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A CONCEPO DE AUTORIA DO "CRCULO BAKHTIN, MEDVEDEV, VOLOSHINOV": CONFRONTOS E
DEFINIES
THE BAKHTIN, MEDVEDEV, VOLOSHINOV CIRCLE" CONCEPT OF AUTHORSHIP ": CONFRONTATIONS AND
DEFINITIONS
Adail Ubirajara Sobral (UCPEL) RESUMO | INDEXAO | TEXTO | REFERNCIAS | CITAR ESTE ARTIGO | O AUTOR RECEBIDO EM 09/11/2012 APROVADO EM 14/01/2013
Resumo
Este trabalho, que retoma alguns escritos do autor, tem como objetivo explorar alguns elementos relativos centralidade constitutiva da imagem discursiva dos interlocutores na produo de sentidos, tratando com esse fim do conceito de autoria segundo a concepo de linguagem e de discurso do "CRCULO BAKHTIN, MEDVEDEV, VOLOSHINOV" (para alm de falsas questes de designao), uma perspectiva segundo a qual a vida e a lngua se interpenetram: o ato, o processo do intercmbio lingustico, ao lado dos enunciados/discursos, entendidos no como produto advindo ex nihilo, so o objeto de estudo e o centro de seu empreendimento terico e prtico. O trabalho faz em seguida consideraes acerca de noo de ethos, da perspectiva de Maingueneau e de Amossy, bem como do conceito de autor em
Macaba Revista Eletrnica do Netlli | V.1., N.2., DEZ. 2012, p. 123-142.
Michel Foucault, a fim de explorar a especificidade da proposta do Crculo e verificar eventuais pontos de contato e divergncias.
Abstract
This paper, which retrieves some earlier writings of its author, aims to explore some elements relative to the constitutive centrality of the interlocutors' discursive image in the production of sense, approaching with this purpose the concept of authorship according to the conception of language and discourse of the " BAKHTIN, MEDVEDEV, VOLOSHINOV CIRCLE " (beyond false questions of authorship), a perspective whereby life and language intertwine: the act, the process of language exchange, along with statements/speeches, these latter understood not as products coming from ex nihilo, are the object of study and the center of the Circles theoretical and practical works. This paper also discusses the notion of ethos, in the perspective of Maingueneau and Amossy as well as the concept of author in Michael Foucault, so as to explore the specificity of the Circle's proposal and identity possible points of contact and divergence between these points of view.
Entradas para indexao
PALAVRAS-CHAVE: Crculo B.M.V.; autoria; concepo dialgica de linguagem; discurso KEYWORDS: B. M. V. Circle; authorship; dialogical concept of language; discourse
Texto integral
No h nem primeira palavra nem derradeira palavra. Os contextos do dilogo no tm limite. Estendem-se ao mais remoto passado e ao mais distante futuro. At significados trazidos por dilogos provenientes do mais longnquo passado jamais ho de ser apreendidos de uma vez por todas, pois eles sero sempre renovados em dilogo ulterior. ... Pois nada absolutamente morto: todo significado ter algum dia o seu festival de regresso ao lar.
BAKHTIN
Na poesia, como na vida, o discurso verbal o cenrio de um evento. ... Um entendimento vivel da significao global do discurso deve reproduzir esse evento... deve, por assim dizer, represent-lo de novo, com a pessoa que quer compreender assumindo o papel do ouvinte.
VOLOSHINOV
Macaba Revista Eletrnica do Netlli | V.1., N.2., DEZ. 2012, p. 123-142.
Introduo: Instaurao de sentidos e transfigurao do mundo
Antes de falar de autor, cabe falar de algo essencial, ainda que pouco
tematizado: o que sentido para Bakhtin? A rigor, no h para Bakhtin uma
concepo de sentido como algo destacvel do criar sentido, do processo de
instaurao de sentidos. O sentido algo sempre fluido, em processo, que deve ser
apreendido em sua construo (o que atormenta quem espera um universo
lingustico totalmente previsvel) e re-construdo, re-constitudo, restitudo, a
partir das marcas de sua produo, que esto em seu produto: o enunciado,
entendendo-se produto no como algo fechado em si, mas como algo que remete
a uma cadeia de outros enunciados j ditos ou por dizer. Essa potencialidade a ser
atualizada nos enunciados concretos (nos dois sentidos) depende da estabilidade
relativa da chamada lngua comum. A lngua per se concebida como mltipla,
heteroglssica, mas, ao mesmo tempo, d origem lngua comum, que segue um
conjunto de regras sociais que a estabilizam o suficiente para permitir a
compreenso entre os vrios grupos sociais, que, se no exclui relaes de poder,
nem por isso impe de uma vez por todas uma variedade lingustica coesa,
unificada, neutralizadora.
H nas teorias do CRCULO BAKHTIN, MEDVEDEV, VOLOSHINOV, uma
teoria da cultura. Trata-se do que chamei de concepo translingustica
transdisciplinar de linguagem e de discurso, que no de modo algum apenas uma
teoria lingustica ou literria (cf. SOBRAL, 2006), mas uma concepo do ser
semitico no mundo dos sujeitos de linguagem que so os seres humanos, sendo
pois uma semitica filosfica da cultura, ou seja, uma concepo filosfica
profunda de como a cultura e os sujeitos em seu mbito cria e assume sentido,
de como a sociedade e os sujeitos constituem sua prpria relao simblica com o
mundo dado e o transformam necessariamente em mundo postulado. Para Bakhtin
e seus colegas, esse mundo dado, concreto e objetivo que , no pode chegar
conscincia sem ser trans-figurado, figurado pela conscincia, a partir dele mesmo,
mas para alm dele, porque o mundo humano mantm por definio o mundo
dado, o mundo material que est a, mas, como humano, no pode ater-se a ele,
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pois os seres humanos se definem como criadores de sentido e no reprodutores
da face do mundo. E eles agem assim no mbito das arenas de vozes que so as
sociedades, nos termos das mudanas ocorridas ao longo da histria.
O mundo dado, o mundo em que o homem lanado, continua a existir
como se indiferente a todas as maquinaes discursivas do mundo postulado. No
obstante, s por meio do mundo postulado se vem a conhecer em termos humanos
o mundo dado: no h apreenso do mundo sem mediao. Se o autor emprico dos
discursos cria a si mesmo como autor de papel nos discursos, o sujeito humano se
cria e se recria a si mesmo no mundo, mas de forma alguma autor do mundo, o
que nem por isso faz dele mera pea numa suposta engrenagem social e histrica:
a singularidade do sujeito humano como agente responsvel em meio
coletividade dos sujeitos humanos irredutvel tanto autonomia autrquica
cartesiana como ao apagamento trazido por um ambiente social e histrico todo
poderoso.
Uma questo vital a mencionar que as relaes dialgicas como
princpio estruturador do sentido so constitutivas em termos arquitetnicos (cf.
BAKHTIN, 1993), ainda que os discursos possam ser estruturados
composicionalmente de modo a apresentar ou no suas marcas. Insisto nisso
porque h absurdas alegaes sobre a existncia ou no de relaes dialgicas.
Para essa concepo, tudo dialgico em termos arquitetnicos, ainda que no o
seja composicionalmente. Talvez resida a a grande produtividade do conceito de
gnero do Crculo, em contraposio a tendncias textualizantes que confundem
tipos de texto, formas de textualizao e gnero.
Como j afirmei (SOBRAL, 2006), o discurso tendencialmente monolgico se
mostra, em termos composicionais e de projeto enunciativo, voltado (assimilativa
e/ou refutativamente) para a neutralizao, na superfcie discursiva, das vozes
que o constituem, e para a instaurao de uma s voz como a voz dominante, de
maneira explcita ou velada. Em contrapartida, o discurso tendencialmente
dialgico se mostra, nesses mesmos termos, voltado para tornar presentes,
assimilativa e/ou refutativamente, as vozes que o constituem, para a instaurao,
mais ou menos explcita, de um concerto de vozes, que naturalmente podem ser
dissonantes. Logo, h discursos que se mostram composicionalmente dialgicos e
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tendem ao monolgico, bem como discursos composicionalmente monolgicos que
tendem ao dialgico no sentido de instaurao, mais ou menos explcita, de um
concerto de vozes.
No mbito dessa concepo, destaca-se a ao arquitetnica autoral. A
posio do autor com respeito ao contedo de seu enunciado ativa, mas no o
coloca acima de todas as influncias que incidem sobre seu agir em seu ambiente
scio-histrico. Ser autor envolve dizer tudo em termos pragmtico-referenciais,
dado que faltam ao enunciado per se as circunstncias concretas que permitem
identificar o dito e o presumido de modo relativamente imediato como o seria na
interao face-a-face (no que sempre se identifiquem os ditos e presumidos!). O
tudo dizer tem ntimas relaes com a problemtica do estilo, porque pode
assumir vrias formas. O estilo, assim, tambm interativo, tambm dialgico,
vem da relao entre o autor e o grupo social de que faz parte, em seu
representante autorizado, ou tpico, define-se a partir da imagem social do ouvinte,
que tambm um fator intrnseco vital da obra. O estilo tem relaes com a forma
do contedo, o modo como o contedo organizado, sendo determinado pelas
inter-relaes da escala avaliativa do evento descrito, e de seu agente, como tpico,
cujo peso depende do contexto no-articulado de avaliaes bsicas da obra
(BAKHTIN, 1997, p. 11), isto , das possibilidades de avaliao. Esse ponto merece
destaque, porque d uma resposta bakhtiniana grande problemtica do discurso:
o modo de o mundo social e histrico estar presente na obra. Para Bakhtin, a
avaliao no algum enunciado do autor, mas, pelo contrrio, manifesta-se na
prpria maneira como o material artstico visto e disposto (BAKHTIN, 1997, p.
12), o que descarta de uma vez por todas a ideia de que s so avaliaes os
elementos apresentados como tais na obra, nos discursos.
Interao, contexto e autoria
necessrio fazer duas distines fundamentais: (i) a questo do que
includo no contexto da interao na definio que Bakhtin lhe d (objeto de
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aproximaes empobrecedoras que a reduzem ao face-a-face) e (ii) a questo da
diferena entre o autor na obra esttica e o autor em outros discursos os dois
distintos do autor emprico de certas pragmticas que se poderia qualificar de anti-
discursivas ou empiristas.
Bakhtin entende por interao relaes entre interlocutores que de modo
algum se esgotam na situao imediata de interao face a face. Como o indica,
para ficar nela, a epgrafe, toda interao remete retrospectiva e prospectivamente
a enunciaes anteriores e ulteriores, possveis e imaginveis. Isso insere toda e
qualquer enunciao, toda e qualquer interao, numa rede de interlocuo em
constante fazer-se, um festival de volta ao lar de prdigos significados
temporariamente extraviados, rede que abarca os vrios momentos sociais e
histricos constitutivos da interao/enunciao, no se limitando, pois, s
circunstncias imediatas desta.
Por outro lado, sendo o processo de criao de sentidos um constante vir-a-
ser, cada dilogo recria significados de outros dilogos, assim como antecipa de
certo modo dilogos ainda inexistentes, inserindo-os num novo modo de vida
associado com o jogo de linguagem" (Wittgenstein) que a resignificao instaura.
Alm disso, luz desses elementos, o horizonte social que Bakhtin leva em conta
de modo algum se esgota no interdiscurso e no contexto imediato, material
mesmo, da interao: ao dar primazia absoluta ao tema com relao aos
significados cristalizados, tanto na constituio como no prprio vir-a-ser dos
sentidos, Bakhtin mostra que o sentido, smysl (e no a significao, znachenie)
depende por inteiro do contexto e que esse contexto de modo algum se esgota no
imediato, ainda que isso no exclua absolutamente os elementos mais
estabilizados do cdigo lingustico enquanto tal, nem os processos cognitivos
envolvidos. A znachenie serve de base ao processo de gerao do smysl, e constitui,
em termos da grande temporalidade de que fala Bakhtin, uma cristalizao, num
dado momento, da soma total de smysl gerados no mbito da coletividade.
Ao falar de interao, Bakhtin se refere a pelo menos quatro nveis, dotados
de diferentes e crescentes graus de amplitude, todos eles necessariamente
constitutivos (remeto aqui a SOBRAL, 2006, 2009):
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O nvel da interao verbal concreta singular, do aqui e agora da presena
dos interlocutores na enunciao (claro que em sua projeo no enunciado).
Esse nvel o mais restrito, mas constitui, naturalmente, a base de todos
os outros, isto , sem interao no h contexto de interao;
O nvel do contexto imediato em que se insere a interao (lugares sociais,
simetrias e dissimetrias entre os parceiros em interao, formas atualizadas
de interao social, etc.). Nesse nvel, temos os elementos que a interao
convoca diretamente e que remetem ao nvel seguinte;
O nvel do contexto social propriamente dito, aquele que determina em
termos conjunturais, culturais, e mesmo raciais, o modo de ser da interao;
e, por fim,
O nvel do horizonte social e histrico mais amplo, que abrange a cultura
em geral, os grandes perodos da histria, o Zeitgeist, as interaes entre
Zeitgeisten, o que remete s consideraes de Bakhtin sobre a inexistncia
de um sentido primeiro e de um sentido derradeiro. Se pode haver discurso
fundador, nem por isso h sentido fundador: a gnese dos discursos o
locus da gnese dos sentidos e no vice-versa.
Diante desses elementos, falar de autor segundo Bakhtin implica pensar no
contexto complexo em que este age, envolve considerar, de um lado, o princpio
dialgico (o que segue a direo do interdiscurso) e, do outro, os elementos sociais,
histricos, etc. que formam o contexto da interao. Trata-se, como se pode ver, de
elementos que esto imbricados nos prprios discursos, e que s a nos so
acessveis. Isso se ope a certas pragmticas formalistas e a certa sociologia (a de
Bourdieu, por exemplo) e inclusive a tendncias da semitica greimasiana que
extrapolam a sintaxe discursiva e propem o contexto como outro texto que
independe do texto de que contexto tendncias que veem uma separao
entre o contexto da interao e a interao propriamente dita, entre o texto e o
contexto, entre a realidade discursiva e a realidade per se. Como evidente, uma ou
outra posio tem srias consequncias para uma anlise do discurso.
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Autoria e estilo
Esse ponto sobremodo importante para se pensar na formulao do autor
por Bakhtin, que muito se estendeu sobre o autor no texto literrio, mas cujas
formulaes abrangem igualmente outras modalidades textuais. Na primeira seo
de O Autor e o Heri, intitulada O problema do heri na atividade esttica
(BAKHTIN, 1997), temos um trecho carregado de implicaes. Bakhtin, partindo da
necessidade de haver dois participantes para ocasionar um acontecimento
esttico (BAKHTIN, 1997, 42), afirma que o evento esttico pressupe, para
realizar-se, duas conscincias que no coincidem 1, mostrando que a coincidncia
(a ausncia de distanciamento) entre o autor (enquanto figura discursiva e no
como autor concreto) e o heri (entendido por Bakhtin tanto como personagem
como objeto do enunciado/discurso) ou seu posicionamento um ao lado do outro,
o compartilhamento por eles de um valor comum, ou mesmo sua oposio,
redunda no prprio trmino do evento discursivo esttico e na instaurao de
eventos discursivos de outra ordem. Teramos ento, nesses casos, em vez de obra
literria, outras modalidades de texto: (panfleto, manifesto, requisitrio,
panegrico e elogio, injria, confisso, etc.) (BAKHTIN, 1997). Por outro lado, a
ausncia de heri, mesmo potencial, produz um acontecimento cognitivo (tratado,
lio). E, de acordo com Voloshinov (1976, p. 13), quando a conscincia com que
interage o autor um deus onipotente, tem-se o acontecimento religioso (orao,
culto, ritual).
Claro est, diante dos elementos arrolados, que a avaliao que o crculo de
Bakhtin faz do heri e o grau de proximidade entre eles no prescinde do terceiro
elemento determinante da forma artstica: o ouvinte, que afeta a relao autor-
heri. A importncia disso para a questo do autor, e para a questo associada dos
gneros do discurso, evidente: o grau de proximidade/distanciamento do autor
com relao ao outro, ao ouvinte, tanto no mbito do discurso esttico como nos
outros mbitos, igualmente constitutivo, podendo-se verificar que, dada uma
modalidade de discurso, ou gnero, o enunciador levado a assumir esta ou aquela
posio com relao ao outro, ainda que, a depender do gnero, tenha um maior ou
menor grau de liberdade. Naturalmente, como alerta Brait (2002), h mais coisas
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envolvidas: No podemos falar de gneros sem pensar na esfera de atividades
especficas em que eles se constituem e atuam, a implicadas as condies de
produo, de circulao e de recepo. Assim, na variedade de relaes com o
outro estaria a prpria chave da constituio do tom e do fio dos discursos, em
seus vrios planos esttico, tico, cognitivo, religioso levando-se em conta
necessariamente as esferas de atividade em que isso , num dado momento,
possvel e aceitvel. Assim, ser autor nesse sentido assumir, de modo
permanentemente negociado, posies que implicam diferentes modalidades de
organizao dos textos, a partir da relao com o heri e com o ouvinte.
Voloshinov destaca, falando da avaliao, que um dos princpios do estilo
o fato de ele se alterar de acordo com a mudana do valor social do heri (objeto)
do enunciado (1976). Vem ento uma afirmao que faz muitos subjetivistas
tremer: o poeta precisa socializar o sentimento (!), elaborar o evento
correspondente [s vivncias pessoais do poeta] ao nvel de significao social
[1976], dado que, como diria Wittgenstein, na linha de Merleau-Ponty, no existe
linguagem privada. Isso remete afirmao bakhtiniana de Brait (1999, p. 34)
sobre o autor: o autor no pode ser confundido com o indivduo. O autor uma
instncia de produo, do ato, do texto, do discurso o autor bakhtiniano um
autor de linguagem e no um sujeito emprico.
O segundo elemento constitutivo do estilo o grau de proximidade
recproca entre autor e heri. Esse ponto, a que j nos referimos e que remete,
como se disse, questo dos gneros, vital no s em termos do estilo como
tambm em termos do estatuto do lingustico no discursivo, dado que postula, de
um lado, que a prpria estrutura da lngua reflete o evento da inter-relao entre
os falantes (Op. cit; Loc. cit.) e, do outro, que muitos dos fatores da forma da obra
so determinados em parte pelo grau de proximidade entre autor e heri.
Bakhtin afirma que esses elementos no so suficientes, tomados em
isolamento, para determinar a forma artstica. Cumpre reconhecer a presena do
ouvinte, elemento que afeta, como no podia deixar de ser, a interao autor-heri.
O ouvinte no o sucedneo do autor nem ocupa o seu lugar; trata-se antes de uma
instncia independente do evento da criao artstica. Alm disso, o ouvinte tem
uma posio bilateral, visto que apresenta diferentes graus de proximidade com
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relao ao autor, de um lado, e com respeito ao heri, do outro. Bakhtin esclarece,
refutando certas teses destinadas a defender quer o ponto de vista formal, quer o
sociolgico, que ... autor, heri e ouvinte em parte alguma se fundem numa s
massa indistinta eles ocupam posies autnomas, so na verdade lados... de um
evento artstico com estrutura social especfica cujo protoloco a obra de arte. (Id.:
14, traduo modificada).
Podemos perceber ento, a partir das formulaes bakhtinianas, que, na
obra, tanto em termos de estilo, como de sua prpria estruturao em geral,
(1) o autor no se confunde com o indivduo-autor, sendo antes aquilo que o
constitui como tal na prpria obra (cf. BRAIT, 1999); e ele o faz por meio da
forma e do material, em interao com o heri e com o ouvinte. O autor, e
aqui falamos do autor em geral, em vez do literrio tout court, se
facilmente identificvel como imagem-objeto, no parte da inteno nem
do projeto do locutor; esse autor concreto no o criador da palavra nem
do discurso enquanto autor de seu prprio enunciado (BAKHTIN, 1997:
336). Logo, a existncia concreta do autor s pertinente enquanto
incorporada ao autor do discurso, ao ator que d forma, que molda o
material textual. (O que nos remete ao heri.);
(2) o heri no se confunde com o autor, nem vem de um ato consciente e
autnomo deste. Entidade autnoma, tem ele seu papel prprio a
desempenhar na dupla interao com, de um lado, o autor, e, do outro, o
ouvinte; ele o cerne das avaliaes inerentes a todo enunciado, avaliaes
que entram na composio da prpria corporalidade da obra, em sua forma,
e no contedos que eventualmente se incorporem a ela ou formas
cristalizadas de avaliao, ainda que estas tambm tenham sua relevncia.
Essas avaliaes vm, naturalmente, do universo social e histrico das
interaes entre os homens. (O que nos leva ao ouvinte.);
(3) o ouvinte, tal como o autor, no se confunde com o indivduo, no caso
especfico, o indivduo ouvinte, o publico leitor concreto e, por assim dizer,
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identificvel, mas a imagem tpica do interlocutor de cada autor especfico, o
que depende, como bvio, do carter e da corporalidade de cada autor, do
seu ethos (que, se incorpora elementos pr-discursivos, criado pelo
discurso e nele se manifesta), do contexto extra-verbal por assim dizer
cristalizado no qual se acha inserido o autor (cf. a prxima seo). (O que
remete ao autor e ao heri ou tpico.)
Em suma, em termos gerais, autor, ouvinte e tpico esto presentes, ao ver
de Bakhtin, como elementos constitutivos, em toda enunciao, sendo de sua
interao, e como produto e resultado dela, que a enunciao vem a ser. Em termos
especficos, tambm dessa interao, nos termos descritos com referncia ao
estilo, que o autor retira, que nos seja dada a licena, seu instrumental de trabalho
com a forma e com o material da obra, sendo a maneira peculiar de realizar esse
trabalho, mesmo respeitando as coeres de gnero da obra, que constitui o estilo.
O uso de formas tpicas no cria por si uma unidade de sentido porque lhe
falta um labor arquitetnico de construo, algo que mobiliza formas da lngua e
formas de textualizao na criao de uma unidade de sentido, integrando forma,
contedo e material. Assim, na variedade de relaes com o outro est a prpria
chave da constituio do tom e do fio dos discursos, em seus vrios planos
esttico, tico, cognitivo, religioso levando-se em conta igualmente as esferas de
atividade em que isso possvel e aceitvel.
Assim, ser autor assumir, de modo permanentemente negociado, posies
que implicam diferentes modalidades de organizao dos textos, a partir da
relao com o heri e com o ouvinte. A prpria seleo de palavras envolve uma
orientao na direo do ouvinte e do heri autor e a recepo a essa seleo
advm do contexto da vida, que impregna as palavras de juzos de valor, impondo
pois ao seu significado uma direo especfica, podendo mesmo pensar na
recepo como uma espcie de co-seleo lexical. Essa operao de seleo
envolve a simpatia, a concordncia com os ouvintes, ou a discordncia com
relao a eles, remetendo assim avaliao que o autor faz do heri.
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Ainda que facilmente identificvel como imagem-objeto, o autor no
parte da inteno nem do projeto do locutor; esse autor concreto no o criador
da palavra nem do discurso enquanto autor de seu prprio enunciado (Bakhtin,
1997, p. 336). Logo, a existncia concreta do autor s pertinente enquanto
incorporada ao autor do discurso, ao ator que d forma, que molda o material.
Nesse sentido, funo do autor, como o afirma Caryl Emerson (1996, p. 113),
ver todos os aspectos da personagem criada, tanto os interiores como os exteriores, em toda posio potencial e em toda potencial oposio a essa posio. Porque criar no ... meramente inventar, mas antes desenvolver uma conscincia ficcional de tal maneira que esta seja suficientemente autnoma para ter vida prpria, entrar em suas prprias relaes sujeito-sujeito.
Em CAIM, por exemplo, Saramago, enquanto autor-criador, transfigura um
contedo j transfigurado mltiplas vezes, tendo sido bem menos prdigo, nesse
livro, em comentrios diretos. O trip costumeiro do que se poderia chamar de
estilo de Saramago, a narrativa, a metalinguagem (tanto sobre a linguagem
literria como sobre a linguagem em geral) e as inseres de comentrios diretos
do narrador, se modificou, e as duas ltimas caractersticas se integraram como
nunca narrativa, em que os dilogos so to bem construdos que preciso um
bom esforo para identificar os momentos de inseres e de metalinguagem.
O autor-criador chegou a a uma obra prima de narrativa, produzindo algo
com uma coeso e coerncia de construo arquitetnica em que os alicerces so
uma mera lembrana de terem existido, pois sumiram. Os recursos visveis do
texto, tecidos no livro de modo mais inconstil, servem a um propsito invisvel,
mas sentido em seus efeitos, que faz o texto dizer mais do que est escrito de uma
maneira que, sem alterar a arquitetnica do estilo de Saramago, altera sua
composio. O autor-criador est se dirigindo ao mesmo pblico seu, capaz de
identificar os componentes e a arquitetnica, mas dele exige, agora, um saber
especfico dos relatos bblicos. Um leitor que os desconhea simplesmente no
poder acompanhar devidamente a narrativa, que tem recursos que s fazem
sentido para quem sabe com que relatos ela dialoga. O estilo, assim, pressupe
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interlocutores capazes de identific-lo, sendo, portanto, no o homem, mas, como
diz Bakhtin, duas pessoas.
A sntese entre a errncia de Caim na terra e a errncia no tempo criada
obra, que altera a ordem e a concatenao dos relatos bblicos, cria,
paradoxalmente, a necessidade de ler ou reler esses relatos. Pois quem no
conhecer a Bblia no poder entender devidamente a narrativa, e, nesse sentido, o
livro desperta para a importncia da Bblia como formadora da mentalidade
ocidental e at d indcios de que f uma coisa, que nada tem a ver com algum
sentido literal, e os relatos bblicos, ou literrios, outra. Porque os relatos bblicos
no so histria, mas uma interpretao luz da f de eventos histricos
recolhidos com um dado objetivo, o que perfeitamente legtimo. E Caim assim a
verso de verses! Isso mostra que um dos princpios do estilo o fato de ele se
modificar, embora mantenha, claro, a maneira tpica de o autor manifestar sua
posio avaliativa, aquilo que nos permite dizer este texto de Saramago. Essa
mudana do estilo ocorre de acordo com a mudana do valor social do heri
(objeto) do enunciado (Id., Ibid.).
Autor e ethos
Os vrios elementos arrolados revelam que a imagem do autor no
entendida por Bakhtin nos termos da retrica, dado que ele, de um lado, recusa
terminantemente a transformao da obra em artefato e, do outro, no atribui nem
vontade consciente autrquica nem a uma ao independente do autor a criao
de sua imagem-objeto, ainda que reconhea explicitamente a construo autoral
que a obra. A noo de ethos de Maingueneau (1997; 2001), ainda que vinculada
a outra perspectiva, aproxima-se de certo modo dessa forma de ver a questo, ao
recusar a perspectiva retrica. Para Maingueneau, o tom do discurso (a presena
subjetiva da imagem do autor) determinado pela formao discursiva, sendo
mesmo uma de suas dimenses. Esse tom, ou voz, envolve a reconstruo pelo
ouvinte de traos psicolgicos que o modo de dizer confere ao autor, bem como a
atribuio pelo ouvinte de uma compleio corporal, igualmente a partir do modo
de dizer. H diferentes graus de explicitao do ethos, sendo tanto maior quanto
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maior o grau de oposio do ethos a um possvel anti-ethos; tal como no caso da
formao discursiva, o ethos tambm vem a ser por meio de uma delimitao da
identidade discursiva do autor que envolve a oposio a outras possveis
identidades.
Maingueneau afirma que o ethos uma noo ligada a trs instncias que
desembocam sucessivamente uma na outra, estando todas ligadas questo do
corporificar o autor: o dar corpo textual (ligado formao discursiva), que leva
incorporao de modalidades de insero do sujeito no plano social, levando esta
incorporao (naturalmente discursiva, em vez de concreta) do ouvinte ao
conjunto dos que aderem ao discurso. Assim, o modo de dizer determina o dito,
fundando-se num modo de ser que o autor cria atravs do discurso; logo, a partir
do dito, identifica-se um modo de dizer, chegando-se deste a um modo de ser,
como sempre discursivo, mas de que no podem estar ausentes os participantes, o
contexto e o mvel da interao. Vemos nessa formulao do autor um caminho
para a aproximao de suas propostas com as de Bakhtin, ainda que se perceba
certa nfase generalizante que pode, se levada a extremos, perder de vista as
especificidades das esferas discursivas e das relaes entre sujeitos concretos.
Outra relevante proposta de explorao do conceito de ethos, em
contraposio s limitaes com que a retrica o v, a de Ruth Amossy (1999),
autora israelita que se dedica pesquisa dos esteretipos. Discutindo as aporias
das verses sociolgica e pragmtica da ideia segundo a qual a autoridade do
orador determina a eficcia da palavra, prope, contrapondo-se ao ponto de vista
externalista, institucional, da sociologia que v a autoridade do orador como
determinada por sua imagem, mas que descarta por inteiro o discursivo como
locus de construo dessa imagem e perspectiva internalista, anti-
institucional, de certas tendncias pragmticas que postulam dispositivos de
enunciao que prescindem de tudo o que tem carter institucional. Trata-se para
ela de verificar por meio de que mediaes o ser no mundo vem a se constituir
num locutor como pura instncia de discurso2. Ela leva em conta a imagem prvia
(no diretamente discursiva) do locutor, mobilizada pelos alocutrios e, a partir
dessa imagem, a interinfluncia ethos institucional-ethos discursivo.
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Macaba Revista Eletrnica do Netlli | V.1., N.2., DEZ. 2012, p. 123-142.
A autora demonstra a confluncia dessas duas instncias ethicas na
formao do ethos, dado que, assim como imagens institucionais ajudam a
construir imagens discursivas, estas ajudam a construir imagens institucionais.
Amossy reconhece que sua perspectiva difere da de Maingueneau, mas afirma ser a
dele um outro percurso que alcana a mesma meta. Por fim, inserindo a questo do
ethos numa proposta de exame da enunciao, a autora prope que se levem em
conta a postura advinda da tomada de posio do sujeito concreto no campo
discursivo, o ethos pr-discursivo e o ethos discursivo. Em complementao,
mostrando que o ethos propriamente dito advm de esquemas coletivos e de
representaes sociais (que v configurados nos esteretipos), reconhece o carter
scio-histrico dessa noo. Essa outra possibilidade de exame dos postulados do
crculo de Bakhtin incorporando a noo de ethos; trata-se de uma viso mais
prxima da de Bakhtin porque, ao propor a noo de ethos pr-discursivo, leva em
conta a concretude das relaes entre sujeitos, nas esferas da cultura, sem contudo
perder de vista sua irrupo como figuras discursivas, em vez de empricas, nos
enunciados e discursos
Foucault e o autor: alguns elementos
Muitos estudos que tratam do autor, mormente fora do campo da literatura,
levam em considerao as formulaes foucauldianas acerca dessa noo. Por isso
trago aqui alguns elementos a esse respeito. Em suas principais propostas sobre a
categoria do autor (1972, 1992 ), Foucault prope o que chama de funo-autor.
Na obra de 1972, que trata do controle, seleo, organizao e redistribuio do
discurso na sociedade de acordo com alguns procedimentos, ele afirma que esses
procedimentos ou mecanismos buscam evitar o poder e os riscos que o discurso
envolve, evitar casualidades discursivas, fugir da fora que tem a materialidade
do discurso. O livro aborda longamente tanto o controle do discurso como a
elucidao do discurso. Ele inclui a funo-autor entre as formas de controle do
discurso, especificamente no mbito dos sistemas internos de controle e
Macaba Revista Eletrnica do Netlli | V.1., N.2., DEZ. 2012, p. 123-142.
delimitao do discurso. Para Foucault, o autor o princpio de unificao de um
conjunto especfico de textos ou declaraes; sem negar a existncia de pessoas
que escrevem, o princpio postula a assuno por elas, quando do ato de escrever,
da funo-autor, em torno da qual se organizam os textos. Essa funo serve para
limitar as casualidades discursivas, evitar que se diga o que no deve ser dito;
ela age criando uma identidade que assume a forma da individualidade e do eu.
Trata-se de identificar e punir, identificar para punir, e, por meio disso, esvaziar a
possvel virulncia do discurso.
Foucault (1992, original de 1969) fala do nome do autor como uma maneira
de caracterizar um dado modo de ser do discurso, sua recepo de uma maneira
determinada e a atribuio a si de um certo estatuto. A funo-autor, que se associa
com isso, vista como estando fundada em quatro pilares: sua ligao com o
sistema jurdico e institucional que encerra, determina, articula o universo dos
discursos (FOUCAULT, 1992, original de 1969, p. 56); o fato de no se aplicar a
todo e qualquer discurso, nem da mesma forma e o de variar em funo de pocas
e formas de civilizao; o fato de no advir da atribuio espontnea de um
discurso ao seu produtor, mas decorrer de toda uma srie de operao,
especficas e complexas; o fato de no remeter diretamente a um indivduo
concreto, mas de identificar vrios eus, vrias posies-sujeito que podem ser
ocupadas por diferentes tipos de indivduos. Foucault deseja retirar ao sujeito (ou
ao seu substituto) o papel de fundamento originrio e de o analisar como uma
funo varivel e complexa do discurso (FOUCAULT, 1992, original de 1969, 70).
Consideraes Finais
Os elementos extradiscursivos so entendidos por Foucault como
incorporados ao discurso, mas no fica muito claro seu estatuto como tal. Em
ambas as obras dele, a funo-autor deveras especfica, aparentemente no
aplicvel seno a um conjunto relativamente restrito de discursos. Logo, a
proposta de Foucault, ainda que aponte para alguns importantes elementos, tem
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menos amplitude do que as de Bakhtin, de Maingueneau e de Amossy, nas quais o
locus do autor tambm o discurso, mas todo e qualquer discurso, e nos quais o
autor tambm no se confunde com um autor-indivduo. Para Foucault, a funo-
autor uma forma de controle, de identificao restritiva, e o uso do nome do
autor como forma de impor certa forma de recepo e de marcar seu discurso de
uma dada maneira, ao passo que o autor, principalmente em Bakhtin, mas tambm
em Maingueneau e Amossy, um elemento da organizao do discurso, algo que
engloba igualmente as coeres por assim dizer institucionais que incidem sobre o
discurso.
Logo, Foucault de certa maneira oscila entre a recusa da identificao entre
o autor e um indivduo concreto e a equiparao da funo-autor, da prpria
inveno do autor, a um mecanismo extra-discursivo de controle; isso porque
seu empreendimento tanto discursivo como, por assim dizer, sociolgico.
Embora reconhea no discurso o locus do autor, da funo-autor, em vez de v-lo
no indivduo concreto, ele nem por isso deixa de examinar a prpria gnese social
dessa noo, situando-se assim numa posio semelhante de Amossy quanto ao
ethos; se para ela ethos institucional e discursivo se interdeterminam, para ele a
funo-autor em sua gnese social e a funo-autor como imagem discursiva do
autor se acham intimamente entrelaadas, no se podendo pensar uma sem a
outra. As vises de Bakhtin e de Maingueneau, por outro lado, acentuam o
discursivo como o lugar privilegiado da convergncia entre o trabalho do autor, o
trabalho de criao do ethos, e todas as coeres sociais incidentes sobre os
discursos; neles, o institucional, como tudo o mais, criao discursiva.
Deve-se ainda levar em conta que a questo da organizao do discurso, que
envolve as tarefas do autor, recebe uma maior elaborao em Bakhtin (ainda que
a nova tipologia em que Maingueneau vem trabalhando, reformulando suas
propostas anteriores, apresente critrios que podem vir a dar-lhe maior amplitude
e compatibilidade com as de Bakhtin). O pensador russo prope, principalmente
no caso do discurso esttico, mas no excluindo outros discursos, a distino entre
forma composicional (por exemplo, a forma drama como realizao de um
enredo trgico) e forma arquitetnica (por exemplo, a tragdia como organizao
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que pode ser realizada como drama ou como comedia) [cf. BAKHTIN, 1988] para
dar conta, mais do que do romance, do romanesco.
Forma arquitetnica a concepo da obra enquanto objeto esttico, e
forma composicional o modo especfico de estruturao da obra externa a
partir de sua concepo arquitetnica. A tragdia equivale concepo geral de
um edifcio especfico, ao passo que o drama (ou a comdia) a maneira como
esse edifcio vem a ter estruturados organicamente os componentes que vo fazer
dele esse edifcio especfico a partir de um dado material. A forma arquitetnica
(parte do objeto esttico) determina a forma composicional (parte da obra
externa), mas s graas a esta vem ela a existir assim como se conhece a
potncia por meio do ato de sua realizao. E a forma arquitetnica vem a existir,
por meio dos atos da forma composicional, ancorada num dado material, cujas
particularidades tambm tm sua incidncia (BAKHTIN, 1988, p. 26)
Notas
1 O que remete questo do grau de proximidade (ou distanciamento, se se preferir) recproca entre heri e criador cf. Discurso na Vida e Discurso na Arte, p. 12.
2 Diga-se de passagem que essas questes tm implicaes e ressonncias, que incidem inclusive sobre as controvrsias instauradas por nefastas teorias ps-modernas, que fogem ao escopo destas nossas consideraes.
Referncias
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Para citar este artigo
SOBRAL, Adail Ubirajara. A concepo de autor do "Crculo Bakhtin, Medvedev, Voloshinov": confrontos e definies. Macaba Revista Eletrnica do Netlli, Crato, v. 1., n. 2., Dez. 2012, p. 123-142.
Macaba Revista Eletrnica do Netlli | V.1., N.2., DEZ. 2012, p. 123-142.
O Autor
Adail Ubirajara Sobral Doutor em Lingustica Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (2006), Mestre em Letras pela Universidade de So Paulo (1999), Especializado em Lingustica pela UNICAMP (1983), Licenciado em Letras (Ingls) pela Universidade Federal da Bahia (1977). Autor de Do dialogismo ao gnero - as bases do pensamento do Crculo de Bakhtin (Campinas: Mercado de Letras, 2009). Autor de Dizer o mesmo a Outros - Ensaios sobre Traduo (So Paulo: SBS, 2008). Tem experincia na rea de Lingustica Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Gnero, Discurso, Discurso Literrio, Teoria do Ato, Dialogismo, Crculo de Bakhtin, Semitica Geral e Greimasiana, Traduo e Interpretao. tradutor profissional de e para portugus, francs, ingls e espanhol em vrias reas das cincias humanas, de medicina e de biotica etc. Foi professor concursado de Teoria da Interpretao da Universidade Metodista de Piracicaba - SP. atualmente professor Adjunto II do Programa de Ps-Graduao em Letras - Lingustica Aplicada, da UNIVERSIDADE CATLICA DE PELOTAS - RS. membro pesquisador do Grupo de Estudos Semiticos da USP (GES-USP) e do Grupo Tessitura: : Vozes em (Dis)curso, da PUC-RS . Foi Jurado do Prmio Jabuti, promovido pela Cmara Brasileira do Livro (CBL), na categoria Teoria/Crtica Literria, nos anos de 2004, 2007 e 2008. um dos tradutores, ao lado de Maria Stela Gonalves e Marta Glukman, de textos do ingls e do portugus para o espanhol, contidos no livro Perspectivas de la Biotica en Iberoamrica, publicado em Santiago - Chile pelo Programa de Biotica da Organizacin Panamericana de la Salud/World Health Organization e Universidad de Chile, em 2007, que tem uma verso em portugus, bem como outra em ingls (com a participao de Jennifer Bulcock), intitulada Ibero-American Bioethics, publicada em 2010. A verso em espanhol pode ser consultada no endereo http://www.uchile.cl/bioetica/doc/perspectivas.pdf. Membro do Comit de tica em Pesquisa - CEP/UCPel Membro do GT Estudos Bakhtinianos da ANPOLL Membro do Comit Editorial da Coleo Estudos da Linguagem da Mercado de Letras. Membro do Conselho Consultivo do Centro de Educao e Comunicao UCPEL. Membro do Ncleo Docente Estruturante do Curso de Graduao em Letras da UCPEL.