3 A Contra Reforma

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A Reacção Católica e a Contra-Reforma

Francisco de GoyaO Tribunal da Inquisição1812-19Museo de la Real Academia de San Fernando, Madrid

A Igreja Católica sentiu necessidade de se renovar e combater os avanços do Protestantismo. A esta reacção Católica chamamos a Contra-Reforma.

Entre 1545 e 1563, decorre o concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé contra as heresias protestantes. Reafirmam-se os princípios da ortodoxia doutrinária e da disciplina.

Nesse concílio, reafirmaram-se os princípios fundamentais do catolicismo:

-A salvação pela Fé e pelas obras pias,

- o culto dos Santos e da Virgem Maria,

- os 7 sacramentos,

- a autoridade do Papa e da hierarquia do clero,

- a Bíblia e a tradição da Igreja.

Giovanni Maria ButteriNossa Senhora Entronizada com o Menino e rodeada pelos Santos1586Norton Museum of Art, West Palm Beach, Florida

El GrecoEstigmatização de S. Francisco; Walters Art Museum,

Baltimore; c.1590

El Greco - S. Domingos em Oraçãocolecção privada

c.1590

Pasquale Cati da IesiO Concílio e Trento1588Fresco da igreja de Santa Maria in TrastevereRoma

Foram ainda tomadas outras medidas com o objectivo de moralizar o clero:

-Criação de novos seminários,

-Proibição de acumulação de cargos,

- celibato dos sacerdotes,

- obrigação de os bispos e sacerdotes residirem nas suas paróquias e dioceses.

Index Librorum Prohibitorum

Para combater as heresias foi criado o Index, isto é, uma lista de livros proibidos por veicularem doutrina contrária aos ensinamentos da Igreja.

É proibida a posse de livros constantes do index, sob pena de excomunhão.

Esses livros eram apreendidos e queimados em cerimónia solene.

Todos os livros deveriam ser submetidos à prévia censura do Santo Ofício.

Inácio de Loyola1491 - 1556

Foi fundada a Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loyola, com o objectivo de converter hereges e pagãos.

Santo Inácio era natural do País Basco e tinha formação militar. Depois de ferido em combate, dedicou-se à vida religiosa.

Redigiu Ejercicios espirituales, fundando a Companhia de Jesus em 1534, sendo aprovada pelo Papa em 1540.

Os disciplinados jesuítas obedeciam directamente ao papa, bem como aos seus superiores.

A acção dos padres da Companhia distinguiu-se particularmente no ensino e na evangelização.

Os Jesuítas desempenharam um importante papel no ensino. Fundaram e dirigiram colégios, universidades e missões.

SéVelha Goa

Igreja de JesusRoma

Sé NovaCoimbra

Igreja de S. PauloMacau

Universidade de Évora

No Brasil, os missionários jesuítas, além da pregação, tiveram importante papel na defesa dos índios e no ensino. Salientem-se os nomes de José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e António Vieira.

Padre António Vieira1608 - 1697Colégio da Baía

S. Francisco Xavier despede-se de D. João III antes da partida para a evangelização da Índia (Quadro de André Reinoso; 1619; igreja de S. Roque; Lisboa)

No Oriente, destacou-se a acção evangélica de S. Francisco Xavier (1506 – 1552)

sambenito

Pedro Berruguete [1450 – 1503]Auto-de-fé; Museu do Prado

A Inquisição fora fundada em 1231 e é agora revigorada por determinação do Concílio de Trento e do Papa Paulo III.

Era um tribunal que vigiava, perseguia, acusava, condenava e eliminava todos os suspeitos de heresia.

Cristóvão LopesD. João III1545 – 50; MNAA

A acção da Inquisição fez-se sentir, principalmente, nos países do Sul da Europa: Portugal, Espanha, França e Itália.

Em 1531, D. João III pede ao papa licença para a instalação da Inquisição em Portugal, o que veio a acontecer 5 anos mais tarde.

O cardeal D. Henrique foi o inquisidor-geral do reino de 1539 a 1578

Embora já houvesse um inquisidor desde 1534. O primeiro Auto-de-fé realizou-se em 1541

1379 pessoas foram queimadas até 1684

Domenico Becafumi [1486 – 1551]; desenho conservado no Louvre

Tortura da polé

Goya: O Tribunal da Inquisição; Museo de la Real Academia de San Fernando, Madrid; 1819

Em Portugal (…) o judaísmo praticamente monopolizou a actividade inquisitorial durante todo o período de funcionamento

Francisco Bethencourt

Os judeus viveram em Portugal, desde o início da nacionalidade até 1497 (sefarditas). Apesar de o aparelho mental da cristandade cruzadística possuir uma componente anti-semita que associava os judeus ao deicídio, a Judas e ao demónio, e o mouro ao infiel e a Maomé, a segregação social só tardiamente entraria na realidade quotidiana portuguesa.

Placa da sinagoga de Lisboa, fundada em 1306

Além do distintivo pessoal, os nossos reis, depois de D. Pedro I, reservaram-lhes um espaço dentro dos concelhos, para habitarem: as judiarias e as mourarias, arruamentos que se passaram a encerrar com portas que eram abertas ao nascer do sol e fechadas ao entardecer.

Castelo de Vide

Em 1492, os Reis Católicos promulgam o édito de expulsão dos judeus dos seus territórios.Parte deles recebe autorização de D. João II para residir em Portugal, tendo sido distribuídos por Lisboa, Porto, Évora e Coimbra. Outros entraram no reino, em trânsito para outras paragens do Mediterrâneo: o norte de África e as cidades italianas.

5 de Dezembro de 1496. O casamento de D. Manuel com D. Isabel, filha dos Reis Católicos e viúva do príncipe D. Afonso, exigiria a expulsão dos judeus de Portugal, sob pena de não seefectivar, por recusa da princesa. A esta exigência castelhana, o soberano responderia com a unificação religiosa do reino e a expulsão das minorias moura e judaica.

A matança de Lisboa1506

No mosteiro de São Domingos está uma capela a que chamam de Jesus, e nela há um Crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que deram foros de milagre, embora os que se encontravam na igreja julgassem o contrário, dos quais um Cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa ao lado da imagem de Jesus. Ouvindo isto, alguns homens de baixa condição arrastaram-no pelos cabelos, para fora da igreja, e mataram-no e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao qual alvoroço acudiu muito povo a quem um frade fez uma pregação convocando-o contra os cristãos-novos após o que sairam dois frades do mosteiro com um crucifixo nas mãos bradando heresia, heresia (…) . Logo se juntou muito povo e começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas e os corpos mortos e meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio (…). A esta turma de maus homens (…) se juntaram mais de mil homens da terra (…) que todos juntos, continuaram a maldade com maior crueza, e por já nas ruas não acharem nenhuns cristãos-novos, foram cometer com vaivéns e escadas, as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam, e tirando-os delas arrasto pelas ruas com seus filhos, mulheres e filhas, os lançavam de

mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos e nas crianças que estavam no berço as executavam, tomando-os pelas pernas, fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes.Nas quais cruezas não se esqueciam de lhes meter a saque as casas, e roubar todo o ouro, prata e enxovais que neles achavam. (…).Nesse dia pereceram na cidade mais de mil almas sem haver quem ousasse de resistir.

Ataque ao gueto de Varsóvia16 de Abril de 1943

Sobretudo em Trás-os-Montes e na Beira Interior, os judeus que não se ausentaram adaptaram-se às imposições, vivendo clandestinamente a sua fé.

Israel Solomon (judeu inglês falecido em 1890) constata a existência destas comunidades na década de 20 do séc. XIX.

Um pároco de Vimioso também a testemunha em 1852.

O fenómeno chega aos nossos dias em Belmonte.