Zenaide Peixoto dos Anjos
A tipologia textual do dissertativo: tipos de texto da classe opinativa e suas condições
de produção discursiva.
Mestrado em Língua Portuguesa
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2005
Zenaide Peixoto dos Anjos
A tipologia textual do dissertativo: tipo de texto da classe opinativa e suas condições
de produção discursiva.
Mestrado em Língua Portuguesa
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção o título de Mestre em Língua Portuguesa, sob orientação
da Professora Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2005
Banca Examinadora _______________________ _______________________ _______________________ _______________________
Ao meu Deus,
Cada dia te bendirei,,
e louvarei o teu nome pelos séculos dos séculos.
Grande é o Senhor, digno de louvor, sua grandeza inescrutável.
Louvarei ao Senhor, porque Ele é bom; a sua benignidade é para sempre!
Aos meus pais,
agradeço por tê-los,
pelo dedicado acompanhamento,
carinho e oportunidades oferecidos a mim .
Ao meu marido,Valdir,
meu amor, amigo, companheiro, paciente,
que me ajudou a percorrer os momentos difíceis com coragem.
Aos meus amigos,
desculpas pelas minhas ausências,
e agradecida pela compreensão.
Sobremaneira, à Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira,
Mulher de grande sabedoria, que me orientou para
um novo olhar para o mundo científico, fazendo-me crescer.
Às Professoras, DOUTORA JENI Silva Turazza Doutora Doroti Maroldi Guimarães, Obrigada pela presença.
Á Celeste,
um ser humano especial ,
Mestra humilde na profissão,
dedicada e incansável como revisora.
Resumo
Esta dissertação situa-se na área de tipologia de textos e está
fundamentada na linha de pesquisa Variedades do Discurso. Tem-se por tema o
texto dissertativo , seus esquemas textuais e respectivas mudanças, decorrentes
da avaliação de condições de produção discursiva. O Objetivo geral deste trabalho
é contribuir para o desenvolvimento de tipologias textuais. Tem-se por objetivos
específicos: 1. descrever os esquemas textuais do dissertativo de 1 Tese e de 2
Teses; 2. examinar as condições de produção discursiva dos tipos de texto;3.
verificar a organização da opinião nos textos analisados; 4. examinar os usos de
argumentos de necessidade, de possibilidade, de probabilidade, de legitimidade e
de reforço.A hipótese orientadora da investigação foi: o texto dissertativo é um
tipo de texto que pertence à classe opinativa. Este tipo se modifica, dependendo
das condições de produção discursiva.A fundamentação teórica situa-se na
Lingüística de Texto e na Análise Crítica do Discurso com vertente sócio-
cognitiva.O material de análise foi selecionado do manual Dissertação, de Agnelo
Pacheco (1988). O procedimento de análise foi teórico-analítico. Os resultados
obtidos indicaram que: 1. há dois esquemas textuais: o dissertativo de 1 Tese e de
2 Teses; 2. esses esquemas textuais são modificações relativas às condições de
produção discursiva; 3. a organização textual da opinião decorre da projeção de
uma escala avaliativa, projetada no referente textual. Dessa forma, a mudança de
foco, dado no referente, é importante para criar um estado novo de coisas a
serem avaliadas; 4. o uso dos argumentos é relativo à avaliação modal que
percorre da necessidade à possibilidade passando pela probabilidade, e se
constroem argumentos de legitimidade e de reforço.Conclui-se que os tipos de
textos estão agrupados em uma classe de texto, que se define por propriedades
comuns aos textos agrupados por tal classe. Faz-se necessário buscar a classe
de texto para se poder verificar quais tipos de textos a definem, a partir das
variedades discursivas.
Palavras-chave: classe opinativa; tipo de texto; esquemas textuais; uso de
argumentos.
Abstract
This dissertation is situated in the area of text typology and is grounded
upon the Varieties of Discourse line of research. It has, for its theme, the
dissertational text, its textual schemes and respective changes, which arise from
the evaluation of discursive conditions of production. The general purpose of this
work is to contribute to the development of textual typologies. As specific
objectives, it: 1. describes the textual schemes of the dissertational text of 1 Thesis
and 2 Theses; 2. examines the conditions of discursive production of text types;
3. verifies the organization of opinion on the analyzed texts; 4. examines the uses
of arguments of necessity, possibility, probability, legitimacy, and
reinforcement.This work’s guiding hypothesis was: the dissertational text is a type
of text that belongs to the opinioned class. This type changes, depending on the
conditions of discursive production. The theoretical grounding is situated in Text
Linguistics and the Critical Analysis of Discourse with a socio-cognitive slant.The
material analyzed was selected from the manual Dissertação [“Dissertation”], by
Agnelo Pacheco (1988). The procedure of analysis was theoretical-analytical. The
results indicated that: 1. there are two textual schemes: the dissertational text of 1
Thesis and of 2 Theses; 2. these textual schemes are changes connected to the
conditions of discursive production; 3. the textual organization of opinion arises
from the projection of an evaluative scale, projected into the textual referent. Thus,
the change of focus, given on the referent, is important for creating a new state of
things to be evaluated; 4. the use of the arguments is relative to the modal
evaluation that runs from necessity to possibility passing through probability, with
arguments of legitimacy and reinforcement being constructed.It can be concluded
that text types are grouped into a class of text, which is defined by properties
common to the texts grouped by such a class. It becomes necessary to seek the
class of text in order to be able to verify which types of texts define it, based on the
discursive varieties.
Keywords: opinioned class; text type; textual schemes; use of arguments.
Resumen
Esta disertación se encuentra en el área de tipología de textos y se basa
en la línea de investigación Variedades del Discurso. Se tiene por tema el texto de
disertación, sus esquemas textuales y respectivos cambios, consecuentes de la
evaluación de las condiciones de la producción discursiva. El Objetivo general de
este trabajo es contribuir para el desarrollo de tipologías textuales. Los objetivos
específicos son: 1. describir los esquemas textuales de la disertación de 1 Tesis y
de 2 Tesis; 2. examinar las condiciones de producción discursiva de los tipos de
texto; 3. verificar la organización de la opinión en los textos analizados;
4. examinar el uso de argumentos de necesidad, de posibilidad, de probabilidad,
de legitimidad y de refuerzo.La hipótesis orientadora de la investigación fue: el
texto de disertación es un tipo de texto que pertenece a la clase opinante. Este
tipo se modifica, dependiendo de las condiciones de producción discursiva.El
fundamento teórico se encuentra en la Lingüística de Texto y en el Análisis Crítico
del Discurso con vertiente sociocognitiva.El material de análisis fue seleccionado
del manual Dissertação [“Disertación”], de Agnelo Pacheco (1988). El
procedimiento de análisis fue teórico-analítico. Los resultados obtenidos indicaron
que: 1. existen dos esquemas textuales: el discursivo de 1 Tesis y de 2 Tesis; 2.
estos esquemas textuales son modificaciones relativas a las condiciones de
producción discursiva; 3. la organización textual de la opinión es consecuencia de
la proyección de una escala evaluadora, proyectada en el referente textual. De
esta forma, el cambio de foco, dado en el referente, es importante para crear un
estado nuevo de cosas que serán evaluadas; 4. el uso de los argumentos es
relativo a la evaluación modal que recorre desde la necesidad hasta la posibilidad
pasando por la probabilidad, y se construyen argumentos de legitimidad y de
refuerzo.Se concluye que los tipos de textos están agrupados en una clase de
texto, que se define por propiedades comunes a los textos agrupados en tal clase.
Es necesario buscar la clase de texto para poder verificar cuáles tipos de textos la
definen, a partir de las variedades discursivas.
Palabras clave: clase opinante; tipo de texto; esquemas textuales; uso de
argumentos.
Sumário INTRODUÇÃO............. ..........................................................................................01 CAPÍTULO I – Fundamentação Teórica : A Lingüística Textual e tipos de textos 1.1 Considerações iniciais ........................................................................................ 1.2 As memórias e o processamento da informação................................................. 1.3 Cognição, discurso e sociedade ......................................................................... 1.4 O discurso científico ........................................................................................... 1. 4.1 O esquema textual do dissertativo de 1 Tese ............................................. 1.4.2 O esquema textual do dissertativo de 2 Teses ............................................ 1.5 A classe textual opinativa .................................................................................. 1.6 A focalização ...................................................................................................... 1.7 Modelos de situação .......................................................................................... 1.8 A estrutura argumentativa proposta por Van Dijk .............................................. 1.9 A superestrutura argumentativa de Sprenger-Charroles .................................. 1.10 A argumentação segundo outros autores ........................................................ 1.10.1 Aspectos da argumentação discursiva...................................................... 1.10.2 aspectos da modalidade.......................................................................... 1.10.2.1 A modalidade da necessidade ................................................................. 1.10.2.2 A modalidade da possibilidade ............................................................... 1.10.2.3 A modalidade da probabilidade .............................................................. CAPÍTULO II – Uma releitura do material didático: um exame do material didático para modificações do dissertativo 2.1 Considerações iniciais ........................................................................................
2.2 O manual Comunicação e Prosa Moderna ......................................................... 2.3 O manual A Dissertação ..................................................................................... CAPÍTULO III – Estudos de textos dissertativos de uma Tese. 3.1 Considerações iniciais........................................................................................ 3.2 Texto 1 ................................................................................................................. 3.2.1.1 Esquema textual.......................................................................................... 3.2.1.2 Categoria texto-reduzido.............................................................................. 3.2.1.3 Categoria texto-expandido .......................................................................... 3.2.1.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.1.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.1.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.1.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.2 Texto 2.............................................................................................................. 3.2.2.1 Esquema textual....................................................................................... 3.2.2.2 Categoria texto-reduzido.......................................................................... 3.2.2.3 Categoria texto-expandido..................................................................... 3.2.2.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.2.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.2.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.2.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.2 Texto 3.............................................................................................................. 3.2.3.1 Esquema textual....................................................................................... 3.2.3.2 Categoria texto-reduzido..........................................................................
3.2.3.3 Categoria texto-expandido..................................................................... 3.2.3.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.3.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.3.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.3.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.2 Texto 4.............................................................................................................. 3.2.4.1 Esquema textual....................................................................................... 3.2.4.2 Categoria texto-reduzido.......................................................................... 3.2.4.3 Categoria texto-expandido..................................................................... 3.2.4.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.4.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.4.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.4.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.2 Texto 5.............................................................................................................. 3.2.5.1 Esquema textual....................................................................................... 3.2.5.2 Categoria texto-reduzido.......................................................................... 3.2.5.3 Categoria texto-expandido..................................................................... 3.2.5.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.5.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.5.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.5.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.2 Texto 6............................................................................................................. 3.2.6.1 Esquema textual....................................................................................... 3.2.6.2 Categoria texto-reduzido..........................................................................
3.2.6.3 Categoria texto-expandido..................................................................... 3.2.6.4 Categoria conclusão .................................................................................. 3.2.6.5 Condições de produção discursiva............................................................. 3.2.6.6 A organização textual.................................................................................. 3.2.6.7 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 3.3 Resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de uma Tese e discussões............................................................. 3.3.1 esquema textual dissertativo de uma Tese ............................................. 3.3.2 A condição de produção discursiva ............................................................ 3.3.3 A organização textual da opinião ................................................................ 3.3.4 O uso de argumentos.................................................................................. CAPÍTULO IV – Análises de textos dissertativos de duas Teses .................... 4.1 Considerações iniciais ....................................................................................... 4.2 Texto 1............................................................................................................... 4.2.1.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.1.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.1.3 A organização textual............................................................................... 4.2.1.4 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 4.2 Texto 2............................................................................................................... 4.2.2.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.2.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.2.3 A organização textual............................................................................... 4.2.2.4 O uso de tipos de argumentos....................................................................
4.2 Texto 3............................................................................................................ 4.2.3.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.3.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.3.3 A organização textual............................................................................... 4.2.3.4 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 4.2 Texto 4............................................................................................................ 4.2.4.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.4.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.4.3 A organização textual............................................................................... 4.2.4.4 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 4.2 Texto 5............................................................................................................ 4.2.5.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.5.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.5.3 A organização textual............................................................................... 4.2.5.4 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 4.2 Texto 6........................................................................................................... 4.2.6.1 Esquema textual.......................................................................................... 4.2.6.2 A condição de produção textual.................................................................. 4.2.6.3 A organização textual............................................................................... 4.2.6.4 O uso de tipos de argumentos.................................................................... 4.3 Resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de duas teses e discussões............................................................................................................. 4.3.1 O esquema textual do dissertativo de duas Teses ..................................
4.3.2 A condição de produção discursiva............................................................. 4.3.3 A organização textual da opinião................................................................. 4.3.4 O uso de argumentos................................................................................. Considerações Finais................................................................................................ Referências Bibliográficas........................................................................................
O que serve é útil,
o que é útil é bom e o que é bom conduz à felicidade.
(Aristóteles, Retórica Livro I,1967)
Introdução
Esta dissertação compreende uma investigação que, situada na linha de
pesquisa Variedades do Discurso do Programa de Estudos Pós-graduados em
Língua Portuguesa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tem por
tema, a organização textual do dissertativo.
A pesquisa realizada está fundamentada em pressupostos teóricos na
Lingüística de Texto e complementada pela Análise Crítica do Discurso, com
vertente sócio-cognitiva. Dessa forma, trata tanto de esquemas textuais, quanto de
condições de produção discursiva.
A Lingüística de Texto desenvolve-se, a partir da segunda metade do
século XX, e tem por objeto a boa formação do texto. Suas tarefas são: definir e
explicar o que faz uma expressão verbal ser um texto, ou seja, a noção de
completude de texto; investigar a organização textual das informações, a fim de se
dar conta da coesão e da coerência; e construir tipologias de textos.
Durante o desenvolvimento da Lingüística de Texto, há o aparecimento de
diferentes tipologias textuais. Isemberg (1987) discute as diversificadas tipologias
já existentes e propõe que uma tipologia de texto satisfatória deva ser
fundamentada em uma perspectiva teórica que diferencie, teoricamente, classes
de tipos de textos. Segundo o autor, a classe de texto define-se por um conjunto
específico de características, a saber, tal classe descreve determinadas
propriedades gerais, relativas a certos tipos de textos. O tipo de texto é uma
designação teórica de uma forma específica de texto que pode ser agrupada em
classe de texto, por seguir as propriedades gerais desta.
Entende-se que os textos acadêmicos são do tipo dissertativo e este se
agrupa na classe textual opinativa. Tal tipo apresenta modificações, dependendo
das condições de produção discursiva, selecionadas para a interação
comunicativa do produtor com o seu auditório. Convém ressaltar que o dissertativo
é um tipo de texto convencionado pelo grupo social de cientistas e está presente
tanto no discurso científico, quanto no acadêmico.
Como a questão das tipologias textuais exige inter e multidisciplinaridade,
faz-se necessário recorrer à Análise do Discurso, para poder dar conta das
condições de produção discursiva que modificam os tipos textuais, assim como
dar conta da seleção de categorias para a análise textual-discursiva. Há diferentes
vertentes para se analisar o discurso. Esta dissertação está fundamentada na
Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio-cognitiva que tem van Dijk como
seu maior representante.
Tem-se por objetivo geral, contribuir para o desenvolvimento de tipologias
textuais; e, por objetivo específico, conferir os resultados apresentados por Silveira
(1994/2004), pela análise de textos bem formados, exemplificados em manual
didático. Assim sendo, o objetivo específico torna-se plural:
1) descrever os esquemas textuais do dissertativo de 1 Tese e de 2 Teses;.
2) examinar as condições de produção discursiva dos tipos de texto;
3) verificar a organização da opinião nos textos analisados;
4) examinar os usos de argumentos de necessidade, de possibilidade, de
probabilidade, de legitimidade e de reforço.
Justifica-se esta investigação, na medida em que a descrição e a
classificação de tipos textuais não têm motivado os lingüistas brasileiros, mais
voltados em analisar o discurso. São poucas as investigações, situadas na área
de tipologia textual e, entende-se que a tipologização textual se faz necessária
como contribuição para uma melhor formação dos textos. O dissertativo vem
sendo tratado apenas na escola, no ensino de redação, e proposto, simplesmente,
como a ação de emitir opiniões, sem haver detalhamentos.
Van Dijk (1997), do ponto de vista sócio-cognitivo, apresenta uma
discussão a respeito de conhecimentos avaliativos e factuais e propõe tratar
qualquer forma de conhecimento como avaliativa, ou seja, como opinião. Esta é
considerada como parte da vida cotidiana e, por essa razão, o autor entende que
ela está presente em muitos tipos de texto.
Tem-se por hipótese orientadora desta dissertação que o texto dissertativo
é um tipo de texto que pertence à classe opinativa. Este tipo se modifica,
dependendo das condições de produção discursiva, tratadas, por Van Dijk (2000),
como modelos mentais de contexto discursivo. O texto, tradicionalmente,
apresentado nas escolas está situado no discurso acadêmico, que seleciona para
a formação de seu texto privilegiado, o dissertativo científico. (cf. Silveira, 2004)
O procedimento metodológico utilizado foi o teórico-analítico e foram
dados os seguintes passos:
1. seleção de manuais que tratam do texto dissertativo, no ensino
acadêmico da dissertação, a saber, Comunicação e prosa moderna,
de Othon Garcia e A dissertação, de Agnelo Carvalho Pacheco.
2. seleção de textos dissertativos, retirados do manual A dissertação,
de Agnelo de Carvalho Pacheco, tendo por critério a boa formação
do texto. A seleção dos textos, neste manual didático, decorreu da
boa formação dos textos exemplificados, o que propiciaria verificar a
adequação dos tipos textuais do dissertativo, modificados devido às
condições de produção discursiva, propostos por Silveira
(1994/2004).
3. análise dos textos, seguindo os objetivos específicos, indicados
acima, para delimitar as categorias analíticas;
4. caracterização dos tipos textuais, a partir dos resultados obtidos;
5. seleção de seis textos dissertativos de 1 Tese, para serem inseridos,
no capítulo 3, a título de exemplificação;
6. seleção de seis textos dissertativos de 2 Teses, para serem
inseridos, no capítulo 4, à guisa de exemplificação.
A análise dos textos seguiu os seguintes critérios:
• a leitura linear do texto do início ao fim, com o propósito de se
reconhecer o esquema textual e classificá-lo por ter uma ou duas Teses;
• a segmentação dos textos-produto de uma e duas Teses, a partir
das unidades de sentido que se agrupam nas categorias de cada
esquema textual do dissertativo;
• o reconhecimento da condição de produção discursiva.
Esta dissertação constitui-se por quatro capítulos:
O capítulo I, Fundamentação Teórica: A Lingüística de Texto e tipos de
texto, explicita os fundamentos básicos que orientaram a investigação, de forma a
tratar da boa formação do texto e do esquema textual do dissertativo de 1 Tese e
de 2 Teses, nas dimensões da Lingüística de Texto e com recursos da Análise
Crítica do Discurso, com vertente sócio-cognitiva.
O Capítulo II, Uma releitura dos manuais didáticos: um exame para
modificações textuais do dissertativo, faz uma revisão dos dois manuais didáticos
selecionados, para o ensino acadêmico da dissertação.
O Capítulo III, Análises de textos dissertativos de uma Tese: o interlocutor
desconhece a dimensão da área tratada ou a especificidade do tema, apresenta
os resultados obtidos das análises de seis textos dissertativos de uma Tese,
considerados representativos desse tipo de esquema textual. Os resultados são
acompanhados de suas discussões.
O Capítulo IV, Análises de textos dissertativos de duas Teses: o interlocutor
possui o saber interiorizado tanto da área quanto da especificidade do tema,
apresenta os resultados obtidos das análises de seis textos dissertativos de duas
Teses, considerados representativos desse tipo de esquema textual. Os
resultados são seguidos de suas discussões.
Se alguém podia e queria ter feito Então ele o fez.
( Aristóteles, idem.),
CAPÍTULO I – Fundamentação teórica: A lingüística Textual e Tipos de Textos ________________________________________________________ Este capítulo apresenta as bases teóricas que orientaram a pesquisa
realizada, situada na Lingüística de Texto e complementada pela Análise Crítica
do Discurso, com vertente sócio-cognitiva.
1.1 Considerações iniciais A década de 60 século XX marca, para a Lingüística, a apresentação de
uma nova perspectiva para seus estudos, seja quanto ao objeto, seja quanto a
métodos de trabalho: da frase ao texto e da unidisciplinaridade à
multidisciplinaridade, de forma a privilegiar a língua em seu uso efetivo, com uma
visão pragmática. Dessa forma, o texto e o discurso tornam-se unidades de
análise.
A Lingüística de Texto é um ramo da Lingüística, com visão pragmática,
que trata da boa formação do texto, tendo-o por ponto de partida dos seus
estudos, de forma a focalizá-lo no uso efetivo da língua e a entendê-lo como a
unidade mais original da linguagem humana.
As origens da Lingüística de Texto estão no momento de construção das
Gramáticas de Texto, na fase da passagem da gramática da frase à do texto, na
década de 60. Essas gramáticas tratavam a formação do texto, a partir de um
conjunto de regras gramaticais fixas, atribuídas à competência textual de um
falante ideal. Tais regras dariam conta da coesão, da coerência e da tipologia
textual.
Na década de setenta, um conjunto de insatisfações resultantes do
tratamento do texto, por regras gramaticais abstratas, leva a uma mudança de
atitude que propicia o aparecimento da Lingüística de Texto, na medida em que
este passa a ser estudado no uso efetivo da língua.
De acordo com a Lingüística de Texto, a linguagem humana não pode ser
explicada pela frase, pois o texto não se reduz à simples soma de palavras e
frases que o compõem, linearmente. Assim, o texto é considerado a unidade
básica de manifestação da linguagem, pois o homem se comunica por textos e os
fenômenos lingüísticos só podem ser descritos e explicados no interior do texto.
Assim, postula-se que um texto bem formado é aquele que estabelece
relações entre os enunciados lingüísticos, as representações cognitivas, bem
como entre as práticas de produção do texto; por esta razão, os estudos
realizados passam a diferenciar o texto-produto, de natureza lingüística, do texto-
processo, de natureza cognitiva.
A Lingüística de Texto tem por tarefas:
• definir e explicar o que faz de uma expressão verbal, um texto;
• investigar o processamento cognitivo das informações, diferenciando a
coesão da coerência textuais; e
• construir tipologias de textos.
Durante o desenvolver da Lingüística de Texto, os estudos realizados
propiciam o aparecimento de diferentes tipologias textuais. Isemberg (1987)
discute as diferentes tipologias já existentes e assegura que uma tipologia
lingüística de texto satisfatória deva partir de uma perspectiva teórica que
diferencie classe de textos e tipos de textos. Uma classe de textos agrupa um
conjunto de tipos de textos que têm uma mesma natureza.
Segundo o autor, faz-se necessário haver critério para a classificação de
textos, mas para que se construa uma tipologia mais precisa, ele propõe como
princípio de classificação a noção de classe de texto, a fim de reunir os tipos
específicos de texto.
Assim visto, a classe de texto define-se por um conjunto de características
comuns a vários tipos de texto, ou seja, determina propriedades gerais relativas a
certos textos. Já, o tipo de texto é uma designação teórica de uma forma
específica que pode ser agrupada em uma classe de texto, a partir de suas
propriedades gerais, mas que apresenta modificações próprias, dependendo das
condições de produção discursiva.
Entende-se, então, que na perspectiva de Isemberg, os estudos tipológicos
textuais já realizados ocuparam-se apenas das propriedades gerais dos textos ou
trataram apenas de tipos concretos, selecionados entre textos. Por essa razão, os
resultados apresentados não são generalizáveis para uma tipologia textual
abrangente; conseqüentemente, muitos estudos apresentam tipos de textos como
se fossem classes de textos e vice-versa.
Para esse autor (1987: 95), faz-se necessária a construção de uma
tipologia textual com critério e afirma:
Una tipologia lingüística del texto, satisfactoria desde una perspectiva
teórica, sigue siendo todavia un desideratum. La tarea de desarrolar una
tipologia semejante se hace tanto más urgente cuanto mayor es el conjunto
de conocimientos lingüísticos textuales y pragmáticos que necesitan de
una ordenación y precisión tipológica textual. En esta situación, llama de
manera especial la atención el que, hasta ahora, no se hayan discutido los
principios básicos referentes a los problemas de tipologia textual se ocupan
de la cuestión sobre cómo describir tipos de textos; faltan, sin embargo,
estudios básicos sobre qué es lo que tiene que aportar una tipologia textual
para poder satisfacer las pretensiones teóricas.
A partir dessas considerações, Isemberg discute vários trabalhos
tipológicos realizados no marco da Lingüística de Texto, afirmando que não é
apenas a superestrutura, enquanto esquema textual que tipifica os textos
lingüísticos. Neste caso, para o autor (idem: 96), a diferença entre classe de texto
e tipo de texto como critério tipológico compreende:
Utilizamos la expresión clase de texto como designación,
conscientemente vaga, para toda forma de texto, cuyas características
pueden fijarse mediante la descripción de determinadas propriedades, no
válidas para todos los textos, independientemente de si estas propriedades
pueden concebirse teóricamente y de que manera, dentro del marco de
una tipología textual. Utilizamos, en cambio, el término tipo de texto como
designación teórica de una forma específica de texto, descrita y definida
dentro del marco de una tipologia textual. (p……)
Segundo Isemberg, todo tipo de texto, de acordo com esta diferenciação,
é, também, ao mesmo tempo pertencente a uma certa classe de texto, contudo,
não pode ser o inverso. Isto quer dizer que nem toda forma de texto, de acordo
com determinados pontos de vista diferenciados, pode ser caracterizada,
necessariamente, também, dentro do marco de uma tipologia textual como um tipo
de texto.
Isto posto, nesta dissertação, busca-se tratar da tipologia textual do
dissertativo, tendo por classe o texto opinativo que se modifica em tipos de texto,
dependendo das condições de produção discursiva.
1.2 As memórias e o processamento da informação
A Lingüística de texto trata tanto do texto-processo quanto do texto-
produto, com o objetivo de dar conta da boa formação do texto. Para tanto, suas
investigações com base cognitiva são inter e multidisciplinares.
Assim, os psicólogos da memória contribuíram para que os
conhecimentos humanos fossem entendidos em sua natureza memorial, sendo
que os mesmos se definem como representações mentais das coisas que
acontecem no mundo. Já os psicólogos sociais, com o interacionismo simbólico,
contribuíram para explicar como a identidade de um indivíduo é construída por ele,
em sociedade, a partir do Outro.
Kintsch, psicólogo da memória, e van Dijk, lingüista de texto, em 1975,
tratam de protocolos de leitura para explicarem como as pessoas resumem e se
lembram de histórias. Desde essa época, van Dijk vem tomando por base de suas
investigações o modelo de memória por armazéns, para explicar como as
diferentes memórias atuam na construção da representação mental.
A Memória de Longo Prazo (MLP) funciona como um arquivo dos
conhecimentos já adquiridos pelo indivíduo, sejam estes individuais ou sociais. Por
se tratar de um modelo de memória por armazéns, diferencia-se, na MLP, a
memória social da memória individual.
A memória social compreende o conjunto de conhecimentos sociais,
decorrentes da interação do indivíduo com a sociedade, definido como o Marco de Cognições Sociais. Cada indivíduo conhece vários marcos de cognições sociais,
embora tenha apenas um, o do seu grupo social específico, como guia de suas
representações mentais.
Nesse contexto, seu Marco de Cognições Sociais é relativo ao grupo social
em que se situa, historicamente, como membro. Os conhecimentos da MLP estão
organizados por três grandes sistemas: o lingüístico – conhecimento da língua e
de seus usos; o enciclopédico – conhecimento de mundo; e o interacional –
conhecimento relativo a atos de linguagem e às normas de interação
comunicativa, no sentido de propiciar as representações de contextos
interacionais.
Os conhecimentos individuais estão alocados em um outro armazém da
MLP e resultam de experiências pessoais que os indivíduos têm com o mundo.
Esses, por sua vez, também estão estruturados por três grandes sistemas: o
lingüístico, o de conhecimento de mundo e o interacional – conhecimento
individual relativo a interações sociais, de forma a propiciar os modelos de
situações.
A Memória de Curto Prazo (MCP) é sensorial, de natureza quantitativa,
controlada por uma unidade de memorização, o chunk. Dependendo de esta
unidade memorial estar lotada, a informação se perde. Assim, o que entra na MCP
é processado, recursivamente, e levado para a Memória de Médio Prazo ou
Memória de Trabalho (MT), para nela serem construídas as representações
mentais-ocorrentes, como forma de conhecimentos novos e interacionais.
Enquanto forma de conhecimento interacional, a representação mental ocorrente é
construída, na MT, acionando conhecimentos remanescentes, já armazenados na
MLP, ao mesmo tempo em que os reformula, devido às informações novas
processadas.
Logo, há diferentes tipos de conhecimentos: os sociais – armazenados na
memória social são persistentes e remanescentes, na medida em que as ações
experienciadas, em sociedade, decorrem de papéis que caracterizam os atores,
os lugares, o tempo e o tipo de ação; e os individuais – armazenam modelos de
conhecimentos pessoais flexíveis, bem como dependem do momento histórico
em que são construídos, a partir das experiências pessoais.
Durante o processamento da informação, na MT, os conhecimentos
persistentes são ativados para funcionar como o Marco de Cognições Sociais, de
forma a guiar a construção de novos conhecimentos; os conhecimentos flexíveis
projetam modelos de situação, enquanto contextos cognitivos que podem ser
modificados, o que explicita as razões de um mesmo indivíduo processar a
mesma informação, não só de forma diferenciada, como também, em momentos
históricos diferenciados.
O modelo de situação é flexível, pois decorre de como se situa o referente
no mundo. Tal referente é focalizado a partir de um ponto de vista, e apresenta-se
em um determinado estado de coisas. O ato de situar é variável e, portanto, a
representação mental-ocorrente é flexível, mutável, apesar de os conhecimentos
persistentes serem os guias.
Para Van Dijk (1992), a Psicologia Cognitiva desempenha importante papel
na semântica do discurso. A necessidade de uma teoria explícita da organização e
da aplicação do conhecimento, na compreensão do discurso, leva a entender
como ocorre o processamento cognitivo do discurso, assumido pelos usuários da
língua, construtores de uma representação mental do texto na memória. (Kintsh &
Van Dijk, 1975, apud Van Dijk 1992, p. 160)
Segundo esses autores, a construção da representação mental é realizada
pela articulação do novo com o velho. O novo é a informação que entra expressa
em língua, o velho é o que já está armazenado na MLP.
As informações são processadas recursivamente pela Memória de Trabalho
que é qualitativa, na elaboração dos sentidos, por meio de estratégias
interpretativas, a fim de se atingir a compreensão.
As estratégias interpretativas são aplicadas, quando se recorre aos
conhecimentos remanescentes, tanto individuais quanto sociais, ativando-os para
a MT. Esta, ao receber a informação, processa o que está representado em
língua, expandindo as informações, por inferências e, recursivamente, reduzindo-
as, de forma a construir novos sentidos.
Há diferentes vertentes para tratar do processamento de informação, no
entanto, de modo geral, os estudiosos da memória entendem que os
conhecimentos não são construídos de forma desorganizada.
Sabe-se que os conhecimentos sociais por serem persistentes, mas
recursivamente modificáveis por eventos discursivos individuais, têm raízes
históricas e contemporaneidade. As raízes históricas são construídas com o
decorrer do tempo, a partir do que é vivido socialmente, em um determinado lugar.
A contemporaneidade é construída na dependência dos objetivos e interesses
comuns ao grupo no aqui e agora. As raízes históricas fixam e cristalizam os
conhecimentos sociais transmitidos, a partir de discursos institucionais; todavia por
serem guias dos conhecimentos individuais, quaisquer eventos discursivos
particular não institucionalizados, também pode ser caracterizado pela interação
entre o social e o indivíduo.
Segundo Van Dijk (1992), no caso dos conhecimentos conceituais, a
construção hierárquica dos sentidos decorre de um frame. Este é definido como
uma unidade global de conhecimento, organizada como um certo conceito, ou
seja, esta unidade de sentido global contém informações essenciais, típicas e
possíveis, associadas a um determinado conceito; assim sendo, o frame,
hierarquicamente, ocupa no esquema mental, o sentido mais global, atribuído a
algo ou a alguém. Este sentido mais global organiza os sentidos secundários com
o auxílio de um script no qual as ações, com seus participantes, são ordenadas de
forma cronológica. Por script, o autor entende a seqüência de ações
estereotipadas, verbais ou não-verbais, relativas a um domínio de atividades,
sendo que este é apreendido por certo ponto de vista. A noção de script foi
concebida, no domínio da Inteligência Artificial, por Schank e Abelson (1977, apud
Kintch e Van Dijk, 1983) e introduzida para o exame da compreensão discursiva.
(cf.Kintch e Van Dijk, 1975/ 1983)
De acordo com Van Dijk (1997 a), na dimensão sócio-cognitiva, as
representações mentais são dinâmicas e explicam-se, na medida em que os
conhecimentos já armazenados interagem com as informações novas,
construindo, assim, novos conhecimentos.
Diante do exposto, esta dissertação situa os atos de opinar e de argumentar
na inter-relação das categorias Discurso, Sociedade e Cognição, considerando as
representações mentais, tanto ocorrentes quanto persistentes, como construções
avaliativas que se articulam, na interação social com as argumentativas, a partir
do Marco de Cognições Sociais. Assim, na construção textual-discursiva, faz-se
necessário considerar como o produtor textualiza a articulação dos três sistemas
memoriais de cognições: o lingüístico, o enciclopédico e o interacional.
Com referência ao lingüístico, este exige o/um exame do uso de
argumentos, nas práticas sociais discursivas, é o que se pode e o que se deve
dizer, dependendo das condições não só de produção discursiva, mas também da
formação discursiva.
Com referência ao enciclopédico, trata-se de uma nova focalização dada ao
referente textual, de modo a torná-lo discutível, naquilo que, anteriormente, era
indiscutível por participar do Marco das Cognições Sociais.
Com referência ao interacional, as formas de conhecimento são
sistematizadas em situações de fala típicas interacionais. Estas são diversificadas
e vão desde uma superestrutura textual até a macro e microatos de fala, que são
realizados em práticas sociais discursivas distintas.
1.3 Cognição, Discurso e Sociedade
Ao se entender que estudar a língua em seu uso efetivo implica tratar do
texto e do discurso, ambos passam a constituir áreas diferentes para a
investigação: Lingüística de Texto e Lingüística do Discurso.
Cabe à Lingüística de Texto, como já foi dito, as tarefas: definir e explicar o
que faz uma expressão verbal ser um texto, qual seja, a noção de completude de
texto; investigar a organização textual das informações, a fim de se dar conta da
coesão e da coerência; e construir tipologias de textos. Cabe à Lingüística do
Discurso, as tarefas: analisar, definir e tipologizar discursos. Há diferentes
vertentes para se tratar do discurso. Tais vertentes privilegiam as Ciências Sociais
ou as Ciências Cognitivas, logo esta dissertação está fundamentada na Análise
Crítica do Discurso com vertente sócio-cognitiva.
Segundo Van Dijk (1997b), a vertente sócio-cognitiva circunscreve-se na
inter-relação das categorias de análises: Cognição, Discurso e Sociedade, pois
cada uma destas categorias se define pelas demais. Na perspectiva do autor, os
conhecimentos humanos são construídos no e pelo Discurso em Sociedade,
construindo, assim, as Cognições sociais que guiam as individuais, numa
interação contínua do já-sabido e o construído. Entende-se, então, que os
conhecimentos humanos são ao mesmo tempo individuais e sociais, embora os
conhecimentos sociais sejam os guias dos conhecimentos individuais e estes
modificam aqueles, numa dialética contínua entre discursos institucionalizados e
eventos discursivos particulares. Ainda na visão de Van Dijk, é a integração do
estudo das dimensões cognitivas com as sociais que permite melhor compreensão
das relações, entre Discurso e Sociedade.
Van Dijk (1997 a) assegura que o discurso, além de estrutura, é, também,
ação e interação social; o texto e a enunciação, além de lingüísticos, são sociais e
culturais, da mesma forma que são relativos à Cognição; o discurso é contextual
e, ainda, mantém relações de produção e de reprodução ideológicas.
O Discurso está inter-relacionado com as noções de Sociedade, Cognição e
de grupos sociais, podendo ser manifestado por eventos discursivos particulares
ou institucionais. Cada locutor é único em seu discurso, como evento discursivo
particular. Contudo, apesar das semelhanças sociais que o definem como membro
de um grupo social, por haver intertextualidade e refuta, ele se apresenta como
uma avaliação individual, ou seja, uma disparidade e até dissidência em relação
ao grupo social. O locutor dos discursos institucionais torna-se único, na medida
em que representa a informação, considerando-se a visão de mundo de um
determinado grupo sócio-ideológico que está em conflito com outros grupos
sociais.
As representações mentais individuais são as que explicam as razões de
diferentes reações dos indivíduos diante de um acontecimento, embora eles
pertençam a um mesmo grupo de cognições sociais. Nesse sentido, a categoria
Cognição agrupa as formas sociais de representação mental do mundo, vistas
como formas de crença, por serem conhecimentos avaliativos.
Van Dijk, tendo por base a teoria dos papéis da Psicologia Social, postula
que cada sujeito discursivo pode mudar de grupo sócio-cognitivo, dependendo do
papel que representa em Sociedade, razão que o leva a atuar nas práticas
discursivas, buscando, assim, verificar como os conhecimentos, atitudes e outras
representações mentais têm um papel na produção e no entendimento de
determinado discurso, bem como este pode influenciar as opiniões dos outros,
alterando suas crenças.
O Discurso, inter-relacionado com Sociedade e Cognição, é visto como um
fenômeno resultante de uma prática social e cultural. Os locutores não só praticam
atos sociais, como também participam de interações sociais. Estas interações
situam-se em vários contextos sociais e culturais, tais como reuniões informais
com amigos, encontros profissionais, institucionais, debates parlamentares e/ou
acadêmicos.
No entender do autor, a noção de ação abrange a de intenção, pelo fato de
implicar uma deliberação para agir, envolvendo o ato praticado e a interação
estabelecida sócio-cognitivamente.
No que se refere à Cognição, o homem é dotado de uma habilidade
cognitiva que se define pela capacidade de focalizar o que acontece no mundo, a
partir de um ponto de vista. Este é orientado por objetivos, interesses e propósitos,
de forma a criar um determinado estado de coisas para o que é focalizado, no
mundo. Dessa forma, constrói-se uma representação mental valorativa, enquanto
forma de conhecimento do que acontece nesse no mundo, ou seja, uma crença.
Quando os objetivos, interesses e propósitos são comuns a um grupo de pessoas,
estas se reúnem em um grupo social, na medida em que têm conhecimentos
sociais comuns que constroem o Marco das Cognições Sociais do grupo. Como
cada grupo social tem seu ponto de vista específico, cada grupo social tem um
Marco de Cognições Sociais que está em constante conflito com o de outros
grupos.
No que se refere à Sociedade, esta é formada por diferentes grupos sócio-
cognitivos, conflitantes, intergrupos e, por vezes, intragrupos. No caso de o
conhecimento das pessoas ser institucionalizado, há um conhecimento comum
extra-grupo social que constrói a Memória Social. Assim visto, no que se refere ao
Discurso, as formas de conhecimento são construídas no e pelo discurso, com a
finalidade de interagir com os grupos sociais.
As formas de conhecimentos são tanto sociais como individuais, sendo que
estas decorrem de experiências individuais com o mundo. Todas as formas de
conhecimento são armazenadas na Memória de Longo Prazo das pessoas, em
dois grandes arquivos: memória semântica ou social e memória episódica ou
individual. Nestas memórias, os conhecimentos são organizados em sistemas
específicos: o lingüístico, que armazena os conhecimentos de língua; o
enciclopédico, que arquiva os conhecimentos de mundo; o interacional, que
guarda os conhecimentos relativos às relações enunciativas, discursivas e
conversacionais entre pessoas. Os conhecimentos de tipos de textos e classes de
textos são armazenados na memória de longo prazo social, a fim de facilitar a
interação comunicativa humana. Por essa razão, os esquemas textuais estão
situados no Marco das Cognições Sociais. Convém ressaltar que o dissertativo,
trata de um tipo de texto convencionado pelo grupo social acadêmico e presente
no discurso científico.
1.4 O discurso científico
O discurso científico é uma prática social modalizada pelo saber, que pode
ser situado em duas grandes dimensões: o discurso da descoberta, de natureza
narrativa, e o discurso da transmissão, de natureza dissertativa.
Segundo Silveira (1994), o discurso da descoberta define-se pelas
categorias textuais: Problema e Solução. Trata-se de um discurso solitário, pois a
descoberta científica é realizada pelo cientista que investiga para resolver um
problema. Todavia, o cientista não se contenta em obter resultados com sua
investigação, numa progressão do <<não-saber>> para <<o saber>>. Por essa
razão, é necessário que ele apresente e discuta sua descoberta com a
comunidade científica e, para tanto, formalize o <<saber construído>> pelo
dissertativo.
A autora trata com especificidade, em suas investigações, do dissertativo
científico, buscando considerá-lo um tipo de texto, caracterizado pela formalização
de julgamentos, decisões e declarações da descoberta realizada. Assim sendo, há
uma inter-relação das dimensões cognitiva e comunicativa, qual seja, o
dissertativo envolve a narrativa da descoberta. Como o discurso científico é
modalizado pelo <<saber>> e <<fazer-saber>>, o dissertativo científico exige que
a conclusão do cientista seja justificada explicitamente.
Já na dimensão comunicativa, o dissertativo científico poderá ser
diferenciado, se forem considerados dois tipos de interlocutores: um interlocutor
que desconhece a dimensão da área tratada ou a especificidade do tema; e um
outro interlocutor que possui o saber interiorizado, tanto da área quanto da
especificidade do tema. No primeiro caso, o dissertativo é modificado para que a
interação seja pelo convencer; já, no segundo caso, há a necessidade de
persuadi-lo, para que ele abandone uma Tese anterior, já conhecida, e dê adesão
à nova Tese que está sendo defendida pelo cientista.
Para a autora, essa diferença decorre de condições diversificadas de
produção discursiva, convencionando para o dissertativo científico dois esquemas
textuais: o expositivo e o argumentativo, propriamente dito. Estes esquemas são
modificações da estrutura argumentativa proposta por van Dijk (1978), (cf. item 1.8
desta dissertação). Ainda para Silveira (1994), as duas condições de produção
discursiva poderiam ser designadas por: dissertativo de 1 Tese ou expositivo e
dissertativo de 2 Teses ou argumentativo propriamente dito.
1.4.1 O esquema textual do dissertativo de 1 Tese
Silveira propõe o seguinte esquema textual que é constituído pelas
categorias: Apresentação, Justificativa-exposição e Finalização. Ao tratar do
discurso científico, assegura que este se define por um texto reduzido e por um
texto expandido. A categoria Justificativa está modificada argumentativamente e,
por isso, a categoria Apresentação agrupa o texto reduzido, ou sumário, e a
categoria Justificativa, a exposição, enquanto texto expandido.
A categoria Apresentação pode ser definida como Sumário, ou seja,
durante o processamento das informações, agrupa os sentidos mais globais do
texto, construídos pelo próprio expositor, a partir de palavras e frases do texto que
expressam o resumo. Assim visto, esta categoria funciona como orientadora do
leitor, a fim de que ele processe as informações transmitidas, pelo mesmo
princípio de interpretabilidade do cientista-expositor.
A categoria Justificativa-Exposição agrupa, por reunir o texto-expandido,
os sentidos secundários relativos às informações que o cientista expressa para
expor, argumentativamente, a sua descoberta. Esta categoria funciona como
explicitadora das palavras e frases do texto condensado, pois o locutor entende
que o seu leitor, por desconhecer a dimensão da área e o tema específico, não
seja capaz de construir inferências por não ter o saber necessário. Trata-se,
portanto, de um texto expandido por explicitação de informações secundárias.
A categoria Finalização agrupa o julgamento do cientista que avalia o que
foi anteriormente expresso. Trata-se, portanto, de uma opinião, apresentada a
título de conclusão.
1.4.2 O esquema textual do dissertativo de 2 Teses
O esquema textual do dissertativo de 2 Teses, ou argumentativo
propriamente dito, devido ao uso de argumentos explícitos, apresenta
modificações em relação do esquema textual do dissertativo de 1 Tese.
Segundo Silveira ( 1994: 56-57),
Argumentar, em sentido estrito, implica levar o outro a dar a sua
adesão ao julgamento do autor e quando já se tem uma posição tomada,
abandonar o que sabia e acatar o ‘saber novo’ transmitido; para tanto, há a
explicitação da justificativa por argumentos que visam estabelecer a
relação (que percorre da necessidade, passando pela probabilidade, até a
possibilidade) entre a premissa-hipótese e a conclusão do autor.
No postulado de Silveira, o dissertativo de 2 Teses tem seu esquema
textual constituído pelas seguintes categorias: Tese Anterior (Tese 1), Justificativa-
argumentos/Contra-argumentos e Tese Posterior (Tese 2).
Há modificação desta estrutura, em relação à do dissertativo de Tese 1.
Assim, durante o processamento das informações, o leitor agrupa, na categoria
Premissa, as informações referentes à Tese Anterior; e a categoria Justificativa
agrupa Contra-Argumentos à Tese Anterior e Argumentos para a defesa da Tese
Posterior.
A Tese Posterior é definida pela conclusão que o cientista declara,
apontando-a como verdade. Logo, o discurso envolvente com relação ao discurso
da narrativa da descoberta, do cientista, é caracterizado pelo uso de argumentos
de probabilidade, na medida em que o cientista apresenta seus resultados como
prova. No entanto, tais resultados, ainda que provados, não são suficientes, para
construir generalizações teóricas e/ou metodológicas que o cientista realiza com a
sua Conclusão; por esta razão é uma forma de opinião.
Nessa perspectiva, o ponto de partida desta dissertação é o texto
dissertativo pertencente à classe textual opinativa, sendo que no discurso
científico se modifica em dois tipos de texto : dissertativo de 1 Tese e dissertativo
de 2 Teses.
1.5 A classe textual opinativa
Van Dijk (1997) dá atenção ao conceito de opinião, pois a considera como
parte da vida cotidiana e, por essa razão, entende que ela está presente em
muitos tipos de texto, desde as conversações descontraídas até o poético, o
dramático, o noticioso e o ficcional.
Segundo o autor, o conceito de opinião é complexo e já foi tratado por
diferentes prismas. Ainda que a opinião esteja presente na vida cotidiana e
institucional, ela tem merecido pouca atenção dos especialistas de texto e do
discurso. Em razão desta complexidade, Van Dijk (1997 b) focaliza a questão da
opinião, como lingüista, a partir da vertente sócio-cognitiva da Análise Crítica do
Discurso, sendo que esta se preocupa com as formas de conhecimento sociais.
Diante dos resultados, já obtidos a respeito da opinião, o autor afirma que,
de modo geral, os estudiosos diferenciaram episteme de doxa, bem como
conhecimentos epistêmicos de conhecimentos avaliativos. Os epistêmicos são
factuais e decorrem do que se constata ao observar o mundo; por essa razão,
pode-se aplicar a este tipo de conhecimento o critério da verdade/falsidade.
Entende-se que os conhecimentos avaliativos são opiniões e, quando
públicos, são designados doxa (opinião pública). Um conhecimento avaliativo é
uma crença, pois decorre de se concluir o quão bom/ o quão mau algo é. Por conseguinte, a opinião não pode ser analisada pelo critério de verdade/falsidade.
Segundo Silveira (1994), qualquer tipo de conhecimento é uma crença, pois
decorre não do real, mas de como se focaliza o que acontece no mundo, criando
para tal conhecimento, um estado de coisas. Em outros termos, a opinião é
construída, a partir do Marco de Cognições Sociais de seu produtor.
Para a autora, quando alguém avalia o referente, é porque alguém conhece
o referente que está representado no Marco das Cognições Sociais (Memória de
Longo Prazo Social) dos membros de seu grupo e este é um conjunto de crenças,
na medida em que decorre de um determinado ponto de vista, aceito pelos
membros de grupo social, no qual se situa tal Marco. A avaliação, nesse sentido,
apresenta-se como solução de um problema e requer habilidade,
conseqüentemente, ela é um componente fundamental da inteligência e está
ligada ao conhecimento.
Conforme se avaliou, nesta Dissertação, os pontos de vista variam
dependendo de propósitos, intenções, interesses e objetivos comuns que reúnem
as pessoas em um determinado grupo social. Conseqüentemente, os grupos
sociais estão em conflito, por terem Marcos de Cognição diferentes.
Em decorrência do que foi exposto, Van Dijk considera que a opinião, sua
aquisição, seu uso e funções são sociais e sua expressão, de forma geral, é
discursiva – há muitas opiniões que são pensadas e não são transmitidas –. Assim
sendo, para o autor, uma teoria satisfatória sobre opinião deveria situá-la na inter-
relação, das categorias: Cognição, Sociedade e Discurso.
1.6 A focalização
Os estudiosos Reis & Lopes (1988) afirmam que o termo focalização,
designação eficaz para a Análise do Discurso, também é conhecido por outras
designações. Os teóricos e os críticos anglo-americanos o nomearam ponto de
vista ; J. Pouillon e T. Todorov o denominam visão ; G.Blin, restrição de campo.
Para Reis & Lopes, o termo focalização pode, ainda, ultrapassar o sentido de
ponto de vista e visão e não se limita, portanto, ao que uma personagem ou
narrador podem ver, mas concretiza-se como a representação global da
informação, em um determinado campo da consciência.
A focalização permite que se condicione a quantidade de informação
veiculada, por exemplo, a respeito de eventos, personagens, espaços, entre
outros, para que esta atinja qualidade, pela avaliação realizada, já que passa a
abranger uma posição afetiva e ideológica ou moral e ética, em relação ao
informado. Dessa maneira, a focalização deve ser considerada como um
procedimento crucial para as estratégias de representação que regem a
configuração sociocognitivo do discurso.
Para Van Dijk (1997 b), a focalização de uma representação mental
individual está, sempre, guiada pelos conhecimentos sociais. Nesse sentido, o
social implica uma imposição de normas e valores que determinam as crenças dos
membros de um grupo e orientam as atitudes das pessoas. Esse conjunto de
crenças, o Marco de Cognições Sociais, é construído por focalizações sociais
específicas do mundo, de modo a diferirem de grupo para grupo, ocasionando um
constante embate intergrupal.
Isto posto, a flexibilidade das representações mentais sociais decorre das
diversas focalizações sociais do referente; todavia é necessário considerar que o
sujeito, enquanto indivíduo, também faz focalizações diversificadas do referente,
e dependendo de suas intenções, cria para si um estado mutável de coisas.
1.7 Modelos de situação
Kintsch e van Dijk (1983) tratam, pela primeira vez, do modelo de situação,
quando apresentam os seus resultados obtidos de uma investigação realizada
com a compreensão discursiva de leitores. Esses autores verificaram que o leitor,
além de reproduzir parte do que foi dito, deve imaginar sobre o que trata o texto,
por exemplo, pessoas, atos, eventos ou estados de coisas. Assim sendo, um
modelo de situação é a noção cognitiva que busca dar conta do tipo de contexto
cognitivo ativado para a Memória de Trabalho. Para tanto, é necessário considerar
o empenho de cada interlocutor, ao imaginar de que trata o texto, a fim de se
compreender o discurso.
Por essa razão, segundo, van Dijk (1997 a), a noção de modelo de
situação faz-se necessária para explicitar, também, os conhecimentos flexíveis
das pessoas, uma vez que tal noção está relacionada à maneira pela qual o
indivíduo focaliza o referente em uma determinada situação. Logo, os modelos
são esquemas mentais, armazenados na Memória individual de Longo Prazo das
pessoas, e resultam de experiências individuais que elas têm com o mundo. Neste
caso, enquanto as focalizações criam estado de coisas para o referente no
mundo, os modelos de situação propiciam uma relação, entre o focalizado e o
situado, em um determinado contexto cognitivo.
Em outros termos, os modelos de situação são ativados do arquivo
individual de longo prazo, resultado das experiências pessoais com o mundo.
Estes são diretos ou imediatos, quando se observa ou se participa de eventos ou
ações; ou indiretos, quando se interpreta um discurso, na medida em que as
pessoas resgatam conhecimentos anteriores sobre uma determinada situação.
Toda vez que se atualiza um modelo de situação, amplia-se o
conhecimento pessoal de mundo. Os frames e os scripts que participam do
contexto cognitivo, durante a construção das formas de conhecimento, na
Memória de Trabalho, desempenham papel importante para se construir novos
modelos pessoais e na atualização de modelos velhos. A atualização dos modelos
individuais, pela lembrança, é uma operação cognitiva que permite aos indivíduos
a construção de grande número de novos modelos, a cada situação nova.
Dentro desse quadro, o locutor ao produzir seu texto-produto é guiado pelo
seu texto-processo. Assim, o texto-produto traz representado em língua, a maneira
pela qual se situa o referente focalizado.
Essas noções são importantes para o tratamento de textos dissertativos
que são opinativos e, conseqüentemente, argumentativos, pois os conhecimentos
sociais do mundo não são discutíveis. Contudo, tais conhecimentos tornam-se discutíveis, na medida em que o referente é focalizado e situado de maneiras
diversas. Desde que essas variáveis ocorram, a argumentação é instaurada, para
se defender uma conclusão.
Logo, para a construção da representação mental na Memória de Trabalho,
ativa-se um modelo de situação, da Memória de Longo Prazo individual e uma
representação mental institucionalizada do referente, da Memória de Longo Prazo
social. A dialética existente, entre o social e o individual, leva o processador da
informação a saber a respeito do que o discurso versa, propiciando que se
construa para o mesmo, a coerência, enquanto sentido mais global.
Quando se trata da construção da representação mental na Memória de
Trabalho, a noção de contexto é, portanto, sócio-cognitiva. Um contexto cognitivo
é o conjunto de conhecimentos que são ativados da Memória de Longo Prazo,
sendo estes relativos tanto ao Marco de Cognição Social quanto às experiências
individuais. Tal contexto tem formação complexa, pois decorre de focalizações e
de modelos de situação variados. Claro está que os papéis representados pelos
indivíduos em sociedade participam, também, da construção de contextos
cognitivos diversificados; assim, por exemplo, durante uma pesquisa realizada
com a compreensão discursiva, foi oferecido aos informantes o texto descritivo de
um castelo medieval francês. Para cada informante-leitor, foi indicado um papel:
vendedor, comprador, avaliador e assaltante. Os resultados obtidos indicam que o
papel representado é, altamente, importante para a seleção do foco e da situação.
1.8 A estrutura argumentativa proposta por Van Dijk
Van Dijk e Kintsch, desde 1975, preocuparam-se, de certa forma, com a
tipologia de textos. Em 1978, van Dijk dedica um capítulo de sua obra La ciencia
del texto às superestruturas, nele inserindo as estruturas argumentativas. O autor
considera que todos os textos são formados por um macroato, por exemplo,
ameaçar, intimidar, seduzir, entre outros, guiado pela intenção do produtor; razão
pela qual, não há textos ingênuos, todos são argumentativos.
Para esse autor, as superestruturas são esquemas textuais
convencionados socialmente para formalizar tipos de textos. Estes estão
armazenados na Memória de Longo Prazo Social, no sistema interacional.
Van Dijk considera, ainda, que, embora haja superestruturas típicas,
convencionadas socialmente, para formalização textual de discursos típicos,
dificilmente um texto é formado apenas por uma única superestrutura. Assim, por
exemplo, um texto de história é formado, também, com a superestrutura do
descritivo que se encontra modificada pelas categorias da história. Em 1978
(p.160), o autor propõe uma estrutura argumentativa, presente nos mais diferentes
tipos de discurso, visualizada da seguinte forma:
Estrutura Argumentativa
Justificativa Conclusão Marco de Circunstância Cognições Sociais Pontos de Partida Fatos Legitimidade Reforço
Para o autor, as categorias canônicas da argumentação são premissa-
hipótese e conclusão. Não obstante, na argumentação, estão presentes outras
categorias, como se visualiza no esquema acima. Pode-se verificar que a
estrutura proposta é, também, hierárquica, sendo que as categorias primárias são:
Justificativa e Conclusão. Assim sendo, Van Dijk ao apresentar o seu esquema
argumentativo, não inclui a categoria premissa-hipótese, em vista de esta poder, na maioria das vezes, vir implícita, em relação à explicitação da Conclusão. No
que se refere à categoria Justificativa, o autor considera que, em certos discursos,
a explicitação é uma exigência dessa categoria e, em outros, não.
O discurso científico é um discurso institucional que exige justificativas
explícitas. Nesse caso, a categoria Justificativa da estrutura argumentativa agrupa
outras duas categorias textuais: Marco de Cognições Sociais e Circunstâncias.
Estas são relativas à mudança de focalização e de situação dadas para a
representação do referente, ou por isso, decorrem das intenções individuais. Os
conhecimentos sociais persistentes constituem o Marco de Cognições Sociais.
Van Dijk (idem, p.162) para poder exemplificar sua estrutura argumentativa,
analisa o seguinte anúncio publicitário, lançado, na Europa, para a venda de
gasolina da Shell:
Compre gasolina Shell
A gasolina Shell contém ASD
ASD limpa o motor
Menos gasolina é mais barato
Você quer conduzir, gastando pouco dinheiro?
Compre gasolina Shell.
Conclusão – Compre gasolina Shell.
Fato - A gasolina Shell contém ASD.
Justificativa – ASD limpa o motor.
Reforço – Um motor limpo consome menos gasolina.
Legitimidade – Consumindo menos gasolina, você gasta menos.
Reforço – Quem consome menos gasolina conduz seu carro, por
mais quilômetros, por ter menos gasto.
Pelo que se pode verificar, o Marco de Cognições Sociais não foi
explicitado, embora seja representativo de um auditório mais amplo que
compreende tanto a classe média quanto a alta. Tal Marco pode compreender, por
exemplo, de forma implícita, entre outras, as seguintes proposições: todo gasto
inútil é prejudicial; quem poupa sempre tem, a economia é a base da ascensão
socioeconômica.
Pode-se verificar, também, que a Legitimidade e o Reforço agrupam os
sentidos que apresentam uma relação associativa com o Marco das Cognições
Sociais; a Circunstância categoriza a informação nova, relacionando-se ao Marco,
de forma dissociativa.
No tocante à argumentação, pode-se dizer que os modelos de situação,
juntamente com a focalização, constroem uma circunstância para os
conhecimentos sociais. No entanto, para o uso de argumentos é necessário
recorrer, associativamente, ao Marco das Cognições Sociais, tanto para a
legitimação quanto para o reforço desta, a fim de propiciar a aceitabilidade do
Outro e não criar com o mesmo um intenso conflito.
1.9 A superestrutura argumentativa de Sprenger-Charroles
Sprenger-Charolles (1980) dá continuidade às pesquisas realizadas por
Kintsch e Van Dijk (1975) e trata da produção de resumos de textos com
superestrutura de histórias e com a superestrutura argumentativa.
A autora trata o argumentativo, diferenciando a argumentação da
demonstração que é utilizada em Matemática. Na demonstração formal, toma-se
como ponto de partida uma hipótese provável – premissa de demonstração – e
insere-se nesta hipótese, necessariamente, uma conclusão. A relação entre
premissa e conclusão, na demonstração, é uma relação de verdade; já a estrutura
do discurso argumentativo difere da demonstração pela natureza das premissas,
pois estas são constituídas de opiniões, geralmente aceitas ou aceitáveis. Nesse
sentido, a relação premissa/conclusão está no domínio do verossímel e não do
verdadeiro, consistindo na apresentação de argumentos, mais ou menos fortes,
mas nunca puramente formais.
Por outro lado, o discurso argumentativo também se diferencia da
demonstração, porque tem a categoria do sujeito fortemente marcada, considerando-se que o mesmo é o sujeito da premissa que se utiliza de
argumentos para persuadir o Outro a aceitar a sua conclusão. Na demonstração, o
sujeito apresenta um discurso opaco e não aquele de quem intervém para
argumentar a respeito de um valor de verdade que ele próprio atribui à premissa.
Para a autora (idem, p. 76), em nível de modalidade de enunciação,
distinguem-se três tipos de relações que podem existir entre o argumentador A, o
argumentado B e o objeto da argumentação R, marcando, assim, a posição do
orador perante os conteúdos aos quais ele se refere e perante o Outro, seu
interlocutor.
A........ ...............B A ......................B A .......................B
R R R
Eu lhe peço Eu considero Seja um objeto
considerar R um objeto
No caso da 3ª coluna (seja um objeto), trata-se de responder às exigências
da demonstração formal, ou seja, do discurso impessoal e transparente. Já os
casos anteriores tratam da argumentação, mesmo que o sujeito da enunciação
esteja oculto na superfície do texto.
A autora (idem, p.77) propõe para a superestrutura do discurso
argumentativo o seguinte esquema:
argumentos
Premissa............................................................ conclusão (Tese)
Pelo fato de o esquema argumentativo – Tese posterior – ajustar-se em um
outro esquema argumentativo (Tese anterior) com o qual mantém uma relação
dissociativa, objetiva-se mudar as convicções, isto é, contrariar a Tese anterior ou
reforçá-la, a fim de obter a adesão do auditório.
Nesse sentido, tem-se a seguinte visualização:
Premissa
Argumentos
Conclusão (Tese 1)
Contra-argumentos
Argumentos
Conclusão (Tese 2)
1.10 A argumentação, segundo outros autores
Um raciocínio argumentativo pode proceder de propriedades ligadas à
existência de fatos ou, inversamente, desenvolve-se, a partir da argumentação
feita sobre os fatos existentes.
Vignaux (1976), em seu postulado, afirma que o discurso tanto fala de
objetos físicos referentes ao real concreto, com relação aos acontecimentos que
foram produzidos quanto fala do que vai ser produzido e das relações possíveis,
entre objetos. A seleção destes objetos e os tipos de relação, que o locutor
estabelece entre eles, fazem com que todos os objetos eleitos sejam
apresentados ao auditório, a partir de determinadas situações. Tais situações são
as do discurso e não as do real, ainda que elas sejam apresentadas, no discurso,
como reais.
Essas variáveis fazem com que a argumentação seja abordada, a partir de
aspectos complexos e diversificados.
1.10.1 Aspectos da argumentação discursiva
Para se estudar a argumentação, no discurso, faz-se necessário diferenciar
três dimensões: a do mundo real, a das representações mentais e a da
enunciação. A dimensão do mundo real é relativa ao que acontece no mundo; a
das representações mentais é cognitiva; e a enunciativa é a representação em
língua do que se quer comunicar. Estas três dimensões estão relacionadas uma
às outras por modalidades, dependendo da existência/não existência, no mundo
real, do objeto do discurso.
Para Vignaux (1976), o ato de argumentar deve ser situado, inicialmente,
na dimensão cognitiva, por ser o lugar em que se constrói o conhecimento,
enquanto representação mental. O uso dos argumentos está relacionado à
dimensão enunciativa e depende da atitude de quem argumenta ao representar,
em língua, o seu conhecimento para o Outro, de forma a convencê-lo e/ou
persuadi-lo à aceitação.
Ao considerar o nível enunciativo, o autor propõe que este seja o nível das
palavras; por essa razão, tal nível é o primeiro a ser analisado, no uso dos
argumentos. A dificuldade para esse autor, é que, até o momento, os lingüistas
não dispõem de uma teoria semântica adequada capaz de descrever as
significações de unidades lexicais.
Vignaux (idem, p.73) afirma, ainda:
as propriedades semânticas de um elemento são inferidas a
partir de suas características formais. O sentido das palavras
empregadas pelo falante pode ajudar a compreender “de quê” fala
o discurso, assim como, a precisar o campo de atividades, no qual
se situa; mas, o importante não são as palavras em si mesmas e
sim as categorias semânticas às quais se podem remeter suas
propriedades formais e suas localizações na ordem estrutural da
oração.
Segundo o autor, as representações do mundo são construídas por
meio da linguagem, tal como um verdadeiro processo argumentativo. Com efeito,
no que se refere à argumentação, a noção de objeto só tem sentido, na medida
em que ela é tomada em seu emprego discursivo. Assim visto, a noção de objeto
está, pois, relacionada às estruturas mentais e às suas produções representativas
e conceituais. Neste caso, o objeto do discurso não é um objeto real, uma vez que
o mesmo se constrói em função das estruturas mentais e dos procedimentos
argumentativos.
As propriedades do objeto geral, conceitualizadas, mentalmente, servem
como meios de comparação, para avaliar as coisas, em sua identidade relativa e
avaliativa. Por conseguinte, o conceito, por ser objeto do discurso, tem natureza
simbólica, já que substitui outra coisa e o que ela significa no mundo real: tudo
depende de como as pessoas estão capacitadas para representar um referente
em vista de certas finalidades.
Em síntese, para Vignaux, tratar da argumentação exige que se entenda a
linguagem enquanto uma representação que constrói a realidade, de forma a
refletir todos os modos de ser, de experimentar, e de atuar.
1.10.2 Aspectos das modalidades
De forma geral, as modalidades vêm sendo tratadas por vários
autores, como as relações estabelecidas, pelo locutor, entre a premissa e a
conclusão. Esses autores apresentam-nas como percorrendo a existência, a
necessidade, a probabilidade, a possibilidade, a impossibilidade, a
improbabilidade e a não existência.
1.10.2.1 A modalidade da necessidade
A modalidade da necessidade tem o caráter normativo da proposição
universal. A proposição que afirma: todo A é B implica o seguinte: qualquer A é
necessariamente B. A necessidade funda a universalidade, por isso a necessidade
não concerne à quantidade, mas à essencialidade. Todo A é B significa que
qualquer que seja o indivíduo X, se X possui o atributo A, então possui, também, o
atributo B. Esta é uma simples implicação material, conjunção de fato.
Segundo Van Dijk (1978), as modalidades diferenciam na estrutura
argumentativa a relação entre premissa-hipótese e conclusão. Assim sendo, a
premissa decorre de uma derivabilidade, resultante de um cálculo formal – A
implica B – . A Conclusão é pragmática, na medida em que decorre de uma
construção opinativa, de um conhecimento avaliativo.
Para o autor, a modalidade da necessidade é lógica, quando A implica B
– O homem é mortal, Pedro é homem, logo é mortal –; todavia pode ser, também,
física, biológica, psicológica, entre outras. A título de exemplificação, apresentam-
se:
● Necessidade física: a água ferve a 100º;
● Necessidade biológica: a fome mata os indivíduos;
● Necessidade psicológica: o amor traz felicidade.
1.10. 2. 2 A modalidade da possibilidade
Toulmin (1958) afirma que o termo possível deve ser bem mais compreendido, quando usado como argumento. Entende-se, então, que o termo
pode ser admitido como uma hipótese. Assim, por exemplo, Pode ou Poderia ser o
caso de...; o termo possibilidade é mais apropriado, devido à associação do verbo
possibilitar com o adjetivo possível e com o advérbio possivelmente, para dar uma
sugestão de possibilidade e para conceder o que deve ser considerado como
possível.
Para o autor, a modalidade da possibilidade depende da conexão entre
possível, possibilidade e pode ou podia, devendo tal modalidade estar relacionada
ao início do argumento. Assim, esta modalidade é uma possível solução para o
problema, quer dizer, desde que esta modalidade seja admitida como hipótese;
por essa razão, ainda que haja outras soluções para o problema - Pode ou
Poderia ser o caso de..., possibilitar, possível, possivelmente, possibilidade e pode
ou podia - estas devem ser consideradas.
Segundo Martin (1984), no que se refere ao discurso, o que é
necessariamente verdade é a verdade por definição que está contida como formas
de predicação no conteúdo de um vocábulo. Trata-se, necessariamente da
verdade, na medida em que as definições são institucionalizadas e, portanto,
indiscutíveis. Assim, quando se predica algo a algo-alguém em discursos não
institucionalizados têm-se predicações fluidas (+ ou – verdade) e estas são
relativas aos mundos possíveis.
Nesse sentido, a modalidade da possibilidade ao relacionar uma premissa-
hipótese com uma conclusão aponta em dois mundos distintos o seguinte: no
mundo A – é possível a existência de X e no mundo B é possível a não-existência
de X. Os dois mundos possíveis podem conviver entre si, pois neles o objeto
representado não é presente e sim resulta da incerteza do futuro. Trata-se,
portanto, do que é possível de existir-acontecer no mundo ou do que é possível ter
existido-acontecido e não aconteceu ainda.
1.10.2.3 A modalidade da probabilidade
Na perspectiva de Toulmin (1958), o termo probabilidade pode ter
significados diversificados, quando usado em contextos, também, diversificados.
Assim, por exemplo, em um boletim meteorológico, pode ser usado como uma
predicação ou como uma previsão falível – é provável que aconteça, embora não
seja necessário acontecer.
Ao ser usado no cotidiano, o termo probabilidade tem como seus cognatos
provavelmente, provável, probabilidade, comumente, oportunidade, entre outros. A
significação varia, conforme o contexto. Quando se diz: Provavelmente está
chovendo, não se está afirmando, pois pode ser que não esteja chovendo, o que
não significa uma refuta à idéia inicial, de forma a considerar dois mundos
possíveis.
Por conseguinte, os termos que designam a probabilidade suscitam muitas
controvérsias e apresentam dificuldades para o seu uso, pois levam a confundir a
possibilidade com a probabilidade. A dificuldade do uso destes termos decorre de,
antes da década de 60 do século XX, as noções de verdade e de falsidade
orientarem o uso de argumentos lógicos. Acreditava-se, naquele momento, que o
dito tinha uma relação lógica com mundo; hoje, entende-se que a relação do dito
com o mundo é analógica e, por isso, afirma-se, de acordo com os filósofos de
Oxford, que é a partir do dito que as coisas aparecem no mundo. Por essa razão,
fez-se necessário redefinir a modalidade designada probabilidade, sem a
preocupação anterior com os termos que lhe são relativos ou com os seus
cognatos.
Para o autor, a probabilidade é o motivo ou indício que deixa presumir a
verdade ou a prova de um fato. Assim sendo, a probabilidade ao modalizar a
relação entre a premissa-hipótese e conclusão representa, de forma
argumentativa, o que aconteceu no mundo e que é tomado como prova, para
legitimar a conclusão construída, a partir de um julgamento. No entanto, as provas
apresentadas não são suficientes para as generalizações feitas e expressas pela
conclusão.
Em síntese, dependendo das intenções do locutor, na dimensão do
discurso, é possível afetar um conjunto de fatos ou de propriedades, relativas ao
universo de situações, de forma a transformar, pela argumentação, a necessidade,
a possibilidade, a probabilidade e a existência em não-necessidade,
impossibilidade, improbabilidade e não-existência, ou vice-versa. Assim, o uso de
argumentos pode funcionar não só de maneira implicativa, no sentido lógico do
termo, para convencer, mas também, conforme o raciocínio, no sentido
pragmático, analógico, para persuadir.
Se é possível Que algo seja ou tenha sido,
seu contrário também parecerá possível Aristóteles,
CAPÍTULO II – Uma releitura do material didático: um exame para modificações do dissertativo
Este capítulo faz uma releitura de dois manuais didáticos, geralmente
utilizados para o ensino acadêmico da dissertação, a saber, Comunicação e prosa
moderna, de Othon Garcia (1977) e A dissertação, de Agnelo Carvalho Pacheco.
(1988)
2.1 Considerações iniciais
Selecionaram-se esses dois autores, pelo fato de, os manuais de redação,
em geral, tratarem a dissertação como o ato de emitir opiniões; no entanto, os
mesmos não oferecem um subsídio para efetivá-las. Já os dois manuais
selecionados oferecem perspectivas para esta investigação.
O autor, Othon Garcia (1967) diferencia, para o dissertativo, dois tipos de
textos: o expositivo e o argumentativo. Essa diferença, ainda que não esteja
fundamentada na Lingüística de Texto, foi o ponto de partida para se examinar as
modificações do dissertativo, conforme condições de produção discursiva
diversificadas.
O outro autor, Agnelo Carvalho Pacheco (1988) oferece uma
exemplificação de textos dissertativos diversificada e muito rica que foi tomada
como amostra para as análises das modificações textuais do dissertativo.
Ambos os manuais são utilizados na Universidade Brasileira: o autor
Othon Garcia é o mais indicado em São Paulo; já Agnelo Pacheco, no Rio Grande
do Sul. Justifica-se a seleção de manuais didáticos acadêmicos, pois se
pressupõe que os textos dissertativos, instituídos no Programa do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio, em vestibulares bem como em concursos; são
típicos do discurso acadêmico, ou seja, esquemas textuais presentes na produção
textual científica.
No que se refere a outros manuais didáticos, pode-se dizer que a maioria
deles focaliza o texto-produto, pelo bom uso de regras gramaticais, no nível da
frase, como por exemplo, coordenadas, subordinadas, entre outros. Com relação
à caracterização dos tipos de texto, muitos desses manuais propõem: descrição é
fazer uma fotografia em palavras; narração é seqüenciar ações no tempo; e a
dissertação é emitir uma opinião.
Acredita-se, então, que todos os manuais de redação não diferenciam o
texto-produto – de natureza lingüística, produto da enunciação do texto-processo –
de natureza memorial, produto do conhecimento e, também, não apresentam
esquemas textuais típicos. Entende-se que um texto bem formado é construído
com estratégias específicas, relativas à forma e ao conteúdo, estabelecendo,
assim, relações entre os enunciados lingüísticos e as representações cognitivas,
dentre as quais estão os esquemas textuais-tipo, que propiciam não só selecionar
adequadamente léxico e gramática, segundo as intenções do produtor, mas
também organizar os enunciados lingüísticos em seqüências bem formadas.
Nesse sentido, as representações cognitivas que são mentais, quais sejam,
formas de conhecimento do que acontece no mundo passam a ser representadas
em língua, no texto-produto, a partir da interação do social com o individual.
2.2 O manual Comunicação e Prosa Moderna
Neste manual, Othon Garcia tece considerações que, por vezes,
diferenciam texto-produto de texto-processo. A obra é publicada pela primeira vez
em 1967, quando a Lingüística de Texto estava apenas começando na Europa, e
o autor já entende que a lingüística da frase e o purismo gramatical não poderiam
dar conta da boa formação de um texto.
O autor (1967, p. 275) afirma: Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, a
aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois,
assim como não é possível dar o que se não tem, não se pode se transmitir
o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando professores nos
limitamos a dar aos alunos temas para a redação sem lhes sugerirmos
roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes
“fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador: um
aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um
acúmulo de palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito;
frases em que procuram fundir idéias que não tinham ou que foram mal
pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham, mesmo que
se dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e
de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam
idéias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam purificando-se
naquelas, desde que se aprenda como associá-las e concatená-las,
fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a
dizer, porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente
satisfatória.
O autor enfatiza, ainda, que seu manual didático tem como principal
objetivo ensinar o leitor a pensar e a desenvolver sua capacidade de raciocínio, a
servir-se do seu espírito de observação para colher impressões, a formar juízos e
a descobrir idéias para ser tanto quanto possível claro e exato na expressão do
seu pensamento. Por essa razão, o professor não deve se preocupar apenas com
a língua, com a gramática, com a colocação dos pronomes átonos, com o
emprego da crase, com a regência do verbo, isto é, com o polimento da frase;
todavia, o professor deve preocupar-se com a sua carga semântica, buscando
oferecer, ao leitor do seu manual, uma orientação capaz de levá-lo a pensar para
ter o que dizer e poder expressar-se com eficácia. Se o sujeito não souber pensar,
dificilmente, saberá redigir, embora conheça muitas regras gramaticais.
Embora o autor (idem, p.354) não trate da construção textual da opinião,
diferencia dissertar de argumentar:
Nossos compêndios e manuais de língua portuguesa não costumam
distinguir a dissertação da argumentação, considerando esta apenas
“momentos” daquela. No entanto, uma e outra têm características próprias.
Se a primeira tem como propósito principal expor ou explanar, explicar ou
interpretar idéias, a segunda visa sobretudo a convencer a persuadir ou
influenciar o leitor ou ouvinte. Na dissertação, expressamos o que sabemos
ou acreditamos saber a respeito de determinado assunto; externamos a
nossa opinião sobre o que é ou parece ser. Na argumentação, além disso,
procuramos principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando
convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que estamos de
posse da verdade.
Como se pode verificar, o autor diferencia duas condições de produção
discursiva e não dois tipos de texto como o faz Silveira (1994). Segundo a autora,
o dissertativo está agrupado na classe textual opinativa e, dependendo das
condições de produção discursiva, modifica-se no texto dissertativo expositivo e
no texto dissertativo argumentativo propriamente dito. O primeiro define-se por ter
uma Tese e o segundo pelo conflito de duas Teses. O expositivo é selecionado
para formalizar uma condição de <<fazer o outro saber o que não sabia>> e o
argumentativo propriamente dito, para formalizar uma condição de <<fazer o outro
abandonar o que sabia (Tese 1) e dar sua adesão a uma outra Tese (Tese 2)>>.
Othon Garcia (idem, p.354), ao tratar do ato de argumentar, afirma:
Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer
mediante apresentação de razões, em face da evidência das provas e à luz
de um raciocínio coerente e consistente.
Para o autor, a argumentação deve basear-se nos princípios da lógica,
considerados, por ele, condições da argumentação. Assim, nos debates, nas
polêmicas, nas discussões que se travam a todo instante, na simples
conversação, na imprensa, nas assembléias ou em agrupamentos de qualquer
ordem, nos Parlamentos, a argumentação, não raro, se desvirtua, degenerando
em bate-boca estéril, falacioso ou sofismático. Em vez de lidar com idéias,
princípios ou fatos, o orador descamba para o insulto, o xingamento, a ironia, o
sarcasmo que jamais constituem argumentos.
A legítima argumentação não deve ser confundida com o bate-boca; a
argumentação é construtiva na sua finalidade, ou seja, cooperativa em espírito e
socialmente útil.
Nota-se que o autor intui as diferenças esquemáticas, modificadas pelas
condições de produção discursiva, de forma avançada para sua época, quando no
Brasil os modelos lingüísticos teóricos são frasais: estruturalismo e gerativismo; no
entanto, o seu tratamento não expressa tipologia textual tampouco considera que
a argumentatividade é uma das características da linguagem humana. Além disso,
entende-se que não basta o leitor conhecer essas condições de produção, pois se
dissertar é emitir opiniões, faz-se necessário saber, tanto no texto-processo
quanto no texto-produto, construir textualmente opiniões. Entende-se, portanto,
que para se construir uma opinião no texto-processo faz-se necessário ter-se
uma representação mental do referente que passa a ser avaliada, a fim de se
construir um conhecimento avaliativo. O fato de no texto-processo interagir o
social com o individual, construir uma opinião implica construir uma avaliação nova
do que já foi representado, avaliativamente, por um ponto de vista do social.
Convém ressaltar que, com referência à formatação do texto, o autor
propõe ao aluno desenvolver seu texto dissertativo, a partir do conhecimento que
o mesmo tem dos temas. O texto deve ser organizado, segundo as partes
tradicionais, propostas por Aristóteles: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Dessa forma, não oferece subsídios para construir a opinião como um
conhecimento avaliativo e o que propõe é relativo à ordenação semântica, a fim de
progredi-la no texto-produto.
Em síntese, ressalta-se, também, que o autor acredita em textos
ingênuos, expositivos, diferentes de textos argumentativos. Mas se a
argumentatividade é uma das características da linguagem humana, todos os
textos são argumentativos, ainda que não sejam opinativos. Por essa razão,
Silveira (2004) propõe diferenciar as modificações do dissertativo em tipos textuais
por: dissertativo de 1 Tese e dissertativo de 2 Teses.
2.3 O manual A Dissertação
Neste manual, Agnelo Carvalho Pacheco (1988, p.1) tece considerações,
no capítulo 1, com o título Conversa Inicial, a respeito de dissertar:
Dissertar é um ato que desenvolve todos os dias: é procurar uma
justificativa para uma questão, defender os pontos de vista em relação,
também, a uma determinada questão. Em suma: dissertação implica
discussão de idéias, argumentação, raciocínio, organização do
pensamento, defesa de pontos de vista, descoberta de soluções. Significa
refletir sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos cerca. Mais do que
isso o ato de dissertar pode representar o ponto de partida para o próprio
mundo.
No que se refere aos tipos de texto, não há abordagem alguma. De forma
geral, o tratamento dado é relativo ao texto-produto: parte da estrutura do
parágrafo para chegar ao plano da dissertação ou, segundo o autor (idem:16), por
onde começar:
Escrever não significa apenas preencher o papel com frases.
Escrever pressupõe uma série de operações anteriores, entre as quais
está o planejamento.
Para o autor (idem, p.16) o primeiro passo é levantar idéias, pois
inicialmente, perante um tema:
Você deve registrar uma série de idéias sobre o assunto que vem a
sua cabeça. Você deve registrar todos os seus pensamentos no papel.
Fatos, informações, opiniões, um caso que aconteceu na sua rua, tudo
deve ser anotado em forma de esquema. Não se preocupe se a lista
parecer desordenada.
Pacheco, em seus estudos, (1988, p.18), o segundo passo é organizar
as idéias:
Temos um conjunto de idéias, porém percebemos que podemos
agrupá-las segundo certas semelhanças.
Para o autor (1988, p. 21 - 23), o terceiro passo é prontos para escrever:
Depois de levantar as idéias e organizá-las, estamos prontos para
escrever. Mas precisamos destacar ainda dois pontos: a necessidade de
delimitação do tema e as diferentes formas de organização do parágrafo e
do texto. (...)
Muitas vezes você receberá, como proposta de redação, temas muito
amplos que precisam ser delimitados.
No que se refere à ativação das idéias, pode-se verificar que Agnelo
Carvalho Pacheco tem a sua atenção voltada para a construção do texto-processo
na Memória de Trabalho do sujeito-redator, na medida em que aborda a ativação
de conhecimentos na Memória de Longo Prazo. Todavia, o autor não trata da
questão da projeção do ponto de vista, ou seja, da focalização do referente.
Remete-se, desta forma, ao Marco das Cognições Sociais e aos
conhecimentos individuais armazenados na Memória de Longo Prazo do sujeito-
redator, sem indicar estratégias para a focalização e para a projeção de um
modelo de situação, a fim de se construir um estado novo de coisas para o
referente do texto. De forma simplista, o autor trata o referente e a focalização
pelo que designa tema, atribuindo este ao professor e não ao sujeito-redator;
assim, não propõe a construção semântica para ser agrupada na categoria
Circunstância, da estrutura argumentativa, proposta por Van Dijk . (1978)
No que se refere à ordenação das idéias, Pacheco apresenta a estratégia
da semelhança de idéia, sem se referir à seletividade temática que decorre das
intenções do autor e seus macroatos de fala.
Pacheco (idem, p.8 -24), ao tratar do parágrafo, propõe:
A noção de parágrafo está ligada à noção de idéia central. Cada
parágrafo deve desenvolver-se em torno de uma idéia, deve ter uma certa
unidade. (...) De acordo com o tipo de tema que é proposto, podemos
organizar o parágrafo (e o texto) de diversas maneiras como:
• causa e conseqüência
• tempo e espaço
• comparação e contraste
• enumeração
• exemplificação
Como se pode verificar, o autor, ao tratar do parágrafo, considera-o como
uma unidade semântica, expandida pelo uso de argumentos, no texto-produto, de
forma a considerar conceitos gramaticais e não, especificamente, o uso de
argumentos na relação de causa e conseqüência, na temporalidade e
espacialidade, na comparação e contraste, tampouco na enumeração e na
exemplificação.
Entende-se que Pacheco trata da organização do texto-produto pelas
partes tradicionais: introdução, desenvolvimento e a conclusão. O autor deixa uma
lacuna no que se refere aos esquemas textuais do dissertativo, embora os textos
selecionados por ele e apresentados a título de exemplificação, sejam de tipos
diferentes. Logo, o autor não trata da argumentação, considerando o
institucionalizado e o discutível, como propõe Vignaux .( 1976)
Pacheco, no capítulo 5, A Redação quase Pronta, propõe uma a revisão
final do texto-produto, em menor número de páginas, em relação aos outros
capítulos. Para tanto, busca orientar seus leitores para ser conciso, podendo
eliminar, assim, as frases feitas, repetidas ou clichês; evitar períodos longos e
também frases entrecortadas; evitar a falta de paralelismo, construir uma tese
clara, construir cada parágrafo com uma idéia, utilizar sempre exemplo, dar
atenção ao título, a fim de que o texto tenha uma estrutura organizada.
No capítulo 6, Propostas Globalizantes, o autor (idem, p. 75) apresenta
um roteiro para o aluno:
Faça um levantamento de idéias; organize as idéias de acordo com
uma das diferentes formas de organização que vimos; delimite o tema, se
for necessário; escreva o desenvolvimento de acordo com a forma de
organização escolhida; escreva a introdução; escreva a conclusão; faça a
revisão final, dando um título; passe a limpo.
Agnelo Pacheco (idem, p.84) apresenta, também, um outro caminho para
solucionar o problema da produção do texto dissertativo, ou seja, tenta estimular
seu leitor a construir um texto dissertativo pela expansão de um texto opinativo
reduzido, produzido por um outro autor; por exemplo, em Propostas de redação a
partir de textos não-literários:
Leia e releia atentamente o texto dado, até
apreender-lhe o tema. Aproveite as idéias do texto e elabore uma
dissertação: “Não há instituição humana que não tenha os seus perigos.
Quanto maior a instituição, maiores as chances de abusos. A democracia é
uma grande instituição e por isso mesmo está sujeita a ser
consideravelmente abusada. Mas o remédio não é evitar a democracia e
sim reduzir ao mínimo a possibilidade de abuso”.
Logo, não se preocupa em tratar da construção textual opinativa do
aluno, como sujeito agente, seja na dimensão do texto-processo, seja na do texto-
produto, pois a opinião já está presente no texto-reduzido exemplificado.
No tocante às partes da dissertação, o autor diferencia introdução-
roteiro, introdução-tese, o desenvolvimento e as diferentes formas de organização
e conclusão-resumo, conclusão-proposta e conclusão-suspense.
Pacheco (idem, p. 6 e 57) apresenta, em relação à introdução:
A introdução normalmente apresenta a idéia central, que vai ser
discutida, de modo que o leitor já sabia do que o texto irá tratar.
Corresponde geralmente a um parágrafo. (...) A introdução deve ser escrita
após o desenvolvimento, pois é importante que ela seja coerente com as
idéias desenvolvidas. Não adianta nada o aluno escrever a introdução de
um texto antes de pensar no seu desenvolvimento, uma vez que ele pode
propor na introdução uma abordagem que acaba não sendo cumprida.
Cabe à introdução situar o leitor dentro do que vai ser discutido.
Funciona como uma apresentação, como a “cara da redação”. Ao ler a
introdução, o leitor deve estar ciente do que será discutido, deve ter idéia
da dimensão do problema e principalmente, deve ser atraído a ler o texto.
Assim visto, verifica-se que o autor não cita o esquema textual do
dissertativo de uma Tese, porém atina com as categorias textuais desse esquema
textual dissertativo, na medida em que propõe que a introdução do texto seja
produzida com um resumo do texto expandido que será a parte desenvolvimento.
Desse modo, orienta que a introdução apresente uma síntese das informações
hierarquizadas pelo sujeito-produtor, qual seja, o sujeito-produtor inicia o texto
com um conjunto de palavras e frases que situam a focalização do referente
avaliado no texto. Nesse sentido, o autor intui uma condição de produção
discursiva em que o interlocutor não é considerado pelo autor como dotado de
conhecimentos a respeito do referente avaliado, por se tratar de um iniciante na
área; por essa razão, o interlocutor não tem condições de ser persuadido e,
necessariamente, deve ser convencido.
Pacheco, também, aponta o quanto é importante que a introdução seja
cativante, para seduzir o interlocutor a continuar a leitura integral do texto.
Apresenta, também, os tipos de introdução: a introdução-roteiro, a introdução-
tese, a introdução com exemplos e a introdução-interrogação. Consoante o autor,
A introdução-roteiro refere-se ao tema a ser discutido e à forma como
o texto será organizado.
A seguir, exemplifica:
‘Discutem-se muito, hoje em dia, as causas e conseqüências da
poluição nos rios’.
Ou
‘A poluição nos rios é um problema muito sério que afeta todos nós.
Analisemos suas causas e conseqüências’.
A introdução-tese já menciona o que se pretende provar. Obviamente
a tese será retomada na conclusão, que funcionará como confirmação do
que foi exposto no começo, apoiada no desenvolvimento.
A título de exemplificação, registra:
‘A poluição nos rios é uma questão que envolve toda a comunidade:
população, indústrias, governo’.
A introdução com exemplos
é talvez, a que mais atrai a atenção e o interesse do leitor. Nela,
colocam-se exemplos de como a situação exposta ocorre, dando ao leitor toda a
dimensão do problema. É importante observar que o exemplo pode ser fictício,
funcionando como uma pequena narração que introduz o problema.
‘Milhares de peixes mortos boiando nos rios. Espumas alvas decolando da
superfície da água. Um cheiro insuportável de enxofre na avenida Marginal do rio
Tietê. Este é um quadro que revela toda a dimensão do problema’.
A introdução-interrogação
apresenta questões relacionadas ao tema. Tais questões
obviamente devem ser respondidas ao longo do texto.
‘Com a crescente poluição dos rios, como chegaremos ao terceiro
milênio?’
No que se refere ao desenvolvimento, Pacheco (idem, p. 6 e 24)
propõe:
O desenvolvimento corresponde ao desdobramento da idéia central
contida tanto no texto como no parágrafo. Corresponde à exposição dos
argumentos que vão provar a idéia contida na introdução. Pode haver um
ou mais parágrafo.
O autor, ainda, mostra as possíveis formas de organização do parágrafo e
do texto por meio de expressões indicadoras de:
Causa e conseqüência -
Substantivos: causa, motivo, razão, explicação, fonte, mãe, raízes,
base, fundamento, alicerces, o porquê, etc.
Verbos: causar, gerar, originar, produzir, acarretar, motivar, etc.
Advérbios e locuções –
conseqüentemente, em (como) decorrência, em conclusão etc.
Tempo e espaço -
Advérbios e locuções de tempo: agora, já, neste instante, ainda, ao
mesmo tempo, antes, ontem, depois, em seguida, breve, amanhã, cedo,
logo, em breve, afinal, recentemente etc.
Preposições e locuções prepositivas: após, até, desde, depois
de, antes de, etc.
Conjunções e locuções conjuntivas: à medida que, ao passo
que, à proporção que, enquanto, quando, até que, desde que,
logo que, sempre que, assim que etc.
Adjuntos adverbiais de tempo (exemplos): de 1870 a 1920, a
partir da década de 20, em 1970, no século passado, em menos
de 70 anos, etc.
Advérbios e locuções adverbiais de lugar: longe, perto, em frente,
diante, defronte, atrás, detrás, abaixo, acima, debaixo, dentro, fora, aí, ali,
cá, além, lá à direita, à esquerda, à distância, ao lado, etc.
Certas locuções prepositivas: longe de, perto de, junto a, junto de, em
frente de, diante de, defronte de, adiante de, atrás de, detrás de, por detrás
de, abaixo de, debaixo de, embaixo de, por baixo de, acima de, em cima
de, por cima de, dentro de, fora de, ao lado, ao redor de, em redor de etc.
Adjuntos adverbiais de lugar (exemplos: no Brasil, na região
Nordeste, em São Paulo, no Ceará, no centro-sul do estado, etc.
Comparação e contraste-
Comparação: como, assim como, bem como, quanto (tanto...quanto),
que ou do que (depois demais, menos, maior, menor, melhor, pior)
Contraste: de um lado...de outro lado, por outro lado, em
oposição, em contraste, ao contrário, mas, porém, contudo,
todavia, entretanto, embora, ao passo que, enquanto.
Enumeração e exemplificação-
Enumeração: em primeiro lugar, em segundo lugar, depois,
finalmente, por último, outro fator, também, ainda, em seguida, a
seguir, a primeira função, a segunda função, etc.
Exemplificação: por exemplo, como exemplo disso, assim, dessa
forma, dessa maneira, etc.
Esse autor apresenta para o dissertativo apenas alguns aspectos do
esquema textual de uma tese, pois considera a introdução um texto-síntese e trata
da progressão do texto dissertativo pelo desenvolvimento, ao afirmar que é
necessário expor o que está na introdução. Todavia, este não considera as
condições de produção discursiva, embora estas sejam muito importantes para o
sujeito-produtor saber para qual tipo de público que ele vai redigir sua opinião.
Em relação à conclusão, Pacheco (idem, p.62 -64) orienta:
Um texto não pode terminar quando todas as idéias forma
expostas.Faz-se necessário um último parágrafo que “amarre” as idéias
desenvolvidas, isto é, que sintetize e reforce a tese provada – é a
conclusão.
A conclusão pode tomar a forma de: Conclusão-resumo, Conclusão-
proposta e Conclusão-surpresa.
A conclusão-resumo é a forma mais comum de concluir o texto.
Resumem-se os aspectos abordados no desenvolvimento e apresenta-se
(ou reforça-se) a tese.
A conclusão-proposta aponta soluções para o problema tratado, ou
seja, procura saídas, medidas que possam ser tomadas. Em suma, é uma
conclusão que aponta para o futuro.
A conclusão-surpresa, bem como a introdução com exemplos, a
conclusão-surpresa possibilita uma maior liberdade de criação por parte de
quem escreve. Citações, pequenas histórias, um fato curioso, uma piada,
um final poético, são conclusões inesperadas que surpreendem o leitor,
introduzem um elemento novo e revelam alto grau de elaboração.
Algumas expressões indicadoras de conclusão: portanto, logo, assim,
dessa forma, assim, dessa forma, dessa maneira.
O autor, ao falar da conclusão do texto dissertativo, não leva em conta que
o dissertativo científico é um tipo de texto da classe opinativa que sofre
modificações, dependendo de como o auditório é representado pelo sujeito-
produtor, ou seja, o texto dissertativo pode ser de 1 Tese ou o texto dissertativo
pode ser de 2 Teses. Assim, a conclusão do texto dissertativo de 1 Tese é a
passagem do texto-reduzido para o texto-expandido, justificando a Conclusão. Já
o texto dissertativo de 2 Teses apresenta os argumentos e contra-argumentos
como uma passagem argumentativa da Tese 1 para a Tese 2, justificando a
opinião do sujeito-produtor, a fim de que ele induza o seu auditório a abandonar o
que sabia e faça-o a aceitar a nova tese, como resultado de/do julgamento de um
referente.
Por conseguinte, ambos os manuais, revistos para o estudo do
dissertativo, enquanto discursos institucionalizados na Universidade Brasileira,
não trazem explicitadas as estratégias cognitivo-textuais para a construção da
opinião, cerne do texto dissertativo, sequer os tipos de textos, convencionados na
e pela Academia, formalizadores do discurso científico acadêmico, presentes no
manual de Othon Garcia.
Entende-se, também, a importância de tratar o dissertativo pelo ato de
avaliar um referente já conhecido. Entretanto, é preciso que haja uma focalização
nova, de forma construir para ele um novo estado de coisas, a fim de tornar o seu
conhecimento social discutível, circunstanciado por um novo ponto de vista.
Dessa forma, é possível atribuir novos valores negativos ou positivos ao referente
refocalizado, qual seja, de se construir uma opinião nova.
Diante do exposto, faz-se necessário considerar o auditório para o qual o
texto dissertativo está sendo produzido. São as condições de produção discursiva
que orientarão a seleção dos esquemas textuais do dissertativo: uma Tese e duas
Teses.
Se algo pode ter um fim, o começo será também possível.
(Aristóteles, idem.)
Capítulo III – Estudos de textos dissertativos de uma Tese O capítulo precedente foi organizado com o propósito de se considerar as
leituras dos teóricos, que trataram não só do texto do tipo dissertativo, como
também dos esquemas textuais, incluindo-se autores que se aproximaram dos
teóricos, sem contudo, apresentarem um embasamento teórico científico.
3.1 Considerações iniciais
Este capítulo busca, então, apresentar um estudo de textos dissertativos de
uma Tese e, a título de exemplificação, considerados representativos desse tipo
de esquema textual. Para tanto, foram selecionados seis textos do manual
Dissertação, de Agnelo Pacheco de Carvalho (1988), privilegiados como textos
bem formados e com uma perspectiva textual, embora não haja um tratamento
teórico, fundamentado na Lingüística de Texto.
Retomando-se Silveira (1994), faz-se necessário observar que a autora
propõe o esquema textual, constituído pelas categorias: Apresentação,
Justificativa-exposição e Finalização. Em se tratando do discurso científico, a
autora aponta a sua definição por um texto reduzido e por um texto expandido.
Quanto à categoria Justificativa, esta se modifica de forma argumentativa e, por
isso, a categoria Apresentação agrupa o texto reduzido, ou sumário, e a categoria
Justificativa, a exposição, enquanto texto expandido.
A categoria Apresentação define-se como Sumário, pois, durante o
processamento das informações, agrupa os sentidos mais globais do texto,
construídos pelo próprio expositor, a partir de palavras e frases do texto que
expressam o resumo. Assim visto, esta categoria orienta o leitor, com a finalidade
de processar as informações transmitidas, pelo mesmo princípio de
interpretabilidade do cientista-expositor.
A categoria Justificativa-Exposição reúne o texto-expandido, quer dizer, os
sentidos secundários relativos às informações, que o cientista expressa para
expor os argumentos da sua descoberta. Esta categoria explicita as palavras e
frases do texto condensado, pelo fato de o locutor entender que o seu leitor, não
seja capaz de construir inferências por não ter o saber necessário, por
desconhecer a dimensão da área e o tema específico. Neste caso, tem-se o/um
texto expandido por explicitação de informações secundárias.
A categoria Finalização apresenta a conclusão, qual seja, uma opinião
perante o julgamento do cientista ao avaliar o que foi anteriormente expresso.
Como foi dito, segundo Silveira, existem duas condições de produção
discursiva que se designam: dissertativo de 1 Tese e dissertativo de 2 Teses.
Assim sendo, serão estudados neste item apenas os seis textos selecionados de
uma Tese, extraídos do manual Dissertação, de Agnelo Pacheco de Carvalho.
(1988)
3.2 TEXTO 1
Os antibióticos têm os defeitos de suas virtudes. Podem destruir,
juntos com as bactérias indesejáveis, a flora intestinal do paciente.
Também podem provocar alergias, atacar os rins, perturbar o fígado,
o aparelho digestivo e a composição do sangue. Quando
administrados a crianças, os antibióticos da família das tetraciclinas
costumam enfraquecer os ossos e manchar o esmalte dentário.
Consumidos por gestantes, tendem a provocar má-formação dos
embriões.
(Revista Superinteressante,nº.2. In Pacheco,1988:50)
3.2.1.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas categorias textuais
agrupam os sentidos em:
3.2.1.2 Categoria Texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com oito palavras que sintetizam o referente, sua
focalização e avaliações, atribuídas como forma de opinião:
• o referente do texto: antibióticos;
• a focalização: efeitos do uso dos
antibióticos;
• as avaliações: positiva (virtudes) e negativa
(defeitos).
3.2.1.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava implícito nos
vocábulos antibiótico, defeitos e virtudes do texto-reduzido:
• virtudes: destruir as bactérias indesejáveis;
• defeitos: destruir a flora intestinal do paciente,
provocar alergias, atacar os rins, perturbar o fígado, o aparelho
digestivo e a composição do sangue.
Quando administrados a crianças:
os antibióticos da família das tetraciclinas costumam
enfraquecer os ossos e manchar o esmalte dentário;
Consumidos por gestantes: tendem a provocar má-formação dos
embriões.
3.2.1.4 Categoria Conclusão
A categoria conclusão está expressa pelo maior número de valores
negativos, em relação a apenas um positivo, de forma a levar os leitores a
atribuírem aos antibióticos um valor negativo, para seu uso, que só deve ser
efetivado, quando em situação extrema. Nesse caso, o valor positivo é atribuído
ao que é expresso como circunstância, em relação ao Marco das cognições
sociais.
3.2.1.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que não é especialista no uso de
antibióticos. Dessa forma, atribui a seus interlocutores um não-saber que se deve
transformar em saber, a fim de que a opinião expressa seja aceita. Assim sendo, o
autor explicita o que estava implícito nas expressões defeitos do uso de
antibióticos e virtudes do uso de antibióticos, pois representa seu auditório como
pessoas que não têm conhecimentos específicos, armazenados em suas
Memórias de Longo Prazo.
3.2.1.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela oposição de opiniões: Marco das Cognições
Sociais – grupo social de não especialistas em uso de antibióticos – e a opinião do
autor – especialista em uso de antibióticos.
Essa oposição está organizada pela regra da causalidade.
• Causa: o uso indiscriminado de antibióticos pela
população brasileira por acreditar, segundo o Marco das Cognições
Sociais, que os antibióticos destroem as bactérias do organismo humano
e, por essa causa, recebem avaliação positiva para o seu consumo.
• Opinião dos especialistas: o uso de antibióticos
elimina as bactérias indesejáveis.
• Tese 1: A população só deve usar antibióticos,
quando estes forem necessários e a população estiver bem orientada por
um especialista.
3.2.1.7 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que os antibióticos destroem as bactérias
indesejáveis ao organismo.
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• certos antibióticos não destruam a flora intestinal;
mas é possível, também, que outros destruam;
• certos antibióticos possam provocar alergias,
atacar os rins, perturbar o fígado, o aparelho digestivo e a composição do
sangue, mas é possível que outros não;
• os antibióticos da família das tetraciclinas possam,
quando usados em certas crianças, enfraquecer os ossos e manchar o
esmalte dentário, mas é possível que, em outras crianças, isso não
aconteça;
• os antibióticos consumidos por certas gestantes
possam provocar má-formação dos embriões, mas é possível que para
outras gestantes não haja tal prejuízo.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua tese, todavia estas não são
suficientes para uma generalização que oriente a população ao não-uso de
antibióticos:
• provas: o uso de antibióticos causa a destruição da flora
intestinal, provoca alergias, ataca os rins, perturba o fígado, o aparelho
digestivo e a composição do sangue; os antibióticos da família das
tetraciclinas enfraquecem os ossos e mancham o esmalte dentário; os
antibióticos usados por gestantes provocam a má-formação dos embriões;
• provas não suficientes: o uso dos antibióticos não prejudicam
todas as pessoas que os consomem.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade, utilizados
pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte de Marco de Cognições Sociais dos leitores, pelo fato de
conhecerem pessoas que já sofreram os prejuízos acima citados. Por esta razão,
os leitores do texto acatam a Tese do autor.
e) Argumento de reforço
O autor se preocupa em reforçar os argumentos que contêm a avaliação
negativa do uso de antibióticos, minimizando, assim, o valor positivo desse uso.
3.2 TEXTO 2
Existe uma nova tendência ecológica que está crescendo nos Estados Unidos: o
restauracionismo. Essa corrente diz que não basta brecar a devastação da natureza
causada pelo ser humano; é preciso restaurar o que já foi destruído, e aí o homem entra
como um aliado da natureza, e não como seu adversário “natural”.
(Adapt. De Dagomir Marquezi, O Estado de S.Paulo, 16/02/88. In
Pacheco, 1988:15)
3.2.2.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em:
3.2.2.2 Categoria texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com treze palavras que sintetizam o
referente, sua focalização e avaliações atribuídas como forma de opinião:
• o referente do texto: restauracionismo;
• a focalização: o efeito (brecar e restaurar)
do restauracionismo;
• as avaliações: positiva (restauração) e
negativa (a devastação).
3.2.2.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava
implícito na palavra restauracionismo , retomada como nova tendência, no texto-
reduzido, ainda que a explicitação seja pequena, em número de palavras
o restauracionismo: não basta brecar a devastação da natureza
causada pelo ser humano; é preciso restaurar o que já foi destruído.
3.2.2.4 Categoria conclusão
A categoria conclusão está expressa por valor positivo, atribuído ao
restauracionismo e por um valor negativo, ao movimento ecológico, segundo qual, basta brecar a devastação da natureza causada pelo ser humano. Nesse
sentido, o valor positivo é atribuído ao que é expresso como circunstância, em
relação ao Marco das Cognições Sociais, possibilitando concluir-se que o homem
passa a ser aliado da natureza e deixa de ser o seu adversário natural.
3.2.2.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório desconhecedor do que seja
restauracionismo. Nesse momento, atribui a seus interlocutores um não-saber que
deve ser transformado em saber, com a finalidade da opinião expressa ser aceita.
Assim sendo, o autor explicita o que estava implícito nas expressões: o
restauracionismo e uma nova tendência ecológica, pois representa seu auditório
como pessoas que não têm conhecimentos armazenados sobre o referente do
texto, em suas Memórias de Longo Prazo.
3.2.2.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela oposição de opiniões: Marco das
Cognições Sociais (grupo social que desconhece o restauracionismo e a opinião
dos que conhecem o restauracionismo).
Essa oposição está organizada pela regra da causalidade.
• Causa: o conhecimento social de que o homem
precisa brecar a devastação da natureza, segundo o Marco das
cognições sociais, é avaliado como negativo, pois não é o suficiente
para o término da devastação.
• Opinião dos especialistas: o meio ambiente, que
foi devastado, precisa ser restaurado.
• Tese 1: ao restaurar, o homem se torna aliado
da natureza e deixa de ser seu adversário natural.
3.2.2.7 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese :
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que o problema da devastação seja
resolvido pelo brecar e restaurar a devastação da natureza.
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• Restauracionismo, como nova tendência ecológica,
resolverá o desequilíbrio ecológico, causado pela destruição da
natureza; mas é possível, também, que não resolva.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua tese, todavia estas
não são suficientes para uma generalização, quer dizer, apenas brecar a
devastação não é suficiente, faz-se necessário restaurar a natureza.
• provas: o que é devastado, sendo reconstruído, recupera o
seu estado inicial.
• provas não suficientes: o restauracionismo pode não
resolver todas as destruições como, por exemplo, a inundação de
grandes áreas produtivas, para se fazer uma hidroelétrica.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade,
utilizados pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as informações
expressas, no texto, fazem parte do Marco de Cognições Sociais dos leitores, que
conhecem a devastação da natureza causada pelo homem. Dessa forma, os
leitores do texto acatam a Tese do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor não se preocupa em reforçar os argumentos, na medida em
que o texto é expresso com um número reduzido de palavras por se tratar de uma
adaptação textual.
3.2 TEXTO 3
De certa maneira, instintivamente, se conhece a ação das cores. Ninguém
associa emoções fortes, que fazem disparar o coração, com tonalidades suaves e, muito
menos escuras. A paixão, por exemplo, é eternamente simbolizada por corações
vermelhos. Já quando se está desanimado, a tendência é usar roupas de cores frias. Nas
pesquisas sobre preferências de cores, invariavelmente a maioria das pessoas que vivem
em grandes cidades escolhe o azul – talvez numa busca nostálgica de tranqüilidade.
Se as cores estimulam as pessoas, há quem acredite que podem até curar
doenças, cada matiz fornecendo energia para uma parte específica do organismo. Por
exemplo, os indianos praticam até hoje a terapia cromática na sua forma tradicional e
milenar, expondo a água que será servida ao doente à luz do sol, sob filtros coloridos. A
água ficaria, assim energizada com uma certa cor, da qual o organismo estaria carente.
Os cientistas sabem que determinadas cores precisam ser evitadas
em certas situações. Por exemplo, objetos de cor laranja ou vermelha tendem
a deixar os doentes mentais mais confusos. Nos quartos dos hospitais
modernos, as paredes estão sendo pintadas de cores suaves em substituição
ao clássico branco. Isso porque o branco traz tamanha sensação de paz que,
em pessoas deprimidas por causa de doenças, podem acabar resultando numa
impressão de solidão. Parece claro que, se há cores que devem ser abolidas
em alguns casos, também devem existir cores com excelentes efeitos
terapêuticos.
(Revista Superinteressante, nº 2, 1988. In Pacheco, 1988:53)
3.2.3.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em:
3.2.3.2 categoria Texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com dez palavras que sintetizam o
referente, sua focalização e avaliações atribuídas como forma de opinião:
• o referente do texto: as cores.
• a focalização: a ação das cores sobre os
homens.
• as avaliações: positiva (bons efeitos) e
negativa (maus efeitos).
3.2.3.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava implícito
nas palavras cores: bons efeitos e maus efeitos do texto-reduzido.
• Cores: tonalidades suaves, escuras, vermelhas, frias, azul,
laranja, branca.
• Bons efeitos: invariavelmente, a maioria das pessoas que
vivem em grandes cidades escolhe o azul, talvez numa busca
nostálgica de tranqüilidade,
• A paixão, por exemplo, é eternamente simbolizada por
corações vermelhos.
• Há quem acredite que as cores podem até curar
doenças: os indianos praticam, até hoje, a terapia cromática, na sua
forma tradicional e milenar, expondo a água, que será servida ao
doente à luz do sol, sob filtros coloridos. A água ficaria, assim
energizada, com uma certa cor, da qual o organismo estaria carente.
• Maus efeitos: quando se está desanimado, a tendência é
usar roupas de cores frias;
• objetos de cor laranja ou vermelha tendem a deixar os
doentes mentais mais confusos;
nos quartos dos hospitais modernos, as paredes estão sendo
pintadas de cores suaves, em substituição ao clássico branco. Este
fato, ou seja, o clássico branco traz tamanha sensação de paz que,
em pessoas deprimidas por causa de doenças, pode acabar
resultando numa impressão de solidão.
3.2.3.4 Categoria conclusão
A categoria conclusão está expressa por valores positivos, com relação ao
uso discriminado de cores, de forma a levar os leitores a atribuírem um valor
negativo ao uso indiscriminado das cores, por não saberem quais cores devem ser
usadas, embora o seu uso seja intuitivo.
3.2.3.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que não é especialista na
ação discriminada dos efeitos das cores sobre os homens, mas que as usam de
forma intuitiva, indiscriminadamente. Desse modo, atribui a seus interlocutores um
não-saber que deve ser transformado em saber, com a finalidade de a opinião
expressa seja aceita. Assim sendo, o autor explicita o que estava implícito nas
expressões bons efeitos das cores e os maus efeitos das cores, pois representa
seu auditório como pessoas que não têm conhecimentos armazenados em suas
Memórias de Longo Prazo, a respeito do uso discriminado das cores.
3.2.3.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela oposição de opiniões: Marco das
Cognições Sociais - grupo social de não especialistas em efeitos das cores que,
intuitivamente, atribuem valor positivo à ação de todas as cores - e a opinião do
autor - especialista em efeito das cores que atribui valor positivo à ação de umas e
valor negativo à ação de outras.
Essa oposição está organizada pela regra da causalidade.
• Causa: o uso intuitivo, indiscriminado, das cores
pela população brasileira, segundo o Marco das cognições sociais,
aponta que as cores têm influência sempre benéfica sobre a vida
humana e, por causa disso, elas recebem avaliação positiva para o
seu uso indiscriminado.
• Opinião de especialista: o uso indiscriminado das cores apresenta
maus efeitos de forma mais significativa do que
bons efeitos para o homem.
• Tese 1: A população humana precisa saber
quais cores podem/devem ser usadas para se conseguir a ação
objetivada.
3.2.3.7 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) argumento de necessidade
É necessariamente verdade que as cores influenciam a vida das
pessoas.
b) argumento de possibilidade
É possível que:
• alguns indivíduos, desanimados, demonstrem a tendência de usar
roupas de cores frias, mas é possível, também,
que outros, não;
• invariavelmente, a maioria das pessoas que vivem em grandes
cidades, podem escolher o azul, talvez numa busca nostálgica de
tranqüilidade, mas é possível, também que para outros não haja
essa mesma escolha;
• alguns acreditem que as cores possam até curar
doenças, cada matiz fornecendo energia para uma parte
específica do organismo (...), mas é possível, também, que haja
quem não acredite nisso.
• os objetos de cor laranja ou vermelha
apresentem uma tendência a deixar certos doentes mentais mais
confusos, mas é possível que isso não aconteça com todos.
• o branco traga tamanha sensação de paz que, em
certas pessoas deprimidas por causa de doenças, possa acabar
resultando em uma impressão de solidão, mas é possível, que
isso não aconteça com todas as pessoas deprimidas.
c) argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia
estas não são suficientes para uma generalização a respeito da
cromoterapia:
• provas: quando se está desanimado, a tendência é
usar roupas de cores frias; invariavelmente, a maioria das
pessoas que vivem em grandes cidades escolhe o azul – há
quem acredite que as cores possam até curar doenças, cada
matiz fornecendo energia para uma parte específica do
organismo. Por exemplo, os indianos praticam, até hoje, a
terapia cromática na sua forma tradicional e milenar, expondo a
água, que será servida ao doente, à luz do sol, sob filtros
coloridos.(...); objetos de cor laranja ou vermelha tendem a
deixar os doentes mentais mais confusos; nos quartos dos
hospitais modernos, as paredes estão sendo pintadas de cores
suaves, em substituição ao clássico branco. Este fato, ou seja,
o clássico branco pode causar tamanha sensação de paz , em
pessoas deprimidas por causa de doenças, que pode acabar
resultando em uma impressão de solidão.
• provas não suficientes: a ação das cores sobre os
homens, expostas no texto, não influenciam todas as
pessoas da mesma forma.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e
probabilidade, utilizados pelo autor são argumentos de legitimidade, pois as
informações expressas, no texto, fazem parte do Marco de Cognições Sociais, de
forma que os leitores podem ter acesso a elas, pois conhecem pessoas que
receberam a ação das cores com o seu uso, em determinadas situações. Dessa
forma, os leitores do texto acatam a Tese do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os argumentos que
atribuem tanto valor positivo ao uso discriminado quanto negativo ao
indiscriminado, embora o reforço dos argumentos de valor positivo seja em maior
número.
3.4 TEXTO 4
Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas
ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por
convenção, se encerra o modernismo (1900-1950). Ele nasce com a
arquitetura e a computação nos anos 50. Toma corpo com a arte Pop nos anos
60. Cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70 como crítica da cultura
ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e
no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o
cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores), sem que
ninguém saiba se é decadência ou renascimento cultural.
(Jair Ferreira dos Santos, O que é pós-moderno. In Pacheco, 1988: 61)
3.2.4.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas
categorias textuais agrupam os sentidos em:
3.2.4.2 Categoria texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com vinte e oito palavras que
sintetizam o referente, sua focalização e avaliações atribuídas como forma de
opinião:
• o referente do texto: o pós-modernismo;
• a focalização: as mudanças ocorridas no
percurso do pós-modernismo, desde suas
origens;
• as avaliações: positiva (renascimento
cultural) e negativa ( decadência).
3.2.4.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava
implícito nas palavras do texto-reduzido: mudanças nas ciências, nas artes e nas
sociedades avançadas, de forma a situá-las no tempo. Assim:
• ele nasce com a arquitetura e computação
nos anos 50;
• toma corpo com a arte Pop nos anos 60;
• cresce ao entrar pela filosofia, durante os
anos 70 como crítica da cultura ocidental;
• Amadurece hoje, alastrando-se na moda, no
cinema, na música e no cotidiano
programado pela tecnociência (ciência +
tecnologia, invadindo o cotidiano com
alimentos processados até
microcomputadores).
3.2.4.4 Categoria conclusão
A categoria conclusão está expressa por valores positivo e
negativo, pois há certas pessoas que atribuem às mudanças causadas pelo pós-
modernismo um valor negativo, e há outras pessoas que atribuem a elas um valor
positivo. O autor conclui que essas opiniões são imaturas, pois não há ainda
condições de se ter uma opinião concludente e definitiva.
3.2.4.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que não sabe o que é
o pós-modernismo. Dessa forma, atribui a seus interlocutores um não-saber que
deve ser transformado em saber, com a finalidade de a opinião expressa ser
aceita. Assim sendo, o autor explicita o que estava implícito nas expressões pós-
modernismo e mudanças, no percurso do tempo.
3.2.4.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela oposição de opiniões: opinião do grupo
social 1, especialista em pós-modernismo X a opinião do grupo social 2,
especialista em pós-modernismo e X a opinião do autor, especialista em pós-
modernismo.
Essa oposição está organizada pela regra da causalidade.
• causa: são as divergências existentes entre os
especialistas em pós-modernismo, de forma a atribuir a ele tanto valor
positivo quanto negativo, ao definirem o que é esse movimento.
• Opiniões dos especialistas: o pós-modernismo é
decadência cultural por ser valor negativo X o pós-modernismo, um
renascimento cultural por ser valor positivo.
• Tese 1: não se sabe, ainda, se as mudanças que definem o pós-
modernismo são decadência ou renascimento cultural; por isso, seus
críticos são representados com valor negativo. Ver o ponto
3.2.4.7 o uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese :
a) argumento de necessidade
É necessariamente verdade que o pós-modernismo é a
tendência cultural que aparece, a partir de 1950.
b) Argumento de possibilidade
É possível que, no futuro:
• as mudanças do pós-modernismo sejam uma
decadência cultural;
• as mudanças do pós-modernismo sejam um
renascimento cultural.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua tese, todavia estas não
são suficientes para uma generalização, em que o pós-modernismo,
ainda, esteja em uma situação de imaturidade para receber avaliação
positiva ou negativa.
• Provas: o pós-modernismo nasce com a arquitetura e a
computação, nos anos 50; toma corpo com a arte Pop, nos anos 60;
cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70 como crítica da cultura
ocidental; amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música
e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia
invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até
microcomputadores).
• provas não suficientes: o percurso de mudanças expressas não
abarca todas as mudanças efetivas, conseqüenciadas pelo pós-
modernismo.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade, utilizados
pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte do Marco de Cognições Sociais dos especialistas em pós-
modernidade. Dessa forma, a seleção utilizada pelo autor busca argumentar, com
os seus leitores a respeito da validade da sua opinião.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os argumentos que sustentam o pós-
modernismo, quer dizer, é uma mudança que está, ainda, acontecendo nas artes,
ciências e sociedade, de forma a traçar um breve percurso histórico.
3.2 TEXTO 5
Aos poucos, os cabos de cobre usados nos entroncamentos de telefonias das
capitais brasileiras vão cedendo lugar às fibras óticas.
Entre Rio de Janeiro e São Paulo, já são mais de 90 quilômetros de cabos de
fibra ótica em funcionamento; em Porto Alegre, a substituição estará terminada em
poucos meses. Um cabo com 36 fibras óticas permite 16280 ligações e só tem 1,9
centímetro de diâmetro. Um cabo de cobre com capacidade para 1 800 chamadas tem 8
centímetros de diâmetro”.
(Revista Superinteressante, nº. 2,1988.
In Pacheco, 1988:65)
3.2.5.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas categorias textuais
agrupam os sentidos em:
3.2.5.2 Categoria Texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com vinte palavras que sintetizam o referente,
sua focalização e as avaliações atribuídas como forma de opinião.
• o referente do texto: cabos de fibra ótica;
• a focalização: a troca de cabos de cobre
por cabos de fibra ótica;
• as avaliações: positiva (mais eficaz) e
negativa (menos eficaz).
3.2.5.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava implícito nas
palavras do texto-reduzido: cabos de cobre e cabos de fibra ótica .
• Ceder lugar: entre Rio de Janeiro e São Paulo, já
são mais de 90 quilômetros de cabos de fibra ótica em funcionamento; em
Porto Alegre, a substituição estará terminada em poucos meses.
• Cabo de fibra ótica: um cabo com 36 fibras óticas
permite 16280 ligações e só tem 1,9 centímetro de diâmetro;
• Cabo de cobre: um cabo de cobre com
capacidade para 1 800 chamadas tem 8 centímetros de diâmetro.
3.2.5.4 Categoria conclusão
A categoria conclusão não está expressa por palavras no texto, mas pode
ser construída pelos leitores como: a substituição de cabos de cobre por cabos de
fibra ótica torna a telefonia mais eficaz.
3.2.5.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que não é especialista em cabos
de telefonia. Dessa forma, atribui a seus interlocutores um não-saber que deve ser
transformado em saber, com a finalidade de a opinião expressa ser aceita. Assim
sendo, o autor explicita o que estava implícito nas expressões: cabo de cobre e
cabo de fibra ótica, pois representa seu auditório como pessoas que não têm
conhecimentos armazenados em suas Memórias de Longo Prazo, a respeito de
cabos telefônicos.
3.2.5.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela diferença numérica da capacidade dos cabos
de cobre, com relação aos cabos de fibra ótica: menor capacidade para os cabos
de cobre e maior capacidade para os cabos de fibra ótica. Tal conhecimento faz
parte apenas da cognição social de especialistas em cabos telefônicos. Diante
desse quadro, a opinião do autor é positiva, com relação à atual mudança de
cabos telefônicos, no Brasil.
Essa oposição está organizada pela regra da causalidade.
• Causa: avanços tecnológicos que produzem
cabos de fibra ótica mais capaz à telefonia.
• Opinião dos especialistas: a fibra ótica torna a
telefonia mais capaz e mais moderna.
Tese 1: a mudança de cabos de cobre por cabos de fibra ótica torna a
telefonia brasileira mais eficaz.
3.2.5.7 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que os cabos de fibra ótica estejam mais
capacitados que os cabos de cobre e que a mudança para os de fibra ótica esteja
ocorrendo no Brasil:
Entre Rio de Janeiro e São Paulo, já são mais de 90 quilômetros de cabos de
fibra ótica em funcionamento; em Porto Alegre, a substituição estará terminada em
poucos meses. Um cabo com 36 fibras óticas permite 16280 ligações e só tem 1,9
centímetro de diâmetro. Um cabo de cobre com capacidade para 1 800 chamadas tem 8
centímetros de diâmetro. Fonte
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• os cabos de cobre ainda sejam eficazes,
embora os de fibra ótica sejam mais eficazes;
• os cabos de fibra ótica venham substituir
todos os cabos de cobre, tornando a telefonia brasileira mais eficaz.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia tais provas
não são suficientes para uma generalização, ao afirmar que a mudança para
cabos de fibra ótica ocorrerá em todo o Brasil.
• provas: entre Rio de Janeiro e São Paulo, já são mais
de 90 quilômetros de cabos de fibra ótica em funcionamento; em Porto
Alegre, a substituição estará terminada em poucos meses.
• provas não suficientes: os trechos indicados com a mudança de
cabos de cobre por cabos de fibra ótica não são suficientes para uma
generalização.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade, utilizados
pelo autor são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte dos conhecimentos do grupo social de especialistas em
telefonia e podem ser confirmados pelos leitores. Assim, os leitores podem acatar
a Tese do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor reforça os argumentos que contêm a avaliação positiva da troca de
cabos de cobre pelos de fibra ótica, embora esse reforço seja de poucos
argumentos além dos que já foram apontados nos itens sobre o uso de tipos de
argumentos, neste capítulo.
3.2 TEXTO 6
Os fatores da desaceleração inflacionária, neste começo de 1988, são três.
Primeiro, houve uma acumulação indesejada de estoques no comércio e na indústria,
devido à grande frustração de vendas em fins de ano passado. Para reduzir tais estoques
excessivos, têm sido promovidas grandes liquidações que, enquanto perdurarem,
provocarão reduções de preços, desacelerando a taxa média da inflação. O segundo
fator, o agravamento da recessão, atuará ao longo de um período de tempo um pouco
maior. O nível de atividade da indústria está ainda acima do fluxo de vendas aos
consumidores finais, requerendo uma queda ponderável, talvez entre 3% e 5% dos
volumes de produção e emprego, ao longo deste primeiro semestre de 1988. Enquanto o
processo de ajuste estiver ocorrendo, haverá algum excesso de oferta, ajudando a reduzir
a aceleração inflacionária. Finalmente, houve uma redução, infelizmente temporária, das
expectativas sobre um novo congelamento. Como muitas empresas aumentaram
excessivamente seus preços, no passado, temendo a volta dos controles escritos, há
agora folga em suas margens de lucro, para absorver aumentos de custos, sem repasse
aos preços.
(Joaquim Elói Cirne de Toledo, em Folha de S. Paulo. In
Pacheco, 1988:51)
3.2.6.1 Esquema textual
O esquema textual é o dissertativo de uma Tese, cujas categorias textuais
agrupam os sentidos em:
3.2.6.2 Categoria texto-reduzido
O autor inicia o seu texto com onze palavras que sintetizam o referente,
sua focalização e avaliação atribuída como forma de opinião:
• o referente do texto: a inflação.
• a focalização: a desaceleração.
• a avaliação: positiva (desaceleração da
inflação) e negativa (a aceleração da inflação).
3.2.6.3 Categoria texto-expandido
O autor expande o seu texto pela explicitação do que estava implícito no
texto-reduzido: nas palavras três fatores de desaceleração inflacionária.
• Primeiro fator - houve uma acumulação indesejada de estoques no
comércio e na indústria, devido à grande frustração de vendas em fins do
ano passado. Para reduzir tais estoques excessivos, têm sido promovidas
grandes liquidações que, enquanto perdurarem, provocarão reduções de
preços, desacelerando a taxa média da inflação.
• Segundo fator - o agravamento da recessão, atuará ao longo de
um período de tempo um pouco maior. O nível de atividade da indústria
está ainda acima do fluxo de vendas aos consumidores finais, requerendo
uma queda ponderável, talvez entre 3% e 5% dos volumes de produção e
emprego, ao longo deste primeiro semestre de 1988. Enquanto o
processo de ajuste estiver ocorrendo, haverá algum excesso de oferta,
ajudando a reduzir a aceleração inflacionária.
• Terceiro fator - houve uma redução, infelizmente temporária, das
expectativas sobre um novo congelamento. Como muitas empresas
aumentaram excessivamente seus preços, no passado, temendo a volta
dos controles escritos, há agora folga em suas margens de lucro, para
absorver aumentos de custos, sem repasse aos preços.
3.2.6.4 Categoria conclusão
A categoria conclusão está expressa por valor positivo, de modo a levar
os leitores a acreditarem que a desaceleração inflacionária oferecerá a eles a
oportunidade de comprar produtos com um custo reduzido.
3.2.6.5 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que não é especialista em
desaceleração inflacionária. Atribui, assim, a seus interlocutores um não-saber
que deve ser transformado em saber, com a finalidade de a opinião expressa ser
aceita. Nesse sentido, o autor explicita o que estava implícito nas expressões três
fatores da desaceleração inflacionária, pois representa seu auditório como
pessoas que não têm conhecimentos armazenados em suas Memórias de Longo
Prazo a respeito da situação econômica brasileira.
3.2.6.6 A organização textual da opinião
O texto está organizado pela apresentação da opinião do autor -
especialista em desaceleração inflacionária - pois, no Marco das Cognições
Sociais dos seus leitores, há uma lacuna a respeito de conhecimentos sobre esse
assunto - desaceleração da inflação - o que os impede de formular uma opinião.
A opinião do autor está organizada pela regra da causalidade, aplicada a
cada fator de desaceleração:
• Causas: 1) houve uma acumulação indesejada de estoques no
comércio e na indústria, devido à grande frustração de vendas em
fins do ano passado. 2) O nível de atividade da indústria está ainda
acima do fluxo de vendas aos consumidores finais, requerendo
uma queda ponderável, talvez entre 3% e 5% dos volumes de
produção e emprego, ao longo deste primeiro semestre de 1988.
Enquanto o processo de ajuste estiver ocorrendo, haverá algum
excesso de oferta, ajudando a reduzir a aceleração inflacionária. 3)
Como muitas empresas aumentaram excessivamente seus preços,
no passado, temendo a volta dos controles escritos, há agora folga
em suas margens de lucro, para absorver aumentos de custos,
sem repasse aos preços.
Isto posto, a desaceleração inflacionária atual é positiva para a queima de
estoque. A opinião do autor apresentada como Tese 1: a desaceleração
inflacionária pela queima de estoque é positiva para que a população tenha
acesso ao produto com menor preço.
• Opinião dos especialistas: a desaceleração
inflacionária decorre do excesso de produtos em estoque que propicia
liquidações.
• Tese 1: A desaceleração inflacionária é positiva
para o povo, comércio e a indústria pelo aumento do consumo de
produtos em oferta com preços baixos.
3.2.6.7 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese :
a) Argumento de necessidade
È necessariamente verdade que a desaceleração inflacionária fez com
que os comerciantes abaixassem os preços dos produtos. Essa afirmação é
generalizável.
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• a aceleração do comércio seja positiva para a desaceleração da
inflação;
• a atual aceleração do comércio seja muito rápida e temporária,
tornando-se negativa para a desaceleração da inflação.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua tese, todavia estas não são
suficientes para uma generalização sobre o valor positivo da atual
desaceleração inflacionária.
Provas: houve uma acumulação indesejada de estoques no comércio e
na indústria, devido à grande frustração de vendas em fins de ano passado, ou
seja, em 1987.
• para reduzir tais estoques excessivos, têm sido promovidas grandes
liqüidações que, enquanto perdurarem, provocarão reduções de preços,
desacelerando a taxa média da inflação.
• o agravamento da recessão atuará ao longo de um período de tempo
um pouco maior. O nível de atividade da indústria está ainda acima
do fluxo de vendas aos consumidores finais, requerendo uma queda
ponderável, talvez entre 3% e 5% dos volumes de produção e
emprego, ao longo deste primeiro semestre de 1988.
• enquanto o processo de ajuste estiver ocorrendo, haverá algum
excesso de oferta, ajudando a reduzir a aceleração inflacionária.
• finalmente, houve uma redução, infelizmente temporária, das
expectativas sobre um novo congelamento. Como muitas empresas
aumentaram excessivamente seus preços, no passado, temendo a volta
dos controles escritos, há agora folga em suas margens de lucro, para
absorver aumentos de custos, sem repasse aos preços.
Provas não suficientes: a atual desaceleração inflacionária pode ser
negativa, na medida em que a grande procura e o grande consumo podem
contribuir para o retorno da inflação.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade, utilizados
pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, têm relação com o que é experienciado socialmente, naquele momento,
pelos leitores. Nesse caso, os leitores acatam a Tese do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os argumentos que contêm a avaliação
positiva da desaceleração inflacionária, minimizando, assim o seu valor negativo.
3.3 Resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de uma tese e discussões
Os resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de uma Tese
indicam que:
3.3.1 O esquema textual do dissertativo de uma Tese
Há um esquema textual para o dissertativo expositivo que defende uma
Tese. Esse resultado obtido das análises dos textos, apresentados na Manual de
Agnelo Pacheco (1988), confere com o resultado obtido por Silveira (1994), em
relação ao esquema textual de uma Tese, que organiza o discurso científico.
Como esse esquema é produzido na instituição universitária, também é designado
dissertativo acadêmico.
Conforme Othon Garcia (1967), o dissertativo de uma Tese é designado
dissertativo expositivo; já o de duas Teses, para o autor é designado dissertativo
argumentativo.
Segundo Aurélio (1975),
• expor – [Do lat. Exponere.] V.t.d. 1. Colocar em
perigo; arriscar:expor a vida. 2. Contar, narrar, referir: expor um fato. 3.
Explicar, desenvolver, explanar, interpretar. 4. Fazer conhecer; revelar;
descobrir. 5. Deixar ver; revelar, mostrar, patentear. 6. Pôr à vista;
apresentar em exposição; mostrar. 7. Deixar a descoberto; tornar
evidente. 8. Abandonar (uma criança). T. d. e i. 9. Pôr à vista; apresentar
em exposição; mostrar, apresentar, exibir. 10. Sujeitar à ação de: expor a
pele ao sol; expor aos olhos. 11. Tornar conhecido ou evidente. 12.
Colocar em perigo; arriscar. 13. Narrar, contar, referir. 14. Revelar,
descobrir. 15. Exibir-se, mostrar-se. 16. Arriscar-se, sujeitar-se, aventurar-
se. 17.Oferecer-se, desguarnecer-se, desproteger-se. 18. Colocar-se em
circunstância de sofrer algum dano: expor-se ao sereno.[Irreg. Conjuga-se
como pôr (q.v. )]
• Expositivo. [do lat.expositu, ‘exposat’] 1.
respeitante à exposição. 2. que expõe, descreve, apresenta.
Sendo assim, a ação de expor uma Tese (opinião) pode ser predicada
por: Explicar, desenvolver, explanar, interpretar; Fazer conhecer; Deixar ver;
revelar, mostrar; Pôr à vista, apresentar em exposição, descrever; Mostrar, Deixar
a descoberto, tornar evidente; Pôr à vista; apresentar em exposição.
As predicações apresentadas são adequadas à designação proposta por
Othon Garcia (idem); todavia essa designação não dá conta do esquema textual
de uma tese nem das condições discursivas da organização textual.
O esquema textual do dissertativo de uma Tese tem três categorias: o
texto-reduzido, o texto-expandido e a conclusão:
1. No que se refere à categoria texto-reduzido, os autores dos textos-
produto podem ou não iniciar seus textos com palavras que sintetizam o referente,
sua focalização e avaliações (positiva) e (negativa), atribuídas como forma de
opinião-tese a ser defendida. Muitos textos dissertativos podem trazer o texto-
reduzido na progressão ou finalização do texto-produto que é linear e está situado
na produção enunciativa. Dessa forma, há liberdade para se selecionar aquilo que
é iniciado, que progride e termina linearmente o texto-produto, a saber, aquilo que
está representado em língua.
2. No que se refere à categoria texto-expandido, os autores expandem por
explicitações o que estava implícito na redução proposta a respeito do referente,
da focalização e da avaliação atribuída pelo produtor textual. A seqüência das
exposições obedece à ordem das palavras enunciadas como texto-reduzido e
decorrem de um processo analítico que explicita as partes do todo que está
agrupado no texto-reduzido. Esse resultado obtido confere com Silveira (1994,
2004), ao afirmar que a categoria texto-reduzido agrupa as palavras que
expressam em língua uma macro-poposição. Essa estratégia é argumentativa,
pois o autor constrói para seu leitor um sentido mais geral, impedindo-o de fazê-lo
por si só. Tal estratégia é produtiva, pois como o leitor não tem saber a respeito do
referente e da focalização dada, acata com maior facilidade aquilo que o autor
deseja alcançar, isto é fazer com que o outro aceite a sua opinião.
3. No que se refere à categoria conclusão, os valores positivos ou
negativos, aí se encontram agrupados de forma a levar os leitores a atribuírem ao
referente um valor positivo ou negativo, conforme a opinião do autor. Sendo
assim, o valor positivo ou negativo é atribuído ao que é expresso como
circunstância, focalização nova dada ao referente, em relação ao Marco das
Cognições Sociais, qual seja, a focalização velha, já sabida.
Logo, um esquema textual define-se por categorias e regras de
ordenação; tal esquema é um modelo mental que participa do texto-processo e
das Cognições Sociais, de modo a ser utilizado para a organização tipológica de
textos. Assim sendo, a construção da linearidade do texto-produto, em expressões
lingüísticas, é orientada pelo esquema, mas não o reproduz sempre linearmente.
(cf. Kintsch & van Dijk, 1983)
3.3.2 A condição de produção discursiva
No que se refere à condição de produção discursiva, os autores dos textos
dirigem-se a um auditório, constituído por eles, com pessoas que não têm
conhecimentos, armazenados na Memória Social de Longo Prazo, a respeito do
tema e/ou da área tratada. Assim visto, atribuem a seus interlocutores um não-
saber que deve se transformar em saber, a fim de que a opinião expressa pelo
autor seja aceita pelos seus leitores. Assim sendo, os autores explicitam o que
estava implícito nas palavras do texto-reduzido.
A estratégia utilizada pelo autor é construir para o leitor os conhecimentos
selecionados pelo próprio autor para justificar a sua opinião. Por esta razão, o
texto-reduzido é definido por uma macro-proposição, sentido mais global e o texto-
expandido, como sentidos secundários, que, em seu conjunto, progridem a
redução proposta.
Esse resultado confere com os resultados obtidos por Silveira (1994, 2004).
3.3.3 A organização textual da opinião
No que se refere à organização textual da opinião, os textos estão
organizados por elementos que apresentam predicações com pontos de
intersecção e de diferença entre si.
A relação entre esses termos está organizada pela regra da causalidade,
como forma de justificativa da Tese defendida pelo autor, ou seja, como forma de
avaliação dos termos apresentados. O texto está, assim, tecido com a opinião de
especialistas ou não especialistas a serem avaliadas na Tese 1 do autor.
• Causa
• Opinião de (não) especialistas
• Tese 1 do autor.
3.3.4 O uso de argumentos
No que se refere ao uso de tipos de argumentos, os resultados obtidos
indicam que, conforme a justificativa, se relaciona com a conclusão, pois há uma
modalidade que percorre da necessidade, passa pela possibilidade até atingir a
probabilidade.
Assim visto, os autores usam argumentos de necessidade, quando as
provas apresentadas são generalizáveis. O uso de argumentos de probabilidade
implica que a prova apresentada não é suficiente para haver a generalização
proposta pelo autor. O uso de argumentos de possibilidade constrói dois mundos
possíveis, na incerteza do futuro: é possível que este fato ocorra no mundo 1 e é
possível que isto não ocorra no mundo 2. Esses usos de argumentos conferem
resultados apresentados por Van Dijk (1978), ao tratar da estrutura da
argumentação.
O uso dos argumentos, no texto, indica que o texto-expositivo é tão
argumentativo quanto o dissertativo argumentativo, proposto por Othon Garcia
(1967). Por isso, os resultados contrariam as designações, propostas por esse
autor.
Os argumentos de necessidade, probabilidade e possibilidade dão
legitimidade argumentativa ao autor. Este recorre aos argumentos para usá-los
junto às formas de conhecimentos sociais que constroem o Marco das Cognições
Sociais de especialistas na questão tratada. Convém observar que a presença de
especialistas está diretamente ligada ao discurso científico que se modifica no
acadêmico.
Os argumentos de reforço reiteram formas de conhecimento que são
justificativas da tese do autor. De forma geral, os argumentos de reforço priorizam
o ponto de vista do seu autor, cujo objetivo é levar seus leitores a aderirem à
opinião que é Tese 1.
Em síntese, os resultados obtidos indicam que o dissertativo de uma Tese
é um tipo de texto da classe opinativa, que sofre modificações, dependendo da
maneira como o auditório é representado pelo produtor de texto. Em relação ao
uso dos argumentos do dissertativo de uma Tese, os resultados obtidos indicam
que texto-expandido é a justificativa da tese do autor, quando possibilita ao
auditório o/um fazer-saber. Nesse sentido, o autor prova a validade de sua
conclusão pelo princípio da cooperatividade com seus leitores.
Algo que pode ter um começo
pode ter também um fim; pois nenhuma coisa impossível é ou começa a ser.
(Aristóteles, idem)
CAPÍTULO IV- Análise do texto dissertativo de duas Teses: o interlocutor possui o saber interiorizado, tanto da área quanto da especificidade do tema
Neste capítulo, são apresentados os resultados obtidos das análises
de textos dissertativos de duas Teses que direcionam os leitores a abandonar a
Tese 1 e a acatar a Tese 2. A título de exemplificação, são apresentados seis
textos, também, selecionados dos exemplos oferecidos por Agnelo Pacheco
(1988) e considerados, após análise, representativos desse tipo de esquema
textual.
4.1 Considerações iniciais
Retomando-se Silveira (1994), faz-se necessário observar que a autora
propõe o esquema textual, constituído pelas categorias: Tese Anterior (Tese 1),
Justificativa-argumentos/Contra-argumentos e Tese Posterior (Tese 2).
Há modificação desta estrutura em relação à do dissertativo de Tese 1.
Sendo assim, durante o processamento das informações, o leitor agrupa na
categoria Premissa as informações referentes à Tese Anterior; a categoria
Justificativa agrupa Contra-Argumentos à Tese Anterior e Argumentos para a
defesa da Tese Posterior.
A Tese Posterior é definida pela conclusão que o cientista declara,
assegurando-a como verdade. Logo, o discurso envolvente com relação ao discurso da narrativa da descoberta, pelo cientista, é caracterizado pelo uso de
argumentos de probabilidade, na medida em que o cientista apresenta seus
resultados como prova. No entanto, tais resultados, ainda que provados, não são
suficientes para construir generalizações teóricas e/ou metodológicas que o
cientista realiza com a sua Conclusão; por esta razão é uma forma de opinião.
Como foi dito, segundo Silveira, existem duas condições de produção
discursiva que se designam: dissertativo de 1 Tese e dissertativo de 2 Teses. Dos
textos estudados, serão analisados, neste item . Dos textos estudados, serão
analisados, neste item, apenas seis textos de duas Teses, extraídos do manual
Dissertação, de Agnelo Pacheco de Carvalho. (1988)
4.2 Texto 1
Não há comicidade fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá
ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de um
animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem ou certa
expressão humana. Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um pedaço
de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que
ele assumiu. Como é possível que fato tão importante, em sua simplicidade, não tenha
merecido atenção mais acurada dos filósofos? Já se definiu o homem como “um animal
que ri”. Poderia também ter sido definido como um animal que faz rir, pois se outro animal
conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela
característica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele fez.
(Henri Bérgson, O riso. In Pacheco 1988: 2)
4.2.1.1 Esquema textual:
O esquema textual é o dissertativo de duas teses, cujas categorias textuais
agrupam os sentidos em :
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual = o animal humano
a focalização: riso
Tese 1 : O homem é um animal que ri.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 1: o riso faz parte da genética humana.
opinião da Tese 1: O homem é o animal que ri.
avaliação positiva: o homem é o único animal que ri
b) Categoria contra-argumentos :
• (riremos de uma paisagem)
• riremos de um animal
• riremos de um chapéu
c) Categoria argumentos da Tese2:
• Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou
feia, porém jamais risível.
• Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele
uma atitude de homem ou certa expressão humana.
• Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um
pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o
molde da fantasia humana que ele assumiu.
d) Categoria tese posterior (Tese 2) :
o referente textual: o animal humano
a focalização: ações humanas que provam o riso
Tese 2 : O homem é um animal que faz rir.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 2: as fantasias humanas (molde humano)
opinião da Tese 2: As ações humanas, guiadas por fantasias e projetadas
no acontecimento no mundo, fazem rir: pois se outro animal conseguisse, ou
algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela característica
impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele fez.
Avaliação positiva: o homem é o único animal que faz rir outro homem ou
por si só, devido às suas fantasias.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão está expressa por um valor positivo, de modo a
fazer os leitores a aceitarem a nova Tese: qualquer coisa no mundo pode ser
motivo de riso, desde que seja atingida por ações, guiadas pela fantasia do
homem.
4.2.1.2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber interiorizado
da Tese 1 sobre o riso; assim, há necessidade de persuadir o auditório, para que
este abandone a Tese anterior já conhecida, e dê adesão à nova Tese que está
sendo defendida pelo cientista: Como é possível que fato tão importante, em sua
simplicidade, não tenha merecido atenção mais acurada dos filósofos? Já se
definiu o homem como um animal que ri. Poderia também ter sido definido como
um animal que faz rir...
4.2.1.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, por uma diferença entre Tese 1
e a Tese 2, ambas do conhecimento do autor, porém apenas a primeira é do
conhecimento dos leitores. Essa diferença é organizada pela complementaridade:
não só, mas também. Assim, tem-se o homem não é apenas como o animal que
ri, mas o animal que faz rir os homens. A regra da causalidade é aplicada como
termo da categoria Justificativa. A opinião do autor é a avaliação positiva, atribuída
à Tese2.
4.2.1.4 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumentos de necessidade
• é necessariamente verdade que uma paisagem, um
chapéu, um animal não sejam risíveis (contra-argumento): o homem não é
um animal que ri de qualquer coisa);
• é necessariamente verdade que o homem é um animal
que ri;
• é necessariamente verdade que o homem é o animal que
faz outros homens rirem (argumento: o homem é o único animal que faz
os homens rirem de qualquer coisa).
b) Argumentos de possibilidade
É possível que:
• o homem não seja o único animal que ri (outros
animais riem);
• homem seja o único animal que ri e faz rir.
c) Argumentos de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua tese, todavia estas não são
suficientes para uma generalização que a fantasia humana seja a causa do riso.
• provas: Não há comicidade fora do que é propriamente
humano: Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante
ou feia, porém jamais risível. Riremos de um animal, mas porque teremos
surpreendido nele uma atitude de homem ou certa expressão humana.
Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um pedaço de
feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia
humana que ele assumiu. Já se definiu o homem como um animal que ri,
mas o homem é o animal que faz rir.
• provas não suficientes: Não são todas as ações humanas,
guiadas pela fantasia, molde humano aplicado às coisas do mundo, que
causam o riso
d) Argumentos de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade utilizados
pelo autor são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte do Marco das Cognições Sociais dos leitores do texto que
conhecem a origem do riso. Dessa forma, os leitores do texto abandonam a Tese
anterior e acatam a Tese nova do autor
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os contra-argumentos da Tese 1, ao
mesmo tempo que reforça os argumentos da Tese 2, pois esta complementa
aquela:
Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia,
porém jamais risível.
• Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele
uma atitude de homem ou certa expressão humana.
• Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um
pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu o molde
da fantasia humana que ele assumiu.
4.2 Texto 2 - Os microcomputadores: uma ameaça?
A expansão tecnológica prossegue acelerada nestes últimos anos, modificando
dia a dia a feição e os hábitos de nossa sociedade. Talvez a maior novidade, que começa
a preocupar os observadores, seja a revolução informática e suas conquistas mais
recentes : videogames, vídeo cassetes e, principalmente, os microcomputadores, que
começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja manipulação já é acessível não só aos
adultos leigos, mas até às crianças. Isso indica que entramos na era do computador e que
uma revolução da mente acompanhará a revolução informática.
Essa revolução iminente vem alertando os responsáveis pela educação das
crianças e jovens para a ameaça de robotização que o uso regular dos computadores,
introduzidos nas escolas e fora delas, poderá provocar nas mentes em formação.
Para neutralizar tal ameaça, faz-se urgente a descoberta (ou a adoção) de
métodos ativos que estimulem a energia criativa dos novos. E principalmente se faz
urgente que as novas gerações descubram a leitura estimuladora ou criadora e através
dela alcancem a formação humanística (Literatura, História, Filosofia, Ciências Humanas
e Artes em geral) que lhes dará base cultural indispensável para serem no futuro os
criadores de programas que a nova era vai exigir. E não os programadores obsessivos
em que forçosamente se transformarão em pouco tempo, “robotizados” pela automação
exigida para uso dos computadores.
Em lugar de lutarmos contra esse novo instrumento da civilização e do
progresso, urge que nos preparemos para dominá- lo.
( Nelly Novaes Coelho, Panorama histórico da literatura infantil/ juvenil. In
Pacheco, 1988: 7 )
4.2.2.1 Esquema textual do dissertativo de duas Teses
O esquema textual é o dissertativo de duas Teses, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em :
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual: o uso regular do computador.
a focalização: educação de crianças e jovens para viverem no futuro
Tese 1: o uso regular dos computadores, introduzidos nas escolas e fora
delas, poderá provocar nas mentes em formação a robotização.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 1: Talvez a maior novidade, que começa a preocupar os
observadores, seja a revolução informática e suas conquistas mais recentes :
videogames, vídeo cassetes e, principalmente, os microcomputadores, que
começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja manipulação já é acessível não
só aos adultos leigos, mas até às crianças. Isso indica que entramos na era do
computador e que uma revolução da mente acompanhará a revolução informática.
opinião do autor a respeito da Tese 1: A revolução da mente
acompanhará a revolução informática.
avaliação: negativa para a Tese 1: o uso inadequado do computador
robotiza a mente dos jovens.
b) Categoria contra argumentos:
• o uso regular de computadores, introduzidos nas escolas
e fora delas, robotiza quando não há uma formação humanística do aluno;
• E não os programadores obsessivos em que
forçosamente se transformarão em pouco tempo, robotizados pela
automação exigida para uso dos computadores.
c) Categoria argumentos da Tese 2:
• Para neutralizar tal ameaça, faz-se urgente a descoberta
(ou a adoção) de métodos ativos que estimulem a energia criativa dos
novos.
• E principalmente se faz urgente que as novas gerações
descubram era vai exigir. a leitura estimuladora ou criadora e através dela
alcancem a formação humanística (Literatura, História, Filosofia, Ciências
Humanas e Artes em geral) que lhes dará base cultural indispensável
para serem no futuro os criadores de programas que a nova
d) Categoria Tese posterior (Tese 2):
o referente textual: uso regular do computador por crianças e jovens a
focalização: educação criativa de crianças e jovens para o uso regular do
computador
Tese 2: o uso regular dos computadores, introduzidos nas escolas e fora
delas, não provocará a robotização nas mentes em formação se houver o
suporte da formação humanística que estimula a criatividade delas.
A opinião é organizada por dois termos:
causa da Tese 2: Essa revolução iminente vem alertando os responsáveis
pela educação das crianças e jovens para a ameaça de robotização que o
uso regular dos computadores, introduzidos nas escolas e fora delas,
poderá provocar nas mentes em formação.
opinião da Tese 2: A formação humanística torna adequado o uso regular
do computador.
avaliação positiva: as crianças criativas com mentes criativas não são
robotizadas.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão está expressa por um valor positivo, de modo a
fazer os leitores a aceitarem a nova tese: Em lugar de lutarmos contra esse novo
instrumento da civilização e do progresso, urge que nos preparemos para dominá-
lo.
4.2. 2. 2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber interiorizado
sobre a robotização da mente de crianças e jovens, no futuro, pelo uso regular
atual do computador, na escola e fora dela. Sendo assim, ele tem a intenção de
persuadir o auditório a abandonar a tese anterior, já conhecida, e dar adesão à
nova Tese que está sendo defendida pelo autor.
4.2.2.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, por uma diferença entre Tese 1 e
a Tese 2, ambas do conhecimento do autor, porém apenas a primeira é do
conhecimento dos leitores. Essa diferença é organizada pela oposição:
• lutar contra esse novo instrumento da civilização e do progresso
para evitar que seu uso regular provoque a robotização das mentes de
seus usuários.
• não lutar contra esse novo instrumento da civilização e do
progresso e nos prepararmos para dominá-lo com a formação
humanística dos usuários
A regra da causalidade é aplicada como termo da categoria Justificativa da opinião
do autor que contém a avaliação positiva, atribuída à Tese 2.
4.2.2.4 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que:
• exista o uso regular de computadores por crianças e
jovens, na escola e fora dela;
• a escola atual não privilegie a formação humanística;
• estejamos assistindo a uma intensa e rápida expansão
tecnológica, particularmente, na área da computação.
a) Argumento de possibilidade
É possível que:
• no futuro, o uso regular de computadores robotize seus
atuais usuários (crianças e jovens);
• no futuro, o uso regular de computadores não robotize
seus atuais usuários (crianças e jovens) que tiverem formação
humanística na escola, sem a descoberta (ou a adoção) de métodos
ativos que estimulem a energia criativa dos novos.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia estas não são
suficientes para uma generalização de que o uso regular do computador,
acompanhado de formação humanística, propiciará mentes criativas e produtivas.
Provas:
• a expansão tecnológica prossegue acelerada nestes
últimos anos, modificando dia a dia a feição e os hábitos de nossa
sociedade;
• talvez a maior novidade, que começa a preocupar os
observadores, seja a revolução informática e suas conquistas mais
recentes: videogames, vídeo cassetes e, principalmente, os
microcomputadores, que começam a fazer parte do nosso cotidiano;
• a manipulação das conquistas recentes já é acessível
não só aos adultos leigos, mas também até às crianças e jovens;
• estamos na era do computador;
• essa revolução iminente vem alertando os
responsáveis pela educação das crianças e jovens para a ameaça de
robotização;
• há métodos ativos que estimulam a energia criativa
dos novos; a leitura estimuladora ou criadora e através dela, busca-se
alcançar a formação humanística (Literatura, História, Filosofia, Ciências
Humanas e Artes em geral) que faz parte do currículo escolar.
Provas não suficientes:
• não são métodos novos ou os já
existentes na escola que propiciarão o domínio do computador pela
mente criativa;
• apenas uma formação humanística tal qual
nossa atual escola propõe que propiciará mentes criativas.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade utilizados
pelo autor são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte do Marco das Cognições Sociais dos leitores do texto que
conhecem a expansão tecnológica, a era dos computadores e o uso regular que
tem sido feito por crianças e jovens, dentro e fora da escola; conhecem, também,
as disciplinas curriculares e seus programas. Dessa forma, os leitores do texto
abandonam a Tese anterior e acatam a Tese nova do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar menos os contra-argumentos da Tese 1
e mais os argumentos da Tese 2, na medida em que tais argumentos estejam
situados na incerteza do futuro, a saber, o que acontecerá com as mentes dos
atuais usuários regulares de computadores.
4.2 TEXTO 3 O aumento da natalidade parece resultar, em certas sociedades, de
transformações psicossociológicas.
Havia antigamente, no esquema tradicional, certo número de costumes cujo
efeito, voluntário ou não, era limitar a natalidade: interdição do casamento das viúvas,
importância do celibato religioso, poliandria, interdição das relações sexuais em certos
períodos, interdição da exogamia. Esses fatores que de algum modo limitavam a
natalidade estão hoje sensivelmente esfumados. Há, por vezes, a vontade mais ou menos
consciente de expansão demográfica nas populações minoritárias ou nos povos que
vêem no crescimento dos seus efetivos um aumento das forças que podem opor a seus
adversários (é, por exemplo, o caso do Paquistão diante da Índia). Porém, no essencial, o
aumento da natalidade resulta das melhorias sanitárias que foram realizadas nos países
subdesenvolvidos, os antibióticos fazem recuar as causas de esterilidade devidas a
moléstias infecciosas.
(Yves Lacoste, Os países subdesenvolvidos.In Pacheco, 1988:26)
4.2.3.1 Esquema textual:
O esquema textual é o dissertativo de duas Teses, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em:
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual: a natalidade.
a focalização: o aumento controlado.
Tese 1: Existe, hoje, o controle da natalidade para melhorar a qualidade
de vida dos grupos sociais : O aumento da natalidade, em certas
sociedade, são transformações psicossociológicas.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 1: Havia antigamente, no esquema tradicional, certo
número de costumes cujo efeito, voluntário ou não, era limitar a
natalidade: interdição do casamento das viúvas, importância do celibato
religioso, poliandria, interdição das relações sexuais em certos períodos,
interdição da exogamia.
opinião do autor a respeito da Tese 1: Esses fatores que de algum modo
limitavam a natalidade estão hoje sensivelmente esfumados.
a avaliação: negativa para a Tese 1: o controle da natalidade, com o
esquema tradicional para limitar a natalidade deixou de ser eficaz.
b) Categoria contra argumentos da Tese 1: Com a mudança social,
devido a embates entre povos, aparecem outras causas para a defesa do
aumento da natalidade: Há, por vezes, a vontade mais ou menos consciente
menos consciente de expansão demográfica nas populações minoritárias ou nos
povos que vêem no crescimento dos seus efetivos um aumento das forças que
podem opor a seus adversários (é, por exemplo, o caso do Paquistão diante da
Índia).
c) Categoria argumentos da Tese 2: As melhorias sanitárias realizadas
nos países subdesenvolvidos causaram um aumento da natalidade, combatendo
as doenças que esterilizavam as pessoas, por meio de antibióticos.
d) Categoria Tese posterior (Tese 2):
o referente textual: a natalidade.
a focalização : aumento.
Tese 2: O aumento da natalidade, nos grupos sociais, não está controlada
hoje.
A opinião é organizada por dois termos:
causa da tese 2: As melhorias sanitárias, os antibióticos fazem recuar as
causas de esterilidade devidas a moléstias infecciosas.
opinião da Tese 2: avalia como positivo - a diminuição da mortandade e
da esterilidade propiciam o aumento da natalidade nos países
subdesenvolvidos.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão está implícita: com o aumento da natalidade, a
qualidade de vida das pessoas está comprometida.
4.2.3.2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber interiorizado
sobre o aumento controlado da natalidade, devido a transformações
psicossociológicas. Sendo assim, ele tem a intenção de persuadir o auditório a
abandonar a tese anterior, já conhecida, e dar adesão à nova Tese que está
sendo defendida pelo autor.
4.2.3.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, pela oposição entre Tese
1(aumento controlado) e a Tese 2 (aumento sem controle), ambas do
conhecimento do autor, porém apenas a primeira é do conhecimento dos leitores.
Essa diferença é organizada pela oposição:
• há controle da natalidade: o aumento controlado da
natalidade é o resultado das transformações psicossociológicas.
• o aumento sem controle da natalidade é o resultado das
melhorias sanitárias e do uso de antibióticos.
A regra da causalidade é aplicada como termo da categoria Justificativa
da opinião do autor. Este contém a avaliação positiva, atribuída à Tese 2.
4.2.3.4 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos a seguir, na medida em que
relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que:
• o aumento controlado da natalidade decorreu de
transformações psicossociológicas;
b) Argumento de possibilidade
É possível que: o aumento descontrolado da natalidade piore a qualidade
de vida das pessoas. Há grupos sociais que não controlam a natalidade para
aumentar o número de pessoas que ocuparão novos territórios, bem como para
serem mortos em guerras.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia estas não
são suficientes para uma generalização de que o aumento descontrolado da
natalidade seja devido às melhorias sanitárias e o uso de antibióticos, nos países
em desenvolvimento.
Provas:
• Havia antigamente, no esquema tradicional, certo
número de costumes cujo efeito, voluntário ou não, era limitar a
natalidade: interdição do casamento das viúvas, importância do celibato
religioso, poliandria, interdição das relações sexuais em certos períodos,
interdição da exogamia. Esses fatores que de algum modo limitavam a
natalidade estão hoje sensivelmente esfumados.
• Há, por vezes, a vontade mais ou menos consciente
de expansão demográfica nas populações minoritárias ou nos povos que
vêem no crescimento dos seus efetivos um aumento das forças que
podem opor a seus adversários (é, por exemplo, o caso do Paquistão
diante da Índia).
• Porém, no essencial, o aumento da natalidade resulta
das melhorias sanitárias que foram realizadas nos países em
desenvolvimento, os antibióticos fazem recuar as causas de esterilidade
devidas a moléstias infecciosas.
Provas não suficientes:
• o aumento da natalidade não decorre
apenas da consciência da expansão demográfica nas populações
minoritárias ou nos povos que acreditam no aumento de forças.
• o aumento da natalidade não é só devido
às melhorias sanitárias e do uso de antibióticos.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e probabilidade utilizados
pelo autor são argumentos de legitimidade, pois as informações expressas, no
texto, fazem parte do Marco das Cognições Sociais dos leitores do texto. Assim,
embora tais leitores saibam que o aumento da natalidade está controlado devido a
transformações psicossociológicas, abandonam a Tese anterior e acatam a tese
nova do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar mais os contra-argumentos da Tese 1 e
menos os argumentos da Tese 2. Tal reforço decorre dos argumentos de
legitimidade que fazem parte do Marco das Cognições Sociais dos leitores.
4.2 TEXTO 4
No mês passado aconteceu um congresso chamado Restaurando a Terra, em
Berkeley, Califórnia. Participaram dele 800 cientistas, representantes das indústrias e do
governo, todos devidamente preocupados com as catástrofes previstas por causa do
catástrofes previstas por causa do desrespeito ao meio ambiente. Nesse congresso foram
analisados projetos como o de restauração da vida selvagem no litoral do Estado de New
Jersey. Uma empresa especializada aterrou pântanos, abriu canais para rejuvenescer o
fluxo das marés, criou colinas artificiais para que os patos selvagens colocassem os seus
ninhos. Os resultados já são visíveis – os pássaros estão voltando à região. O projeto
custou até agora 4 milhões de dólares. Muito dinheiro?É nada. É o preço que se paga a
um astro de cinema americano para realizar um único filme. É o dinheiro que circula em
algumas poucas horas em Brasília em comissões, presentes e outras formas de
corrupção branda.
( Adapt. de Dagomir Marquesi, O Estado de S.Paulo. In Pacheco, 1988:14)
4.2.4.1 Esquema textual:
O esquema textual é o dissertativo de duas Teses, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em:
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual: a restauração do meio ambiente
a focalização: o gasto excessivo e inútil
Tese 1 atribuída ao governo brasileiro: (Brasília) restaurar o meio
ambiente para evitar catástrofes é excessivamente caro e inútil.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 1: o valor excessivo em gastos para executar projetos de
restauração do meio ambiente
Tese 1: a restauração do meio ambiente exige um valor excessivo para
pouco sucesso.
a avaliação negativa do autor: a restauração do meio ambiente não é
cara: Muito dinheiro? É nada.
b) Categoria contra-argumentos :
• É o preço que se paga a um astro de cinema
americano para realizar um único filme
b) Categoria argumentos da tese 2:
• É o dinheiro que circula em algumas poucas
horas em Brasília em comissões, presentes e
outras formas de corrupção branda.
d) Categoria Tese posterior (Tese 2) :
referente textual = a restauração do meio ambiente.
a focalização: gasto necessário para a
restauração.
Tese 2 : A restauração da natureza é útil e a
verba gasta é nunca excessiva: Muito
dinheiro?É nada.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 2: O governo brasileiro,
embora diga que não tenha verba, o gasto para a restauração é
excessivo.No entanto, se o gasto é excessivo e inútil com a
corrupção branda, é porque existe verba.
Argumentos: o governo brasileiro tem muita verba;
O governo brasileiro gasta inutilmente a
sua verba;
O governo brasileiro gasta uma verba
excessiva para manter a corrupção branda.
a avaliação positiva da opinião do autor:
Gastar dinheiro com a restauração do meio
ambiente é necessário e útil à Nação.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão compreende os sentidos agrupados
em: a grande verba recolhida pelo governo brasileiro é mal gasta e mal distribuída.
4.2.4.2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber
interiorizado da Tese 1 sobre o gasto excessivo para se restaurar a natureza;
assim, há necessidade de persuadir os leitores, com o propósito de o auditório
abandonar a Tese anterior, já conhecida, e dê adesão à nova Tese que está
sendo defendida pelo cientista. As duas Teses apresentadas mantêm entre si uma
relação de oposição.
4.2.4.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, por uma oposição
entre Tese 1 e a Tese 2, ambas do conhecimento do autor, porém apenas a
primeira é do conhecimento dos leitores. Essa diferença é organizada pela
oposição: políticos que gastam muito dinheiro com a corrupção branda e não têm
verba para a restauração da natureza e aqueles que não gastam a verba
governamental e desconhecem o quanto se gasta com a corrupção branda. A
regra da causalidade é aplicada como termo da categoria Justificativa. A opinião
do autor é a avaliação negativa, atribuída à Tese 1 e positiva à Tese 2.
4.2.4.4 o uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos a seguir, na medida em
que relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
• é necessariamente verdade que pessoas precisam gastar
grandes verbas para a restauração da natureza;
• é necessariamente verdade que os políticos brasileiros
não gastam dinheiro com a restauração da natureza;
• é necessariamente verdade que aconteceu um congresso
chamado Restaurando a Terra, em Berkeley, Califórnia.
Participaram dele 800 cientistas, representantes das
indústrias e do governo, todos devidamente preocupados
com as catástrofes previstas por causa do desrespeito ao
meio ambiente.
• É necessariamente verdade que nesse congresso foram
analisados projetos como o de restauração da vida
selvagem no litoral do Estado de New Jersey. Uma
empresa especializada aterrou pântanos, abriu canais
para rejuvenescer o fluxo das marés, criou colinas
artificiais para que os patos selvagens colocassem os
seus ninhos
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• a execução de projetos dos cientistas americanos
restaurem totalmente a natureza;
• a execução de projetos dos cientistas americanos não
restaurem totalmente a natureza destruída;
• os políticos brasileiros queiram restaurar a nossa
natureza e deixem de ter gastos excessivos com a
corrupção branda;
• os políticos brasileiros continuem a não gastar com a
restauração da natureza para continuarem a ter
gastos excessivos com a corrupção branda.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia
estas não são suficientes para uma generalização de que a verba necessária para
a restauração de nossa natureza não seja excessiva.
• provas: 800 cientistas, representantes das indústrias e do
governo, todos devidamente preocupados com as
catástrofes previstas por causa do desrespeito ao meio
ambiente.
• Nesse congresso foram analisados projetos como o de
restauração da vida selvagem no litoral do Estado de New
Jersey.
• Uma empresa especializada aterrou pântanos, abriu canais
para rejuvenescer o fluxo das marés, criou colinas artificiais
para que os patos selvagens colocassem os seus ninhos.
Os resultados já são visíveis – os pássaros estão voltando
à região.
• O projeto custou até agora 4 milhões de dólares.
provas não suficientes: os gastos com a execução de projetos
dos cientistas americanos não são suficientes para generalizar
que a verba a ser investida na restauração da natureza
brasileira não seja excessiva.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e
probabilidade, utilizados pelo autor, são argumentos de legitimidade, uma vez que
muitas das informações expressas, no texto, fazem parte do Marco das
Cognições Sociais dos seus leitores, que conhecem as catástrofes existentes,
quais sejam, chuvas excessivas e secas intensas, a utilidade de saná-las, bem
como a necessidade de restauração da natureza destruída. Dessa forma, os
leitores do texto podem abandonar a Tese anterior e acatar a Tese nova do autor
do texto.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os contra-argumentos da
Tese 1, ao mesmo tempo em que reforça os argumentos da Tese 2, pois esta se
opõe àquela.
4.5 TEXTO 5
[...] Nesta sociedade a criança passou a ser uma ameaça ao lucro, ao
bem-estar dos adultos, ao poder. A criança só ocupa um lugar enquanto
assusta, enquanto é um problema. Daí surge a necessidade de controlá-la, de
manipulá-la para que possamos ficar tranqüilos. O Código de Menores, que não
é um Código dos Direitos do Menor, pois trata especificamente da assistência e
vigilância dos filhos de famílias pobres, é o meio eficaz para resolver todo este
problema apresentado pela criança. A divulgação constante de infrações
cometidas pelos menores suaviza de uma maneira sutil a violência silenciosa
do alto índice de mortalidade infantil, a violência econômica e política, como
também aquela violência cruel emanada das instituições fechadas. A opressão
permanente contra as famílias desses menores, identificados como integrantes
de uma população perigosa, não pode ser ignorada, frente à destituição do
pátrio poder que hoje faz parte da rotina de qualquer vara de menores na
exportação de nossas crianças.
Raras vezes encontramos o menor na situação de vítima, porém neste
caso, a atenção não vai além do discurso do amor e compreensão. Quase
sempre o encontramos na situação do réu, porém não temos sequer
oportunidade nestas ocasiões de tecer alguma crítica à sociedade.
(Lia Junqueira, em O Estado de S.Paulo. In Pacheco, 1988:61)
4.2.5.1 Esquema textual:
O esquema textual é o dissertativo de duas Teses, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em : parei aqui a formatação
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual: O Código de Menores
a focalização: a violência infantil - criança réu.
Tese 1: O Código de Menores se define por um
Código dos Direitos do Menor, por tratar
especificamente da assistência e vigilância dos
filhos de famílias pobres, por isso é o meio eficaz
para resolver todo este problema apresentado pela
violência infantil.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da tese 1: a divulgação freqüente da
violência infantil.
opinião do autor a respeito da tese 1: A criança só
ocupa um lugar enquanto assusta, enquanto é um
problema;
a avaliação: negativa para a Tese 1: O Código de
Menores não respeita os direitos da criança.
b) Categoria contra argumentos:
A divulgação constante de infrações cometidas pelos
menores é suavizada de uma maneira sutil :
• a violência silenciosa do alto índice de mortalidade
infantil;
• a violência econômica e política;
• como também aquela violência cruel emanada das
instituições fechadas;
c) Categoria argumentos da Tese 2:
Há, em nossa sociedade atual, embora não divulgada:
• a violência silenciosa do alto índice de mortalidade
infantil;
• a violência econômica e política;
• a violência cruel emanada das instituições fechadas;
d) Categoria Tese posterior (Tese 2):
o referente textual: O Código de Direitos do Menor
a focalização : criança vítima .
Tese 2: O Código de Menores não é um Código dos
Direitos do Menor, pelo fato de tratar especificamente
da assistência e vigilância dos filhos de famílias pobres;
logo, não é o meio eficaz para resolver todo este
problema apresentado pela criança.
A opinião é organizada por dois termos:
causa da Tese 2: a publicação do Código de Menores.
opinião da Tese 2: : Quase sempre encontramos o
menor na situação de réu, porém não temos sequer oportunidade nestas ocasiões
de tecer alguma crítica à sociedade.
avaliação positiva: As crianças que cometem as
infrações são vítimas do poder de uma sociedade
desestruturada, não tratada pelo Código de Menores.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão está expressa por um valor negativo,
atribuído ao Código de Menores, de forma a levar os leitores a aceitar a nova
Tese: A opressão permanente contra as famílias desses menores, identificados
como integrantes de uma população perigosa, não pode ser ignorada frente à
destituição do pátrio poder que hoje faz parte da rotina de qualquer vara de
menores na exportação de nossas crianças.
4.2.5.2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber
interiorizado, sobre a divulgação constante da violência infantil, fato este que
propiciou a publicação de O Código de Menores. Assim visto, o autor tem a
intenção de persuadir o auditório a abandonar a Tese de que tal Código sana o
problema; conseqüentemente, o autor espera a adesão à nova Tese que está
sendo defendida pelo autor do texto.
4.2.5.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, pela oposição entre
Tese 1 e Tese 2, ambas do conhecimento do autor, no entanto, apenas a primeira
é do conhecimento dos leitores. Essa oposição é organizada por:
• O Código de Menores dá assistência e vigilância aos filhos de
famílias pobres, de forma a evitar a violência infantil;
• O Código de Menores não é um Código dos Direitos do Menor: A
opressão permanente contra as famílias desses menores,
identificados como integrantes de uma população perigosa, não
pode ser ignorada, frente à destituição do pátrio poder que hoje faz
parte da rotina de qualquer vara de menores na exportação de
nossas crianças..
A regra da causalidade é aplicada como termo da categoria Justificativa
da opinião do autor, que contém a avaliação negativa, atribuída ao Código de
Menores e sua relação com os direitos do menor.
4.2.5.4 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em
que relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumento de necessidade
É necessariamente verdade que:
• O Código de Menores foi publicado.
• O Código de Menores foi elaborado, objetivando resolver o
problema social do menor.
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• o Código de Menores tenha sido elaborado
intencionalmente para controlar e manipular o menor; o
Código de Menores tenha sido elaborado sem a
intenção de controle e manipulação do menor e de sua
família;
• as infrações cometidas pelos menores sejam
divulgadas para suavizar de uma maneira sutil a
violência silenciosa do alto índice de mortalidade
infantil, a violência econômica e política, como também
aquela violência cruel emanada das instituições
fechadas; assim também, é possível que não tivessem
essa finalidade;
• a criança só ocupa um lugar enquanto assusta,
enquanto é um problema. Daí surge a necessidade de
controlá-la, de manipulá-la para que possamos ficar
tranqüilos; mas é possível que a criança ocupe um
lugar sem ser problema.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese, todavia
estas não são suficientes para uma generalização de que o Código de Menores
não seja um Código dos Direitos do Menor.
provas:
• O Código de Menores, que não é um Código dos Direitos do
Menor, pois trata especificamente da assistência e vigilância dos
filhos de famílias pobres, é o meio eficaz para resolver todo este
problema apresentado pela criança.
• A divulgação constante de infrações cometidas pelos menores.
• A opressão permanente contra as famílias desses menores,
identificados como integrantes de uma população perigosa, não
pode ser ignorada frente à destituição do pátrio poder que hoje
faz parte da rotina de qualquer vara de menores na exportação de
nossas crianças;
• O menor é apresentado como réu;
• Raramente, o menor é apresentado como vítima.
provas não suficientes: as provas apresentadas não são
suficientes para a generalização de que o Código de Menores não trata dos
direitos da criança e de suas famílias.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e
probabilidade, utilizados pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as
informações expressas, no texto, relativas à violência infantil fazem parte do
Marco das Cognições Sociais dos leitores. Todavia, estes não conhecem o Código
de Menores. Dessa forma, os leitores do texto abandonam a Tese anterior (o
Código de Menores trata dos direitos infantis) e acatam a Tese nova do autor ( o
Código de Menores não trata dos direitos infantis).
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar tanto os contra-
argumentos da Tese 1 quanto os argumentos da Tese 2.
4.6 TEXTO 6
Vemos que o ser humano não criou a vida no planeta e
não tem direito de destruí-la, como está fazendo. Não se trata apenas de uma
questão moral, mas de sobrevivência. E se o homem destruiu tanto, não lhe
resta outra saída hoje senão usar a sua capacidade técnica para restaurar o
que foi destruído pela sua própria capacidade técnica. Não criamos a vida, mas
podemos ajudar a recriá-la.
Adapt. de Dagomir Marquesi, O Estado de S.Paulo. In Pacheco,
1988:14)
4.2.6.1 Esquema textual:
O esquema textual é o dissertativo de duas Teses, cujas categorias
textuais agrupam os sentidos em :
a) Categoria Tese anterior (Tese 1)
o referente textual: destruição da vida no
planeta.
a focalização: interesses e necessidades do
homem.
Tese 1 : O homem tem o direito de destruir a vida no planeta para satisfazer
suas necessidades e interesses.
A opinião é organizada por dois termos : O
ser humano tem o direito de destruir a
natureza para sua própria satisfação.
causa da Tese 1: as necessidades e interesses do
homem.
opinião da Tese 1: O homem não criou a vida no planeta,
mas julga ter o direito de destruí-la para satisfação própria.
a avaliação negativa do autor: o homem não é o
criador da vida no planeta, não tem o direito de
destruí-la.
b) Categoria contra-argumentos :
• Vemos que o ser humano não criou a vida no
planeta e não tem direito de destruí-la, como está
fazendo.
c) Categoria argumentos da Tese 2:
• Não se trata apenas de uma questão moral, mas
de sobrevivência.
• Se o homem destruiu a vida no planeta terá de restaurá-la.
• O homem terá de restaurar a vida no planeta por meio de sua
própria capacidade técnica que vem usando para destruí-la.
d) Categoria Tese posterior (Tese 2) :
o referente textual = a vida no planeta.
a focalização: restauração.
Tese 2 : O homem que vem destruindo a vida
no planeta, deve restaurá-la com sua
capacidade técnica.
A opinião é organizada por dois termos :
causa da Tese 2: a atual destruição humana
da vida no planeta devido á sua capacidade
técnica de modificar a natureza.
opinião da Tese 2: Como o homem usou a
sua capacidade técnica para destruir a vida
no planeta, este deverá, também, usar a sua
capacidade técnica para restaurá-la; é uma
questão de sobrevivência.
avaliação positiva: o homem tem técnicas
para restaurar a vida no planeta.
e) Categoria conclusão da Tese 2 :
A categoria conclusão está expressa por um valor positivo, de forma
a influenciar os leitores a aceitarem a nova Tese: Não criamos a vida, mas
podemos ajudar a recriá-la.
4.2.6.2 A condição de produção discursiva
O autor do texto dirige-se a um auditório que possui o saber
interiorizado da Tese 1 - o direito de destruição da natureza para satisfazer as
necessidades e interesses humanos -; assim, há necessidade de persuadir os
interlocutores, para que o auditório abandone a Tese anterior já conhecida e dê
adesão à nova Tese que está sendo defendida pelo cientista: E se o homem
destruiu tanto, não lhe resta outra saída hoje senão usar a sua capacidade técnica
para restaurar o que foi destruído pela sua própria capacidade técnica.
4.2.6.3 A organização textual da opinião
A opinião está organizada, textualmente, por uma oposição entre
Tese 1 e a Tese 2, ambas do conhecimento do autor, porém apenas a primeira é
do conhecimento dos leitores. Essa diferença é organizada pela oposição: o
homem destruidor da vida no planeta X o homem restaurador da vida no planeta.
A regra da causalidade (a sobrevivência humana no planeta) é aplicada como
termo da categoria Justificativa. A opinião do autor é a avaliação positiva, atribuída
à Tese 2.
4.2.6.4 O uso de tipos de argumentos
O autor utiliza os tipos de argumentos, a seguir, na medida em
que relaciona a justificativa com a sua Tese:
a) Argumentos de necessidade
• é necessariamente verdade que o ser humano não criou
a vida no planeta;
• é necessariamente verdade que o homem tem destruído
a vida no planeta;
• é necessariamente verdade que as técnicas têm sido
usadas para destruir a vida no planeta..
b) Argumento de possibilidade
É possível que:
• o homem consiga restaurar a vida no planeta com as
suas técnicas atuais;
• o homem não seja capaz de restaurar a vida no
planeta com suas técnicas atuais.
c) Argumento de probabilidade
O autor apresenta provas para justificar a sua Tese; todavia
estas não são suficientes para uma generalização de que o homem recriará a vida
que destruiu.
provas:
• o ser humano não criou a vida no planeta;
• o ser humano vem destruindo a vida no planeta;
• as técnicas atuais são avançadas
• as técnicas atuais são usadas para modificar e destruir a vida no
planeta.
• E se o homem destruiu tanto, não lhe resta outra
saída hoje senão usar a sua capacidade técnica
para restaurar o que foi destruído pela sua própria
capacidade técnica.
• Não criamos a vida, mas podemos ajudar a recriá-la.
provas não suficientes: Não são todas as técnicas atuais que
podem causar a destruição ou a restauração da vida no
planeta.
d) Argumento de legitimidade
Os argumentos de necessidade, possibilidade e
probabilidade, utilizados pelo autor, são argumentos de legitimidade, pois as
informações expressas, no texto, a respeito da destruição da vida no planeta,
fazem parte do Marco das Cognições Sociais dos leitores do texto que conhecem
os danos já causados pelo uso da tecnologia. Dessa forma, os leitores do texto
leitoress do texto são persuadidos a abandonar a Tese anterior e a acatar a Tese
nova do autor.
e) Argumentos de reforço
O autor se preocupa em reforçar os contra-argumentos da
Tese 1, ao mesmo tempo que reforça os argumentos da Tese 2, pois esta se opõe
àquela:
• Não se trata apenas de uma questão moral, mas de sobrevivência.
• E se o homem destruiu tanto, não lhe resta outra saída hoje senão
usar a sua capacidade técnica para restaurar o que foi destruído
pela sua própria capacidade técnica.
• Não criamos a vida, mas podemos ajudar a recriá-la.
4.3 Resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de duas Teses e discussões
Os resultados obtidos das análises dos textos dissertativos de
duas Teses indicam que:
4.3.1 O esquema textual do dissertativo de duas Teses
Há um esquema textual para o dissertativo
argumentativo que defende duas Teses. Esse resultado obtido das análises dos
textos, selecionados do manual de Agnelo Pacheco (1988), confere com o
resultado obtido por Silveira (1994), em relação ao esquema textual de duas
Teses que organiza o discurso científico. O fato de este esquema ser produzido
na instituição universitária, também é designado dissertativo acadêmico.
Conforme Othon Garcia (1967), o dissertativo de duas Teses, proposto
por Silveira (1994/2004), é nomeado dissertativo argumentativo;
Segundo Aurélio (1975),
• Argumentar.v.int. 1.Servir-se de argumento; 2.
Discutir. 3.Raciocinar; rel. Deduzir, concluir. 4.
Tirar ilações; t.-rel. pregar, ensinar.
• Argumentativo, adj. Que envolve argumento.
Isto posto, a ação de argumentar, segundo Othon Garcia (1967) pode
ser predicada por: servir-se de argumento, discutir, raciocinar, deduzir, concluir,
tirar ilações, pregar, ensinar.
A argumentação vem sendo tratada, desde a velha retórica. Em 1970,
Perelman e Tyteca apresentam a nova retórica, de modo a propor a diferença
entre convencer e persuadir o auditório. O persuadir implica levar o outro a
abandonar o que sabia para acatar um conhecimento novo.
Segundo os autores, o ato de convencer se dirige unicamente à razão,
por meio de um raciocínio estritamente lógico, bem como de provas objetivas.
Assim, tal ato é capaz de atingir um auditório universal, não só pelo raciocínio
lógico e provas objetivas, mas também pelo fato de possuir caráter puramente
demonstrativo e atemporal – as conclusões decorrem naturalmente das
premissas, como ocorre no raciocínio matemático. O ato de persuadir, por sua
vez, procura atingir a vontade, o sentimento dos interlocutores, por meio de
argumentos plausíveis ou verossímeis e tem caráter ideológico, subjetivo,
temporal; dirige-se, portanto, a um auditório particular. Nesse sentido, para quem
se preocupa com o resultado, persuadir é mais do que convencer, pois a
convicção não passa da primeira fase que leva à ação; por outro lado, para quem
está preocupado com o caráter racional da adesão, convencer é mais do que
persuadir, ou seja, ora essa característica racional da convicção depende dos
meios utilizados, ora das faculdades às quais o orador se dirige.
Na persuasão, o indivíduo se contenta com razões afetivas e pessoais, assim se
designa persuasiva uma argumentação que pretende valer só para um auditório
particular e designa-se convincente aquela que deve obter a adesão de todo ser
racional.
Com o desenvolvimento dos estudos relativos à argumentação, entende-se que
a argumentatividade é uma das características da linguagem humana e uma dos
fatores de textualidade. Logo, todos os textos são argumentativos.
É interessante observar que há textos-produtos que não explicitam argumentos
e, outros, sim. Nesse sentido, Vignaux (1976) prefere tratar a argumentação pelo
uso dos argumentos, na construção textual.
Os resultados obtidos das análises indicam que todos os textos dissertativos
selecionados são organizados pelo uso de argumentos de possibilidade,
probabilidade, necessidade; dessa forma, constroem-se os argumentos de
legitimidade e reforço.
No que se refere ao esquema textual do dissertativo de duas Teses, os
resultados obtidos indicam que:
O esquema textual do dissertativo de duas Teses tem as seguintes categorias:
Tese anterior (Tese 1), contra-argumentos, argumentos da Tese 2, Tese posterior (Tese
2) e conclusão da Tese 2. (cf. Silveira, 1944).
Os textos analisados apresentam uma intersecção do esquema textual do
dissertativo de duas Teses com o esquema textual de estrutura argumentativa,
tendo sido este segundo proposto por van Dijk (1978). Os resultados obtidos das
análises indicam que a categoria Circunstância, proposta pelo autor, define-se por
uma focalização nova (Tese 2) do referente, diversificada da focalização projetada
pela Tese 1, de modo a contrastar Tese 1 com Tese 2.
No que se refere à categoria Tese anterior (Tese 1), os textos
analisados apresentam essa categoria, em seu esquema textual. Trata-se de
projetar um foco no referente textual, para se criar uma circunstância em relação
ao Marco das Cognições Sociais, de cuja circunstância decorre a sua avaliação. O
autor do texto representa a Tese 1 de forma negativa, a partir da causalidade
atualizada por ele. No que se refere ao texto-produto, as informações, agrupadas
pelas diferentes categorias do esquema textual dissertativo de duas Teses, não
são expressas, obrigatoriamente, por uma ordenação no texto-linear enunciado.
No que se refere à categoria contra-argumentos, os autores situam a Tese
anterior (Tese 1) para o auditório e a contra-argumentam, recorrendo ao saber
pré-construído do seu auditório. Assim, por meio de uma nova avaliação, o autor
atribui valor negativo à Tese 1, para induzir seus leitores a abandonarem o que
sabiam. Nesse sentido, a Tese 1 torna-se contrastante, em relação à Tese
posterior (Tese 2). Os contra-argumentos podem ser utilizados para opor opiniões
ou para complementar a Tese 1. Segundo Silveira (1994), é possível seguir a
seguinte formalização: “não X, só Y” (oposição) e “não só X, também Y”
(complementaridade).
Logo, os textos dissertativos de duas Teses são direcionados a um
tipo de auditório que tem um conhecimento avaliativo (Tese 1), a respeito de um
determinado assunto. O autor tem por intenção induzir o seu auditório a
abandonar o que sabia e a aceitar o saber avaliativo novo, defendido pelo autor do
texto. Desse modo, todos os textos dissertativos de 2 Teses apresentam-se com a
categoria Contra-argumentos para desvalorizar a Tese 1.
No que se refere à categoria argumentos da Tese 2, os autores utilizam
a explicitação dos argumentos da Tese 2, como a justificativa do saber avaliativo
novo declarado como Tese 2. Assim, os leitores recebem novas informações, em
forma de argumentos, que objetivam que esses leitores dêem sua aceitação à
Tese 2.
Os argumentos implicam conhecimentos, selecionados no Marco das
Cognições Sociais; por isso, os autores argumentam para justificar a sua Tese 2,
em relação à nova focalização, projetada no referente textual. De forma geral, os
textos analisados apresentam um maior número de argumentos, em relação a
seus contra-argumentos. O uso argumentativo é realizado por argumentos de
necessidade, de possibilidade e de probabilidade.
No que se refere à categoria tese posterior (Tese 2), os autores dos
textos-produtos iniciam seus textos com palavras que apresentam o referente, sua
focalização e avaliações positivas e negativas atribuídas, e a causa da Tese 2
apresentada como forma de opinião-tese a ser acatada. Então, os autores
persuadem os leitores a abandonarem o que sabiam, pela relação opositiva entre
a Tese anterior (Tese 1) e a Tese posterior (Tese 2), estabelecida pelos autores.
Esse esquema textual é selecionado, quando a condição de
produção discursiva é caracterizada pela intenção de persuadir os leitores.
No que se refere à conclusão da Tese posterior (Tese 2) – os
autores avaliam o confronto entre as duas Teses, de modo a privilegiar a segunda
como avaliação positiva. Sendo assim, a conclusão é construída, a partir de uma
situação conflitante, o embate de duas Teses.
Por conseguinte, um esquema textual defini-se por categorias e
regras de ordenação; tal esquema é um modelo mental, selecionado para
organizar, esquematicamente, um determinado tipo de texto.
4.3.2 A condição de produção discursiva
No que se refere à condição de produção discursiva, os autores
dos textos dirigem-se a um auditório, caracterizado por eles como pessoas que
têm conhecimentos, armazenados na Memória Social de Longo Prazo, a respeito
do tema e/ou da área tratada. Dessa forma, atribuem a seus interlocutores um
saber anterior que deve ser abandonado para que haja a aceitação da opinião
expressa pelo autor. Logo, há um EU que tem por intenção persuadir o OUTRO,
para acatar o saber novo representado em língua, no texto-produto.
Esse resultado confere com os resultados obtidos por Silveira
(1994), ao tratar das duas condições de produção discursiva do dissertativo,
inserido na classe textual opinativa.
4.3.3 A organização textual da opinião
No que se refere à organização textual da opinião, os
textos estão organizados por elementos que apresentam predicações com pontos
de intersecção e diversificados entre si.
A relação entre esses termos está organizada pela
regra da causalidade, como forma de justificativa da Tese defendida pelo autor, a
conseqüência, ou seja, como forma de avaliação dos termos apresentados. Assim
sendo, o texto está tecido com a opinião de leitores que conhecem a Tese 1 e de
escritores que apresentarão contra-argumentos e argumentos para provarem a
validade da Tese 2. Assim, ocorre a organização textual:
• causa
• opinião de conhecedores
• Tese 1 do autor.
• causa
• opinião de especialistas
• Tese 2 do autor
Em relação às análises realizadas, observa-se, também, que, enquanto a
regra de causalidade é relativa ao uso dos argumentos, a focalização do referente
é importante para a construção da circunstância. Neste contexto, a opinião, vista
como Tese, só pode ser construída, em cada texto, na medida em que se criou um
ponto de vista novo para representar o referente textual; nestas condições, tal
referente se torna discutível, e não, algo constatável, como necessariamente
verdade.
4.3.4 O uso de argumentos
No que se refere ao uso de tipos de argumentos, os
resultados obtidos indicam que, conforme a justificativa se relaciona com a
conclusão, há uma modalização que percorre da necessidade, passa pela
possibilidade até atingir a probabilidade.
Dessa forma, os autores usam argumentos de
necessidade, quando as provas apresentadas são generalizáveis, enquanto
crenças, pois as informações selecionadas participam do Marco das Cognições
Sociais.
O uso de argumentos de probabilidade é atualizado,
quando a prova apresentada - o acontecido, os fatos - não é suficiente para
realizar a generalização proposta pelo autor. O uso de argumentos de
possibilidade remete-se ao acontecível que se situa na incerteza do futuro; assim
se constroem dois mundos possíveis do futuro: é possível que isso ocorra no
mundo 1 e, ao mesmo tempo, é possível que isso não ocorra no mundo 2. Esses
usos de argumentos conferem resultados apresentados por Vignaux (1976) e por
Toulmin (1958); quanto ao esquema textual dos argumentos, os resultados obtidos
conferem a superestrutura argumentativa de van Dijk (1978) que a propõe como a
estrutura argumentativa. Nela, estão categorizados os argumentos de legitimidade
e de reforço, encontrados nos resultados obtidos da análise realizada.
Verificou-se, também, que os argumentos de
necessidade, probabilidade e possibilidade dão legitimidade argumentativa ao
autor, ao mesmo tempo, em que são utilizados como reforço argumentativo. Tais
argumentos são definidos pelo recorrer às formas de conhecimentos sociais que
constroem o Marco das Cognições Sociais. Dependendo de como se estabelece a
relação EU-TU, o Marco das Cognições Sociais é relativo ao grupo social de
pessoas comuns ou de especialistas na questão tratada. Observa-se que a
presença de especialistas está diretamente ligada ao discurso científico que se
projeta no discurso acadêmico.
Os argumentos de reforço são usados para reiterar
formas de conhecimento que são justificativas da Tese do autor. De certo modo,
os argumentos de reforço priorizam o ponto de vista do seu autor, de forma que,
pela repetição de sentidos em casos diferentes, persuada os leitores a darem suas
adesões à opinião do autor que é a Tese 2.
Em síntese, os resultados obtidos indicam que o
dissertativo de duas Teses é um tipo de texto da classe opinativa que, por sua
vez, pode sofrer modificações, dependendo de como o auditório é representado
pelo produtor. Em relação ao uso dos argumentos do dissertativo de duas Teses,
os resultados obtidos indicam que são explícitos e compreendem contra-
argumentos e argumentos para justificar a conclusão final, com legitimidade sócio-
cognitiva.
CONSIDERAÇÕE FINAIS
Ao término desta dissertação, são tecidas algumas considerações que
compreendem a revisão dos objetivos, a verificação da hipótese e a apresentação
de novas perspectivas.
No que se refere aos objetivos, acredita-se que os resultados obtidos,
apresentados e discutidos nesta dissertação, possam trazer alguma contribuição
para o desenvolvimento de tipologias textuais, a partir da hierarquia entre classe
de texto e tipos textuais. A classe apresentada é a opinativa e o tipo é o
dissertativo acadêmico, modificado em dissertativo de uma Tese e dissertativo de
duas Teses.
Esta pesquisa realizada objetivou conferir os resultados apresentados por
Silveira (1994/2004), ao tratar da tipologia dos discursos científicos, o
dissertativo de uma Tese e de duas Teses. Com efeito, os resultados conferem
com a descrição textual, proposta pela autora.
No que se refere aos objetivos específicos, tem-se: 1) descrever os esquemas textuais do dissertativo de uma Tese e de duas
Teses.
Este objetivo foi cumprido, pois, há dois esquemas textuais típicos para a
formalização da opinião acadêmica: dissertativo de uma Tese e dissertativo de
duas Teses.
O dissertativo de uma Tese tem seu esquema textual, definido pelas
seguintes categorias textuais de tal forma ordenadas: Texto-reduzido, Texto-
expandido e Conclusão.
O dissertativo de duas Teses apresenta-se com o seguinte esquema
textual : Tese 1, Contra-argumentos, Argumentos e Tese 2.
2) examinar as condições de produção discursiva dos tipos de texto
O cumprimento deste objetivo permitiu diferenciar duas condições de
produção discursiva distintas, dependendo de como se caracteriza o auditório:
• a condição de exposição
• a condição de confronto de teses
O auditório, na condição de exposição, é caracterizado como não
especialista no tema tratado, não tendo, portanto, conhecimentos relativos a ele,
armazenados na Memória de Longo Prazo dos interlocutores. Sendo assim, o
autor apresenta uma Tese e, a fim de obter a adesão do auditório, constrói para
este auditório os sentidos mais globais, no Texto-reduzido. A seguir, explicita
conhecimentos que o autor imagina não serem conhecidos pelos interlocutores, de
forma a obter deles a adesão.
Ao confrontar Tese 1 com Tese 2, o auditório é caracterizado como
especialista no tema tratado, tendo, portanto, conhecimento de uma Tese, a
respeito da questão tratada. Dessa forma, o autor confronta a Tese anterior com
uma Tese posterior e, a fim de obter a adesão de seu auditório para a Tese
defendida pelo autor, contra-argumenta a Tese 1, de forma a minimizá-la, e
argumenta a Tese 2, de forma a maximizá-la.
3) a organização textual da opinião
Este objetivo foi cumprido, na medida em que os textos dissertativos de
uma Tese estão organizados pela apresentação de uma opinião, vista como uma
forma de avaliação negativa ou positiva do que acontece no mundo. Nesse
sentido, é articulado um grupo social não conhecedor do tema ou da área
específica, com o conhecimento avaliativo do autor a respeito deste tema, pois
este tanto conhece o tema quanto a sua área específica. Assim sendo, a
organização textual da opinião decorre de um conjunto de explicitações de
conhecimentos, julgados necessários, pelo autor, para que o auditório acate sua
opinião: conjunto de conhecimentos a respeito do que está sendo avaliado. A
opinião é construída com a projeção de uma escala de valores, a partir do que foi
focalizado no referente textual.
No que diz respeito aos textos dissertativos de 2 Teses, os textos são
tecidos com a oposição de duas Teses, apresentadas como formas avaliativas a
respeito de algo ou alguém. Tanto auditório quanto autor têm conhecimentos
relativos ao referente textual, sendo, portanto, capazes de opinar a respeito deste
referente. A organização textual compreende a mudança no foco projetado no
referente, criando um outro estado de coisas para o mesmo. Dessa forma,
confrontar Teses implica opor focalizações, a partir das quais se opõem
avaliações distintas. Para contra-argumentar, o autor, estrategicamente, minimiza
a avaliação da Tese 1 e atribui a ela uma avaliação negativa; já os argumentos
maximizam a Tese 2, de forma a atribuir a ela valor positivo. Estes contra-
argumentos e argumentos são construídos com a variação de modalidades que
liga premissa-hipótese e conclusão.
4) o uso de tipos de argumentos
Este objetivo foi cumprido e verificou-se que tanto os textos de uma Tese
quanto os de duas Teses usam os mesmos tipos de argumentos. Os resultados
obtidos indicam que, conforme a premissa-hipótese se relaciona com a conclusão,
há uma variação modal que percorre da necessidade, passa pela possibilidade até
atingir a probabilidade.
Constatou-se que os autores usam argumentos de necessidade, quando
as provas apresentadas são generalizáveis, na medida em que são conhecidas
como representação de resultados obtidos a respeito de referentes do mundo. O
uso de argumentos de probabilidade implica ser a prova apresentada não
suficiente para justificar a generalização proposta pelo autor, embora relativa ao
mundo real. O uso de argumentos de possibilidade constrói dois mundos
possíveis, relativos à incerteza do futuro, pois no momento são comprováveis: é
possível que isso ocorra no mundo 1; é possível que isso não ocorra no mundo 2.
Os argumentos de necessidade, probabilidade e possibilidade dão
legitimidade argumentativa ao autor que, para usá-los, recorre às formas de
conhecimentos sociais que constroem o Marco das Cognições Sociais de
especialistas na questão tratada. Observou-se que a presença de especialistas,
bem como o uso dos argumentos indicados caracteriza o discurso científico; este,
nos textos analisados, está modificado no acadêmico e no discurso de divulgação
científica.
Os argumentos de reforço são usados para reiterar formas de
conhecimento que são justificativas da Tese do autor. De forma geral, os
argumentos de reforço priorizam o ponto de vista do autor que objetiva a adesão
dos leitores para a sua opinião.
No que se refere à hipótese:
A hipótese que orientou a investigação realizada mostrou-se adequada,
pois o texto dissertativo é um tipo de texto que pertence à classe opinativa. Este
tipo se modifica, dependendo das condições de produção discursiva, e se
apresenta formalizado por dois esquemas textuais dissertativos, no discurso
acadêmico, que são selecionados como modelo para a produção de redação do
dissertativo.
Esta dissertação não se quer conclusiva e propicia, com seus resultados
obtidos, a abertura de novas perspectivas para o estudo e elaboração de
tipologias textuais. Neste contexto, faz-se necessário detectar quantas são as
classes textuais e de que forma estas podem ser caracterizadas, com a finalidade de os tipos de texto poderem ser agrupados por tais classes. Entende-se que essa
tarefa será cumprida, na medida em que se descreverem outros esquemas
textuais e situá-los na dimensão do discurso. No que se refere ao dissertativo no
discurso científico, faz-se necessário, ainda, examiná-lo em outras condições de
produção discursiva, como por exemplo, o discurso científico da pesquisa, da
revisão e do ensaio.
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