Post on 07-Nov-2018
Rosana BaeningerClaudio Salvadori Dedecca
(Organizadores)
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PROCESSOS MIGRATRIOS NO ESTADO DE SO PAULO:
estudos temticos
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AUTORES
Antnio M. da Costa Braga
Aparecido Soares da Cunha
Claudeni Fabiana Alves Pereira
Claudia Siqueira Baltar
Claudio S. Dedecca
Eder Zuccolotto
Fabio Akira Shishito
Fransergio Follis
Gabriela Camargo de Oliveira
Giovana Gonalves Pereira
Gisele M. Ribeiro de Almeida
Julia Bertino Moreira
Juliana Arantes Dominguez
Juracilda Veiga
Ktia Criztina da Silva Izaias
Katiane Tatie Shishito
Lidiane Maria Maciel
Lili Katsuco Kawamura
Lilia Terezinha Montali
Lus Abel da Silva Filho
Marcelo Tavares de Lima
Maria de Ftima G. Chaves
Maria do Livramento Clementino
Maria do Rosrio Rolfsen Salles
Maria Silvia C. B. Bassanezi
Marta Maria do Amaral Azevedo
Odair Cruz Paiva
Oswaldo Truzzi
Patrcia Tavares de Freitas
Paulo Eduardo Teixeira
Ricardo A. Dantas de Oliveira
Roberta Guimares Peres
Rosa Sebastiana Colman
Rosana Baeninger
Snia Regina Bastos
Silvana Nunes de Queiroz
Szilvia Simai
Thas Mesquita Favoretto
Tiago Augusto da Cunha
Confira em
www.nepo.unicamp.br
os demais volumes da Coleo
Por dentro do Estado de So
Paulo
Volume 1 - Estado de So Paulo
Volume 2 - Regies
Metropolitanas
Volume 3 - Plos regionais: So
Jos dos Campos, Sorocaba e
Ribeiro Preto
Volume 4 - Plos regionais:
Bauru, So Jos do Rio Preto,
Araatuba e Presidente
Prudente
Volume 5 - Regio de Limeira
Volume 6 - Regies Canavieiras
Volume 7 - Retrato Paulista do
Censo Demogrfico 2010
Volume 8 - Povos indgenas:
mobilidade espacial
Volume 9 - Migrao
internacional
CENTRO DE CINCIAS HUMANASE SOCIAIS APLICADAS - CHS
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v.10PROCESSOS MIGRATRIOS NO ESTADO DE SO PAULO: estudos temticos
Universidade Estadual de Campinas Unicamp
Reitor
Jos Tadeu Jorge
Vice-Reitor
Alvaro Penteado Crsta
Pr-Reitora de Desenvolvimento Universitrio
Teresa Dib Zambon Atvars
Pr-Reitora de Pesquisa
Glaucia Maria Pastore
Pr-Reitor de Graduao
Luis Alberto Magna
Pr-Reitora de Ps-Graduao
Itala Maria Loffredo DOttaviano
Pr-Reitor de Extenso e Assuntos Comunitrios
Joo Frederico da Costa Azevedo Meyer
Coordenadoria de Centros e Ncleos Interdisciplinares de Pesquisa (COCEN)
Jurandir Zullo Junior
Ncleo de Estudos de Populao (NEPO)
Coordenao: Estela Maria Garcia Pinto da Cunha
Unidades/rgos envolvidos na pesquisa:
Ncleo de Estudos de Populao (UNICAMP)
Instituto de Economia (UNICAMP)
Ncleo de Estudos de Polticas Pblicas (UNICAMP)
Faculdade de Educao (UNICAMP)
Instituto de Filosofia e Cincias Humanas (UNICAMP)
Faculdade de Cincias Aplicadas (UNICAMP)
Universidade Federal de So Carlos (Programa de Ps-Graduao em Sociologia)
Universidade Estadual Paulista Julio Mesquita Filho (UNESP)
Faculdade Anhembi Morumbi
Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP)
SO PAULO OBSERVATRIO DASMIGRAES EM
FASES E FACES DO FENMENO MIGRATRIO NO ESTADO DE
SO PAULO
v.10PROCESSOS MIGRATRIOS NO ESTADO DE SO PAULO: estudos temticos
SO PAULO OBSERVATRIO DASMIGRAES EM
FASES E FACES DO FENMENO MIGRATRIO NO ESTADO DE
SO PAULO
Rosana Baeninger Claudio Salvadori Dedecca
(Organizadores)
Ncleo de Estudos de Populao (NEPO) UNICAMPAv. Albert Einstein, 1300 CEP: 13081-970 Campinas SP Brasil
Fone: (19) 3521 5913 Fax: (19) 3521 5900www.nepo.unicamp.br
ApoioProjeto: Observatrio das Migraes em So Paulo
FAPESP Fundo de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
Organizao e Reviso final
Rosana Baeninger
Comit de Publicao
Rosana BaeningerClaudio S. Dedecca
Maria Silvia C.B. BassaneziMarta Maria do Amaral Azevedo
Lilia T. MontaliLili Kawamura
Alvaro de Oliveira DAntonaOdair Paiva
Oswaldo TruzziPaulo Eduardo Teixeira
Roberta Guimares PeresSnia Regina Bastos
Colaborao
Maria Ivonete Zorzetto Teixeira
Projeto Grfico e Diagramao
Trao Publicaes e DesignFlvia Fbio e Fabiana Grassano
Ficha catalogrfica
Adriana Fernandes
Processos Migratrios no Estado de So Paulo Estudos Temticos / Rosana Baeninger; Claudio Dedecca (Org.). - Campinas: Ncleo de Estudos de Populao - Nepo/Unicamp, 2013.
628p.
(Por Dentro do Estado de So Paulo Volume 10)
ISBN: 978-85-88258-37-2
1. Populao. 2.Dinmica Econmica. 3.Migrao. I. Baeninger, Rosana. II. Dedecca, Claudio (Org.). III. Ttulo. IV. Srie.
SUMRIO
Apresentao 9
De onde eles vieram? Estudo sobre origem e migrao dos noivos para Campinas, 1774-1888Paulo Eduardo Teixeira 13
Migraes na formao inicial da populao no oeste paulista: uma aproximao por meio de registros paroquiais de casamento no pr-abolio em So Carlos, SP
Oswaldo Truzzi, Eder Carlos Zuccolotto e Fransergio Follis 25
Qual a sua Famlia? Estudo sobre origem e migrao dos noivos (Campinas, 1774-1874) Paulo Eduardo Teixeira 37
Processos migratrios e assimilao: So Paulo e Santa Catarina (1920 e 1940)Oswaldo Truzzi e Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi 47
Crianas imigrantes e crianas geradas de ventres imigrantes em terra brasileira Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi 63
Uma trgica primavera. A epidemia de gripe de 1918 no Estado de So Paulo, Brasil Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi 73
Imigrao e Geopoltica. Fluxos Migratrios Ps-Segunda Guerra Mundial: um olhar sobre a documentao depositada na Hospedaria de Imigrantes SP
Odair da Cruz Paiva 91
Populao e dinmica econmica da cidade de Jundia, das lavouras de subsistncias a cultura do caf
Katia Cristina da Silva Izaias 101
Os Bairros Imigrantes da Cidade de So Paulo na dcada de 1930 Snia Regina Bastos 121
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.106
PROCESSOS MIGRATRIOS SuMRIO
Profisso e destino dos imigrantes italianos entrados em So Paulo no Ps-Segunda Guerra Mundial
Maria do Rosario Rolfsen Salles, Odair da Cruz Paiva e Snia Regina Bastos 129
O imigrante italiano e o patrimnio cultural paulistano no Ps-Segunda Guerra Mundial Maria do Rosario Rolfsen Salles, Odair da Cruz Paiva e Snia Regina Bastos 143
Imigrao italiana para o Brasil no Ps-Segunda Guerra Mundial: perfil das entradas e trajetrias Maria do Rosrio Rolfsen Salles e Snia Regina Bastos 151
Museus e Memria da Imigrao: embates entre o passado e o presenteOdair da Cruz Paiva 171
Por qu hablar de los inmigrantes espaoles despus de la Segunda Guerra Mundial en Brasil? Juliana Arantes Dominguez 181
Migraes internas no Brasil no sculo 21: entre o local e o globalRosana Baeninger 193
A retomada do crescimento e a migrao no incio do SculoClaudio Salvadori Dedecca 215
Urbanizao, migrao e metrpoles Rosana Baeninger e Roberta Guimares Peres 229
Regies metropolitanas e populao no Paran: uma contribuio neo-institucionalista ao debate Cludia Siqueira Baltar 241
Gnero, mercado de trabalho e ocupao nas regies metropolitanas brasileiras 2001/2008 Lus Abel da Silva Filho, Silvana Nunes de Queiroz
e Maria do Livramento Miranda Clementino 257
Migraes e mercado de trabalho nas regies metropolitanas na dcada de 2000 em panoramas distintos
Lilia Montali, Maria de Ftima Guedes Chaves e Marcelo Tavares de Lima 275
Os desafios para a reduo da desigualdade de renda entre os domiclios metropolitanosLilia Montali e Marcelo Tavares de Lima 291
Entre o Piau e So Paulo: ddiva, ser parente e reciprocidade entre migrantes do sudoeste piauiense, Brasil
Antonio Braga 309
Em busca de um emprego... mas no em qualquer lugar Oportunidades de emprego como um dos condicionantes dos fluxos migratrios na RM de Campinas
Tiago Augusto da Cunha e Silvana Nunes de Queiroz 325
A migrao no cenrio da Regio Metropolitana de So Paulo no incio do sculo XXI e suas transformaes
Aparecido Soares da Cunha 341
Perfil dos trabalhadores agrcolas do Complexo Agroindustrial canavieiro paulista e suas conexes com a mobilidade espacial na dcada de 2000: as potencialidades de trs fontes de dados
Ricardo Antunes Dantas de Oliveira 357
O sentido de melhorar de vida entre tralhadores rurais migrantes em So Carlos-SP Lidiane Maciel 379
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PROCESSOS MIGRATRIOS
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
SuMRIO
Idas-e-vindas de famlias de trabalhadores rurais na Regio Central do Estado de So Paulo: os casos de Mato e So Carlos
Lidiane M. Maciel e Giovana Gonalves Pereira 395
Migrao e pendularidade entre famlias de trabalhadores rurais no interior de So Paulo Lidiane M. Maciel e Thas Mesquita Favoretto 407
O ir e vir (ver): a migrao permanentemente temporria em Mato/SP Giovana Gonalves Pereira 421
A dinmica migratria e o Programa Bolsa Famlia em Mato/SP Giovana Gonalves Pereira 433
Mobilidade espacial Guarani: discusso conceitual e propostas metodolgicas de pesquisaJuracilda Veiga, Rosa S. Colman, Marta M. do Amaral Azevedo e Claudeni Fabiana Pereira 443
A presena dos Guarani no estado de So Paulo final do sculo XIX at hojeRosa Colman 457
As causas e os motivos na emigrao de brasileiros para a Frana Gisele Maria Ribeiro de Almeida e Rosana Baeninger 469
Imigrao brasileira na Frana ps-1980: notas de pesquisaGisele Maria Ribeiro de Almeida 481
Mudanas na recente migrao Brasil-Japo: ncleos e redes migratriasLili Kawamura 495
O impacto da crise econmica de 2008 sobre o movimento dekassegui Katiani Tatie Shishito e Fabio Akira Shishito 509
Trajetrias laborais/residenciais dos locais de origem e projeto migratrio a migrao boliviana para o setor de confeco da cidade de So Paulo
Patrcia Tavares de Freitas 523
A segunda gerao de latino-americanos na RMSP: primeiras anlises do Censo Demogrfico 2010 Gabriela Camargo de Oliveira 551
Conexo Brasil China: primeiras reflexes sobre um fluxo migratrio multifacetado Roberta Guimares Peres e Rosana Baeninger 565
Refugiados no Brasil: vises sobre o apoio prestado por instituies no pas Julia Bertino Moreira e Rosana Baeninger 571
A natureza do conflito intragrupal nos estudos migratrios: uma anlise comparativa sobre a comunidade boliviana e haitiana no Brasil
Szilvia Simai e Rosana Baeninger 587
Crianas imigrantes na rede de ensino de So Paulo Gabriela Camargo de Oliveira e Rosana Baeninger 601
Migrao Feminina: um debate terico e metodolgico no mbito dos estudos de gnero Roberta Guimares Peres 609
Sobre os autores 621
9
APRESENTAO
Esta publicao, intitulada Processos Migratrios no Estado de So Paulo: Estudos Temticos compe o volume 10 da Coleo Por Dentro do Estado de So Paulo. resultado do esforo conjunto da equipe do projeto temtico Observatrio das Migraes em So Paulo: fases e faces do fenmeno migratrio no Estado de So Paulo, financiado pela Fapesp e CNPq, e desenvolvido no Ncleo de Estudos de Populao (NEPO/UNICAMP) em parceria com pesquisadores da UNICAMP - Instituto de Economia, Ncleo de Estudos de Polticas Pblicas, Programa de Ps-Graduao em Sociologia, Programa de Ps-Graduao em Demografia - e pesquisadores da UNESP, UFSCAR, UNIFESP e da Faculdade Anhembi Morumbi.
Os captulos trazem as contribuies produzidas no mbito da pesquisa, permitindo captar processos migratrios contextualizados historicamente, seus movimentos migratrios internos e internacionais no perodo que compreende parte dos sculos 18 e 19, passando pelo sculo 20 e chegando at a primeira dcada do sculo 21. Resgata a trajetria do fenmeno migratrio no Estado de So Paulo e sua importncia para a formao social paulista.
Os captulos apresentados seguem as duas grandes linhas temticas e os respectivos Estudos Temticos do Observatrio das Migraes em So Paulo; a saber:
Linha Temtica I Migraes Internas e Internacionais na Formao Social Paulista: uma perspectiva histrica
A imigrao internacional um dos maiores temas da histria social e demogrfica do Estado de So Paulo. No perodo de um sculo, entraram em terras paulistas por volta de dois milhes e quinhentos mil imigrantes estrangeiros, dos quais, cerca de dois milhes e duzentos mil chegaram entre 1885 e 1929, atrados principalmente pela expanso da cafeicultura. O volume e as caractersticas dessa corrente imigratria provocaram um grande crescimento e profundas alteraes na estrutura e na dinmica populacional desse Estado. Os imigrantes e
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.1010
PROCESSOS MIGRATRIOS APRESEnTAO
seus descendentes intensificaram a mobilidade geogrfica, que vinha ocorrendo no territrio paulista desde os tempos coloniais, provocando modificaes constantes na distribuio espacial da populao e na ocupao do territrio paulista no perodo. Assim, alm da imigrao internacional do perodo, a pesquisa trata de conhecer e compreender tambm as migraes internas no respectivo perodo.
No mbito das migraes internacionais do Ps-Segunda Guerra Mundial, o Estado de So Paulo foi receptor de novos imigrantes, quer seja pelas consequncias do Ps-Guerra, quer seja pelas polticas de imigrao do Governo Paulista incentivando as migraes dirigidas para a industrializao do Estado nos anos 1950-1960 do sculo 20.
Estudos temticos e pesquisadores:1. As Migraes Internas em uma Perspectiva histrica. Uma pesquisa Exploratria
Paulo Teixeira, Maria Silvia B.C. Bassanezi, Oswaldo Truzzi2. Imigrao Internacional e Dinmica demogrfica Paulista no perodo de imigrao
de massa Maria Silvia B.C. Bassanezzi
3. Constituio de um empresariado de matriz Imigrante no Interior Oswaldo Truzzi
4. Pautas Matrimoniais entre imigrantes no Interior Paulista (1880-1930) Oswaldo Truzzi, Eder Zucolotto
5. Migraes Internacionais para So Paulo (1947-1978). Fluxos,perfis e trajetrias Odair Paiva, Maria do Rosrio R. Salles, Senia Bastos
6. Imigrantes Espanhis para a Industrializao Paulista Juliana Arantes Dominguez
7. Imigrao, Concentrao/Disperso e Vida Associativa em So Paulo no Ps-segunda Guerra Mundial: perodo 1947-1980 Maria do Rosrio R. Salles
8. A presena imigrante nos Bairros da cidade de So Paulo Snia Bastos
Linha Temtica II Migraes Internas e Internacionais Contemporneas em So Paulo
Para a segunda metade do sculo 20, o entendimento das migraes internas no pas passou necessariamente pela compreenso do Estado de So Paulo como o plo da industrializao, urbanizao e migrao nacional. Os intensos processos de redistribuio da populao em So Paulo, consolidados no sculo 21, trazem alteraes nos movimentos migratrios interestaduais, na configurao da migrao de retorno, no incremento das migraes intrametropolitanas, nos fluxos migratrios significativos que partem da Regio Metropolitana em direo ao Interior, no aumento das migraes intra-regionais, com o crescimento de cidades de porte intermedirio e pequeno, nas migraes sazonais, com movimentos pendulares urbanos e rurais. Somam-se esses processos a concomitncia com as migraes internacionais contemporneas, na metrpole e no interior paulista: bolivianos, peruanos, asiticos, coreanos, chineses e europeus qualificados na composio e diferenciao de sua insero no mercado de trabalho local e regional.
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PROCESSOS MIGRATRIOS
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
APRESEnTAO
Estudos temticos e pesquisadores:1. Migraes e Urbanizao em So Paulo no Sculo 21
Rosana Baeninger, lvaro DAntona, Roberta Guimares Peres, Flvia Cescon, Jackeline de Pdua, Ktia Izaias, Aparecido Soares da Cunha
2. Migrao Interna e Mercado de Trabalho em So Paulo Claudio S. Dedecca, Silvana Nunes Queiroz
3. Famlia, Trabalho e Migrao Lilia Montali, Maria de Ftima Chaves
4. Trajetrias Sociais dos Trabalhadores Migrantes na Agroindstria Paulista Fernando Loureno, Antonio Braga, Lidiane Maciel, Thas Favoretto, Giovana Pereira, Natlia Demtrio, Ricardo Dantas de Oliveira.
5. Migrao Boliviana e Latino-americana em So Paulo Rosana Baeninger, Roberta G. Peres, Gabriela Oliveira, Patrcia T. Freitas, Szilvia Simai
6. Migrantes Refugiados em So Paulo no Sculo 21 Rosana Baeninger, Julia Bertino Moreira
7. Emigrao de Paulistas para o Exterior Lili Kawamura, Katiane Shishito, Gisele Almeida, Luis Felipe A. Magalhes
8. Mobilidade Guarani no Estado de S Paulo Marta A. Azevedo, Rosa Colman, Juracilda Veiga, Claudeni A. Pereira
As anlises apresentadas refletem, de um lado, os avanos cientficos alcanados ao longo de quatro anos de pesquisa em equipe (2009-2013) e, de outro lado, comprovam a bem sucedida experincia de pesquisa com parcerias interinstitucionais construdas para o desenvolvimento do Observatrio das Migraes em So Paulo.
Rosana Baeninger (IFCH-NEPO/UNICAMP)
Claudio Salvadori Dedecca (IE/UNICAMP)
13
A fundao oficial de Campinas ocorreu a partir de 1774, quando a mesma foi elevada condio de Freguesia, com o nome de N. Sr. da Conceio das Campinas, ainda sobre as ordens do Morgado de Mateus, governador da Capitania de So Paulo. No princpio a regio de Campinas era um pouso destinado queles que percorriam o caminho que ligava a cidade de So Paulo regio das minas de Gois. Essa estrada, segundo Saint-Hilaire, se estendia quase que paralelamente fronteira ocidental de Minas Gerais1, passando por Jundia, Campinas, Mogi-mirim, Mogi-guau, Casa Branca e Franca. Outro viajante, o pastor Kidder, aps deixar para trs a capital da Provncia em 1839, e seguir rumo Campinas, descreveu a entrada desse caminho da seguinte maneira:
O caminho desenvolvia-se por entre morros e vales, apenas de raro em raro proporcionando uma viso mais ampla. Cada curva da estrada parecia nos levar mais para o mago de um vastssimo labirinto repleto de belezas vegetais, apenas levemente tocado, aqui e acol, pela mo do agricultor. 2
Se perto da metade do sculo XIX o visitante pode contemplar poucas roas ao longo do caminho, imaginemos o que no teria sido isto por volta de 1740 quando foram distribudas as primeiras datas de sesmarias na regio de Campinas. No ano de 1767, o bairro rural era chamado de Mato Groo, 3 quando a populao era de apenas 268 pessoas. Essa designao representava bem a regio, que era coberta por densa floresta de mata tropical, onde a presena de rvores tpicas como jatob, ip, pau-dalho, peroba, sucupira e jacarand, podem nos dar uma idia de sua vegetao original ainda preservada em alguns pontos da atual cidade.4 Passadas algumas
1 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Provncia de So Paulo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; So Paulo: Ed. da USP, 1976, p.83.2 KIDDER, Daniel P. Reminiscncias de viagens e permanncias nas provncias do Sul do Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; So Paulo: Ed. da USP, 1980, p.233.3 Dados baseados no censo de 1767, Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, Populao Jundia, n. da Ordem 87a.4 BRITO, Jolum. Histria da cidade de Campinas. s.ed.; Campinas, 1956, v.1, p.66; BARRETTO, Margarita. Vivendo a Histria de Campinas. Campinas: Mercado das Letras - Autores Associados, 1995, p.55.
DE ONDE ELES VIERAM?ESTUDO SOBRE ORIGEM E MIGRAO DOS
NOIVOS PARA CAMPINAS, 1774-1888Paulo Eduardo Teixeira
14 Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
PROCESSOS MIGRATRIOS DE OnDE ElES vIERAM? ESTuDO SObRE ORIGEM E MIGRAO DOS nOIvOS PARA CAMPInAS, 1774-1888
dcadas, a imagem dessa vegetao ainda era muito marcante, pois em 1818 o engenheiro DAlincourt observou que a Vila estava cercada a curta distncia por um espesso arvoredo. 5
A mudana para a condio de vila ocorreu por meio da determinao do governador, recm empossado, Manuel de Melo Castro e Mendona, no ano de 1797. A antiga designao de N. Sr. da Conceio das Campinas teve seu nome substitudo para Vila de So Carlos, que de acordo com DAlincourt, esta atribuio foi em comemorao do Augusto Nome da Rainha, a Senhora D. Carlota Joaquina, no entanto o mesmo se referiu Vila como S. Carlos de Campinas, e em diversas menes abandonou o nome do santo.6
Assim, durante todo o perodo da vila que nascera do pouso dos Campinhos, a mesma recebeu a designao oficial de So Carlos. A restaurao do nome de Campinas veio apenas em 1842, quando a vila tornou-se uma cidade, entretanto, para este trabalho, utilizarei apenas o nome por que ficou mais conhecida a regio, ou seja, Campinas.
Quanto populao que habitava a Freguesia de N. Sr. da Conceio das Campinas em 1774 a mesma no passava de 475 pessoas, ao passo que vinte anos mais tarde, em 1794, ou seja, poucos anos antes da elevao da mesma condio de vila, havia 249 domiclios e 1.866 habitantes, distribudos entre livres (dentre estes existia a categoria de pessoas agregadas, assim como alforriadas) e escravos.
Em 1818, DAlincourt estimou em seis mil pessoas o total de habitantes, onde parte dos moradores residia na vila, mais propriamente dita, ou seja, no lugar em que os smbolos da autonomia administrativa se faziam representados por uma cadeia pequena, velha e com grades de pau, a casa da Cmara, que era pouco melhor, e o Pelourinho, que ficava no largo da Matriz. O arruamento era direito e de boa largura, com casas trreas feitas de taipa e cobertas de telhas, porm poucas eram as ruas existentes. Nesse perodo o acar havia se tornado o principal ramo de negcio existente na vila, o que obrigava uma grande importao de escravos. Para Saint-Hilaire, Campinas j era o maior produtor de acar de toda a Provncia, e contava com uma centena de engenhos.7
Em 1829, segundo as Listas nominativas de habitantes, existiam 950 domiclios e perto de 8.500 pessoas, sendo que neste momento os cativos eram quase a metade do total da populao.8 A localizao geogrfica da vila campineira, destacada por Kidder, favoreceu o lugar a tornar-se o ponto de encontro das tropas que levam acar para o litoral, alm de atestar que isto tenha dado mais vida e energia a vrios setores comerciais.9
Em 1860 o diplomata suo J.J. von Tschudi, desembarcava no Brasil, e ao visitar algumas fazendas em Campinas que tinham colonos europeus trabalhando nas mesmas, o ministro teve oportunidade de escrever o seguinte sobre a localidade:
So Carlos de Campinas, uma trintena de anos atrs, era ainda uma cidade sem importncia. Em seus arredores cultivava-se a cana de acar, mas sem grande proveito, pois os preos eram baixos e a grande distncia do porto de Santos encarecia demasiado o transporte. [...] seguindo o exemplo dos fazendeiros do Rio de Janeiro, os de Campinas comearam tambm a plantar caf, o que fizeram em escala cada vez maior, at que todas as terras entre Jundia
5 DALINCOURT, Luiz. Memria sobre a viagem do porto de Santos cidade de Cuiab. So Paulo: Martins Editora, 1976, p.51. 6 DALINCOURT, Luiz. Ob. Cit., p.51,53. Daniel P. Kidder lamenta a substituio feita no nome, considerando Campinas bonito e adequado. Cf. Ob.Cit. p.237. Saint-Hilaire refere-se diversas vezes Campinas, entretanto o mesmo comete um equvoco quando diz que o governo provincial de So Paulo deu-lhe o ttulo de cidade, com o nome de So Carlos, pois exatamente nesse momento que a Vila de So Carlos retomou sua antiga denominao e passou a ser conhecida, inclusive at os nossos dias, como cidade de Campinas. Cf. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Ob. Cit., 1976, p.109. 7 Cf. DALINCOURT, Luiz. Ob. Cit., p.51-53; SAINT-HILAIRE, Auguste de. Ob. Cit., 1976, p.110.8 Para maiores informaes do processo de ocupao das terras campineiras at meados do sculo XIX, veja: TEIXEIRA, Paulo Eduardo. O outro lado da famlia brasileira. Campinas, So Paulo: Editora da Unicamp, 2004.9 KIDDER, Daniel P. Ob. Cit., p.236.
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PROCESSOS MIGRATRIOS
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
PAulO EduARdO TEIxEIRA
e So Joo do Rio Claro ficaram inteiramente cobertas de cafezais. Esta nova cultura teve conseqncias muito benficas para Campinas, ento vila ainda, e que em 1840 foi elevada categoria de cidade, desenvolvendo-se da para c em extenso e importncia.10
As declaraes desse viajante remetem a dois momentos econmicos distintos: o perodo da lavoura canavieira, e o do caf, sendo a condio de cidade um marco desse momento de crescente esplendor, onde o mesmo afirmou que Campinas est fadada a ser a segunda cidade da Provncia. O municpio contava com uma populao total de 21 mil habitantes, informou Tschudi, sendo que destes 14 mil eram escravos, e que a cidade abrigava de cinco a seis mil pessoas livres. Esses nmeros registram a vitalidade e a grande importncia alcanada por Campinas como centro comercial de vrias comarcas, tanto da Provncia, como tambm da de Minas Gerais, que para ela enviam seus produtos, tais como algodo, toucinho, feijo, queijo, etc., recebendo em troca sal, ferramentas, artigos importados da Europa. Entretanto, para que o sucesso da cidade fosse coroado de pleno fulgor, Tschudi apontou para uma questo vital: a construo da estrada de ferro Santos So Paulo Campinas 11, que foi realizada poucos anos mais tarde.
O Recenseamento Geral do Imprio de 1872 apontou para a existncia de uma populao de 31.397 pessoas, sendo 13.685 escravas, e pouco antes da abolio da escravatura o levantamento de 1886 sinalizou que Campinas possua 41.253 habitantes, dos quais 9.986 eram ainda cativos.12 Tais informaes nos levam a pensar nos impactos das leis abolicionistas sobre a composio da populao, com um significativo declnio da populao cativa, principalmente a partir dos anos de 1860, assim como o reflexo da poltica de incentivo imigrao europeia que gerou um contingente significativo de pessoas dentro da categoria de pessoas livres depois dos anos de 1870, conforme ilustra o Grfico 1.
10 TSCHUDI, J.J. von. Viagem s Provncias do Rio de Janeiro e So Paulo. So Paulo: Ed. Martins, 1976, p.154.11 TSCHUDI, J.J. von. Ob. Cit., p.173.12 Cf. Diretoria Geral de Estatstica Recenseamento Geral do Imprio de 1872. Rio de Janeiro, Leuzinger e Filhos, 1873-1876. Relatrio apresentado ao Exm. Sr. Residente da Provncia de So Paulo pela Commisso Central de Estatstica. So Paulo, Leroy King Bookwalter, Typographia King, 1888.
GRFICO 1: Crescimento da Populao Livre e Escrava em Campinas
Fontes: Listas Nominativas de Habitantes de Campinas: 1774; 1794; 1814; 1829 (AEL/UNICAMP); Quadro Estatstico da Populao da Provncia de So Paulo recenseaada no anno de 1854. So Paulo: Typographia Dous de
Dezembro de Antonio Louzada Antunes, 1856; Recenseamento Geral do Imprio de 1872. Rio de Janeiro: Leuzinger e Filhos, 1873-1876. Relatrio apresentado ao Exm. Sr. Residente da Provncia de So Paulo pela Commisso Central de
Estatstica. So Paulo: Leroy King Bookwalter, Typographia King, 1888.
16 Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
PROCESSOS MIGRATRIOS DE OnDE ElES vIERAM? ESTuDO SObRE ORIGEM E MIGRAO DOS nOIvOS PARA CAMPInAS, 1774-1888
Fontes, objetivos e metodologia
A mobilidade geogrfica ou espacial nas sociedades do sculo XIX e anteriores podem ser estudadas graas informao sobre a naturalidade que consta de algumas Listas Nominativas de Habitantes, assim como nos Registros Paroquiais de Casamento. A vantagem das listas nominativas o fato destes documentos informarem a naturalidade de todas as pessoas da freguesia/vila/cidade, como tambm indicar outras variveis importantes para os estudos migratrios. Assim, a idade dos indivduos pode ser cruzada com o estado conjugal, a cor, o sexo e a prpria naturalidade, permitindo um olhar mais atento sobre a populao de uma maneira geral. O obstculo para o uso dessa fonte de informao reside no fato destes documentos terem sua suspenso a partir dos anos de 1830, razo pela qual os registros da catolicidade tornam-se fundamentais para entendimento do processo de entrada e sada de pessoas numa dada localidade a partir desse momento.
Para Campinas temos vrias listas nominativas conservadas e que serviram de fontes para vrios estudos e ainda continuaro a ser por muitos anos. Contamos tambm com uma srie histrica dos registros paroquiais de batizados, matrimnios e bitos quase intacta, h apenas uma grande lacuna ocorrida pela perda do livro 3 de bitos (1819-1830), mas que no impede o seu uso para os estudos sobre fecundidade, natalidade, mortalidade e migrao.
Neste trabalho o objetivo apresentar alguns dados recolhidos dessas duas fontes, mas ainda de forma amostral, para tecermos algumas consideraes acerca do processo migratrio ocorrido em Campinas, especialmente durante o sculo XIX at prximo ao fim do escravismo, ou seja, em 1888, com o auxlio do instrumental da demografia histrica. Para tanto vamos usar as listas nominativas de 1794 e 1829 e os registros paroquiais de casamento de pessoas livres e escravas.
Cabe dizer que dentro dessa proposta de estudo procuraremos dar nfase a questo da participao dos jovens, embora no de maneira exclusiva, uma vez que ela esteve imersa na populao total. Para tanto, uma definio do que se entende por jovem dentro do contexto do sculo XIX deve ser posta para evitar divergncias de interpretao, embora a posio adotada no se coloca como definitiva.
As Primeiras Constituies do Arcebispado da Bahia entendiam que as mulheres poderiam contrair matrimnio a partir dos 12 anos, enquanto que os rapazes somente poderiam fazer o mesmo aos 14 anos. Assim, entendemos que a possibilidade de entrada de uma pessoa no rol dos casados pode indicar o fim da infncia e o incio da idade jovem. Por sua vez, quando que esta terminaria? Para pensarmos isso, partimos de um estudo sobre velhos escravos, de autoria de Jos Flvio Motta13, que assegura que um indivduo ao atingir a idade de 50 anos ingressava na fase da velhice. Diante disso, adotamos para esta pesquisa a idade de 30 anos como sendo o limite mximo da fase jovem de uma pessoa no sculo XIX, no fazendo aqui uma distino mais precisa entre livres e escravos.
De onde vieram as pessoas que se instalaram em Campinas? A partir da fundao do municpio at o momento que foi extinta a escravido, o objetivo principal desse artigo analisar a origem de noivos e noivas, quer sejam livres ou escravos, nacionais ou estrangeiros, utilizando como informao a naturalidade daqueles que viveram e se casaram em Campinas.
13 MOTTA, Jos Flvio. Velhos no cativeiro: posse e comercializao de escravos idosos. ANAIS do XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais (ABEP), realizado em Caxambu (MG), Brasil, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2008, pp. 20.
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PROCESSOS MIGRATRIOS
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O que as listas nominativas nos dizem...
Em 1794 Campinas apresentava uma populao com idade mdia de 20 anos e um equilbrio entre os sexos que dava sinais da existncia de muitas famlias com filhos ainda em idade tenra, pois a idade modal foi de um ano e a idade mediana 15 anos.14 A representao da populao infantil de livres chegou a quase metade desse contingente, conforme podemos observar pela Tabela 1. A populao cativa, advinda de um processo migratrio caracterizado pelo seu valor econmico para o trabalho no campo e em muitas outras atividades, aparece com o predomnio de pessoas na faixa de 15 a 30 anos de idade, atestando sua importncia enquanto mo de obra na fase mais ativa e reprodutiva de suas vidas. Apesar disso, em relao a populao livre, a idade mdia foi superior a esta, com 23 anos, ao passo que a mediana chegou aos 22 anos e a moda aos 30. Isso demonstra que no processo inicial de expanso do povoamento de Campinas temos uma populao de povoadores livres e jovens e que optam por uma mo de obra tambm jovem, porm um pouco mais velha.
TABELA 1. Populao Livre e Escrava pela faixa de idade: Campinas, 1794 e 182915
Faixa de IdadeLIVRES ESCRAVOS
1794 1829 1794 1829
0-14 673 (49,2%) 901 (42%) 135 (27,2%) 286 (21,2%)
15-30 381 (27,8%) 615 (28,6%) 255 (51,3%) 650 (48,1%)
31-49 199 (14,5%) 425 (19,8%) 66 (13,3%) 334 (24,7%)
50+ 116 (8,5%) 206 (9,6%) 41 (8,2%) 81 (6,0%)
TOTAL 1.369 (100%) 2.147 (100%) 497 (100%) 1.351 (100%)
A populao livre em 1829 parece manter uma forma muito prxima a de 1794 quando
comparamos o peso relativo de cada segmento analisado na Tabela 1, ou seja, h um predomnio de crianas menores de 14 anos (42%), seguido pelos jovens (28,6%), adultos (19,8%) e velhos (9,6%). No entanto, notamos um aumento da idade mdia de 20 para 22 anos, a mediana de 15 para 18 e principalmente uma diferena fundamental no valor modal, que em 1829 foi de 40. Isso demonstra que houve um processo de envelhecimento da populao livre assim como um processo de fixao terra daquelas pessoas com mais idade, configurando um processo de consolidao do espao fsico da vila campineira como grande centro produtor de acar.
Essa anlise pode ser percebida ao vermos que a populao cativa tambm sofreu algumas interferncias, pois entre 1794 e 1829 houve uma concentrao maior de escravos entre os 15 e 49 anos. Se em 1794 a idade modal de um escravo era de 30 anos, em 1829 ela passou para 20 anos, embora a idade mdia e a mediana tenham se elevado um pouco. Alm disso, a razo de sexo de 1794 que era de 144 passou para 251, demonstrando um perfil scio-econmico diferente dos senhores de escravos os quais estavam assentados sob as bases da economia canavieira.
Em relao a outra varivel, a Lista Nominativa de Campinas do ano de 1814 apontou 53 diferentes locais de nascimento para os chefes de domiclio, ao passo que em 1829 a relao saltou para 73. Nestas listas encontramos poucas pessoas naturais de regies mais distantes, como nos casos de Cuiab, Curitiba, Rio de Janeiro, Minas Gerais, do continente do Sul, bem
14 A relao de sexo apontou para um ligeiro predomnio de mulheres (99,3).15 A Lista Nominativa de 1829 no foi tratada na sua totalidade, sendo os nmeros apresentados uma amostragem da populao de Campinas.
Fontes: Listas nominativas de
habitantes de Campinas, 1794 e 1829 (Arquivo
Edgard Leuenroth UNICAMP).
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como da Europa, sendo os europeus oriundos principalmente de Lisboa. Peso expressivo, no entanto, tiveram as reas mais prximas, como Atibaia, Itu, Jundia, Nazar, Bragana, Mogi-Mirim e So Paulo. Com relao aos escravos a informao omitida, podendo apenas inferir pela cor (Negro, Pardo ou Criolo) a origem africana ou nacional.
Para finalizar esta sesso, devemos falar um pouco sobre a origem das pessoas que viveram em Campinas em 1829, especialmente os jovens. Pensar a origem dos indivduos remonta a questo do processo colonizador, onde a participao portuguesa foi posta ao lado das populaes indgenas e africanas posteriormente. A lista nominativa de Campinas em 1829 no indicou a cor de muita gente, mas daqueles que pudemos analisar notamos que 28,5% eram jovens entre 15 e 30 anos. Destes, a maior parte era composta de brancos, sendo 169 homens e 249 mulheres. Os chamados pardos apareceram em segundo lugar, com 74 homens e 115 mulheres que podemos dizer eram fruto do processo de miscigenao ocorrido no Brasil desde ento. E finalmente apareceram apenas dois pretos livres, indicando a dificuldade daqueles que advinham da escravido conseguirem adentrar noutra classe.
O que nos dizem os matrimnios...
Quanto aos Registros Paroquiais de casamentos podemos dizer que so fontes documentais de outra natureza e que muitas informaes, como a idade dos noivos ao casar no informada. Por sua vez, e especialmente em relao aos cativos, podemos obter o conhecimento de suas origens de uma forma mais precisa que as listas nominativas.
Os registros matrimoniais nos informaram que havia 173 diferentes locais de nascimento para os noivos de ambos os sexos, abrangendo o perodo de 1774 at 1850.16 O espectro de vilas e cidades se assemelhou ao apontado pelas Listas Nominativas, confirmando a importncia de localidades vizinhas a Campinas, em seu processo de povoamento, como reas de disperso de imigrantes livres. Tal fato pode ser comparado ao caso estudado por Giovani Levi, onde o autor demonstrou que a cidade de Turin, na Itlia, durante a primeira metade do sculo XVIII, cresceu em grande medida pela vinda de imigrantes das dioceses de Mondovi e de Vercelli, chegando concluso que:
Onde uma boa economia, uma boa agricultura se desenvolve, forma-se como uma barreira que modifica as estruturas da rea geogrfica da imigrao. Ao contrrio, as zonas em crise deixam escapar muito mais gente.17
Diante destas informaes, o que temos um quadro desenhado onde Campinas se apresenta como lugar de grande atrao, e os fatores econmicos de possibilidades para o assentamento de uma populao desejosa de enriquecer, certamente fez com que a regio tornasse um plo de atrao como poucos no Brasil. Terras de boa qualidade e em abundncia, formas de explorao econmica diversificada, desde a agricultura mercantil at o pequeno comrcio, o qual foi se desenvolvendo desde os primrdios do povoamento das terras campineiras at o momento que atingiu a condio de cidade e comeou a ser palco de uma industrializao incipiente em meados do sculo XIX, quando a economia cafeeira permitiu a introduo na cidade de inmeros smbolos da modernidade: os trilhos de trem, a iluminao pblica, as reformas sanitrias.
16 Vale lembrar que depois desse perodo o rol se ampliou muito, tanto de lugares de outras regies do Brasil quanto do exterior, especialmente Itlia, Portugal e Espanha.17 LEVI, Giovanni. Mobilit della popolazione e immigrazione a Torino nella prima meta Del settecento. Quaderni Storici, 1971, p.544.
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Para mapear a influncia da populao migrante nesse processo de constituio de uma nova sociedade, estaremos analisando principalmente os registros paroquiais de matrimnio realizados em Campinas durante o perodo de 1774 a 1888, cobrindo assim tanto a populao dita livre, quanto escrava. Procuraremos pensar nos processos envolvidos, tendo em conta os diferentes motivos de entrada de pessoas, como a escravido, que trouxe de maneira compulsria uma quantidade enorme de pessoas para os territrios campineiros. Por sua vez, o sistema de colonato introduzido em So Paulo pelo senador Vergueiro nos primrdios do sculo XIX em sua fazenda de Ibicaba, demonstrava outra proposta de trabalho para os estrangeiros, mas que somente ganhou fora depois de meados do XIX. Assim, nosso objetivo maior neste momento o de dar uma viso geral sobre as diferentes localidades que contriburam para enviarem pessoas para trabalhar, viver e, talvez, morrer em Campinas.
Tabela 2. Naturalidade dos noivos durante perodo da Freguesia de Campinas
Populao Livre (1774-1799)
NATURALIDADEHOMENS MULHERES
Nmeros absolutos % Nmeros absolutos %
Campinas 7 3,7 16 8,4
Atibaia 32 16,8 14 7,3
Bragana - - 2 1,0
Itu 16 8,4 8 4,2
Jundia 12 6,3 29 15,2
Nazar 17 8,9 28 14,7
Subtotal 84 44,1 97 50,8
Outras 107 55,9 94 49,2
TOTAL 191 100 191 100
Fonte: Registros Paroquiais de
Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de
Campinas).
A tabela 2 revela algo absolutamente esperado, que foi a pequena presena de noivos nascidos em Campinas no perodo inicial de seu povoamento e que corresponde ao momento de vinculao com a vila de Jundia, da qual Campinas foi bairro rural. Assim, a presena de noivos e noivas, em suma, de jovens, originria das vilas mais antigas e de reas sob a influncia das mesmas.
A tabela 3 procurou mostrar outro momento, o primeiro quarto do sculo XIX, que economicamente est relacionado com a expanso da economia aucareira e dos anos que a populao de noivos proveniente da prpria vila e com uma expresso significativa no total da mesma. Ainda assim, os jovens, e principalmente as noivas, so oriundos de Jundia, Itu, Nazar, Atibaia e Bragana.
No perodo em que a produo de acar dos engenhos campineiros chega a um dos patamares mais elevados at ento, ou seja, o segundo quarto do sculo XIX, a populao de noivos e noivas passam a ter uma participao fundamental na composio familiar dos novos domiclios, sendo que no perodo de 1825 a 1850 foram casados 525 homens (correspondendo a 38% do total de noivos) e 795 mulheres (57,6%), sendo a grande maioria composta por celibatrios, conforme estudo realizado das componentes demogrficas das famlias de livres.18 (Cf. Tabela 4) Por sua vez, nota-se um enfraquecimento da participao de jovens provenientes
18 TEIXEIRA, Paulo Eduardo. A formao das famlias e o processo migratrio: Campinas, 1774-1850. Tese de Doutorado. FFLCH USP, 2005.
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daqueles tradicionais povoados vizinhos e passa a dar lugar para uma gama maior de vilas e cidades, no apenas da Provncia de So Paulo, mas de muitas outras.
TABELA 3. Naturalidade dos noivos durante 1 perodo da Vila de Campinas
Populao Livre (1800-1824)
NATURALIDADEHOMENS MULHERES
Nmeros absolutos % Nmeros absolutos %
Campinas 204 16,7 404 33,1
Atibaia 93 7,6 87 7,1
Bragana 80 6,5 61 4,9
Itu 66 5,4 71 5,8
Jundia 96 7,8 127 10,4
Nazar 105 8,6 103 8,4
Subtotal 644 52,6 853 69,7
Outras 578 47,4 369 30,3
TOTAL 1.222 100 1.222 100
Fonte: Registros Paroquiais de Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de Campinas).
TABELA 4. Naturalidade dos noivos durante 2 perodo da Vila de Campinas
Populao Livre (1825-1850)
NATURALIDADEHOMENS MULHERES
Nmeros absolutos % Nmeros absolutos %
Campinas 525 38,1 795 57,6
Atibaia 24 1,7 12 0,8
Bragana 50 3,6 49 3,5
Itu 56 4,1 30 2,2
Jundia 78 5,6 40 2,9
Nazar 14 1,1 16 1,2
Subtotal 747 54,2 942 68,2
Outras 632 45,8 437 31,8
TOTAL 1.379 100 1.379 100
Fonte: Registros Paroquiais de Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de Campinas).
A tabela 5, embora no apresente as informaes completas at os anos finais do regime escravista no Brasil, como j assinalamos anteriormente, indica o caminho das transformaes que a cidade de Campinas sofreu com o predomnio da economia cafeeira a partir de meados do sculo XIX. De um lado o nmero relativo de noivas nascidas em Campinas diminuiu em relao ao perodo anterior, e mais, as jovens nascidas em outras localidades, pela primeira vez, suplantou as noivas originrias daquelas seis vilas que focamos nestas tabelas, atingindo uma participao de 55,2%.
Em relao aos homens, fenmeno semelhante ocorre, mas com uma participao ainda mais elevada de 59,5%. Essas informaes podem ser interpretadas como o momento que a cidade de Campinas passa a se constituir em um local de grande atrao, no apenas de paulistas e mineiros, mas tambm de sulistas, cariocas, e muitos outros, alm dos imigrantes europeus que passaram a fazer parte da paisagem rural e urbana.
Em relao populao escrava podemos afirmar que houve um processo que no pode ser desvinculado dos fatores econmicos e migratrios da populao livre. Assim, a origem
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africana da maioria dos noivos e noivas cativos que se casaram sob a bno da Igreja era indicada nos documentos como Gentio de Guin, ou seja, dos 3.650 matrimnios, 37,9% dos noivos e 25,3% das noivas receberam tal denominao. A participao de outros grupos, como os oriundos de Angola, Benguela, Congo, Guin e Moambique so nfimos ou inexistem em alguns perodos. Os noivos de Nao aparecem com maior vigor no perodo de 1850 a 1877, enquanto que os nascidos em Campinas, existentes desde o perodo inicial que estudamos, vo crescendo mais e mais, chegando a compor 6,4% de noivos (235 casos), e 11,6% de noivas (423 casos), entre 1774 e 1888. Essas informaes indicam que a reproduo natural da populao cativa se fazia mesmo sob condies muito adversas, como a elevada razo de sexo entre eles, e as duras condies do cativeiro.
TABELA 5. Naturalidade dos noivos durante perodo da cidade de Campinas
Populao Livre (1851-1879)
NATURALIDADEHOMENS MULHERES
Nmeros absolutos % Nmeros absolutos %
Campinas 755 36,5 1.058 43
Atibaia 9 0,4 4 0,2
Bragana 2 0,1 5 0,2
Itu 35 1,4 12 0,5
Jundia 51 2,1 19 0,8
Nazar 1 0,0 3 0,1
Subtotal 853 40,5 1.101 44,8
Outras 1.609 59,5 1.361 55,2
TOTAL 2.462 100 2.462 100
Fonte: Registros Paroquiais de
Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de
Campinas).
Fonte: Registros Paroquiais de
Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de
Campinas).
GRFICO 2. Total de Casamentos Escravos e Livres por Perodo19 (Campinas, 1774-1888)
No perodo inicial do povoamento de Campinas, podemos observar pelo Grfico 2 que a populao cativa se resumia a poucas pessoas, resultando em um nmero tambm diminuto de casais, posteriormente, quando a lavoura canavieira passou a exigir uma quantidade de mo
19 Os dados para a populao livre do perodo de 1876-1888 esto na fase final de tabulao.
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de obra maior, h um reflexo direto no nmero de casamentos aps 1800. H de notar que a quantidade de matrimnios realizados aps o fim do trfico de escravos bem maior que os perodos anteriores, o que pode ser explicado no apenas por um suposto estmulo dos senhores de escravos aos casamentos de seus subordinados, pois essa prtica nos parece que j era empregada antes da lei de 1850, mas resultado do aumento do nmero de escravos que vieram para as fazendas de Campinas em virtude do trfico interno. Isso fica patente ao observarmos o nmero de localidades de origem dos noivos que aumenta proporcionalmente em relao ao nmero de cativos na medida em que avanamos no sculo XIX. Notemos tambm que esse processo ocorreu para a populao livre, uma vez que o perodo da grande imigrao europeia comeou aps os anos de 1870.
Assim, o processo migratrio interno apresenta uma importncia significativa para explicar certos comportamentos populacionais ocorridos nesse perodo de grandes mudanas sociais. Uma dessas dinmicas o crescimento vegetativo da populao que se fixou em Campinas, proporcionando ao longo das geraes de livres e escravos um contingente significativo de jovens naturais da prpria localidade e que vieram a contrair o matrimnio. Se h uma tendncia ao crescimento dos noivos nascidos em Campinas, conforme assinalada pelo Grfico 3, deve-se ressaltar a superioridade do nmero de mulheres em relao aos homens, ainda que haja uma diferena entre os segmentos de livres e escravos. E essa diferena se mostra em relao a outras variveis, como o tempo, pois se a partir de 1850 h uma queda no nmero de noivos livres nascidos em Campinas, o mesmo fato no ocorre entre os noivos cativos, e o aumento tanto de mulheres (22%) quanto de homens (10,8%) segue uma tendncia crescente. Estas informaes corroboram com a existncia da famlia escrava em certas condies favorveis no apenas ao casamento, como tambm para a sua multiplicao, gerando filhos que vieram a se casar em sua terra natal.
GRFICO 3. Noivos Escravos e Livres nascidos em Campinas por Sexo e Perodo (Campinas, 1774-1888)
Fonte: Registros Paroquiais de Casamento (Arquivo da Cria Metropolitana de Campinas).
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Diante do trabalho apresentado, os resultados apontam para uma possibilidade de se compreender melhor o impacto do processo migratrio em Campinas, no apenas para os perodos iniciais de seu povoamento, como tambm para os momentos de ampliao da cidade e de grandes mudanas sociais e econmicas, com o fim do sistema escravista em 1888 e a implantao do colonato com o uso de mo de obra estrangeira, sobretudo europia, ao menos at o final do sculo XIX.
Os dados levantados fazem parte de algumas pesquisas j realizadas e outras em andamento, como a do Observatrio das Migraes em So Paulo, onde j indicamos alguns dados que permitem dizer que o processo migratrio para Campinas ocorre inicialmente por pessoas jovens, com idade mdia em torno dos vinte anos de idade, sendo a maior parte deles brancos e oriundos de localidades vizinhas prximas a Campinas, que com o passar do tempo, e sobretudo com a elevao a condio de cidade, pessoas de muitas outras localidades passam a buscar em Campinas um lugar para viver, trabalhar, casar.
Quanto a populao cativa, notamos um aumento de noivos nascidos no Brasil, os chamados criolos, e muitos deles filhos de Campinas. A entrada de escravos vindos de vrias partes do Brasil, inclusive da Bahia e outras provncias do nordeste que estavam exportando esse tipo de mo de obra, atesta a vigorosa economia que girou em torno do acar e posteriormente do caf, de maneira que o final do trfico transatlntico de escravos no prejudicou os objetivos dos grandes senhores de escravos.
Entender como esse processo se desenrolou nos anos prximos ao fim da escravido no Brasil um estudo que em breve teremos condies de efetuar e assim dar prosseguimento a este trabalho que busca compreender os processos demogrficos, econmicos e sociais em uma cidade que no sculo XIX se tornou a segunda maior da Provncia.
Referncias
BRITO, Jolum. Histria da cidade de Campinas. s.ed.; Campinas, 1956, v.1, p.66; BARRETTO, Margarita. Vivendo a Histria de Campinas. Campinas: Mercado das Letras - Autores Associados, 1995, p.55.
DALINCOURT, Luiz. Memria sobre a viagem do porto de Santos cidade de Cuiab. So Paulo: Martins Editora, 1976, p.51.
KIDDER, Daniel P.. Reminiscncias de viagens e permanncias nas provncias do Sul do Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; So Paulo: Ed. da USP, 1980, p.233.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Provncia de So Paulo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; So Paulo: Ed. da USP, 1976, p.83.
TEIXEIRA, Paulo Eduardo. A formao das famlias e o processo migratrio: Campinas, 1774-1850. Tese de Doutorado. FFLCH USP, 2005.
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O presente trabalho procura investigar como se deu a formao da populao do municpio de So Carlos ao longo das trs primeiras dcadas de sua existncia, isto entre 1857, ano em que o futuro municpio se constituiu como distrito de Araraquara e 1888, quando findou o regime escravocrata. A parte o conhecimento especfico acerca da historia local, o tema interessa porque So Carlos se formou como um municpio em certa medida tpico da economia cafeeira que vicejou em reas do interior paulista a partir de meados do sculo XIX. Situado prximo ao centro geogrfico do estado e inserido numa rea crescentemente valorizada pela expanso da fronteira agrcola rumo ao oeste paulista, o municpio acompanhou a transio do trabalho escravo ao trabalho livre. Alm disso, o trabalho pretende contribuir para a compreenso da direo e magnitude dos fluxos migratrios internos e externos ao estado de So Paulo, responsveis pela ocupao efetiva do territrio onde se situa o municpio. As migraes internas, em particular, so muito pouco conhecidas e raramente aferidas sob uma abordagem quantitativa, mesmo que aproximativa, como o caso deste artigo.
Metodologicamente, o trabalho pretende realizar uma aproximao da formao da populao do municpio por intermdio dos registros paroquiais de casamento, que em geral consignam a naturalidade dos cnjuges. O primeiro casamento registrado na parquia local ocorreu logo em 1860, quando ocorreu a nomeao do primeiro proco para a Freguesia, o portugus Joaquim Botelho da Fonseca. Naturalmente, tal dmarche peca por desdenhar as chamadas unies consensuais, em uma poca em que estas eram relativamente comuns, sobretudo nos estratos menos favorecidos da populao. Deste modo, subestima-se o peso destes estratos no conjunto da populao, uma vez que tais fraes praticavam com menos frequncia o casamento formal. provvel que tal situao seja particularmente relevante no caso da populao de escravos, cujas condies de opresso favoreciam em menor grau as unies formais. No por acaso que, logo aps a abolio, assiste-se a um boom de casamentos entre indivduos que outrora pertenceram a este grupo (Truzzi, 2012). Outro vis, cremos que
MIGRAES NA FORMAO INICIAL DA POPULAO NO OESTE PAULISTA: UMA APROxIMAO POR MEIO DE
REGISTROS PAROQUIAIS DE CASAMENTO NO PR-ABOLIO EM SO CARLOS, SP
Oswaldo Truzzi Eder Carlos Zuccolotto
Fransergio Follis
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este menos grave por sua menor magnitude, refere-se aos casamentos de no catlicos, comuns entre algumas fraes de imigrantes alemes protestantes. De qualquer modo, mesmo tendo presente tais limitaes, interessante observar quais as naturalidades dos cnjuges que se casaram no municpio ao longo destas trs dcadas de formao inicial da populao, em um perodo imediatamente anterior grande avalanche de imigrantes estrangeiros que acorreu ao municpio a partir do final da escravido (Truzzi e Bassanezi, 2009).
MAPA 1. Diviso Territorial da Provncia de So Paulo (1886), agrupada segundo regies
Fonte: adaptado de Bassanezi et al. (2008, p. 129).
1. guas de Santa Brbara
2. Amparo
3. Angatuba
4. Apia
5. Araariguama
6. Araoiaba da Serra
7. Araraquara
8. Araras
9. Areias
10. Atibaia
11. Avar
12. Bananal
13. Batatais
14. Bofete
15. Bom sucesso
16. Botucatu
17. Bragana Paulista
18. Brotas
19. Cabreva
20. Capaava
21. Cachoeira Paulista
22. Caconde
23. Cajuru
24. Campinas
25. Campos Novos Paulista
26. Canania
27. Capo Bonito
28. Capivari
29. Caraguatatuba
30. Casa Branca
31. Cotia
32. Cruzeiro
33. Cunha
34. Descalvado
35. Dois Crregos
36. Eldorado
37. Esprito Santo do Pinhal
38. Esprito Santo do Turvo
39. Franca
40. Guarantinguet
41. Guare
42. Guarulhos
43. Ibina
44. Igarapava
45. Iguarat
46. Iguape
47. Ilhabela
48. Indaiatuba
49. Iporanga
50. Itanham
51. Itapaecerica da Serra
52. Itapetininga
53. Itapeva
54. Itapira
55. Itaporanga
56. Itatiba
57. Itu
58. Ituverava
59. Jaboticabal
60. Jacare
61. Jambeiro
62. Ja
63. Jundia
64. Logainha
65. Lavrinhas
66. Lenis Paulista
67. Limeira
68. Lorena
69. Mococa
70. Mogi das Cruzes
71. Mogi-Guau
72. Mogi Mirim
73. Monte Mor
74. Monteiro Lobato
75. Natividade da Serra
76. Nazar Paulista
77. Paraibuna
78. Patrocnio Paulista
79. Piedade
80. Pindamonhangaba
81. Piracaia
82. Piracicaba
83. Piraju
84. Pirassununga
85. Porto Feliz
86. Queluz
87. Redeno da Terra
88. Ribeiro Preto
89. Rio Claro
90. Salespolis
91. Santa Brbara dOeste
92. Santa Branca
93. Santa Cruz das Palmeiras
94. Santa Cruz do Rio Pardo
95. Santa Isabel
96. Santa Rita do Passa Quatro
97. Santana do Parnaba
98. Santo Amaro
99. Santos
100. So Bento do Sapuca
101. So Carlos
102. So Joo da Boa Vista
103. So Jos do Barreiro
104. So Jos do Rio Pardo
105. So Jos dos Campos
106. So Lus do Paraitinga
107. So Manuel
108. So Paulo
109. So Pedro
110. So Roque
111. So Sebastio
112. So Simo
113. So Vicente
114. Sarapu
115. Serra Negra
116. Silveiras
117. Socorro
118. Sorocaba
119. Tatu
120. Taubat
121. Tiet
122. Ubatuba
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Para tanto, com base na diviso administrativa do estado de So Paulo em 1886, dividimos o mesmo em reas numericamente significativas para o propsito do presente artigo: o prprio municpio de So Carlos, os municpios imediatamente vizinhos, a regio de Ribeiro Preto (inclusive Franca) e norte do estado (inclusive Jaboticabal), a regio conhecida como quadriltero do acar, o Vale do Paraba, municpios paulistas situados na fronteira leste com Minas Gerais, a rea circunvizinha capital, o litoral e uma vasta regio remanescente margem esquerda do Tiet e sul do estado (vide mapa 1, a seguir). Alm disso, distinguimos algumas reas externas ao estado, como os municpios do sul de Minas Gerais, prximos a So Paulo, o restante deste estado, a Bahia, outros estados das regies norte e nordeste, a frica e a Europa.
O contexto regional: os sertes de Araraquara e o surgimento de So Carlos
Na primeira metade do sculo XVIII, os Sertes de Araraquara passaram a ser um pouco mais conhecidos em razo da intensificao do trfego pela via fluvial do Tiet, utilizada pelos viajantes que partiam de Piratininga ou Itu em direo s minas de ouro de Mato Grosso, descobertas em 1718. Dessa forma, a partir da dcada de 1720, a denominao sertes ou campos de Araraquara comea a aparecer nos relatos de viajantes, aventureiros e em documentos oficiais. Exploradores, que escapavam da lei ou eram degredados, e aventureiros resvalaram por essas terras na passagem para o sculo XIX. Tambm h vrias notcias sobre a existncia de quilombos, combatidos por sertanistas a mando do governador da capitania.
Nessa poca, o territrio civilizado do oeste paulista estendia-se no mximo at a regio de Rio Claro. A princpio, a viagem era realizada por via fluvial, mas com o tempo abriu-se uma picada cujo trajeto passava por territrios margem direita do Tiet. O picado de Cuiab, como ficou conhecido, partia de Itu, passava por Piracicaba, e, em terras hoje ocupadas pelo municpio de So Carlos, atravessava os campos do crrego do Feijo e cortava a mata densa do Pinhal, onde hoje est o ncleo urbano. Depois, seguia pelos extensos cerrados dos campos de Araraquara, atingindo a margem direita do Tiet na altura de Potunduva, atual distrito de Ja.
Com a abertura do caminho, surgiram os primeiros povoadores. No princpio, eram meros posseiros que, ocupando terras virgens, buscavam rumos novos para suas vidas. Viram-se, no entanto, logo substitudos pelos sesmeiros, que escudados na justia do Reino, expulsavam-nos ou compravam-lhes os discutveis direitos. A partir de fins do sculo XVIII, a histria local registra um intenso movimento de apropriao de terras por meio de disputa pela concesso de cartas de sesmaria. De fato, no ano de 1781 foram concedidas as primeiras trs cartas de sesmarias na regio.
A partir desse momento, os Sertes de Araraquara passaram a atrair migrantes paulistas e mineiros procura de pastagens naturais para a criao de gado. No por acaso, a maioria dos pedidos de sesmaria na regio era acompanhada da justificativa para criar gado, e as terras requeridas geralmente eram de campos, e no de matas. Nos censos populacionais efetuados entre os anos de 1809 e 1811, a pecuria aparece como a principal atividade dos moradores. As reas de matas, geralmente compostas de solos mais frteis, somente passaram a ser mais valorizadas a partir da segunda dcada do sculo XIX, quando se tem incio a produo de cana-de-acar e so construdos os primeiros engenhos na regio. Uma explorao mais intensiva dessas reas, entretanto, ocorreria somente algumas dcadas mais tarde, com a expanso da lavoura cafeeira.
Nas primeiras dcadas de povoamento, ao lado da criao de gado, principal atividade dos moradores, a populao desenvolvia tambm uma economia de subsistncia baseada
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especialmente na produo de milho, arroz e feijo. Alm desses produtos, os censos de 1809 a 1811 registraram a produo de algodo e cana-de-acar. Destacavam-se tambm a criao de porcos, a produo de queijos, mel e cera de abelha, alm do cultivo do fumo.
Muitos desses produtos, especialmente o algodo e os gados vacum e cavalar, eram comercializados nas regies prximas mais povoadas, sobretudo Piracicaba, vila produtora de acar que funcionava como mercado consumidor e distribuidor dos produtos dos Campos de Araraquara. Piracicaba e outras localidades forneciam para os sertes ferramentas e o necessrio sal para o gado. Um ofcio de 1823, encaminhado ao presidente da provncia de So Paulo para reivindicar a melhoria do caminho de Piracicaba recm fundada freguesia de Araraquara, nos d mostra das estreitas relaes comerciais estabelecidas entre os moradores dos Sertes de Araraquara e Piracicaba. Nesse documento o inspetor do caminho relatou o seguinte:
[...] sendo alis sse comrcio muitas vzes vantajoso a esta vila [Piracicaba] que pela maior parte trabalha no fabrico do acar e daquela freguesia [Araraquara] vm boiadas que aqui se compram para o trabalho nos engenhos, alm de outros gneros que aqui se consomem como queijos e algodes que de l vem com tanta abundncia [...] (Corra, 1967, p.57)
Em 1827, o alferes Adriano Jos de Campos, ao solicitar melhorias para a freguesia de Araraquara ao governador da capitania de So Paulo, ressaltou a importncia que a localidade tinha enquanto centro fornecedor de vrios produtos s regies vizinhas:
[...] esta freguesia j utiliza a nao porque em seus campos j se criam muito gado vacum alm de ter excelentes terras lavradias que produzem com admirao cana, algodo e fumo, gneros que produzem a maior parte de seus habitantes, alm de grande nmero de porcos, que desta freguesia so vendidos para vrias partes [...](Corra, 1967, p.57)
Tambm em 1827, Rio Claro constituiu-se como parquia de Piracicaba, tendo sido um dos ltimos ncleos urbanos surgidos na regio graas produo canavieira, desenvolvida com crescente progresso at meados do sculo XIX. Em 1845, a Vila de So Joo do Rio Claro desmembrou-se do municpio de Piracicaba.
Na regio de Araraquara, do mesmo modo que em Rio Claro, foram ensaiados os primeiros cultivos de cana-de-acar, que logo sucederam as fazendas de criao de gado, enquanto o caf comeava a ser cultivado no Vale do Paraba, regio onde se situavam antigos engenhos. A partir de 1840, o perodo de consolidao da cana-de-acar foi marcado por importantes transformaes: a terra valorizou-se na medida em que as lavouras comearam a penetrar na regio; o diferencial de produtividade entre elas, decorrente da maior ou menor fertilidade, determinou sua utilizao, ou para plantio de cana ou para criao de gado; a procura pelo brao escravo tornou-se acirrada pelo aparecimento de uma lavoura comercial na regio.
Nas dcadas de 1850 e 1860, no entanto, j se torna perceptvel a presena de outra cultura que, pela importncia vindoura, varreria tanto as fazendas canavieiras quanto os latifndios pastoris da regio: o caf. a partir da que se identifica o virtuoso desenvolvimento do ncleo de So Carlos, cuja capela comearia a ser erigida em 1856.
Sesmeiros, posseiros e escravos
Desmembrado de Araraquara, o municpio de So Carlos foi formado por reas diversas, em sua maioria originrias de trs grandes sesmarias. A Sesmaria do Monjolinho, posse irregular no comeo do sculo, foi regularizada por carta de doao de 1810, concedida a Felippe de Campos Bicudo, sendo em seguida adquirida por Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, mais
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tarde senador do Imprio e ministro de Estado, pioneiro da importao de imigrantes para o trabalho livre em So Paulo. Nesta sesmaria se inclua toda a parte norte da atual cidade. A Sesmaria do Quilombo, tambm surgida de posse irregular, foi legalizada somente em 1812, a requerimento do posseiro, vigrio de Piracicaba, padre Manoel Joaquim do Amaral Gurgel. Compreendia as terras baixas de beira do Rio Mogi Guau, no atual Distrito de Santa Eudxia, longe do centro de So Carlos. A mais antiga, a Sesmaria do Pinhal, de propriedade dos Arruda Botelho, compreendia a metade sul do futuro permetro urbano.
Na verdade, os Botelhos representavam apenas um tronco dos mais influentes, sem dvida dentre o conjunto de famlias formadoras da oligarquia rural regional. A maior parte delas proveio de cidades mais antigas e j era afazendada nesses municpios: os Botelhos e os Camargo Penteado, em Piracicaba; os Abreu Sampaio, os Salles e os Camargo, em Campinas; outros de Itu e arredores.
Quando pessoas de influncia da corte portuguesa em geral proprietrios de terras localizadas nas regies favorecidas pelo ciclo do acar do incio do sculo XIX obtiveram concesses de terras na regio, iniciou-se, como vimos, um intenso movimento de especulao imobiliria. A princpio pouco importantes em termos de ocupao efetiva, medida que as sesmarias foram demarcadas com vistas explorao agrcola, tratou-se logo de promover a expropriao do gentio nativo da regio.
Eram lavradores em busca de terras que os fariam pequenos proprietrios no oeste, onde dispunham de uma vasta regio inexplorada, de solo frtil e clima temperado. Nas reas em torno dos caminhos antes percorridos pelas bandeiras, aglutinavam-se temporariamente, pois se utilizavam de tcnicas agrcolas predatrias, formando pequenas lavouras de subsistncia que substituam a floresta virgem at ento existente.
Em So Carlos, talvez o mais expressivo deles tenha sido um tal Gregrio, que l residia em 1831, quando a Sesmaria do Pinhal foi demarcada, beira do riacho denominado inicialmente Agoas da Servido, que atravessava a cidade e que herda seu nome. Outro deles foi Inacinho, um agregado que dava pousada aos viajantes, primeiro morador da rua Santo Incio, e que depois se transformou em rua do Carvalho e, em seguida, rua Episcopal.
Com a organizao das fazendas e a perspectiva de implantao de lavouras comerciais, essas pessoas foram expulsas, ou submetidas a variadas formas de arrendamento, ou ainda incorporadas como empregados para servios variados nas grandes exploraes agrcolas. Como no dispunham de nenhum poder ou influncia capaz de converter a ocupao original dessas terras em posses legalizadas pela Coroa, foram em pouco tempo expropriados e marginalizados.
Com o tempo, vrias fazendas foram organizadas na regio. Um pouco antes de 1857, data da fundao de So Carlos, nada mais havia na regio alm de fazendas localizadas em uma zona pioneira, tocadas por brao escravo, que lidavam com a criao de alguns bovinos e sunos, bem como com um incipiente cultivo de cana-de-acar.
O desenvolvimento da populao de So Carlos ao longo de suas trs primeiras dcadas
Os negros encarnavam quase toda a possibilidade de produo das fazendas em meados do sculo XIX. Foram fartamente empregados no trabalho, tanto dos engenhos e das lavouras de acar quanto das fazendas cafeeiras formadas ao longo da marcha do caf.
A data da fundao de So Carlos, em 1857, coincide com o declnio do regime escravista no Brasil. A lei que extinguiu o trfico negreiro, promulgada em 1850, era o prenncio de que
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a mo de obra seria escassa a partir dali, o que fez o valor dos escravos praticamente dobrar na regio. Tal alterao reflete a extino do trfico, sem dvida, mas tambm o fato de a regio estar se transformando em rea de lavouras comerciais.
Apesar disso, durante mais de 30 anos, os fazendeiros da regio ainda continuaram utilizando o trabalho escravo, pois, na verdade, este representava a garantia de existncia do latifndio, que se esfacelaria na ausncia de braos que mantivessem sua produo. A anlise de inventrios permite aquilatar a ampla utilizao da escravaria nas propriedades rurais. Para se ater a dois casos conhecidos, os inventrios abertos em 1862 e 1875, oriundos do falecimento das esposas de Antonio Carlos de Arruda Botelho e Francisco da Cunha Bueno, assinalaram contingentes de 49 e 89 escravos respectivamente.
Inicialmente, os escravos eram trazidos dos municpios vizinhos por seus donos, que j os possuam em propriedades rurais em outras regies. Assim, por exemplo, Francisco da Cunha Bueno e seu sobrinho e genro, Alfredo Ellis, trouxeram, em 1874, para a formao da futura Fazenda Santa Eudxia, em So Carlos, cerca de 100 escravos negros e mulatos, provavelmente originrios das outras propriedades que o primeiro j possua em Itaqueri, prximo a So Pedro. O mesmo ocorreu com Joo Alves de Oliveira, procedente de Minas Gerais, para a abertura de sua fazenda na Sesmaria do Monjolinho.
medida que a regio de So Carlos foi se constituindo, ao final do Imprio, como frente pioneira do caf, solicitando, assim, mais braos, os cafeicultores tiveram de importar escravos de outras provncias, sobretudo nordestinas, ainda que a um preo exorbitante.
Em 1852, quando o municpio ainda no havia sido criado, o nmero total de escravos em Araraquara, municpio que deu origem ao de So Carlos, era de 1.176. Mais de 20 anos depois, em 1874, So Carlos abrigaria em suas fazendas perto de 1.600 escravos, quase o mesmo nmero que Araraquara. Nos dez anos seguintes, o emprego de escravos mais do que dobrou: em 1884, havia 3.774 deles no municpio, o stimo contingente de todo o estado. Tal cifra diminuiu muito pouco at as vsperas da abolio. Em relao Araraquara, So Carlos, ao longo dos dez anos que precederam a abolio, sempre disps de aproximadamente o dobro do nmero de escravos. Rio Claro, por outro lado, sempre contou com uma populao escrava um pouco maior que a de So Carlos.
Durante os anos que precederam a abolio, os conflitos avolumaram-se e as fugas de escravos tornaram-se mais frequentes e planejadas. Os fazendeiros da regio, premidos entre a expanso de suas lavouras e a escassez de braos escravos, no hesitaram em incentivar a imigrao estrangeira. No entanto, revelaram tambm um profundo apego aos escravos ainda existentes, repelindo qualquer articulao abolicionista, atitude que s seria reavaliada nos ltimos meses que precederam a abolio, quando o controle das fugas e rebelies se mostrara impraticvel e o desfecho, inevitvel.
O ncleo mais prximo a So Carlos era Araraquara, onde as primeiras casas j haviam surgido quatro dcadas antes, mas que muito pouco progredira. Em So Carlos, um agregado cada vez maior de casas logo rodeou o stio em torno da capela. A licena episcopal para sua elevao, concedida no ano seguinte, em 1857, j a apanhara quase pronta, junto com mais de 50 ranchinhos cobertos de palha e uma casa de tijolos que Antonio Carlos de Arruda Botelho, futuro Conde do Pinhal, mandara construir.
Se percorrermos os primrdios da existncia de So Carlos, veremos que, em menos de trs dcadas de 1856, ano em que foi iniciada a construo da capela que deu origem povoao, a 1884, data da inaugurao da estrada de ferro , a nascente vila auferiu a reputao de um incessante desenvolvimento no cenrio regional. De fato, na metade do sculo XIX, o
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lugarejo no passava de ponto de pousada para os viajantes vindos de Rio Claro que seguiam rumo a Araraquara, mais adiante.
Em meados de 1857, o presidente da Provncia de So Paulo assinou o ato de criao do Distrito de Paz de So Carlos do Pinhal, respondendo a pedido solicitado pela Cmara de Araraquara. Era esse o primeiro passo rumo autonomia administrativa, j ensejada, ao que parece, pelos fazendeiros da regio. Os cargos de subdelegado de polcia e de juiz de paz foram logo preenchidos por membros das duas famlias, que mais tarde teriam influncia na vida poltica local, pelo menos at o fim do Imprio: Camargo Penteado e Arruda Botelho.
Ainda em 1857, a primeira missa, os primeiros batizados e as bnos da capela; em 1858, uma cadeira de primeiras letras para o sexo masculino, a elevao do Distrito de Paz categoria de Freguesia e a doao dos primeiros terrenos para a formao de seu patrimnio; em 1862, a criao de uma cadeira de primeiras letras para o sexo feminino; dois anos antes, em 1860, a nomeao do primeiro proco para a Freguesia, o portugus Joaquim Botelho da Fonseca. Datam da os primeiros registros paroquiais, dentre eles os de casamento, que constituem a base emprica do presente artigo.
Tal foi o desenvolvimento da Freguesia que a Assemblia Provincial, por lei de 18 de maro de 1865, elevou-a categoria de Vila. O Visconde de Taunay, em visita ao interior paulista em julho de 1867, registrou sua passagem por So Carlos, a qual se referiu como simples povoao no nascedouro (...), pitoresca e faceira na sua recente voga. As casas so todas novas e pintadas a capricho, as ruas alinhadas, se bem que pessimamente niveladas. J h uma igreja e um hotel, em que se come em mesa redonda.
O stio urbano, tal qual o compreendemos hoje, era ento formado por aproximadamente dez quarteires distribudos ao redor da capela, em seis ruas. Tanto a capela quanto o cemitrio, obras pblicas fundadoras da nascente povoao, foram remodelados em 1868 e 1872, respectivamente. J no se enterravam mais os mortos no adro da igreja. O atual Largo de So Benedito abrigou o primeiro cemitrio externo do municpio, depois transferido para outro local mais afastado da povoao.
Nessa poca, a principal estrada era a que descia at Rio Claro, aos ps do planalto, e que depois ia ter a Piracicaba, Campinas, Jundia, So Paulo e, finalmente, Santos. Por a fluam os principais produtos da regio, que eram comercializados nas praas mais adiantadas ao sul. Pelo outro lado, o prolongamento dessa estrada conduzia a Araraquara, de onde saa outra picada rumo a Minas e Gois. Obviamente, o primeiro trecho assumia maior importncia que o segundo e os prprios moradores da regio estavam mais interessados em sua conservao. A Guerra do Paraguai, nos anos 1860, forara o governo, no entanto, a se importar mais com a qualidade das estradas rumo ao norte.
Em 1873, o Almanaque da Provncia de So Paulo, publicado por Lun e Fonseca, dedicou trs pginas a So Carlos, destacando que em suas terras j se cultivava caf em quantidade e cana de acar (55 e 10 fazendeiros, respectivamente). Apresentadas as autoridades municipais, tal obra acrescentava uma lista nominativa dos profissionais, comerciantes e artesos que exerciam seus ofcios, atrados pela pujana do nascente burgo. Dela constam: 3 advogados, 2 mdicos prticos, 2 farmacuticos, 11 lojas de fazendas, 27 armazns de molhados, 4 alfaiates, 1 alugador de animais, 1 bilhar, 18 carpinteiros, 3 ferradores, 3 ferreiros, 2 fogueteiros, 4 funileiros, 1 hotel, 1 maquinista, 4 marchantes, 2 marceneiros, 2 padeiros, 5 pedreiros, 6 sapateiros, 4 seleiros e 2 torneiros.
Durante a dcada de 1870, dois surtos de varola, o primeiro em 1874 e o outro em 1879, constituram a maior ameaa ao desenvolvimento de So Carlos. No entanto, ainda em 1874,
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o progresso do local foi confirmado pelo recenseamento ento realizado. J contava a Vila de So Carlos com 6.897 habitantes, mais de dois teros da populao de Araraquara, de quem fora distrito h menos de duas dcadas. Os ncleos mais importantes da regio permaneciam os mesmos do recenseamento anterior, feito em 1854: Rio Claro e Limeira apresentavam perto de 15 mil habitantes cada uma e, em seguida, vinha Araraquara, com 9.767 habitantes. Logo depois, porm, ao invs de Jaboticabal ou Descalvado, surgiria So Carlos como quarta Vila da regio em contingente populacional. Desses moradores, a grande maioria residia na zona rural e cerca de um quarto do total eram escravos.
O futuro revelava-se promissor e os fazendeiros locais, que j o pressentiam, haviam empreendido as primeiras obras da estrada de ferro, capitaneados pelo futuro Conde do Pinhal. Em 1880, providenciaram o mximo que So Carlos poderia alcanar administrativamente no Imprio: a elevao da Vila categoria de cidade e, simultaneamente, a criao da comarca judicial, instalada em 1882.
O orgulho so-carlense mal se continha por todas essas realizaes e era inevitvel que grande parte desse ufanismo surgisse da prevalncia de tantos feitos locais em relao aos da mais prxima vila, Araraquara. Esta somente ascenderia categoria de cidade nos meses finais do Imprio. O recenseamento organizado em 1886 era eloquente a esse respeito: So Carlos passara de 6.897 habitantes, em 1874, para 16.104, doze anos depois, enquanto Araraquara vira sua populao diminuda em 200 pessoas no mesmo perodo. Foi com tal esprito que essa prspera cidade do fim do Imprio entrou, em 1884, na era da ferrovia e, quatro anos depois, assistiu a derrocada do regime escravista.
Ainda que os fazendeiros pudessem ter se convencido da viabilidade do trabalho livre muito antes da abolio, no h dvida de que a maior parte deles tardou a se manifestar nesse sentido. Contudo, nos meses que antecederam a abolio, o trabalho assalariado j estava implantado e consolidado, e os fazendeiros no tinham mais dvida de que a adoo da mo de obra imigrante seria capaz de preservar o sistema de grandes lavouras. H muito os escravos estavam sendo substitudos pela mo de obra imigrante.
Entre ex-escravos marginalizados e as elites de fazendeiros, acomodou-se o grosso da imigrao estrangeira. Fortalecida a partir das ltimas dcadas do sculo XIX ela se constituiu no fenmeno social que mais influncia deixou em uma vasta regio do territrio paulista, na qual se inclui naturalmente o municpio de So Carlos.
No municpio de So Carlos, a primeira turma de imigrantes de que se tem conhecimento foi trazida em 1876 por iniciativa particular de Antonio Carlos de Arruda Botelho. O Conde do Pinhal financiou a vinda de 100 famlias alems que se instalaram em sua fazenda em uma colnia para esse fim construda, prxima estao ferroviria Conde do Pinhal, hoje desativada.
A absoro de levas significativas de imigrantes pelo municpio de So Carlos ocorreu durante os primeiros anos da dcada de 1880. Em 1881, um memorial histrico-topogrfico do municpio enviado Biblioteca Nacional assinalava que ultimamente muitos lavradores tem experimentado com sucesso a applicao do trabalho livre estrangeiro nas suas lavouras. Durante mais de 20 anos, at 1904, os imigrantes chegados em So Carlos, em sua enorme maioria, eram provenientes da Itlia. Em 1886, o afluxo de imigrantes para So Carlos somente foi ultrapassado pelo de Campinas. Dos 533 imigrantes chegados ao municpio neste ano, 458 eram italianos. Nos primeiros dez anos que sucederam a vinda das famlias alemes trazidas pelo Conde do Pinhal em 1876, a importao de imigrantes generalizou-se, a ponto de, j em 1886, cerca de um oitavo (2.051 habitantes) da populao total do municpio
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(16.104 habitantes) ser constitudo por imigrantes estrangeiros. Entre esses, mais da metade eram italianos (1.050), em seguida viriam os portugueses (464) e somente ento os alemes pioneiros (371). A cifra de 2.051 indivduos europeus representava mais do que qualquer outro municpio (com exceo da capital) podia contar, o que mostra que So Carlos se constitua em um dos plos atrativos de imigrao mais importantes do Estado de So Paulo no final do sculo XIX.
So Carlos deve ter ainda recebido contingentes mais ou menos volumosos de migrantes provenientes de outras regies do Brasil, sobretudo retirantes da grande seca ocorrida nas provncias do Nordeste. No entanto, como no apareciam nos relatrios governamentais, a avaliao numrica do que representavam difcil, s podendo ser estimada precariamente. Em 1895, no entanto, durante a epidemia de febre amarela, os nordestinos foram notados pelo fato de aparentarem imunidade contra a doena. No mesmo ano, na Fazenda Santa Eudxia, em So Carlos, turmas volantes de camaradas baianos trabalhavam na derrubada de matas, recebendo por dia (Truzzi, 2007).
reas de origem dos cnjuges
A Tabela 1 e o Grfico 1 ilustram o nmero de casamentos por quinqunios segundo as reas de origem dos cnjuges, definidas no mapa 1. Como esperado, observa-se inicialmente uma preponderncia de indivduos nascidos em municpios vizinhos a So Carlos (incluindo-se, portanto, Araraquara, de onde So Carlos foi desmembrado) e tambm de indivduos originrios da regio conhecida como quadriltero do acar, rea delimitada pelos municpios de Jundia, Sorocaba, Piracicaba e Mogi-Guau, tida ento como a mais desenvolvida economicamente. At 1879, foram estas as regies que mais forneceram cnjuges, seguidas de reas que compreendiam municpios situados entre a fronteira leste do estado e o sul de Minas Gerais. No quinqunio 1875-1879, aparecem j a Bahia e o prprio municpio de So Carlos em terceiro e quarto lugares, respectivamente. A partir dos anos de 1880, j passa a aparecer o prprio municpio de So Carlos como o principal local de nascimento dos cnjuges, secundado por indivduos procedentes da vizinhana de So Carlos, do quadriltero e da Bahia. Finalmente, no ltimo perodo (1885-1888), cnjuges nascidos no quadriltero do acar, imigrantes europeus, indivduos nascidos em So Carlos e baianos constituem os contingentes mais significativos.
Um quadro mais preciso das reas de origem dos cnjuges pode ser traado ao separarmos os indivduos por condio social de escravos ou livres. Realizando o mesmo tipo de anlise, conclui-se, como informam a Tabela 2 e o Grfico 2, que entre 1860 e 1879, as reas vizinhas a So Carlos respondem por no mnimo 30% das naturalidades dos cnjuges, acompanhadas do quadriltero do acar e por municpios ao sul do estado de Minas Gerais. Aos poucos (entre 1875 e 1879), o prprio municpio de So Carlos comea a aparecer, para assumir, no quinqunio seguinte, a primeira posio. Finalmente, os europeus passam a predominar no ltimo perodo.
J em relao aos escravos, a Tabela 3 e o Grfico 3 evidenciam que os dois primeiros perodos so dominados pelos oriundos da vizinhana de So Carlos, da frica e do quadriltero. A partir da dcada de 1870, os escravos baianos e do quadriltero crescem em nmero, a par do surgimento de alguns oriundos do norte e nordeste do pas. Aps 1876, os escravos baianos passam a aparecer copiosamente, seguidos por nascidos no quadriltero e no prprio municpio de So Carlos, enquanto os originrios de municpios vizinhos perdem representatividade.
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TABELA 2. Nmero de casamentos de livres por perodo segundo reas de naturalidade dos cnjuges
reas de naturalidade dos cnjuges ordenadas por posio
Perodo 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1860-4 VSC QUAD SMG FSPM RJ RIB VP MGD OUT TOT
50 20 16 8 6 5 4 4 30 143
1865-9 VSC QUAD SMG FSPM MGD RIB EUR RJ OUT TOT
170 69 55 34 9 9 9 6 68 429
1870-4 VSC QUAD FSPM SMG SCL MGD RIB VP OUT TOT
161 100 39 25 18 18 11 10 81 463
1875-9 VSC QUAD SCL FSPM SMG VP EUR MGD OUT TOT
232 111 104 59 28 28 27 18 111 729
1880-4 SCL VSC QUAD EUR FSPM MGD VP SMG OUT TOT
163 155 103 62 21 21 17 17 113 681
1885-8 EUR QUAD SCL VSC BA NE/N MGD FSPM OUT TOT
240 194 193 138 100 54 50 31 228 1228
Fonte: Cria Diocesana de So Carlos. Livros de Casamento, vrios anos.
Legenda: SCL - So Carlos; VSC - Vizinhana de So Carlos; RIB - Ribeiro Preto e norte do estado; QUAD - Quadriltero do Acar; VP - Vale do Paraba; FSPM municpios paulistas situados na fronteira leste com Minas Gerais; SMG - municpios situados ao sul de Minas Gerais, prximos a So Paulo; MGD - demais regies da provncia de Minas Gerais; RJ a provncia do Rio de Janeiro; BA Bahia; NE/N outras provncias do Nordeste e do Norte; AFR frica; EUR Europa; OUT Outras regies; TOT Total.
Fonte: Cria Diocesana de So Carlos. Livros de Casamento, vrios anos.
Legenda: SCL - So Carlos; VSC - Vizinhana de So Carlos; RIB - Ribeiro Preto e norte do estado; QUAD - Quadriltero do Acar; VP - Vale do Paraba; FSPM municpios paulistas situados na fronteira leste com Minas Gerais; SMG - municpios situados ao sul de Minas Gerais, prximos a So Paulo; MGD - demais regies da provncia de Minas Gerais; RJ a provncia do Rio de Janeiro; BA Bahia; NE/N outras provncias do Nordeste e do Norte; AFR frica; EUR Europa; OUT Outras regies; TOT Total.
TABELA 1. Nmero de casamentos por perodo segundo reas de naturalidade dos cnjuges
reas de naturalidade dos cnjuges ordenadas por posio
Perodo 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1860-4 VSC QUAD SMG FSPM RJ RIB VP AFR OUT TOT
58 27 16 8 6 7 5 5 40 172
1865-9 VSC QUAD SMG FSPM MGD RIB AFR RJ OUT TOT
180 80 63 36 15 15 15 9 103 516
1870-4 VSC QUAD FSPM SMG MGD BA SCL RIB OUT TOT
176 123 40 29 25 20 19 13 157 602
1875-9 VSC QUAD BA SCL FSPM SMG MGD VP OUT TOT
243 141 129 121 63 43 38 31 277 1086
1880-4 SCL VSC QUAD BA EUR MGD FSPM NE/N OUT TOT
196 166 129 93 62 33 30 25 261 995
1885-8 QUAD EUR SCL BA VSC NE/N MGD FSPM OUT TOT
242 240 232 203 157 90 68 33 361 1626
35
PROCESSOS MIGRATRIOS
Coleo Por dentro do Estado de So Paulo, v.10
OSwAldO TRuzzI, EdER CARlOS zuCCOlOTTO e FRAnSERGIO FOllIS
TABELA 3. Nmero de casamentos de escravos por perodo segundo reas de naturalidade dos cnjuges
reas de naturalidade dos cnjuges ordenadas por posio
Perodo 1 2 3 4 5 6 7
1860-4 VSC QUAD AFR RIB BA VP OUT TOT
8 7 5 2 2 1 4 29
1865-9 AFR QUAD VSC SMG MGD RIB OUT TOT
15 11 11 8 6 6 30 86
1870-4 VSC QUAD AFR NE/N BA MGD OUT TOT
15 23 23 10 19 7 56 139
1875-9 BA QUAD MGD SCL NE/N VSC OUT TOT
120 30 30 17 12 11 147 357
1880-4 BA SCL QUAD NE/N MGD RJ OUT TOT
82 33 33 21 12 12 128 314
1885-8 BA QUAD SCL NE/N VP VSC OUT TOT
51 27 27 11 7 5 45 165
Fonte: Cria Diocesana de So
Carlos. Livros de Casamento,
vrios anos.
Legenda: SCL - So Carlos; VSC - Vizinhana de So Carlos; RIB - Ribeiro Preto e norte do estado; QUAD - Quadriltero do Acar; VP - Vale do Paraba; SMG - municpios situados ao sul de Minas Gerais, prximos a So Paulo; MGD - demais regies da provncia de Minas Gerais; RJ a provncia do Rio de Janeiro; BA Bahia; NE/N outras provncias do Nordeste e do Norte; AFR frica; OUT Outras regies; TOT Total.
A partir de 1885, comeam a surgir casamentos envolvendo tambm forros e libertos. Uma anlise da naturalidade destes cnjuges indica que o estado da Bahia, as regies do Norte e Nordeste do pas, o quadriltero do acar e o prprio municpio de So Carlos respondem pela maioria das origens dos nubentes.
Localizado em uma rea cujas terras comearam a ser ocupadas a partir do incio do sculo XIX e valorizadas medida que as culturas de cana de acar e do caf foram se viabilizando, So Carlos acompanhou a transio do trabalho escravo ao trabalho livre. Por causa disso, a formao de sua populao recebeu a influncia de correntes diversas, cuja importncia variou ao longo do tempo. A parte as regies vizinhas, notvel em primeiro lugar a presena de uma populao oriunda da regio delimitada pelo quadriltero do acar. Tambm se faz notar a chegada de fluxos populacionais originrios de regies leste do municpio, todas na direo de Minas Gerais: municpios situados na fronteira entre So Paulo e Minas e municpios mineiros propriamente ditos, sobretudo os do sul. So estes os grupos mais notveis. Ao destacarmos as populaes livre e de escrav