Post on 08-Jan-2017
A importância da arquitetura sustentável nos países de clima tropical
Análise de casos na cidade de Luanda
Mário Alcino Pio Gourgel
Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura
Júri
Presidente: Profª Doutora Ana Cristina dos Santos Tostões Orientador: Profº Doutor Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro Vogal: Profº Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes
Fevereiro de 2012
i
Agradecimentos
Em primeiro lugar estou grato à Deus por ter tornado possível a realização deste trabalho.
Os meus agradecimentos são dirigidos, especialmente, ao professor Manuel Pinheiro, pelo
apoio e disponibilidade demonstrados na orientação da Dissertação, cuja referência e competência
profissional aqui realço e reconheço desde que tive o prazer de o conhecer no curso de arquitetura do
Instituto Superior Técnico.
Ao professor Manuel Correia Guedes pelo apoio e conversas havidas, de incentivo ao desen-
volvimento deste trabalho e pelo material disponibilizado.
À arquiteta Filomena do Espírito Santo, pelo tempo concedido em conversa, apoio e motiva-
ção no desenvolvimento do trabalho, e material disponibilizado.
Aos meus pais, com amor, pela educação transmitida, sem a qual não seria o que hoje sou, e
por toda a paciência e auxílio nas várias etapas da vida.
À minha companheira, pelo apoio moral e compreensão demonstrados nos momentos difíceis
e exigentes do trabalho, o meu profundo amor e carinho.
Aos meus amigos, por acreditarem em mim, aos quais agradeço, pois que, sem eles a moti-
vação para os projetos pessoais não teria a mesma expressão.
Não posso deixar de evidenciar os meus tutores, conhecidos e “desconhecidos”, que continu-
amente me motivam a seguir o caminho da sabedoria para o alcance de metas, na realização de
projetos pessoais e profissionais, que têm como principal alvo o benefício da humanidade.
ii
Resumo
As questões relacionadas com o ambiente natural têm merecido, nos dias de hoje, a atenção
dos órgãos decisores de vários países e das organizações mundiais.
A construção tem provocado grandes impactes e pressão sobre o ambiente natural. Assim, a
arquitetura sustentável e os seus princípios poderá garantir um bom desempenho ambiental e socio-
económico, com ênfase nos países de clima tropical, pretende-se com o presente trabalho realçar a
importância da arquitetura sustentável, e dos seus princípios, na diminuição dos impactes ambientais,
com particular destaque para os países de clima tropical, analisando o caso da cidade de Luanda.
Para compreensão da matéria exposta, estabeleceu-se um enquadramento conceptual no
qual foram sistematizados os conceitos relacionados com o tema nomeadamente, o de desenvolvi-
mento sustentável, arquitetura sustentável, arquitetura tropical, entre outros, que serviram de base de
análise ao objeto de estudo.
De modo a obter-se uma compreensão prática apresenta-se, no final, um estudo de caso no
qual são analisadas duas tipologias habitacionais edificadas em Luanda – um apartamento e uma
moradia –, onde se pretendeu perceber, diagnosticar e avaliar com o sistema LiderA1 os seus de-
sempenhos ambientais de acordo com indicadores e critérios deste sistema.
O resultado desta avaliação permitiu que se propusessem medidas para melhoria de desem-
penho da situação existente para cada caso.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura sustentável, Luanda, Angola, Avaliação da sustentabilidade
Construção sustentável,
1 Sistema voluntário para avaliação da construção sustentável (www.lidera.info)
iii
Abstract
Actual environmental aspects due to its increase importance in built environment have de-
served, nowadays, the attention of decision makers from various countries and organizations world-
wide.
Urban construction has been increasing impact and pressure on natural environment. So, sus-
tainable architecture and its principles could help to assure good environmental performance and so-
cioeconomic service, emphasizing tropical climate countries.
For sustainable architecture comprehension, a conceptual framework has been reviewed in
which concepts were systematically related to sustainable development and tropical architecture.
In order to obtain a practical understanding it is presented a case study, in last chapter, in
which two built housing types in Luanda city - an apartment and a house – has been evaluated by
LiderA2 system.
The result of this evaluation made it possible to propose measures to improve the sustainable
performance of the existing situation for each case.
Keywords: Sustainable architecture, Luanda, Angola, Sustainability assessment,
Sustainable construction.
2 Voluntary system for assessment of sustainable construction (www.lidera.info)
iv
Índice
Agradecimentos ..................................................................................................................................... i
Resumo.................................................................................................................................................... i
Abstract ................................................................................................................................................. iii
Índice de Figuras .................................................................................................................................. vi
Indice de Quadros ............................................................................................................................... vii
1. Introdução ................................................................................................................................. 1
1.1. Enquadramento ...................................................................................................................... 1 1.2. Tema e Motivações ................................................................................................................ 4 1.3. Objetivos ................................................................................................................................ 5 1.4. Abordagem e Metodologia ..................................................................................................... 6 1.5. Estrutura e limitações do trabalho ......................................................................................... 6
2. O clima, o homem e o ambiente construído .......................................................................... 8
2.1. O clima mundial - caracterização das diferentes zonas climáticas ....................................... 8 2.2. Clima Tropical – tipos e caraterísticas ................................................................................. 10
2.2.1. Variáveis climáticas ..................................................................................................... 11
2.3. O conforto térmico humano, a envolvente natural e o ambiente construído ....................... 12 2.4. O consumo de energia ......................................................................................................... 13 2.5. Outros impactes e custos do ambiente construído .............................................................. 21
2.5.1. Impactes do ambiente construído ............................................................................... 21
2.5.2. Custo do ciclo de vida e dos impactes ambientais da construção .............................. 22
3. Arquitetura sustentável e arquitetura tropical .................................................................... 24
3.1. Enquadramento histórico, origem e conceito de arquitetura sustentável ............................ 24 3.2. Princípios da arquitetura sustentável e instrumentos de apoio ao projeto sustentável ....... 27
3.2.1. Princípios de arquitetura sustentável .......................................................................... 27
3.2.2. Instrumentos de apoio ao projeto sustentável ............................................................ 29
3.3. A Arquitetura tropical ............................................................................................................ 32 3.3.1. Origem do conceito ..................................................................................................... 32
3.4. Arquitetura tropical e sustentável – relação e aspetos a considerar na conceção de projetos sustentáveis. ..................................................................................................................................... 36
4. Medir e suportar a procura da sustentabilidade ................................................................. 41
4.1. Indicadores de sustentabilidade .......................................................................................... 41 4.1.1. Pegada ecológica ........................................................................................................ 42
4.1.2. Pegada de carbono ..................................................................................................... 43
4.2. Avaliação do ciclo de Vida ................................................................................................... 44 4.3. Sistemas de avaliação e certificação da construção sustentável ........................................ 46 4.4. LiderA – Sistema Voluntário de Avaliação da Construção Sustentável .............................. 49
4.4.1. Princípios globais ........................................................................................................ 49
4.4.2. Vertentes e áreas ........................................................................................................ 50
4.4.3. Critérios e níveis de desempenho ............................................................................... 50
4.4.4. Ponderação ................................................................................................................. 52
4.4.5. Aplicação do Sistema Lidera ....................................................................................... 52
v
4.4.6. Certificação pelo sistema LiderA ................................................................................. 54
5. Estudo de caso – Análise de casos na cidade de Luanda. ................................................ 56
5.1. Enquadramento - A República de Angola e a cidade de Luanda ........................................ 56 5.2. O Clima em Angola – Principais caraterísticas e as diferentes zonas climáticas. .............. 57 5.3. A cidade de Luanda – enquadramento, clima e estrutura urbana ....................................... 58 5.4. Caraterísticas da arquitetura e da construção em Luanda – do passado ao presente (uma abordagem crítica) ............................................................................................................................ 59 5.5. Os casos de estudo – Aplicação do LiderA África às duas unidades habitacionais em Luanda. ............................................................................................................................................. 67
5.5.1. Enquadramento ........................................................................................................... 67
O Projeto NOVA VIDA .................................................................................................................. 67
Moradia Unifamiliar ....................................................................................................................... 77
6. Discussão dos resultados .............................................................................................................. 83
7. Conclusão ........................................................................................................................................ 85
Bibliografia ........................................................................................................................................... 87
Anexos .................................................................................................................................................. 90
vi
Índice de Figuras
Figura 1 – Movimento elítico da terra à volta do sol e as estações anuais ............................................ 1 Figura 2 – Clima e diferentes zonas climáticas ....................................................................................... 9 Figura 3 – Temperaturas (Clima tropical) .............................................................................................. 10 Figura 4 – Orientação otimizada para a cidade de Luanda .................................................................. 11 Figura 5 – Diagrama do regime anual de ventos em Luanda mostrando a frequência dos ventos dominantes ............................................................................................................................................ 11 Figura 6 – Gráfico bioclimático com as diferentes zonas ...................................................................... 13 Figura 7 – O efeito da ilha de calor urbano sobre uma área urbana e rural ......................................... 14 Figura 8 – Variação temporal típica Urbana e Rural. (8 a) Temperatura do ar, (8 b) Taxas de arrefecimento/aquecimento e (8 c) A intensidade da ilha de calor urbano resultante sob condições atmosféricas .......................................................................................................................................... 15 Figura 9 – A diferença máxima entre a temperatura Urbana e Rural para as cidades Norte Americanas e Europeias ....................................................................................................................... 17 Figura 10 - O processo de aumento do consumo de energia ............................................................... 19 Figura 11 – Relógio solar horizontal (10a); Diagrama retangular (10b) ................................................ 30 Figura 12 – Diagrama radial .................................................................................................................. 30 Figura 13 – Diagrama psicrométrico ..................................................................................................... 31 Figura 14 – (a) O “banggolo”; (b) O bungalow adaptado pelos Europeus ............................................ 33 Figura 15 – Ilustração de uma incorreta implantação face a exposição solar e as chuvas (acima) e de correta implantação (em baixo) ............................................................................................................. 38 Figura 16 – Orientação correta, considerando o regime de ventos ...................................................... 39 Figura 17 – Orientação dos edifícios [em planta] e a influência dos ventos. ........................................ 39 Figura 18 – A proteção solar ................................................................................................................. 40 Figura 19 – A presença de elementos arbóreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na ventilação............................................................................................................................................... 41 Figura 20 – Esquema de vertentes e áreas do Sistema LiderA............................................................ 49 Figura 21 – Classes de desempenho ambiental ................................................................................... 51 Figura 22 – Ponderação por vertentes na versão 2.0 ........................................................................... 52 Figura 23 – Certificado Lidera ............................................................................................................... 55 Figura 24 – Mapa administrativo de Angola .......................................................................................... 56 Figura 25 – Ocupação informal: bairro suburbano ................................................................................ 62 Figura 26 –Prédios com varandas encerradas e uso do ar-condicionado, em Luanda (mau exemplo de uso) ................................................................................................................................................... 65 Figura 27 – Bom exemplos de soluções arquitetónicas em Luanda (grelhas de proteção do vidro e ventilação natural) ................................................................................................................................. 65 Figura 28 – (a) Obstrução da brisa por edifícios altos em climas quentes e húmidos (esquerda); (b) Edifícios em construção na marginal em Luanda (direita) .................................................................... 66 Figura 29 – Localização do projeto Nova Vida em relação ao centro da cidade .................................. 68 Figura 30 – Localização dos edifícios onde se situa o apartamento (Projeto Nova Vida) .................... 69 Figura 31 – Vista aérea da construção do projeto Nova Vida e uma das ruas com moradias construídas ............................................................................................................................................ 70 Figura 32 – Vista exterior de edifícios do Projeto Nova Vida ................................................................ 71 Figura 33 - Vista interior da zona de serviço (grelhas de ventilação) e do apartamento ...................... 74 Figura 34 – Vistas do hall de acesso aos apartamentos (aberturas permitem a promoção da ventilação natural) ................................................................................................................................. 77 Figura 35 – Moradia vista de fora .......................................................................................................... 77 Figura 36 – Interior da Moradia ............................................................................................................. 80
vii
Indice de Quadros Quadro 1 – Padrões do consumo de energia por diferentes atividades nos Estados Unidos, Reino Unido e Sri Lannka ................................................................................................................................ 18 Quadro 2 - Comparação entre a Pegada Ecológica de África, Mundo e Angola .................................. 43
1
1. Introdução
1.1. Enquadramento
As atividades humanas, de que a construção é um exemplo, têm acompanhado o
crescimento populacional e o desenvolvimento, nomeadamente por via do aumento do nível de vida
individual das populações, da maior capacidade de mobilizar recursos e do consequente impacte
ambiental (Pinheiro, 2006).
Os edifícios e o ambiente construído são os elementos definidores do ambiente urbano. Estes
determinam o caráter e os marcos mais importantes de uma cidade que criam uma sensação de
familiaridade e identidade que podem fazer das cidades locais aprazíveis e agradáveis, onde as
pessoas gostem de trabalhar e viver. Por conseguinte, a qualidade do ambiente construído tem uma
forte influência na qualidade do ambiente urbano, mas esta é muito mais profunda e abrangente,
ultrapassando largamente considerações de caráter puramente estético (Pinheiro, 2006).
A capacidade inventiva do homem permitiu-lhe desafiar os rigores ambientais utilizando o
fogo para se aquecer, e peles para se cobrir. Quando o mais débil de entre os animais substituiu o
engenho prometeico pela adaptação física similar a das outras espécies, o abrigo converteu-se na
defesa mais elaborada contra climas hostis. À medida que evoluía o abrigo acumulavam-se
experiências que, com engenho, diversificavam-se para enfrentar os desafios e a grande variedade
de climas. A interpretação do clima como fator principal é justificável, somente, se a envolvente
climática influi diretamente na expressão arquitetónica (Olgyay, 1962).
Os antigos reconheciam que a adaptação era um princípio essencial da arquitetura. Vitrúvio
(citado por Olgyay, 1962) disse em De Arquitectura: “O estilo dos edifícios deve manifestar-se
diferente no Egito em relação a Espanha, em Pontus e em Roma, e em países e regiões de
caraterísticas diferentes […].”
O Dr. Walter B. Cannon (citado por Olgyay, 1962) afirma que: “O desenvolvimento de um
equilíbrio térmico estável no nosso edifício deve observar-se como um dos mais valiosos avanços na
evolução da edificação.” Esta tese pode confirmar-se ao observar as diversas formas de vivenda
desenvolvidas por grupos étnicos de origem étnico similar, estabelecidos em diversas regiões
climáticas. Para os arquitetos, o “homoclima”, ou seja, as necessidades humanas, constituem o fator
determinante (Olgyay, 1962).
Jean Dolfus (citado por Olgyay, 1962), com o seu mostruário de vivendas caraterísticas de
todo o mundo, confirma que o principal objetivo dos construtores foi sempre a procura das condições
ótimas de conforto térmico. Segundo o resultado das suas análises, conclui que a tipologia
construtiva encontra-se definida mais pelas zonas climáticas do que pelas fronteiras territoriais.
Na abordagem do conforto térmico surgem questões relativas ao consumo de recursos, o que
nos remete para a questão da sustentabilidade que veio de outros domínios para a arquitetura: “It
was not in architecture that the term sustainability was introduced for the first time. Already by the end
2
of the 1980´s, the term “sustainability” was used extensively in the economics field in reference to
development for criticizing earlier models of economic growth for nations or regions that had favored
fast returns and accelerated growth, while disregarding that in the long-run they were depleting
irreplaceable resources – the very resources their growth depended upon” (Baweja, 2008).
Existem evidências de que é fundamental a consideração da susentabilidade: “The question
of the long-term, unanticipated negative impact of an economic policy on its performance was further
extended to cover the effect of new products – chemical, agricultural, and mechanical – on
environmental quality in the long run. It was in relation to this latter problem that the criterion of
sustainability entered into architecture and urban design, providing a conceptual framework to handle
the long-term negative impact of the application of techniques and materials of construction on
material resource consumption and environmental physical quality “ (Baweja, 2008).
A procura de soluções ajustadas ao clima e de desempenho foi uma preocupação sempre
crescente nas soluções arquitetónicas desde Vitrúvio no século I a.C. (Guedes, et al., 2011), até ao
assumir nos exemplos do arquiteto, presentes em Angola e Luanda.
Nas últimas décadas o assumir de abordagens passivas e de baixa energia condiziu a várias
abordagens, veja-se a PLEA – Passive and Low Energy Architecture3 que desde 1982 organiza
conferências e eventos sobre estas abordagens.
Integrado na reflexão sobre desenvolvimento sustentável, surge nos países mais desenvolvi-
dos, um movimento internacional em 1993, (Kibert, 2003; citado por Pinheiro, 2006) que procura defi-
nir e implementar o conceito de construção sustentável.
No ano de 1994, realizou-se em Tampa, na Flórida, a Primeira Conferência Internacional so-
bre Construção Sustentável ("The First International Conference on Sustainable Construction") patro-
cinada pelo Rocky Mountain Institute, da Universidade da Florida, e a CIB - International Council for
Building Research Studies onde se fizeram diversas propostas no sentido de definir o conceito de
construção sustentável. A definição mais aceite foi a apresentada por Charles Kibert em 1994 que
define Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído
saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utiliza-
ção eficiente dos recursos" (Pinheiro, 2006).
Inevitavelmente, em associação com o conceito de construção sustentável, surge o conceito
de arquitetura sustentável, pois, como afirma Corbella (2003, 8)4: “o arquiteto, sem desprezar o belo e
a plasticidade das formas, [teve que] forçosamente reencontrar o meio ambiente, cujo equilíbrio é de
fundamental importância para a sobrevivência da espécie humana na Terra”. Outro conceito de arqui-
tetura sustentável é fornecido por Corbella (2003, 17)5 que a define como sendo a conceção e o de-
senvolvimento de edificações que objetivem “o aumento da qualidade de vida do ser humano no am-
biente construído e na sua envolvente, integrado com as caraterísticas de vida e do clima locais,
além da redução do uso de recursos naturais”.
3 http://www.arct.cam.ac.uk/PLEA/Home.aspx 4 (citado por Vieira e Barros Filho, 2009), fonte: http://www.esuda.com.br/revista_humanae.php 5 Idem
3
Já de acordo com Steele (1997, 11)6, a arquitetura sustentável “consiste na produção de uma
edificação que se adapte ao clima, à iluminação, ventilação e topografia, tirando proveito das condi-
ções naturais do lugar reduzindo o desperdício energético.
Há muitas definições para arquitetura sustentável, mas a essência da sustentabilidade está
intrinsecamente ligada à essência da arquitetura. Um bom edifício é naturalmente sustentável
(Guedes, et al., 2011).
Baweja (2008) argumenta que a arquitetura sustentável já existe implícita na relação com a
arquitetura tropical: “Green Architecture, which is considered a recent discourse, cannot therefore be
fully grasped unless it is historicized in relationship to Tropical Architecture”.
Sobre a arquitetura tropical Baweja (2008), refere ainda que: “Existing histories locate Tropical
Architecture as a neo-colonial project that emerged in the 1950s along the networks of the diminishing
British Empire” (Baweja, 2008).
Baseado nos escritos de Koenigsberger, Baweja (2008) define essa arquitetura com um forte
envolvimento com a dimensão energética, climática e consideração dos recursos: “Tropical
Architecture paradigmatically as climate-responsive and energy-conservative design that makes the
best use of locally available resources”.
Neste sentido, a mesma autora (Baweja, 2008) afirma a existência de um conjunto de autores
com reflexão na prática e abordagem: “From its inception in the 1930s through the 1950s, Tropical
Architecture also developed and circulated through a network of global conferences. In the UK,
Tropical Architects such as Otto Koenigsberger, Jane Drew, Maxwell Fry, Leo De Syllas, Fello
Atkinson, and George Atkinson were engaged in the production of knowledge on energy-conservative
climatic design”.
Com base nestas assunções, considera-se pertinente sistematizá-las e estudar casos na ci-
dade de Luanda.
Devido a sua localização geográfica, apresenta um clima que se pode classificar como «hú-
mido sem Inverno», correspondente ao subtipo «clima da savana» [...]. Desde a década de 50 Luan-
da assiste a um grande crescimento demográfico, que implicará um aumento significativo da constru-
ção e da consolidação urbana. Durante esta década, adquire progressivamente uma imagem de ci-
dade moderna, assente em premissas do Movimento Moderno e, particularmente, baseada nos prin-
cípios da Carta de Atenas. Após a descolonização, o crescimento demográfico acentuado mantém-se
em progressão geométrica. Os movimentos migratórios justificados pela guerra civil, que irá prolon-
gar-se por quase 30 anos, tornam Luanda numa cidade densa, sobrelotada e caótica. Por outro lado,
os anos de guerra não permitem o investimento nas infraestruturas urbanas, nos equipamentos ou
nos edifícios, o que força naturalmente a degradação da cidade e da sua arquitetura (Magalhães,
2009). Em nosso entender estes serão alguns dos problemas que poderão conduzir a situações de
insustentabilidade decorrentes da degradação do ambiente construído naquela cidade como os refe-
ridos no capítulo 2 (cf.2.3).
6 (citado por Vieira e Barros Filho, 2009)
4
1.2. Tema e Motivações
Em 1987 no Relatório de Brundtland – "O Nosso Futuro Comum" – é apresentado um dos
conceitos mais importantes ao nível ambiental, o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Este é
definido como: "desenvolvimento que dê resposta às necessidades do presente, sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras darem resposta às delas" (Pinheiro, 2006).
As atividades construtivas – infraestruturas, edifícios e outras – potenciam não só um impor-
tante efeito económico e social mas também ambiental, desde logo associado à ocupação e ao uso
do solo, ao consumo de recursos (nomeadamente água e energia), à produção em larga escala de
resíduos e efluentes (líquidos e gasosos), bem como à alteração dos ecossistemas naturais, que
podem interferir diretamente com o ambiente envolvente (Pinheiro, 2006).
Por esse facto, o tema deste trabalho reveste-se de grande importância, pela sua relação
com o de desenvolvimento sustentável em virtude da, cada vez maior, preocupação com a gestão
dos recursos naturais com destaque para os países em vias de desenvolvimento, dos quais Angola
faz parte.
Neste sentido, as motivações para o desenvolvimento deste trabalho são, entre outras, o inte-
resse que o tema suscita atualmente e, dada a sua importância para o exercício profissional da arqui-
tetura, realçar a necessidade de contemplar os princípios da arquitetura sustentável no projeto de
modo a conseguir-se uma integração, tanto quanto possível, da construção com o ambiente envol-
vente - natural ou construído -, minimizando os impactes ambientais, sociais e económicos que pos-
sam advir.
Mas, uma vez que os impactes ambientais decorrem de um processo mais vasto, desde a ex-
tração de matérias-primas, sua transformação, utilização e “destruição” do produto final, a motivação
do trabalho recai igualmente sobre a necessidade de se estudar o impacte causado pela utilização de
materiais não sustentáveis na construção que, de certo modo, condicionarão o comportamento dos
utilizadores, no que ao consumo de energia diz respeito.
5
1.3. Objetivos
Constitui objetivo principal do Dissertação, o estudo e análise da importância da arquitetura
sustentável, e dos seus princípios, na definição de estratégias para as opções construtivas em países
de clima tropical, de que Angola é exemplo, e do seu contributo na redução dos impactes ambientais
que decorrem do uso ineficiente, e não racional, de recursos naturais não renováveis.
Para o efeito definiram-se os seguintes objetivos específicos:
Apresentar as causas prováveis e fatores que contribuem para o desconforto térmico
existente na cidade de Luanda;
Analisar, de forma crítica, em que medida as construções existentes em Luanda con-
templam princípios de arquitetura sustentável;
Apresentar medidas de melhoria e orientação, que se adequem à realidade estudada,
fundamentadas na pesquisa efetuada, e nesse sentido fazer do presente Dissertação
uma referência de apoio aos arquitetos, aos profissionais do ramo da construção, e
aos principais atores sociais, dotando-os de uma ferramenta essencial para o exercí-
cio das suas funções, para que as decisões que tomem sejam consentâneas com a
preservação do ambiente natural através da mitigação dos impactes existentes, e la-
tentes, provocados pela construção em todo o seu processo;
Estudar casos de construções com uso habitacional – um apartamento e uma mora-
dia –, na cidade de Luanda, avaliando o seu desempenho ambiental utilizando como
instrumento de apoio o LiderA África v.2.00 – Sistema de Avaliação da Construção
Sustentável adaptado aos PALOP7.
7 Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
6
1.4. Abordagem e Metodologia
De acordo com os objetivos propostos, considerou-se pertinente estabelecer uma aborda-
gem descritiva, com procedimentos técnicos assentes em pesquisa bibliográfica e estudos de caso.
Para o efeito, a metodologia adotada foi a pesquisa e análise de documentos sobre o tema de estu-
do, nomeadamente artigos, teses, sítios na internet, publicações de organismos nacionais8 e interna-
cionais sobre o tema, que serviram de apoio a compreensão e exposição das ideias. Estes documen-
tos foram igualmente úteis no estudo das tipologias construtivas propostas para o estudo de caso (um
apartamento e uma moradia).
1.5. Estrutura e limitações do trabalho
No sentido de atingir os objetivos definidos, o trabalho foi estruturado como a seguir se des-
creve.
No primeiro capítulo é feita uma introdução ao tema e são descritas as motivações que con-
duziram ao seu desenvolvimento, aos objetivos e à abordagem e metodologia adotados.
No segundo capítulo, faz-se uma compreensão sobre o conceito de clima, das variáveis pa-
ra sua medição, e a sua relação com o homem e o ambiente construído. Para o efeito, considerou-se
pertinente introduzir e caracterizar as diferentes zonas climáticas mundiais, premissa essencial para o
entendimento da relação com o ser humano, no que ao conforto térmico diz respeito, e das suas op-
ções relativamente ao ambiente construído. Na mesma linha de raciocínio são definidos os fatores
que se relacionam mais diretamente com a qualidade de vida dos seres humanos em ambientes
construídos e que influenciam direta ou indiretamente nos impactes ambientais.
No terceiro capítulo é definido o conceito de arquitetura sustentável e dos seus princípios.
De seguida são apresentados alguns instrumentos de apoio ao projeto sustentável. Posteriormente é
introduzido o conceito de arquitetura tropical, sua origem, e relação com o conceito de arquitetura
sustentável, onde se apresentam alguns aspetos a considerar na conceção de projetos sustentáveis.
No quarto capítulo é apresentado o conceito de indicador de sustentabilidade e, de entre os
muitos existentes, são exemplificados dois – pegada ecológica e pegada de carbono –, comummente
utilizados na avaliação da sustentabilidade das construções e dos ambientes construídos, e onde se
indica o valor dos mesmos para o caso de Angola.. Considerado relevante e desenvolvido neste capí-
tulo é o conceito de Avaliação do Ciclo de Vida. Estes conceitos estão relacionados com o LiderA –
Sistema Voluntário para Avaliação da Construção Sustentável, que de forma global e resumida é
apresentado.
8 Angola
7
Este sistema de avaliação da construção sustentável (LiderA África v.2.00)9 é utilizado no Es-
tudo de Caso – quinto capítulo – no qual são avaliadas duas tipologias construtivas existentes na
cidade de Luanda, um apartamento e uma moradia, localizados na zona periurbana da cidade. O
objetivo deste estudo é avaliar, através de princípios de sustentabilidade, os seus desempenhos em
termos de sustentabilidade. No final faz-se a discussão dos resultados obtidos – sexto capítulo -, bem
como a conclusão do trabalho – sétimo capítulo.
O trabalho tem, no entanto, algumas limitações relativamente a informação sobre a cidade de
Luanda, uma vez que devido a escassez de informação e dados estatísticos produzidos em Angola,
tornou-se difícil confronta-los com a realidade estudada. Outra limitação foi a não possibilidade de
apresentar valores concretos de possível medição, com meios e instrumentos concebidos para o
efeito, para aferição das condições ambientais das unidades habitacionais estudadas.
9 Sistema LiderA adaptado aos PALOP
8
2. O clima, o homem e o ambiente construído
2.1. O clima mundial - caracterização das diferentes zonas climáticas
O clima é um conjunto de condições atmosféricas que prevalecem num determinado local e
hora; […] pode ser definido como a integração no tempo, de condições climatéricas caraterísticas de
uma certa localização geográfica (Szokolay, 2004).
A terra recebe quase toda a sua energia a partir do sol na forma de radiação10, e o sol é a in-
fluência dominante no clima. A terra move-se à volta do sol numa orbita elítica ligeira. No máximo
(aphelion) a distância terra-sol é de 152 milhões de quilómetros e no mínimo (perihelion) 147 milhões
de quilómetros. O eixo da terra não é perpendicular ao plano da sua órbita, mas inclinado em cerca
de 23,5º (Szokolay, 2004).
Milankovitch teorizou que a inclinação do eixo da terra nem sempre é de 23,5°. Há uma certa
oscilação com o passar do tempo. Ele calculou que a inclinação muda entre 22,1° e 24,5° dentro de
um ciclo de cerca de 41.000 anos. Quando a inclinação é menor, os verões são mais frios e os inver-
nos, menos rigorosos. Quando a inclinação é maior, as estações são mais extremas11.
Consequentemente o ângulo entre o plano equatorial terrestre e a linha terra-sol (ou a eclíti-
ca, o plano da órbita terrestre) variam ao longo do ano. Este ângulo é conhecido como declinação
(DEC) e varia conforme o esquema seguinte (Szokolay, 2004,):
+23,45◦ a 22 de Junho (Solstício do Norte)
0 a 21 de Março e a 22 de Setembro (Equinócios)
−23,45◦ a 22 de Dezembro (Solstício do Sul)
Ao nível global os climas são formados pela incidência diferencial de calor solar e da quase
uniforme emissão de calor sobre a superfície terrestre. As regiões equatoriais recebem a maior inci-
dência de energia do que as áreas mais próximas dos polos. Este diferencial é a principal força con-
dutora dos fenómenos atmosféricos (ventos, formação de nuvens e movimentos), que proporcionam
um mecanismo de transferência de calor do equador para os polos. Na ausência daquela transferên-
cia de calor a temperatura média no polo norte seria de -40 ºC, em vez de -17 ºC e no equador de
cerca de 33 ºC e não de 27 ºC como no presente (Szokolay, 2004).
10 Esta radiação pode ser classificada como radiação ultravioleta, de alta frequência e de pequeno comprimento de onda, que causa efeitos fotoquímicos, branqueamento, por queimadura de sol, etc; radiação de luz visível, e radiação infravermelha de grande comprimento de onda, produzindo calor radiante e alguns efeitos fotoquímicos. Fonte: http://people.aapt.net.au/jclark19/ 11 Fonte: https://www.planetseed.com/pt-br/node/15879#
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2.3. O conforto térmico humano, a envolvente natural e o ambiente
construído
Os efeitos do meio ambiente incidem diretamente tanto na energia como na saúde do ho-
mem. É muito comum a experiência de que em certos dias, as condições atmosféricas estimulam e
dão vigor às nossas atividades ao passo que outras deprimem os esforços físicos e mentais. Tam-
bém é muito conhecido que nas zonas climáticas onde prevalece calor ou frio excessivo, o esforço
biológico de adaptação a tais condições diminui a nossa energia (Olgyay, 1962).
O meio ambiente físico está formado por numerosos elementos que se relacionam. É possível
tentar descrever os constituintes da envolvente tais como: luz, som, clima, espaço, etc. Todos eles
incidem diretamente no corpo humano, o qual pode abosorvê-los ou tentar contrabalançar os seus
efeitos. Na luta para conseguir o equilíbrio biológico produzem-se diversas reações físicas e
psicológicas. O homem esforça-se para chegar ao ponto em que adaptar-se à sua envolvente lhe
requeira somente um mínimo de energia. As condições sob as quais consegue este objetivo define-se
como “zona de conforto”, donde a maior parte da energia humana se liberta para dedicar-se à
produtividade (Olgyay, 1962).
Os elementos principais que afetam o conforto humano são: a temperatura do ar, a radiação
solar, o movimento do ar e a humidade. Os meios através dos quais o corpo humano troca calor com
a sua envolvente podem classificar-se em quatro processos principais: radiação, condução,
convecção e evaporação. Estima-se que o corpo humano perde dois quintos (2/5) do seu calor
através da radiação, dois quintos (2/5) por convecção e um quinto (1/5) por evaporação; sem
prejuízo, estas proporções podem mudar se se produzem variações nas condições térmicas (Olgyay,
1962).
A vivenda é o principal instrumento que nos permite satisfazer as exigências de conforto
adequadas. Modifica a envolvente natural e aproxima-nos às condições ótimas de habitabilidade.
Deve filtrar, absorver ou repelir os elementos do meio ambiente segundo a sua influência benéfica ou
negativa no conforto do ser humano. O critério ideal para o desenho de um abrigo em equilíbrio,
relativamente ao seu meio ambiente seria o que cobrisse satisfatoriamente todas as necessidades
fisiológicas humanas. O problema do arquiteto consiste em criar uma envolvente que não produza
tensões negativas sobre o mecanismo de compensação de calor do corpo. O objetivo deve
reinterpretar-se em termos de conforto, a representação deve ser gráfica e, para ser facilmente
aplicável (exemplo figura 6), os dados derivados dos estudos empíricos devem ser expressos de
forma a poderem ser utilizados na prática arquitetónica (Olgyay, 1962).
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de calor antropogénico e poluentes na atmosfera urbana contribui ainda mais para a intensidade do
efeito da ilha de calor urbano (Taha, 1997)23. Os centros urbanos tendem a ter maior demanda do
que as áreas circundantes como resultado da sua elevada densidade populacional. Apesar de o efei-
to da ilha de calor urbano reduzir a necessidade de aquecimento no inverno, isto é compensado pelo
aumento demanda de ar-condicionado durante os meses de verão (Landsberg, 1981)24, que por sua
vez é causa aumento da poluição do ar, local e regional, devido a produção de energia elétrica pela
queima de combustível fóssil. A poluição criada pelas emissões a partir da produção de energia, au-
menta a absorção da radiação na camada limite (Oke, 1982)25 e contribui para a criação da inversão
de camadas. A inversão de camadas previne a ascensão do ar de arrefecimento a taxas normais e
abranda a dispersão dos poluentes produzidos nas áreas urbanas (Sahashi et al., 2004)26.
Consequentemente, a ilha de calor urbano não só cria impacte no conforto e saúde dos habi-
tantes mas também no consumo de energia para aquecimento ou arrefecimento de edifícios.
Oke (1982)27 correlacionou a intensidade da ilha de calor urbano ao tamanho da cidade. Utili-
zando a população (P) como substituta do tamanho da cidade, ur é observada como proporcional
ao log P. Oke (1982) salienta que produção de temperatura urbana quente tem relação direta com a
população urbana. Isto é devido a densidade da área construída e a produção de fontes de calor an-
tropogénicas, tais como, os transportes públicos, automóveis e atividades industriais, desenvolvem
com o crescimento da população.
Oke (1987)28 acrescenta que o caso ideal de ventos calmos e céus limpos que geram o valor
máximo da ilha de calor urbano (Tur (max)) varia com o log P para muitos assentamentos Norte
Americanos e Europeus.
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Superfícies impermeáveis à água, refere-se a predominância de superfícies impermeáveis
nas áreas urbanas. Os edifícios e as ruas pavimentadas escoam a precipitação para as bacias hidro-
gráficas, que criam um deficit de evaporação na cidade. Ao contrário, nas áreas rurais, os solos ex-
postos e vegetação natural retêm a água, que conduz ao resfriamento por evapotranspiração.
Durante o dia, a cobertura da superfície urbana propicia a troca de calor sensível e suprime o
fluxo de calor latente, ao passo que as superfícies húmidas rurais suprimem a transferência de calor
sensível e propiciam o fluxo de calor latente.
O quarto fator que contribui para a ilha de calor urbano está relacionado com as propriedades
térmicas da construção urbana. A capacidade calorífica e consequentemente a inércia térmica, dos
materiais de construção urbanos, tais como o betão e o asfalto, é maior do que dos materiais naturais
encontrados nos ambientes rurais. Uma maior capacidade calorífica significa que os materiais urba-
nos absorvem e retêm mais radiação solar do que os solos e a vegetação em espaço rural. De noite,
este calor absorvido é libertado lentamente da superfície urbana, ao contrário da rápida libertação das
superfícies em espaço rural.
A geometria complexa das superfícies urbanas influencia a temperatura do ar de duas for-
mas. Primeiro, o aumento da fricção criada por uma superfície urbana rugosa (comparada com uma
superfície rural suave) reduz o fluxo de ar na cidade. O ar quente estagna nos desfiladeiros urbanos
em vez de serem ventilados pelo ar fresco dos espaços rurais. Segundo, a geometria complexa das
superfícies urbanas alteram o balanço da radiação urbana. Durante o dia, os desfiladeiros de paredes
verticais retêm (isto é, refletem e absorvem) as radiações de onde curta. As perdas noturnas da ener-
gia infravermelha são igualmente retardadas devido ao decréscimo da visibilidade do céu por baixo
do nível do telhado. As superfícies rurais, por outro lado, são comparativamente suaves e portanto
experimentam maiores divergências de fluxos radiativos noturnos do que as complexas superfícies
urbanas. Consequentemente, as altas temperaturas criam impactes de consumo de energia através
do aumento das cargas de energia para arrefecer os edifícios; altas temperaturas ambientais aumen-
tam os picos de carga de eletricidade.
É de realçar que as teorias e os modelos acima expostos poderão ser extrapolados, com as
necessárias adaptações, para a realidade da cidade de Luanda de modo a explicar as prováveis ra-
zões do uso excessivo de sistemas mecânicos de ar-condicionado, da demanda de energia elétrica,
do desconforto térmico relacionado com as temperaturas observadas, o que poderá resultar na mani-
festação do fenómeno ilha de calor urbano, em parte, devido ao processo de urbanização resultante
do acelerado crescimento urbano, ao longo da guerra civil e desde a fim da mesma que durou cerca
de 30 décadas, os processos e tecnologias construtivos utilizados nas construções por vezes não
adequados à realidade local, e a sobrelotação de população na cidade de Luanda.
21
2.5. Outros impactes e custos do ambiente construído
2.5.1. Impactes do ambiente construído
Os edifícios e espaços envolventes (empreendimentos) respondem às necessidades huma-
nas, originando na sua construção, operação e desativação, impactes mais ou menos diretos: nos
recursos, nas emissões, nas cargas e nos ambientes construídos e de forma indireta nos ambientes
naturais. Um aspeto relevante a considerar assenta no facto de que para os edifícios satisfazerem as
funções para que foram criados (por exemplo, residências, escritórios, entre outros) necessitam de
infraestruturas e por isso, de forma indireta, também os impactes a elas associados podem decorrer
da presença e operação dos edifícios. Os impactes dos edifícios, tal como os das restantes estrutu-
ras, refletem-se de formas diferentes nas diferentes fases do seu ciclo de vida, [...] (Pinheiro, 2006).
A fase de planeamento e conceção37 consiste no levantamento das condições que permi-
tem executar o projeto, até à sua elaboração; [...] é nesta fase que se tomam as principais decisões a
que muitos dos impactes ambientais, que ocorrem posteriormente, estão associados e são, essenci-
almente, provocados nas outras fases. Os efeitos ambientais diretos estão associados aos trabalhos
de conceção e levantamentos efetuados, para obtenção de dados. Em termos de dimensão, os im-
pactes efetivos desta fase são muito reduzidos e quase sem significado quando comparados com as
restantes fases, sendo essencialmente associados aos consumos (muito reduzidos) (Pinheiro, 2006).
Na fase de construção incluem-se todas as ações que vão desde o concurso e o início da
construção propriamente dita, até à receção da obra por parte do proprietário, numa escala temporal
que pode ir de dias a alguns anos, [...]. Na fase de construção a atenção recai, sobretudo, sobre a
forma de desenvolvimento do processo construtivo, sendo esta associada, essencialmente, à inter-
venção no local, com alteração do uso do solo, consumo de matérias-primas, energia e água e alte-
rações nos ambientes natural e/ou construído. Os impactes da extração, ou transformação, são tam-
bém importantes, ainda que, na maior parte dos casos, sejam da responsabilidade da indústria produ-
tora, pois não são específicos do sector da construção. No caso das estruturas edificadas estima-se
que o impacte devido aos materiais represente cerca de 10-20% do impacte de um edifício, em todo o
seu ciclo de vida38 (Edwards e Bennet, 2003)39.
A fase de operação estende-se desde a receção da obra por parte do proprietário, até ao fim
da utilização do empreendimento. Nesta podem incluir-se, também, as operações de manutenção e
renovações pontuais. Os impactes relevantes associados ao empreendimento edificado, decorrentes
da sua operação, resultam: no consumo de energia, de água e de materiais e na produção de resí-
duos, de efluentes e de emissões atmosféricas, com consequentes impactes diretos. Existe igualmen-
37 Esta fase é, provavelmente, a mais importante do processo, pois é nesta altura que se tomam as principais decisões referentes ao local, à conceção, aos fornecedores, aos materiais a utilizar, às necessidades energéticas e de água e outras, cujas consequências se irão refletir nas restantes fases do ciclo de vida da construção. 38 Para os parâmetros usuais de avaliação do ciclo de vida (Pinheiro, 2006). 39 Citados por (Pinheiro, 2006).
22
te um conjunto de emissões interiores e exteriores de outras substâncias. Por exemplo, cerca de me-
tade dos CFC produzidos no mundo inteiro são usados na refrigeração de sistemas de ar condiciona-
do e na refrigeração de edifícios, em sistemas de extinção de incêndios e em sistemas de isolamento
(Pearce, 2001)40; [...] um dos efeitos indiretos, também associados aos edifícios, prende-se com o
aumento das necessidades de transporte e a alteração do tráfego local, a pressão sobre os serviços
urbanos e a geração de emprego e riqueza. A operação dos empreendimentos edificados, embora os
seus efeitos sejam mais discretos, lentos e progressivos ao longo de usualmente várias dezenas de
anos, acaba por consumir recursos, gerar emissões, alterar os sistemas ambientais naturais e cons-
truídos, de forma mais significativa do que a fase de construção [...] (Pinheiro, 2006).
Ao nível dos sistemas socioeconómicos, podem referir-se: incómodos nas populações e co-
munidades, eventuais riscos de saúde pública, na obra e para os utilizadores, necessidades suple-
mentares de acessibilidades, de transportes e de alteração do tráfego local, pressão sobre as infraes-
truturas e serviços urbanos, alteração das condições de segurança, mas também: geração de empre-
go, conforto, funcionalidade, riqueza e desenvolvimento (Pinheiro, 2006).
2.5.2. Custo do ciclo de vida e dos impactes ambientais da construção
Atualmente, muitos dos custos ambientais da edificação (emissões de gases de estufa, o
consumo de recursos finitos tais como madeiras duras e metais, e a criação de lixo de construção)
não se refletem quer no custo inicial de construção quer nos custos correntes de manutenção da
construção. As taxas sobre a água, o lixo e a energia estão a modificar gradualmente estes aspetos,
e tornam a construção verde economicamente cada vez mais atrativa. Será necessária uma análise
do custo do ciclo de vida, para que o cliente possa fazer a avaliação do retorno financeiro de um in-
vestimento inicial, em medidas de poupança de energia ou preservação de recursos, ao longo da vida
útil de um edifício (Ordem dos Arquitetos, 2001).
O objetivo é a otimização do valor de um projeto de construção ao longo da sua vida útil, ten-
do em conta todos os custos do projeto, tanto diretos como indiretos. Isto envolve a definição de um
prazo de vida apropriado para o edifício No entanto, com cuidados de manutenção, qualquer edifício
poderá durar quase indefinidamente, sendo mais fácil atribuir um prazo de substituição para os siste-
mas e componentes individuais. Quando se totaliza os custos anuais de operação e manutenção,
este prazo de substituição pode ajudar a determinar o custo de ciclo de vida. Para uma avaliação
ambiental completa, será necessário atribuir custos a outros fatores ambientais que não se contabili-
zam: poluição, esgotamento de recursos (Ordem dos Arquitetos, 2001).
No caso de um projeto de baixa energia ou de natureza sustentável, a consideração dos cus-
tos do ciclo de vida desde o início será essencial. O equilíbrio entre o custo de construção e o custo
durante a utilização é fundamental para a arquitetura do edifício. Por exemplo, o desenho de uma
40 Idem.
23
janela terá implicações no que se refere a aquecimento, arrefecimento, ventilação e iluminação artifi-
cial, emissão de poluentes, dimensão das instalações especiais e custos de manutenção (Ordem dos
Arquitetos, 2001).
24
3. Arquitetura sustentável e arquitetura tropical
3.1. Enquadramento histórico, origem e conceito de arquitetura sus-tentável
Para perceber os conceitos de arquitetura sustentável e arquitetura tropical, considera-se per-
tinente contextualiza-los na história das preocupações ambientais.
O movimento ambiental moderno, teve uma dinâmica alargada a diferentes países, sendo
frequentemente entendido como tendo iniciado nos Estados Unidos em 1962 com o Silent Spring de
Rachel Carson, a publicação que causou uma mudança de paradigma no entendimento do impacte
ambiental do uso do pesticida41 (Baweja, 2008).
Dos Estados Unidos da América, Ian McHarg, o emigrante escocês, publicou o seu trabalho
seminal Design with Nature em 1969, sete anos depois de Carson. A tese ecológica de McHarg
expande a disciplina do paisagismo, arquitetura e planeamento: ele é um dos pais fundadores do
desenvolvimento sustentável. McHarg argumentou que o desenvolvimento humano deveria ser
planeado de modo a ter-se em consideração a natureza e os processos naturais (Moughtin, et al.,
2005).
Small is Beautifull de Schumacher (1974)42 é outro marco na análise das causas dos
problemas ambientais e no desenvolvimento de princípios “green”. Uma causa dos problemas
ambientais de acordo com Schumacher é a noção de que podemos continuar a produzir e consumir a
taxas crescentes num planeta finito. Schumacher advertiu que o planeta, nosso stock de capital, está
a ser ameaçado pela produção excessiva: pelo efeito, a raça humana está a consumir o seu capital
numa taxa alarmante, pondo em perigo os limites de tolerância da natureza, e como tal ameaçando
os sistemas de suporte da vida que nutrem a espécie humana (Moughtin, et al., 2005)
Contudo, as raízes do ambientalismo podem ser mais profundas. Farmer (1996) citado por
(Moughtin, et al., 2005) traçou o desenvolvimento da “Green Sensibility” na arquitetura dos edifícios
populares e no culto da casa no século XIX nos escritos de Ruskin, no trabalho do movimento das
Arts & Crafts até ao século XX e as ideias orgânicas na Arquitetura Moderna. O planeamento pode
citar também a sua lista de planeadores com credenciais “green”..
As preocupações com os impactes ambientais humanos cresceram exponecialmente nos
anos 80, durante os quais o discurso foi dominado pelos acidentes industriais43, […]. Estes acidentes
realçaram a magnitude dos processos humanos e seus impactes ambientais. (Baweja, 2008).
41 Shirley A. Briggs, "Remembering Rachel," EPA Journal 18, no. 2 (May-June 1992), M. Jimmie Killingsworth and Jacqueline S. Palmer, Ecospeak: Rhetoric and Environmental Politics in America (Southern Illinois UP: Car-bondale, 1992), Linda J. Lear, "Rachel Carson's Silent Spring," Environmental History Review Vol. 17, no. 2 (1993), Craig Waddell, ed., And No Birds Sing: Rhetorical Analyses of Rachel Carson’s Silent Spring. 42 Citado por (Mougtin, et al., 2005). 43 Including the 1984 Bhopal gas disaster, the 1986 Chernobyl nuclear disaster, and the 1989 Exxon Valdez oil spill.
25
Já nos finais dos anos 80, o termo sustentabilidade foi usado extensivamente no campo da
economia em referência ao desenvolvimento para criticar os novos modelos de crescimento econó-
mico para as nações e regiões que favoreciam os rápidos retornos e crescimento acelerado, enquan-
to ignoravam que a longo prazo eles esgotariam os recursos não renováveis – os recursos dos quais
dependem. A questão de longo prazo, dos impactes negativos não previstos de uma política
económica no seu desempenho foi posteriormente dessiminado devido ao efeito de novos produtos –
química, agricultura e mecânica – na qualidade do ambiente a longo prazo. Foi por causa deste
último problema que o critério de sustentabilidade apareceu na arquitectrura e desenho urbano,
fornecendo um quadro conceptual para lidar com o impacte negativo a longo prazo da aplicação de
materiais e materiais de construção no consumo de recursos naturais e da qualidade física ambiental
(Bay, et al., 2006).
Em 1987, as Nações Unidas estabeleceu a Comissão Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento (WCED), que se tornou conhecida como Comissão Brundtland, […]. O relatório da
comissão, conhecido como Relatório Brundtland introduziu o conceito de “sustentabilidade” no discur-
so ambiental, transformando o discurso arquitetónico e estabelecendo a “Arquitetura Verde” (Baweja,
2008).
No Relatório de Brundtland – "O Nosso Futuro Comum" – é apresentado um dos conceitos
mais importantes ao nível ambiental, o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Este é definido
como: "desenvolvimento que dê resposta às necessidades do presente, sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras darem resposta às delas" (Pinheiro, 2006,).
O relatório identificou o consumo excessivo de recursos naturais pelos ricos e a existência de
pobreza extrema como constitutiva de problemas ambientais. O relatório Brundtland salientou que a
sustentabilidade não pode ser alcaçada sem equidade social porque o desenvolvimento sustentável
requer, não somente uma distribuição equitativa dos recursos no tempo para as futuras gerações
mas, também, através do espaço sincronicamente, deste modo colmatando o fosso entre os ricos e
as nações pobres. O relatório prescreveu o corte no consumo de energia nas nações ricas, que teve
um impacto directo e significativo na definição de Arquitetura Sustentável (Baweja, 2008).
Depois do relatório Brundtland, o marco significativo na história da “Arqutectura Verde” foi a
formulação da Agenda 21, em 1992, “Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e
Desenvolvimento” no Rio de Janeiro (Baweja, 2008).
A Agenda 21, um plano normativo para o desenvolvimento sustentável, contém instruções
específicas para a prática da arquitetura sustentável. Os pontos-chaves previstos na Agenda 21 para
a indústria da construção sustentável são o uso de tecnologia e materiais locais; tecnologias
construtivas de trabalho intensivo; design energeticamente eficiente; reciclagem de materiais,
prevenção de resíduos,; desenvolvimento de conhecimento sobre o impacte ambiental dos edifícios;
ajuda na autoconstrução de casas para os pobres (Baweja, 2008).
Esta tem sido interpretada em diversas Agendas locais e regionais. Uma dessas
interpretações com especial relevância para o sector da construção é a Agenda Habitat II, que
resultou da Conferência das Nações Unidas, em 1996, realizada em Istambul. A Agenda Habitat II
26
demonstra uma preocupação com abrigo para todos e a sustentabilidade dos aglomerados humanos
e contém diversas secções dedicadas ao sector da construção civil e à forma como os governos
nacionais devem encorajar a indústria no sentido da sustentabilidade. A especificidade dos países
levou á disponibilização de Agendas 21 para a sustentabilidade na construção (Plessis, 2002)44, que
salienta a importância do ajustamento à realidade especifica e ás soluções ajustadas (Pinheiro,
2006).
O consumo de recursos e o status económico têm uma forte correlação. Assim como o nível
de renda aumenta, também cresce o do consumo de recursos. A correlação entre os redimentos per
capita e o consumo de energia demonstra esta tendência. A arquitetura é uma das formas
conspícuas de actividade económica. Prevê-se que a intensidade do padrão dos recursos
arquitetónicos (o rácio consumo de recursos arquitónicos per capita e renda per capita) seguirá os
mesmos padrões […]. Ao longo da existência de um edifício, este afeta o ambiente local e global
através de uma série de atividades humanas interconectadas e processos naturais. No estágio inicial,
o desenvolvimento e a construção influenciam as caraterísticas ecológicas indígenas. Apesar de
temporário, o afluxo de equipamentos da construção e pessoal para um local de obras e o processo
de construção em si perturbam a ecologia local (Kim, et al., 1998).
A aquisição e a manufatura de materiais impactam no ambiente global. Uma vez construído,
as operações de construção infligem impactes de longa duração no ambiente. Por exemplo, a energia
e água usados pelos seus habitantes produzem gases tóxicos e dejetos; o processo de extração,
refinação e transporte de todos os recursos usados na manutenção e operação de um edifício têm
também numerosos efeitos no ambiente (Kim, et al., 1998)
Os edifícios e o desenvolvimento têm um enorme impacte na nossa qualidade de vida e na
qualidade do nosso ambiente, simultaneamente na construção e operação. Os edifícios consomem
40% da energia mundial, 25% da colheita de madeira e 16% do consumo de água, todos os recursos
que não nos podemos permitir gastar (Saker, et al., 2010).
Integrado na reflexão sobre desenvolvimento sustentável, surge nos países mais desenvolvi-
dos, um movimento internacional em 1993, (Kibert, 2003) que procura definir e implementar o concei-
to de construção sustentável. A definição mais aceite foi a apresentada por Charles Kibert em 1994
que define Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído
saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utiliza-
ção eficiente dos recursos" (Pinheiro, 2006).
Não muito distante daquele conceito: “A Arquitetura Sustentável é um termo geral que
descreve a consciência ambiental sobre as técnicas de design no campo da arquitetura. É
enquadrada pela larga discussão da sustentabilidade e a pressão das questões económica e política
do nosso mundo. Num contexto abrangente, a arquitetura sustentável procura minimizar o impacte
ambiental negativo dos edifícios melhorando a eficiência e o uso moderado de materiais, energia e o
desenvolvimento de espaços” (Saker, et al., 2010).
44 Citado por (Pinheiro, 2006).
27
“Os edifícios designados para a sustentabilidade são construídos e operados para minimizar
todos os impactes negativos nos ocupantes (em termos de saúde, conforto e produtividade), e no
ambiente (uso de energia, recursos naturais e poluição)”. (Plaitonis, 2006)45
O design e construção sustentável, ou “Green Building”, é uma oportunidade para usar os
nossos recursos mais eficientemente, enquanto criamos casas energeticamente mais eficientes e
saudáveis (Saker, et al., 2010).
Os profissionais de arquitetura têm que aceitar o facto de que assim como o status
económico de uma sociedade melhora, a sua procura por recursos arquitetónicos – solo, edifícios ou
materiais de construção, energia, e outros recursos – aumentará. Isto por sua vez aumentará o
impacte combinado da arquitetura nos ecossistemas globais, que é composto por elementos
inorgânicos, organimos vivos, e humanos. A meta do design sustentável é encontrar soluções
arquitetónicas que garantam o bem-estar e coexistência destes três grupos constituintes (Kim, et al.,
1998).
3.2. Princípios da arquitetura sustentável e instrumentos de apoio ao
projeto sustentável
3.2.1. Princípios de arquitetura sustentável
A arquitetura sustentável assenta nos princípios de Vitrívio, o sistema firmitas, vetustas, utili-
tas (solidez, beleza, e utilidade), devendo considerar o projeto bioclimático, bem como as soluções
que respondem a outros aspetos da energia, água, saneamento, entre outras (Guedes, et al., 2011).
A sustentabilidade da construção significa que os princípios do desenvolvimento sustentável
são aplicados de forma compreensível ao ciclo da construção (Guedes, et al., 2011).
Para educar os arquitetos a atingir as metas de coexistência dos grupos constituintes dos
ecossistemas (cf. 3.1) (elementos inorgânicos, organismos vivos, e humanos) Kim, et al. (1998)
desenvolveram um quadro conceptual.
Os três níveis do quadro (Princípios, Estratégias, e Métodos) correspondem aos três objetivos
da educação arquitetónica ambiental: criando o alerta ambiental, explicando o ecossistema do
edifício, e ensinando a desenhar edifício sustentáveis (Kim, et al., 1998).
Kim, et al. (1998) propõem três princípios de sustentabilide em arquitetura: Economia de
Recursos, tem em consideração a redução, a reutilização, e a reclicagem de recursos naturais que
são utilizados no edifício; Design do Ciclo de Vida, fornece uma metodologia de análise dos
processos de construção e do seu impacte no ambiente. Design Humano, foca-se na interação entre
os humanos e mundo natural. Estes princípios podem fornecer uma consciencialização dos impactes
ambientais, ambos local e global, do consumo na arquitetura.
45 Citado por (Guedes, et al., 2011).
28
Economizando recursos, o arquiteto reduz o uso de recursos não renováveis na construção e
na operação dos edifícios. Há um fluxo contínuo de recursos, natural e manufaturado, dentro e fora
de um edifício. Este fluxo começa com a produção de materiais de construção e continua através da
vida do edifício para criar um ambiente para sustentar o bem-estar humano e as atividades. Após a
vida útil de um edifício, este deveria transformar-se noutros componentes para outros edifícios. À
montante, os recursos fluem para o edifício como entradas no ecossistema do edifício. À jusante, os
recursos saem do edifício como saídas do ecossistema do edifício. No longo prazo, qualquer recurso
do ecossistema do edifício sairá eventualmente deste. Esta é a lei da conservação do fluxo de
recurso (Kim, et al., 1998).
O segundo princípio da arquitetura sustentável é o Design do Ciclo de Vida (DCV). Esta
abordagem “do berço à sepultura” reconhece as consequências ambientais do ciclo de vida completo
dos recursos arquitetónicos, desde a aquisição ao retorno à natureza. O DCV baseia-se na noção de
que um material migra de uma forma de vida útil para outra, sem fim de utilidade (Kim, et al., 1998).
O Design Humano é o terceiro, e talvez o mais importante princípio de design sustentável.
Enquanto que a economia de recursos e o design do ciclo de vida têm a ver com a eficiência e
coservação, o design humano preocupa-se com a habitabildade de todos os componentes do
ecossistema, incluindo as plantas e os animais selvagens. Este princípio emerge das metas
humanitária e altruista de respeito à vida e dignidade dos organismos vivos. Uma análise mais
profunda revela que este princípio está profundamente enraizado na necessidade de preservar a
cadeia de elementos do ecossistema que permite a sobrevivência humana (Kim, et al., 1998).
Na sociedade moderna, mais que 70% do tempo de vida de uma pessoa é passada dentro
dos edifícios. O papel principal da arquitetura é fornecer ambientes construídos que sustentem a
segurança dos ocupantes, a saúde, o conforto fisiológico, o bem-estar psicológico, e a produtividade.
Porque a qualidade ambiental é intangível, a sua importância tem sido negligenciada na procura da
(Wilkinson, 2002)conservação da energia do ambiente que muitas vezes parece singnificar “tremer no
escuro”. Para agravar o problema, muitos desenhadores de edifícios preocupam-se com o estilo e a
forma dos edifícios, não considerando seriamente a qualidade ambiental do seu interior e da sua
envolvente construída (Kim, et al., 1998).
No contexto climático angolano é possível atingir um equilíbrio entre o edifício e o clima
através da aplicação de uma série de estratégias de projecto – referidas como bioclimáticas ou de
design passivo. As estratégias de design passivo têm como objetivo proporcionar ambientes
confortáveis no interior dos edifícios e simultaneamente reduzir o seu consumo energético. Estas
técnicas permitem que os edifícios se adaptem ao meio ambiente envolvente, através do projeto de
arquitetura e da utilização inteligente dos materiais e elementos construtivos, evitando o recurso a
sistemas mecânicos consumidores de energia fóssil (Guedes, et al., 2011).
O uso de energia fóssil, não renovável, é, como se sabe, o principal responsável pelo grave
problema do aquecimento global, resultante da emissão de gases de efeito de estufa para a
atmosfera. Nos edifícios, o uso de electricidade proveniente de energia fóssil, contribui em larga
medida para a intensificação deste problema (Guedes, et al., 2011).
29
As medidas passivas são as que mais contribuem para reduzir os gastos energéticos do
edifício ao longo da sua existência. Dois exemplos de estratégias passivas são a optimização do uso
da iluminação natural para reduzir o recurso a sistemas de iluminação artificial, ou a promoção de
ventilação natural, para evitar o uso de aparelhos de ar condicionado para arrefecimento (Guedes, et
al., 2011).
Podemos inferir que o fundamental na arquitetura sustentável é que esta aplicação dos
princípios seja ajustada ao local, ao clima, materiais e condições existentes e condições
socioculturais e económicas (cf.3.4).
3.2.2. Instrumentos de apoio ao projeto sustentável
Dada a complexidade e número de fatores, importa considerar os instrumentos de apoio ao
projeto sustentável.
Os instrumentos permitem incorporar os aspetos ambientais e apoiar uma integração da
dimensão ambiental e sustentabilidade no projeto. Entre os instrumentos existentes são de referir: Os
diagramas solares, os diagramas psicométricos e os programas informáticos (softwares).
Existem hoje diversos programas de software para análise do desempenho energético e de
conforto em edifícios (Método LT, Energy Plus, Visual Doe, Ecotect, entre outros), que são
importantes ferramentas de apoio ao projecto de arquitetura. Estes programas permitem dimensionar
e quantificar níveis de conforto interior e consumos de energia do edifício, informando também sobre
quais as melhores estratégias de projecto a implementar em relação, por exemplo, à orientação do
edifício, sombreamento, dimensão de áreas de envidraçado, materiais de construção, ou regimes de
ventilação. Para além do apoio ao projecto arquitectónico, que deve integrar as estratégias
bioclimáticas desde a sua conceção inicial (em termos de nova construção e também de reabilitação),
estas ferramentas poderão ser úteis na decisão sobre normas e recomendações a determinar ao
nível da construção […]. (Guedes, et al., 2011)
3.2.2.1. Diagramas solares
Há muitas formas diferentes de apresentar graficamente a posição relativa do sol a diferentes
horas do dia e no ano. Estas variam entre (Wilkinson, 2002):
Sundials (relógios solares), estes são projeções gonomónicas (Figura 10a);
Projeções retanguares do céu (Figura 11b);
Diagramas radiais ou circulares do percurso solar (Figura 12).
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3.3. A Arquitetura tropical
3.3.1. Origem do conceito
A arquitetura tropical tem sido tradicionalmente considerada como uma arquitetura adotada
ao clima tropical (Tzonis, et al., 2001).
Tal também ocorreu em Angola e refere-se às “tentativas científicas de adaptação” como as
experiências de foro arquitetónico e urbano que ocorreram no decorrer do século XX, com destaque
para Angola, como forma de adaptação da cidade e da arquitetura ao clima tropical, quente e húmido
(Fonte, 2006).
A análise desta temática, obriga-nos a recuar no tempo, a uma portaria46 decretada por S. M.
a Rainha D. Maria II, em 1843, onde se estabelecem os princípios para a conceção de cidades e sua
arquitetura em território angolano; assim, a portaria em causa era muito esclarecedora quanto a al-
gumas regras urbanas e arquitetónicas, tecendo considerações sobre a construção dos edifícios
(Fonte, 2006):
“5º que é proibido levantar qualquer edifício cujo sobrado ou pavimento térreo não es-
teja acima do terreno pelo menos quatro palmos, sendo os muros abertos por um
modo que por baixo possa o ar circular livremente;
7º que todos os novos edifícios habitáveis sejam espaçosos, bem ventilados e de
nunca menos de 16 palmos de pé direito em cada pavimento;”
A questão do clima viria ser marcante na conceção das cidades tropicais, sendo a arquitetura
o seu veículo. Os princípios da arquitetura moderna levaram a que esta se fundisse com os apelos do
clima tropical e da sua sobrevivência (Fonte, 2006).
Foi com o movimento moderno que se atingiu o expoente máximo da adaptação da arquitetu-
ra aos trópicos. Os princípios básicos transportavam em si fatores de integração, valorizando a venti-
lação cruzada e a proteção solar, aspetos determinantes (Fonte, 2006).
Em Angola, Pinto da Cunha, Silva Dias, Antonieta Jacinto e Vieira da Costa em Luanda, ou
Castro Rodrigues no Lobito, foram verdadeiros percursores de um modelo de arquitetura e urbanismo
tropical moderno adaptado ao sítio e ao clima. Embora o modernismo por si só, dentro do seu léxico,
aponte uma série de medidas que melhor se adaptam aos climas tropicais, estes arquitetos ensaia-
ram-no aplicando-o aos condicionalismos da realidade angolanos47 (Fonte, 2006).
No entanto, (Tzonis, et al., 2001) refere que a divulgação da arquitetura tropical remonta o
passado século XIX, quando o britânico transformou o banggolo do camponês Bengali no bangalow e
46 Portaria de 298 de Março de 1843, in Batalha, Fernando, A Urbanização de Angola, Edição Museu Angola, Luanda, 1950, pp.19. 47 Apontamos alguns exemplos, entre muitos outros, que refletem a simplicidade com que essa aplicação foi feita, como a escola para o bairro indígena em Luanda, (1959), o bairro de pescadores no Cacuaco (1958) ou o liceu de Saurimo (1958/9), o liceu do Lobito (1956) ou o aeroporto do Lobito (1956), o Ministério das Obras Públi-cas ou mesmo o mercado do Kinaxixi (1952), em Luanda.
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a relação entre o clima tropical e o “organismo europeu”. O Indian Manual of Hygiene dedicou um
capítulo inteiro ao tópico “Clima e Meteorologia”49 para discutir o impacto das variáveis climáticas tais
como temperatura, pressão atmosférica, e humidade, no corpo (Baweja, 2008).
A partir dos anos 30, assim que os arquitetos modernos britânicos viram oportunidades de
trabalhar nos trópicos, a causa da arquitetura tropical mudou da sua origem higienista para a sua
disciplina natural, isto é, a arquitetura. No início dos anos 50, depois da Segunda Guerra Mundial, a
arquitetura tropical completou a sua migração da disciplina da higiene para a arquitetura com o esta-
belecimento do Departamento de Arquitetura Tropical na Architectural Association (AA) em 1954. A
realocação catalisou várias mudanças sequenciais que afetou o modo como a arquitetura evoluiu nos
anos 50. Entre as mudanças esteve a autoria dos textos da arquitetura tropical do pessoal médico e
engenheiros sanitários para os arquitetos modernistas. Não foi coincidência que quando Otto Ko-
enigsberger começou a lecionar primeiro em Londres, o seu primeiro emprego não foi na AA, mas na
London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM). Apesar de a disciplina da arquitetura tropi-
cal ter mudado da higiene para a arquitetura, a higiene permaneceu uma componente significante da
arquitetura tropical nos anos 50 e os higienistas da LSHTM lecionaram na AA (Baweja, 2008).
Os clientes para os quais a arquitetura tropical foi direcionada já não eram mais os coloniza-
dores europeus, mas os habitantes dos trópicos descolonizados, ou os “nativos”. O objetivo da arqui-
tetura tropical mudou da sobrevivência do corpo do colonizador europeu para o conforto fisiológico do
corpo colonizado em “casa” (Baweja, 2008).
G. A. Atkinson (citado por Baweja, 2008), um professor de arquitetura tropical na AA escre-
veu: “temos que nos lembrar que os nossos clientes são mais as pessoas não europeias dos trópicos;
que temos que lá trabalhar como semelhantes, só privilegiados por causa do nosso conhecimento
especial”.
Como consequência, o “organismo europeu” já não era mais a causa sob a qual o discurso da
arquitetura tropical foi construído. Nos anos 50, o colonizado ou “nativo” foi a causa sob a qual o dis-
curso da arquitetura tropical foi formado. Entre os anos 50 e 60, assim como a arquitetura tropical se
desenvolveu num discurso arquitetónico, a causa sob a qual foi construída mudou do corpo para a
arquitetura (Baweja, 2008).
48 Por exemplo, esta definição de habitação saudável no Indian Manual of Hygiene de A. E. Grant l resume me-lhor como o discurso da higiene definiu a arquitetura (…): Quais são então as condições necessárias para uma habitação saudável? Eles são principalmente estes, como definido por Parkes: - 1.Um lugar seco e sem malária, com luz e alegre. 2. Fornecimento de água pura e remoção conveniente de esgotos; com meios que garantam uma limpeza perfeita de todas as partes da casa. 3. Um sistema de remoção imediata e perfeita de esgotos que impossibilite que o ar ou a água sejam contaminados com excrementos. 4. Um sistema de ventilação que elimi-ne as impurezas. 49 Cada lugar foi definido pelas suas coordenadas cartográficas e seus atributos climáticos, um exercício que continuou até aos anos 50 e 60. Isto foi depois usado para determinar um conjunto de práticas espaciais e mate-riais para a arquitetura adequados para aquele clima. Este método de design, gerado pelos engenheiros sanitá-rios nos finais do século XIX e início do XX, foi adotado na metade do século XX pelos arquitetos que inventaram o discurso da Arquitetura Tropical (Baweja, 2008).
35
O foco dos arquitetos nos anos 50 foi menor na prevenção das doenças e maior no conforto,
que foi definido de forma abrangente em termos de energia térmica, higrométrica, ergonómica, acús-
tica, e bem-estar psicológico. Nos anos 50, o conteúdo dos textos da arquitetura tropical consistiam
inteiramente de produção arquitetónica nos trópicos. Os arquitetos debateram que espécie de tecno-
logias de construção e materiais eram viáveis nos trópicos no contexto de recursos limitados (Baweja,
2008).
Em Outubro de 1953 e janeiro de 1954, a revista Architectural Design publicou duas edições
e especiais sobre Arquitetura Tropical, editadas por Otto Koenigsberger, […]. As edições publicaram
o trabalho de James Cubitt, Fry, Drew and Partners, Nickson and Partners da África Ocidental ao lado
de trabalhos na Índia Ocidental e outros lugares em África e mereceu o reconhecimento do tema pe-
los leitores tradicionais do jornal profissional (Roux, 2003).
O manual50 de 1956 de Fry e Drew foi um documento significante na definição do conceito de
arquitetura tropical: “Nós escrevemos não só para aqueles que, como nós, vivem fora dos trópicos e
para quem, portanto, desenhar é algo como que um processo intelectual; mas também para um nú-
mero crescente daqueles que habitam estas regiões e que, pela sua maior familiaridade com as con-
dições, se possam sentir estimulados a reexamina-los. Sobre estes arquitetos e planeadores cai a
maior responsabilidade de criar um ambiente no qual as pessoas locais possam florescer”. A preocu-
pação de Fry e Drew para estimular ou formalizar uma arquitetura futura e imaginária dos trópicos em
nome de outros não era única. Os programas educacionais desenvolvidos na década de 50 para faci-
litar a disseminação do conhecimento a partir dos centros metropolitanos até aos locais de aplicação
nos trópicos refletem um desejo semelhante (Roux, 2003).
Uma década mais tarde será publicado o opúsculo Caraterísticas de Arquitectura em Regi-
ões Tropicais Húmidas (1963) do Arq. José Pacheco, numa edição do Ministério do Exército, na Divi-
são de Obras Ultramarinas e Ilhas Adjacentes, que de forma pragmática estabelece alguns princípios
para a arquitetura tropical, muito baseados na obra atrás referida e noutras de similar relevância
(Fonte, 2006).
Maxwell Fry e Jane Drew, utilizaram o termo ‘Arquitetura Tropical’ nos títulos dos seus manu-
ais, que reuniram estudos de caso e dados de diversos países. Um livro similar mas modesto sobre
casas tropicais foi publicado por David Oakley, que trabalhou na Jamaica. Livros publicados para
alunos incluíram uma Gramática de projeto arquitetónico com especial referência para tópicos e um
guia para construção nos trópicos (Roux, 2003).
A arquitetura tropical também se tornou um fórum de desenvolvimento de conhecimentos so-
bre prática de conservação de energia; tecnologias ambientais de baixo impacte; habitação para os
pobres; interpretação científica de conhecimento vernacular, sendo todos princípios fundamentais da
arquitetura sustentável como especificado na Agenda 21. O discurso da arquitetura tropical evoluiu
para a crítica do design arquitetónico consumidor de energia e do seu desperdício no consumo de
recursos (Baweja, 2008).
50 Tropical Architecture in the Humid Zone (1956), […], uma referência fundamental a nível conceptual (Fonte, 2006).
36
Trabalhos de África também apareceram numa série de artigos, divididos por locais tropicais
e temperados, publicados nas duas edições especiais da revista Architectural Review editada por
Nikolaus Pevsner e posteriormente editado como um livro de Commonwealth Architecture. O guia
técnico mais completo sobre Arquitetura Tropical foi, provavelmente, o manual compilado de notas de
aula e opiniões de ex-alunos de Koenigsberger, que lecionou sobre o clima no Curso de Arquitetura
Tropical (Roux, 2003).
Os governos coloniais deram algum apoio institucional aos arquitetos através do trabalho de
Estações de Pesquisa da Construção. No entanto, outra fonte de apoio foi a de empresas envolvidas
na fabricação de bens utilizados na construção de edifícios. Apesar deste apoio o material que real-
mente chegou aos praticantes foi considerado como inadequado às necessidades dos arquitetos em
países estrangeiros. A prática da arquitetura tropical foi sempre desafiadora. Os arquitetos que estu-
daram e trabalharam na Grã-Bretanha eram confrontados com condições físicas e intelectuais muito
diferentes em locais como a África Ocidental. As viagens internas levavam dias, a comunidade de
expatriados era pequena, e os conselhos muitas vezes difíceis de obter. Outros profissionais, em
particular engenheiros, desempenham papel importante na disseminação de conhecimentos técnicos
entre os praticantes (Roux, 2003).
Apesar das descontinuidades entre os discursos da arquitetura no início do século XX e na
metade do mesmo século, a continuidade entre estes discursos que se manteve foi a relação recípro-
ca entre arquitetura e clima. Nos finais de 1950, o objetivo da arquitetura tropical tornou-se o de al-
cançar o máximo de eficiência de recursos e energia. Desde a sua criação nos anos 30 até aos anos
50, a arquitetura tropical desenvolveu-se e circulou através das redes de conferências51 mundiais; […]
não só nas capitais imperiais como Paris, Lisboa, Washington D.C., e Londres, mas também nas
antigas colónias e nas já existentes, tais como, India, Uganda, Nairobi. A arquitetura tropical desen-
volveu-se ao longo das redes inter-impérios, intra-coloniais e transnacionais. Estas incluíram a troca
de conhecimentos de uma colónia para outra – […], ideias desenvolvidas na Índia foram divulgadas
em África (Baweja, 2008).
3.4. Arquitetura tropical e sustentável – relação e aspetos a considerar
na conceção de projetos sustentáveis.
A mudança da abordagem climática da arquitetura tropical para a abordagem ambiental da
arquitetura sustentável (integrando a dimensão ambiental) baseou-se no desenvolvimento da ciência
ambiental, o que gerou novos significados para o clima e a arquitetura. A arquitetura sustentável e a
51 A primeira conferência sobre arquitetura tropical foi organizada em Paris sob a presidência de Henri Prost and Marshall Lyautey. A subsequente foi organizada pela Federação Internacional de Habitação e Planeamento e teve lugar no México em 1938. Estas conferências entre guerras serviram como fórum de trocas de ideias entre arquitetos e planeadores coloniais.
37
tropical prescrevem os mesmos significados, incluindo a conservação da energia, a maximização de
recursos, e a minimização dos desperdícios, para a alcançar fins aparentemente diferentes (Baweja,
2008).
Pode parecer à primeira vista que, a arquitetura sustentável e a tropical, são concetualizadas
de forma divergente na medida em que o que está em causa é a relação entre o corpo e o ambiente.
A principal ideia da arquitetura sustentável é proteger o ambiente do corpo, concebendo o
corpo como um consumidor voraz de recursos naturais e como um agente de processos ambientais
destrutivos irreversíveis. O principal objetivo da arquitetura tropical, contudo, era proteger o corpo do
clima tropical. Reconhecidamente, o impacte dos processos humanos no ambiente não foram aber-
tamente articulados na arquitetura tropical – ao invés disso, a conservação dos recursos e energia
foram fulcrais. Contudo, isto significa que as preocupações ambientais estavam implicitamente inseri-
das na prática da arquitetura tropical (Baweja, 2008).
As teorias da arquitetura tropical foram desenvolvidas para resolver a escassez de recursos
nos trópicos “pobres”, mas uma vez que a arquitetura tropical evoluiu para o paradigma do desenho
como resposta ao clima, a conservação da energia foi praticada mesmo em lugares onde havia
abundante disponibilidade de recursos para a construção, a energia, e bem-estar (Baweja, 2008).
O ambientalismo depende da relação dialética entre o corpo e o ambiente, os processos hu-
manos criam impactes no ambiente, e a qualidade do ambiente afeta a saúde do corpo, o bem-estar,
e a sobrevivência. O receio de estarmos rodeados por um mar de produtos químicos tóxicos dissemi-
nou-se na consciência pública no final de 1970. As ansiedades acerca do impacte, no corpo humano,
da poluição do solo, do ar, da água com pesticidas e químicos trouxe as preocupações ambientais à
esfera pública. O impacte da toxicidade dos materiais de construção tais como os asbestos, os fumos
tóxicos das pinturas, a qualidade do ar interior sobre o corpo constitui um corpus significante de co-
nhecimento no campo da arquitetura sustentável (Baweja, 2008).
Contudo, a conceção da arquitetura como “abrigo” que protege o corpo do clima é uma cate-
goria inquestionável, e estável na arquitetura tropical. Independentemente de os arquitetos tropicais
terem percebido a relação entre o clima e as culturas como causal e contingente, eles definiram una-
nimemente o clima como uma variável estável e quantificável que era uma dada caraterística de um
lugar e do qual o corpo precisava de ser protegido através da arquitetura (Baweja, 2008).
Por contraste, no discurso ambiental, o clima é fenómeno vulnerável e instável sujeito a mu-
danças por causa dos processos humanos, tais como o aquecimento global devido aos excessivos
gases de efeito de estufa. Os edifícios produzem uma quantidade significante de gases de efeito de
estufa através da queima de combustíveis fósseis e, portanto, contribui para as alterações climáticas.
O discurso da arquitetura sustentável refere a reciprocidade entre arquitetura e clima. Com um dese-
nho sustentável efetivo, as alterações climáticas ambientais podem ser controladas e a arquitetura
sustentável ainda preenche as suas funções de origem como abrigo. A equidade na distribuição dos
recursos naturais é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável e, portanto, da arquitetura sus-
tentável (Baweja, 2008).
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Figura 16 – Orientação correta, considerando o regime de ventos
(Guedes, et al., 2011)
Em termos de forma do edifício, a configuração e o arranjo dos espaços internos, de acordo
com a função, influenciam a exposição à radiação solar incidente, bem como a disponibilidade de
iluminação e ventilação natural. Em geral, um edifício compacto terá uma superfície de exposição
relativamente pequena, ou seja, um baixo rácio superfície/volume. Para as pequenas e médias cons-
truções, esta situação oferece vantagens para o controlo de trocas de calor através da envolvente do
edifício. A geminação dos edifícios oferece também vantagens; ao diminuir a área de exposição solar,
são reduzidos os riscos de sobreaquecimento (Guedes, et al., 2011).
Figura 17 – Orientação dos edifícios [em planta] e a influência dos ventos.
Fonte: (Fonte, 2006)
As novas zonas habitacionais devem também ser projetadas a uma distância conveniente da
estrada de maior circulação, evitando ruídos e outros inconvenientes. As ruas devem ser estreitas e
orientadas por forma a que pelo menos um dos lados tenha sempre sombra. Sendo o ambiente ex-
terno quente, a ventilação e o conforto dentro de casa são aspetos críticos. Nas zonas urbanas o
impacto dos raios solares nos telhados e nas fachadas dos edifícios e a circulação da brisa fresca em
40
redor dos edifícios deve ser estudado. Caso contrário, poderá haver o risco da criação de um ambien-
te muito desconfortável no interior das habitações (Guedes, et al., 2011).
A melhor orientação do edifício para reduzir os ganhos solares de calor será paralela ao eixo
Nascente-Poente, uma vez que restringe a área de exposição das fachadas que recebem sol de ân-
gulo baixo (Nascente e Poente) e permite o sombreamento da fachada que mais recebe sol de ângu-
lo alto (Norte), beneficiando ainda de iluminação natural (Guedes, et al., 2011).
Em remodelações, e em muitas situações urbanas onde a orientação está fora do controlo do
projetista, uma orientação desfavorável pode ser compensada através do reforço de outras estraté-
gias adequadas de controlo de ganhos solares, como o sombreamento ou o dimensionamento de
janelas. A orientação correta dos espaços de permanência da habitação, em função do percurso do
sol e do vento, é o ponto de partida para aproveitar estas energias renováveis. A insolação das fa-
chadas é definida no processo de implantação do edifício e é decisiva no conforto dos espaços interi-
ores; em regiões do hemisfério Sul, e onde a questão do sobreaquecimento é prioritária, como no
caso de Angola, a melhor orientação é a Norte, sendo contudo aceitável uma variação até 45º (entre
Nordeste e Noroeste). De acordo com simulações realizadas utilizando o software Ecotect, por exem-
plo para o caso de Luanda, uma ligeira variação (352º5’N) será a orientação ótima (Guedes, et al.,
2011).
Os quartos de dormir, quando orientados a Nascente, captam menos calor e durante a tarde
são espaços mais frescos. Os alçados orientados a Poente devem ser protegidos para não haver
radiação solar excessiva. A utilização de frestas e de pequenos vãos é uma medida eficiente. O di-
mensionamento das áreas envidraçadas deve ser compatibilizado com a orientação da fachada. O
espaço da cozinha deve ser o mais fresco da habitação, por isso não pode ser orientado a Poente.
Deve ser tida em conta a direção dos ventos dominantes para que quando soprem não arrastem os
cheiros e o calor para o resto da casa (Guedes, et al., 2011).
Figura 18 – A proteção solar
Fonte: (Fonte, 2006)
Em Angola devem ser previstos elementos de sombreamento (Figura 18) das áreas de envi-
draçado e paredes exteriores, por forma a evitar situações de sobreaquecimento, para haver conforto
térmico no interior dos compartimentos. Estes elementos podem ser tectónicos: palas ou alpendres,
elementos vegetais ou ainda elementos mistos. Os elementos vegetais junto a fachadas ou mesmo o
revestimento de fachadas com elementos vegetais aumentam o conforto interior e funcionam como
41
um filtro dos raios solares (Figura 19). As paredes devem, quando possível, ter isolamento e ser sufi-
cientemente maciças para retardar a penetração de calor de dia e o frio à noite (Guedes, et al., 2011).
Figura 19 – A presença de elementos arbóreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na
ventilação
Fonte: (Fonte, 2006)
4. Medir e suportar a procura da sustentabilidade
4.1. Indicadores de sustentabilidade
O termo “indicador” vem do verbo em latim indicare, que significa “divulgar ou apontar, anun-
ciar ou tornar evidente publicamente, ou estimar ou pôr um preço sobre” (Hardi; Barg, 1997) (citado
por Vosgueritchian, 2006).
Um indicador é um parâmetro (propriedade medida ou observada) ou valor derivado de pa-
râmetros que fornece informações sobre determinado fenómeno (OECD, 1993)53; [...] possui signifi-
cado sintético e é desenvolvido para um objetivo específico. Essas duas caraterísticas fazem com
que o seu significado transcenda as propriedades diretamente associadas ao valor do parâmetro e
apontam as principais virtudes do uso de indicadores, que são: (1) Reduzir o número de medidas e
parâmetros necessários para descrever determinada situação; (2) Simplificar o processo de informa-
ção através do qual os resultados dessas medidas chegam ao usuário final (da Silva, 2007).
Os indicadores de sustentabilidade descrevem os impactes ambientais, económicos e sociais
de edifícios para os proprietários, usuários dos edifícios e demais partes interessadas da indústria de
construção. Tais métricas são necessárias para simplificar e comunicar informações complexas, e
podem ser utilizadas para (ISO, 2005a)54: (1) Avaliação (contravalores de referência ou metas); (2)
Diagnóstico (para apontar fatores que afetam a sustentabilidade); (3) Comparação (entre alternativas
e edifícios); (4) Monitoramento (mudança ao longo do tempo) (da Silva, 2007).
Tomando a definição de Holmberg et al. (1991)55, indicadores de sustentabilidade (ambiental)
são medidas que relacionam a distância entre o estado atual (do ambiente) e o seu estado sustentá-
vel. Para se falar em indicadores de sustentabilidade, este patamar sustentável deve, portanto, ser
53 Citado por (da Silva, 2007) 54 Idem 55 Idem
42
conhecido ou razoavelmente estimado. No entanto, são necessárias métricas em todos os níveis
(Figura A.5 - Anexo A.3), pois podem não só apontar o caminho como também mostrar se e de que
maneira ocorre o movimento da sociedade, do setor da construção, de uma organização e da produ-
ção de edifícios em direção às metas nacionais de desenvolvimento sustentável (SILVA, 2003)56. Os
indicadores definidos em esfera de avaliação mais restrita (por exemplo, edifício ou ambiente constru-
ído) devem alinhar-se aos indicadores e metas de desenvolvimento sustentável definidos em âmbito
nacional e mundial (da Silva, 2007).
Para ser útil, um indicador deve, portanto, permitir uma explicação das razões das mudanças
no seu valor ao longo do tempo, ser suficientemente simples na maneira com que descreve proble-
mas frequentemente complexos, e usar definições comuns de componentes-chave e normalização
para permitir comparações (COLE, 2002)57.
Ao fornecerem as informações e realimentação necessárias para a tomada de decisões, es-
ses indicadores permitem: (1) Facilitar o estabelecimento de metas e o desenvolvimento de padrões
de referência para avaliação e monitoramento de desempenho (benchmarking); (2) Medir ou descre-
ver o desempenho (aderência às metas estabelecidas) de programas, ações, edifícios e projetos, de
diferentes agentes do processo de construção ou de diferentes regiões ou países; (3) Monitorar peri-
odicamente o progresso em direção à sustentabilidade; (4) Propiciar comunicação com clientes e
demais partes interessadas; (5) Derivar benefícios diretos de relato de sustentabilidade e de ben-
chmarking do desempenho (SILVA, 2003)58
4.1.1. Pegada ecológica
Criada por Willima Rees e Mathis Wackernagel a Pegada Ecológica, baseada no conceito de
“capacidade de carga”, permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o estilo
de vida atual (Vosgueritchian, 2006, 30); ou seja, para produzir biologicamente todos os recursos
consumidos por uma comunidade e para assimilar os seus resíduos, indefinidamente, [...] (Pinheiro,
2006).
Foram escolhidas várias categorias de terrenos: agrícola, pastagens, oceanos, florestas,
energia fóssil e áreas construídas; e de consumo: alimentação, habitação, energia, bens de consumo,
transportes, etc. Neste cálculo, cada categoria de consumo é convertida numa área de terreno por
meio de fatores calculados para o efeito. Para que uma pegada ecológica seja sustentável, ela terá
de ser inferior à capacidade de carga do planeta e região, dependendo da escala de avaliação (Rede-
fining Progress, 2006)59.
56 Idem 57 Ibidem. 58 Citado por (da Silva, 2007) 59 Citado por (Vosgueritchian, 2006).
43
De acordo com o Quadro 2, é de realçar que, relativamente a este indicador Angola apresen-
ta valores não muito preocupantes comparativamente ao continente africano e o resto do Mundo. No
entanto, há que ter em atenção que se não houver uma preocupação relativamente ao incremento
destes valores facilmente se atingirá uma situação insustentável.
Quadro 2 - Comparação entre a Pegada Ecológica de África, Mundo e Angola60
4.1.2. Pegada de carbono
A pegada de carbono é uma forma de medirmos o nosso impacte no meio ambiente61.
Embora sejam as “estrelas” das medidas ambientais, as pegadas de carbono são apenas
uma de uma série de formas de alterar o impacte de um produto no ciclo de carbono (o veículo para
as trocas contínuas entre todas as coisas vivas), na geosfera e na atmosfera da Terra (Goleman,
2009).
[…] As pegadas de carbono medem quanto dióxido de carbono (CO2) nós produzimos no nosso dia-
a-dia. Uma ida ao trabalho de carro, um movimento do interruptor de luz ou até uma viagem de avião
[…], tudo isso utiliza combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás. Quando os combustíveis
fósseis são queimados, são emitidos Gases do Efeito Estufa (GEE), como o CO2, que contribuem
para o aquecimento global. Com a crescente preocupação com o ambiente e o aquecimento global,
muitas pessoas começaram a reduzir as suas emissões de carbono aumentando a eficiência energé-
tica de suas casas e utilizando menos o automóvel. Uma pegada de carbono é simplesmente um
valor: geralmente um total mensal ou anual de emissão de CO2 medido em toneladas62.
A maioria das pessoas tenta reduzir a sua pegada de carbono, mas outras têm como objetivo
apagá-la completamente. Quando as pessoas tentam a neutralidade de carbono, elas cortam as suas
emissões o máximo possível e compensam o restante. As cotas de compensação ou neutralização
de carbono (carbon offsets) permitem que se pague para reduzir os gases do efeito estufa global total
em vez de fazer reduções radicais por conta própria. Quando se compra um certificado de compen-
sação, está-se a financiar projetos que reduzem as emissões por meio do reflorestamento, moderni-
zam centrais energéticas e fábricas ou aumentam a eficiência energética de prédios e transportes63.
60 Fonte: http://www.footprintnetwork.org/images/uploads/Ecological_Footprint_Atlas_2010.pdf 61 http://www.pegadadecarbono.com/ 62 Os sítios na internet com calculadoras de carbono transformam informações fáceis de fornecer, como a quilo-metragem anual e o uso mensal de energia, em uma tonelagem de carbono mensurável. http://www.pegadadecarbono.com/ 63 Idem.
44
Algumas empresas começaram a incluir pegadas nos seus rótulos. Os rótulos de carbono
apelam aos consumidores que entendem e calculam as suas pegadas de carbono e desejam apoiar
produtos que façam o mesmo. Os rótulos estimam as emissões criadas com produção, embalagem,
transporte e descarte de um produto. O conceito é similar às análises do ciclo de vida, o precursor
mais intrincado das pegadas de carbono. As análises ou avaliações do ciclo de vida medem todos os
impactos ambientais potenciais que um produto pode ter durante sua existência: elas são uma versão
mais focada de uma pegada de carbono. As pegadas de carbono ajudam as pessoas a promover as
mudanças necessárias para combater os problemas ecológicos do planeta. Como as pegadas quanti-
ficam um montante de carbono que aumenta ou diminui com base no uso de energia, elas permitem
que as pessoas saibam que um novo carro híbrido realmente ajuda a diminuir as emissões64.
Para valores relacionados com o contexto de Angola vide o Quadro 2 onde parte do carbono
é considerada na pegada ecológica.
4.2. Avaliação do ciclo de Vida
A avaliação do ciclo de vida (ACV, em inglês LCA, acrónimo da expressão Life-Cicle Asses-
sment) foi, originalmente, definida pela SETAC, Society for Environmental Toxicology and Chemistry
como um "processo para avaliar as implicações ambientais de um produto, processo ou atividade,
através da identificação e quantificação dos usos de energia e matéria e das emissões ambientais;
avaliar o impacte ambiental desses usos de energia e matéria e das emissões; e identificar e avaliar
oportunidades de realizar melhorias ambientais" (Pinheiro, 2006).
A avaliação inclui todo o ciclo de vida do produto, processo ou atividade, abrangendo a extra-
ção e o processamento de matérias-primas; a transformação, o transporte e a distribuição; o uso, a
reutilização, a manutenção; a reciclagem e a deposição final. Esta definição foi posteriormente conso-
lidada na série de normas ISO 14 000, nomeadamente a ISO 14 040 (1997) e a ISO 14 043 (2000).
Por outras palavras, a ACV constitui o procedimento que permite analisar formalmente, a
complexa interação de um sistema – que pode ser um material, uma componente ou um conjunto de
componentes – com o ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de vida, caracterizando o que se tornou
conhecido como enfoque do "berço ao túmulo" (cradle-to-grave). A ACV parte da premissa de que
todos os estágios da vida de um produto geram impacte ambiental e devem ser analisados (Anexo
A.4A.4) (Pinheiro, 2006).
A ACV pode ter diferentes níveis de abordagem conceptual, simplificada e detalhada (AEA,
1997), envolvendo abordagens, progressivamente, mais detalhadas passando dos aspetos qualitati-
vos aos quantitativos. Esta análise também tem sido entendida de forma a incluir os custos, já que,
até há pouco tempo, a maior parte dos edifícios projetados e construídos baseavam-se (CEETB,
2001) num critério simples, de ajustamento aos fins previstos e o correspondente custo de constru-
ção, em regra o mais baixo possível. Aspetos como a operação e os custos de manutenção, bem
64 Idem.
45
como os impactes globais da construção, têm sido menos considerados. Em alguns países, os siste-
mas fiscais tendem a favorecer custos de capital baixo, face a elevados custos de manutenção. Em
muitos casos, os custos dos serviços e operações das construções, durante o seu ciclo de vida, ex-
cedem os custos iniciais. Os contributos e participação da ACV (Centre for Design, 2001), em cada
momento do desenvolvimento dos edifícios e materiais, são diferenciados e abrangem a fase inicial
de pré-avaliação e a fase de projeto, chegando até ao seu fim de vida, para eventual demolição. Os
possíveis contributos da ACV em cada momento do ciclo de vida (Centre for Design, 2001) podem
ser os seguintes: Fase de Ideia e Conceito, Conceção (Fase 2), Construção do Edifício (Fase 3);
Operação (Fase 4a); Renovação (Fase 4b); Fim de vida (Fase 5) (Quadro A.6 - Anexo A.4) (Pinheiro,
2006).
Nos ambientes construídos naturais, as ACV têm demonstrado os aspetos onde é necessária
uma intervenção ou a escolha de soluções, como por exemplo, os designados telhados verdes, como
uma solução viável para ter em conta questões como o aumento do escoamento superficial, o efeito
das ilhas de calor urbanas, a deterioração da qualidade do ar e água e as perdas de habitat e biodi-
versidade, enfrentadas pelos centros urbanos. A perspetiva de avaliação dos custos no ciclo de vida,
mostra, por exemplo, que os benefícios económicos dos telhados verdes podem compensar os cus-
tos iniciais, pois examina as implicações, ao nível de investimento, entre ter um telhado verde em
comparação com um telhado convencional plano, calcula e compara os custos de ciclo de vida dos
jardins nos telhados e dos telhados planos convencionais e, ainda, incorpora esses benefícios, consi-
derando os custos energéticos nos custos do ciclo de vida. Nos edifícios, a aplicação mais sistemáti-
ca que tem sido efetuada no âmbito da ACV é conceptual, embora, crescentemente nos materiais e,
pontualmente, nos edifícios, cada vez mais existam abordagens simplificadas e até detalhadas
(Pinheiro, 2006).
O ciclo de vida das construções inicia-se na conceção e perpetua-se até à desativação ( (Fi-
gura A.6 – Anexo A.4). A fase de construção está, no geral, associada a períodos mais reduzidos
(meses), face à fase de operação (anos). Refira-se que a maioria das infraestruturas e edifícios proje-
tados na atualidade, tem um tempo de vida superior a 40 anos e alguns dos edifícios e estruturas
existentes podem ultrapassar, ou já ultrapassam, os 100 anos. Isto significa que as estruturas cons-
truídas têm impactes com efeitos muito duradouros, quer a nível dos consumos, quer na acumulação
dos materiais, quer ao nível das emissões e cargas poluentes, cujos efeitos ambientais importa con-
siderar (Pinheiro, 2006).
Nesse contexto, os efeitos ambientais das atividades construtivas decorrem não só do ato de
construir, mas também da operação das estruturas construídas (incluindo a sua manutenção) e até
da sua desativação (cada vez mais referida como "desconstrução"), sendo os seus efeitos (impactes)
diferenciados em cada uma das fases consideradas (Pinheiro,2006).
No entanto (Silva, 2004)65, a ACV, consoante a sua profundidade, abrangência e a quantifica-
ção de todos os impactes envolvidos num sistema, pode facilmente tornar-se complexa, cara e muito
65 Citado por (Pinheiro, 2006)
46
extensa, o que se apresenta como a principal limitação do emprego dessa metodologia na sua forma
mais pura. A sua intensidade em dados, no caso dos edifícios, revela-se por vezes uma tarefa com-
plexa e de difícil aplicação na realidade, destacando-se a importância da definição da unidade funcio-
nal (de comparação), dos limites da análise e das bases de dados (Pinheiro, 2006).
4.3. Sistemas de avaliação e certificação da construção sustentável
A crise petrolífera dos anos 70 originou, a nível internacional, o desenvolvimento de iniciativas
de avaliação focadas nas questões energéticas, e também nos edifícios [...] (Pinheiro, 2006).
Desde os finais dos anos 80 que, de forma sistemática, se efetua a avaliação de impacte ambiental
de uma parte dos empreendimentos de construção, sendo estes associados a casos e situações con-
cretas, nos quais se procura sistematizar medidas para reduzir os impactes ambientais negativos,
compensar os irreversíveis [...] e valorizar os impactes positivos, constituindo, assim, um mecanismo
muitíssimo importante de internalização ambiental, através do processo de decisão de Avaliação de
Impacte Ambiental. Paralelamente, a preocupação com a avaliação das caraterísticas dos produtos e
materiais fomentou a utilização de abordagens de ciclo de vida para estes componentes e materiais,
de modo a suportar a escolha ambientalmente mais adequada, contribuindo, igualmente, para forma-
tar algumas abordagens de avaliações do ambiente construído. Como resposta às crescentes ques-
tões ambientais surgiram, pontualmente, critérios, abordagens e guias para melhorar o desempenho
ambiental da construção, bem como indicadores e processos para o avaliar (Pinheiro, 2006).
Em muitos casos, constatou-se que os países que estavam a implementar projetos mais eco-
lógicos e sustentáveis, não possuíam meios efetivos para verificar a efetiva dimensão ambiental dos
mesmos, surgindo mesmo situações em que construções ditas ecológicas acabavam, na perspetiva
de ciclo de vida, por ter maiores consumos energéticos do que as usuais (Silva, 2004)66.
Com a difusão dos empreendimentos verdes, a medição e avaliação do desempenho desses
empreendimentos passaram a ser imperativas para os rumos da arquitetura sustentável, servindo
como parâmetro para a maximização dos benefícios de novos e antigos edifícios. Inicialmente, as
edificações são analisadas por meio de checklists (listas de verificação) e/ou softwares específicos
para a obtenção de informações gerais da edificação, tais como: projeto, local, orientação e configu-
ração, energia e atmosfera, materiais e recursos, fachadas dos edifícios, ventilação, água, ilumina-
ção, sistemas mecânicos, qualidade ambiental interna, entre outras. Após o tratamento e sistematiza-
ção dos dados, o edifício obtém uma classificação final. Estas formas práticas de avaliar e reconhecer
a construção sustentável tornam-se cada vez mais presentes nos diferentes países, destacando-se,
no que diz respeito aos que fomentam a construção sustentável, os sistemas de avaliação voluntários
de mercado (Silva, 2004)67: BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment
Method) no Reino Unido; LEED TM (Leadership in Energy & Environmental Design do USGB) nos
66 Citado por (Pinheiro, 2006). 67 Citado por (Vieira, et al., 2009).
47
Estados Unidos da América; NABERS (National Australian Buildings Environmental Rating System),
na Austrália; Green Globes no Canadá; HQE (Haute Qualité Environnementale dês bâtiments) na
França; CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) no Ja-
pão; o internacional GBC (Green Buildings Challenge), entre outros (Vieira, et al., 2009).
Até ao lançamento, em 1990, no Reino Unido, do sistema com o acrónimo de BREEAM (Buil-
ding Research Establishment Environmental Assessment Method), poucas ou nenhumas tentativas
(Cole et al, 2004)68 tinham sido feitas, no sentido de estabelecer um objetivo e meios compreensíveis
de, simultaneamente, avaliar uma vasta gama de considerações ambientais contra critérios ambien-
tais explicitamente declarados, oferecendo um sumário do desempenho ambiental para os edifícios
(Pinheiro, 2006)
Um salto qualitativo na avaliação ambiental, em particular dos edifícios, ocorre quando se
começa a gerar um consenso entre investigadores e agências governamentais, de que a classifica-
ção de desempenho, associada a sistemas de certificação, cria mecanismos eficientes de demons-
tração e melhoria contínua. Nesta perspetiva, destaca-se a importância da adoção voluntária de sis-
temas de avaliação do desempenho e da possibilidade do mercado ser um impulsionador para elevar
o padrão ambiental existente (Pinheiro, 2006).
As circunstâncias conduziram ao aparecimento de (1) orientações ou guias para a construção
sustentável, com critérios de maior ou menor definição (alguns deles baseados em análise de ciclo de
vida ou outras metodologias de impactes ambientais), (2) processos de avaliação e verificação des-
ses critérios, (3) especialistas para o apoio ao seu desenvolvimento e avaliação (ou auditoria), e por
vezes até à integração em (4) processos independentes de certificação (avaliação efetuada por uma
terceira parte. No geral, o sistema de avaliação ambiental dos edifícios constitui uma forma de avaliar
o seu desempenho ambiental face a um conjunto de critérios explícitos dispondo-se, tipicamente, de
três grandes tipos de componentes (Cole, 2003)69: (1) Conjunto declarado de critérios de desempe-
nho ambiental, organizado de modo lógico numa estrutura apelativa; (2) Atribuição de um número de
pontos por cada desempenho: ao atingir um determinado nível obtém-se uma pontuação no critério;
(3) Modo de demonstrar a pontuação total através do desempenho ambiental do edifício ou unidade –
Output (Pinheiro, 2006).
Assim, a compreensão da abordagem metodológica destes três componentes dos sistemas
de avaliação (Definição dos critérios, Escala de desempenho e Ponderação) são relevantes para a
sua aplicação [...]. A avaliação implica (Cole, 1997; Brandon et al, 1997)70, uma análise retrospetiva,
ou seja, uma verificação do desempenho de um edifício, ou dos seus subsistemas, em relação a um
conjunto de critérios. As razões para a avaliação ambiental de um edifício são várias: por exemplo,
fornecer um conjunto de critérios e objetivos para que os proprietários, projetistas ou construtores, em
busca de melhores desempenhos ambientais, possam demonstrar esse esforço e comunicá-lo a pos-
68 Citado por (Pinheiro, 2006). 69 Citado por (Pinheiro, 2006). 70 Idem.
48
síveis inquilinos ou outros interessados. A sua efetivação pode ocorrer em dois tipos de base, apenas
num critério ou em multicritérios (Pinheiro, 2006).
A revisão (Boonstra & Pettersen, 2003)71, efetuada em 2003, sobre os instrumentos existen-
tes para a sustentabilidade nos edifícios (no âmbito da W100 da CIB), demonstrou que o número de
países que estão a desenvolver e a implementar os instrumentos e os métodos de avaliação para os
edifícios está a aumentar; que as versões mais recentes destes instrumentos abordam os aspetos
ambientais, não só na fase de projeto, mas também na fase de operação; e que os critérios conside-
rados focam cada vez mais as decisões do projeto e da gestão. A área de avaliação do desempenho
ambiental dos edifícios amadureceu, notavelmente, depressa, desde que o BREEAM foi introduzido,
tendo, nos últimos quinze anos, ocorrido um rápido aumento no número de sistemas de avaliação da
construção de edifícios em uso em todo o mundo, das suas versões e até mesmo na sua aplicação e
procura, consolidando as suas caraterísticas e aplicabilidade (Pinheiro, 2006).
71 Idem.
49
4.4. LiderA – Sistema Voluntário de Avaliação da Construção Susten-
tável72
4.4.1. Princípios globais
O LiderA – Sistema de avaliação da sustentabilidade, é uma marca registada portuguesa, que
pode ser (1) utilizado desde logo no apoio à procura soluções em fase de projeto e plano, (2) na ava-
liação do posicionamento da sustentabilidade, (3) no caso de ter um nível de bom desempenho com-
provado pode ser dado o reconhecimento (para planos e projetos) ou a certificação (empreendimen-
tos em construção e operação) por esta marca. A primeira versão V1.02 (disponibilizada em 2005)
destinava-se sobretudo ao edificado e ao respetivo espaço envolvente. Contudo, face às aplicações
efetuadas, foi desenvolvida uma versão 2.0 que alarga a possibilidade de aplicação do sistema, não
apenas ao edificado, mas igualmente ao ambiente construído, incluindo a procura de edifícios, espa-
ços exteriores quarteirões, bairros, zonas e os seus utentes numa ótica de comunidades sustentá-
veis.
O sistema já foi utilizado, desde 2005 em diferentes tipologias de projetos e por diferentes
agentes, tendo certificado empreendimentos desde a fase de plano e projeto até à de operação. O
sistema é referenciado e reconhecido por diferentes entidades, [...]. O sistema LiderA assenta no
conceito de reposicionar o ambiente na construção, na perspetiva da sustentabilidade, assumindo-se
como um sistema para liderar pelo ambiente, estando organizado em vertentes que incluem áreas de
intervenção, que são operacionalizadas através de critérios que permitem efetuar a orientação e a
avaliação do nível de procura da sustentabilidade. A missão do LiderA é contribuir para criar, apoiar a
gestão e certificar os ambientes construídos sustentáveis, suportando assim a procura de comunida-
des sustentáveis.
Figura 20 – Esquema de vertentes e áreas do Sistema LiderA
(Fonte: www.lidera.info)
72 www.lidera.info
50
4.4.2. Vertentes e áreas73
Para o LiderA a procura de sustentabilidade nos ambientes construídos assenta desde logo
em seis princípios a serem adotados, os quais abrangem as seis vertentes consideradas no sistema.
Os princípios sugeridos para a procura da sustentabilidade são os seguintes:
Princípio 1 – Valorizar a dinâmica local e promover uma adequada integração;
Princípio 2 – Fomentar a eficiência no uso dos recursos;
Princípio 3 – Reduzir o impacte das cargas (quer em valor, quer em toxicidade);
Princípio 4 – Assegurar a qualidade do ambiente, focada no conforto ambiental;
Princípio 5 – Fomentar as vivências socioeconómicas sustentáveis;
Princípio 6 – Assegurar a melhor utilização sustentável dos ambientes construídos, através da
gestão ambiental e da inovação.
As seis vertentes subdividem-se em vinte e duas áreas:
Integração local, no que diz respeito ao Solo, aos Ecossistemas naturais e Paisagem e ao
Património;
Recursos, abrangendo a Energia, a Água, os Materiais e os Recursos Alimentares;
Cargas ambientais, envolvendo os Efluentes, as Emissões Atmosféricas, os Resíduos, o Ruí-
do Exterior e a Poluição Ilumino-térmica;
Conforto Ambiental, nas áreas da Qualidade do Ar, do Conforto Térmico e da Iluminação e
acústica;
Vivência socioeconómica, que integra o Acesso para todos, os Custos no ciclo de vida, a Di-
versidade Económica, as Amenidades e a Interação Social e Participação e Controlo;
Condições de uso sustentável que integra a Gestão Ambiental e Inovação.
4.4.3. Critérios e níveis de desempenho74
No sistema, para orientar e avaliar o desempenho, existe um conjunto de critérios que opera-
cionalizam os aspetos a considerar em cada área. Estes critérios dispõem de diferentes níveis de
desempenho (1 a 10 ou superior) evoluem com a tecnologia, permitindo assim dispor de soluções
ambientalmente mais eficientes. No entanto, os critérios e as orientações apresentadas pretendem
ajudar a selecionar, não a melhor solução existente, mas a solução que melhore, preferencialmente
73 www.lidera.info 74 Idem.
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mente qual é a intervenção a ser abrangida, em que fase se encontra e qual é o objetivo da aplicação
LiderA. O sistema LiderA pode ser utilizado para desenvolver os planos, projetos e procura de solu-
ções construtivas sustentáveis na fase de obra, sendo particularmente relevante a sua aplicação des-
de logo na fase de conceção do mesmo. Desde o seu início, ou seja desde a sua ideia e planeamen-
to, o empreendimento deve adotar uma política ambiental (ou evidenciar a sua implementação), a
qual deve ser adequada ao empreendimento e suas especificidades ambientais, considerando os
princípios de procura da sustentabilidade atrás referenciados.
Na fase inicial de cada projeto, o dono da obra, sendo o responsável pela encomenda das
operações e pela celebração do respetivo contrato de adjudicação, define as caraterísticas, condi-
ções e soluções que se pretendem implementar nos empreendimentos. Ao nível do plano devem ser
evidenciados os princípios da abordagem, que devem ser definidos numa lógica de Política. Como
critérios de comparação neste nível foram tidas em consideração a Agenda 21 e as orientações de
sustentabilidade presentes no regulamento geral das edificações, traduzidos nos seguintes princípios:
fomentar a adequada localização e integração ambiental, a eficiência nos consumos e gestão dos
fluxos, um reduzido impacte das cargas ambientais, um adequado conforto, a adaptabilidade socioe-
conómica, uma consistente gestão ambiental e uma procura proativa da inovação (Anexo A.6A.6).
Ao nível do programa preliminar, este deve discriminar as intenções do promotor para que es-
tas fiquem delineadas no sentido de procurar o bom desempenho na procura da sustentabilidade do
empreendimento. A estratégia inicial deve ser orientada segundo os princípios do sistema LiderA que
se baseiam nas vertentes: integração local, recursos, cargas ambientais, conforto ambiental, vivên-
cias socioeconómicas e gestão sustentável. A abordagem preliminar, embora ainda não formalize o
projeto, deve conter para cada uma destas vertentes os princípios que irão regularizar todo o projeto
nas seguintes fases e que devem ser tidos em conta ao longo de todas as etapas de licenciamento.
Esses princípios são os seguintes: Prever a valorização da dinâmica local e promover uma adequada
integração; Fomentar a eficiência no uso dos recursos naturais; Reduzir o impacte das cargas ambi-
entais (quer em valor, quer em toxicidade); Assegurar a qualidade do ambiente, focada no conforto
ambiental Fomentar as vivências socioeconómicas sustentáveis.
O nível de projeto assenta na aplicação dos princípios e na procura dos níveis de desempe-
nho viáveis para a situação específica. Esta é a fase da definição das soluções e respetivos níveis de
desempenho, os quais devem ser comparados com os referenciais de sustentabilidade, face ao seu
desempenho para os vários critérios. À medida que se dispõe de maior pormenor, do estudo prévio
ao projeto de execução, as medidas prescritivas devem evoluir para complementar as mesmas com
os respetivos níveis de desempenho.
O nível de projeto assenta na aplicação dos princípios e na procura dos níveis de desempe-
nho viáveis para a situação específica. Esta é a fase da definição das soluções e respetivos níveis de
desempenho, os quais devem ser comparados com os referenciais de sustentabilidade, face ao seu
desempenho para os vários critérios. À medida que se dispõe de maior pormenor, do estudo prévio
ao projeto de execução, as medidas prescritivas devem evoluir para complementar as mesmas com
os respetivos níveis de desempenho.
54
No caso do estudo prévio, importa aferir se as propostas (soluções) apresentadas seguem as
estratégias inicialmente delineadas e se estão de acordo com os princípios delineados para as áreas
do sistema LiderA (assegurando uma abrangência generalizada e o caminho para a sustentabilidade,
que foi inicialmente definido e analisado no programa preliminar). Nesta fase de análise é importante
analisar as opções estratégicas e de projeto efetuadas anteriormente, de forma a avaliar a sua com-
patibilidade com o programa pretendido, quer ao nível da aferição de custos (orçamento), quer ao
nível da avaliação estratégica de procura da sustentabilidade.
O processo de licenciamento abrange diversas fases de projeto e como desafio principal am-
biciona-se que estas fases sejam também alvo de uma verificação relativamente ao seu desempenho
ambiental e social, ou seja, ao seu nível de sustentabilidade. O LiderA, tem nesta abordagem um
papel importante, uma vez que funciona como instrumento auxiliador que vai evidenciando, em cada
passo do processo de licenciamento, as questões de desempenho mais relevantes a ter em conside-
ração na elaboração dos projetos. No projeto de execução, deve ser verificada a pormenorização de
soluções construtivas inicialmente propostas e delineadas quer no estudo prévio quer no projeto de
licenciamento. Nesta fase é importante detalhar todos os elementos construtivos, bem como proce-
dimentos e normas de execução. Soluções que requerem utilização de energias renováveis, recolha
e aproveitamento de águas tendo em conta a redução de consumos energéticos e de água e uso de
materiais certificados, são aspetos que requerem pormenorização, ao nível dos recursos.
O nível da operação e funcionamento, a lógica é de apoiar a utilização e gestão sustentável
assenta na boa utilização, tendo em vista assegurar os níveis de desempenho viáveis para a situação
específica. Nesta fase, as soluções e respetivos níveis de desempenho podem ser comparados com
os referenciais de sustentabilidade encontrados para ver qual é posicionamento e os eventuais mo-
dos de melhoria.
4.4.6. Certificação pelo sistema LiderA
No caso de dispor de boas soluções pode, na fase de conceção, plano ou projeto, evidenciar
as mesmas de forma prescritiva ou através do desempenho e caso se comprovem níveis de desem-
penho nas vertentes e áreas consideradas ou, globalmente, se atinja a classe C ou superior, pode ser
reconhecido pelo LiderA. No caso da construção, ou com o edifício em funcionamento, a abordagem
centra-se nas evidências efetivas existentes e se o processo de verificação permitir constatar que os
níveis de desempenho nas vertentes, áreas ou globalmente atingem a classe C ou superior, pode ser
certificado pelo LiderA (Figura 23).
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apontavam para um potencial na área da grande hídrica na ordem de 150.000 GW/ano, indicando
que os 1.200-1500 GW/ano gerados hoje em dia representam menos de 1%. O fornecimento de
energia elétrica faz-se apenas a uma pequena percentagem da população (atualmente cerca de
20%)79, fundamentalmente nos centros urbanos, e mesmo essa faz-se de modo intermitente, […] (cf.
2.3).
Após a independência em 1975, em toda a extensão do território mas principalmente nas ci-
dades do litoral - que ofereciam maior segurança e maior facilidade de acesso aos bens importados -,
verificou-se uma pressão do crescimento urbano, acelerado pela movimentação dos deslocados de
guerra no território, que não só não seguiu os planos de desenvolvimento urbanos elaborados antes
da independência, como também não mereceu a devida resposta por parte das autoridades respon-
sáveis pelo ordenamento e desenvolvimento territorial, sobrecarregando a capacidade das infraestru-
turas e dos serviços básicos. O quadro habitacional existente, sem manutenção adequada, sofreu um
processo de deterioração e de decadência, ao mesmo tempo que foram proliferando assentamentos
habitacionais subnormais - os musseques -, nas áreas periurbanas. As cidades experimentaram os
efeitos adversos do rápido crescimento e das mudanças urbanas: congestionamento, desemprego,
inadequação das infraestruturas de saneamento, poluição, insuficiência dos serviços sociais […] etc
(MINUA, 2006).
5.2. O Clima em Angola – Principais caraterísticas e as diferentes zo-
nas climáticas.
O clima de Angola é fortemente influenciado por um conjunto de fatores, dos quais se destaca a lati-
tude (de 6º a 18º), a altitude, a orografia, a corrente fria de Benguela e as bacias hidrográficas do
Zaire, Zambeze, Kwanza, Kubango, Kuando e Kunene. De uma forma geral verifica-se em todo o
país a existência de duas estações mais ou menos bem diferenciadas (MINUA, 2006):
Uma, seca e fresca, denominada “cacimbo”, que vai de Junho a fins de Setembro;
Outra, a das “chuvas”, quente, que decorre de Outubro a fins de Maio.
Por vezes, em determinadas regiões, a estação das chuvas é dividida por um curto período
de seca conhecido por “pequeno cacimbo” que pode ocorrer de fins de Dezembro a princípios de
Fevereiro. A temperatura média anual mais baixa é de 15º-20ºC e regista-se na zona planáltica e ao
longo do deserto do Namibe. A temperatura média anual mais elevada varia de 25º- 27ºC e ocorre na
região da bacia do Congo e no filamento sub-litoral do Norte do País. A precipitação em Angola é
influenciada pelo centro de altas pressões do Atlântico Sul, pela corrente fria de Benguela e pela alti-
79 MINUA (2006)
58
tude. A precipitação média anual decresce de Norte para Sul e aumenta com a altitude e distância do
mar. A precipitação média anual mais elevada é de 1.750 mm e regista-se no planalto, e a mais baixa
é 100 mm na região desértica do Namibe. O clima do planalto central norte é tropical húmido com
uma precipitação média anual que varia de 1 250 a 1 750 mm. A sul do planalto o clima é tropical
seco. Quanto ao litoral, a zona norte é húmida, baixando gradualmente em direção ao sul, onde o
clima é semiárido, com precipitações médias anuais abaixo de 100 mm (MINUA, 2006)
Angola enfrenta diversos problemas ambientais com origem na longa guerra civil, na genera-
lização da pobreza, nos impactes negativos associados às atividades económicas, nomeadamente da
atividade petrolífera, entre outros. A escassez de informação ambiental credível e atualizada, a insufi-
ciente capacidade institucional da administração ambiental e a ineficácia dos processos de tomada de
decisão política a todos os níveis, associado à falta de consciência e responsabilidade ambiental da
população em geral, enfraquece a capacidade para enfrentar os atuais problemas do ambiente em
Angola (MINUA, 2006).
No que às alterações climáticas diz respeito, Angola ratificou a Convenção Quadro sobre Al-
terações Climáticas. Na fase atual de restabelecimento gradual e generalizado da paz em todo o terri-
tório, é urgente que simultaneamente se proceda a uma exploração e gestão sustentável dos inúme-
ros recursos naturais angolanos, […]. Existe, latente, a preocupação de que o intenso crescimento
rural e urbano que se tem seguido à restauração da paz no país se faça à custa de uma acelerada
degradação dos recursos naturais (MINUA, 2006).
5.3. A cidade de Luanda – enquadramento, clima e estrutura urbana
Luanda, cidade fundada por Paulo Dias de Novais e batizada como São Paulo da Assunção
de Loanda em 1575, cresceu inicialmente a partir do morro de São Miguel80, sobranceiro à Ilha do
Cabo e à Baía. Situa-se aproximadamente à 8º 49´ de latitude Sul e a 13º 13´ de longitude Este, e
atinge a altura máxima de 59,25 metros, com clima81 que se pode classificar como «húmido sem
inverno», correspondente ao subtipo «clima de savana», e com ventos predominantes que sopram de
sudoeste e nordeste, influenciados pela corrente marítima austral que passa ao longo da costa, de-
nominada Corrente [Fria]82 de Benguela (Magalhães, 2009).
A condição atlântica e a topografia em anfiteatro suave, marcada pelo morro da fortaleza de
São Miguel e pela colina de Miramar, determinam a raiz da sua estrutura urbana e a organização,
cuja denominação ainda hoje se mantém: a Cidade Alta e a Cidade Baixa (Magalhães, 2009).
80 Hoje onde se localiza o Museu das Forças Armadas [Nota do Autor]. 81 «Apenas se distinguem duas épocas do ano: a do cacimbo e a das chuvas. A primeira, com início em meados de Maio, prolonga-se até meados de Setembro. A segunda, caraterizada por temperaturas elevadas, de fins de Setembro a princípios de Maio. As temperaturas máximas verificam-se de Fevereiro a Abril. A temperatura média de Luanda é de 24ºC», Luanda Edição da Direção dos Serviços de Economia – Secção de Publicidade, Litogra-fia Nacional, Porto. 82 Nota do Autor.
59
A cidade de Luanda desenvolveu-se sempre em estreita relação com o mar. A Baixa estende-
se ao longo do imenso porto natural, conformado pela baía e pela Ilha de Luanda. Posteriormente, a
cidade venceu o desnível e instalou-se na colina exposta aos ventos, construindo a Alta em solos
secos arenosos, com vegetação escassa e total ausência de água. Mas logo desde a década de 50
Luanda assiste a um grande crescimento demográfico, que implicará um aumento significativo da
construção e da consolidação urbana. Durante esta década, adquire progressivamente uma imagem
de cidade moderna, assente nas premissas do Movimento Moderno e, particularmente, baseada nos
princípios da Carta de Atenas (Magalhães, 2009).
Com o Plano Diretor de Luanda, serão desenvolvidas as unidades de vizinhança, que asse-
gurarão o crescimento da cidade para além do núcleo urbano consolidado. Destaca-se a Unidade de
Vizinhança nº1 no Bairro do Prenda (1963 – 1965), grandes torres de habitação que se erguem como
uma ilha no meio do musseque, um projeto de Fernão Simões de Carvalho, José Pinto da Cunha e
Fernando Alfredo Pereira. Após a descolonização, o crescimento demográfico acentuado mantém-se
em progressão geométrica. Os movimentos migratórios justificados pela guerra civil, […], tornam Lu-
anda uma cidade densa sobrelotada e caótica. Por outro lado, os anos de guerra não permitem o
investimento nas infraestruturas urbanas, nos equipamentos ou nos edifícios, o que força naturalmen-
te a degradação da cidade e da sua arquitetura (Magalhães, 2009).
É uma cidade cuja transformação decorre a uma velocidade inimaginável. Sobre as marcas
da guerra e da sobrelotação por esta provocada (uma cidade planeada para quinhentos mil habitan-
tes […]), o perfil de Luanda altera-se todos os dias; nascem torres douradas, crescem os novos bair-
ros e condomínios em Luanda Sul, deitam-se abaixo algumas «ruínas modernas». Esta velocidade
sente-se no trânsito caótico, no ritmo frenético das obras ou na pressa dos vendedores na rua
(Magalhães, 2009).
Assiste-se hoje, nesses novos tempos de paz, a um crescente investimento em infraestrutu-
ras quer na transformação urbana de Luanda, essencialmente assente na expansão da cidade para
sul (Magalhães, 2009)
5.4. Caraterísticas da arquitetura e da construção em Luanda – do
passado ao presente (uma abordagem crítica)
Nesta abordagem, pretende-se realçar as transformações que a cidade sofreu, do ponto de
vista da arquitetura e da estrutura urbana, quer pela sua reestruturação quer pela expansão e as im-
plicações para a questão da sustentabilidade do espaço edificado, por alteração de alguns edifícios
existentes, do ponto de vista energético e, implicitamente, no que a pressão sobre os recursos natu-
rais diz respeito.
É importante referir que: O Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar) e, posterior-
mente, o Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal desenvolverão planos gerais ou parciais que
60
assegurarão o crescimento da cidade, a qual atingiu o seu apogeu, enquanto cidade colonial, com o
Plano Diretor de Luanda (1961 – 1962) (Magalhães, 2009). (Magalhães, 2009).
Refira-se, a título de exemplo, a abertura de novos eixos estruturantes, como a passagem
entre a cidade alta e a fortaleza de S. Miguel, favorecendo a ventilação e arejamento da baixa (Fonte,
2006).
Vasco Vieira da Costa propõe, na sua tese de fim de curso, após um estágio em Paris no ate-
lier de Le Corbusier, um Anteprojeto, um «Anteprojeto de uma Cidade Satélite para Luanda» (1949),
em que compete a aplicação dos dogmas modernos à construção de uma cidade colonial é, certa-
mente, paradoxal. Este arquiteto será um dos muitos recém-licenciados que, […], contribuirão signifi-
cativamente para uma imagem de cidade moderna, com edifícios sobre pilotis, fachadas de expres-
são mais abstrata, marcadas por grelhas de betão, brise-soleil e palas de sombreamento, […]
(Magalhães, 2009).
Em Luanda, a obra de Vasco Vieira da Costa, discípulo de Le Corbusier, obedece aos princí-
pios do mestre: mercado do Kinaxixe, as fachadas revestem-se de brise-soleil83, constituídas por lâ-
minas verticais de um modo homogéneo84, e os pátios interiores encerram-se com uma delicada gre-
lha rendilhada; no Ministério das Obras Públicas de Angola, o sistema de sombreamento das facha-
das funciona como uma segunda pele do edifício, criando um forte efeito plástico e tridimensional. No
edifício da Rádio Nacional de Angola, a homenagem à obra de Le Corbusier é também evidente: o
desenho expressivo das grelhas em betão armado aparente remete para o Convento de La Tourette
e para os projetos de Chandigarh. Uma grelha reticulada distanciada das fachadas laterais permite
simultaneamente o sombreamento e a ventilação do seu interior; na fachada principal, orientada a
poente, os brise-soleil são compostos por elementos em betão fixo, garantindo-lhe um caráter mais
opaco e impenetrável. Tal como um abeto com as suas densas folhagens, um «arranha-céus» deverá
ser protegido dos efeitos da luz e do calor (Magalhães, 2009).
Tal como na utilização do cobogó85 brasileiro, observam-se nas cidades de Angola [...] edifí-
cios de habitação ou equipamentos marcados por grelhas modulares em betão de diferentes dese-
nhos, geometrias e texturas: é o caso do Sporting Clube de Luanda, pequeno edifício com uma clara
influência da arquitetura brasileira, envolvido por densa grelha aberta, que provoca efeitos de luz e
83 O brise-soleil representa uma reinterpretação dos elementos de proteção do sol que Le Corbusier observa nas suas múltiplas viagens ao Norte de África e que justifica em La Maison des Hommes (1942): «O sol é ditador segundo os climas e segundo as estações. À frente do pano de vidro, os dispositivos podem ser instalados: O brise-soleil, fonte arquitetónica ilimitada, chave de uma nova riqueza arquitetónica.» 84 «Revestir um edifício com um brise.soleil nas suas quatro fachadas poderá parecer à primeira vista uma atitu-de totalitária ou um recurso meramente compositivo. Contudo, considerando a latitude de Luanda, é evidente que não é assim. [...] O edifício recebe a incidência direta da luz solar em todas as suas fachadas. No Verão o sol incide a sul; no Inverno a norte, durante a Primavera e o Outono a sul e a norte no decurso de um dia. Assim, num mesmo, repetidamente, é possível ver o sol iluminar o interior do mercado através das fachadas. [...] Tam-bém é verdade que o ângulo de incidência varia muito [...]. Assim, parece uma opção racional o edifício ser pro-tegido por um sistema de lâminas verticais em todo o seu perímetro; sombreamento cuja eficiência se relaciona não com o ângulo de incidência vertical dos raios solares mas sim com a sua trajetória horizontal.» in Quintã, Maria Margarida Gonçalves, p. 86-87. 85 Denominação de uma grelha de betão de múltiplos desenhos e de produção industrial, criada numa empresa sedeada no Recife e que resulta da conjugação do nome dos seus criadores, o engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis.
61
sombra intensos e expressivos; A Residência de Estudantes, […], projetada por Vasco Vieira da Cos-
ta, [...]; Para além das grelhas em betão, procuram-se outros materiais que permitam o mesmo es-
quema de proteção natural e possibilitem outras expressões, como grelhas em tijoleira cerâmica ou
grelhas metálicas, [...] (Magalhães, 2009).
Outra saliência expressiva e marcante é a pala de betão utilizada com marcação de entrada
dos edifícios como marcação da entrada dos edifícios e, […], como coroamento e sombreamento das
coberturas. Louis Kahn, quando visita Luanda a propósito do seu projeto para o Consulado dos Esta-
dos Unidos em Angola, destaca exatamente a eficácia da dupla cobertura ou das palas de sombrea-
mento como resposta energética ao clima tropical: «Durante a minha estadia em Luanda [...] outra
coisa que me impressionou foi ver alguns edifícios cônscios do calor gerado pelas coberturas. Tinham
extensas áreas [...] de separação entre o teto e a cobertura [...], com aberturas visíveis do exterior
onde, entre os dois planos, a brisa poderia ventilar. E pensei como seria maravilhoso poder separar
os problemas do sol dos problemas da chuva.» (Magalhães, 2009).
Também Richard Neutra (arquiteto norte-americano de origem austríaca) influencia tanto a
América Latina como África, […]. Em Angola a sua influência revelou-se na relação entre o interior e o
exterior e na valorização dos espaços exteriores cobertos através do prolongamento das coberturas,
assegurando desse forma uma proteção natural tanto do sol, como da chuva (Fonte, 2006).
A interpretação das premissas do Movimento Moderno à luz da adequação dos edifícios às
caraterísticas específicas dos climas quentes húmidos torna-se num dos fatores essenciais para en-
tender a singularidade e a identidade da arquitetura moderna brasileira, que será naturalmente apro-
priada também nos territórios africanos. […] Trata-se de projetar um edifício, ponderando, através dos
seus elementos tipológicos, formais e construtivos, sobre o modo correto de permitir a circulação de
ar e proteger do sol e da chuva. «Nestas condições climáticas apenas a execução de alguns precei-
tos permite que as construções estabeleçam relações de concordância com o lugar e que se ade-
quem corretamente ao comportamento do sol e dos ventos e às exigências críticas da humidade.»
(Magalhães, 2009).
Em comparação com o quadro atual no que diz respeito ao ambiente construído e dinâmica
da cidade e devido ao acima exposto estas premissas alteraram de forma significativa:
As caraterísticas gerais dos tipos de construção existente, quer em espaço urbano quer em
espaço rural, podem-se dividir em tipologias de (1) construção consolidada em espaço urbano; (2)
construção não consolidada em espaço urbano e (3) construção tradicional (Guedes, et al., 2011)
No primeiro grupo inclui-se todo o edificado existente com caráter não provisório […]. Englo-
ba, portanto, o edificado consolidado e de vários períodos de construção até à atualidade. Ao nível da
habitação particular ou unifamiliar, os edifícios vão sendo mantidos, sofrendo por vezes algumas alte-
rações, por exemplo nos seus revestimentos, que nem sempre são as mais adequadas. Os métodos
construtivos seguem as disponibilidades do mercado, sendo os projetos bastante variados quanto à
sua conceção (Guedes, et al., 2011).
Este “boom” construtivo verifica-se principalmente ao nível das infraestruturas básicas de
apoio (viárias, de saneamento e de abastecimento de água potável, gás e energia), da construção de
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63
ais disponíveis, e o cumprimento de estratégias construtivas e arquitetónicas adequadas ao contexto
[…] (Guedes, et al., 2011).
No que à construção tradicional diz respeito é de notar que: As construções tradicionais estão
maioritariamente presentes em espaço rural. […] No que concerne às caraterísticas construtivas e
materiais aplicados, […] os materiais mais utlizados – paus, caniços, colmo, madeiras, adobe e pe-
dra, se encontram facilmente por todo o país, apesar de possuírem caraterísticas diferentes. José
Redinha (citado em (Guedes, et al., 2011)), no seu livro – “A habitação tradicional Angolana – aspetos
da sua evolução”, descreve os diversos tipos tradicionais de habitação, de acordo com a sua distri-
buição geográfica, etnográfica e aspetos construtivos – materiais, estrutura e métodos de construção.
[…] Estas edificações incorporam tecnologias construtivas que são o produto do conhecimento empí-
rico de muitas gerações, que ao longo de séculos desenvolveram estratégias de adaptação ao meio
ambiente, utilizando recursos locais – são assim uma importante referência para a prática atual de
uma construção sustentável Nos espaços suburbanos algumas construções seguem as tipologias
tradicionais, principalmente no que diz respeito à forma, mas são modificados alguns materiais apli-
cados, sendo por vezes esta alteração suficiente para um decréscimo no desempenho de conforto
interior. Por exemplo, a utilização de chapas metálicas na cobertura nem sempre mostra ser uma boa
estratégia, uma vez que ao ser aplicada sem qualquer isolamento adicional irá gerar situações de
sobreaquecimento (Guedes, et al., 2011).
A ocupação não autorizada de terrenos […], a alteração de fachadas e pavimentos utilizando
materiais de construção com índices de absorção das águas das chuvas e reflexão dos raios solares
diferentes dos materiais originais, têm contribuído negativamente para o conforto ambiental dos mi-
croclimas […] (MINUA, 2006).
A crítica que aqui se faz na comparação entre o passado e o presente da arquitetura na cida-
de de Luanda não tem como intensão defender um revivalismo do passado mas, antes, chamar a
atenção para a reflexão de Minnette da Silva86 (citada por (Tzonis, et al., 2001)) relevante para os
tempos modernos, sobre as novas construções recentes [a serem edificadas nesta cidade]87:
“It is essential for us to absorb what we absolutely need from the modern West, and to learn
to keep the best of our on traditional forms. We have to think understandably in order to develop an
indigenous contemporary architecture, and not to lose the best of the old that has meaning and value”.
Ela passou a dizer que: “accepting the need to synthesize our past with the present technolo-
gy, we need to examine our own roots and understand them before achieving a creative life – in litera-
ture, music, painting, education, society, and architecture”.
86 A mais recente, mais clara, mais crítica reformulação da arquitetura tropical foi feita pela arquiteta do Sri Lan-ka, Minnette da Silva. Ela é uma das mais importantes arquitetas com prática individual do período pós-guerra, tal como Lina Bo Bardi do Brasil. Da silva regressou ao Sri Lanka vinda da Architectural Association em Londres onde estudou arquitetura em 1949. Começou a sua carreira como arquiteta trabalhando para um dos arquitetos que se tornaria o mais importante dos “arquitetos tropicais” do período pós-guerra, Otto Koegnisberger, e perma-neceu em intimidade com outros dois arquitetos, Jane Drew e Maxwell Fry. Ainda quebrou com a abordagem daqueles sobre arquitetura tropical. Para ela, uma arquitetura para os trópicos tem que ser mais do que só uma forma de controlo microclimática, apesar de também ser. Antes de 1950, da Silva estava consciente sua posição altamente original. Ela cunhou a frase para descreve-la: “modern regional architecture in the tropics” 87 Nota do Autor
64
Ela defendeu a sua posição afirmando: “As an architect I believe in and so cannot subscribe
to copying the architecture of an era that is long past. As an architect I believe in building to suite our
living needs in a living way, utilizing the most suitable modern and progressive means at our disposal,
and on adopting these sound and fundamental principles of building of the past, which are as authen-
tic today as before. It is from this that a beautiful and satisfying modern architecture can result”.
À este propósito refira-se as “tentativas científicas de adaptação” (cf.3.3.1) em Angola na
pretensão de construção de uma cidade tropical de expressão portuguesa, […], pois que, outras
construções mais precárias88 [..], eram também construídas, em lugares estratégicos e utilizando as
influências das construções tradicionais de Angola, os materiais naturais, numa miscigenação entre a
arquitetura tradicional angolana e a portuguesa, que respondia adequadamente aos constrangimen-
tos do clima especialmente difícil de suportar – o calor, a humidade, as chuvas, os insetos (Fonte,
2006).
Isto não quer dizer que ela (Minnette da Silva) rejeitava os materiais tradicionais e as técnicas
de ventilação em princípio. Por exemplo, ela sugeriu a utilização da terra compactada tradicional para
casas de baixo custo, desde que combinada com técnicas de construção moderna. Entre os elemen-
tos que ela reteve no seu desenho historicista livre foi a varanda, aquela invenção tropical asiática,
uma área sombreada separando o interior e o exterior, um pouco como uma imaterial, virtual não-
parede (Tzonis, et al., 2001)
A par da varanda ela (Minnette da Silva) reteve a midula; “I considered the movement of air
within the house as one of the primary concerns and was to achieve this with the utilization of split-
levels, midulas and stairwells situated in the center of the plan.” Por outras palavras ela aplicava o
princípio de Venturi, permitindo nos seus esquiços “a possibilidade de se movimentar horizontal e
verticalmente através da casa – […]” (Tzonis, et al., 2001).
Para da Silva (citada por Tzonis, et al.( 2001)), assim como Mumford, a arquitetura tropical foi
explicitamente ligada à questões da comunidade:
�“Our community and social needs should find regional expression in town plans,
housing schemes and public buildings. What so often happen is that we copy
the closed-in types of western building quite unsuited to our region, or adapt
traditional architecture in an equally unsuitable way, forgetting that it is merely
ludicrous to make them concrete now”.
Em Angola existem bons exemplos de arquitetura adequada ao meio ambiente em que se
insere. Contudo, hoje em dia a prática de uma arquitetura passiva ou bioclimática, com preocupações
ambientais e energéticas, necessita ainda de implementação. Embora as publicações existentes refi-
ram extensamente os potenciais benefícios desta arquitetura, o seu uso é ainda muitas vezes mal
compreendido, sendo erradamente considerado um risco, ineficiente, demasiado complicado ou caro.
88 De foro religioso, militar, administrativo ou comercial
65
Por exemplo, em muitas novas construções as preocupações de climatização são deixadas para en-
genheiros, que tendem a adotar o uso “seguro” do ar condicionado (Guedes, et al., 2011).
Figura 26 –Prédios com varandas encerradas e uso do ar-condicionado, em Luanda (mau exemplo
de uso)
Fonte: Autor
Figura 27 – Bom exemplos de soluções arquitetónicas em Luanda (grelhas de proteção do vidro e
ventilação natural)
Fonte: Autor
Esta reflexão crítica é, portanto, uma chamada de atenção para muitas das escolhas e op-
ções que se têm adotado nas soluções arquitetónicas que se têm observado atualmente na cidade de
Luanda, pelo que deve-se questionar sobre a sua aplicabilidade ao contexto climático económico e
social, com prováveis repercussões no consumo de energia, logo, de recursos não renováveis. A
Figura 28 ilustra um dos aspetos que merece profunda reflexão no contexto da cidade de Luanda.
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67
5.5. Os casos de estudo – Aplicação do LiderA África às duas unida-
des habitacionais em Luanda.
5.5.1. Enquadramento
Na sequência dos pressupostos referidos nos capítulos anteriores, no que a arquitetura sus-
tentável e arquitetura tropical se referem, e dos seus princípios, o presente estudo de caso tem como
objetivo analisar duas tipologias construtivas unifamiliares existentes, na cidade de Luanda – um
apartamento e uma moradia –, relativamente à integração destes princípios e estratégias, utilizando-
se indicadores da construção sustentável do sistema LiderA África. Neste estudo, a avaliação feita às
tipologias habitacionais tem relevância pelo facto de, para além de já ter decorrido algum tempo des-
de a sua construção, pretender-se aferir se nas mesmas os critérios propostos pelo sistema de avali-
ação da construção sustentável são verificados. De realçar que devido a dificuldade de obtenção de
alguma informação relevante sobre as construções avaliadas, alguns créditos não foram verificados
mas também porque muitos daqueles não constituírem práticas usuais, no que ao melhor desempe-
nho sustentável se refere, da realidade estudada. No entanto, a avaliação incidiu sobre os que melhor
se aproximam à realidade de estudo.
O Projeto NOVA VIDA
Iniciado em 2001, resultado de investimentos públicos com objetivo de minimizar os proble-
mas habitacionais dos funcionários públicos e da população em geral, o projeto Nova Vida89 foi ergui-
do na sua primeira fase com habitações subdivididas em apartamentos do tipo T3 e vivendas do tipo
T3 e T4. Trata-se de um projeto onde o Governo [de Angola] promove a construção e venda de habi-
tação, […], num universo de mil quatrocentas e trinta e quatro casas com capacidade para alojar vinte
mil habitantes. Devida a carência de casas em Luanda, o governo de Angola constrói o projeto Nova
Vida para albergar a classe média angolana, e ex-militares90. Além das habitações, a vila residencial
conta com escolas, centro de saúde, esquadra da polícia, centro comercial, bem como jardins públi-
cos para lazer e terá um total de 24 quilómetros de arruamentos. O processo geral de construção das
habitações na primeira fase, foi executado pela empresa Grupo Five91. Além da construtura sul-
africana, outras empresas trabalharam no Projeto Nova Vida como a Habitar, […], a China Jiangsu,
Somague92.
89 Localizado no município de Kilamba Kiaxi 90 http://angolaecoisalinda.blogspot.com/2008/03/projecto-nova-vida-em-luanda-angola.html 91 Empresa Sul-Africana 92 A empresa Aureacongroup também.
68
Figura 29 – Localização do projeto Nova Vida em relação ao centro da cidade
(Fonte: http://maps.google.com/)
A primeira fase do Projeto Nova Vida compreendeu, igualmente, a construção de estruturas
de bombagem e tratamento de água, tratamento de esgotos, […], e de 24 ml de conduta de água. O
abastecimento de água é feito através de uma conduta da Empresa de Desenvolvimento Urbano
(EDURB), proveniente de Kikuxi. O fornecimento de energia elétrica é assegurado pela construção de
uma linha de 60 KVA a partir da subestação da Empesa Nacional de Eletricidade (ENE). Foi construí-
da também uma subestação para assegurar a distribuição de energia93.
O projeto criou alguns desafios incluindo a fonte e transporte de materiais de construção ade-
quados, a operação da força de trabalho94 multinacional e multiligue, bem como o desafio de fornecer
dicas in-situ para treinamento e acompanhamento.
O Nova Vida é um exemplo pioneiro do que pode ser alcançado através de um grupo de trabalho,
perícia e inovação. O projeto recebeu o prémio Concrete Society of Southern Africa´s Fulton for “Ex-
cellence in the Use of Concrete” em 200595.
Terminada a primeira fase há mais de cinco anos, perspetiva-se construir na segunda fase,
mil oitocentas e sessenta e duas habitações. Oferecer habitações compatíveis com à realidade cultu-
ral dos angolanos e baixar os custos de construção são os principais objetivos do governo.
93 http://www.aurecongroup.com/en/Projects/Government/Nova-Vida.aspx 94 Realce para a inclusão de mão-de-obra local 95 http://www.aurecongroup.com/en/Projects/Government/Nova-Vida.aspx
Projeto Nova Vida
Centro da cidade
69
Caraterísticas urbanas, dos edifícios e construtivas
O empreendimento apresenta como caraterísticas urbanas o facto de estar implantado num
terreno sem grandes declividades, quase plano, que outrora eram terrenos rústicos em zona periur-
bana. Como referido, o empreendimento contempla vários usos (espaços verdes, escolas, equipa-
mentos públicos entre outros), alguns dos quais a serem implementados atualmente (Atrium Nova
Vida - Anexo A.7), nomeadamente um centro comercial e a continuidade do projeto (fase 2) que con-
templa habitações e outros usos complementares. Em visita ao local, constatou-se que a implantação
dos edifícios apresenta uma caraterística importante do ponto de vista da sustentabilidade que é a
orientação dos mesmos (lado menor) na direção dos ventos predominantes (direção sudoeste-
nordeste), aspeto que permite experimentar as brisas naturais, no exterior e no interior dos edifícios.
Concomitantemente com este aspeto, a disposição dos mesmos, no terreno, apresenta-se
“desfasada” de modo a se evitar a obstrução destas brisas. Nos interstícios entre eles estão construí-
dos espaços verdes para recreio e lazer, e espaços para estacionamento de viaturas ao ar livre. Os
edifícios apresentam como caraterística fundamental a forma de um trevo alongado, correspondendo
cada “folha” a um apartamento; com quatro pisos acima do solo, são unidades construídas com preo-
cupações de sustentabilidade e compreendem quatro apartamentos por piso. Para além da sua orien-
tação (edifícios), têm uma composição formal em planta e elementos que potenciam a circulação de
ar – hall entre os apartamentos “aberto” e aberturas superiores (Figura 34).
Figura 30 – Localização dos edifícios onde se situa o apartamento (Projeto Nova Vida)
(Fonte: http://maps.google.com/)
Outro aspeto a realçar é que os apartamentos não têm paredes-meias entre si, aspeto que
permite ter o hall, de entrada nos apartamentos, permanentemente ventilado. A volumetria que apre-
senta é a de um prisma regular, com muitas arestas verticais. A cobertura é de várias águas e tem
como revestimento chapas metálicas do tipo caneladas com diversas cores (Figura 30) conforme o
70
edifício. No que as caraterísticas construtivas diz respeito é de realçar o betão armado como material
predominante, que ao nível das ruas (calcetamento) e dos edifícios: The Nova Vida project, compri-
sing 2.448 residential units, constructed using the group's patented precast building system96, Goldflex
[…]; With a shortage of materials and limited skills at Nova Vida, the precast concrete construction
methods have proved to be ideal solutions. The controlled factory environment used during pre-
casting ensures that high quality standards are maintained throughout the construction process97.
Figura 31 – Vista aérea da construção do projeto Nova Vida e uma das ruas com moradias construí-
das
(Fonte: Autor)
Apartamento Unifamiliar
O apartamento98 objeto de análise é uma fração habitacional de tipologia T3, com uma área
bruta privativa de cerca de 100 m2 (Anexo A.8), implantada no quarto andar de um edifício de quatro
pisos (incluindo o rés-do-chão). Trata-se de um edifício cujo perímetro apresenta uma forma irregular
cuja razão técnica, em nosso entender, assenta em pressupostos e princípios de sustentabilidade. O
apartamento é composto por três quartos, duas casas de banho, uma sala comum, um cozinha com
área de serviço e uma varanda. No que concerne aos materiais, o predominante é o betão armado
com elementos modulares (pavimentos, paredes). Os materiais de acabamento são correntes, embo-
ra o apartamento apresente algumas caraterísticas de traça original conjugadas com obras de remo-
delação: no pavimento, nas janelas, nas quais se colocaram caixilharia de alumínio, e pintura nas
paredes. Apesar de não se fazer uma descrição exaustiva das caraterísticas dos materiais empre-
gues na remodelação efetuada (porque não foi possível apurar esses dados), é do nosso conheci-
mento que são habitualmente adquiridos em locais onde existe disponibilidade para comercialização,
normalmente nos pequenos lojistas ou no mercado paralelo local.
96 The Brun pre-cast tank system – for which Group Five holds the sole South African licence – is ideal for the construction of reservoirs, silos, water treatment tanks and sewage plants in rural and remote areas. Fonte: http://www.engineeringnews.co.za/article/group-five-uses-brun-precast-system-in-angola-2003-11-12 97 Idem 98 Por questões e privacidade e segurança não é revelado o número do lote nem do apartamento.
71
Avaliação de Sustentabilidade – o apartamento
Para análise do apartamento pelo sistema LiderA África, tomou-se como pressupostos a in-
formação pesquisada e os dados observados no local. De realçar que alguns créditos foram atribuí-
dos ao empreendimento, no seu todo, como necessidade de resposta às “questões” do sistema Lide-
rA; os outros créditos dizem respeito ao apartamento, pelo que se procedeu a sua atribuição para
verificação do cumprimento de determinada vertente/área. A seguir são apresentados os critérios e a
fundamentação na sua avaliação para cada vertente:
Vertente: Integração Local
Valorização Territorial (A1) – este critério tem como classe de desempenho a C, porque no Projeto
Nova Vida há uma intenção expressa de promoção de aglomerados urbanos compactos, isto é cir-
cunscrito a uma zona específica. De referir que foi edificado numa zona onde o uso do solo era desti-
nado à agricultura (hortas e quintas) e em algumas situações degradado e não aproveitado de forma
útil. Apresenta construções nos vazios urbanos, nas zonas degradadas ou abandonadas, como era o
caso; De referir que promove a construção de redes urbanas infraestruturadas (redes de esgotos,
telecomunicações, gás e água); Promoção da adoção de vários usos do solo simultâneos, onde se
verifica a existência de mais de quatro usos.
Figura 32 – Vista exterior de edifícios do Projeto Nova Vida
(Fonte: Autor)
Valorização ecológica (A2) – No que à valorização ecológica diz respeito a classe de desempenho
obtida é B, pela satisfação dos seguintes requisitos: Interligação das zonas verdes através da conti-
nuidade por arborização e espaços verdes permeáveis. Destes últimos, verifica-se um contínuo em
várias direções que permite as ligações entre espaços verdes ao longo dos quarteirões apesar de se
verificar (Figura 30) algumas zonas menos bem tratadas.
Valorização paisagística (A3) – A valorização paisagística tendo em conta a verificação de aspetos
referentes ao edificado e aos espaços verdes permitiu atribuir a classe de desempenho C. O funda-
72
mento para esta classificação deve-se ao facto de que para o edificado satisfaz-se o seguinte: A ade-
quada intervenção às condições topográficas locais; a inserção visual na circundante onde este edifi-
cado está implantado; e a promoção do alinhamento das cérceas, consubstanciado em edifícios com
a mesma altura. Relativamente ao espaço exterior, o projeto cria condições de valorização estética da
paisagem, definição do espaço urbano e da sua malha. Não se verificou nos edifícios quaisquer pa-
ramentos verticais opacos (empenas, taludes, etc.).
Vertente: Recursos
No que respeita especificamente aos Recursos, os critérios de base são os seguintes:
Gestão da Energia (A4) – Relativamente a este critério a classe obtida por atribuição de créditos foi
a E. Isto porque no que ao Desenho Passivo se refere verificou dois pontos nomeadamente: a situa-
ção/organização favorável face a outros edifícios ou condicionantes naturais; um dos materiais utili-
zados é o betão armado como material predominante e que apresenta massa térmica média a forte.
No capítulo dos vãos: a caixilharia utilizada apresenta estanquidade às infiltrações de ar e no que a
ventilação natural cruzada diz respeito é de realçar que os vãos propiciam aquela. Apesar disto a
classe no que respeita a este critério está muito próxima da prática de construção habitual.
Gestão da água (A5) – A classe que traduz o desempenho nas atuais condições para este critério é
a C, porque é garantido o acesso à água potável através do tratamento desta depois de captada e
canalizada, cuja origem é a localidade de Kikuxi; o tipo de fonte de obtenção água no interior das
frações habitacionais é através de torneiras; tendo em conta que qualquer intervenção urbana deve
ter, por lei, infraestruturas urbanas necessárias ao seu correto funcionamento este empreendimento
não é exceção, no que ao fornecimento de água em particular se refere; esta água fornecida é conti-
nuamente monitorizada para garantir a sua qualidade junto dos consumidores. A gestão das águas
residuais é garantida por sistemas de coleta em cada apartamento e são direcionadas para a rede
pública, devidamente separadas, por imperativos legais.
Gestão dos materiais (A6) – A classe atribuída para este critério foi a D. Os créditos atribuídos são
devidos a durabilidade dos materiais, ou seja, constata-se: a aplicação de soluções/materiais durá-
veis na estrutura do empreendimento (betão armado pré-moldado, lancis de betão, metais nas guar-
das, outros), com uma duração estimada entre [40 - 50[ anos; a aplicação de soluções/materiais du-
ráveis nos acabamentos exteriores do empreendimento, com uma duração estimada entre [5-10[
anos; a aplicação de soluções/materiais duráveis nos vãos do empreendimento, com uma duração
estimada entre [5 - 10[ anos e a aplicação de soluções/materiais duráveis na envolvente do empreen-
dimento, com uma duração estimada entre [20- 30[ anos
73
Produção local de alimentos (A7) – A classe atribuída à este critério foi a E. Isto porque não se
verificou no local qualquer indício de produção de alimentos como estratégia com objetivos definidos,
por parte dos promotores do empreendimento, nem se verifica atualmente.
Vertente: Cargas ambientais
Gestão dos Efluentes (A8) – Atribuiu-se à este critério a classe de desempenho C. O total de crédi-
tos obtidos satisfazem os seguintes elementos: as infraestruturas locais funcionam servindo os habi-
tantes locais, cujas habitações estão providas de equipamentos para o efeito (por exemplo, sanitas
com autoclismo; e a quantidade de frações servidas pelo sistema de saneamento básico comunitários
é superior a 50%.
Gestões das emissões atmosféricas (A9) – As fontes de emissões atmosféricas têm várias origens
neste empreendimento (fogões a gás, esquentadores/caldeiras, fumo do tabaco permitido, existência
de poeiras, existência de bactérias) e, por isso, a classe C foi a mais adequada, pelo facto de que no
somatório dos créditos e por observação da realidade de estudo, ter-se verificado a existência de um
conjunto de pressupostos que permitiram chegar a esta conclusão.
Gestão dos resíduos (A10) – A classe para este critério é a E (prática usual). Isto deve-se ao facto
de não se ter observado nenhuma prática de gestão que pressupõe a redução, reciclagem e reutiliza-
ção dos resíduos urbanos e da construção, tendo-se unicamente verificado a recolha destes sem
preocupação de diferenciação para a reciclagem.
Gestão do ruído (A11) – A classe C é a que foi atribuída a este critério, porque existe um conjunto
de medidas que permitem minimizar o ruído proveniente do e para o exterior, relativamente aos uso
de equipamentos.
Gestão ilumino-térmica (A12) – As valências de minimização de alguns impactes desta natureza na
urbanização do projeto Nova Vida permitiu que se atribuísse a classe de desempenho B. Isto porque
verifica-se a minimização das superfícies impermeáveis, constatando-se a existência de maiores
áreas exteriores permeáveis e vegetação (Figura 32). As cores claras no interior do apartamento são
uma evidência. Acrescido a estes créditos tem-se os que se referem à boa orientação dos edifícios
em relação às brisas e ventos dominantes, favorecido pela implantação dos edifícios e da sua rela-
ção, que favorece a distância necessária para aquele efeito, diminuindo a propensão para o fenóme-
no da ilha de calor urbano. Não se verificou a existência de luminárias com intensidade que prejudi-
que habitats humanos e naturais.
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Vertente: Vivência Socioeconómica
Contribuir para acessibilidade (A16) – Classe E por verificação do seguinte: existência de pelo
menos 1 transporte público/coletivo; as ligações de baixo impacte favoráveis são: caminhos pedonais
junto do edifício e com dimensões adequadas ao fluxo diário de pessoas, tendo-se verificado que são
percursos exclusivamente pedonais.
Contribuir para a dinâmica Económica (A17) – O fomento trabalho local, ou seja, o crescimento de
muitas oportunidades de emprego devem-se a expansão urbana e necessidade crescimento de usos
complementares à habitação, e bem como a promoção da igualdade de género e de estatuto social
na criação de emprego local, permitiu que se atribuísse a classe D relativamente ao desempenho
deste critério. São disso exemplo a construção do Centro Comercial Nova Vida, postos de abasteci-
mento de combustível, entre outros.
Contribuir para as amenidades (A18) – Este critério foi avaliado com a classe D porque existe pelo
menos uma amenidade natural nas imediações do empreendimento e é de realçar a existência de
outras amenidades humanas nomeadamente lojas de géneros alimentares, farmácia, centro de saú-
de, escola primária e/ou secundária, posto de bombeiros, esquadra de polícia, entre outros.
Condições de controlo (A19) – Como o critério anterior, também se avaliou este com a classe D:
existem soluções e dispositivos integrados na construção – grelhas de ventilação, janelas, etc – que
permitem o controlo ambiental e de segurança por parte dos utilizadores nomeadamente da tempera-
tura, humidade, ventilação natural e/ou artificial, iluminação natural e/ou artificial, existência de espa-
ços bem iluminados, vigiados e com campo de visão aberto, edifícios com fachada e acesso principal
inserido na frente/rua (Figura 34).
Contribuir para os baixos custos no ciclo de vida (A20) – Quanto a este critério a classe é C devi-
do ao bom desempenho na escolha de materiais duráveis e com tempo de vida útil elevado (o betão
armado, caixilhos metálicos, portas de madeira); estes materiais estão corretamente aplicados de
acordo com a exigência a que estão submetidos. De realçar alguns materiais com probabilidade de
aproveitamento ou reaproveitamento.
Vertente: Uso sustentável
Promover a utilização e gestão (A21) – A classe de desempenho E para este critério é a mais ade-
quada porque não se verificam quaisquer medidas de promoção de gestão sustentável.
76
Promover a inovação (A22) – Uma vez que não existem elementos inovadores ou de inovação rela-
tivos ao uso sustentável, a mesma classe foi atribuída a este critério, ou seja, E.
Na escala desempenho global o empreendimento e o apartamento estudados avaliados em conjunto,
têm classe C (13,21%), que é uma classe de desempenho com 25% de melhoria face a prática usual.
De realçar que esta classe global de desempenho permite que a unidade habitacional avaliada seja
reconhecida pelo sistema LiderA África. No entanto, somos de opinião que para um melhor desem-
penho sustentável do apartamento inserido no empreendimento, seriam necessárias algumas melho-
rias que incidiriam essencialmente nos critérios cuja classe de desempenho se encontra no nível da
prática usual (Classe E).
As melhorias seriam então na vertente Recursos, nos critérios Gestão da Energia (A4) (que pressu-
poria a preocupação com a introdução de elementos de design ativo, como o consumo de energia
proveniente de fontes renováveis, e de equipamentos que consumam menos energia), e a Produção
local de Alimentos (A7) (por exemplo as hortas urbanas); na vertente Cargas Ambientais, no que a
Gestão dos resíduos (A10) se refere (através da recolha seletiva a partir das casas e das empresas
de recolha em meio urbano, conjugadas com campanhas de sensibilização e formação local).
Outra medida de melhoria seria na vertente Vivência Socioeconómica, relativamente ao critério Con-
tribuir para a acessibilidade (A16) (através de políticas de serviços de transportes públicos que sirvam
o projeto/bairro e, consequentemente, do fomento do uso daqueles transportes, diminuindo a utiliza-
ção do carro próprio nas deslocações de proximidade, e pendulares casa-trabalho, o que aumentaria
a convivência e interação social, com benefícios para o ambiente).
De referir igualmente a necessidade de melhoria no critério Contribuir para as Amenidades (A18),
com maior predominância das naturais, para usufruto dos habitantes locais.
Por último, as melhorias a serem feitas na vertente Uso Sustentável, ao nível dos seus dois critérios:
Promover a utilização e gestão [da sustentabilidade], e da Inovação em matéria de sustentabilidade,
deverão ser efetuadas uma vez que nada se observou na avaliação feita, logo, o que existe e se con-
cebeu está conforme a prática usual. Conforme explicado nos capítulos anteriores, uma correta ges-
tão em matéria da sustentabilidade permite mitigar e, por vezes, eliminar alguns impactes ambientais
provocados pelas construções e o ambiente construído.
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zados na construção da moradia são essencialmente blocos de betão, na construção das paredes,
revestidas a argamassa, sobre a qual assentam mosaicos cerâmicos nas zonas húmidas, ao contrá-
rio das zonas secas onde são pintadas. O pavimento é todo revestido a mosaicos cerâmicos. A co-
bertura é revestida à chapa metálica, vulgarmente designada de canelada, assente sobre estrutura
metálica. Do ponto de vista da localização a mesma está implantada a cerca de 14 km (15 min, via-
gem de carro) do centro da cidade, em zona com uso predominantemente habitacional, e foi objeto
de obras de reabilitação dos acessos (estradas asfaltadas) bem como a construção de alguns equi-
pamentos públicos e sociais de promoção privada e estatal. De realçar que é uma zona que tem pro-
gressivamente evoluído relativamente aos usos que complementam o habitacional.
Avaliação de Sustentabilidade – moradia
Vertente: Integração Local
Valorização Territorial (A1) – Classe C para esta moradia e sua implantação porque no que a análi-
se do solo diz respeito grande parte da área é permeável e existe vegetação que ajuda a proteger os
solos contra a erosão (Anexo A.9).
Valorização ecológica (A2) – Apesar de a classe de desempenho A+, ser muito exigente quanto aos
requisitos para a sua atribuição é de notar que esta foi feita tendo em conta as valências observadas
nomeadamente: uma grande percentagem do terreno está ocupada por área verde e espécies arbó-
reas diversas sobretudo autóctones (mangueiras, limoeiros, bananeiras, entre outras); pelo facto são
potenciadas as ligações com outras áreas verdes adjacentes em outros logradouros pressupondo
boa permeabilidade dos solos e fomento da biodiversidade.
Valorização paisagística (A3) – A adequação da construção da moradia à envolvente construída
existente, embora o tipo de construção seja melhor que aquela, o uso de materiais e técnicas constru-
tivas locais permitiu atribuir a classe de desempenho B.
Vertente: Recursos
No que a vertente recursos diz respeito e de acordo com os critérios tem-se que:
Gestão da Energia (A4) – A classe E é a que melhor se adequa ao desempenho deste indicador na
medida em que não se verificam muitas estratégias de sustentabilidade relativamente ao uso da
energia. Mais, o fornecimento de energia é deficiente e muito intermitente, sendo a fonte de energia
mais utilizada o gerador. No entanto, os créditos são obtidos através do desenho passivo (massa
79
térmica da estrutura média); através do desempenho dos vãos que estão sombreados e a estanqui-
dade da caixilharia aos agentes atmosféricos. Apesar dessas medidas não existem grandes melhori-
as que permitam obter um desempenho para além da prática habitual, uma vez que devido ao fraco
fornecimento de energia, consome-se muito combustível no uso do gerador.
Gestão da água (A5) – Classe E, porque é garantido o acesso a fontes de água potável através de
dispositivos como torneiras, cuja distribuição é feita por um tanque de água subterrâneo que está
ligado à rede pública. Verifica-se igualmente a existência de sistemas separativos de recolha de
águas residuais através de fossas séticas, situação muito comum em construções em zonas não
urbanizadas.
Gestão dos materiais (A6) – A classe de desempenho é a C, que se justifica pelo uso de materiais
locais com durabilidade de pelo menos 20 anos, nomeadamente, blocos de betão (fabricados no local
da obra), pintura, pavimentos resistentes ladrilhados, entre outros, facilmente substituíveis e passíveis
de aquisição localmente.
Produção local de alimentos (A7) – No interior deste lote existe produção de alimentos para con-
sumo próprio, a partir de várias espécies arbóreas. São exemplo a manga, o mamão (papaia), limão,
chá de caxinde, goiaba, entre outros, que permite a atribuição da classe de desempenho A. De referir
ainda a criação de galinhas e, a partir destas ovos e carne (Anexo 0).
Vertente: Cargas ambientais
Sobre a vertente das cargas ambientais os critérios associados foram avaliados como se segue:
Gestão dos Efluentes (A8) – A condução dos efluentes neste lote urbano é feita através de fossas
séticas onde é feito o seu tratamento natural, cujos resíduos são provenientes de dispositivos de des-
carga do interior da habitação, adequados para o efeito. Portanto, a classe de desempenho é B, por-
que satisfaz seis créditos.
Gestões das emissões atmosféricas (A9) – Neste critério verifica-se a classe A porque não existem
outras fontes de emissão para a atmosfera para além das que constam na avaliação nomeadamente,
fogões à gás, existência de poeiras resultante dos solos arenosos existentes e devido ao vento que
existe na zona e a tendência que poderá existir para o aparecimento de fungos num dos quartos inte-
riores, portanto, sem janela para o exterior. De referir que, o sistema LiderA África pressupõe a atri-
buição da classe de desempenho atribuída porque no total de créditos (negativos) só se verificam até
5, em função das condições observadas.
80
Gestão dos resíduos (A10) – Não há muito a referir sobre este critério, senão ao facto de que a
classe D foi a atribuída devido a satisfação de condições de para o armazenamento de embalagens
de limpeza, sobretudo de artigos domésticos em locais apropriados (arrumos), em virtude de existir
espaço para o efeito.
Gestão do ruído (A11) – a existência de medidas como a utilização de equipamentos no interior e no
exterior (gerador), pouco ruidosos, bem como de pavimentos pouco ruidosos permite que se atribua a
classe B. De realçar que o gerador utilizado apresenta caraterísticas de insonorização, ou seja, redu-
ção do ruído.
Gestão ilumino-térmica (A12) – Igual classe de desempenho teve este critério (classe B), por cum-
prir com os seguintes pressupostos: colocação de sombras sobre as áreas impermeáveis e/ou escu-
ras; minimização das superfícies impermeáveis (vias, passeios e parques de estacionamento exterio-
res); existência de estacionamento à superfície com sombreamento ao invés do estacionamento a
céu aberto; presença de arborização; utilização de cores claras nos seguintes elementos construtivos:
fachadas, coberturas e/ou telhado, passeios/espaços comuns exteriores; no exterior, verifica-se utili-
zação de luminárias com intensidade adequada e cuja projeção de luz incida somente na área a ilu-
minar pretendida; e controlo do tipo de iluminação passível de prejudicar habitats humanos e naturais.
Figura 36 – Interior da Moradia
(Fonte: Autor)
Vertente: Conforto ambiental
Já no que diz respeito à vertente conforto ambiental, os critérios s critérios foram avaliados da se-
guinte forma:
Gestão da qualidade do ar (A13) – Apesar de a moradia estar implantada num lote localizado em
zona com pouco rugosidade urbana, os ventos dominantes não favorecem o seu refrescamento atra-
vés da ventilação cruzada. Isto porque a moradia está construída de tal modo que os ventos não pe-
netram no seu interior. Agravado a esse facto, e apesar de ter teto falso (sem isolamento térmico), a
cobertura em chapa metálica sobreaquece alguns dos espaços interiores da moradia, devido a trans-
81
ferência de calor por radiação. O único aspeto a realçar é que existe uma boa circulação de ar no
exterior da moradia permitindo ter alguma salubridade no interior, relativamente a microrganismos,
mas não a mais adequada. Nesse sentido a classe de desempenho é a B, pela satisfação dos crité-
rios referidos.
Gestão do conforto térmico (A14) – A classe de desempenho para este critério é a C apesar do
conforto ser parcialmente satisfeito, isto é, na época mais fresca do ano, vulgarmente designada de
cacimbo. Isto porque as chapas e a má orientação da moradia são fatores que potenciam o descon-
forto térmico em períodos mais quentes do ano em Luanda. Apesar disso algum conforto é consegui-
do devido a: Utilização de paredes que permitam trocas adequadas entre o interior e o exterior; a
minimização de pontes térmicas; e o sombreamento de vãos envidraçados (preferencialmente exteri-
ores) (Figura 36).
Gestão de outras condições de conforto (A15) – Este critério apresenta a classe B como classe de
desempenho porque é garantida a iluminação natural nas divisões principais, nas divisões secundá-
rias e comuns; os acabamentos interiores são de cor clara (Figura 36); há diminuição das superfícies
interiores muito refletoras, existe boa orientação e distribuição dos vãos envidraçados, face às condi-
ções locais de iluminação. Do ponto de vista da acústica a moradia insere-se numa zona com pouco
ruído na envolvente: localização correta do edificado de forma a garantir a proteção a fontes de ruído
locais e no mesmo é aplicado teto falso que minimiza os ruídos. A caixilharia é estanque aos ruídos
(madeira com vidro simples).
Vertente: Vivência Socioeconómica
Na vertente socioeconómica, ou seja, acesso para todos os critérios tiveram a seguinte avaliação:
Contribuir para acessibilidade (A16) – Por se tratar de uma zona periurbana e não haver um orde-
namento do território adequado, verifica o serviço de transportes públicos com pouca eficiência, uma
vez que não existem paragens devidamente localizadas e os horários não são conhecidos. Pelo facto
a classe de desempenho atribuída foi a E, uma vez que existem pelo menos dois meios de transporte
público, sendo o segundo fornecido como serviço informal praticado por pessoas singulares muitas
delas não credenciadas para o efeito. No entanto, reconhece-se a utilidade destes na medida em que
colmatam em grande medida o fraco serviço dos transportes das empresas estatais.
Contribuir para a dinâmica Económica (A17) – Classe E porque se trata de uma habitação unifami-
liar e não existem medidas que justifique a atribuição de outra classe.
Contribuir para as amenidades (A18) – Não existem quaisquer amenidades naturais nas imedia-
ções da moradia, ao contrário das amenidades humanas, portanto, a classe de desempenho é a E.
82
Condições de controlo (A19) – Devido a existência de formas de controlo das condições de vivência
no local, para conforto humano, a classe atribuída foi a D, em virtude da possibilidade de controlo dos
seguintes itens: vento, sombreamento, Iluminação no exterior, temperatura, humidade, ventilação
natural e/ou artificial, sombreamento e Iluminação natural e/ou artificial, no interior. Há ainda a referir
as soluções que fomentam a salubridade no local, nomeadamente, os sistemas de tratamento de
águas residuais (fossas séticas) – Figura 35.
Contribuir para os baixos custos no ciclo de vida (A20) – A classe A+ é a que, preenchidos os
créditos deste critério, permite atribuir um bom desempenho devido à práticas de usos de materiais
duráveis e de procedimentos adequados para uma construção mais sustentável.
Vertente: Uso sustentável
Relativamente à vertente uso sustentável não se verificaram práticas diferentes da habitual (classe
E).
Promover a utilização e gestão (A21) – Para este critério verifica-se a prática usual, por inexistência
de qualquer medida que permita aferir a promoção da utilização e gestão sustentáveis. A classe de
desempenho é, portanto, E.
Promover a inovação (A22) – Não foram verificadas quaisquer medidas ou estratégias de inovação
para desempenho sustentável da construção, pelo que a classe de desempenho é E.
Após a avaliação de todos os critérios, obteve-se a classe global de desempenho C (14,41%)
para a moradia, face a situação atual (classe E), e pressupõe uma melhoria de 25% na escala de
níveis de desempenho. Isto permite aferir que a construção avaliada é passível de reconhecimento
pelo Sistema LiderA África no que a construção sustentável se refere.
No entanto, para um melhor desempenho as melhorias a ter em conta para o nível de de-
sempenho para este tipo de construção deverão incidir essencialmente nos critérios relacionados
com a operação da construção, dado tratar-se do penúltimo estádio das fases de uma construção.
Nesse sentido haveria necessidade de melhorar os critérios Gestão da Energia (A4), Gestão da Água
(A5), da vertente Recursos; o critério Gestão de Resíduos (A10) da vertente Cargas Ambientais; dos
critérios Promoção da utilização e gestão (A21) e Promoção da Inovação (A22), da vertente Uso Sus-
tentável.
Finalmente, é de realçar que a vertente Vivência Socioeconómica é que contribuiu mais nega-
tivamente para a classe de desempenho global obtida, uma vez que neste caso a oportunidade de
melhoria pressuporia a urbanização da zona que, consequentemente implicaria a melhoria de outros
aspetos inerentes a esta vertente, nomeadamente, as amenidades naturais, a economia local, o bem-
estar da população residente entre outros.
83
6. Discussão dos resultados
O resultado da avaliação do apartamento permitiu aferir que, os critérios que contribuíram
mais negativamente para a classe de desempenho global da unidade habitacional estudada foram os
seguintes: Gestão da energia (entre todos os critérios com maior peso), Produção local de alimentos,
Gestão dos resíduos, Contribuir para acessibilidade, Promover a utilização e gestão, e Promover a
inovação.
Nesse sentido, são os critérios que, em nosso entender deverão ser tidos em conta para se
proporem oportunidades de melhoria, pelo facto de apresentaram classe de desempenho igual a prá-
tica usual (classe E). É de realçar que, na avaliação, muitos créditos foram atribuídos tendo em conta
a realidade local que, embora não satisfeitos na íntegra, permitiram aproximar os valores de acordo
com o observado e os dados técnicos quer do apartamento, quer do empreendimento. Portanto, no
final a classe de desempenho global do apartamento avaliado é a C, com o resultado de 13,21%.
Esta classe de desempenho permite que o apartamento seja reconhecido pelo sistema LiderA África
(classes de A, B e C) face aos critérios de sustentabilidade o que, em nosso entender, denota ter
havido preocupação por parte dos construtores relativamente às questões de sustentabilidade, pelo
menos no que ao conforto térmico e ao clima diz respeito. Apesar disso, é de salientar que as ques-
tões relacionadas com gestão do projeto (operação), em matéria de sustentabilidade, são as que
mais lacunas apresentam neste empreendimento.
Considerando a classe de desempenho obtida no final (classe C – 13,21%) para os critérios
aqui discutidos, se se pretender melhorar aquela classe de desempenho para um nível superior, co-
mo oportunidade de melhoria sugerimos a atribuição da classe C à todos os critérios cuja classe de
desempenho seja inferior a C (as classes D e E), pressupondo uma melhoria de 25% em relação à
prática usual. Nesse sentido, teríamos no final uma classe de desempenho B com 14,68%. Esta clas-
se B, a obter-se pressupõe uma melhoria em 37,5% face àquilo que é a prática de construção usual
em termos de sustentabilidade, portanto, um valor significativo.
No que ao resultado de avaliação da moradia se refere, é de realçar que, apesar de a mesma
se situar em zona periurbana e relativamente afastada do centro da cidade, este fator poderá ter aju-
dado na avaliação de forma positiva, uma vez que se trata de uma parcela de terreno de dimensão
significativa, o que pressupõe mais espaço em termos de habitabilidade e menos densidade urbana.
Este facto permitiu que alguns critérios fossem satisfeitos, quase na íntegra. As brisas naturais favo-
ráveis à manutenção da qualidade do ar, apesar da presença de poeira em dias mais ventosos, a
vegetação e o ambiente natural, a permeabilidade do solo, foram fatores que contribuíram positiva-
mente na avaliação desta unidade habitacional. Apesar de se tratar de uma construção feita com
meios próprios (autoconstrução) e não ter havido intensão explícita, do proprietário, na promoção da
construção sustentável existem, no entanto, alguns aspetos observados que a potenciam.
Isto é verificado ao nível de alguns critérios, embora os que mais contribuíram negativamente
para que não se tivesse uma classe de desempenho global superior a B, foram os seguintes: Valori-
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zação Territorial, Gestão da energia, Contribuir para acessibilidade, Contribuir para a dinâmica Eco-
nómica, e Contribuir para as amenidades. Em nosso entender, pode-se constatar que o baixo de-
sempenho destes critérios está relacionado, entre outros fatores, com um elemento principal na ges-
tão urbana: os planos de urbanização, ou seja, a sua inexistência.
Nesse sentido, somos de opinião que uma oportunidade de melhoria para a classe de de-
sempenho dos critérios que mais negativamente contribuíram para a classe global da moradia seria,
por exemplo, a urbanização destas zonas o que permitiria obter melhores resultados, no que a gestão
da energia diz respeito (há muita dificuldade no fornecimento e com muita intermitência); na criação
de emprego local, uma vez que os habitantes desta zona são de baixa renda em termos socioeconó-
micos; as amenidades naturais, de modo a diminuir o impacte da insolação, das poeiras muito evi-
dente nesta zona, com particular destaque para a criação de áreas verdes, diminuído a erosão do
solo devido ao impacte das chuvas.
Pode-se concluir deste estudo de caso que as duas tipologias estudadas apresentam lacunas
relativamente aos principais critérios de desempenho do LiderA África, logo, considera-se que muito
terá que ser feito sobretudo pelos decisores locais para que, através de medidas corretamente deli-
neadas se consigam obter resultados mais satisfatórios relacionados com a construção sustentável,
cujo impacte ambiental negativo afeta significativamente a vida dos habitantes da cidade de Luanda.
Estes impactes são, não só ao nível do conforto humano mas também nos que advêm das más op-
ções construtivas e lacunas existentes relativamente a políticas de planeamento urbano, apesar dos
esforços verificados nesse sentido do Estado angolano, um pouco por todo o país.
85
7. Conclusão
O presente trabalho permitiu responder a um conjunto de questões, propostas como objetivos
específicos a atingir, que o tema suscita. Por se tratar de um tema pertinente e secular, permitiu
igualmente perceber a importância dos princípios da arquitetura sustentável na conceção e constru-
ção de edifícios, e ambientes construídos.
A pesquisa sobre as origens da arquitetura sustentável e a relação desta com o conceito de
desenvolvimento sustentável foi uma premissa, o que permitiu perceber a sua relação com outro con-
ceito – o de arquitetura tropical -, o qual foi pertinente na compreensão da relação do tema de estudo
com a realidade de estudo proposta – a cidade de Luanda.
No âmbito daqueles conceitos, ressaltaram como importantes o de recursos naturais, de cli-
ma – com todos os seus elementos –, o ambiente, e os recursos não-renováveis, estes últimos de
capital importância na resposta aos princípios da arquitetura sustentável.
Constatou-se que, no exercido da profissão, o arquiteto antes de iniciar o processo de conce-
ção, deve procurar perceber o clima, premissa fundamental para a tomar opções construtivas consen-
tâneas com a realidade climática do local a intervencionar bem como dos recursos a alocar – de pre-
ferência locais –, a quem se destinará a construção (futuros utilizadores) e o uso futuro. Isto permitirá
adequar as decisões às condições locais existentes, de modo a criar e manter a construção tão sus-
tentável quanto possível, de modo a ter-se um ambiente construído com o mínimo de impactes ambi-
entais negativos e sobre o conforto humano.
Conclui-se, neste âmbito, que os indicadores de sustentabilidade e a certificação energética
da construção e de ambientes construídos desempenham um papel relevante na medição – qualitati-
va e quantitativa – de elementos que permitem estabelecer e concretizar metas que se propõem al-
cançar do ponto de vista da construção sustentável.
Chegou-se igualmente à conclusão de que o problema dos impactes ambientais negativos
associados à ação antrópica está também ligado à má gestão dos recursos naturais, à gestão das
cidades, pela ausência de amenidades naturais essenciais à vivência sadia dos citadinos, situação
que muita das vezes atinge os grupos socioeconómicos mais vulneráveis que se instalam em locais
igualmente vulneráveis do ponto de vista ambiental (cursos de água, leitos de cheia, encostas sus-
cetíveis ao deslizamento de terras, entre outros locais).
De realçar que, apesar de não ter sido demonstrado de forma direta, no presente trabalho, a
relação entre a densidade populacional e a urbana (ambiente construído) da cidade de Luanda com o
clima quente que se faz sentir há, no entanto, evidências na pesquisa efetuada, da relação entre
aqueles devido aos fenómenos daí decorrentes (ilha de calor urbano; emissão de gases de efeito de
estufa; o uso excessivo de aparelhos de ar-condicionado nos edifícios, poluição do ar, entre outros) ,
devido à demanda por serviços urbanos inerente à sobrelotação populacional naquela cidade.
A arquitetura é uma atividade multi e interdisciplinar, na qual convergem diversos saberes –
sociologia, tecnologia da construção, estudos ambientais, economia, antropologia, geografia, geogra-
86
fia humana, entre outros –, os quais devem ser tidos em conta na conceção arquitetónica, uma vez
que uma decisão ou escolha não devidamente ponderadas no âmbito do seu exercício pode acarretar
impactes profundos nos quatro vetores da sustentabilidade – social, económico, ambiental e cultural –
, com graves consequências para um determinado território.
Angola é um país que está a crescer, assim como a sua capital Luanda e, nesse sentido,
somos de opinião que, a necessidade de desenvolvimento dever-se-á centrar em estratégias de ges-
tão, que permitirão evitar, corrigir e mitigar alguns dos impactes existentes e latentes, nos quais a
construção tem grande importância. É necessário o envolvimento de todos os atores sociais e é pre-
ciso realçar que apesar da necessidade de urgência na edificação das cidades e localidades deve-se
,no entanto, executar bem hoje sob pena de se estarem a comprometer demasiados recursos materi-
ais e financeiros que serão necessários para as gerações futuras.
A reconstrução de um país como Angola, com as riquezas naturais que possui e em esforço
para renascer, tem atraído naturalmente um enorme investimento estrangeiro, assistindo também à
chegada de uma nova população de todas as áreas profissionais, da construção civil à indústria pe-
trolífera, do pequeno negócio à grande multinacional, e oriunda dos quatro cantos do mundo: (novos)
portugueses, muitos brasileiros, milhares de chineses, alguns franceses, americanos, acentuando o
caráter natural de Luanda – o seu cosmopolitismo. Resta saber como é que esta presença cosmopoli-
ta e global transformará a cidade e a sua arquitetura e de que modo se cruzará, no futuro, com a he-
rança patrimonial (também cosmopolita e global) tão expressiva da Arquitetura Moderna de Luanda
(Magalhães, 2009).
É nestes edifícios novos e da “cidade histórica” que a vida dos cidadãos se desenrola diaria-
mente mas, se estas construções não responderem satisfatoriamente ao ambiente, à sociedade, à
cultura local, e às questões económicas, somos de opinião que não será possível viver numa cidade
como Luanda, devido aos inúmeros constrangimentos inerentes à sua sobrelotação e densidade ur-
bana que são , de certeza, o que mais compromete as soluções de sustentabilidade que se quer para
a cidade.
87
Bibliografia
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90
Anexos
91
A.1. A formação do clima
A rotação inclinada da Terra à volta do sol marca os ritmos das estações, que despertam a
vegetação adormecida para doar a dádiva das suas culturas. A distância relativa ao equador determi-
na principalmente que uma localidade seja fria ou quente, mas é o sol, com a sua imperativa regulari-
dade, o que marca os padrões de humidade e vento que se estendem pela superfície terrestre. As
caraterísticas do ambiente físico encontram-se cobertas por um vasto oceano de ar, cujas correntes
arrastam elementos climáticos a todas as partes do mundo, modificando-lhes em cada fase (Olgyay,
1962).
Em pontos de forte aquecimento o ar sobe, e em locais (relativamente) frios desce. O movi-
mento de massas de ar e de nuvens com humidade é conduzido por diferenciais de temperatura mas,
fortemente, influenciado pela força de Coriolis, explicado na figura A.1 (Szokolay, 2004).
Uma massa de ar estacionária no equador, de facto, move-se com a rotação da terra e tem
uma certa velocidade angular (cerca de 1.600 Km/h ou 463 m/s), portanto tem momento e inércia. À
medida que se move em direção aos polos (a nível superior), a circunferência da terra (o círculo da
latitude) reduz, por isso irá ultrapassar a superfície. Uma massa de ar em latitudes superiores tem
menor velocidade e momento de inércia, e quando se move em direção ao equador (circunferência
maior), ficará atrasada em relação a rotação da terra. Este mecanismo causa a troca de ventos entre
o Nordeste e Sueste. A atmosfera é um sistema tridimensional muito instável, tal que pequenas dife-
renças no aquecimento local (que poderão ser por causa da topografia e da cobertura do solo) podem
ter efeitos significativos nos movimentos do ar e influenciar os padrões de redemoinhos de zonas de
baixa e alta pressão (ciclónicas e anticiclónicas) (Szokolay, 2004). Muitos sistemas (e alguns muito
complexos) de classificação climática, estão em uso, para diferentes propósitos. Alguns baseiam-se
na vegetação, outros na evapotranspiração (Szokolay, 2004).
Adotando como critério a relação entre clima e vegetação, W.Köppen determina cinco zonas
climáticas básicas: tropical chuvosa, seca, temperada, floresta fria e polar. Outros autores tais como
Trewartha modificaram esta divisão baseando-se nas linhas isotérmicas dos meses mais frios
(Olgyay, 1962).
O sistema de classificação geralmente mais usado é o Köppen–Geiger, que distingue 25 tipos
de clima. Para projeto de edifícios, um sistema simples (depois de Atkinson, 1954), que só distingue
quatro tipos de básicos, é adequado. Isto é baseado na natureza do problema de conforto térmico
humano numa localização particular (Szokolay, 2004, 33) climas frios, climas temperados, climas
quentes e secos e climas quentes e húmidos:
Climas frios, onde o principal problema é a falta de calor (suba-
quecimento), ou excessiva dissipação de calor para todo ou a
maior parte do ano.
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93
A.1.1. Tipos de clima tropical
Os diferentes tipos de clima tropical são:
Os climas tropicais húmidos ocorrem numa faixa que se extende aproximadamente a 15º
do equador. Há uma variação sazonal muito pequena, diferrente da quantidade de chuva, que é
grande ao longo do ano, e a incidência de rajadas de vento e tempestades elétricas. A temperatura
de bolbo seco média máxima é entre 27 e 32 ºC. A mínima noturna varia entre 21 e 27ºC. A
humidade relativa é usualmente alta e cerca de 75%, mas pode variar entre 55 e 100%. O céu
apresenta-se bastante nublado durante todo o ano, apesar de a luminância poder variar
consideravelmente (Clark, 1993).
A radiação solar é parcialmente reflectida e parcialmente difundida pelas nuvens e humidade.
Esta última também reduz a radiação. As velocidades do vento são geralmente baixas. A vegetação
cresce rapidamemte, e níveis altos de humidade propiciam o aparecimento de mofo, algas e
ferrugem. Os mosquitos, habitalmente da malária, e ouros insectos abundam (Clark, 1993).
Climas de ilha quente e húmida, diferem do anterior no facto de a temperatura mínima
noturna poder ser ligeiramente inferior, e a humidade varia mais. O céu é mais limpo e a radiação
solar é mais forte e direta. Os ventos são frequentemente constantes a 6-7 m/s e propiciam o alívio
da temperatura e humidade. O sal na atmosfera propicia a corrosão. A grande diferença é o risco de
ventos ciclónicos, que são frequentes, não mitigáveis e destrutivos. A precipitação pode ser menor,
mas os dilúvios são similares (Clark, 1993).
Climas quentes secos e desérticos ocorrem em duas faixas entre os 15 e 30 º N/S. Há duas
estações, uma quente e outra fria. A temperatura de bolbo seco máxima é entre 43 a 49ºC na estação
quente e 27 a 32ºC na fria. A temperatua mínima nocturna é de 24-30º C quente, 10-18ºC fria. A
humidade relativa varia de 10% a 55%. A precipitação é suave e variável. Algumas tempestades
podem ocorrer, apesar de ser possível a seca durante vários anos. O brilho e a luminosidade podem
ser causados pela névoa de poeira branca. A radiação solar é forte mas a re-radiação de onda longa
liberta calor a noite para o céu frio. Os ventos são usualmente turbulentos e locais. As altas
temperaturas do dia e o rápido arrefecimento noturno provocam a fissuração dos materiais. Em
climas desérticos marítimos as temperaturas de bolbo seco máximas são usualmente menores,
mas a humidade tende a manter-se alta, devido a evaporação do mar. Estes climas são geralmente
referidos entre os mais desconfortáveis (Clark, 1993).
Climas compostos ou de monção ocorrem usualmente em grandes massas de terra
próximas dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. Aproximadamente dois terços do ano são
quentes/secos, e o outro terço é quente/húmido. Localidades acima do norte e sul às vezes têm um
terço da época de frio/seco (Clark, 1993).
94
Os valores da temperatura de bolbo seco típicas são:
Quente e seca Quente húmida Fria e seca
Máxima média diária 32-43 27-32 até 27
Máxima média nocturna 21-27 24-27 4-10
A humidade relativa é 20-55% durante as épocas secas, e 55-95% durante a húmida.
As chuvas de monção podem ser prolongadas e intensas. A precipitação anual pode variar entre 500-
1300mm, com pouca ou nenhuma chuva durante a época seca. As condições do céu variam
consideravelmente com as estações; muito nublado e aborrecido durante as monções, limpo e azul
escuro durante o tempo seco. O brilho aumenta até ao final da época seca, devido a névoa de poeira.
A radiação solar varia em conformidade. Os ventos são quentes e poeirentos durante a estação seca,
e estáveis, húmidos e frequentemente fortes durante a monção. As mudanças sazonais na humidade
relativa tendem a enfraquecer os materiais dos edifícios. As térmitas são comuns.
Climas tropicais planálticos, isto é, montanhas e planalto, cerca de 900-1200m acima do
nível do mar, tê um clima composto. A temperatura de bolbo seco máxima e mínima variam com a
altitude, e o espetro varia com a distância ao equador. A humidade pode variar entre 45 e 99%.
Quando o céu está limpo, a radiação é mais forte do que no nível do mar, mas parte de radiação à
noite pode resultar em nevoeiro.
95
Figura A.2 - Mapa com os tipos de clima tropical e respectivas zonas
(Fonte: (Fry & Drew, 1964))
A.1.2. Variáveis climáticas Definição das principais variáveis climáticas:
Temperatura (TBS99), medida à sombra, usualmente numa caixa ventilada, a tela de Steven-
son, 1,2 – 1,8m acima do solo.
Humidade, que pode ser expressa como Humidade Relativa (HR) ou Humidade Absoluta
(HÁ), ou Temperatura de Bolbo Húmido (TBH) ou temperatura de ponto de orvalho (TPO).
Movimento do ar, isto é do vento, normalmente expressa a 10 m acima do solo numa área
aberta, mas superiormente em áreas construídas, para evitar obstruções; velocidade e direção, am-
bas, são registadas.
Precipitação, isto é a quantidade total de chuva, granizo, neve ou orvalho, medidos em plu-
viómetros e expressos em mm por unidade de tempo (dia, mês, ano).
Nebulosidade, baseada na observação visual, expressa como uma fração da abóbada celes-
te (décimas ou oitavas) cobertas pelas nuvens.
99 Temperatura de Bolbo Seco
96
Insolação, isto é o período de céu limpo (quando uma sombra nítida é projetada), medido por
um registador de insolação, no qual uma lente queima uma tira de papel; mostrado como horas diá-
rias ou mensais.
Radiação solar, medida por um piranómetro (solarímetro) (Figura A.3), numa superfície hori-
zontal desobstruída e registada quer como variação de irradiância contínua (W/m2), ou a através de
um dispositivo eletrónico como irradiação a hora ou ao dia. Se o valor da irradiação horária é dado
por Wh/m2, será numericamente o mesmo que a irradiância média (W/m2) para aquela hora.
Figura A.3 – Exemplo de um solarímetro e um piranómetro
(Fonte: www.gisiberica.com)
97
A.2. Qualidade do ar interior
Nos edifícios energeticamente eficientes, a escolha dos materiais afeta a qualidade do ar inte-
rior, mais ainda do que nos edifícios convencionais. Sempre que se especifica materiais com ingredi-
entes tóxicos e há libertação de gases, os efeitos serão ampliados pela reduzida circulação de ar e
pela fraca ventilação, tendo como resultado a acumulação de uma vasta gama de impurezas no am-
biente interior. As concentrações elevadas de produtos químicos, tais como o formaldeído provenien-
te de tecidos, mobiliário e aglomerados de partículas de madeira, podem ser particularmente perigo-
sas para quem durma ou esteja amarrado a uma secretária, num espaço confinado. (Ordem dos
Arquitetos, 2001)
A qualidade do ar interior é determinada pela qualidade do ar no exterior do edifício100, pela
emissão de poluentes no interior e pela taxa de ventilação, bem como pela eficiência dos filtros e
pelos cuidados de manutenção dos sistemas mecânicos. Mais do que a maioria dos problemas ambi-
entais, a poluição do ar no interior reflete-se diretamente na saúde101 e, consequentemente, na produ-
tividade. Há efeitos crónicos de nível, difusos em certos edifícios que se acobertam na designação de
“síndroma de edifício doente” (SBS) (Levin, 1996)102. Segundo Baker, o fenómeno de síndrome de
edifício doente observa-se, quase exclusivamente, em edifícios ventilados mecanicamente (Baker,
1995)103. O que é certo, [...], é que em espaços sub-ventilados, proliferam os esporos de fungos e os
ácaros do pó doméstico, os VOCs (compostos orgânicos voláteis) atingem elevadas concentrações.
As pessoas passam 80-90% das suas vidas dentro de edifícios, sendo desconhecido o impacte da
sua permanente exposição às emissões de baixo nível de uma grande variedade de materiais, vul-
garmente encontrados nos edifícios hoje em dia. A maioria destes poluentes têm origem no próprio
edifício. Com o aumento da utilização de solventes orgânicos, de acabamentos interiores que emitem
VOCs (compostos orgânicos voláteis), de agentes de limpeza e de equipamento de escritório, a polu-
ição do ar interior tornou-se um problema grave. (Ordem dos Arquitetos, 2001)
Uma cuidadosa seleção de acabamentos do edifício será uma maneira de melhorar a quali-
dade do ar interior, embora deva ser integrada numa estratégia alargada que contemple sistemas de
ventilação, as plantas de interior, a manutenção e outros fatores.
São utilizadas três estratégias para controlar os poluentes de ar no interior: retirar do edifício a fonte
de poluição; controlar as emissões de poluentes na fonte; e expulsar os poluentes do edifício, através
de medidas de ventilação. (Ordem dos Arquitetos, 2001)
No que se relaciona com a qualidade do ar [em Angola], um dos problemas associados às
aglomerações populacionais, nomeadamente nas grandes cidades, é o aumento de veículos motori-
101 Os efeitos sobre a saúde devidos à poluição do ar interior incluem alergias e asma, doenças infeciosas, can-cro e outros danos genéticos. 102 (Ordem dos Arquitetos, 2001) 103 idem
98
zados104.São [ainda] fatores de deterioração da qualidade do ar […], o mau cheiro e os fumos prove-
nientes das queimadas dos resíduos sólidos nas áreas onde estes se acumulam (p. ex. as lixeiras do
Golf II e da Camama, em Luanda). O crescimento de áreas urbanas não planificadas e o desenvolvi-
mento anárquico de vários setores da indústria têm sido [também] fatores que contribuíram para o
aumento dos níveis de poluição do ar. […] (MINUA 2006).
Atualmente nem todas as áreas residenciais em Angola se encontram conectadas à rede elé-
trica fornecida pela Empresa Nacional de Eletricidade (ENE). Mesmo para as áreas com acesso à
corrente elétrica da ENE, esse fornecimento não é contínuo, sendo feito com frequentes interrupções.
Por esta razão, uma grande parte da população e de empresas utiliza geradores105 a gasolina ou
gasóleo como fonte alternativa (só em Luanda estimavam-se mais de 2.000 geradores vendidos em
2002) (MINUA, 2006); o que em nosso entender contribui para a má qualidade do ar em meio urbano.
104 O número de veículos em circulação em Angola aumentou significativamente nos últimos anos tanto a nível das viaturas de transporte privado, como das frotas de camiões e autocarros de transporte estatal e de empresas privadas. A este aumento não correspondeu uma expansão adequada das infraestruturas rodoviárias. Esta situ-ação provoca grandes congestionamentos das vias de comunicação, […] nos centros urbanos de grandes cida-des como Luanda, […], obrigando as viaturas a moverem-se a velocidades reduzidas nas poucas estradas exis-tentes, […]. 105 A falta de regulamento e orientações relativas à autorização de uso de geradores a gasóleo pelas grandes indústrias tem também problemas de poluição do ar. O uso de geradores origina diversos problemas ambientais: a emissão dos gases de combustão e o ruído produzido afetam prejudicialmente a saúde humana.
99
A.3. Indicadores de Sustentabilidade
Um indicador pode descrever diretamente um impacto e tomar a forma de categorias de im-
pacto tradicionais, como definidas na secção 5.3, da norma ISO 14.042 (ISO, 2000)106, e expressar
quantidade de cargas (ex.: emissões de CO2) ou de impactes (ex.: contribuição à mudança climática,
expressa em CO2 equivalente); ou ser um indicador de consequência (indireto), que descreve aspe-
tos que influenciam a magnitude de cargas ou impactes (ex.: distância do edifício aos serviços de
transporte público, considerada a frequência das linhas).
Apesar de fundamentais para ajudar a unificar a tomada de decisão económica, social, ambi-
ental e institucional, os indicadores per si não são capazes de promover melhoria de desempenho.
Metas de desempenho e desempenhos de referência (benchmarks) para cada indicador são igual-
mente necessários, para, de um lado, calibrar a análise (definir a escala de desempenho) e permitir a
avaliação do progresso (SILVA, 2003) (citado por da Silva, 2007), e, de outro, encorajar a alocação
apropriada de recursos para alcançar a taxa de progresso desejada (CIRIA107, 2001) (citado em da
Silva, 2007); [...] para ser utilizado, um indicador deve ser acompanhado, ainda, de uma explicação
quanto ao modo e à fonte de informação utilizada para atribuir valor ao indicador. A partir de meados
da década de 80, foram desenvolvidas diversas estruturas analíticas para a organização de indicado-
res na esfera das nações, principalmente de indicadores ambientais (Quadro A.3).
A rede CRISP108 estruturou os indicadores de sustentabilidade em tipo, escala do impacte,
aspeto de desenvolvimento sustentável e categoria de construção.
Uma segunda iniciativa de desenvolvimento e estruturação de indicadores de sustentabilida-
de para o setor de construção que merece destaque foi conduzida pela Construction Industry Re-
search and Information Association – CIRIA (2001), que realizou uma ampla consulta ao setor de
construção no Reino Unido109. A partir da discussão de quatro elementos do desenvolvimento susten-
tável emergiram dez temas-chave para a construção sustentável (Quadro A.4).
106 Idem 107 Construction Industry Research and Information Association 108 Construction Related Sustainability Indicators 109 Apesar de esses temas terem sido propostos para o Reino Unido, é instrutivo considerar a forma de organiza-ção dos indicadores propostos pela CIRIA.
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seguramente, mais simples do que definir precisamente o estado sustentável, é obter dados para
gerar indicadores de desempenho em relação a metas de sustentabilidade, ainda que persistam as
dificuldades de acesso a dados corretos e contínuos, necessários à formulação e manutenção dos
indicadores. A discussão sobre indicadores de sustentabilidade de edifícios foi intensificada no fim da
década de 90. Em 1999, a Universidade de Michigan realizou um workshop para discussão de indi-
cadores de sustentabilidade de edifícios (REPPE, 1999a)112, obstáculos para a sua implementação
(REPPE, 1999b)113 e estratégias (REPPE, 1999c)114. Em 2001, foi constituído um Grupo de Trabalho
no Green Building Challenge (GBC) com o objetivo de desenvolver uma lista preliminar de indicado-
res de sustentabilidade, entendidos como medidas absolutas destinadas a fundamentar a compara-
ção internacional de edifícios (da Silva, 2007).
Na reunião do GBC em Madrid (Março de 2003), houve uma mudança importante de aborda-
gem, e foram iniciados estudos para a consideração dos efeitos económicos e sociais relacionados à
construção e operação dos edifícios […] (da Silva, 2007).
Um avanço paralelo e bastante promissor nessa mesma direção é o trabalho do
ISO/TC59/SC17 na preparação de um conjunto de normas sobre sustentabilidade de edifícios e ati-
vos construídos34, que inclui um texto específico sobre princípios para indicação de sustentabilidade
de um edifício ou grupo de edifícios (ISO AWI 15392) (ISO, 2005a)115. Com o uso dessa norma, pre-
tende-se que as avaliações de sustentabilidade de edifícios sejam feitas segundo uma estrutura co-
mum e uma coleção principal de indicadores, definidos na ISO AWI 21932 (2002c)116 e na ISO TS
21929 (ISO, 2005b)117.
A influência económica do edifício é expressa com base em fluxos monetários gerados duran-
te o seu ciclo de vida, como investimentos (em terreno, projetos, manufatura de produtos, constru-
ção...); custos operacionais (consumo de energia e de água, gestão de resíduos...); custos com ma-
nutenção e reparo; e desconstrução e destino de resíduos de demolição. Na ISO AWI 21932 (ISO
TC59/SC3, 2002c)118, os indicadores económicos relacionam-se com os fluxos monetários durante o
ciclo de vida do edifício, basicamente custo ou retorno para proprietários, ocupantes e usuários. Uma
abordagem sustentável enfatiza o custo no longo prazo (análise de custos ao longo do ciclo de vida)
em vez de lucratividade no curto prazo (da Silva, 2007).
Os indicadores ambientais referenciam-se basicamente às categorias de impactos listadas na
ISO 14.042 (ISO, 2000)119: uso de recursos (solo, água, energia e matérias primas), potencial de
aquecimento global, acidificação, eutrofização, formação de foto-oxidantes, danos à camada de ozo-
no, ecotoxicidade, contaminação do solo, saúde e biodiversidade. Esses indicadores foram, por sua
112 Citado por (da Silva, 2007) 113 Idem 114 Idem 115 Idem 116 Idem 117 Idem 118 Idem 119 Ibidem
102
vez, relacionados na versão de 2003 da ISO CD 21931 (ISO, 2003b)120, que aponta uma lista mínima
de itens a serem contemplados no desenvolvimento de métodos de avaliação ambiental de edifícios.
Os indicadores sociais são tratados na ISO AWI 21932 (ISO, 2002c)121 em termos de saúde e
produtividade (riscos à saúde e clima interno); segurança do usuário, igualdade (acessibilidade) e
herança cultural (qualidade arquitetónica; flexibilidade; vida útil do edifício e adequabilidade à envol-
vente). Muitos desses aspetos sociais são usualmente tratados no nível da comunidade. A norma
tentará relacioná-los ao nível dos edifícios e grupos de edifícios (da Silva, 2007).
Como os indicadores são necessários para a tomada de decisão de diversos agentes, o pon-
to de partida para seu desenvolvimento é a identificação dos usuários principais e suas expectativas
e necessidades de informação. O uso pretendido para um sistema de avaliação pode variar conforme
a etapa do ciclo de vida em que se pretende aplicá-lo (Quadro A.2). Consequentemente, os indicado-
res utilizados para caracterizar o desempenho do edifício em cada situação de aplicação também
deverão ajustar-se à finalidade proposta. A ISO TS 21931 (ISO, 2005c)122 prevê diferentes casos de
aplicação de métodos de avaliação ambiental de edifícios. A Figura A.4 mostra os diferentes pontos
ao longo do ciclo de vida em que uma avaliação (de sustentabilidade) ambiental pode ser feita, atra-
vés dos diferentes métodos e ferramentas existentes. As linhas tracejadas indicam as modificações
parciais quanto ao modo e à extensão da abrangência das diferentes etapas do ciclo de vida permiti-
da por alguns desses métodos. As setas e círculos indicam o caráter ou natureza dos dados utiliza-
dos em cada avaliação, isto é, se ela é baseada em análise de dados anteriores (avaliação retrospe-
tiva), dados atuais (avaliação pontual, do tipo snap-shot) ou em um prognóstico bem fundamentado
(avaliação antecipatória).
No que aos desafios metodológicos e necessidades de pesquisa diz respeito, o uso de indi-
cadores prevê três etapas principais: (1) Escolha dos indicadores relevantes, que deve refletir as ne-
cessidades e preocupações das partes interessadas (agenda do setor) e a representação adequada
do objeto avaliado. Essa seleção depende de limites de decisão, do objeto e contexto de construção,
e da disponibilidade prática de informação; (2) Pesquisa dos métodos e informações adequados para
avaliar os valores dos indicadores; (3) Coleta de informações e uso de métodos relevantes para atri-
buir valores aos indicadores selecionados. Mais importante que os números atribuídos aos indicado-
res é ter o controlo preciso sobre o que o indicador efetivamente descreve e sobre as circunstâncias
em que valores foram obtidos ou à ele atribuídos. É esse controle que confere rastreabilidade e repli-
cabilidade e que permite o ajuste ou refinamento nos valores segundo as alterações de cenário e dos
dados disponíveis ao longo do tempo.
120 Ibidem 121 Citado por (da Silva, 2007) 122 Idem
Quaddro A.2 - Usu
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106
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1 Ferramanális
2 Ferramgação
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111
A.7. Planta de localização do Centro Comercial Nova Vida
Figura A.9 – Planta esquemática de parte da Urbanização do Nova Vida
(Fonte : http://www.atriumnovavida.co.ao/)
112
A.8. Vista aérea de Luanda Sul
Figura A.10 – Delimitação do projeto Nova Vida
(Fonte: http://wikimapia.org)
A.8
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Plla
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A.8.2. Evolução de Luanda Sul (2001 a 2011)
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115
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