Post on 25-Jun-2015
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A HORA DE JOGO A HORA DE JOGO DIAGNÓSTICADIAGNÓSTICA
A HORA DE JOGO A HORA DE JOGO DIAGNÓSTICADIAGNÓSTICA
Profa. Ms Ludmila de MouraProfa. Ms Ludmila de Moura
BRINCADEIRA: PONTE PARA A REALIDADE
“AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS DEVERIAM SER CONSIDERADAS SUAS ATIVIDADES MAIS SÉRIAS”
Montaigne
• Freud – brincadeira: • meio da criança efetuar suas
primeiras grandes realizações culturais e psicológicas;
• expressa a si própria;
• exprimem seus sentimentos e pensamentos;
•A brincadeira é a “estrada real” para o mundo interno consciente e inconsciente da criança.
•Brincadeira = escolha motivada por processos internos, desejos, problemas, ansiedades;
•O que se passa na mente da criança determina suas atividades lúdicas;
•Brincadeira = como a criança vê e constrói o mundo – como ela gostaria que ele fosse, quais as suas preocupações e que problemas a incomodam
•Brincar é sua linguagem secreta;
•Intervir = desvia a criança de seus propósitos inconscientes – a impede de dominar suas dificuldades psicológicas;
• Exemplo:• menina de 4 anos – gravidez da
mãe – comportamentos regressivos (mamadeira, xixi na roupa, engatinhar)
• Após alguns meses – carinhosa com sua boneca, cuidando dela mais seriamente do que antes
• Significados ????
• Medo que o bebê a privasse de suas gratificações infantis – ela mesma tentou supri-las
• Pensou que a mãe queria um bebê, que ela não era mais
• Se fosse um bebê, a mãe desistiria da idéia de outro
• Após algum tempo – experimentou que ser bebê tinha desvantagens
• Ser mais crescida era melhor do que ser um bebê
• Resolveu ser como a mãe– Na brincadeira, ser como a mãe, agora– Na imaginação, tornar-se, no futuro,
mãe de verdade
•Crianças maiores – para proteger sua maturidade - representam esses papéis como atores numa peça ou com bonecos (Personificação)
• Brincar – esforço de simplesmente entender o mundo–Brincar de boneca, de trabalhar como os pais, imitar os irmãos mais velhos = entendê-los como pessoas, mas também por suas ocupações; saber o que significa ficar mais velha.
• Esforço lúdico = autocurativo
• Brincar de cuidar de bonecas, ou de animais de verdade, como gostaria de ser cuidada – compensar deficiências sentidas.
• Brincadeira:• Exercita o corpo e a mente• Satisfação de funcionar bem
sozinho e com os outros• Prazer imediato – se estende e se
transforma num prazer de viver• Duas faces – voltada para o
passado e para o futuro (deus romano Jano)
• Brincadeira:• Resolver de forma simbólica
problemas não resolvidos do passado;
• Enfrentar direta ou simbolicamente questões do presente;
• Preparar-se para o futuro e suas tarefas.
Outras funções da brincadeira:• Desenvolvimento das capacidades
cognitivas e motoras (Karl Groos)• Desenvolvimento intelectual
(Piaget)• Desenvolvimento do pensamento• Desenvolvimento da linguagem
– uso criativo das palavras – criar poesias – crianças mais otimistas
Brincar ensina os hábitos necessários ao crescimento:–Persistência, perseverança - raramente conseguimos as coisas tão fácil ou rapidamente como gostaríamos
–Confiar na sua capacidade de vencer
(Tolerância à frustração)
• Exemplo: entender que não precisa desistir desesperada se um bloco não se equilibra perfeitamente sobre outro, logo na primeira vez
• Repetição na brincadeira – luta com questões de grande importância – não encontrou solução para o problema que investiga – continua a procurá-la.
• Repetição: perder o jogo, possibilidade de jogar de novo e vencer
• Entender que apesar de reveses temporários na vida, ainda pode ter sucesso, inclusive na mesma situação em que experimentou a derrota – (T jogar de verdade) (≠ fama)
• Enfatizar o prazer do jogo (processo)
• Crianças – muito sensíveis a nossos sentimentos internos
• Não impor-lhes nossos objetivos• (T observador participante)• Limitar nossa participação a
entregar-lhe as peças ou ajudá-la, se pedir
• T – ter a paciência necessária de esperar
Brincar de “gente grande”:• Prazer vem da fantasia de ser
grande piloto, músico, pintor, explorador, inventor, bailarina ou motorista de caminhão agora mesmo.
FANTASIA E BRINCADEIRA
Através das brincadeiras baseadas nas fantasias imaginativas:
• Compensar as pressões que sofre na vida e das que se originam em seu inconsciente
• Torna-se mais familiarizada com o conteúdo de sua racionalização do desejo, assim como de alguns de seus desejos anti-sociais
• Fantasia ira e hostilidade em jogos de guerra ou realiza seus desejos de grandeza, imaginando ser o Super-homem ou o Hulk ou um rei:
• Procura a satisfação indireta de devaneios irreais, de controlar outras pessoas, compensando o sentimentos de estar sujeita ao controle dos adultos, principalmente dos pais.
DIFERENÇA ENTRE FANTASIA E BRINCADEIRA
• Imaginação: podemos tudo
• Representação da fantasia: sujeito às limitações da realidade
• (Criatividade)
Crianças normais:• jogos de fantasia são uma tentativa
de separar a vida interna (imaginação), da vida externa da realidade – adquirir domínio sobre ambas
• Somente crianças com sérios distúrbios emocionais querem permanecer no mundo da fantasia
• Através da brincadeira, a fantasia é modificada a ponto das limitações da realidade tornarem-se visíveis por meio da atividade lúdica.
• Ao mesmo tempo, a realidade é enriquecida, humanizada e personalizada, por ter sido impregnada de elementos inconscientes vindos das grandes profundezas de nossa vida interior.
• Nas fantasias, nos sonhos, no inconsciente, tudo é possível. Nada precisa seguir uma seqüência ordenada; nada contradiz coisa alguma.
• No entanto, se o inconsciente não é influenciado pela realidade, permanece anti-social e caótico.
• A realidade livre de elementos fantásticos permanece áspera, fria, emocionalmente insatisfatória, mesmo quando parece vir de encontro às nossas necessidades.
• Evidentemente, nossos mundos internos e externos precisam ser integrados de maneira harmônica, se quisermos ter uma vida satisfatória.
• As crianças testam os limites que a realidade impõe, representando suas fantasias. Exemplo:
• Quando aborrecida com alguém, a criança imagina cortar fora a cabeça da pessoa. Não tem importância na fantasia, porque depois pode colar a cabeça de novo e tudo fica bem.
• “Precisamos ter cuidado com nossos desejos e com o que pode acontecer quando se tornam realidade”
• A criança aprende isso quando vai além – decapita seu bichinho de brinquedo
• Visualiza em que consiste o seu desejo
• Com tais experiências, suas fantasias vingativas mudam aos poucos
•Os desejos do inconsciente são moderados pelo impacto das limitações da realidade, tal como vivenciada na brincadeira
A INTEGRAÇÃO DOS MUNDOS INTERNO E EXTERNO
• A idade das brincadeiras é o tempo certo para construirmos a ponte entre o mundo do inconsciente e o mundo real.
• Brincadeira que recorre à imaginação – passa dos significados simbólicos dos objetos para a investigação ativa de suas verdadeiras funções e particularidades
Exemplo:• Criança constrói uma torre de
blocos e depois a derruba• Não apenas - depois de ter agido
“construtivamente”, suas tendências destrutivas predominaram;
• Construindo – sujeita às limitações impostas pela realidade sobre sua imaginação (sua realidade interna)
• Mesmo enquanto assegurava seu domínio sobre os blocos – ajustando-os ao seu projeto – fazia concessões à natureza dos materiais, à gravidade, às leis de equilíbrio e sustentação;
• Revoltada com as restrições – destrói a torre – para reafirmar seu domínio sobre um meio relutante.
• É uma experiência crucial de aprendizagem sobre as realidades interna e externa; e sobre o domínio.
• A criança aprende que pode ser o senhor supremo – mas apenas de um mundo caótico
• Se quiser assegurar algum domínio sobre um mundo estruturado e organizado, precisa renunciar a seu desejo “infantil” de domínio total e chegar a um acordo entre esses desejos e a dura realidade (as limitações de construir com blocos)
• Enquanto repete seguidamente a experiência, aprende que o desejo de exercer domínio total (derrubando a torre de blocos) leva ao caos.
• A criança aprende a moderar suas exigências internas à luz do que é factível no mundo em que vive.
• Brincar é o processo no qual se inteira dos dois lados da realidade - interna e externa
• Começa a fazer as pazes com as legítimas exigências de ambos
• e a aprender como satisfazê-las em benefício próprio e dos outros.
Caixa de ludodiagnóstico
• Significado???
• Necessita ter, para curar-se, algo que seja completamente seu, sem interferências
• Significar o que foi a primitiva relação com a mãe
EXEMPLOS DE CASOS
• Menina – 6 anos – cola na parede –
• Esvaziar o frasco de cola • = ensaio da possibilidade de que algo servisse para unir o que estava destroçado.
• = como poderia arrumar dentro de si as palavras destroçadas.
Menino – 8 anos• Destruía todo material da caixa –
restos de brinquedos – em desordem = como se sentia.
• Aceitar a caixa – aceitá-lo como era, sem exigir que se mostrasse bem e são;
• Repor materiais atraentes = eu exigia mostrar-se como elas, o que não podia fazer, por estar muito doente
• Jogo de esconde –esconde = perder e recuperar algo
• Toda ausência é seguida de um reencontro – elabora a angústia da perda e a ânsia de recuperar
Menino – 2 anos
• Pavor noturno – insônia – desde 18 m
• Brinca com pratinhos, taças e talheres – alimentação com prazer (± 10 min.)
• Pede que acenda a luz• Pega pratinho, chupa e morde
desesperadamente • Ansiedade crescente
• Luz = sintomas à noite• Pratinho = seio introjetado (= mãe)• Morde e ataca o seio• Defesas frente às tendências
destrutivas = expulsão, projeção e simbolização
• Destruição violenta do objeto carregado de destrutividade – projeção = perseguidor
• Enchia a pia de água até transbordar
• Pisava e fazia marcas dos pés, até a mãe
• Segurava a mão da terapeuta
• Abraçava a mãe, carinhosamente
• Transbordar água = urinar à noite, pela ansiedade;
• Abraço = forma inicial de contato com a mãe, depois do nascimento;
• Necessitava do apoio incondicional = mão da terapeuta = para curar-se;
• Ultrapassar o limite entre o banheiro e a sala de jogo – simboliza o nascimento
REFERÊNCIAS• ABERASTURY. A. Psicanálise da
criança – teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
• BETTELHEIM, B. Uma vida para seu filho. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
• GRAÑA, R.B. e PIVA, A.B.S. (orgs). A atualidade da Psicanálise de crianças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.