que os torna refém de
um sistema focado para a produção, para obter os resultados exigidos pelo contratante
(BRASIL, 2011; RIBEIRO et al., 2012). As concepções político-econômicas alteraram de
maneira imperiosa o mundo do trabalho, a sociedade e radicalmente a vida dos trabalhadores.
O ritmo humano intenso, a fragmentação do trabalho, as condições insalubres, a
relação de dominação e subordinação, obriga-os aos ajustamentos para realização das
atividades e a luta por melhores condições de vida e de trabalho através das representações da
classe. O trabalhador não perde o estímulo de “permanecer produzindo, além de ter a
oportunidade de identidade e construção de um sujeito psicológico e social” (RIBEIRO et al.,
2012; SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014, p.125).
Ademais, alguns aspectos são considerados balizadores para a precarização do mundo
do trabalho, por exemplo, o resultado das relações flexíveis e informais, a privatização
exacerbada, insegurança dos vínculos, longas jornadas de trabalho, perda dos direitos sociais
dos trabalhadores e de benefícios (ANTUNES, 2009; CAVALCANTE; LIMA, 2013).
Lhuilier (2013) afirma ainda que a flexibilidade seja a modalidade padrão das empresas na
atualidade, gerando insegurança no mercado de trabalho, estimula a competitividade, e de
certa maneira define uma das características da contemporaneidade, a redução do trabalho
estável em detrimento à prestação de serviços, subcontratação.
A ideia contemporânea do trabalho está caracterizada por uma classe de trabalhadores
assalariados que vivem da venda de sua mão de obra sem deter os meios de produção em
troca de um salário. O perfil dos trabalhadores supracitados é denominado no pensamento
25
marxista de trabalhadores produtivos, homens e mulheres que produzem diretamente a “mais
valia” e que também são participantes do processo de valorização do capital (MARX, 2002).
Observa-se que os processos de trabalho foram influenciados pelas concepções
socioeconômicas que repercutiram fortemente na relação homem-trabalho e atualmente, ainda
é caracterizado pela racionalização capitalista, fragmentação do trabalho, divisão das tarefas
em prol da intensificação do capital e do lucro. Tal retrato não se restringiu apenas ao setor
industrial, mas, ampliou aos demais setores, como por exemplo, ao setor de prestação de
serviços de saúde.
No contexto do trabalho em saúde observa-se o reflexo dessas transformações e a
influência socioeconômica a que o trabalho foi submetido. O surgimento de inúmeras
especializações pode ser tomado como exemplo, uma vez que estimula a fragmentação do
cuidado em saúde e a divisão técnica ou parcelar do trabalho (CECÍLIO; LAGAZ, 2012).
Somando-se a isso, as tecnologias de saúde fortemente presentes no trabalho em
saúde, norteando o cuidado no âmbito hospitalar, predominando dessa maneira o caráter
técnico-mecanicista (SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014). Nesse aspecto, o trabalho desenvolvido
no CME também foi influenciado por essa tendência, parcelando-o em estações ou áreas,
configurando as etapas de processamento dos PPS.
2.2 O Processo de Trabalho no Centro de Material e Esterilização
Um CME articula-se necessariamente com os demais setores do hospital e com outras
unidades de saúde, uma vez que sua atividade fim consiste em fornecer PPS para suprir a
assistência direta ao usuário, seja aquela que ocorre no CC, nas unidades de internação, assim
como nos ambulatórios e nos setores de diagnóstico e àqueles de urgências e emergências
(COSTA; FUGULIN, 2011; GIL; CAMELO; LAUS, 2013; SOBECC, 2017). Assim, a
relação de trabalho no CME não se dá pelo cuidado direto.
Historicamente, houve a racionalização do processo de trabalho no CME com o
advento da complexidade e sofisticação dos materiais utilizados nos atos cirúrgicos nas
últimas décadas do século XX. Buscou-se então, maiores especificidades para o
processamento de PPS, que passaram a serem processados com base na divisão parcelar do
trabalho em etapas, como numa linha de montagem: (1) recepção dos PPS contaminados, (2)
limpeza, (3) desinfecção, (4) preparo, (5) acondicionamento, (6) esterilização, (7)
armazenamento e (8) distribuição dos artigos PPS processados (ASCARI et al. 2013).
É recomendado pela resolução normativa brasileira, que o responsável seja
profissional de nível superior, atuante exclusivamente nessa unidade, gerenciar o processo de
26
trabalho e o processamento de PPS. Cabe observar as condições do ambiente, buscando
construir estratégias de prevenção de acidentes e/ou adoecimento, articulando ações
intersetoriais com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), CC, Lavanderia,
Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e
Saúde do Trabalhador, garantindo dessa forma a continuidade do cuidado ao trabalhador
(BRASIL, 2012a).
Tradicionalmente, a responsabilidade técnica do CME fica a cargo do enfermeiro, que
exerce funções administrativas, gerenciais e de supervisão, garantindo segurança em todas as
etapas do processamento. Entretanto, tal responsabilidade não é exclusiva dessa categoria
profissional, pode ser realizada por outras categorias de profissionais da área da saúde que
tenham respaldo teórico-científico por meio de curso de qualificação e certificado em práticas
de processamento de PPS, assim como atualizações periódicas (BRASIL, 2012a).
Dentre as atividades administrativas, compete à coordenação e elaboração de
Procedimentos Operacionais Padrão (POP) com embasamento científico, processos de
monitoramento e avaliação da qualidade das etapas de processamento, pesquisas, treinamento
e habilitação dos recursos humanos alocados para esse posto de trabalho (WHO; PAHO,
2016). Considerando ainda, a competência científica e tecnológica baseado em evidências,
para que possa habilitar com conhecimentos científicos e técnico-operacionais os demais
integrantes da equipe (COSTA; FUGULIN, 2011; BRASIL, 2012a; WHO; PAHO, 2016;
APSIC, 2017; SOBECC, 2017).
Considera-se o CME como uma área crítica, notavelmente por recepcionar PPS usados
na assistência direta à saúde, contaminados com secreções orgânicas provenientes dos
procedimentos realizados em âmbito hospitalar. O ambiente e a organização do trabalho
expõem os trabalhadores a diversos riscos ocupacionais, não somente ao risco biológico, mas
também outros inerentes ao desenvolvimento das atividades peculiares ao setor, tais como
químicos (vapores, líquidos), físicos (ruídos, temperatura elevada, iluminação inadequada),
psicossociais (estresse, insatisfação, sobrecarga mental) e ergonômicos (esforços físicos,
posições incômodas) (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).
Nesse aspecto, Aquino et al. (2014) citam que a estrutura física deve atender às
normas vigentes, possibilitando um fluxo contínuo e unidirecional (linear) para o
processamento seguro de PPS, no sentido da área suja para a área limpa, respeitando assim as
etapas do processamento. Tal exigência encontra-se regulamentada pelas legislações vigentes,
assegurando inclusive que seja previsto nos projetos arquitetônicos do setor, as barreiras
físicas entre as áreas (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017).
27
Cabe ainda considerar, que para um adequado desenvolvimento do processo de
trabalho no CME, o ambiente deve comportar a demanda diária de processamento de PPS, a
quantidade de leitos da unidade hospitalar, o número de cirurgias e a quantidade de salas
cirúrgicas que a unidade disponibiliza, assim como as condições de armazenagem e
distribuição dos produtos de saúde esterilizados (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011;
SOBECC, 2017).
O CME processa PPS classificados como críticos, aqueles que são utilizados nos
tecidos humanos estéreis ou no sistema vascular, isentos de flora microbiana própria, então
são artigos que requerem esterilização. Mas, também tem a responsabilidade do
processamento dos artigos semicríticos, que são aqueles usados em mucosas íntegras ou em
pele não íntegra e devem receber processamento para desinfecção de nível alto ou
intermediário. Os artigos não críticos também são tratados em CME, são eles aqueles que
entram em contato somente com a pele íntegra do usuário, requerendo limpeza e/ou
desinfecção de baixo ou médio nível (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011; BRASIL,
2012a; SOBECC, 2017).
Alguns PPS são classificados ainda, quanto à conformação complexa e não complexa,
assim, consideram-se instrumentais críticos de conformação complexa, os que apresentam
lúmen inferior a cinco milímetros ou com fundo cego, espaços internos inacessíveis para a
fricção direta, reentrâncias ou válvulas exigindo processo de limpeza de preferência
automatizada. Os de conformação não complexa são aqueles cujas superfícies internas e
externas podem ser atingidas por escovação durante o processo de limpeza e tenham
diâmetros superiores a cinco milímetros nas estruturas tubulares (GRAZIANO; SILVA;
PSALTIKIDIS, 2011; SOBECC, 2017).
No que tange ao processamento, destaca-se que os CME podem ser classificados em
dois tipos: Classe I que realizam o processamento de PPS não-críticos, semicríticos e críticos
de conformação não complexa, passíveis de processamento. E os de Classe II, que
operacionalizam as funções supracitadas e o processamento de artigos de conformação
complexa e não complexa (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017).
O processamento de PPS torna-se cada dia mais meticuloso, à medida que surgem
novos designs de produtos, além dos avanços científicos na área de esterilização e de
procedimentos cirúrgicos, o que torna a etapa de limpeza um grande desafio para os
trabalhadores. Cada vez mais os instrumentais cirúrgicos tornam-se específicos, precisando de
atenção redobrada e conhecimento técnico no processo de limpeza, necessitando serem
desmontados para total retirada das sujidades de origem orgânica e inorgânica (RUBINI et al.
28
2014).
As complexidades das tarefas no contexto do processo de trabalho nos CME em
decorrência do aprimoramento tecnológico exigem dos trabalhadores conhecimento técnico
profundo e habilidades laborais mais acuradas. É necessário que saibam lidar com a presença
de condicionantes que podem interferir na saúde, os riscos para acidentes de trabalho e da
possibilidade de desencadear processos de adoecimento (WHO; PAHO, 2016).
Posto isto, a especificidade das tarefas prescritas, exige que os trabalhadores da equipe
de enfermagem estejam qualificados e habilitados de forma contínua e permanente para o
bom desenvolvimento do trabalho, primando pela organização do serviço, qualidade,
segurança e saúde no ambiente. O processo de trabalho nesse setor é peculiar, exige atenção,
concentração e é marcado por exigências de qualificação dos trabalhadores atuantes, assim
como a estrutura deve favorecer o fluxo de trabalho contínuo e unidirecional (BRASIL,
2012a; BORGHETI; VIEGAS; CAREGNATO, 2016).
A Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica
e Centro de Material Esterilizado (SOBECC), recomenda que as boas práticas para o
processamento de PPS dependem também da atualização dos trabalhadores que atuam no
CME. É imperioso que tenham atualização com base em evidências científicas e tecnológicas
periodicamente, inerentes ao processamento e esterilização dos PPS (SOBECC, 2017). Tal
exigência também é requisitada pela Sociedade Ásia-Pacífico de Controle de Infecções
(APSIC) conforme consta no Guideline for Disinfection and Sterilisation on of instruments in
Health Care Facilities (APSIC, 2017).
Diante do exposto, nota-se que o ambiente de trabalho, a organização e as tarefas
desenvolvidas no CME, estão estritamente relacionadas com a exposição ocupacional e
possíveis agravos à saúde, que podem levar ao adoecimento dos trabalhadores. Desse modo,
é necessária a discussão dos condicionantes e dos determinantes na situação de trabalho
estudada.
2.2.1 Condicionantes e Determinantes dos Agravos à Saúde no Centro de Material e
Esterilização
O trabalho em saúde apresenta grandes potenciais de riscos ocupacionais. Entretanto o
reconhecimento dos riscos presentes na atividade laboral, nem sempre despertam os
trabalhadores a adotarem um comportamento de proteção/segurança (VILELA; BARRETO;
GEBRIM et al., 2015). Em virtude das atividades serem realizadas em locais insalubres com
risco de contaminação com microrganismos, o risco biológico, comumente é o mais
29
reconhecido pelos trabalhadores. Spagnol et al. (2015) acrescentam nesse aspecto, que as
atividades nos CME expõem os trabalhadores além do risco biológico, as exigências
fisiológicas, cognitivas, especialmente na questão de tempo e ritmo de trabalho.
No estudo realizado por Espindola e Fontana (2012), foi evidenciado que o risco mais
referido pelos trabalhadores de um CME foi a exposição às altas temperaturas durante o
processo de esterilização, por meio das autoclaves (vapor saturado sob pressão). Quanto à
medida de precaução as mais usadas pelos trabalhadores foram à vacinação, uso de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e hidratação.
Nesse contexto, percebe-se que os condicionantes físicos, mentais e psicológicos
podem afetar à saúde dos trabalhadores atuantes do CME e o desempenho nas tarefas
instituídas, maximizando cargas existentes no ambiente. O estudo realizado por Aquino et al.
(2014) aponta que as doenças ocupacionais destacam-se e estão relacionadas com a intensa
ritmicidade das atividades e elevadas demandas que condicionam os trabalhadores a
permanecerem por longos períodos na posição em pé, exigindo esforço físico extenuante e
frequente presença de riscos durante toda a dinâmica operacional do processamento de PPS.
Somando-se ao exposto, Guérin et al. (2001) contribuem afirmando que alguns
padrões de organização de trabalho podem gerar situações constrangedoras e desgastes
humanos que impactam no desempenho das atividades laborais, ocasionando danos e/ou
agravos à saúde física e mental do ser humano. Corroborando nesse sentido, o estudo
realizado por Salvagni, Giaretta e Posso (2015) evidenciou risco físico (ruídos) por meio da
aferição com um decíbelimetro do modelo Icel Manaus DL-4100, com média de Nível de
Pressão Sonora (NPS) de 77,2 dB (A) nas áreas de recepção e limpeza de um CME.
Esses autores identificaram ainda que a origem da emissão dos ruídos no CME foi em
decorrência da utilização do gás medicinal (ar comprimido) usado para secagem dos materiais
com lúmens pequenos (complexos), do uso das autoclaves e das lavadoras ultrassônicas.
Outro resultado encontrado como risco físico, refere-se ao estudo de Salvagni, Giaretta e
Posso (2015) que relatam que às áreas de recepção e limpeza dos CME que eram
relativamente pequenas, dessa forma concentrando uma quantidade expressiva de
funcionários e que a conversa excessiva poderia interferir nas tarefas executadas
(SALVAGNI; GIARETTA; POSSO, 2015).
Outra característica do CME que pode ser considerada como condicionante de agravos
à saúde, consiste no fato de ser um setor restrito, ou seja, um ambiente fechado com limitação
de entrada e saída de funcionários, o que potencializa os ruídos. Acrescente-se, ainda, a
execução de tarefas monótonas e repetitivas durante exaustivas jornadas de trabalho, o que foi
30
evidenciado na pesquisa empreendida por Espindola e Fontana (2012) sobre riscos
ocupacionais e mecanismos de autocuidado do trabalhador de um CME.
Os autores indagam ainda que, em relação à organização do trabalho, registra-se a
característica de um setor de produção, seguindo austeras regras sequenciais para o
provimento dos produtos para a saúde, esterilizados em tempo e quantidade necessária,
contribuindo para a continuidade da assistência ao usuário de forma segura (ESPINDOLA;
FONTANA, 2012). O rigor no cumprimento de todas as etapas é fundamental para um
processamento eficaz e livre de microrganismos.
Outros autores, como Costa et al. (2015a) e Graziano, Silva e Psaltikidis (2011),
observaram que a organização do trabalho se assemelha àquela que ocorre em uma indústria e
segue uma dinâmica operacional sistemática para chegar ao produto final, isto é, PPS livres de
contaminação e seguros para o uso. Para que tal organização se concretize é necessária uma
infraestrutura apta para o cumprimento de todas as etapas do processamento e profissionais
habilitados para a execução das tarefas prescritas.
Madeira et al. (2015) valida essa premissa no sentido de que os trabalhadores devem
ter aporte técnico-científico sobre produção e controle de qualidade em todas as etapas, além
da necessidade de atenção criteriosa. A equipe do CME é responsável pelas tarefas de
monitoramento físico, químico e biológico, validação de processos e rastreabilidade dos
produtos.
Nessa perspectiva, cabe salientar que nos CME o quantitativo de pessoal e a
estrutura física variam e são influenciados pelo ambiente de trabalho, fluxo e do melhor uso
do tempo da equipe, portanto o número de funcionários necessários em cada turno dependerá
da complexidade da assistência prestada pelo estabelecimento de saúde e quantidade de
cirurgias (WHO; PAHO, 2016). Com referência ao dimensionamento de profissionais de
enfermagem de nível médio (auxiliares e técnicos), o Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN) por meio da Resolução nº543/2017, estabelece parâmetros com base na produção
do setor e tempo padrão para as atividades realizadas nas diferentes áreas dos CME.
Quanto aos enfermeiros, recomenda que tenha no mínimo um profissional no período
de funcionamento do setor e o enfermeiro responsável técnico (COFEN, 2017). Costa e
Fugulin (2011) concluíram que para a validação das atividades do CME, é imprenscindível
que os serviços de saúde avaliem a carga de trabalho, para que tenha um dimensionamento de
pessoal adequado, atenuando uma possível sobrecarga de trabalho.
Para Bittencourt et al. (2015), os fatores determinantes de agravos e/ou adoecimento
no CME, são a sobrecarga de trabalho, exposição a patógenos causadores de doenças,
31
produtos químicos usados nos processos de desinfecção e esterilização química, rotinas
monótonas, repetitividade de movimentos, ritmos intensos e mecanizados. Ainda sobre
possíveis determinantes de adoecimento, Aquino et al. (2014) evidenciaram em seu estudo
sobre a ocorrência de acidentes de trabalho e os principais riscos ocupacionais que estão
expostos os trabalhadores de enfermagem em uma unidade hospitalar pública e privada.
Esses autores identificaram na instituição pública, que 27,3% dos trabalhadores já
haviam sofrido acidentes no CME, destes 83,3% com material perfurocortante e na instituição
privada 46,7% dos trabalhadores sofreram acidentes, 57,1% destes por queimaduras em
autoclave (AQUINO et al., 2014). Logo, as queimaduras e acidentes com material
perfurocortante foram os acidentes ocupacionais de maior ocorrência.
Outro fator de risco voltado para o perfil dos trabalhadores que atuam em um CME foi
encontrado no estudo realizado por Gouveia, Oliveira e Lira (2016), citam a prevalência de
66,7% dos trabalhadores do sexo feminino executando atividades de manuseio de produtos de
saúde nas autoclaves, que exigem força física e esforço muscular, assim como a manutenção
de posturas estáticas prolongadas para a execução das etapas do processamento. A
predominância do sexo feminino nesse ambiente de trabalho foi encontrada também em
outros estudos, no patamar de 93,5% e 64,7% (GIL; CAMELO; LAUS, 2013; COSTA;
SOUZA; PIRES, 2016).
Desse modo, notou-se que existem nas etapas do processamento de PPS nos CME,
fatores de risco que podem desencadear processos de desgastes e de adoecimento. Para
analisar como as condições de trabalho apresentadas podem favorecer os riscos ergonômicos e,
então, desencadear agravos à saúde do trabalhador, é necessário compreender inicialmente o que
seria ergonomia e como inadequações ergonômicas podem comprometer a saúde.
Como ferramenta para analisar a dinâmica de trabalho em um CME, outra não poderia ser
escolhida senão a AET. Mostra-se como um eficiente método de avaliar uma situação por meio da
observação do agir dos trabalhadores, de suas características e capacidades físicas, psicológicas,
fisiológicas e sociais, assim como das estruturas organizacionais do trabalho e dos equipamentos,
com vistas a buscar e preservar um ambiente seguro e a garantia do bem estar físico e mental para
os trabalhadores (ABRAHÃO, 2014).
2.3 Ergonomia e Análise Ergonômica do Trabalho
A palavra ergonomia é de origem grega, ergon (trabalho) e nomos (leis e regras). O termo
foi usado pela primeira vez em 1857 pelo cientista polonês Wojciech Jastrzebowski, na obra
“Ensaios de Ergonomia, ou Ciência do Trabalho”, com princípios nas leis objetivas da ciência
32
sobre a natureza (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; ABRAHÃO et al., 2014; CORRÊA;
BOLETTI, 2015).
Moraes e Mont‟Alvão (2012) afirmam que a ergonomia é uma ciência que busca entender
como os determinantes presentes no ambiente de trabalho atingem o desempenho humano.
Consiste ainda, em averiguar as interfaces que compõem a atividade humana em busca da
adaptação do trabalho ao homem, atenuando situações constrangedoras e fatores condicionantes
de agravos e/ou adoecimento dos trabalhadores (DUL; WEERDMEESTER, 2013).
Foi inicialmente influenciada por vários campos de conhecimento como, a engenharia,
medicina, psicologia, sociologia e fisiologia no intuito de buscar informações para adequação
de equipamentos, ambiente de trabalho, assim como à necessidade de se conhecer mais sobre
o homem, suas habilidades, limites físicos e psicológicos, desgastes e capacidades.
Posteriormente, tornou-se mais abrangente atrelando outras áreas científicas (antropometria,
biomecânica, toxicologia, desenho industrial, ciências da computação) em decorrência do seu
caráter transdisciplinar (CORRÊA; BOLETTI, 2015).
Quanto à abordagem ergonômica, existem a anglo-saxônica e a francofônica, as quais
compreendem a ergonomia clássica centrada no componente humano dos sistemas homem-
máquina e a ergonomia centrada na atividade humana (PIZO; MENEGON, 2010; PINTO;
TERESO; ABRAHÃO, 2015). Verifica-se que as duas abordagens não são excludentes, mas
se complementam na intervenção ergonômica, favorecendo a compreensão do contexto do
trabalho possibilitando dessa forma, a transformação deste (GUERIN et al., 2001).
Atualmente as práticas ergonômicas apresentam três domínios de especialização,
conforme definido pela International Ergonomics Association (IEA) e descritos por Corrêa e
Boletti (2015) que compreendem a:
Ergonomia Física: refere-se às características da anatomia humana, antropometria,
fisiologia e a biomecânica corporal em sua relação com a atividade física, tendo como tópicos
o estudo da postura no ambiente de trabalho, manuseio de ferramentas, movimentos
repetitivos, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho
em segurança e saúde dos trabalhadores;
Ergonomia Cognitiva: realiza análise dos processos mentais, como percepção,
memória, raciocínio e resposta motora conforme afetam as interações estabelecidas entre as
pessoas e outros componentes de um sistema. Como tópicos importantes incluem o estudo da
carga de trabalho mental, tomada de decisão, estresse ocupacional;
Ergonomia Organizacional: relaciona-se com a otimização dos sistemas sócio-
técnicos, incluindo as estruturas organizacionais, políticas e processos. Tem como tópico a
33
comunicação entre os profissionais da organização, projetos de trabalho, concepção do
trabalho, trabalho em equipe, cultura organizacional e gestão de qualidade.
No aspecto normativo brasileiro, a ergonomia está prevista na Norma
Regulamentadora (NR) 17 que estabelece “parâmetros que possibilite a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (CORRÊA;
BOLETTI, 2015, p.46). A referida norma referencia que as condições de trabalho englobam
os seguintes aspectos: “o levantamento, transporte e à descarga de materiais, mobiliários e
equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho e à organização” (BRASIL,
1990; BERNARDO et al. 2012, CORRÊA; BOLETTI, 2015, p.96).
Guérin et al. (2001) corroboram apontando os principais elementos que configuram a
situação de trabalho, que podem ocasionar sofrimento físico-psíquico-social e/ou
aparecimento de doenças ocupacionais. A atividade de trabalho é o “elemento central” que
integra os componentes da situação. A Figura 1 mostra alguns desses elementos, de um lado o
operador/trabalhador com suas características próprias, formação, anseios, do outro à empresa
com suas regras de funcionamento, condições de trabalho.
Figura 1 - Elementos envolvidos na situação de trabalho
O operador A empresa
Fonte: GUÉRIN et al. (2001, p. 27).
Características
pessoais
Sexo, Idade,
Características
Físicas....
Experiência,
formação adquirida
Estado momentâneo
Fadiga, ritmos
biológicos, vida fora
do trabalho
Tarefas
Prescritas
------------
Tarefas reais
Contrato
Atividade de
trabalho
Saúde, acidentes,
competências...
Produção, qualidade....
Objetivos
Ferramentas
Natureza, desgaste,
regulagens, documentação,
meios de comunicação,
programa de computador...
Tempo
Horários, cadências...
Organização do trabalho
Instruções, distribuição
das tarefas, critérios de
qualidade, tipo de
aprendizagem..
Ambiente
Espaços, tóxicos,
características físicas..
34
O documento instrutivo (contrato) que norteia a organização do trabalho, as tarefas
prescritas e reais e a atividade de trabalho, posiciona-se ao centro. Observa-se ainda, que a
atividade de trabalho estabelece uma relação estreita entre os elementos que contribuem para
o alcance dos resultados que influenciam os aspectos de qualidade e quantidade da produção,
bem como podem ter implicações negativas (disfunção da saúde biopsicossocial) ou positivas
(crescimento profissional e aquisição de habilidades e competências) aos trabalhadores
(GUÉRIN et al., 2001).
A AET é a metodologia utilizada em ergonomia para estudar os elementos envolvidos
numa situação real de trabalho, fornecendo informações sobre como esse elementos
influenciam os trabalhadores e a produção. Nesse sentido para Corrêa e Boletti (2015)
afirmam que a AET é um método “construtivo e participativo” para evitar ou sanar problemas
que possam desencadear desconforto e queda de produção, intervindo na segurança do
trabalho.
A AET visa à compreensão do processo de trabalho nas suas diversas dimensões,
buscando (re) significar as situações de trabalho respeitando as variabilidades do homem. O
olhar ergonômico objetiva propor condições de trabalho em consonância com as capacidades
do ser humano, primando pela segurança e conforto. Dessa forma, consideram à
individualidade de cada trabalhador, buscando transformar o ambiente de trabalho em
atendimento as singularidades, sem provocar prejuízos no resultado final (ABRAHÃO et al.,
2014).
O marco histórico da AET caracterizou-se pela obra de Faverge e Ombredane (1955),
considerada às primeiras bases de análise do trabalho (GUÉRIN et al. 2001). Está estruturada
em etapas e ações que sequencialmente buscam compreender e transformar o trabalho
(SEMENSATO, 2013; ABRAHÃO et al. 2014).
Como método de estudo, a AET compreende não somente as dimensões do ambiente
de trabalho, mas também considera os aspectos do agir do trabalhador que impactam nos
resultados da produção e está dividida em três fases, a saber, (GUÉRIN et al. 2001;
ABRAHÃO et al. 2014, CORRÊA; BOLETTI, 2015):
Análise da Demanda: compreendida pela “situação que passa pela contextualização
do problema proposto pela tarefa em análise, no cenário interno e externo à empresa,
caracterizada pelo levantamento de informações gerais”, estabelece o ponto de início para as
demais fases;
Análise da Tarefa: refere-se ao trabalho prescrito (instrução de trabalho) e os
requisitos físicos para execução da tarefa (normas, protocolos validados), as ações dos
35
trabalhadores são controladas por ela;
Análise da Atividade: corresponde à etapa de observação do trabalho efetivamente
realizado, através da observação das atividades mentais e físicas do trabalhador, é
fundamental na análise ergonômica, pois compreende as diversas dimensões inerentes na
relação homem-trabalho.
Na AET se faz a confrontação entre trabalho prescrito e real, sendo necessário analisar
os aspectos que definem e regula o prescrito, definido por normas, procedimentos, regras,
organização dos postos de trabalho (pausas, horários, ritmos) e o que de fato é realizado pelos
trabalhadores para o cumprimento do que se deseja alcançar (MORAES; MONT‟ALVÃO,
2012; SEMENSATO, 2013; ABRAHÃO et al., 2014). Nesse ínterim, observa-se que
estruturas organizacionais de trabalho rígidas, comumente provocam situações de
constrangimento ao trabalhador, pois estes submetem-se a uma configuração de trabalho
comumente baseado no modelo Taylorista, orientado pela divisão social do trabalho (LIMA;
DUARTE, 2014).
Guérin et al. (2001) afirmam que a tarefa não é o trabalho, e sim o que é prescrito pelo
empregador ao empregado, pois o trabalho realizado ou real é diferente do prescrito ou
“teórico”. Lhuilier (2013) contribui nesse aspecto, abordando que o trabalho real não condiz
com o trabalho prescrito, pois este está atrelado a um conjunto de normas e regras que
simbolizam o poder da hierarquia e a submissão às lógicas da organização. Mesmo ocorrendo
imprevistos, no final surgem frequentemente as adaptações da situação, provocando uma
“quebra nas prescrições/normas oficiais” (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012).
A figura 2 mostra que a tarefa é um resultado antecipado, fixado e incluso nas
condições determinadas, sendo imposta ao trabalhador, de forma que determina e constrange
sua atividade, mas possibilita ao trabalhador que ele a realize, determinando assim o trabalho
real.
Figura 2 - Dinâmica entre o Trabalho Prescrito e o Trabalho Real
Fonte: GUÉRIN et al. (2001, p.15)
36
Dessa maneira, a tarefa “mantém relação estreita com a atividade de trabalho, por
meio das condições reais e dos resultados efetivos” (GUÉRIN et al. 2001, p.14). Dessa
maneira, a atividade é a forma de ajustamento à situação real de trabalho, compreende o que
de fato é desenvolvido pelo trabalhador e a maneira que efetua suas tarefas. Tal análise
proporciona a identificação da variabilidade das situações de trabalho, biológica e psicológica
dos trabalhadores (ABRAHÃO et al., 2014).
Dessa forma, a AET aborda de maneira sistemática e integradora a situação de
trabalho a partir da análise da atividade, considerando todos os aspectos que envolvem as
relações entre o processo produtivo e o adoecimento. Nessa perspectiva, o conhecimento
produzido suscitará ações que busquem à melhoria da qualidade de vida do trabalhador, tendo
em vista que identificará circunstâncias de vulnerabilidade e riscos que influenciam no
processo saúde-doença dos trabalhadores no cenário laboral (DIAS; SILVA; ALMEIDA,
2012).
3 METODOLOGIA
3.1 Delineamento do Estudo
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal e abordagem quanti-qualitativa,
utilizando a metodologia da AET. O método da AET foi utilizado para avaliar as condições de
trabalho e analisar as atividades realizadas nesse setor de trabalho, pois esse método realiza
pesquisas descritivas, assim como busca “classificá-los e interpretá-los” (MORAES;
MONT‟ALVÃO, 2012, p.61).
A AET enquanto metodologia utiliza diversas técnicas, como a observação sistemática
e assistemática, registros de comportamento e investigação por meio de questionário e
aferição dos riscos físico-ambientais (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; ABRAHÃO et al.,
2014). Entretanto este estudo baseou-se apenas na observação sistemática e demais técnicas
supracitadas.
No que se refere à abordagem quantitativa, Prodanov e Freitas (2013, p.69)
consideram tudo que é “quantificável, o que significa traduzir em números, opiniões e
informações para classificá-la e analisá-la”. Dalfovo et al. (2008) enfatizam ainda que tem
como diferencial, garantir a precisão dos trabalhos realizados, trazendo resultados com
mínimas distorções e que a coleta de dados é comumente realizada por instrumentos como
questionários e entrevistas com variáveis que são apresentadas na fase de tratamento por
tabelas e gráficos.
Optou-se, ainda, por uma abordagem qualitativa para análise das questões subjetivas
(abertas) produto da aplicação dos instrumentos de coleta de dados, assim como para análise
dos registros fotográficos. Essa foi escolhida por ser capaz de analisar a situação de trabalho
que considera os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, como o agir dos
trabalhadores, às condições do ambiente de trabalho, centrando-se na compreensão e
explicação da dinâmica das relações sociais (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Com
referência a esse ponto, Corrêa e Boletti (2015) acrescentam que são identificados fatores
determinantes relacionados à organização do trabalho, tomada de decisões, riscos
psicossociais e ergonômicos.
3.2 Cenário do Estudo
O estudo foi realizado em Porto Velho, capital de Rondônia (RO), com uma estimativa
da população residente no Estado de 1.805.788 habitantes, no ano de 2017, e de 519.436 no
município, o qual está localizado às margens do Rio Madeira (IBGE, 2017).
38
O município de Porto Velho dispõe de quatro CME com capacidade técnica
operacional compatível com a demanda do serviço de saúde (SS) que estão inseridas e todos
localizados nas unidades hospitalares públicas que prestam assistência pelo SUS. No que se
referem à rede privada, seis estão localizados nos hospitais que oferecem assistência
hospitalar aos usuários por meio de operadoras e/ou planos de saúde (DATASUS, 2017).
O CME selecionado para o estudo foi o do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro
(HBAP), que é considerado um hospital geral, de grande porte, referência estadual de
assistência terciária, constituindo-se na maior unidade hospitalar da rede pública do
Estado, com 610 leitos e 2.186 servidores (DATASUS, 2017). Realiza atendimento dos
usuários do SUS provenientes dos 52 municípios do estado de RO, além do Amazonas,
Acre e Bolívia, os quais fazem fronteira.
Hierarquicamente, o HBAP está subordinado à Secretaria de Estado da Saúde de
Rondônia (SESAU-RO), fornece assistência diuturnamente em regime de internação
hospitalar, por demanda espontânea e referenciada nas diversas especialidades médicas,
configurando-o como centro de referência em tratamentos de média e alta complexidade
(RONDÔNIA, 2016; DATASUS, 2017).
3.3 População do Estudo
A população do estudo foi constituída por enfermeiros, auxiliares/técnicos de
enfermagem, secretária e funcionários responsáveis pelos serviços de limpeza e higiene do
setor, perfazendo 45 trabalhadores, distribuídos em plantões diurnos e noturnos de 12 horas,
totalizando uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Considerou-se como critérios de
inclusão ser trabalhador atuante do CME/HBAP e de ambos os sexos. E como critérios de
exclusão, estar de licença médica, férias e licença-prêmio. Dessa maneira, foram excluídos do
estudo, seis trabalhadores por apresentarem um dos critérios mencionados.
Logo, o estudo contou com a participação de 29 auxiliares e/ou técnicos de
enfermagem, seis enfermeiros, três funcionários de serviços gerais da empresa terceirizada e
uma secretária, totalizando 39 participantes.
3.4 Procedimentos para a coleta de dados: Análise Ergonômica do Trabalho
3.4.1 Primeira Etapa: Instrução da Demanda
A demanda deste estudo tem origem em março de 2016, quando estava designada
como docente responsável no acompanhamento do ensino prático dos acadêmicos do curso de
39
enfermagem da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) no CME/HBAP. Nesse ínterim,
iniciou-se o reconhecimento do processo de trabalho em cada área funcional do CME, o fluxo
das etapas do processamento dos PPS, observação das condições do ambiente, manuseio dos
equipamentos (autoclaves, plasma de peróxido de hidrogênio, termoseladoras, incubadoras) e
interação com os trabalhadores que realizavam atividades peculiares ao setor.
Durante os cinco meses de atuação, a pesquisadora e os acadêmicos foram inseridos na
dinâmica do trabalho no período das 07h30min às 12h30min de segunda à sexta-feira. Por
meio da observação sistemática participativa das atividades e o constante exercício de
confrontação da teoria com a prática e do trabalho real realizado nas etapas do processamento
de PPS, notou-se que algumas tarefas prescritas não estavam em consonância com o trabalho
preconizado pelas normas que regulamentam as atividades no CME.
Houve relatos de trabalhadores referentes às tarefas que exigem posição estática (em
pé) por longos períodos, com queixas de desconforto nas regiões lombares e cervicais, bem
como nos membros inferiores. Como forma de compensar a fadiga e o desconforto provocado
por tal postura, alguns trabalhadores, apoiavam seus pés em cestos aramados que não estavam
sendo usados para o armazenamento dos pacotes de compressas cirúrgicas, gazes e ataduras.
Outros trabalhadores permaneciam na mesma postura até a finalização da tarefa.
Também se registrou a ausência de dispositivos de apoio para descanso dos pés e
pernas. As cadeiras disponibilizadas não possibilitavam regulagem do encosto lombar,
somente altura.
Por considerar a peculiaridade das atividades no CME/HBAP, notou-se também a
prática de trocas de plantão somente entre os trabalhadores deste setor, uma vez que para a
execução das tarefas para o processamento de PPS é necessário que o trabalhador tenha
conhecimento sobre as rotinas do trabalho prescrito, que difere totalmente no que diz respeito
à assistência direta ao usuário.
Ainda nesse aspecto, há aqueles que preferiam trabalhar em plantões noturnos ou aos
finais de semana, entretanto a demanda de tarefas requer do setor, funcionamento ininterrupto,
ou seja, de forma contínua o que significa dizer que a demanda da jornada noturna é
correspondente ao número de cirurgias realizadas durante o período vespertino, somando-se a
isso a demanda de cirurgia no período noturno.
Ademais, foi observado nos mapas cirúrgicos disponibilizados diariamente pelo CC
que durante os finais de semana eram realizadas em média 20 procedimentos cirúrgicos,
acrescentando-se ainda, as cirurgias em caráter de emergência, visto tratar-se de um hospital
público referência na assistência de alta complexidade e na assistência à gestante de alto risco.
40
Por esse ângulo, percebeu-se que o setor é influenciado constantemente pela
demanda de PPS provenientes do CC e do Centro Obstétrico (CO). Essa última unidade,
funciona ininterruptamente, em demanda referenciada, isto é, recebem gestantes de alto risco
encaminhadas da Atenção Primária em Saúde, Maternidade Municipal Mãe Esperança e
também do munícipio de Candeias do Jamari, localizado a aproximadamente 20 km da cidade
de Porto Velho.
Outrossim, houve relato de trabalhadores sobre acidentes pelo uso inadequado do gás
medicinal (ar comprimido) utilizado para o procedimento de secagem de alguns PPS, na área
de limpeza e de preparo, além da falta de informação sobre o uso de alguns EPI‟s como o
protetor auditivo. Notou-se sobrecarga física no manejo dos pacotes de campos operatórios,
capotes cirúrgicos e caixas cirúrgicas durante o carregamento dos carrinhos para
abastecimento das autoclaves e a não adesão ao uso de alguns EPI‟s como, por exemplo, a
luva térmica na tarefa de retirada de cestos aramados, caixas cirúrgicas e pacotes após o
processo de esterilização nas autoclaves, tendo ocorrido relatos de trabalhadores de
queimaduras nos antebraços durante o descarregamento dos artigos esterilizados da autoclave.
Convém acrescentar que o serviço disponibiliza o referido material, entretanto
encontra-se com sinais de desgaste e também conforme relato de alguns trabalhadores, a luva
não protege por inteiro a região do antebraço.
Diante das observações realizadas e da formulação inicial da demanda, busca-se
estudar a situação real de trabalho, considerando que as condições do ambiente laboral, a
exposição aos diversos riscos e a falta de informação sobre os riscos ergonômicos presentes
na relação homem-trabalho são condicionantes que interferem no processo de adoecimento
dos trabalhadores do CME/HBAP.
A seguir será abordada a etapa denominada Análise da Tarefa, que permitirá
confrontar o trabalho prescrito e o trabalho real, por meio do levantamento das normas e
protocolos que regem as tarefas prescritas no CME.
3.4.2 Segunda Etapa: Análise da Tarefa
Nessa etapa, como descrito por Guérin et al. (2001), compreende-se a análise
documental, portanto foram realizadas leituras minuciosas dos protocolos e POP‟s disponíveis
no CME/HBAP, os quais encontram-se impressos para consulta e das diretrizes de práticas de
processamento de PPS recomendadas pela Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro
Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC, 2017),
como também das resoluções instituídas pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e
41
Ministério da Saúde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Foi então
analisado o trabalho prescrito e quais seriam os requisitos para que a tarefa fosse executada no
ambiente disponibilizado por essa unidade hospitalar.
A análise das tarefas prescritas para o processamento de PPS obedeceu à sequência do
fluxo linear, ou seja, da área suja para a área limpa padronizada pela Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) n°15 da ANVISA (BRASIL, 2012a), que corresponde às salas de recepção
e limpeza (setor sujo), preparo e esterilização (setor limpo), desinfecção química (setor
limpo), armazenamento e distribuição de PPS esterilizados (setor limpo).
3.4.3 Terceira Etapa: Análise da Atividade
Essa etapa compreende o momento de observação sistemática não-participativa da
situação real do trabalho, sendo utilizado diário de campo para registro das atividades
realizadas durante as etapas de processamento, identificando-se a distribuição das tarefas na
jornada, aspectos comportamentais, fisiológicos, psicológicos, ambientais e organizacionais
(ABRAHÃO et al., 2014). Também foram consideradas nessa etapa, observações
relacionadas às questões identificadas no momento da demanda, tipos de atividades por área
de processamento, organização dos tempos de trabalho (horários, ritmos, pausas),
comunicação verbal e não verbal, posturas e gestos.
As atividades de trabalho foram registradas por meio de uma câmera digital da marca
Sony®
Cyber-Shot DSC-H300 com autorização prévia dos sujeitos da pesquisa (Apêndice B),
preservando o anonimato dos mesmos (embaçamento da face). Analisaram-se
minuciosamente as atividades dos sujeitos do estudo, permitindo confrontar as questões
colocadas na etapa da demanda e os constrangimentos impostos no trabalho real realizado no
CME/HBAP, bem como as manobras e posturas, exploração visual, manuseio de
equipamentos, comunicação, pausas efetuadas e deslocamentos, objetivando obter
informações precisas das ações dos trabalhadores e modo operatório adotado.
A coleta de dados foi realizada de 15 de fevereiro a 30 de abril de 2017, durante os
plantões diurnos e noturnos, incluindo os finais de semana. Inicialmente foi realizado o
contato com a gerência de enfermagem do HBAP para disponibilizar a cópia da escala mensal
do setor, como estratégia de abordagem às equipes do CME/HBAP para início das visitas.
Num segundo momento conversou-se com a enfermeira coordenadora do CC,
responsável técnica pelo CME/HBAP no mês de fevereiro de 2017, tendo em vista que o
enfermeiro coordenador estava de férias. Durante as visitas as equipes foram convidadas a
participarem do estudo, sendo esclarecidos pela pesquisadora, os objetivos, as etapas e os
42
procedimentos necessários para que os dados fossem coletados, assim como a importância da
participação de todos.
Com a finalidade de captar o maior número de participantes, as visitas ocorreram no
período matutino, vespertino e noturno, bem como finais de semana. No primeiro mês de
coleta, houve pouca participação em decorrência da programação de férias e licença médica,
acarretando déficit na categoria de enfermeiro supervisor do setor. Outra situação encontrada
foi à prática de troca de plantão por alguns trabalhadores da enfermagem, o que provocou
morosidade na coleta de dados por meio dos instrumentos de pesquisa.
Assim, no referido estudo foram utilizados três instrumentos de pesquisa. O primeiro
questionário (Apêndice C), adaptado de Santos (2014), objetivou descrever os aspectos
sociodemográficos e ocupacionais dos participantes, contendo 19 variáveis referentes aos
dados sociodemográficos e ocupacionais, com questões abertas e fechadas, referentes ao
gênero, idade, peso, altura, categoria profissional, tarefas prescritas, tempo no serviço, tempo
na função, outra função no serviço, jornada de trabalho, carga horária semanal, quantidade de
vínculos empregatícios, quantos períodos de pausa, média de pausas, prática de exercícios
físicos, história de tabagismo e renda familiar.
O segundo instrumento (Anexo C) foi o questionário Copenhagem Psychosocial
Questionnaire (COPSOQ) versão Portuguesa, traduzido e adaptado por Silva et al. (2012).
Consiste em um instrumento multidimensional que reúne “consenso internacional quanto à
sua validade, modernidade e compreensibilidade da avaliação em dimensões psicossociais
intrínsecas ao contexto laboral” (SILVA et al., 2012, p.3).
E o Diagrama de Corlett e Manenica (1980) foi utilizado por dispor de uma escala
progressiva de intensidade de desconforto/dor para avaliação do comprometimento
musculoesquelético nos trabalhadores que atuavam no CME/HBAP (Anexo D), confrontando
os resultados obtidos com a análise das atividades desenvolvidas por esses atores no cenário
em estudo. As próximas subseções descrevem detalhadamente o COPSOQ e o Diagrama de
Corlett e Manenica, utilizados nessa etapa da pesquisa.
3.4.3.1 Questionário Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ)
O questionário COPSOQ foi elaborado e validado por Kristensen e Borg com a
colaboração do Danish National Institute for Occupational Health in Copenhagen
(KRISTENSEN et al. 2005). A versão portuguesa do COPSOQ foi traduzida para Portugal
e países africanos de língua portuguesa pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)
e semelhante ao original está disponível nas versões longa, média e curta, sendo que a
43
média e a curta foram elaboradas a partir da longa (SILVA et al. , 2012).
Para este estudo, adaptou-se a segunda versão média portuguesa, o COPSOQ II,
permitindo dessa forma a identificação de fatores psicossociais conforme as subescalas e itens
relacionadas no quadro 1 (KRISTENSEN et al., 2005; SILVA et al., 2012, p.8).
Quadro 1 - Subescalas e itens da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem
Psychosocial Questionnaire-COPSOQ II
SUBESCALAS ITENS DO INSTRUMENTO
Exigências Quantitativas 1, 2, 3
Ritmo de Trabalho 4
Exigências Emocionais 5
Exigências Cognitivas 6,7,8
Apoio Social de Colegas 9,10,11
Comunidade Social no Trabalho 12,13,14
Apoio Social de Superiores 15, 16, 17
Significado do Trabalho 18, 19, 20
Satisfação no Trabalho 21,22,23,24
Insegurança Laboral 25
Saúde Geral 26
Fonte: Adaptado de Kristensen et al. (2005); Silva et al. (2012)
Para facilitar a interpretação dos dados e conforme definido pelos autores do
instrumento COPSOQ II (KRISTENSEN et al., 2005; SILVA et al., 2012), os fatores
psicossociais foram agrupados em seis dimensões, a saber:
Exigências laborais: Quantitativas, Emocionais, Cognitivas e Ritmo de Trabalho;
Relações Sociais e Liderança: Apoio Social de Superiores e Apoio Social de
Colegas;
Organização do Trabalho e conteúdo: Significado do Trabalho;
Interface Trabalho-Indivíduo: Insegurança Laboral, Satisfação Laboral;
Justiça e respeito: Comunidade Social no Trabalho;
Saúde Física Geral: Autoavaliação da Saúde.
Os 26 itens do COPSOQ possuem cinco alternativas de respostas com pontuação
máxima de cinco e mínima de um ponto. A pontuação final foi obtida por meio da média das
pontuações das respostas, classificando-as em três categorias que caracterizaram o nível de
exposição aos riscos psicossociais (baixo, médio e alto) conforme preconizado na literatura
(KRISTENSEN et al., 2005).
44
O quadro abaixo mostra as alternativas de respostas disponíveis, respectivas
pontuações e as categorias do nível de risco psicossocial com respectivas médias. Os itens
assinalados foram avaliados numa escala tipo Likert (1 a 5 pontos) conforme descrito no
quadro 2. As questões de 1 a 17 possuem as alternativas de resposta: sempre (5), com
frequência (4) algumas vezes (3), raramente (2) e nunca (1) e as demais questões (18 a 25) as
alternativas de respostas são: nada (1), um pouco (2), moderadamente (3), muito (4) e
extremamente (5).
Quadro 2 - Alternativas de Respostas, Pontuação e Categorias do Nível de Risco Psicossocial
ALTERNATIVAS DE
RESPOSTAS
PONTUAÇAO CATEGORIAS/MÉDIA
Sempre, Extremamente 5 Alto Risco: maior que 3,66
Médio Risco: 2,34 a 3,66
Baixo Risco: menor que 2,34 Com Frequência, Muito 4
Algumas vezes, Moderadamente 3
Raramente, um pouco 2
Nunca, Nada 1 Fonte: Adaptado de Kristensen et al. (2005); Silva et al. (2012)
3.4.3.2 Diagrama de Corlett e Manenica
O Diagrama de Corlett e Manenica (1980) avalia o desconforto/dor
musculoesquelético durante e após a jornada de trabalho por meio do mapa dos segmentos
corporais, correspondente aos lados direito (D) e esquerdo (E) do corpo humano (Anexo C).
Figura 3 – Mapa de segmentos corporais (Diagrama de Corlett e Manenica)
Fonte: Adaptado de Frazão (2007)
45
A escala de resposta é progressiva de acordo com a intensidade de desconforto/dor,
sendo: nenhum (1); algum (2); moderado (3); bastante (4) e extremo (5). O participante da
pesquisa assinala as queixas de dor/desconforto no mapa de segmentos corporais, colocando o
número correspondente ao tipo de intensidade, conforme figura abaixo:
Figura 4 – Escala progressiva de intensidade de desconforto/dor
1. Nenhum
desconforto/dor
2. Algum
desconforto/dor
3. Moderado
desconforto/dor
4. Bastante
desconforto/dor
5. Extremo
desconforto/dor Fonte: Adaptado de Frazão (2007)
3.4.3.3 Riscos Físico-Ambientais
Os dados dos riscos físico-ambientais foram coletados no mês de abril de 2017, por
meio de uma visita técnica em parceria com Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
(CEREST) e o SESMT do HBAP. Primeiramente, foi realizado contato com o engenheiro
responsável pelo referido setor para averiguar a certificação do instrumento para aferição. Por
meio de ofício foi solicitada à direção do HBAP a viabilidade de um engenheiro e/ou técnico
em segurança do trabalho que fizesse a aferição dos riscos (ruídos, iluminação e temperatura)
por meio do equipamento de medição Termo-Higro-Decibel-Luxim, marca Instrutherm,
modelo THDL-400 com certificado de calibração nº 6314/15 (Anexo E).
As medições foram realizadas no período da manhã, tendo como base o período de
maior atividade no setor, entre as 09h e 12 h. As durações das mensurações foram de cinco
minutos durante a execução das atividades e sem interferência.
A aferição do ruído atendeu a recomendação pela Norma Regulamentadora (NR) 17,
que prevê a medição próxima aos ouvidos do trabalhador durante o desenvolvimento das
atividades realizadas nos balcões de preparo e empacotamento, manuseio de carrinho para
transporte das caixas cirúrgicas e pacotes da área de esterilização (sala das autoclaves). Dessa
forma, as mensurações dos riscos físico-ambientais, temperatura, iluminação e ruído foram
realizados em todas as salas/áreas que compõem o CME/HBAP, obtendo uma avaliação dos
fatores ambientais durante as etapas do processamento de PPS.
3.5 Tratamento dos Dados
3.5.1 Dados Quantitativos
Para análise dos dados foi utilizado o programa Microsoft Excel 2013 para Windows®,
e as variáveis foram tratadas pelo Software Estatístico Statistical Package for the Social
46
Sciences (SPSS) versão 20. Os dados foram digitados, armazenados e calculadas as
frequências absolutas, relativas (estatística descritiva) das variáveis que foram analisadas
posteriormente.
3.5.2 Dados Qualitativos
As respostas às questões subjetivas (abertas) dos instrumentos de coleta de dados
foram avaliadas pela análise descritiva para cumprir com a segunda etapa da AET (tarefa
prescrita). Os registros fotográficos foram utilizados para correlacionar as imagens do
trabalho real aos resultados encontrados como produto do Diagrama de Corlett e Manenica
(1980).
Alguns fragmentos correspondentes as “falas” dos participantes foram utilizados para
expor as percepções dos riscos no ambiente de trabalho e quais as dificuldades encontradas
quanto aos aspectos ergonômicos. Então, foram confrontados com a literatura para melhor
discussão da temática abordada, classificando as dificuldades em riscos físico, cognitivo e
organizacional conforme a “fala” dos respondentes que foram codificadas com a letra R e
numeradas sequencialmente.
3.6 Considerações Éticas
Para realização da pesquisa foi solicitada autorização à direção geral do HBAP através
de carta de anuência (Anexo A) e respeitando os preceitos éticos da Resolução nº 466 de 12
de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de
Pesquisa envolvendo Seres Humanos (BRASIL, 2012). Este estudo foi submetido à
apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Núcleo de Saúde da Fundação
Universidade Federal de Rondônia (UNIR), com parecer de aprovação 1.849.750 (anexo E)
em 02 de dezembro de 2016.
Somente após a aprovação do projeto foi realizado, a coleta de dados, bem como o
registro fotográfico das atividades (Anexo F). Os participantes foram esclarecidos sobre os
objetivos do estudo e da participação voluntária após leitura e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A e B).
Durante toda a pesquisa foi garantido o anonimato aos participantes e esclarecido aos
mesmos que não teriam custos ou sofreriam riscos de qualquer ordem, nem compensação
financeira e/ou isenção de despesas. Os participantes também foram informados que os
resultados serão divulgados em publicações científicas e/ou eventos e será entregue relatório
ao Núcleo de Educação Permanente (NEP) da instituição, conforme regimento do referido
núcleo, e da UNIR.
47
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos por meio das etapas da análise
da tarefa e da atividade, bem como da aplicação dos instrumentos de coleta de dados,
observações sistemáticas, registro fotográfico das atividades de trabalho e aferição dos riscos
físico-ambientais.
A análise e discussão dos resultados iniciam-se pelo perfil sociodemográfico e
ocupacional dos trabalhadores do CME/HBAP. Numa AET, o levantamento das
características dos trabalhadores é imprescindível para o processo de compreensão de uma
situação de trabalho, considerando a variabilidade e singularidade dos sujeitos (ABRAHÃO et
al., 2014).
4.1 Perfil Sociodemográfico e Ocupacional
A maioria dos trabalhadores era do sexo feminino (79,5%) e a categoria auxiliar e/ou
técnico de enfermagem (74,4%) (Tabela 1). O predomínio feminino fica evidente no trabalho
desenvolvido no CME/HBAP, que reproduz os aspectos históricos e culturais da profissão de
enfermagem, constatado também por Machado e Gelbcke (2009) no estudo sobre os processos
de trabalho e a organização do trabalho no CME a partir do ponto de vista do materialismo
histórico e dialético.
Tal achado revela uma particularidade da profissão de enfermagem e que coincide
com o perfil dos trabalhadores do sexo feminino, 66,7% de um CME no estudo sobre riscos
ergonômicos realizados por Gouveia, Oliveira e Lira (2016) e também no estudo sobre
atividades do enfermeiro de CME realizado por Gil, Camelo e Laus (2013) que encontraram
uma amostra composta por 93,55% de mulheres.
Tabela 1 - Distribuição das frequências relativas quanto ao sexo e categoria profissional no
Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017
Variável N % p-valor
Sexo <0,0001
Feminino 31 79,5
Masculino 8 20,5
Total 39 100
Categoria profissional <0,0001
Auxiliar/ Técnico de Enfermagem 29 74,4
Enfermeiro/Enf. Coordenador 6 15,4
Secretária/ Serviço Geral 4 10,2
Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
48
Outros autores como Ribeiro, Camargo e Vianna (2008) também referiram uma
amostra composta por 96% de profissionais do sexo feminino em seis CME da cidade de
Londrina/PR. Esse achado é similar a um estudo mais recente encontrado por Aquino et al.
(2014) enquanto estudava acidentes de trabalho e riscos ocupacionais em CME comparando
instituição de saúde pública a privada, sendo a amostra composta por apenas dois
profissionais de enfermagem do sexo masculino.
No que se refere à categoria profissional, participaram do estudo 29 auxiliares e/ou
técnicos de enfermagem. O achado é justificado pela maior quantidade de trabalhadores de nível
médio nas escalas de trabalho do CME/HBAP e por ser a maior categoria que compõem a
profissão de enfermagem no Estado de RO (COFEN, 2018). Durante as visitas observou-se o
predomínio dessa categoria na execução de tarefas prescritas de acordo com norma vigente e
POP‟s, sob a supervisão de um enfermeiro (BRASIL, 2012a; RUBINI et al., 2014).
Isto posto, a predominância do sexo feminino dentre os trabalhadores do CME/HBAP
consiste por si só num fator determinante de saúde, evidenciado por uma dupla jornada de
trabalho, uma vez que a mulher concilia as tarefas laborais e àquelas do ambiente familiar
(não remunerada) culminando em uma sobrecarga de trabalho e adoecimento (FERRAZ et al.,
2015; BRASIL; ONU, 2016).
A média de idade dos trabalhadores que atuavam no CME/HBAP foi de 47,3 anos e a
mediana de 47 anos, desvio padrão (dp) de 9,68, idade mínima de 28 anos e máxima de 65
anos, demonstrando semelhança com os dados informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), no que diz respeito à população em idade ativa que apresenta o maior
quantitativo em todas as regiões do Brasil, sendo 53,3 milhões acima de 50 anos de idade e 47,3
milhões, compreendida entre a faixa de 25 a 39 anos (IBGE, 2016). Esse resultado se aproxima do
encontrado por Gil, Camelo e Laus (2013), ao estudarem as atividades do enfermeiro em CME
em unidades hospitalares com faixa etária entre 21 e 60 anos.
Outro estudo corrobora esses dados, Aquino et al. (2014) encontraram no perfil de sua
amostra, faixa etária similar a apresentada por esta pesquisa, uma média de 43,6 anos de idade.
Analisando a Tabela 2 observa-se que o maior número de trabalhadores encontra-se na faixa
etária acima de 50 anos de idade (48,9%), dentre esses 19 trabalhadores, três apresentaram
idade igual ou maior que 60 anos. Esse resultado evidencia as características apontadas por
Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) no que tange ao perfil do trabalhador comumente lotado
no CME, os que estavam “prestes a aposentar” e que foram admitidos desde a fundação do
estabelecimento de saúde.
49
Tabela 2 - Distribuição das frequências relativas quanto a faixa etária dos trabalhadores do
Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017
Variável N % p-valor
Faixa Etária 0,039
26 a 30 anos 3 7,8
31 a 35 anos 2 5,1
36 a 40 anos 6 15,0
41 a 45 anos 6 15,5
46 a 50 anos 3 7,7
Acima de 50 anos 19 48,9
Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Isto posto, existe uma parcela significativa de trabalhadores próximo da aposentadoria,
sendo necessário avaliar o dimensionamento de pessoal de enfermagem, evitando o déficit de
trabalhadores para o cumprimento das atividades e consequentemente sobrecarga de trabalho,
desmotivação, desgastes físicos, emocionais e prejuízos no processamento dos PPS.
Na variável tempo de serviço, a maior concentração foi representada pelo período
compreendido entre cinco a nove anos (35,9%), seguido do período de zero a quatro anos
(33,3%) e maior igual (≥) 10 anos (30,8%). (Tabela 3)
Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos profissionais
de saúde que trabalhavam no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017
Variável N % p-valor
Tempo no Serviço <0,0001
0 – 4 anos 13 33,3
5 – 9 anos 14 35,9
≥ 10 anos 12 30,8
Outra Função no CME/HBAP <0,0001
Não 33 84,6
Sim 6 15,4
Jornada de Trabalho <0,0001
Plantonista 32 82,1
Diarista 7 17,9
Carga Horária 0,160
≤ 40 horas 37 94,9
≥ 40 horas 2 5,1
Mais de um Vínculo Empregatício <0,0001
Não 25 64,1
Sim 14 35,9
Período de pausa <0,0001
Continua
50
Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos profissionais
de saúde que trabalhavam no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público,
Porto Velho, 2017
Variável N % p-valor
Manhã 12 30,8
Tarde 10 25,6
Noite 17 43,6
Duração da Pausa <0,0001
≤ 30 minutos 26 66,7
≥ 30 minutos 13 33,3
Exercícios Físicos <0,0001
Não 22 56,4
Sim 17 43,6
Fumo 0,002
Não, nunca fumei 29 74,4
Não, ex-fumante 8 20,5
Sim 2 5,1
Renda familiar* <0,0001
0 – 4 salário mínimo 25 64,1
5 – 10 salário mínimo 9 23,1
> 10 salário mínimo 5 12,8 * R$ 937,00 em 01.01.2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Semelhante ao que foi encontrado por Aquino et al. (2014), 66,7% dos trabalhadores
atuavam entre quatro e dez anos, na instituição B. O mesmo não aconteceu no estudo de Gil,
Camelo e Laus (2013), o tempo de atuação em CME na amostra analisada teve maior
concentração entre um e cinco anos (58,08%).
Outro dado relevante deste estudo foi o tempo médio na função de 17 anos, com
desvio padrão (dp) de 11,11 e IC (9,08; 14,32), sendo o mínimo de seis meses e máximo de
38 anos e dentre os sujeitos da pesquisa 84,6% não tinham desempenhado outra função senão
aquela a qual foi empossado e/ou contratado (Tabela 3).
Foi identificado durante as visitas e durante a observação das escalas de serviço do
CME/HBAP, à existência de contrato de trabalho por tempo determinado, previsto na Lei
Complementar nº68 que regulamenta o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis do
Estado de RO, em caráter excepcional (RONDÔNIA, 1992). Entretanto no ano de 2016,
houve realização de concurso público pela SESAU/RO, tendo sido empossados depois da
coleta de dados alguns trabalhadores no CME/HBAP.
No que tange ao regime de trabalho, verificou-se que aqueles que se declararam
plantonistas compuseram (82,1%), relatando carga horária ≤40 horas semanais (94,9%),
51
correspondendo a jornada de trabalho da Lei Complementar nº 68 (RONDÔNIA, 1992).
Achado similar ao da pesquisa foi encontrado no estudo de Royas e Marziale (2001), citam
que o status quo do profissional de enfermagem permanece dezessete anos depois, pois
naquele período a carga horária desses profissionais também foi de 40 horas semanais para
87,8% de sua amostra, enquanto, 23% possuíam um segundo emprego.
Quanto ao período de pausa (43,6%) dos participantes referiram o período noturno.
Isso deve-se ao revezamento dos trabalhadores neste período, no entanto está condicionado ao
quantitativo de trabalhadores escalados para a jornada e da demanda de recebimento de PPS
para processamento. Sobre a duração das pausas (66,7%) responderam que a média é ≤ 30
minutos, excluindo as pausas para alimentação (café da manhã, almoço e jantar).
Nesse sentido, fica evidente que o CME/HBAP está em conformidade com a NR 17–
Ergonomia, no aspecto das pausas fora dos postos de trabalho, disponibilizando estrutura física
adequada para o descanso durante a jornada de trabalho e local destinado à alimentação dos
trabalhadores (BRASIL, 1990). Os parâmetros do ambiente de descanso dos profissionais de
enfermagem estão sendo assegurados legalmente de acordo com o Projeto de Lei nº 597/2015 que
prevê um ambiente limpo, arejado, com instalações sanitárias e condições dignas para o descanso
durante todo o período de trabalho (BRASIL, 2015).
Verificou-se também no estudo que (64,1%) dos participantes relataram não possuir
mais de um vínculo, e (35,9%) mais que um vínculo com carga horária menor que 40 horas
semanais. Nesse sentido, visualiza-se que esses trabalhadores com duplo vínculo perfazem
uma carga horária semanal maior que 40 horas, e ao informarem no instrumento da pesquisa a
real carga horária de trabalho limitaram-se apenas ao vínculo com o HBAP que é prevista
conforme a legislação estadual dos servidores públicos civis (RONDÔNIA, 1992).
Os resultados descritos acima demonstram sobrecarga de trabalho e jornadas
extensivas. Corroborando nesse sentido, os estudos realizados por Moraes, Mont‟Alvão
(2012) e Spagnol et al. (2015) afirmar que a sobrecarga e jornadas extenuantes interferem nos
processos de desgastes e de adoecimento dos trabalhadores. Durante a coleta de dados
registrou-se que sete trabalhadores informaram que sempre realizavam hora extra no
CME/HBAP com intuito de melhorar a situação financeira e de certa maneira suprir o quadro
de pessoal insuficiente.
A renda familiar informada por (64,1%) dos respondentes foi de 0 a 4 salários
mínimos, tendo como parâmetro o valor de R$ 937,00 (salário mínimo) no período da coleta.
Diante desse resultado, pode se deduzir que ter outro vínculo e realizar alguns plantões extras
é uma alternativa de melhorar a questão financeira, o que corresponde aos 35,9% (14)
52
trabalhadores que responderam ter outro vínculo empregatício, tendo em vista baixa renda
familiar. Todavia, torna-se um fator condicionante para o desgaste físico e mental do
trabalhador, tendo em vista a sobrecarga de trabalho e o estresse laboral.
Corroborando nesse aspecto, o estudo do perfil dos trabalhadores do CME de um
hospital geral realizado por Costa, Souza e Pires (2016), 70,59% tinham outro emprego em
decorrência dos baixos salários que predominam no SS, e principalmente na profissão de
enfermagem. Segundo os autores, esse regime de trabalho reproduz aos trabalhadores a
sensação de satisfação pela compensação financeira, mas provoca desgaste físico e mental.
Dentre os fatores de risco relevante para os agravos a saúde e adoecimento encontrado
neste estudo, estão o sobrepeso (41,0%). A Tabela 4 mostra a distribuição da classificação do
Índice de Massa Corporal (IMC) dos trabalhadores do CME/HBAP, conforme parâmetros da
World Health Organization (WHO, 2000).
Tabela 4 - Distribuição das frequências relativas quanto a Classificação do Índice de Massa
Corporal dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral
público, Porto Velho, 2017
Classificação do Índice de Massa Corporal* N % p- valor
Baixo peso <18,50 kg/m2 - -
Eutrofico 18,5-24,99 kg/m2 12 30,8
Sobrepeso 25,0-29,99 kg/m2 16 41,0 <0,0001
Obesidade I 30,0-34,99 kg/m2 09 23,1
Obesidade II 35,0-39,99 kg/m2 - -
Obesidade III ≥40,0 kg/m2 02 5,1
Total 39 100,0 Fonte: Adaptado WHO* (2000)
Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento
Esses achados revelam potencializam os agravos de doenças cardiovasculares,
acrescentando-se ainda o condicionante sedentarismo, evidenciado por 56,4% que relataram
não praticar exercícios físicos. Corroborando nesse aspecto, os autores Oliveira, Carvalho e
Costa (2013) inferem que o cotidiano estressante colabora para que os trabalhadores
consumam uma alimentação mais calórica do que o organismo necessita, geralmente pobre
em fibras e nutrientes.
Quanto ao hábito de fumar, a frequência foi de 5,1% dos respondentes (Tabela 3). Esse
dado torna-se relevante nesse estudo, considerando que os CME são setores restritos, com
limitação do tráfego dos trabalhadores entre área suja e limpa, por meio de barreiras físicas
entre as áreas. A configuração da organização do trabalho, caracterizada por rotinas
monótonas e a sensação de isolamento em decorrência da exigência da barreira técnica poderá
53
acarretar a quebra dessa exigência por esses trabalhadores.
A barreira técnica consiste no comportamento dos trabalhadores durante o
processo de trabalho, evitando que transitem entre área suja e limpa ou vice-versa,
lembrando sempre de retirar os EPI‟s e higienizar as mãos (SOBECC, 2017).
O dimensionamento dos trabalhadores do CME/HBAP é baseado na divisão das áreas
de processamento dos PPS. A distribuição dos trabalhadores é realizada pelo enfermeiro
plantonista, sendo comumente escalados dois trabalhadores para a área de recepção e limpeza,
quatro para as áreas de preparo e esterilização, sendo dois para os balcões de preparo e dois
para o balcão e manejo das autoclaves e um para a área de armazenamento e distribuição.
A organização do trabalho tem como meta o processamento de PPS para fornecimento
a todas as unidades assistencias e de diagnóstico (SOBECC, 2017). Considerando que o
processo de trabalho é fragmentado em etapas, caracterizado pela divisão técnica do trabalho
e sistema de produção, os autores Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) comparam-no a uma
indústria, por seguir uma sequência de produção e por seu caráter mecanizado.
A Tabela 5 mostra a distribuição de frequência de trabalhadores de 46,2% na área de
preparo e esterilização. Essa área é maior em comparação as demais, isso é justificado pelo
quantitativo de tarefas, complexidade e monitoramento até a finalização da esterilização. De
acordo com a conformação da estrutura física do CME/HBAP, as áreas de preparo e
esterilização, estão no mesmo espaço físico, sendo separadas pelos balcões.
Tabela 5 - Distribuição de frequência de trabalhadores que atuam em cada etapa do
processamento no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto
Velho, RO, 2017
Etapas do Processamento de Produtos de Saúde
Trabalhadores que atuam
em cada etapa
N % p-valor
Área de Recepção e Limpeza 06 15,4
Área de Preparo e Esterilização 18 46,2 <0,0001
Área de Armazenamento 09 23,1
Outros 06 15,4
Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Nesse sentido evidencia-se direcionamento de trabalhadores na divisão por áreas de
processamento, tendo em vista algumas particularidades como, por exemplo, restrição de
atuação em áreas que as tarefas prescritas exijam contato com produtos químicos e tarefas que
são realizadas essencialmente na posição de pé. Foram observadas também as questões de
experiências e habilidades com tarefas mais específicas e que exigem conhecimento mais
54
apurado, como por exemplo, atividade de montagem de caixas cirúrgicas. Durante as
observações sistemáticas realizadas nos períodos noturnos e diurnos, registrou-se na escala de
distribuição diária feita pelo enfermeiro responsável pelo plantão (12h), que alguns
trabalhadores preferem trabalhar em determinadas áreas, como na recepção e limpeza e na
área de preparo e esterilização, por questões de afinidades e habilidades técnicas inerentes as
atividades de trabalho.
4.2 Análise Ergonômica do Trabalho no Centro de Material e Esterilização
Considerando a metodologia do estudo, serão abordados os resultados e discussão por
meio dos registros de diário, registros de imagem fotográfica, observações sistemáticas e
análise documental das normas vigentes e POP do CME/HB.
4.2.1 Análise da Tarefa
4.2.1.1 Caracterização do cenário do estudo
O CME/HBAP é classificado como classe II de acordo com a RDC/ANVISA n°15
(BRASIL, 2012a). A normativa define-o como uma unidade funcional responsável pelo
processamento de PPS. Sua classificação permite o processamento de materiais críticos,
semicríticos e não-críticos de conformação complexa e não complexa, provendo o CC e as
demais unidades do hospital.
Está subordinado administrativamente ao maior hospital geral público do Estado de
RO, com habilitação nas especialidades de neurocirurgia, oncologia, cirurgia ortopédica,
transplante de córnea e renal, cirurgia geral, cirurgia bariátrica, único serviço de
hemodinâmica público do Estado e também o único SS público que presta atendimento
em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) (RONDÔNIA, 2016). Por
recomendação da RDC/ANVISA n°15 o SS que apresentar os requisitos supracitados
deverá ter um CME ou um serviço de processamento terceirizado, primando pelas boas
práticas no processamento de PPS.
Por meio das observações sistemáticas, constatou-se que o CME/HBAP tem
funcionamento ininterrupto e estrutura com barreiras físicas para separação das áreas (suja
e limpa). Está localizado estrategicamente conjugado ao CC e próximo do setor de
lavandeira do HBAP. Esta localização influencia a dinâmica de trabalho, considerando
que o CC é o maior consumidor dos PPS processados (SOBECC, 2017).
A lavanderia é uma unidade fornecedora de materiais têxteis como capotes
55
cirúrgicos, campos operatórios, campo fenestrado, capas de artroscopia e
videolaparoscopia, que passaram pelo processamento de lavagem e secagem na lavanderia
e posteriormente são encaminhadas para o processamento no CME.
Em referência a determinação estrutural das áreas do CME é recomendada pela
RDC/ANVISA nº 307 (BRASIL, 2002), que rege as normas de instalações e ambientes
de SS, que nos CME deve ser estabelecido na sua dinâmica de trabalho um fluxo
unidirecional, delimitando as áreas suja (recepção e limpeza) das demais áreas
consideradas limpas, através das barreiras físicas. Entende-se por barreira física, a
separação física das áreas, evitando dessa forma a contaminação cruzada entre os
ambientes limpo e sujo e a exposição aos riscos biológicos pelo trabalhador (SOBECC,
2017).
Durante visitas no setor foi observado conforme esquematizado na figura 5, o
fluxo contínuo e unidirecional, a partir do recebimento do material contaminado (área
suja), seguindo as demais etapas: conferência, descontaminação, lavagem (manual ou
automatizada) e desinfecção. Os PPS após lavagem são disponibilizados no guichê da
área de preparo e esterilização, seguindo o fluxo para área de armazenamento e
distribuição. Nota-se barreira física entre as áreas suja e limpa, entretanto a SOBECC
(2017) preconiza que além das barreiras físicas seja reforçada com os trabalhadores a
questão da barreira técnica.
Figura 5 – Fluxo unidirecional das etapas do processamento dos produtos para saúde
ÁREA SUJA ÁREA LIMPA
Recepção dos artigos,
conferência e
descontaminação
Retirada dos artigos da
autoclave
Armazenamento
Distribuição
Lavagem, desinfecção e
secagem dos artigos
Preparo e Esterilização:
conferência,
empacotamento,
carregamento da autoclave
Fonte: Elaborado com base nos dados da SOBECC (2017)
ENTRADA
SAÍDA
GUICHÊ
Pias
Incubadora
Lavadora Seladora térmica
Autoclave
56
Nos serviços de saúde que recebam PPS consignado, é recomendado pela norma
vigente que tenha uma área exclusiva para recebimento, conferência quanto à integridade
e funcionalidade e caso seja necessário, proceder à devolução dos artigos especiais
(órteses, próteses e materiais especiais) (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017). Nesse
aspecto é importante que seja estabelecido um protocolo específico para o cumprimento
do processamento desses PPS de acordo com a conformação estrutural de cada SS.
A área de recepção e limpeza deverá receber os PPS contaminados do CC, CO e
demais unidades de internação por meio de guichê ou “janelão”, assim como a área de
preparo e esterilização por ter barreira física (parede do chão até o teto).
4.2.1.2 Dimensionamento de pessoal de enfermagem
Por meio das observações sistemáticas e levantamento do quantitativo de
trabalhadores nas escalas de serviço mensal disponibilizadas pela coordenação do
CME/HBAP, registrou-se média de sete a oito auxiliares e/ou técnicos de enfermagem, um
enfermeiro no plantão de 12 horas exclusivo para o setor, uma secretária no período matutino
e um funcionário do serviço de limpeza, pertencente à empresa terceirizada.
O estudo de identificação e validação das tarefas do CME realizado por Costa
(2015) embasou o parâmetro para o dimensionamento do pessoal no CME. A resolução
COFEN nº 543/2017, atualizou e estabeleceu os parâmetros que baseiam-se ao serviço de
saúde, ao serviço de enfermagem e ao paciente. Todavia as horas de assistência de
enfermagem dependem do grau de cuidados que o usuário necessita, ou seja, do grau de
dependência em relação equipe de enfermagem para a distribuição dos profissionais
(COFEN, 2017).
O referencial para o dimensionamento de pessoal no CME é a carga de trabalho
que tem como parâmetro a produção do setor, multiplicada pelo tempo padrão das
atividades realizadas em cada área, de acordo com os parâmetros do estudo de Costa
(COSTA, 2015; SOBECC, 2017, COFEN, 2017). O dimensionamento do CME/HBAP
durante os meses de coleta foi observado nas escalas de serviço e nas áreas de atuação,
que a quantidade de trabalhadores de nível superior (enfermeiro) foi de um por plantão de
12h, atendendo a normativa vigente (BRASIL, 2012a) que recomenda um enfermeiro
exclusivo do CME e um responsável técnico.
Em relação aos trabalhadores de nível médio (auxiliares/técnicos de enfermagem),
de acordo com os parâmetros supracitados (COFEN, 2017), verificou-se que o
dimensionamento está deficiente, necessitando de 10 trabalhadores por plantão.
57
Acrescenta-se ainda, regime de trabalho com contrato temporário e realização de horas
extra como forma de suprir a deficiência de recursos humanos.
4.2.1.3 Áreas destinadas ao processamento de PPS e fluxograma das tarefas
O processo de trabalho no CME/HBAP é normatizado pelos procedimentos
operacionais que foram elaborados com base nas normas vigentes (BRASIL, 2012a).
Segundo estudo realizado por Costa (2015) foram encontrados no CME analisado, 44
atividades vinculadas aos trabalhadores de nível técnico e 18 atividades específicas do
enfermeiro (a). As tarefas estão intrinsecamente relacionadas com as áreas do
processamento e fundamentadas na RDC/ANVISA nº 15 (BRASIL, 2012a); SOBECC
(2017) e Manual de Normas e Rotinas do CME/HBAP (2017).
O fluxo do processamento dos PPS no CME/HBAP inicia-se com a recepção,
conferência, limpeza e desinfecção dos artigos provenientes dos procedimentos cirúrgicos
realizados no CC e das demais unidades do hospital, apresentada na figura 6:
Figura 6 - Fluxograma das tarefas prescrita na área suja (contaminada)
Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017)
Primeira Etapa Recepção, conferência quanto à
integridade, funcionalidade e
registro. Comunicar ao enfermeiro
situações de inconformidades e
estado de conservação inadequada.
Atenção aos materiais consignados
e seguir protocolo do serviço de
saúde; remover invólucros e forros
das caixas cirúrgicas, realizar
abertura das pinças e desmonta-las.
Realizar a limpeza dos materiais
antes de proceder à diluição do
detergente enzimático de acordo
com as instruções do fabricante.
Lavagem ultrassônica ou
termodesinfectadora:
montagem dos cestos com
os artigos; enxague manual
após lavagem.
Secagem dos PPS com pistola
de ar comprimido medicinal e
envio a área de preparo por
guichês ou janela de acesso. Limpeza do carrinho de
transporte e desinfectar
com álcool á 70%
Lavagem manual peça a
peça e enxague dos artigos.
58
A lavagem dos PPS é considerada essencial para assegurar a qualidade do
processamento, pois tem como princípio fundamental diminuir a carga microbiana e evitar a
formação de biofilme3, que uma vez instalado interfere no processo de limpeza e de
esterilização. A área seguinte refere-se ao preparo dos PPS. Na figura 7 serão mostradas as
tarefas previstas para essa área. Nessa etapa o recebimento dos materiais deve ser por
guichês, devido às barreiras físicas entre as áreas.
Figura 7 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de preparo (limpa)
Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017).
3 Biofilme: consiste em multicamadas de células bacterianas ou fungos agrupadas e envoltas por um material
extracelular amorfo, composto de exopolissacarídeos de origem bacteriana que têm por ação unir as células
firmemente ás superfícies dos biomateriais e entre elas dificultar a remoção tornando o processo de limpeza mais
complexo (SOBECC, 2017, p.19).
Segunda Etapa Inspeção visual e/ou testes químicos para
avaliar presença de sujidades e
funcionalidade dos instrumentais. Usar
lentes intensificadoras de no mínimo 8x de
aumento; se necessário reenviar artigo para
relavagem na área de limpeza através do
guichê; avaliar o fio das lâminas de
tesouras.
Recebimento de rouparia (campos
cirúrgicos, aventais cirúrgicos) da
lavanderia. Realizar inspeção visual
quanto à integridade do tecido.
Caso não estejam dobrados,
proceder à técnica de dobradura
respeitando os princípios de
assepsia; empacotamento e
montagem do carrinho para
autoclave (esterilização).
Secagem dos PPS com pistola de ar
comprimido medicinal ou secagem
automática (máquina secadora); selagem
das embalagens, identificação e
empacotamento.
Organizar os kits cirúrgicos, caixas
cirúrgicas conforme protocolo do serviço
de saúde e registrar a identificação
contendo descrição do produto, data de
esterilização e validade, lote da carga e
identificação de quem realizou a tarefa.
59
A terceira etapa corresponde às tarefas relacionadas ao processo de esterilização
(figura 8). De acordo com as observações e registros, os tipos de esterilização realizados pelo
CME/HBAP são a esterilização por vapor saturado sob pressão (autoclave de barreira),
considerado o método mais seguro e utilizado no âmbito hospitalar e a esterilização por
plasma de peróxido de hidrogênio. Este método é alternativo para os artigos sensíveis a altas
temperaturas e umidade, considerado menos agressivo ao ambiente (SOBECC, 2017; Manual
de Normas e Rotinas do CME/HBAP, 2017).
Figura 8 - Fluxograma das tarefas prescrita na área de Esterilização (limpa)
Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017).
As tarefas desenvolvidas nessa etapa exigem do trabalhador atenção redobrada e
conhecimento sobre os cuidados essenciais no empacotamento dos PPS, para que não haja
interferência no processamento. As embalagens devem ser compatíveis ao processo de
esterilização, ou seja, na autoclave, devem suportar a esterilização a vapor; os pacotes
confeccionados não devem ser muito grandes, nem apertados ou mal montados para que não
prejudique a retirada do ar e a penetração do agente esterilizante (vapor); “respeitar o
espaçamento de 1 cm entre os pacotes e materiais côncavos posicionar no sentido vertical ou
com a concavidade levemente lateralizada”(GRAZIANO, SILVA, PSALTIKIDIS, 2011,
p.118).
A área de armazenamento e distribuição é a última etapa e as tarefas previstas são
Terceira Etapa
Limpeza interna das autoclaves no início das
atividades diárias e quando necessário;
conferência da identificação dos pacotes e
kits cirúrgicos, conferindo e separando
conforme o ciclo de saída da autoclave;
Registro em formulário de montagem da
carga (autoclave) ou no equipamento de
plasma de peróxido de hidrogênio de acordo
com a especificidade do material; colocar o
teste controle de funcionamento do
equipamento esterilização (pacote desafio, ou
Bowie Dick); identifica e registra a carga
(lote); acompanhamento dos parâmetros do
ciclo e checar ao final com a fita impressa
pela autoclave e assinar.
Retirada da Carga
(descarregamento) através dos
racks, verifica os testes realizados
se houve mudança da coloração
(químico e biológico). O
biológico é levado a incubadora
por 48-72h e registra o resultado
do teste. Enfermeiro acompanha
o processo de incubação para
leitura do resultado e medidas de
recolhimento da carga do
material no caso de leitura
positiva.
60
apresentadas na figura 9. Essa área deve ser restrita, com barreira física, separando-a das
demais áreas, objetivando coibir a passagem de pessoas, evitando a contaminação dos PPS.
Figura 9 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Armazenamento e distribuição (limpa)
Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017)
4.2.1.4 Dimensão da área e mobiliários dos postos de trabalho
As dimensões das áreas dos postos de trabalho do CME são recomendadas pela
RDC/ANVISA 307 (BRASIL, 2002). O CME por ser uma unidade funcional de apoio
técnico na estrutura hospitalar, têm como parâmetro as dimensões a seguir:
Área de recepção, descontaminação, separação de materiais e lavagem:
uma sala com 0,08m2
por leito com área mínima de 8,0m2. Quanto à
organização do ambiente, deve ter pias com bancada (0,80m de comprimento,
0,50m de profundidade e 0,60m de largura), dispor de no mínimo uma
bancada com dimensões de 1,0 x 0,9m, recipiente para perfurocortante e
resíduo biológico. Equipamento de transporte com rodízios, torneiras com
água quente e fria, pistola de água sob pressão, pistolas de ar comprimido, pia
para higienização das mãos, guichê ou outra forma de transferir os artigos
Quarta Etapa Inspeção da integridade das
embalagens dos pacotes, dos PPS e
caixas cirúrgicas esterilizados.
Organizar os pacotes cirúrgicos e caixas
cirúrgicas nas prateleiras conforme
identificação; proceder à distribuição dos
artigos; registrar a saída para controle
(manual ou automatizado), comunicação
ao enfermeiro sobre falta de
instrumentais, caixas e/ou pacotes, sem o
devido registro de saída; controle do
ambiente para evitar o umedecimento
dos pacotes e comprometimento da
esterilidade do PPS.
Separar os pacotes que estejam
violados, sujos ou que caírem no
chão; Inspeção e envio para
reprocessamento dos materiais que
estão vencidos ou que esteja
próximo do vencimento conforme
protocolo do serviço de saúde;
Atenção a temperatura da sala para
evitar umidade nos pacotes
esterilizados e dessa forma perda da
esterilidade.
61
para a área de preparo, bancadas com medidas correspondentes ao tipo de
trabalho realizado. A figura 10 mostra a altura recomendada para as
superfícies horizontais de trabalho, na posição em pé, de acordo com o tipo de
trabalho (KROEMER e GRANDJEAN, 2005).
Figura 10 - Altura da Bancada de Trabalho
Fonte: KROEMER; GRANDJEAN (2005)
Nas tarefas que requerem mais atenção e concentração (trabalho de precisão) a altura
recomendada para os homens é de 100-110 cm e para as mulheres 95-105 cm; os trabalhos
leves, homens 90-95 cm e mulheres 85-90 cm e tarefas que exijam esforço físico (trabalho
pesado) a altura para os homens é de 75-90 cm e mulheres 70-85 cm. Outra observação é a
altura dos cotovelos em cada tipo de trabalho, no trabalho pesado requer uma elevação de 20
cm, o trabalho leve eleva 10 cm e o de precisão, se mantém em ângulo neutro, na altura do
cotovelo.
As dimensões recomendadas pela RDC/ANVISA 307 (BRASIL, 2002) para as
respectivas áreas são:
Área para recepção de rouparia limpa: uma sala com 4,0m2. Com sistema de
guichê e/ou outro mecanismo para recepção da rouparia, equipamento de
transporte com rodízios.
Área para preparo de materiais e roupa limpa: uma sala com 0,25m2
por
leito com uma área mínima de 12m2, bancadas com dimensões mínimas de
1,2m x 1m por profissional em atividade, com distância mínima de 1,20m entre
as bancadas ou bancadas e parede/divisória, equipamentos para transporte com
rodízios, secadora, lentes intensificadoras de imagem, seladoras de embalagem,
cadeira e ou bancos ergonômicos com ajustes para regulagem;
62
Área para esterilização física e líquida: uma sala com 0,25 m2
por leito com
uma área mínima de 12m2, todavia depende do equipamento utilizado, no caso
de autoclaves, a distância mínima é de 20 cm entre uma e outra;
Esterilização química: área de 4m2 com bancadas e cuba de lavagem de no
mínimo 0,80 x 0,60 m e 0,50 m de profundidade, ponto adicional de água
potável com filtro de 0,2 micra para enxágue e equipamento de transporte com
rodízio, exaustores para garantir vazão mínima de ar total de 18 m3/h/m
2;
Área de armazenagem e distribuição de materiais e campos esterilizados :
uma sala com 0,2 m2
por leito com uma área mínima de 10 m
2. A área para
armazenagem e distribuição de material esterilizado e materiais descartáveis,
deve ser 25% da área de armazenagem de material esterilizado.
Deve ter equipamento de transporte com rodízio, prateleiras com distância mínima
de 20 a 25 cm do chão, 45 cm do teto e 5 cm das paredes laterais, escadas, armários,
cestos aramados. Atenção especial deve ser dada para a temperatura ambiente que deve
ser mantida até 24ºC, umidade relativa do ar entre 40 a 60%, com vazão mínima de ar de
12 m3/h/m
2, para evitar o umedecimento dos pacotes esterilizados.
Área de monitoramento: área mínima de 2m2 com incubadoras para os
indicadores biológicos e arquivamento dos registros dos monitoramentos. São
considerados ambientes de apoio no CME: sanitário com vestiários para os trabalhadores
que tenham barreira física para às áreas de recepção de roupa limpa, preparo e
esterilização e armazenagem e distribuição; Os sanitários com vestiários poderão ser
comuns às áreas suja e limpa, desde que o acesso à área suja não seja feito por meio de
nenhum ambiente da área limpa.
O ambiente deverá dispor de uma sala para o depósito dos materiais de limpeza
(DML), sendo comum para as áreas limpas e sujas, desde que o seu acesso seja externo a
elas. Também é necessária uma sala para manutenção dos equipamentos de esterilização
física, exceto as autoclaves de barreira, copa para os trabalhadores, sala administrativa e
sala de descanso para os trabalhadores.
Quanto aos EPI‟s, é regulamentada a disponibilização de acordo com as áreas das
etapas de processamento (BRASIL, 2012a). A roupa privativa, gorro, propés, sapatos
fechados, são considerados comuns a todas as áreas. Cabe ao órgão empregador
disponibiliza-los nas respectivas áreas. Veja fluxo da figura 11 com os respectivos EPI‟s:
63
Figura 11 - Fluxograma das áreas e respectivos equipamentos de proteção individual
Fonte: Adaptado de Brasil (2012a)
A adesão ao uso dos EPI‟s é de significativa relevância para a segurança dos
trabalhadores e assim evitar acidentes e/ou doenças de trabalho. A NR 32 que trata da
segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde corrobora no sentido de que esses EPI‟s
devem está à disposição em quantidade suficiente nas áreas respectivas (BRASIL, 2005).
4.3 Análise da Atividade
Essa etapa foi realizada por meio da observação sistemática das atividades
desenvolvidas no CME/HBAP, registros fotográficos, avaliação das variáveis para
identificação do nível de risco psicossocial pelo instrumento COPSOQ e avaliação de
desconforto e dor musculoesquelética (Diagrama de Corllet e Manenica). Os achados
envolveram aspectos físicos, mentais, organizacionais e ambientais que estão envolvidos na
situação de trabalho.
Recepção e conferência Avental Impermeável manga longa, sapato
fechado antiderrapante, luvas nitrílica e/ou de
procedimento, máscara, óculos de proteção.
Limpeza Avental Impermeável manga longa, sapato
fechado antiderrapante, luva nitrílica e cano
longo, máscara, óculos de proteção e protetor
auricular.
Preparo/Acondicionamen
to/Inspeção
Sapato fechado antiderrapante, luva de
procedimento, máscara e protetor auricular.
Desinfecção química
Avental Impermeável manga longa, sapato
fechado antiderrapante, luva de borracha e
cano longo, máscara, óculos de proteção e
protetor auricular.
Esterilização
Gorro, propés, luva de procedimento, luva
térmica, máscara descartável e luva de
procedimento, cinta lombar, protetor
auricular.
64
As técnicas supracitadas buscaram a confrontação do trabalho prescrito e o real. Os
autores Corrêa e Boletti (2015) contribuem nesse sentido apontando que de acordo como os
trabalhadores são confrontados, pode ser estimulado a buscarem transformações na situação
de trabalho, visando melhor adequação das atividades de trabalho.
4.3.1 Finalidades CME/HBAP
O CME/HBAP é responsável pelas etapas de processamento dos PPS utilizados em
todas as unidades de internação do HBAP. Durante as visitas no setor, observou-se que as
demandas de processamento de PPS do CME/HBAP não estão restritas apenas a unidade
hospitalar a qual pertence. Dado a capacidade operacional para o processamento de PPS, o
CME/HBAP por vezes dá suporte para outros SS que prestam assistência aos usuários do
SUS na capital. O enfermeiro coordenador é responsável pelo gerenciamento e supervisão
de todas as etapas, portanto nessas situações fica responsável por definir os protocolos
para o recebimento dos PPS que necessitam ser processados.
Observou-se nesse aspecto que os PPS encaminhados para o processamento no
CME/HBAP são recepcionados limpos, ou seja, já passaram pelo processo de limpeza e
desinfeção em outro SS. Comumente os encaminhamentos ao CME/HBAP são em
decorrência de problemas operacionais nos equipamentos de esterilização. Essa situação é
descrita pelos autores Ascari et al. (2013) e Rubini et al. (2014) como “descentralização
do processo de limpeza”, podendo impactar na validação do processamento dos PPS, na
garantia da qualidade e segurança da assistência à saúde, pois impossibilita a supervisão
da etapa de limpeza e desinfecção.
Outra situação comum é a recepção de artigos críticos usados pelos profissionais
médicos de empresas terceirizadas, que possuem contrato de prestação de serviços com a
SESAU e que realizam os procedimentos no CC do HBAP. Destaca-se que os
procedimentos cirúrgicos realizados no HBAP são de média e alta complexidade com uma
média de cirurgias de aproximadamente 1000/mês e realizam semanalmente
procedimentos diagnósticos como a Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica4,
Endoscopias Digestivas e outros (RONDÔNIA, 2016).
A SOBECC (2017) recomenda que a etapa da limpeza seja criteriosa, validada e
que os processamentos de PPS semicríticos e críticos devam ser supervisionados pelo
4 Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE): procedimento endoscópio para avaliação
diagnóstica e terapêutico de patologias das vias biliares intra e extra-hepáticos (colédoco) e canal pancreático
(ducto de Wirsung) (FERRARI JÚNIOR et al., 2016).
65
enfermeiro, obedecendo aos protocolos do SS. No estudo realizado por Madeira (2015) o
resultado está de acordo com a recomendação supracitada, sendo o enfermeiro o
profissional de nível superior responsável por todas as atividades de trabalho relacionadas
ao processamento de PPS.
Quanto a coordenação e supervisão por profissional de saúde de nível superior, o
CME/HBAP está em conformidade com a RDC/ANVISA nº 15 (BRASIL, 2012a). A
supervisão é realizada por profissional enfermeiro exclusivo do setor, entretanto, durante
a coleta de dados no mês de fevereiro de 2017, durante algumas visitas, foi notado que o
enfermeiro do CC estava responsável pela supervisão, devido à licença médica e férias
regulamentares de trabalhadores do CME/HBAP, não sendo observada tal situação nos
demais meses da coleta, devido contratação de duas enfermeiras.
O quadro de trabalhadores dos CME é analisado em alguns estudos, como o de
Mendonça (2012), realizado na rede hospitalar pública de Goiás. Foi identificado que seis
hospitais de grande e médio porte possuíam CME centralizado, destes, em cinco existiam
enfermeiros exclusivos para o setor e apenas em um o enfermeiro era responsável pelas duas
unidades (CC e CME).
4.3.1.1 Fluxo Unidirecional das etapas de processamento
Referente às áreas, o CME/HBAP dispõe de cinco (Figura 12), compreendendo
área de recepção específica para materiais oriundos do CC conforme preconizado pela
RDC nº 15/ANVISA, os quais são conferidos quanto à integridade, funcionalidade e
também pela recepção e organização dos instrumentais consignados (BRASIL,
2012a). As demais áreas correspondem à limpeza, preparo, esterilização e
acondicionamento dos PPS. A figura 12 representa a planta física do CME/HBAP e
esquematiza a dinâmica de funcionamento do fluxo estabelecido para o
processamento dos PPS.
66
Figura 12 - Dinâmica das atividades de trabalho no CME do hospital geral público, Porto
Velho, RO, 2017
Fonte: HBAP (2017)
Legenda:
Setor limpo Setor sujo 1 – Sala de recepção e
conferência de material
consignado (sem
ventilação)
2 – Sala de recepção e
limpeza
3 – Sala de preparo e
esterilização
4 – Área das autoclaves 5 – Sala de
armazenamento
6 – Corredor central
7 – Sala de recebimento
de rouparia limpa e
distribuição de
compressas, gazes,
ataduras
8 – Sala de esterilização
química
9 – Sala administrativa 10 – Sala de depósito
11 – Repouso dos
técnicos de enfermagem
12 – Copa 13 – Repouso dos
enfermeiros
14 – Arsenal
15–Sala de reservatório de água ionizada
16–Vestuário masculino e feminino
CC–Centro Cirúrgico
Verificou-se que ocorre o cruzamento de trabalhadores com a PPS críticos
esterilizados que foram distribuídos ao CC e PPS contaminados através do corredor que
2
1
3
4
5
6
9
16
14
7
12
11
10
13
8
15
cc
67
liga o CC ao corredor de acesso a CME. Isso se deve porque o transporte e manuseio do
material contaminado proveniente do CC é entregue na sala de recepção e conferência
(sala um) que tem uma janela para recepção dos PPS, acessada pelos trabalhadores pelo
mesmo corredor.
Esses trabalhadores que transportam os PPS sujos-contaminados até a sala
referida cruzam o corredor de entrada dos PPS esterilizados para consumo no CC,
comprometendo a qualidade do processo de esterilização, bem como os trabalhadores se
expõem frequentemente ao risco biológico, em decorrência da presença de secreção nos
materiais sujos e contaminados com substâncias orgânicas (sangue, restos de tecidos),
tornando-se um ambiente hostil e insalubre para os trabalhadores que realizam a tarefa de
transporte e manuseio desses artigos.
As caixas cirúrgicas e os kits cirúrgicos contaminados são deixados na bancada da
sala de recepção (área suja), vide figura 13. O trabalhador que está escalado para a área
de recepção e limpeza, deverá realizar a conferência dos PPS, retirar e desprezar lâminas
ou outro material perfurocortante na caixa de descarte apropriada. Após calçar luvas de
procedimento, armazena as caixas cirúrgicas e os kits dentro de um carrinho de transporte
fechado, com rodas e leva até a área de limpeza, para proceder à lavagem e depois a
desinfeção.
Figura 13 – Sala de recepção dos artigos sujos/contaminado provenientes do CC em um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
A atividade realizada na sala 1 (Figura 13) requer que os trabalhadores utilizem
CME
68
EPI correspondentes à área de limpeza, os mesmos trabalhadores que estão escalados
nessa área é que são responsáveis em realizar a conferência e transporte das caixas
cirúrgicas até a área de limpeza e desinfecção. Não foram encontrados estudos que
referenciam essa atividade de transporte de material sujo/contaminado através de carrinho
até área de limpeza e desinfecção.
A normativa vigente recomenda o transporte para os artigos esterilizados em
recipientes rígidos, fechados, lisos com sistema de fechamento tipo estanque e que
resistam à ação de punctura e ruptura. É uma exigência legal para manutenção da
esterilidade dos PPS, atentando-se para a limpeza diária do recipiente de transporte
(BRASIL, 2012a).
O protocolo do CME/HBAP para essa atividade prevê que os trabalhadores
estejam paramentados com os EPI‟s (luvas nitrílicas de cano longo, avental impermeável,
máscara, óculos de proteção e gorro). Constata-se nessa atividade uma situação de
constrangimento e quebra de barreira técnica, devido a movimentação dos trabalhadores
da área de limpeza e desinfecção pelo corredor externo ao CME/HBAP, acessando o
corredor interno de entrada do setor até a sala um (Figura 12, pág. 65).
4.3.1.2 Análise das atividades por áreas de processamento
A rotina do CME/HBAP prevê a produção de pacotes de compressas cirúrgicas
estéreis para fornecimento as unidades internação do hospital, compreendendo a produção de
250 pacotes de compressas no dia e noite, 120 pacotes de compressas cirúrgicas estéreis para
o CC no dia, 80 pacotes para o período noturno e 10 pacotes de gazes estéreis para o dia e
noite.
A produção de pacotes de ataduras, malhas entre outros, é preparado conforme
necessidade dos serviços assistenciais, os quais devem comunicar ao coordenador responsável
a quantidade necessária, tendo em vista que são materiais de consumo diário. Todos os
trabalhadores de nível técnico estão envolvidos nessa tarefa, realizada na área de preparo.
Conforme registro realizado as atividades de produção da rotina tem duração média de
uma hora e meia a duas horas, requerendo do trabalhador a posição em pé e/ou sentada, visto
tratar-se de um trabalho leve realizado nos balcões (Figura 14).
69
Figura 14 - Etapas para produção de materiais de consumo único
Fonte: Adaptado Manual e Normas do CME/HBAP (2017)
As embalagens utilizadas como barreira microbiana são o papel grau cirúrgico5, o
SMS6 e tecido algodão. A normativa recomenda que o uso de tecido algodão deva obedecer a
especificações de 100% algodão, tecido duplo, com aproximadamente 40 a 56 fios por cm2
para que seja uma barreira estéril (BRASIL, 1997; SOBECC, 2017). Colaborando para a
eficácia dessa embalagem, Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), recomenda que o SS que
ainda utiliza o tecido algodão deve possuir controle de reprocessamento do tecido, sendo
comprovado em pesquisa realizada por Rodrigues et al. (2006), até 65 reprocessos mantém
desempenho seguro como barreira.
As atividades de dobraduras e empacotamento são caracterizadas por movimentos
repetitivos, sequencial e requer atenção, principalmente na produção dos pacotes de
compressas cirúrgicas para o CC. Os pacotes devem ser organizados na quantidade de cinco
compressas, que servirá como parâmetro de controle da quantidade de compressas cirúrgicas
utilizadas no ato operatório.
Após o término da rotina, o enfermeiro plantonista realiza a distribuição dos auxiliares
e técnicos nas áreas físicas correspondentes às etapas do processamento de PPS, a saber:
Área de recepção, limpeza (expurgo): dois trabalhadores são escalados para
5 Papel Grau Cirúrgico: é um sistema de barreira estéril (embalagem) descartável, disponível comercialmente em
tubos, envelopes, impregnados com indicador químico de exposição (classe 1) necessitando de selagem térmica 6 SMS: não tecido, conhecido com manta de polipropileno, embalagem descartável, flexível, plana e porosa
(Graziano, Silva e Psaltikidis, 2011).
Dispor as compressas, ataduras, gazes
sobre os balcões da área de preparo. Pegar uma compressa de cada
vez, sacudir para retirar fios
soltos, dispor no balcão para
dobrar e montar pacotes com 5
unidades, destinada ao uso no
CC. Embalar com SMS e /ou
algodão tecido, assinar e datar.
Organizar os pacotes nos cestos
aramados, dispor nos racks para
montagem e carregar na
autoclave.
Colocar as gazes, compressas,
ataduras nas embalagens (grau
cirúrgico), selar, datar e enviar
para esterilização.
70
realizar atividades de conferência quanto à sujidade, funcionalidade e integridade
do artigo, limpeza manual e montagem dos instrumentais cirúrgicos para lavagem
automatizada (lavadoras ultrassônicas), enxágue e secagem com gás medicinal (ar
comprimido) ou secagem com compressas cirúrgicas/tecido algodão. Os artigos
consignados conforme POP do setor deve ser secado ainda nessa área.
Dimensão da área e mobiliários: possui uma área de 24,30m2, perímetro 19,73m,
P.D (pé direito): 2,96 m. As pias possuem 40 cm de profundidade com bancadas
em aço inoxidável e torneiras. Todas as bancadas possuem 92 cm de altura, um
armário rígido com portas com 1,86 cm de altura x 100 cm largura.
Não foi visualizado apoio para os pés e pernas. Possui uma cadeira de plástico sem
ajustes de altura e encosto, utilizada para pausa dos trabalhadores, considerando
ser uma área restrita, uma central de ar condicionado, dois exaustores e um janelão
para receber material das clínicas e CO, um banheiro com pia e chuveiro, piso e
paredes laváveis.
Sala de recepção e conferência das caixas cirúrgicas do CC: possui uma área de
5,01 m2, perímetro de 9,34 m, P.D: 2,96 m, uma bancada com 94 cm de altura e
147 cm de largura, uma pia com bancada, dispensador de sabão e papel toalha, um
carrinho de alumínio rígido, com uma porta, usado para transporte dos artigos PPS
contaminados, medindo 81 cm de altura e 90 cm de largura, sem cadeiras ou
assento, sem central de ar condicionado, piso e paredes laváveis, sem porta.
A atividade de inspeção dos artigos quanto à integridade e presença de resíduos
orgânicos e inorgânicos é realizada visualmente. O setor não dispõe de lentes intensificadoras
de no mínimo 8x (vezes) de aumento, conforme recomendado pela RDC/ANVISA nº 15
(BRASIL, 2012a). Entretanto, durante as observações das atividades foi verificado que o setor
disponibiliza lupas como dispositivo para auxiliar na inspeção manual dos materiais de
conformação complexa (PPS com lúmen menor que 5 mm ou fundo cego).
Na área de recepção e limpeza (Figura 15), chamada também de expurgo pelos
trabalhadores do CME/HBAP, são recepcionados os PPS das demais unidades de
internação. São segregados os resíduos de saúde, realizada a limpeza e a secagem prévia
com o gás medicinal (ar comprimido). A limpeza e lavagem dos artigos podem ser
realizadas manualmente por fricção com escovas e pelas duas lavadoras
ultrassônicas/lavagem automatizada, de porte pequeno, que são destinadas a lavagem
automatizada de caixas cirúrgicas para os procedimentos de vídeo colecistectomia, vídeo
avançada geral, fixador tubo, fresas da tíbia, fresas do fêmur, hastes de tíbia e artigos
71
mais sofisticados e complexos, artigos canulados de lúmen menor que cinco milímetros,
conforme POP do serviço.
Figura 15 - Área de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização em um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Pode-se inferir que não há uma adesão adequada por parte dos trabalhadores
quanto ao uso dos EPI„s recomendados nessa área (luvas nitrílicas, botas impermeáveis,
avental de longa manga) conforme normas vigentes e POP do serviço. A atividade
executada é realizada pelo trabalhador em posição estática, permanecendo por longos
períodos de pé, com significativo dispêndio de energia devido ao esforço físico na
lavagem manual dos materiais (fricção), posturas desconfortáveis devido à posição da
coluna inclinada para frente forçando a coluna lombar e dorsal devido à profundidade das
pias em relação às medidas corporais (antropometria).
Além do excesso de peso no manuseio de instrumentais que são desmontados para
limpeza e montados nas caixas cirúrgicas, registra-se ruídos proveniente do procedimento
de secagem dos PPS consignados e canulados com o gás medicinal (ar comprimido). Esse
achado está em consonância com o estudo realizado por Salvagni, Giaretta e Posso
(2015), que evidenciou como fonte de emissão de ruídos na área de recepção e limpeza o
uso do gás medicinal (ar comprimido).
Por meio da análise das atividades nessa área, identificam-se fatores de agravos e
adoecimento pela exposição aos riscos biológicos, riscos mecânicos por meio de
acidentes com material cortante e perfurante, riscos químicos e ergonômicos.
Lavadoras
ultrassônicas
72
Área de Preparo: geralmente são escalados três trabalhadores que realizam a
revisão dos PPS recepcionados pela janela que separa área de recepção e limpeza
da área de preparo. Os instrumentais são revisados quanto à integridade, sujidade e
funcionalidade. Neste momento, caso seja necessário substituição de
instrumentais, é comunicado ao enfermeiro para proceder à reposição. Nessa área
também é realizado o procedimento de secagem com tecido de algodão ou gás
medicinal (ar comprimido), posteriormente são organizados nas respectivas caixas
e/o contêineres.
A etapa de montagem das caixas requer conhecimento dos instrumentais para a
composição das caixas cirúrgicas. O CME/HBAP disponibiliza próximo ao balcão
de montagem das caixas cirúrgicas, um computador com o check list das caixas
para consulta, no caso de dúvidas dos trabalhadores.
Observa-se que é comum os enfermeiros escalarem dentre os três trabalhadores,
um que tenha mais tempo de serviço, ou seja, que tenha experiência na montagem
das caixas cirúrgicas e kits. Esse trabalhador compartilha com os demais seus
conhecimentos e de certa maneira contribui no desenvolvimento da atividade.
Após montada as caixas cirúrgicas e os kits são empacotados em SMS e
identificados (nome do procedimento cirúrgico, data e assinatura do responsável
pela montagem) no segundo balcão.
Conforme rotina específica do CME/HBAP os PPS consignados, são de
responsabilidade dos enfermeiros plantonistas, que realizam a revisão, conferência,
montagem das caixas e/ou contêineres no segundo balcão da área de preparo.
Também é atribuído a reconferência junto ao representante da empresa, registrando
a devolução e a liberação do material, caso seja necessário.
Dimensão da área e mobiliários: Nesse item serão apresentadas as áreas de
preparo e esterilização, pois no CME/HBAP, essas áreas estão no mesmo espaço
físico. Possui área de 57,37 m2, perímetro 34,83 m, P.D: 2,96 m dispõem de três
balcões, sendo dois com 98 cm de altura X 100 cm de largura por 320 cm de
comprimento e um com 98 cm de altura X 100 cm de largura por 400 cm de
comprimento. O último balcão é utilizado para a organização dos cestos aramados
com pacotes e kits cirúrgicos que serão alocados nas autoclaves por meio dos
carrinhos (rack). Para selagem dos papéis grau cirúrgico são utilizadas as
termoseladoras que estão sobre o terceiro balcão.
73
Conforme observação sistemática e medição notou-se inadequação da altura dos
balcões para os tipos de atividades de trabalho realizados, considerando as medidas
antropométricas dos trabalhadores. Segundo Dul e Weerdmeester (2013) é fundamental
averiguar as informações quanto aos dados antropométricos, pois tal avaliação permite ajustes
necessários nos postos de trabalho, contemplando a variabilidade dos trabalhadores. Os dados
antropométricos dos 39 participantes do estudo representaram uma média de 1,60 cm, sendo o
mínimo 1,48 cm e o máximo 1,80 cm.
Comparando com a altura dos balcões da área de preparo com os dados da estatura dos
trabalhadores do CME/HBAP, é evidente a não conformidade, tendo em vista que os balcões
apresentam 98 cm de altura X 100 cm de largura (Figura 16).
Figura 16 - Posicionamento da região do pescoço e da cervical na área de preparo e
esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material de um hospital geral público,
Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
A Figura 16 mostra a postura que implica o estresse muscular da região cervical
exigido na realização na atividade de trabalho, com requisição do campo visual e o uso das
mãos e braços, ou seja, um trabalho de precisão. Segundo Kroemer e Grandjean (2005) para
as tarefas que exijam mais concentração a altura da bancada recomendada para os homens é
de 100-110 cm de altura e para as mulheres 95-105 cm.
Também se registrou nessa área que o número de cadeiras ou assentos é insuficiente
para o quantitativo de trabalhadores. Possuem três cadeiras que não tem ajuste de regulagem
74
do encosto e algumas apresentando defeitos na regulagem da altura e não são fornecidos
apoio para os pés e pernas.
Os carrinhos para transporte da carga de material para as autoclaves não possuem
pegas em forma de barras, de maneira que as duas mãos possam gerar forças para empurrar e
puxar. Todos possuem rodas, mas não apresentam rolagem de fácil manuseio, exigindo uma
sobrecarga muscular para transmitir força (Figura 17).
Figura 17 - Carregamento da autoclave no Centro de Material e Esterilização em um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Outra atividade realizada na área de preparo é o recebimento da rouparia limpa da
lavanderia para a montagem dos kits cirúrgicos (campos cirúrgicos, capotes cirúrgicos, capas
de artroscopia e kits de campos para o procedimento de hemodinâmica).
Esses tecidos recepcionados devem ser minuciosamente inspecionados pelos
trabalhadores quanto ao comprometimento da integridade (furos, remendos, desgaste do
tecido de algodão). Após inspeção visual e conferido a integridade é necessário realizar a
dobradura dos capotes cirúrgicos, campos cirúrgicos e demais materiais têxteis por meio
da técnica de dobradura tipo pacote, em cumprimento a técnica asséptica e posteriormente
encaminhados para a esterilização, tendo em vista que são inerentes ao ato cirúrgico e
demais procedimentos diagnósticos (Figura 18).
75
Figura 18 - Atividade de técnica de dobradura do tipo pacote do Centro de Material e
Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Na Figura 18 evidenciaram-se constrangimentos na tarefa prescrita e presença de
cargas fisiológicas, devidos ao esforço físico e posições incômodas assumidas (posição em pé
por mais de uma hora). Os autores Kroemer e Grandjean (2005) corroboram apontando que o
trabalho estático é considerado significativo se um esforço moderado persiste por 1 min ou
mais. Nota-se na figura A que a trabalhadora apresenta postura com torção do tronco para o
lado, causando tensões indesejáveis nas vértebras (DUL; WEERDMEESTER, 2013).
Quanto ao uso dos EPI‟s nessa área, identificou-se (Figura 18-B) o uso de cinta
lombar utilizado pela trabalhadora no manuseio de pacotes durante a organização do carrinho
para a montagem de carga que será carregada na autoclave. Esse dispositivo é apropriado para
o desenvolvimento de tarefas que exijam esforço da coluna vertebral, pois fornece
estabilidade, prevenindo lesões.
Área de Esterilização: são escalados dois trabalhadores, que realizam a
recepção dos PPS empacotados nos balcões de preparo, conferência e
separação conforme o ciclo de processo das autoclaves, auxiliam no
empacotamento dos kits cirúrgicos (capotes, campos, capas de artroscopia,
campos fenestrados), realiza limpeza interna das autoclaves no início das
A B
76
atividades e sempre que necessário.
Também nessa área é realizada a atividade de selagem dos invólucros
utilizados como barreira protetora (papel grau cirúrgico), carregamento e
descarregamento dos PPS nas autoclaves, disposição dos testes de
monitoramento diário (químico e biológico) a cada ciclo, identificando-os
comunicando ao enfermeiro quaisquer anormalidades, bem como má
funcionalidade das autoclaves, danos ou perdas de materiais (Figura 19).
Figura 19 - Atividade de carregamento dos produtos para saúde na autoclave de barreira
do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Sala de esterilização química: não é escalado trabalhador para a sala. Comumente
é utilizada para a esterilização e desinfecção de alto nível dos equipamentos usados
nos procedimentos de endoscopia digestiva alta e CPRE pelo trabalhador que
auxilia o médico durante o procedimento no CC. Possui área de 5,22 m2, perímetro
9,17 m, P.D: 2,96 m. A tarefa é essencialmente realizada na posição de pé, não
dispõem de cadeiras ou assentos, sem armários, duas pias com 40 cm de
profundidade e com bancada, medindo 88 cm de altura e 40cm de profundidade,
sem janela, com dois exaustores, pisos e paredes laváveis.
O gás medicinal usado para a secagem dos PPS é o ar comprimido, nota-se que o
77
cilindro não está fixado e não tem identificação, apresentado inconformidade com a NBR
12188/2016. Seu uso inadequado poderá acarretar em acidente de trabalho durante a
realização da atividade (Figura 20).
Figura 20 - Área de esterilização química e de desinfecção de alto nível de produtos para
saúde do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO,
2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Área de Armazenamento e Distribuição: é escalado um trabalhador por turno,
retiram dos racks os PPS que foram esterilizados nas autoclaves, organiza-os nas
prateleiras, de acordo com a identificação dos tipos de artigos e as caixas cirúrgicas
conforme as especialidades médicas, registro manual da distribuição para o CC e CO,
verificação da integridade dos invólucros antes da liberação, para registro manual no
caderno de controle e saída e comunica ao enfermeiro sobre a falta de instrumentais e
caixas cirúrgicas.
Conforme protocolo definido pelo CME/HBAP realiza inspeção do
reprocessamento após data limite de uso dos PPS esterilizados. Cada instituição estabelece
o prazo que está baseado no plano de validação da integridade das embalagens e eventos
relacionados ao manuseio (estocagem, empilhamento de pacotes, dobras das embalagens,
condições de umidade e temperatura da sala, qualidade da selagem e rotatividade do
estoque armazenado) (Manual de Normas e Rotinas do CME/HBAP, 2017).
78
Os prazos estabelecidos no CME/HBAP são: Tecido algodão (validade de 15 dias),
Embalagem Tyvec7 e papel grau cirúrgico duplo (validade de seis meses) e embalagem
SMS dupla (validade de três meses). Os trabalhadores devem observar em cada prateleira
os materiais que estão vencidos e ou que irão vencer nos próximos sete dias e coloca-los
sobre a maca de transporte, leva-los até a área de preparo, trocar forro da caixa cirúrgica,
inspecionar o artigo quanto à presença de sujidades e integridade. Posteriormente
empacotar com outro SMS, identifica com nova data de reesterilização, acrescentar fitas
de testes químicos classe I, registrar a quantidade de artigos reprocessados para fins
estatísticos e encaminhar para o rack da esterilização.
Dimensão da área e mobiliários: possui uma área 31,31 m2, perímetro 22,58 m,
P.D: 2,96 m, duas escadinhas com dois degraus, medindo 40 cm de altura por 40
cm de largura, uma mesa pequena com 70 cm de altura por 67 cm de largura,
cadeira não ergonômica, sem regulagem para encosto e altura, sem apoio para os
pés. Com duas prateleiras que medem 180 cm de altura por 50 cm de largura, um
armário com 186 cm de altura por 100 cm de largura, uma prateleira com 197 cm
de altura por 93 cm de largura, dois armários para guarda dos PPS consignado
medindo 195 cm de altura por 93 cm de largura, janela obstruída com material
insulfilme para evitar a radiação solar, central de ar condicionado, piso e paredes
laváveis, uma porta. As distâncias das prateleiras estão em conformidade com
RDC/ANVISA nº 15, apresentando 20 cm de distância do piso, 45 cm do teto,
entretanto a distância das paredes apresentam inconformidade com a distância de 5
cm recomendada.
Essa área é de acesso restrito pela norma vigente, protegida da luz solar direta, longe
de áreas de circulação e deve-se ter um controle da temperatura do ambiente entre 18ºC a 25º
C e umidade não ultrapassar 75% para que não haja comprometimento na esterilidade dos
PPS acondicionados nas prateleiras e armários (BRASIL, 2012a).
Todavia foi constatado nesse estudo que não estão sendo implementadas as
recomendações quanto ao acesso restrito, sendo confirmada pela movimentação constante dos
trabalhadores do CC que se dirigem a sala para retirar os PPS para os procedimentos
cirúrgicos. A temperatura da sala aferida pelo equipamento marca Instrutherm, modelo
THDL-400 com certificado de calibração nº 6314/15 (Anexo E), foi de 27ºC.
7 Tyvec: embalagem descartável que necessita de selagem térmica, confeccionada com 100% de fibras de
polietileno de alta densidade (Graziano, Silva, Psaltikidis, 2011, p.103).
79
As inconformidades observadas podem ser devido à localização dessa área, pois a
porta dá acesso ao corredor central que liga o CC ao CME/HBAP e é comum a porta
permanecer aberta, como observado na Figura 21.
Corroborando nesse achado o estudo de Costa et al. (2015a) apontou irregularidades
nas condições de armazenagem, devido a estrutura física, excessivo manuseio dos PPS
esterilizados e as condições de ventilação em hospitais públicos de grande porte.
Figura 21 - Área de Armazenamento e distribuição do Centro de Material e Esterilização
em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Sala Administrativa (Figura 22): não é visualizada na planta baixa, foi instalada
no corredor que dá acesso a área de preparo e esterilização. Não possui ventilação
artificial e nem natural, sem janela. Possui duas mesas de madeira com as
seguintes dimensões: mesa da secretária: 72 cm de altura por 100 cm de
comprimento; mesa do enfermeiro: 76 cm de altura por 99 cm de comprimento,
duas cadeiras com assento acolchoado, com suporte para os braços e pés e
alavanca para ajustes, dois armários de ferro com 187 cm de altura por 100 cm de
comprimento, piso e com duas paredes azulejadas e outra de material compensado.
80
Figura 22 - Sala Administrativa do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
As atividades realizadas são de cunho administrativo, contemplando o gerenciamento
de recursos humanos do CME/HBAP, supervisão das etapas do processamento de PPS,
solicitação de materiais de uso único (compressas cirúrgicas, gazes, ataduras), arquivamento
dos mapas de cirurgias, arquivo dos testes de monitoramento químico e biológico e
elaboração das escalas de serviço dos trabalhadores.
4.3.1.3 Avaliação dos Riscos Físico-Ambientais
A relação homem-trabalho é influenciada pelas condições do local onde ocorrem as
atividades laborais. Avaliar as condições do ambiente requer a investigação de alguns
condicionantes ambientais. Nesse aspecto foi necessário realizar as aferições dos riscos
físico-ambientais (temperatura, ruído e iluminação) do CME/HBAP.
Durante o procedimento, evidenciou-se que as principais fontes de ruídos foram as
autoclaves, o gás medicinal (ar comprimido) utilizado na área de recepção e limpeza na
81
secagem manual dos PPS de pequeno lúmen e complexos, da central de ar condicionado
localizada próxima a área das autoclaves, considerada uma área limpa. A área de recepção e
limpeza apresentou maior poluição sonora, com níveis de ruído de até 87 dB (A), valor
superior ao proposto pela legislação vigente que é de até 65 dB (A) para efeito de conforto
(BRASIL, 1990). E, ainda, patamar acima do encontrado no estudo de Salvagni, Giaretta e
Posso (2015) para essa mesma área, níveis de ruídos que alcançaram 70,9 a 77,2 dB (A).
A Tabela 6 mostra os resultados dos valores identificados nas respectivas áreas que
compõe o CME/HBAP. No que se referem ao risco ruído, outras áreas apresentaram valores
que não estão em conformidade com a NBR nº 10152 (BRASIL, 1987). Na área de preparo e
esterilização (78,0-79,2 dB) (A), sala de esterilização química com os dois exaustores ligados
(80-84,1 dB) (A) e no corredor central que dá acesso a área de armazenamento (67,2 dB) (A).
Tabela 6 – Resultados dos riscos físico-ambientais nos postos de trabalho no Centro de
Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Postos de trabalho Temperatura Iluminação Ruído
1.Sala de preparo e
esterilização dos produtos
para saúde
17ºC 77,5-113,4 lux 78,0-79,2 dB (A)
2.Sala de esterilização
química
Sem o exaustor
ligado: 25,4º C
Com o exaustor
ligado: 28,8ºC
59,8 lux
62 dB (A)
80-84,1 dB (A)
3.Sala de distribuição de
materiais esterilizados e
recebimento de roupas
limpas para esterilização
26,5 º C
26,1 lux (sem
acender a luz
artificial);
280 lux (com luz
artificial acesa)
62 dB (A)
4.Área para recepção,
separação dos produtos
para saúde e limpeza –
Área do Expurgo
18º C 180-275 lux 87 dB (A)*
5. Sala administrativa 27-28ºC 18,9 lux 50 dB (A)**
6.Corredor Central (acesso
ao CC) 25,1ºC 52,6 lux 67,2 dB (A)
7.Sala de Armazenamento e
distribuição dos produtos
para saúde esterilizados
(área restrita)
27º C 21 lux 67 dB (A)
8.DML 27,9 ºC 49 lux 58 dB (A)
9.Sala de recepção dos
artigos provenientes do
CC
27,9º C 49 lux 58 dB (A)
Legenda: Depósito de Material de Limpeza (DML), Centro Cirúrgico (CC), Decíbeis (dB). *aferido próximo ao
trabalhador em uso do ar comprimido medicinal na tarefa de secagem, **aferido com a porta aberta.
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
82
A NR 17 recomenda nível de ruídos aceitável para efeito de conforto de até 65 dB (A)
e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB. Considerando que o CME
não se assemelha e não possui equivalência ou correlação com as áreas relacionadas na NBR
10152 (BRASIL, 1987).
Convém pontuar que o achado na área de preparo e esterilização, coincide com os
relatos de risco sonoro, uma vez que essa área foi muito citada pelos participantes como uma
área “barulhenta”, por vezes interferindo na execução das atividades laborais no setor. Assim
revelam as respostas registradas no instrumento de coleta COPSOQ pelos participantes que
foi codificado com a letra R e numerado, expondo as dificuldades encontradas pelos
trabalhadores no desempenho de suas atividades no CME/HBAP:
[...] ruídos oriundos da secagem de materiais com o ar comprimido
(R03).
[...] Secagem dos materiais da ortopedia (com ar comprimido, saio
com zumbido no ouvido) (R16).
[...] Ruídos (autoclaves e secagem com uso de ar comprimido) (R10).
[...] Secagem com ar comprimido (ruído/barulho) (R01).
Na Figura 23 percebe-se a proximidade da pistola de ar comprimido do trabalhador
responsável pela tarefa de secagem dos instrumentais cirúrgicos na área de preparo e
esterilização. Foram constatados ruídos que chegaram ao patamar de 78,0-79,2 dB (A), mais
de 10 dB acima daqueles considerados como ideais para evitar danos auditivos aos
trabalhadores.
Figura 23 - Área de preparo e esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material e
Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
A figura 23 também ilustra as atividades de inspeção visual e secagem manual dos
Pistola de ar comprimido
83
instrumentais no primeiro balcão da sala de preparo. Deve-se observar, então, que a
iluminância nessa área que deveria ser de 300lux, conforme recomendado pela NBR/CIE
8995 (BRASIL, 2013) e pela NBR 5413/1992 podendo chegar até 750 lux por ser uma
área de trabalho de precisão visual, apresentou uma variação entre 77,5-113,4 lux,
acrescentando-se também a luminosidade produzida pelas janelas que estão próximas aos
balcões. Então, além do estresse sonoro, ainda há o estresse visual que pode comprometer
o preparo dos PPS, consequentemente a segurança no uso dos mesmos na assistência
direta ao paciente e a saúde do trabalhador.
Quanto aos valores de temperatura, constataram-se valores acima dos parâmetros de
conforto (20ºC a 23ºC) preconizado pela NR 17-Ergonomia (BRASIL, 1990). Na sala
administrativa a temperatura estava entre (27ºC- 28ºC), não possui central de ar condicionado e
janelas. Na sala de esterilização química observou temperatura entre (25,4ºC- 28,8ºC) e na área de
distribuição externa de materiais esterilizados e recebimento de materiais têxteis para
esterilização foi de (26,5ºC) ambas não possuem central de ar condicionado.
Abrahão et al. (2014) citam que o desconforto térmico influencia diretamente o
trabalho humano na sua produtividade e no aumento de ocorrência de acidentes. Em
temperaturas elevadas ocorre maior demanda de irrigação sanguínea, provocando cansaço
excessivo, desidratação, cefaleia, esgotamento a depender do tipo de trabalho e ritmo. Achado
semelhante foi exposto no estudo de Espindola e Fontana (2012), onde foram detectados pelos
respondentes que o calor é considerado o risco físico mais referido e a principal causa de
desconforto no trabalho.
Notou-se também durante as observações sistemáticas e aferição, o déficit na
iluminância em diversas áreas que compõem o CME/HBAP principalmente na sala
administrativa (18,9 lux) e sala de armazenamento (21 lux), sala de recepção e
conferência dos PPS proveniente do CC (49 lux). Conforme ABNT NBR ISO/CIE
8995/2013 os parâmetros de iluminância para as salas de esterilização e desinfecção são de
300 lux.
No estudo foi encontrado o valor de (59,8 lux) na sala de esterilização química, no
corredor central, valor de (52,6 lux), tendo como parâmetro conforme ABNT supracitada de
200 lux para as áreas de circulação e corredor. Esses dados comprovam o que 85,7% dos
sujeitos estudados por Ferraz et al. (2015) mencionaram em sua pesquisa sobre os riscos
ocupacionais em auxiliares e técnicos de enfermagem, para eles a iluminação elétrica
insuficiente foi caracterizada como um fator de risco para agravos e acidentes no ambiente de
trabalho.
84
As atividades de trabalho na sala de esterilização química envolvem contato com
produtos químicos usados para a limpeza e desinfecção (ácido peracético) para retirada de
substâncias orgânicas (sangue e secreção) presente nos endoscópicos. Após imersão na
solução enzimática, deve-se ter muita atenção para o tempo preconizado pelas instruções do
fabricante, caso contrário poderá haver avarias no PPS. É recomendado o enxague abundante
para remoção completa do detergente enzimático e proceder à secagem com gás medicinal (ar
comprimido). O trabalhador deverá está paramentado com EPI‟s adequados em decorrência
da exposição aos riscos físicos, químicos e biológicos durante a realização da tarefa.
Os EPI‟s são os mesmos utilizados na área de recepção e limpeza, luva nitrílica
cano longo, máscara descartável, gorro, bota impermeável, óculos de proteção, avental
manga longa impermeável e durante a atividade de secagem com o ar comprimido,
utilizar protetor auricular. Outro achado relevante foi à manifestação de alguns
trabalhadores no que diz respeito à falta de treinamento e da falta de cobrança do uso dos
EPI‟s durante a realização das atividades de trabalho:
[...] falta de treinamento (R02).
[...] Não adesão por parte de alguns trabalhadores ao uso dos EPI’s
(R10).
[...] Não trabalhamos com todos os equipamentos de proteção (R13).
[...] Falta de qualificação/treinamento no serviço (R18).
Diante das respostas supracitadas, o estudo no CME/HBAP vem reforçar as
recomendações da normativa da ANVISA e da SOBECC a respeito da necessidade de
qualificação permanente dos trabalhadores nos CME para as habilidades das tarefas exigidas,
mas, sobretudo para o desenvolvimento de medidas de segurança no ambiente de trabalho. As
condições do ambiente relacionado aos riscos físico-ambientais mensurado no CME/HBAP
consistem em um fator condicionante para ocasionar distúrbios fisiológicos e psicológicos nos
trabalhadores, tais como fadiga visual e auditiva, cansaço mental e a surdez progressiva
resultante da exposição crônica ao ruído elevado.
Acrescenta-se ainda a exposição frequente nas áreas de recepção, limpeza e
desinfecção ao risco biológico, no manuseio de PPS contaminados. Nessa perspectiva, os
achados desse estudo, são semelhantes aos identificados no estudo de Vilela, Barreto, Gebrim
et al. (2015), onde o risco biológico é o mais relatado pelos trabalhadores. Corroborando
nesse sentido, Aquino et al. (2014) inferem ainda que os trabalhadores de saúde não se
apropriam do conhecimento desses riscos, não se atentam para o ambiente laboral e que o
85
desenvolvimento de suas atividades pode causar-lhes danos.
4.3.1.4 Análise dos fatores de Riscos Psicossociais
A análise das dimensões psicossociais dos trabalhadores do CME/HBAP foi realizada
por meio do instrumento Copenhagem Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) descrito
anteriormente no capítulo da metodologia. O estudo das condições de trabalho possibilita
também a identificação dos fatores de riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho.
Os autores Silva, Wendt e Argimon (2017) colaboram nesse sentido, inferindo que há muito
os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho são estudados.
Na presente pesquisa considerou-se relevante estudar o fator psicossocial dada à
peculiaridade do processo de trabalho do CME/HBAP, focado no sistema de produção de PPS
com uma organização de trabalho baseada numa divisão sociotécnica e fragmentada.
Acrescenta-se ainda a fundamental missão de apoio técnico indispensável no âmbito
hospitalar para o controle das IRAS na assistência prestada aos usuários do SUS.
Como citado anteriormente na metodologia foram selecionadas para estudo as
dimensões: exigências laborais (exigências físicas e psicológicas), organização do trabalho
e conteúdo, relações sociais e liderança, interface trabalho-indivíduo, justiça/respeito e
saúde física geral, considerada pela pesquisadora as mais relacionadas ao contexto laboral do
estudo, pois medem indicadores de exposição (riscos) e indicadores do seu efeito (saúde,
satisfação, significado) (SILVA et al 2012).
Para a análise das variáveis das dimensões do COPSOQ procedeu-se por meio da
estatística descritiva ao cálculo das frequências absolutas e relativas, medidas de tendência
(média) e medidas de dispersão e Desvio padrão (Dp). Conforme definido pelos autores
(Kristensen et al., 2005; Silva et al., 2012) cada item possui cinco alternativas de respostas
com pontuação máxima de cinco e mínima de um. A pontuação final foi obtida por meio do
cálculo da média das pontuações das respostas, classificando-as nas categorias de baixo risco
psicossocial (<2,33), médio (2,34 a 3,66) e alto (> que 3,66).
Os resultados obtidos foram dispostos em tabelas de acordo com as subescalas
descritas a seguir:
Exigências laborais:
Observa-se no quadro 3 que a variável carga horária algumas vezes foi mal distribuída
(30,77%) no CME/HBAP. Quanto à frequência de não ter tempo para completar suas tarefas
(38,46%) dos respondentes informaram que raramente não tinham tempo para finalizar as
86
tarefas. Em relação às horas extras (28,21%) necessita fazer horas para completar as
atividades e algumas vezes (28,21%) é necessário trabalhar muito rapidamente, em
decorrência do aumento da demanda ou necessidade de processamento de PPS em caráter
excepcional (urgência).
Quadro 3 - Distribuição das variáveis da dimensão exigências laborais do Copenhagem
Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017
Exigências
Laborais Sempre
Com
frequência
Algumas
vezes Raramente Nunca
Média
(dp)
n % n % n % n % n % 3,36
(0,84)
Quantitativa
Carga horária
mal distribuída 2 5,13 7 17,95 12 30,77 8 20,51 10 25,64
N
39 Com que
frequência não
tem tempo para
completar todas
as tarefas
5 12,82 2 5,13 7 17,95 15 38,46 10 25,64
Precisa fazer
horas extras 7 17,95 8 20,51 11 28,21 2 5,13 11 28,21
Ritmo de
trabalho
Precisa trabalhar
muito
rapidamente
5 12,82 5 12,82 11 28,21 7 17,95 11 28,21
Emocionais
Exige
emocionalmente
de si
18 46,17 8 20,51 6 15,38 6 15,38 1 2,56
Cognitivas
2,31
(0,72)
Exige atenção
constante 34 87,18 3 7,69 1 2,56 - - 1 2,56
N
39 Trabalho requer
que seja bom
para propor
novas ideias
11 28,21 13 33,33 7 17,95 6 15,38 2 5,13
Trabalho exige
que tome
decisões difíceis
3 7,69 5 12,82 13 33,33 11 28,21 7 17,95
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento
Percebe-se, portanto, que a organização do processo de trabalho está comprometida, a
87
média de 3,36 demonstra risco psicossocial na categoria médio (2,34 a 3,66) para a variável
exigência laboral. Esses achados estão em consonância com a característica da organização do
trabalho nos CME citada no estudo de Espindola e Fontana (2012), como um setor de
produção com exigências de trabalho repetitivo, monótono, em tempo e quantidade necessária
para o fornecimento de PPS livre de contaminação e com qualidade para o cuidado em saúde.
Este estudo mostrou que para 46,17% dos respondentes sempre há exigência
emocional para o desenvolvimento das atividades desenvolvidas no setor, esses dados são
similares aos achados de Ferraz et al. (2015) sobre riscos ocupacionais, para 40% de sua
amostra há exposição nesse setor ao risco psicossocial. Quanto à exigência de atenção
constante (87,18%) compreendem que as tarefas sempre envolve atenção constante. Essa
atenção constante foi registrada durante a observação sistemática na área da recepção e
limpeza dos instrumentais que necessitam serem desmontados para a etapa da limpeza,
considerada uma etapa fundamental no processamento.
A exigência de atenção contínua foi citada em outros estudos realizados em CME,
como o de Rubini et al. (2014) e Borgheti, Viegas e Caregnato (2016), os quais apontam que
tal exigência se dá em decorrência da sofisticação e “novos designs” de PPS concomitante aos
avanços tecnológicos nos métodos de esterilização e abordagens cirúrgicas.
Nos aspectos cognitivos 33,33% dos respondentes relataram que com frequência as
tarefas requerem que o trabalhador seja bom para propor novas ideias e algumas vezes
(33,33%) necessitam tomar decisões difíceis. Os resultados mostram que os trabalhadores
atuantes no CME/HBAP reconhecem a necessidade do conhecimento técnico para a execução
das tarefas específicas do processamento dos PPS. A necessidade de qualificação dos
trabalhadores dos CME foi sinalizada no estudo de Borgheti, Viegas e Caregnato (2016),
confirmando-se a exigência de qualificação e habilitação constante e permanente dos
trabalhadores.
Relações Sociais e Liderança
As variáveis analisadas nessa dimensão são as relacionadas ao apoio social de
superiores e apoio social de colegas. De acordo com o parâmetro de avaliação do COPSOQ,
essa dimensão apresentou média de 3,05, correspondendo a médio risco psicossocial. O
auxílio dos colegas para a realização das atividades no CME/HBAP foi sinalizado como algumas
vezes por (33,33%) dos participantes (Quadro 4). Constatou-se durante as visitas para as
observações sistemáticas que as atividades no CME/HBAP são desempenhadas em equipe. As
etapas de processamento de PPS exigem um trabalho coletivo nas respectivas áreas, entretanto
percebe-se que para a área de armazenamento e distribuição é escalado um trabalhador que deverá
88
ficar restrito aquela área, considerando o aspecto normativo que preconiza acesso restrito pelas
diretrizes de boas práticas para a manutenção da esterilidade dos PPS.
Quadro 4 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Relações Sociais e
Liderança Sempre
Com
frequência
Algumas
vezes Raramente Nunca
Média
(dp)
n % n % n % n % n % 3,05
(0,88)
Apoio Social de
colegas
Frequência que tem
ajuda e apoio dos
seus colegas de
trabalho
10 25,64 11 28,21 13 33,33 4 10,26 1 2,56
N
39
Frequência dos
colegas em ouvir
sobre os seus
problemas de
trabalho
6 15,38 5 12,82 12 30,77 11 28,21 5 12,82
Frequência que os
seus colegas falam
consigo a respeito do
seu desempenho
laboral
- - 5 12,82 13 33,33 12 30,75 9 23,10
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
Trazendo o sentido do trabalho retratado por Antunes (2009), como uma atividade que
incentiva a socialização estabelecendo relações sociais entre os sujeitos, foi registrado no estudo
que 30,77% dos participantes algumas vezes ouvem os colegas de trabalho sobre os seus
problemas de trabalho e 28,21% raramente estabelecem uma relação de escuta entre eles.
Quanto à frequência com que os colegas falam sobre o desempenho laboral (33,33%)
afirmam que algumas vezes existe uma interação entre os colegas sobre as impressões do
desempenho laboral e 30,75% dos participantes assinalaram que raramente esse entrosamento dos
trabalhadores a respeito do desempenho laboral ocorre. Esses dados revelam o comprometimento
dos vínculos no local de trabalho, levando à hipótese de que não há cumplicidade entre os
trabalhadores.
Ainda sobre a dimensão relações sociais e liderança, o quadro 5 apresenta a distribuição
das variáveis em relação ao apoio da liderança no cenário do estudo. Foram constatados que
33,33% raramente recebem dos seus superiores uma devolutiva sobre como está o seu
89
trabalho, em referência ao apoio e ajuda (28,21%) raramente têm apoio dos superiores e
quanto à devolutiva do desempenho laboral (48,72%) raramente recebem.
Quadro 5 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Relações Sociais e
Liderança Sempre
Com
frequência
Algumas
vezes Raramente Nunca
Média
(dp)
n % n % n % n % n % 3,19
(1,05)
Apoio social de
superiores
Frequência com que
o seu superior
imediato fala
consigo sobre como
está o seu trabalho
5 12,82 3 7,70 10 25,64 13 33,33 8 20,51
N
39
Frequência que tem
ajuda e apoio do seu
superior imediato
11 28,21 7 17,95 9 23,08 11 28,21 1 2,56
Frequência que o
seu superior
imediato fala
consigo em relação
ao seu desempenho
laboral
4 10,26 3 7,69 6 15,38 19 48,72 7 17,95
Fonte: Dados da Pesquisa (2017) Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não
Esses dados evidenciam que de um modo geral, ainda existe como descrito por
Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) menor importância do setor por parte da gestão em
comparação aos demais na estrutura hospitalar. Supostamente talvez seja pela invisibilidade
do trabalho real na assistência direta à saúde. Entretanto, o produto final das atividades
realizadas contribui para a continuidade do cuidado de saúde. A média obtida caracteriza risco
psicossocial médio (3,19).
Justiça e Respeito
O ambiente de trabalho foi considerado bom algumas vezes por 35,90% dos
respondentes, assim como também algumas vezes há boa cooperação entre os colegas
(46,15%) e os que não sentem o local de trabalho como uma comunidade foi 56,41%. A
média calculada foi de (3,68) representando alto risco psicossocial.
Esses achados demonstram uma probabilidade de conflitos relacionais no ambiente
laboral, podendo acarretar stress e desgastes psicológicos nos trabalhadores. As relações
90
interpessoais podem estar afetadas em decorrência do acesso restrito dos trabalhadores na área
suja e limpa em atendimento as normativas vigentes. A barreira física existente entre as áreas
de trabalho gera distanciamento entre os trabalhadores, que de certa maneira dificulta as
relações sociais.
Quadro 6 - Distribuição das variáveis da dimensão justiça e respeito do Copenhagem
Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017
Justiça e
Respeito Sempre
Com
frequência
Algumas
vezes Raramente Nunca
Média
(dp)
n % n % n % n % n % 3,68
(0,87)
Comunidade
Social no
Trabalho
Existe um bom
ambiente de
trabalho entre si
e os seus
colegas
- - 6 15,38 14 35,90 11 28,21 8 20,51
N
39
Existe uma boa
cooperação
entre os colegas
de trabalho
- - 4 10,26 18 46,15 10 25,64 7 17,95
No seu local de
trabalho sente-se
parte de uma
comunidade
2 5,13 7 17,95 3 7,69 5 12,82 22 56,41
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
Situação semelhante foi identificada no estudo de Gouveia, Oliveira e Lira (2016),
considerando que os conflitos interpessoais presentes no CME do estudo podem provocar
acidentes de trabalho e o adoecimento. Corroborando na afirmativa, Guérin et al. (2001)
acrescenta que alguns modelos padrões de organização de trabalho podem gerar
constrangimentos e desgastes humanos.
Por certo, um ambiente de trabalho acolhedor promove vivências positivas,
sentimentos de satisfação, realização, segurança e, sobretudo os trabalhadores sentem-se
motivados no desempenho de suas atividades. Os autores Sá, Silva e Funchal (2013) ao
estudarem a relação entre os fatores de satisfação no trabalho e a Síndrome Burnout,
91
corroboram afirmando que um ambiente de trabalho seguro promove crescimento e o
reconhecimento profissional.
Organização do Trabalho e conteúdo
Em relação à organização do trabalho e conteúdo, os resultados apresentados no
quadro 7, mostra uma média de (2,15), caracterizando baixo risco psicossocial. Os dados
revelaram que 71,79% dos trabalhadores respondentes consideram o seu trabalho no
CME/HBAP muito significativo e 79,49% muito importante, Quanto à motivação
(48,73%) sentem-se muito motivados e envolvidos com as atividades desenvolvidas.
Quadro 7 - Distribuição das variáveis da dimensão organização do trabalho e conteúdo do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Organização
do Trabalho
e conteúdo
Nada Um pouco Moderado Muito Extremo
Média
(dp)
Significado
do trabalho n % n % n % n % n %
2,15
(1,15)
O seu
trabalho tem
algum
significado
para si
- - 2 5,13 2 5,13 28 71,79 7 17,95 N
39
Sente que o
seu trabalho é
importante
- - - - 1 2,56 31 79,49 7 17,95
Sente-se
motivado e
envolvido
com o seu
trabalho
1 2,56 5 12,82 13 33,33 19 48,73 1 2,56
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
Esses achados evidenciam que a dimensão do significado do trabalho é similar aquela
discutida por Guérin et al. (2001), de que o trabalho permite a construção do ser social e que
esse caráter social é intrínseco a sua dimensão econômica. O estudo de Rodrigues, Barrichelo
e Morin (2016), analisam os sentidos do trabalho para os profissionais de enfermagem,
identificando que o sentido do trabalho para esses profissionais é a possibilidade de
valorização profissional e a melhoria socioeconômica.
Outro achado registrado durante as observações sistemáticas realizadas, diz respeito a
prática de troca de plantão pelos trabalhadores do CME/HBAP. As trocas restringiam-se
apenas aos trabalhadores lotados no setor, em razão da peculiaridade das atividades
92
realizadas. Isso remete a importância do trabalho considerado diferenciado dos demais setores
do HBAP, que prestam assistência direta.
Interface trabalho-indivíduo
Na variável insegurança laboral (33,33%) dos respondentes assinalaram que não se
preocupavam em ficar desempregados. Entretanto (30,77%) demonstrou preocupação, o que pode
ser explicado pelo contrato de trabalho de alguns trabalhadores do CME/HBAP ser temporário com
prazo determinado (Quadro 8).
Quadro 8 - Distribuição das variáveis da dimensão interface trabalho-indivíduo do
Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um
hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Interface
Trabalho-
Indivíduo
Nada Um pouco Moderado Muito Extremo
Média
(dp)
Insegurança
Laboral
n % n % n % n % n % 3,04
(0,35)
Sente-se
preocupado
em ficar
desempregado
13 33,33 7 17,95 2 5,13 12 30,77 5 12,82
Satisfação do
trabalho
2,85
(0,57)
Quão satisfeito
está com as
suas
perspectivas
de trabalho
1 2,56 14 35,90 14 35,90 9 23,08 1 2,56
Quão satisfeito
está com o seu
trabalho de
uma forma
global
2 5,13 9 23,08 16 41,03 12 30,77 - -
Quão satisfeito
está com as
condições
físicas do seu
local de
trabalho
3 7,69 16 41,03 19 48,72 1 2,56 - -
Quão satisfeito
está com a
forma como as
suas
capacidades
são utilizadas
- - 8 20,51 19 48,72 12 30,77 - -
Fonte: Dados da Pesquisa (2017) Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero
Em relação à satisfação (23,08%) indicaram estar muito satisfeitos com suas perspectivas de
93
trabalho. Destaca-se que 41,03% dos respondentes encontram-se moderadamente satisfeitos com
seu trabalho de forma global e 48,72% estavam moderadamente com as condições físicas do
ambiente em que trabalham e com a forma como suas capacidades estão sendo utilizadas para
desenvolver suas atividades
A dimensão interface trabalho-indivíduo obteve médias de (3,04) para a variável
insegurança laboral e para a satisfação do trabalho a média foi (2,85) apresentando médio
risco psicossocial. Percebe-se que a maioria dos trabalhadores se sente satisfeito pela forma
como suas capacidades são utilizadas (48,72%) moderamente e 30,77%, muito. O achado do
estudo referente à satisfação do trabalho se assemelha ao achado de Rodrigues, Barrichelo e
Morin (2016), apresentando uma média calculada para a satisfação com as condições do
ambiente físico de 2,58.
Durante o período de coleta de dados e observações realizadas nas escalas de serviços
disponibilizadas, houve dois afastamentos, um por motivo de licença maternidade e o outro
por motivo de doença. Em relação à percepção da saúde geral (35,90%) afirmaram gozar de
boa saúde (30,77%) têm uma saúde razoável (7,69%) excelente e (2,56%), saúde deficitária
(Tabela 7).
Tabela 7 - Distribuição da frequência da percepção da saúde geral dos trabalhadores do
Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Percepção da Saúde Geral
Excelente % Muito
boa % Boa % Razoável % Déficit %
Saúde
Geral 3 7,69 9 23,08 14 35,90 12 30,77 1 2,56
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Ao assinalarem essa questão, foi identificado em alguns instrumentos de coleta, o
registro de problemas de saúde relatado pelos trabalhadores:
[...] tenho hipertensão arterial e cefaleia tensional (R01).
[...] já tive momentos de tristeza profunda (R05).
[...] uso medicação contínua para hipertensão e dor no corpo (R21).
[...] uso a medicação Glimepirida, pois tenho Diabetes (R2).
[...] tenho hérnia de disco e não trabalho na área de recepção e
limpeza (R26).
[...] tenho bursite, artrite e hipertensão arterial em uso de
medicamento (R27).
A seguir serão abordados os resultados sobre a avaliação de dor e desconforto dos
94
trabalhadores do CME/HBAP por meio do mapa de segmentos corporais descrito pelo
Diagrama de Corllet e Manenica (1980).
4.3.1.5 Diagrama de Corllet e Manenica
Os riscos ambientais e psicossociais podem culminar em riscos de comprometimento
musculoesqueléticos nos trabalhadores que atuam no CME/HBAP. Para levantamento dos dados
foi utilizado o Diagrama de Corlett e Manenica (1980). O instrumento permitiu identificar a
intensidade da dor e/ou do desconforto referida pelos trabalhadores durante a execução das tarefas
nas etapas de processamento de PPS em relação aos segmentos corporais conforme apresentado
na Figura 24.
Figura 24 - Distribuição da frequência da intensidade do desconforto/dor referida pelo
trabalhador em relação aos segmentos corporais no Centro de Material e Esterilização de um
hospital geral, Porto Velho, RO, 2017
1. Nenhum
desconforto/dor
2. Algum
desconforto/dor
3. Moderado
desconforto/dor
4. Bastante
desconforto/dor
5. Extremo
desconforto/dor Fonte: Adaptado de Frazão (2007)
Muitos foram os desconfortos e/ou dores relatados pelos respondentes, dentre eles
destacam-se as regiões do pescoço, na qual 3% relataram extremo desconforto/dor e 15% de
algum desconforto/dor a bastante. Outras áreas tiveram esse mesmo relato, foram elas, a
coluna cervical 5% para extremo desconforto/dor, os ombros D, 3% e ombro E 5%, assim
como o punho E, 2% e o joelho E, 3%. Esses relatos revelam que há comprometimento do
sistema musculoesquelético instalado.
Como observado na figura 24, todas as regiões foram referenciadas com alguma
intensidade de dor ou desconforto após o turno de trabalho. Esses resultados foram similares
95
àqueles encontrados por Reis et al. (2016) que estudaram a influência do posto de trabalho na
prevalência de lombalgia em enfermeiros.
Corroborando nesse sentido, a biomecânica contribui com recomendações de
adequação durante a observação das posturas e movimentos adotados pelos trabalhadores, que
podem provocar tensão nos músculos, ligamentos e articulações (DUL; WEERDMEESTER,
2013). Conforme ilustrado na figura 24 pode-se inferir que a queixa pode está relacionada
com a atividade de organização dos PPS esterilizados nas prateleiras (kits cirúrgicos) ao
elevar os braços acima de 90° graus, retirando as articulações do ombro da posição neutra,
permanência por longos períodos na posição em pé, esforço muscular no carregamento e
descarregamento de cargas para esterilização nas autoclaves e a frequência da execução das
atividades nas etapas de processamento de PPS.
De acordo com Dul e Weerdmeester (2013) recomenda-se que os trabalhadores ao
manterem uma postura ou realizar um movimento, mantenham as articulações em posição
neutra, dessa forma minimiza as tensões musculares. A postura assumida (braços e ombros
elevados) na figura 25 representa do ponto de vista da biomecânica uma sobrecarga nos
músculos e articulações dos braços, ombros e pescoço. Moraes e Mont‟Alvão (2009, p.200)
corroboram inferindo que tal postura é a causa de “dor e risco de lesões nas regiões dos
ombros, escápula e braços”, considerando a frequência da realização da atividade.
Figura 25 - Área de armazenamento e distribuição do Centro de Material e Esterilização em
um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
A partir da observação sistemática e registros fotográficos para a apreciação
ergonômica, identificou-se posturas forçadas na área de preparo e esterilização. Nessa área os
trabalhadores realizam as atividades de técnicas de dobraduras de compressas cirúrgicas,
96
gazes, ataduras (Figura 26-B) e empacotamento de caixas cirúrgicas (Figura 26 - C e D) na
posição de pé por períodos que variam de 30 min a 60 min, conforme registro em diário de
campo.
Figura 26 – Atividade de dobradura de compressas cirúrgicas e empacotamento de caixas
cirúrgicas na área de preparo e esterilização dos artigos Odonto-Médico Hospitalares no
Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
As atividades de dobradura de capotes e campos cirúrgicos duram em média 60 min a
80 min. Foi observado que algumas especialidades médicas como a ortopedia, dispõe de
caixas com mais de 50 instrumentais cirúrgicos, variando o tempo de duração da montagem
que dependerá da experiência e habilidade do trabalhador, durando em média 20 min cada
A B
C D
97
caixa.
No balcão de recebimento de instrumentais cirúrgicos, as atividades de secagem,
conferência, organização da caixa e empacotamento variam conforme o quantitativo de
instrumentais que compõem a caixa. Todavia o tempo de duração da posição varia de acordo
com o número de caixas cirúrgicas, kits cirúrgicos, produção de pacotes de compressas
conforme rotina do serviço e o quantitativo de trabalhadores escalados.
Contribuindo para a discussão, Moraes e Mont‟Alvão (2009) afirmam que a posição
de pé sem se movimentar durante longos períodos, causa dores na região lombar e pernas,
pois são áreas de risco de lesões, como por exemplo, varizes nos membros inferiores, lesões
dos discos invertebrais da coluna lombar. Na Figura 26-A observa-se inclinação do tronco
para frente, provocando modificação do eixo da coluna vertebral. Essa inclinação ocasiona
pressão intradiscal em decorrência do esforço para a coluna manter o corpo na posição,
causando desconforto e dores no pescoço e ombros (ABRAHÃO et al., 2014).
Os achados do estudo estão em consonância com o apontamento de Abrahão et al.
(2014), que inferiram sobre o desconforto e dores nas regiões do pescoço e ombros em
decorrência da inclinação do corpo para frente Dos participantes, 52,4% referiram queixas
preocupantes nas regiões do pescoço na intensidade 1 (alguma dor) a intensidade 5 (dor
intolerável) e da coluna cervical, 46,2% manifestaram queixas de desconforto/dor na
intensidade 1 a 5 (Tabela 8).
Com base na afirmação de Moraes e Mont‟Alvão quanto a posição em pé prolongada
provocar queixas, o presente estudo constatou queixas na região lombar de 54,5%, pernas D
(39,1%) e pernas E (37,5%), joelho D (52,6%) e joelho E (57,1%) (Tabela 8). Na área de
armazenamento e distribuição os trabalhadores apresentaram frequência de queixas
musculares nas regiões do ombro E (35%), coxa D (33,3%), coluna inferior (sacral) (31,6%),
coluna cervical (30,8%), antebraço D (30%) e pescoço (23,1%).
Analisando a Tabela 8, percebe-se que trabalhar na área de preparo e esterilização
causa maior frequência de desconforto e/ou dor nos trabalhadores em todas as regiões do
corpo. Infere-se que talvez seja por ser a área com atividades manuais repetitivas, que
demandam postura em pé por tempo prolongado, com maior desconforto e riscos que podem
culminar em agravos a saúde do trabalhador.
As atividades realizadas nessa área requerem esforço físico no transporte dos carrinhos
para carga e descarga dos PPS nas autoclaves, esforço físico na montagem de caixas
cirúrgicas, organização dos carrinhos para o transporte da rouparia da sala de distribuição de
materiais do CME para as unidades consumidoras.
98
Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos corporais dos
trabalhadores em relação às etapas do Processamento de Produtos de Saúde no Centro de
Material e Esterilização, Porto Velho, RO, 2017 Segmentos Corporais Limpeza
(expurgo)
Preparo e
Esterilização
Armazenamento e
Distribuição
Outros Total
n % n % n % n % n
Pescoço
Nenhuma dor/desconforto 4 22,2 7 38,9 4 22,2 3 16,7 18
Alguma dor a intolerável 2 9,5 11 52,4 5 23,8 3 14,3 21
Coluna Cervical
Nenhuma dor/desconforto 4 30,8 6 46,2 1 7,7 2 15,4 13
Alguma dor a intolerável 2 7,7 12 46,2 8 30,8 4 15,4 26
Ombro Direito
Nenhuma dor/desconforto - - 6 50 2 16,7 4 33,3 12
Alguma dor a intolerável 6 22,2 12 44,4 7 25,9 2 7,4 27
Ombro Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 3 15,8 9 47,4 2 10,5 5 26,3 19
Alguma dor a intolerável 3 15 9 45 7 35 1 5 20
Coluna (torácica)
Nenhuma dor/desconforto 2 13,3 9 60 3 20 1 6,7 15
Alguma dor a intolerável 4 16,7 9 37,5 6 25 5 20,8 24
Braço Direito
Nenhuma dor/desconforto 3 20 8 53,3 2 13,3 2 13,3 15
Alguma dor a intolerável 3 12,5 10 41,7 7 29,2 4 16,7 24
Braço Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 4 21,1 9 47,4 3
15,8 3 15,8 19
Alguma dor a intolerável 2 10 9 45 6 30 3 15 20
Coluna (lombar)
Nenhuma dor/desconforto 4 23,5 6 35,3 3 17,6 4 23,5 17
Alguma dor a intolerável 2 9,1 12 54,5 6 27,3 2 9,1 22
Antebraço Direito
Nenhuma dor/desconforto 5 26,3 8 42,1 3 15,8 3 15,8 19
Alguma dor a dor
intolerável
1 5 10 50 6 30 3 15 20
Antebraço Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 5 22,7 9 40,9 5 22,7 3 13,6 22
Alguma dor a intolerável 1 5,9 9 52,9 4 23,5 3 17,6 17
Coluna Inferior
Nenhuma dor/desconforto 5 25 8 40 3 15 4 20 20
Alguma dor a intolerável 1 5,3 10 52,6 6 31,6 2 10,5 19
Continua
99
Fonte: Dados da Pesquisa (2017).
Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos corporais dos
trabalhadores em relação às etapas do Processamento de Produtos de Saúde no Centro de
Material e Esterilização, Porto Velho, RO, 2017 Segmentos Corporais Limpeza
(expurgo)
Preparo e
Esterilização
Armazenamento e
Distribuição
Outros Total
N % n % n % n % n
Punho Direito
Nenhuma dor/desconforto 4 21,1 8 42,1 4 21,1 3 15,8 19
Alguma dor a intolerável 2 10 10 50 5 25 3 15 20
Punho Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 4 18,2 9 40,9 5 22,7 4 18,2 22
Alguma dor a intolerável 2 11,8 9 52,9 4 23,5 2 11,8 17
Quadril
Nenhuma dor/desconforto 3 12,5 12 50 5 20,8 4 16,7 24
Alguma dor a intolerável 3 20 6 40 4 26,7 2 13,3 15
Mão Direita
Nenhuma dor/desconforto 4 18,2 11 50 4 18,2 3 13,6 22
Alguma dor a intolerável 2 11,8 7 41,2 5 29,4 3 17,6 17
Mão Esquerda
Nenhuma dor/desconforto 4 16,0 11 44,0 7 28,0 3 12,0 25
Alguma dor a intolerável 2 14,3 7 50,0 2 14,3 3 21,4 14
Coxa Direita
Nenhuma dor/desconforto 4 14,8 13 48,1 5 18,5 5 18,5 27
Alguma dor a intolerável 2 16,7 5 41,7 4 33,3 1 8,3 12
Coxa Esquerda
Nenhuma dor/desconforto 5 16,7 13 43,3 7 23,3 5 16,7 30
Alguma dor a intolerável 1 11,1 5 55,8 2 22,2 1 11,1 9
Joelho Direito
Nenhuma dor/desconforto 4 20,0 8 40,0 5 25,0 3 15,0 20
Alguma dor a intolerável 2 10,5 10 52,6 4 21,1 3 15,8 19
Joelho Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 4 22,2 6 33,3 5 27,8 3 16,7 18
Alguma dor a intolerável 2 9,5 12 57,1 4 19,0 3 14,3 21
Perna Direita
Nenhuma dor/desconforto 3 20,0 9 60,0 2 13,3 1 6,7 15
Alguma dor a intolerável 3 12,5 9 37,5 7 29,2 5 20,8 24
Perna Esquerda
Nenhuma dor/desconforto 3 18,8 9 56,2 3 18,8 1 6,2 16
Tornozelo Direito
Nenhuma dor/desconforto 3 16,7 10 55,6 3 16,7 2 11,1 18
Alguma dor a intolerável 3 14,3 8 38,1 6 28,6 4 19,0 21
Tornozelo Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 3 15,8 10 52,6 4 21,1 2 10,5 19
Alguma dor a intolerável 3 15,0 8 40,0 5 25,0 4 20,0 20
Pé Direito
Nenhuma dor/desconforto 2 14,3 8 57,1 2 14,3 2 14,3 14
Alguma dor a intolerável 4 16,0 10 40,0 7 28,0 4 16,0 25
Pé Esquerdo
Nenhuma dor/desconforto 2 14,3 7 50,0 3 21,4 2 14,3 14
Alguma dor a intolerável 4 16,0 11 44,0 6 24,0 4 16,0 25
100
Na figura 27-A, registra-se a postura forçada ao apanhar o pacote na prateleira,
provocando estiramento dos ligamentos e articulações dos braços e ombros e tensão sobre a
coluna cervical, o que explicaria as queixas de dor e desconforto no pescoço, cervical e
ombros (DUL; WEERDMEESTER, 2013). Em relação a figura 27-B, a atividade requer força
muscular para empurrar o rack de dentro da autoclave com a carga esterilizada, gerando
tensão mecânica nos músculos e articulações, provocando fadiga muscular e lesões por
esforços repetitivos (CORRÊA; BOLETTI, 2015).
Figura 27 – Área de armazenamento e distribuição dos produtos para saúde no Centro de
Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Em relação as atividades realizadas nos balcões, observou-se que estes possuem a
mesma altura (98 cm de altura x 100 cm de largura). Essa também foi uma das observações
dos trabalhadores que apontaram que o CME disponibilizava:
[....] mesas, todas da mesma altura e cadeiras inadequadas (R33)
[....] esforço físico no manuseio dos carrinhos para autoclave (R34)
A exigência da atividade na figura 28 requer atenção e concentração (precisão). A
altura das bancadas para esse tipo de trabalho recomendado por Kroemer e Grandjean (2005)
é de 100-110 cm para os homens e 95-105 para as mulheres, portanto a altura está inadequada
A B
101
para os trabalhadores masculinos.
Percebe-se também na referida figura a disposição de três cadeiras, entretanto estão em
inconformidade com os parâmetros da NR 17- Ergonomia que recomenda cadeira com
“encosto ajustável em altura em sentido antero-posterior com forma levemente ajustada ao
corpo para proteção da região lombar”. Tais cadeiras possibilitariam conforme a exigência da
tarefa, alternância de posições de pé e sentado na atividade demonstrada na Figura 28-A.
Figura 28 – Preparo da embalagem grau cirúrgico e técnica de dobradura de campos
operatórios na sala de preparo e esterilização dos artigos Odonto-Médico Hospitalares no
Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Na realização das atividades de dobraduras e empacotamento de campos cirúrgicos e
capotes, a exigência da tarefa requer posição em pé e com movimento (Figura 29-B). De
acordo com Kroemer e Grandjean (2005) para esse tipo de trabalho é necessário altura das
bancadas para os homens de 75-90 cm e mulheres 70-85 cm (trabalho que exige esforço).
A B
102
Figura 29 – Atividade de dobradura e empacotamento de campos cirúrgicos nos balcões da
área de preparo e esterilização do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Na figura 29-A, a postura assumida para o dobramento do campo operatório provoca o
distanciamento dos braços em relação ao corpo. A manutenção dessa postura e a frequência
dessa postura provoca o tensionamento dos braços, ombros e costas, acarretando com o tempo
lesões musculares (DUL; WEERDMEESTER, 2013). Em 29-B, a postura forçada provoca
uma elevação dos ombros para se adaptar à exigência da tarefa, provocando tensionamento
dos músculos e articulações, provocando desconforto e dores musculares.
Outro achado registrado durante as visitas foi a indisponibilidade no posto de trabalho
de dispositivos de apoio para os pés (tablados), para promover descanso e relaxamento das
pernas e pés e o revezamento da posição das pernas, durante as tarefas com exigência de
postura em pé. Segundo Moraes e Mont‟Alvão (2009), esses apoios para os pés aliviam o
stress sobre as pernas, evitando fadiga muscular e desconforto.
Na área de recepção e limpeza constatou-se a exposição aos riscos biológicos em
decorrência do manuseio de artigos contaminados e aos riscos físicos durante a atividade de
secagem dos artigos. Na Figura 30 pode-se observar que a posição em pé que deve ser
mantida enquanto a tarefa for cumprida, assim como a manutenção da posição da pistola de ar
comprimido pressionado contra os instrumentais para secá-los pode causar estresse nas
articulações dos ombros, braços, punhos e mãos.
A lateralidade dependerá da maneira como é utilizado tal equipamento pelo
trabalhador. A inclinação do punho por longo período poderá ocasionar inflamação dos
nervos, dores e sensação de formigamento nos dedos (CORRÊA; BOLETTI, 2015). O achado
do estudo corrobora com a inferência dos autores, tendo sido registrado queixas de
desconforto e dor no punho D (10%) e punho E (11,8%). Outras regiões também foram
A B
103
citadas como o ombro D (22,2%) e ombro E (15%).
Figura 30 - Sala de limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral
público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
Pode se inferir outros constrangimentos presentes no desenvolvimento da atividade de
secagem de instrumentais cirúrgicos nessa área, como o ruído produzido pelo uso da pistola
de ar comprimido, a postura em pé mantida por tempo prolongado e a exposição ao risco
biológico ao manipular artigos críticos, sem o uso de uso de luvas de procedimento ou luva
nitrílica.
Durante a coleta de dados foi verificado que os trabalhadores reconhecem a exposição
ao risco biológico e ao ruído oriundo do uso da pistola de ar comprimido, porém não
percebem os riscos decorrentes das posturas assumidas para a execução das tarefas. A falta de
conhecimento foi confirmada por meio de respostas assinaladas no instrumento de coleta ao
serem inquiridos sobre qual era a percepção das dificuldades encontradas no setor quanto aos
aspectos ergonômicos.
Os trabalhadores referenciaram:
[...] risco de acidente com material biológico (R01).
[...] dificuldades relacionado à disposição de materiais e EPI’s pelo
gestor (R17).
[...] falta de qualificação/treinamento no serviço (R18).
Em relação à atividade de lavagem e enxague (Figura 31), nota-se que a pias são todas
fundas conforme preconizado pela RDC/ANVISA nº 15, de maneira que evite respingos e
104
contaminação dos trabalhadores, todavia identificaram-se constrangimentos para execução
da atividade, que corresponde à inclinação do tronco para frente, provocando tensões na
coluna vertebral e contrações dos músculos e ligamentos da região torácica (CORRÊA;
BOLETTI, 2015). A frequência de queixas de desconforto e dor nessa área foi maior nas
regiões do quadril (20%), coluna torácica (16,7%), comprovando a inferência dos autores.
Figura 31- Sala de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital
geral público, Porto Velho, RO, 2017
Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
A avaliação dos riscos musculoesqueléticos por meio do instrumento possibilitou
investigar a partir da análise das atividades desenvolvidas em cada área do processamento de
PPS, os constrangimentos que os trabalhadores atuantes do CME/HBAP enfrentam para a
execução das tarefas. Portanto identificou-se que os trabalhadores estão expostos ao
surgimento de lesões e distúrbios musculoesqueléticos e consequentemente ao adoecimento.
Os resultados aqui apresentados possibilitaram a elaboração de sugestões e
recomendações a partir dos diagnósticos ergonômicos identificados. Considerando a
abordagem ergonômica realizada no CME/HBAP, são apresentadas sugestões e
recomendações, objetivando melhorias na situação de trabalho estudada:
Promover ações de sensibilização para o cuidado à saúde do trabalhador e quanto aos
aspectos de segurança decorrentes do tipo de atividades realizadas correspondentes as
etapas do processamento de PPS;
Avaliar a possibilidade de um rearranjo físico, no sentido de aproximar do CC a sala
de armazenamento e distribuição, adequando-se ao fluxo unidirecional e as barreiras
físicas preconizadas pela norma vigente (BRASIL, 2012a);
105
Disponibilizar dispensadores de álcool em gel a 70% no corredor central, sala de
preparo e esterilização e na sala de recepção e limpeza (expurgo);
Disponibilizar na área de preparo e esterilização uma pia com dispensador de sabonete
líquido, álcool em gel (à 70%) e papel toalha para higienização das mãos;
Aquisição de materiais ergonômicos como, tablados para promover o apoio para os
pés, preferencialmente na sala de preparo e esterilização e sala de limpeza (expurgo),
possibilitando o descanso dos pés e a alternância dos membros inferiores durante e
após o término das atividades que requerem a postura em pé, considerando ainda as
características antropométricas dos trabalhadores do CME;
Disponibilizar cadeiras ergonômicas e ou assentos, observar requisitos recomendados
pela NR 17 (1990) nas respectivas salas: uma na sala de recepção e limpeza (expurgo):
para promover descanso nos períodos de pausa, considerando que é uma área suja e
que o trabalhador não poderá estar transitando nas demais áreas (limpa); três na sala
de preparo e esterilização (substituição) e uma na sala de armazenamento
(substituição);
Disponibilizar protetor auditivo tipo abafador (concha), principalmente para os
trabalhadores que realizam a tarefa de secagem dos PPS com pistola de ar
comprimido;
Incluir nos exames periódicos de saúde dos trabalhadores do CME, o exame
audiométrico anual, conforme a NR 07 (1994), independente do uso de protetor
auditivo (Núcleo de Saúde do Trabalhador);
Sensibilizar a utilização dos EPI‟s respectivamente nas salas/áreas de processamento
de PPS (atender as recomendações da RDC nº15, 2012 e NR nº 32, 2005);
Disponibilizar o mapa de riscos (fácil acesso) com cores representativas e discutir para
que os trabalhadores compreendam os riscos;
Disponibilizar lente intensificadora de imagem de no mínimo 8x de aumento para
auxiliar na tarefa de inspeção visual após procedimento de lavagem (manual e ou
automatizada), conforme norma ANVISA (RDC nº 15, 2012a);
Implementar um programa regular de exercícios funcionais aos trabalhadores do
CME, averiguando um horário em conjunto com os trabalhadores;
106
Redimensionamento do pessoal efetivo de enfermagem do CME com base na
Resolução COFEN nº543/2017.
Sugere-se a melhoria da iluminação das áreas, aquisição de tablados conforme os tipos
de trabalho abordados por Kroemer e Grandjean (2005): tarefas que requerem mais
atenção e concentração (trabalho de precisão) a altura das bancadas recomendada para
os homens é de 100-110 cm e para as mulheres 95-105 cm; trabalhos leves, homens
90-95 cm e mulheres 85-90 cm e tarefas que exijam esforço físico (trabalho pesado) a
altura para os homens é de 75-90 e mulheres 70-85.
107
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As impressões finais dessa pesquisa possibilitaram reflexões acerca de um cenário que
é fundamental numa estrutura hospitalar, entretanto não é reconhecido pelos usuários que
utilizam o objeto de trabalho dessa unidade, que é o (re) processamento de PPS indispensáveis
na assistência à saúde. É pertinente afirmar que o CME de hoje é uma das unidades no âmbito
hospitalar que oferece competência técnica-científica, atuando fundamentalmente no controle
das IRAS.
O estudo teve como limitação a não avaliação do peso das caixas cirúrgicas
manuseadas pelos trabalhadores, fundamentada pela equação de NIOSH, tendo em vista que o
serviço e a pesquisadora não disponibilizavam de balança para mensuração das caixas e
contêineres, impossibilitando avaliar o limite de peso adequado para os trabalhadores na
realização das atividades. Outra questão é a falta de estudos sobre o transporte dos PPS sujos/
contaminados em carrinhos fechados da sala de recepção do CC até a área de limpeza e
desinfecção. Durante o levantamento bibliográfico foram encontrados estudos que refere-se
aos parâmetros de transporte dos PPS esterilizados por meio de recipiente exclusivo, fechado,
com sistema de fechamento estanque e exclusivo para artigos processados.
Ainda assim, esse estudo contribuirá positivamente para o fortalecimento das ações em
prol da Saúde do Trabalhador na unidade e nos cursos de graduação das instituições de
ensino, onde são minimamente discutidas a Política de Saúde do trabalhador e da
Trabalhadora e os processos de trabalho no CME. A realização da pesquisa foi fundamentada
na metodologia da AET, que possibilitou a partir de uma instrução da demanda, analisar as
condições de trabalho e os riscos ergonômicos que podem influenciar no adoecimento dos
trabalhadores do CME/HBAP por meio da análise da tarefa e análise da atividade.
Constatou-se que a dinâmica do trabalho dentro do CME/HBAP obedece parcialmente
ao fluxo unidirecional para o processamento dos PPS no setor conforme as exigências dos
órgãos reguladores. Observou-se cruzamento de PPS sujos/contaminados utilizados no CC
pelo corredor que dá acesso a entrada de artigos médico-hospitalares esterilizados que
foram distribuídos ao CC, o que poderá comprometer a qualidade dos processos de
esterilização, além da exposição ao ambiente inseguro e hostil para os trabalhadores.
Ficou evidente uma maior concentração de trabalhadores na área de preparo e
esterilização. Esta foi a área que apresentou maiores riscos físicos, o estresse sonoro com
ondas no patamar de 78-79,2 dB (A), ultrapassando o preconizado de 65 dB (A) pelas
normativas vigentes no país (NBR 10152/1987). Os riscos mecânicos também foram ali
108
encontrados, falta de adequação dos balcões aos trabalhadores, manutenção da postura em pé
por tempo prolongado, inclinação do tronco para frente, provocando tensões na coluna
vertebral e contrações dos músculos e ligamentos.
Outra área crítica quanto ao estresse sonoro produzido, foi a área de recepção e
limpeza durante a atividade de secagem dos PPS com o gás medicinal (ar comprimido)
alcançando o patamar de 87 dB (A). Considera-se, ainda, que nessa área usava-se cilindro do
gás medicinal de forma inadequada e fora dos padrões previstos pelas normativas vigentes
(NBR 12188/2016).
Foram constatados ainda, riscos visuais que podem causar estresse e adoecimento,
representado por um ambiente que apresentava insuficiência na iluminação na área de preparo
e esterilização. A atividade analisada durante a aferição da iluminação foi a inspeção visual,
apresentando iluminância de 77,5-113,4 lux quando o ideal para área seria de 300 lux
(NBR/CIE 8995/2013). Essa situação pode comprometer o processamento dos PPS e um dos
objetivos primordiais do CME é a prevenção e controle de IRAS.
Desse modo, o ambiente de trabalho avaliado apresentou constrangimentos físicos
(posturas desconfortáveis, atividades manuais repetitivas, esforço físico), organizacionais
(exposição aos riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos pela exigência da tarefa
prescrita, altura inadequada das bancadas), psicossociais (atenção constante, relação
interpessoal fragilizada, sobrecarga de trabalho, trabalho monótono) observados durante a
análise da atividade.
Outro fator condicionante de agravos observado neste estudo diz respeito ao
desconforto e/ou a dor durante as atividades de trabalho e após o cumprimento dos turnos.
Destacam-se o desconforto e/ou dor relatadas nas regiões da coluna cervical, lombar, ombro
esquerdo e direito, coxa direita e esquerda, quadril e joelho esquerdo. Nesse sentido,
observou-se que os trabalhadores apresentam as queixas supracitadas em decorrência das
posturas assumidas durante a execução das tarefas, permanência por longos períodos em pé,
inadequação dos balcões para o desenvolvimento de tarefas manuais e repetitivas.
Diante disso, propõe-se melhoria do ambiente de trabalho no sentido de realizar ações
de sensibilização para o cuidado à saúde do trabalhador e quanto aos aspectos de segurança
decorrentes das atividades de trabalho, avaliar a possibilidade de rearranjo físico,
aproximando a área de armazenamento do CC, disponibilizar dispensadores de álcool em gel
à 70% no corredor central, área de preparo e esterilização, recepção e limpeza, disponibilizar
mapa de riscos com cores representativas, melhoria da iluminação das áreas de
processamentos de PPS, ajustes dos balcões, aquisição de acessórios ergonômicos, tais como
109
tablados, cadeiras ergonômicas, protetor auditivo para os trabalhadores que realizam tarefa de
secagem de PPS com pistolas de ar comprimido, inclusão no exame periódico de saúde dos
trabalhadores, o teste de audiometria anual e implementar um programa regular de exercícios
funcionais.
Assim, considera-se que há uma necessidade premente de desenvolver estratégias de
Educação Permanente em Saúde com ações intersetoriais junto ao NEP, Núcleo de Saúde do
Trabalhador e SESMT, tanto para qualificar os trabalhadores para o desenvolvimento de suas
tarefas quanto para instruí-los quanto aos riscos ergonômicos a que estão sujeitos no trabalho
executado no CME.
110
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2018.
117
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TÍTULO DA PESQUISA: ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS
AGRAVOS À SAÚDE DOS TRABALHADORES: situação ergonômica do trabalho no
Centro de Material e Esterilização de um hospital público.
Pesquisadora responsável: Mestranda Valéria Moreira da Silva.
Pesquisadora orientadora: Profa. Dra. Janne Cavalcante Monteiro.
Data: ____/____/___
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa cujo objetivo central é
realizar uma análise ergonômica das condições de trabalho dos profissionais,
averiguando em que grau suas atividades podem influenciar nos agravos à saúde.
Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você poderá desistir de
participar sem qualquer prejuízo pessoal, não havendo nenhum risco aos participantes da
referida pesquisa.
A metodologia para obtenção dos dados se dará através de um questionário que será
aplicado pela pesquisadora responsável, observação sistemática do ambiente de trabalho e
medição de riscos físicos como temperatura, ruídos, iluminação dos postos de trabalho com os
respectivos equipamentos para medição. As informações obtidas ficarão em sigilo e
privacidade durante todas as fases da pesquisa, sem que apareçam os nomes dos participantes.
O benefício para o serviço e para os participantes são de grande relevância, pois os
dados coletados irão auxiliar no diagnóstico ergonômico do trabalho e subsidiar as
recomendações de melhoria das condições em que o trabalho é realizado, bem como ações
preventivas que diminuam os agravos à saúde. Esses dados serão divulgados em conjunto,
nunca individualmente, não havendo prejuízos previstos e nem pagamento pela sua
participação.
Será fornecida uma cópia deste documento a você e se quiser fazer alguma pergunta
antes de se decidir, sinta-se à vontade. Sua participação voluntária e esclarecida será muito
importante e caso concorde em participar, por favor, expresse seu consentimento,
preenchendo os espaços abaixo. Essa pesquisadora garante que em qualquer momento do
estudo os participantes poderão ter acesso à mesma para eventuais dúvidas no campus da
Fundação Universidade Federal de Rondônia, localizado na BR 364, KM 9,5 na cidade de
Porto Velho ou através do CEP/NUSAU – UNIR através do telefone (69) 2181- 2111 ou e-
mail [email protected], situado no endereço supracitado.
118
Eu,__________________________________________________, portador (a) do
RG n°___________________, após ter sido suficientemente esclarecido (a) de forma clara e
objetiva, nos termos acima, concordo em participar voluntariamente da pesquisa e poderei
retirar meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o estudo, sem penalidades e
prejuízos.
Porto Velho, ____ de ________________ de 2016.
_________________________________________________
Assinatura do Participante
_________________________________________________
Valéria Moreira da Silva
RG n°. 482642 SSP/RO
Telefone: (69) 99202-1055
e-mail: [email protected]
119
APÊNDICE B - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM (FOTO)
Eu,_________________________________, AUTORIZO gratuitamente e
espontaneamente a pesquisadora Valéria Moreira da Silva, responsável pela pesquisa
intitulada: Condições do Trabalho e Agravos à Saúde dos trabalhadores: análise
ergonômica do trabalho no centro de material e esterilização de um hospital geral
público, a registrar, armazenar e exibir a minha imagem por meio de foto com o fim
específico de inseri-la nas informações que serão geradas na pesquisa supracitada e em outras
publicações dela decorrentes, quais sejam dissertação, revistas científicas, congressos e entre
outros eventos dessa natureza.
A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins
aqui estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato, sendo utilizada tarjeta e/ou
pixelizada (embaçamento) na face, garantindo a confidencialidade das informações e a
privacidade dos participantes, assegurando que as imagens não serão utilizadas em prejuízo
ou estigmatização. Portanto, qualquer outra forma de utilização e/ou reprodução, deverá por
mim ser autorizada, em observância ao Art. 5º, X e XXVIII, alínea “a” da Constituição
Federal de 1988.
A pesquisadora responsável assegurou-me que os dados serão armazenados em meio
digital, sob sua responsabilidade por cinco anos, e após esse período, serão destruídas.
Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na
pesquisa a qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.
Ademais, a utilização deste material não gera nenhum compromisso de
ressarcimento, a qualquer preceito, por parte da pesquisadora responsável. Tais
compromissos estão em conformidade com as diretrizes previstas na resolução nº 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde/Comissão Nacional de Ética em
pesquisa, que dispõe sobre Ética em pesquisa que envolve seres humanos.
Porto Velho (RO), agosto de 2017.
_______________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
__________________________________________
Assinatura e Carimbo da pesquisadora responsável
120
APENDICE C – INSTRUMENTO DE PESQUISA: QUESTIONÁRIO
Adaptado (SANTOS, 2014)
DATA:___________________
SETOR:__________________
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
1) Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino
2) Idade: anos
3) Peso: kg.
4) Altura: m
5) Categoria Profissional:
Secretária Enfermeiro/a Enfermeiro/chefe
Auxiliar de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Outro: ___________________________
6) Função:
7) Tempo no serviço: anos meses.
8) Tempo na função: anos meses.
9) Qual sua tarefa prescrita no setor?____________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10) Já desempenhou outra função neste serviço? Se sim, qual? Recebeu treinamento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
11) Qual seu horário de trabalho:
às horas.
121
12) Qual sua carga horária (real) semanal neste serviço? horas.
13) Possui mais de um vínculo empregatício?
Sim
14) Se sim, quantos vínculos, qual (is) função (ões), qual (is) carga horária no(s) outro(s)
serviço(s)?
_____________________________________________________________________
15) Em média, quantos períodos de pausa você efetua:
(Excluindo a hora da refeição, considerando o trabalho neste setor)
Manhã: Tarde: Noite_________________
16) Caso haja pausas, qual a duração média diária de suas pausas?
min
Obs.: Excluindo a hora da refeição, considerando o trabalho neste setor.
17) Você costuma fazer exercícios físicos de modo regular? (No mínimo 2 a 3 vezes por
semana)
Sim
18) Você fuma?
( ) Sim
( ) Não, sou ex-fumante
( ) Não, nunca fumei
19) Qual sua renda familiar (opcional):
__________________________________
124
ANEXO C – COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE (COPSOQ)
EXIGÊNCIAS DE TRABALHO
PERGUNTAS
Sem
pre
Co
m
freq
uên
cia
Alg
um
as
vez
es
Raram
en
te
Nu
nca
1. A sua carga de trabalho acumula-se por ser mal distribuída?
2. Com que frequência não tem tempo para completar todas as tarefas do seu
trabalho?
3. Precisa fazer horas extra?
4. Precisa trabalhar muito rapidamente? 5. O seu trabalho exige emocionalmente de si?
6.O seu trabalho exige a sua atenção constante?
7. O seu trabalho requer que seja bom para propor novas ideias?
8. O seu trabalho exige que tome decisões difíceis?
9. Com que frequência tem ajuda e apoio dos seus colegas de trabalho?
10. Com que frequência os seus colegas estão dispostos a ouvi-lo sobre os
seus problemas de trabalho?
11. Com que frequência os seus colegas falam consigo acerca do seu
desempenho laboral?
12. Existe um bom ambiente de trabalho entre si e os seus colegas?
13. Existe uma boa cooperação entre os colegas de trabalho?
14. No seu local de trabalho sente-se parte de uma comunidade?
15. Com que frequência o seu superior imediato fala consigo sobre como está
a decorrer o seu trabalho?
16. Com que frequência tem ajuda e apoio do seu superior imediato?
17. Com que frequência é que o seu superior imediato fala consigo em relação
ao seu desempenho laboral?
125
PERGUNTAS
NA
DA
UM
PO
UC
O
MO
DE
RA
DA
ME
NT
E
MU
ITO
EX
TR
EM
AM
EN
TE
18. O seu trabalho tem algum significado para si?
19. Sente que o seu trabalho é importante? 20. Sente-se motivado e envolvido com o seu trabalho 21. Quão satisfeito está com as suas perspectivas de
trabalho?
22. Quão satisfeito está com o seu trabalho de uma forma
global?
23. Quão satisfeito está com as condições físicas do seu
local de trabalho?
24. Quão satisfeito está com a forma como as suas
capacidades são utilizadas?
25. Sente-se preocupado em ficar desempregado? EXC MB BOA RAZ DEF 26. Em geral sente que sua saúde é:
Na sua percepção, quais são as dificuldades encontradas no seu setor, quanto aos
aspectos ergonômicos (físicos, cognitivos, organizacionais)?
_______________________________________________________________________
126
ANEXO D - DIAGRAMA DE CORLETT E MANENICA
Adaptado Corlett e Manenica (1980)
ESCALA PROGRESSIVA DE DESCONFORTO/DOR
INTENSIDADE
1 2 3 4 5
Nenhum
desconforto/dor
Algum
desconforto/dor
Moderado
desconforto/dor
Bastante
desconforto/dor
Extremo
desconforto/dor
ESQUERDO DIREITO
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