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CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE
FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI
PEDAGOGIA
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
DÉBORA LOPES DE AGUIAR
Capivari, SP
2014
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE
FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI
PEDAGOGIA
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Monografia apresentada ao Curso de
Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari,
para obtenção do título de Pedagogo, sob a
orientação da Prof(a) Me. Patrícia Casagrande
Malaguetta.
DÉBORA LOPES DE AGUIAR
Capivari, SP
2014
FICHA CATALOGRÁFICA
A228i
Aguiar, Débora Lopes de.
A importância dos jogos e das brincadeiras na educação
infantil/Débora Lopes de Aguiar. Capivari - SP: CNEC, 2014. 35p.
Orientador: Prof.ª ME. Patrícia Casagrande Malaguetta.
Monografia apresentada ao curso de Pedagogia.
1. Jogos. 2. Desenvolvimento. 3. Aprendizagem. I. Título. II
Faculdade Cenecista de Capivari.
CDD.372.2
Dedico...
A todos aqueles que decidiram trilhar o caminho da Pedagogia, pois as crianças são o
futuro de nossa nação e todo o investimento feito a elas e por elas, não são em vão.
A todos os que entendem a importância de se trabalhar o lúdico como forma de
ensinar, pois acredito que adulto feliz é aquele que viveu uma infância onde o brincar esteve
presente como forma de explorar sua imaginação.
Agradeço...
Primeiramente a Deus que em toda a sua onipotência, nunca me deixou desamparada
mesmo nos momentos mais difíceis esteve comigo, deu-me sabedoria e fortaleceu-me para
vencer todos os osbstáculos que surgiram durante minha caminhada.
Ao meu esposo que sempre, sob qualquer circunstância, me ajudou e incentivou-me a
continuar e nunca desistir dos meus objetivos.
Aos meus pais que me ensinaram a persistir, por maiores que fossem as dificuldades
encontradas pelo caminho, e que sempre me lembraram de como essas dificuldades nos
ensinam a crescer.
A minhas irmãs Geovana e Denise por estarem sempre presentes, proporcionando
momentos onde, aprendemos juntas a perder, a ganhar e a compartilhar e, por isso tenho a
certeza de que hoje compreendemos a importância da existência uma das outras.
Agradeço a todos os alunos de todas as turmas por onde passei, pois sem perceber
contribuíram para enriquecer os momentos de aprendizagem. Principalmente às minhas
amigas Arlete, Kátia, Margarida e Rosidete que sempre estiveram comigo me ajudando em
todos os momentos.
E por fim a todos os professores “mestres na arte de ensinar” que contribuíram para a
minha formação, pois sem eles seria impossível chegar até aqui. Em especial a professora
Patrícia Casagrande Malaguetta que com todo o seu apoio, paciência e dedicação me orientou
e contribuiu imensamente na construção e na realização desse trabalho.
Estes são os meus sinceros agradecimentos.
AGUIAR, Débora Lopes. A importância dos jogos e das brincadeiras na educação
infantil. Trabalho de Curso. Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari – CNEC.
35 páginas, 2014.
RESUMO
Os objetivos da presente pesquisa são compreender a importância do lúdico na educação
infantil, entender as relações que as atividades lúdicas desempenham sobre o
desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança e perceber qual o papel do educador diante do
brincar. A fim de discutir essas questões relacionadas ao tema, pretende-se fazer uma reflexão
a partir de pesquisas bibliográficas sobre a importância dos jogos e das brincadeiras na
Educação Infantil, relatando um breve histórico sobre os jogos, as brincadeiras e a concepção
de infância, trazendo os principais autores que contribuíram para a introdução dos jogos em
sala de aula, o papel do educador na Educação Infantil, quando e como as atividades lúdicas
devem ser utilizadas e, por fim, tentar responder as questões que nortearam a realização desta
pesquisa através da análise das possíveis contribuições que os jogos proporcionam ao
desenvolvimento da criança, devendo ser valorizado e privilegiado no contexto educacional.
Palavras-chave: 1. Jogos. 2. Desenvolvimento. 3. Aprendizagem
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 08
1. BREVE HISTÓRICO SOBRE OS JOGOS, BRINCADEIRAS E A CONCEPÇÃO DE
INFANCIA .............................................................................................................................. 10
2. IMPORTANTES PERSONAGENS NA INSERÇÃO DOS JOGOS NO AMBIENTE
ESCOLAR ............................................................................................................................... 14
2.1. Froebel...................................................................................................................... 15
2.2. Vygotsky .................................................................................................................. 17
2.3. Maria Montessori ..................................................................................................... 21
3. O JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................... 25
3.1. A formação do educador da educação infantil diante do lúdico .............................. 26
3.2. Quando e como utilizar o jogo em sala de aula ....................................................... 28
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 35
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INTRODUÇÃO
Durante a disciplina “A Criatividade, o Lúdico e a Brinquedoteca” que nos foi
oferecida durante o curso de Pedagogia, surgiu o interesse pelo tema. As discussões realizadas
durante as aulas me chamaram a atenção para uma reflexão de como as atividades lúdicas são
importantes para o desenvolvimento infantil, a partir daí, meu olhar sobre as atividades
lúdicas foi sendo modificado, notei em minhas vivências no meu local de trabalho que a
prática muitas vezes está distante da teoria, que na maior parte do tempo os brinquedos, os
jogos e as brincadeiras são oferecidos e propostos às crianças sem ter um fim educativo, se
tornando mero instrumento de recreação, não existindo um planejamento e muito menos
objetivos propostos para a realização de tal atividade.
Para um melhor entendimento do tema iniciou-se uma intensa revisão bibliográfica,
que resultou na realização desta pesquisa. Os métodos utilizados para a realização da mesma
foram leituras de livros e artigos científicos, bem como textos de aulas presenciadas durante o
período do curso, buscando identificar, descrever e analisar a utilização do lúdico,
pretendendo-se fazer abordagens da importância que os jogos, os brinquedos e as brincadeiras
exercem no desenvolvimento infantil, assim como a utilização dos mesmos na educação.
Os objetivos desta pesquisa são compreender a importância dos jogos em meio à
educação infantil, refletir como o lúdico pode influenciar o desenvolvimento social, afetivo e
cognitivo da criança e abarcar como e quando utilizar os jogos e as brincadeiras em sala de
aula, com o intuito de responder os seguintes questionamentos: Qual a importância das
atividades lúdicas para o desenvolvimento infantil? Porque o professor deve introduzir essas
atividades em seu planejamento?
Visto que o ato do brincar é um direito garantido por lei a todas as crianças, pretende-
se apresentar considerações sobre como as brincadeiras atuam no processo de
desenvolvimento e aprendizagem da criança, propiciando a construção da autonomia, da
personalidade, do desenvolvimento da criatividade e a solução dos problemas de sua vida
prática.
Neste contexto, o brincar na educação infantil, apresenta-se como peça importante,
pois é no momento da brincadeira que a criança aprende as regras que estão sendo impostas
pelo grupo, ou constrói suas próprias regras baseando-se em suas experiências, assim sendo
ela se constitui como um ser social, sendo capaz de resolver conflitos e hipóteses de
conhecimento como também de compreender os outros e fazer-se entender.
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Diante disso, surgiu o interesse em pesquisar um pouco mais sobre a importância que
os jogos, os brinquedos e as brincadeiras exercem sobre o desenvolvimento e a aprendizagem.
Buscando um melhor entendimento do tema a pesquisa foi organizada em quatro capítulos,
sendo que o primeiro capítulo fará uma breve abordagem de como os jogos e as brincadeiras
eram vistos desde as primeiras sociedades e como foram sendo modificadas as concepções
sobre os mesmos, fará também uma reflexão sobre as modificações que foram acontecendo
em relação à concepção de infância.
O segundo capítulo vem tecendo considerações sobre os principais autores que
contribuíram para a inserção dos jogos na educação. Este foi dividido em três subcapítulos,
um para cada autor, no qual será apresentado um breve comentário sobre a biografia de
Froebel, Vygotsky e Maria Montessori e as contribuições de seus estudos acerca dos jogos
como forma de ensino. Mediante a pesquisa realizada sobre os estudos desses autores,
percebeu-se a importância dada aos jogos, aos brinquedos, as brincadeiras e ao educador, seja
na mediação realizada por ele auxiliando na resolução dos problemas que são recorrentes das
brincadeiras, seja na organização do ambiente onde as aprendizagens irão ocorrer.
A partir daí, para um melhor entendimento de como o lúdico pode contribuir para a
aprendizagem e a formação da criança, prescindiu-se falar no terceiro capítulo sobre o jogo e
a educação infantil, neste capítulo pretende-se abordar questões relacionadas ao educador que
trabalha com Educação Infantil e de como e quando os jogos podem ser utilizados em sala de
aula como forma de auxiliar os alunos em sua aprendizagem.
Tentando responder nossos questionamentos, o quarto e último capítulo fará uma
conclusão de toda a pesquisa apontando os pontos mais relevantes de como o lúdico pode
influenciar no desenvolvimento e na aprendizagem da criança e por que o professor deve
introduzir as atividades lúdicas como forma de ensino em seu planejamento. Visto que este
capítulo vislumbra de forma sucinta a pesquisa que responde de forma satisfatória os
questionamentos que embasaram a realização da mesma.
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1. BREVE HISTÓRICO SOBRE OS JOGOS, BRINCADEIRAS E A CONCEPÇÃO DE
INFÂNCIA.
Os jogos e as brincadeiras estão presentes desde os primórdios da existência do
homem, em diferentes tempos e lugares de acordo com o contexto histórico e social de que a
criança faz parte. Em outras palavras, conclui-se que o jogo, civilização e cultura têm
caminhado juntos na maioria das fases históricas da humanidade.
O brincar é natural na vida da criança, é definido como algo prazeroso e espontâneo,
que faz parte de seu cotidiano. Na história antiga há relatos de que o ato de brincar era
desenvolvido por toda a família, até mesmo quando os pais ensinavam os ofícios para seus
filhos.
Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras estiveram presentes em toda a história. Eles
estão intimamente ligados à construção social e cultural, pois é através das brincadeiras que as
crianças se tornam cidadãs, contribuindo para a formação da humanidade.
Teixeira (2010) aponta em seus estudos que Brourgère nos leva a perceber que através
do brinquedo podemos entender o funcionamento da cultura.
Toda socialização pressupõe apropriação da cultura, de uma cultura compartilhada
por toda a sociedade ou por parte dela. A impregnação cultural, ou seja, o
mecanismo pelo qual a criança dispõe de elementos dessa cultura, passa, entre outras
coisas, pela confrontação com imagens, com representações, com formas diversas e
variadas. Essas imagens traduzem a realidade que cerca ou propõem universos
imaginários. Cada cultura dispõe de um “banco de imagens” consideradas como
expressivas dentro de um espaço cultural. É com essas imagens que a criança poderá
expressar, é com referência a elas que a criança poderá captar novas produções.
(BROUGÈRE, 2006, apud TEIXEIRA, 2010, p.34).
Nessa perspectiva podemos dizer que os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são
parte da nossa cultura que por sua vez passam a ser manipulados pelas crianças, e é através
dessa manipulação que a criança vai interpretando o mundo a sua volta e interagindo com
seus pares por meio de um jogo simbólico, que muitas vezes a leva a reproduzir situações de
sua vida social, expressando suas vivências e sentimentos através do brincar.
Na Idade Média, os jogos e as brincadeiras eram de uso coletivo da sociedade sem
distinção de classe social ou gênero, com os objetivos de estreitar os laços e promover o
convívio social.
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As brincadeiras eram comuns aos adultos e crianças, que muitas vezes misturavam-
se para realizá-las no dia-a-dia ou em comemorações e festividades. Encontraremos
entre os jogos mais realizados as mímicas, rimas, cabra-cega, esconde-esconde, os
chamados jogos de salão e cartas, dados, gamão, cara ou coroa, jogos de azar.
Também o teatro, a música, a dança e a literatura eram comuns ao universo do
adulto e da criança. (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989 apud TEIXEIRA, 2010
p.27).
Essas brincadeiras que hoje são utilizadas com o intuito de divertimento e recreação,
eram praticadas com os objetivos de estabelecer as relações sociais e também treinar as
crianças para os papéis que teriam que desempenhar no futuro, mantendo assim o nível
hierárquico. Um exemplo que confirma tal fato é encontrado no livro “Memória Póstumas de
Brás Cubas”, onde Machado de Assis retrata as relações perversas entre o menino branco e
seu moleque.
Prudêncio, um moleque de casa, era meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no
chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com
uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, -
– algumas vezes gemendo, – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um
– “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: – “Cala a boca, besta!” (ASSIS, 1997, p.41).
Como podemos ver havia uma preocupação em manter o nível de hierarquia dos
indivíduos no contexto social, e as brincadeiras serviam para treinar as crianças para o papel
que no futuro teriam que desempenhar.
Segundo Ariès (1981) a criança nem sempre foi vista como um ser em particular,
sendo tratada durante muito tempo como um adulto em miniatura, não existindo a concepção
de infância que existe hoje. A criança passava para a fase adulta muito cedo, sendo afastada
do seio da família, passando a viver com outros adultos, para ajudá-los em suas tarefas,
assegurando-se a socialização e a transmissão de valores. As transformações ocorridas no
século XVII contribuíram para a construção da concepção de infância, as mais importantes
foram as reformas religiosas católicas e a protestante, que trouxeram um novo olhar sobre a
criança e sua aprendizagem.
Segundo Lajolo e Zilberman (1999), em meio à Revolução Industrial surge à classe
burguesa. A burguesia passou a ser a nova classe social dominante, incentivando
primeiramente a família, estimulando uma vida mais doméstica, surgindo, então a concepção
de infância, em que a família passou a entender que as crianças precisavam de atenção e
cuidados, em seguida passa a incentivar a escola.
De acordo com Teixeira (2010) os autores Silva, Garcia e Ferrari, também destacam
em seus estudos que a classe burguesa foi um marco para o surgimento do conceito de
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infância e família. Assim, “Pois é no seio da burguesia europeia que vão se desenvolver novos
sentimentos em relação a estes aspectos e consequentemente levar os jogos, os brinquedos, as
festas e as brincadeiras a tornarem-se gradativamente exclusivos do universo da criança.”
(SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989, apud TEIXEIRA, 2010, p.28).
Com o surgimento da classe burguesa, as concepções de família e infância começaram
a mudar e como essa mudança é acompanhada por uma preocupação com a educação da
criança, para que se pudesse preservar a moralidade na infância, alguns jogos passaram a ser
proibidos por serem classificados como maus, assim como afirma Ariès.
[...] Esse compromisso nos interessa aqui porque é também um testemunho de um
novo sentimento de infância: uma preocupação, antes desconhecida, de preservar a
moralidade e também educá-la, proibindo-lhe os jogos classificados como maus, e
recomendando-lhes os jogos então reconhecidos como bons. (ARIÈS, 1981, p.59).
Teixeira (2010) aponta ainda que Silva, Garcia e Ferrari, abordam a proibição de
algumas modalidades de jogos considerados maus ou inadequados para a moral das crianças,
enquanto outros, considerados como bons, estavam sendo reforçados devido o seu caráter
educativo.
É a partir deste novo sentimento em relação à infância que começa a existir uma
preocupação com a moral direcionando os fundamentos de educação infantil. Dentro
desta perspectiva alguns jogos são considerados inadequados para as crianças,
enquanto outros são reforçados por seu caráter educativo. Portanto, os cultos,
festividades e brincadeiras que eram realizados por toda a coletividade, e que
agitavam e marcavam todos os indivíduos em seus laços com seu contexto social,
passam a perder espaço para a nova ideia de organização familiar, educação e
formação moral. (SILVA, GARCIA E FERRARI, 1989, apud TEIXEIRA, 2010, p.
29).
De acordo com Teixeira (2010) com o passar do tempo, as atitudes rígidas com
relação aos jogos vão sendo modificadas, dando lugar a outras visões. A concepção de
infância foi se transformando, especialmente por causa da influência dos jesuítas, que
mostraram as possibilidades de se usar os jogos como um instrumento educativo, passando a
ser adotados pelas escolas, sendo considerados como meios de educação tão importante
quanto os estudos, desde que os mesmos fossem regulamentados e usados de forma
controlada. Permite-nos observar que a atividade lúdica nem sempre teve o devido
reconhecimento, como um instrumento que pode ser usado para o desenvolvimento das
crianças.
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O lúdico é um instrumento muito importante que o professor enquanto educador, tem
ao seu alcance, pois é através da brincadeira que a criança aprende a relacionar-se com as
pessoas, regras e a conhecer o ambiente que a cerca. O brincar é uma forma para que as
crianças estabeleçam relações afetivas e sociais, além de ajudá-las a se comunicar e se
conhecer, enriquecendo-as como pessoa.
O lugar que a criança ocupa na sociedade nos faz perceber como os jogos e
brincadeiras influenciam o seu desenvolvimento, por exemplo, quando a criança indígena
brasileira brinca de arco e flecha, ela está treinando as habilidades que lhes serão exigidas no
futuro. [...] “Atirar com arco e flecha não é uma brincadeira, é um treino para a caça”.
(KISHIMOTO 1993, apud TEIXEIRA, 2010, p. 36). A natureza dos jogos infantis só pode ser
compreendida pela relação existente ente eles e a vida da criança em sociedade.
A criança por viver em uma sociedade que carrega valores, significados sociais e
culturais, incorpora essas experiências através do brincar em suas relações de convívio.
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com
aquilo que é o “não-brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da
imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem
simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente
entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se.
Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade
imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da
brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da
realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e
das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada. (BRASIL, 1998, p.27).
Pode-se notar então que a brincadeira não é simplesmente divertimento, é
conhecimento, pois é através do brincar que a criança aprende. Durante a brincadeira ela
demonstra o conhecimento que tem do mundo, colocando em evidência seus sentimentos e
suas emoções através de seus atos.
O contato apropriado com os diversos tipos de materiais lúdicos como jogos,
brinquedos e brincadeiras estimulam as múltiplas capacidades das crianças, desenvolvendo as
capacidades sensoriais, psicomotoras, cognitivas, sociais e afetivas. Para tanto pretendemos
nos próximos capítulos evidenciar a importância deste assunto, mostrando as abordagens
feitas por alguns autores em seus estudos.
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2. IMPORTANTES PERSONAGENS NA INSERÇÃO DOS JOGOS EM AMBIENTE
ESCOLAR.
Este capítulo fará abordagens sobre os principais personagens que contribuíram para a
inserção do jogo na educação, pretendendo demostrar um pouco da importância que Froebel,
Vygotsky e Maria Montessori atribuíram aos jogos, aos brinquedos e as brincadeiras.
Estes autores evidenciaram em seus estudos a importância do lúdico no
desenvolvimento da criança, Froebel foi um dos primeiros educadores a utilizar os jogos
como forma de ensino, pois para ele as brincadeiras são os primeiros recursos de que a criança
se utiliza para representar o mundo em que vive, com o intuito de tentar compreendê-lo.
Criou uma instituição onde os jogos eram os principais meios de ensino, tinha o hábito
de observar as brincadeiras das crianças e, através dessas observações ele produziu meios para
auxiliar os educadores de como deveriam conduzir uma brincadeira diante de uma situação
adversa. Por estes motivos contribuiu imensamente na inserção dos jogos na educação.
Outro autor que teve sua parcela de contribuição para tal feito e, que já foi citado
anteriormente, foi Vygotsky, pois, deu um destaque especial a brincadeira de faz de conta. Em
seus estudos evidenciou que a criança para brincar de faz de conta precisa criar situações
imaginárias. Por sua vez, essas situações produzidas durante uma brincadeira levam a criança
a desenvolver traços fortes em sua personalidade, colaborando também na produção de novos
aspectos cognitivos e afetivos das mesmas. Vygotsky defendia a intervenção do adulto para
auxiliar a criança em seu processo de desenvolvimento, sendo que esta intervenção deveria
acontecer de forma a motivar a criança, e uma das formas de intervenção a que o adulto pode
se utilizar é a brincadeira.
Maria Montessori propôs em seus estudos que o professor deveria observar
constantemente seus alunos a fim de fazer adequações que assegurassem às crianças a livre
expressão. Criou vários tipos de materiais que até hoje são utilizados em sala de aula como
forma eficaz de ensino. Esses materiais e métodos criados por Montessori visam “a educação
dos movimentos e da personalidade infantil” (ANGOTTI, 2003, p. 28), propiciam também o
desenvolvimento sensorial, o desenvolvimento de atividades da vida prática da criança, e a
aquisição da cultura (leitura e escrita), além de proporcionar o desenvolvimento intelectual.
Para uma melhor reflexão de como se deu a contribuição desses autores, pretende-se
fazer uma breve biografia e uma sinopse dos estudos de cada um dos três deles.
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2.1 Froebel.
Froebel filósofo do período romântico, nascido na Alemanha, filho de pai ausente e
órfão de mãe, foi criado por seus irmãos e sua madrasta, cresceu em meio a uma floresta, teve
como companheiros as plantas e os animais que ali viviam. Deste companheirismo surgiu a
ideia de criar uma instituição infantil denominada kindergarten, pois acreditava na criança e
valorizava a individualidade do ser humano que se completa na coletividade. Nesta instituição
o pensamento era de que a criança era como uma sementinha em um jardim e o professor o
jardineiro que teria a função de adubar e regar para que ela desabrochasse.
O kindergarten atendia crianças menores de seis anos e constituía-se basicamente em
um centro de jogos, organizados segundo as concepções de Froebel, onde a aprendizagem das
crianças, sobre o mundo e sobre si mesmas, era baseada em liberdade.
Froebel foi o primeiro educador a utilizar os jogos como instrumentos para o ensino
colocando-os como parte essencial do trabalho pedagógico. Ele tinha o hábito de observar as
crianças enquanto brincavam e isso contribuía para que pudesse compreender como elas se
comportavam e assim criar modos para conduzi-las diante das situações observadas.
Depois de ter observado crianças montando e desmontando jogos, Froebel propõe
jogos de construção a fim de possibilitar-lhes a decomposição e a recomposição. O
autor entende que a manipulação e a expressão são dissolúveis: é a exploração do
material livre, espontâneo e simbólico que leva a criança a criar seus próprios jogos.
(TEIXEIRA, 2010, p. 38).
Através do brincar as crianças se empenham e demonstram o melhor de si para
planejar, pensar em estratégias, e analisar os movimentos de seus adversários para poder
surpreendê-los no jogo. Quando a criança brinca espontaneamente ela está em contato com
ações em que os aspectos sociais, afetivos e cognitivos estão presentes, favorecendo assim sua
interação com o mundo.
Segundo Teixeira (2010, pág. 38) “Froebel ressalta que o jogo constitui o mais alto
grau de desenvolvimento da criança” e que por esse motivo ele considera dois tipos de jogos:
primeiro o jogo livre e interativo com fim em si mesmo e, segundo os dons e as ocupações.
O primeiro é aquele chamado faz de conta ou simbólico, em que a criança reproduz
através da imaginação a vida em sociedade e suas experiências em outras brincadeiras.
O segundo pode ser representado pelos materiais utilizados pelo educador para
trabalhar com conhecimentos e habilidades. Neste estão inseridos os jogos de construção.
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Esses jogos criados por Froebel, estimulam a imaginação infantil e o desenvolvimento afetivo
e intelectual.
O jogo de construção está intimamente ligado à brincadeira de faz de conta. Quando
uma criança o utiliza, por exemplo, para fazer um castelo ou uma casa ela coloca em prática
sua imaginação utilizando o jogo simbólico, onde dará sentido às suas construções.
O jogo de construção tem uma estreita relação com o de faz-de-conta. Não se trata
de manipular livremente tijolinhos de construção, mas de construir casas, móveis ou
cenários para as brincadeiras simbólicas. As construções se transformam em temas
de brincadeiras e evoluem em complexidade conforme o desenvolvimento da
criança. (KISHIMOTO, 2007, p. 40).
A criança representará através de suas brincadeiras o seu cotidiano e, para que se
possa entender as construções produzidas durante uma brincadeira ou um jogo, é necessário
observar como ela se expressa, através da fala, do modo como se relaciona e os meios que
utiliza para resolver os problemas que aparecem durante um jogo ou uma brincadeira.
Para se compreender a relevância das construções é necessário considerar tanto a
fala como a ação da criança que revelam complicadas relações. É importante,
também, considerar as ideias presentes em tais representações, como elas adquirem
tais temas e como o mundo real contribui para a sua construção. (KISHIMOTO,
2007, p. 40).
A criança enquanto brinca faz representações do mundo real, levando para seu mundo
de “faz de conta”, experiências de seu convívio social e cultural, considerando que durante as
brincadeiras podem surgir conflitos que as levam a criar situações para tentar resolvê-los, isto
de certa maneira ocasiona o desenvolvimento de habilidades como, por exemplo, a fala.
Segundo Teixeira (2010) as contribuições de Froebel foram muito relevantes para a
educação e muitas das técnicas que utilizamos em sala de aula nos dias de hoje estão
intimamente ligadas aos seus estudos.
As técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil devem muito a Froebel. Para
ele, as brincadeiras são os primeiros recursos no caminho rumo à aprendizagem.
Não são apenas diversões, mas um modo de criar representações do mundo concreto
com a finalidade de entendê-lo. (TEIXEIRA, 2010, p.37-38).
Assim como Froebel foi um grande pesquisador e estudioso a respeito da inserção de
jogos para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, bem como introduzi-lo no âmbito
17
escolar, contamos também com outros pesquisadores, de maneira que se torna relevante
apresentar suas contribuições, aos quais veremos a seguir.
2.2. Vygotsky.
O russo Lev Semenovich Vygotsky nasceu em 1896 na cidade de Orsha. Vygotsky
entrou para a faculdade de medicina aos 18 anos, mas logo decidiu cursar direito, formou-se
também em História e Filosofia, ministrou sobre Literatura Estética e História da Arte. Diante
de toda sua formação podemos dizer que seu histórico acadêmico foi marcado pela
interdisciplinaridade.
Seu interesse pela Psicologia Acadêmica surgiu a partir do contato com crianças
deficientes e a formação de professores. Fundou um laboratório de Psicologia e no decorrer de
sua vida – que por sinal foi muito curta, pois viveu aproximadamente 38 anos, falecendo em
1934 em decorrência de uma tuberculose – elaborou cerca de 200 estudos científicos que
abordaram diversos assuntos, porém em suas produções sua atenção estava voltada para a
investigação das mudanças que ocorrem no comportamento durante o desenvolvimento do ser
humano em meio à sua cultura e, para poder explicar essas mudanças no comportamento
Vygotsky geralmente recorria às crianças.
As pesquisas realizadas por Vygotsky são de extrema valia, pois nos privilegiam com
sua diversidade de assuntos estudados e desenvolvidos, em especial para este trabalho o
brinquedo, na qual o mesmo destaca a importância da brincadeira de faz de conta.
Vygotsky diz que através do brincar a criança passa a manipular objetos que servirão
para representar uma realidade ausente ou um desejo irrealizável, sendo capaz de transformar
qualquer objeto que estiver à sua disposição, naquilo que não está ao seu alcance no
momento, suprindo assim suas necessidades e desejos.
O autor nos aponta em sua obra “A Formação Social da Mente” que sem os desejos
irrealizáveis de uma criança, o brinquedo talvez nem existisse.
[...] Acredito que, se as necessidades não realizáveis imediatamente não se
desenvolvessem durante os anos escolares, não existiriam os brinquedos, uma vez
que eles parecem ser inventados justamente quando as crianças começam a
experimentar tendências irrealizáveis [...]. (VYGOTSKY, 1999, p. 122).
Diante dessa afirmação podemos perceber que a criança tem necessidades e desejos
que não podem ser realizados imediatamente e, para suprir essas necessidades elas [...]
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“envolvem-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser
realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedos”. (VYGOTSKY, 1999, p. 122).
Mas em contrapartida ele mesmo afirma que a criança ainda muito pequena não
consegue entrar no mundo ilusório do brinquedo, pois para que isso aconteça ela precisa usar
a imaginação, que é um processo psicológico de atividade consciente, sendo que esse
processo ainda não está presente em algumas faixas etárias, conclui-se, a partir daí, que a
brincadeira de faz de conta é natural das crianças que estão entrando na idade pré-escolar.
A imaginação é um processo psicológico novo para a criança; representa uma forma
especificamente humana de atividade consciente, não está presente na consciência
de crianças muito pequenas e está totalmente ausente em animais. Com todas as
funções da consciência, ela surge originalmente da ação. O velho adágio de que o
brincar da criança é imaginação em ação deve ser invertido; podemos dizer que a
imaginação, nos adolescentes e crianças em idade pré-escolar, é o brinquedo sem
ação. (VYGOTSKY, 1999, p. 122-123).
A imaginação de uma criança durante uma brincadeira pode levá-la a produzir novos
aspectos cognitivos e afetivos, por exemplo, quando duas irmãs brincam de serem irmãs, elas
encenarão o papel de irmãs, isso as fará reproduzir falas e gestos vivenciados, que muitas
vezes não os usam na vida real. A brincadeira em questão requer que as crianças produzam
situações imaginárias, pois sem a imaginação a brincadeira não pode ocorrer. Corroborando
com Vygotsky: “Assim, ao estabelecer critérios para distinguir o brincar da criança de outras
formas de atividades, concluímos que no brinquedo a criança cria uma situação imaginária”.
(VYGOTSKY, 1999, p.123).
Quando as situações imaginárias entram em ação, passam a produzir comportamentos
e ações, esses comportamentos produzidos diante de uma brincadeira, podem ser entendidos
como regras, pois mesmo em uma brincadeira de faz de conta as regras estão presentes. Como
menciona Vygotsky [...] “pode-se ir além, e propor que não existe brinquedo sem regras. A
situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento,
embora possa não ser um jogo com regras definidas a priori”. (VYGOTSKY, 1999, p. 124).
Ao pensarmos em uma criança brincando de ser mãe, percebemos que para que a
brincadeira ocorra ela precisará reproduzir ações vivenciadas, quando ela o faz está
obedecendo as regras que uma brincadeira de ser mãe impõe, isso nos mostra que mesmo que
oculta, as regras estão presentes, e quando a criança passa a entender essas regras, ela começa
a dominar seu comportamento. “A ação numa situação imaginária ensina a criança a dirigir
seu comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou pela situação que
19
afeta de imediato, mas também pelo significado dessa situação”. (VYGOTSKY, 1999, p.
127).
A partir dessa afirmação feita pelo autor podemos perceber a importância que ele e os
estudos da psicologia deram para o tema brincadeira, pois através dela as crianças podem
desenvolver traços fortes de suas personalidades.
Ao se tratar do aprendizado, muitas vezes o entendemos de uma forma sistematizada e
organizada, assim como aprendemos na escola. Observa-se nos estudos feitos por Vygotsky
que o aprendizado, mesmo não sendo sistematizado, ocorre em todos os momentos da vida,
pois tem início muito antes do princípio das experiências escolares. Ao dar início à jornada
escolar observa-se que a intervenção do educador se faz necessária, a fim de auxiliar,
estimular e sistematizar as habilidades a serem desenvolvidas no indivíduo, para que este seja
capaz de tornar concretas suas aprendizagens anteriores.
Vygotsky defendia a intervenção do adulto para auxiliar a criança em seu
desenvolvimento como podemos observar em um dos trechos de suas obras.
[...] Por outro lado, se a criança resolve o problema depois de fornecermos pistas ou
mostrarmos como o problema pode ser solucionado, ou se o professor inicia a
solução e a criança a completa, ou, ainda se ela resolve o problema em colaboração
com outras crianças – em resumo, se por pouco a criança não é capaz de resolver o
problema sozinha – a solução não é vista como um indicativo de seu
desenvolvimento mental. Esta “verdade” pertencia ao senso comum e era por ele
reforçada. Por mais de uma década, mesmo os pensadores mais sagazes nunca
questionaram esse fato; nunca consideraram a noção de que aquilo que a criança
consegue fazer com ajuda dos outros poderia ser, de alguma maneira, muito mais
indicativo de seu desenvolvimento mental do que aquilo que consegue fazer sozinha.
(VYGOTSKY, 1999, p. 111).
A intervenção do adulto pode contribuir para o desenvolvimento da criança e, para que
esse desenvolvimento se efetive, essa intervenção deve ser feita de forma a motivar o aluno a
caminhar rumo ao conhecimento, por isso o professor necessita ser a peça motriz do processo
de aprendizagem.
Segundo Vygotsky existe o conceito de que o desenvolvimento está separado em
Zonas de Conhecimentos, e estão divididas em duas, a primeira, zona de Desenvolvimento
Real e a segunda Zona de Desenvolvimento Proximal, a qual será abordada nesse trabalho,
pois pode ser definida como conjunto de habilidades que está em desenvolvimento no
indivíduo. Observa-se que é neste momento que Vygotsky evidencia em seus estudos a
importância da intervenção do adulto, sendo que esta pode acontecer através das brincadeiras
20
como forma de estímulo, pois o brinquedo pode ser uma fonte geradora de experiências para a
criação de Zona de Desenvolvimento Proximal.
O brincar cria oportunidades para que a criança imite as ações dos adultos e “[...] uma
compreensão plena do conceito de zona de desenvolvimento proximal deve levar à
reavaliação do papel da imitação no aprendizado”. (VYGOTSKY, 1999, p.114). Entende-se
que a imitação pode ser de grande valia quando utilizada como estímulo, possibilitando o
desenvolvimento de habilidades e, o jogo pode ser uma forma de usar a imitação a fim de
produzir estímulos que desenvolvam conhecimentos e aprendizagem.
[...] Propomos que um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona
de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos
internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança
interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus
companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das
aquisições do desenvolvimento independente da criança. (VYGOTSKY, 1999,
p.117-118).
Compreende-se que, a criança ao interagir com as pessoas em um momento de
cooperação, está se desenvolvendo. A brincadeira pode ser usada como prática pedagógica a
fim de auxiliar no processo da aprendizagem.
Acreditava-se que a mediação contribuía imensamente na construção das funções
psicológicas superiores sendo que dois elementos essenciais distinguem essa mediação, são
eles, o instrumento e o signo, onde o brincar tem uma parcela considerável de contribuição,
por ser um meio para a mediação acontecer.
Vygotsky dedicou-se a estudar as funções psicológicas superiores, que são as
experiências que o indivíduo adquire durante sua vida, o raciocínio, a capacidade de
planejamento exemplificam as funções psicológicas superiores tipicamente humanas, sendo
assim essas funções só podem ser desenvolvidas se o indivíduo estiver em um processo
constante de interação social, pois além de necessárias estas interações são fundamentais para
o desenvolvimento.
Assim como Vygotsky, Maria Montessori apresenta em seus estudos grandes
contribuições para a inserção dos jogos em sala de aula, por isso torna-se relevante discorrer
sobre os estudos e os materiais elaborados por ela.
21
2.3. Maria Montessori.
Maria Montessori formou-se em medicina e esta formação teve uma grande influência
em sua proposta de Pedagogia Científica. Montessori esteve envolvida no movimento
escolanovista que visava à reformulação do ensino e sua Pedagogia está intimamente ligada a
este movimento. Seus estudos tiveram grande relevância para os jardins de infância e para a
pré-escola.
O método de Montessori visa desenvolver a personalidade em sua totalidade, não
somente as capacidades intelectuais, mas também as capacidades de escolha, emocionais e de
iniciativas.
Angotti (2003) revela - nos que Montessori propõe que o professor realize observações
constantes de seus alunos, com o intuito de gerar adequações para a garantia da livre
expressão.
A proposição de Montessori para a Pedagogia Científica revela-se no processo de
observação constante, realizado pelo professor sobre seu aluno, que irá gerar
investigação para adequação das condições que asseguram à criança a livre
expressão do seu ser, no sentido da plenitude de sua natureza. (ANGOTTI, 2003, p.
23).
Segundo Angotti (2003) para Montessori a criança tem forças inatas que mesmo sem o
auxílio do outro se desenvolveriam, portanto o objetivo da educação está focado em
desenvolver as energias que já estão presentes na criança, através de ajuda e orientação
proporcionando um desenvolvimento espontâneo.
A concepção de educação, então, é a de um processo de auto-educação que possa
propiciar ao indivíduo o desenvolvimento das suas energias, para que ele possa
adquirir condições de se determinar, de trabalhar a sua vida, de optar pelo seu
próprio caminho dentro das limitações pessoais, num ambiente preparado, contendo
materiais adequados à fase evolutiva em que a criança se encontra. (ANGOTTI,
2003, p. 24).
Para que tal fato seja possível, o professor necessita proporcionar um ambiente que
facilite o desenvolvimento e a criação da criança, pois a mesma tem necessidade de explorar
tudo o que está a sua volta. “[...] é um explorador ousado de um modo em que tudo é
novidade, e, como explorador, o que mais necessita é de um caminho: isto é, algo limitado e
direto, que a conduza e a salve dos fatigantes desvios que a estorvam em seu avanço.”
22
(MONTESSORI, 1965, apud ANGOTTI, 2003, p. 25) e o educador necessita conduzi-la pelo
caminho certo.
Dentro deste contexto podemos entender que o educador tem um papel fundamental
no processo da aprendizagem, ao criar condições para que a criança possa desenvolver sua
personalidade. Uma alternativa para que isso ocorra é contar com o apoio da aprendizagem
através da utilização do jogo, da coletividade, da individualidade e de atividades que sejam
prazerosas e estimulem a formação do ser artístico e social.
Foi pensando na necessidade de exploração da criança que Maria Montessori elaborou
uma didática onde a crianças estivessem livres para escolher os materiais sujeitos a sua ação,
sendo que já estariam em um ambiente preparado e os materiais previamente selecionados
para cada gênero de atividade.
Montessori elaborou ricos materiais lúdicos atraentes, materiais estes que permitem a
criança explorar as cores, formas, texturas, tamanho, cheiro etc., e desenvolver diferentes
áreas como a aquisição da linguagem, o sensorial, o raciocínio matemático e atividades da
vida prática.
Segundo Angotti (2003) Maria Montessori denominou os conteúdos que seriam
trabalhados com as crianças de 0 a 6 anos como “Quadriga Triunfante” sendo composto por:
leitura, aritmética, desenho e escrita. A autora nos mostra ainda como os materiais podem ser
agrupados.
[...] podem ser agrupados de acordo com a seguinte classificação: 1. Material de
desenvolvimento destinado à educação sensorial; 2. Material de desenvolvimento
para as atividades de vida prática; 3. Material de desenvolvimento para aquisição da
cultura (ensino da numeração e iniciação à aritmética; iniciação ao método de leitura
e escrita). (ANGOTTI, 2003, p. 31).
Dentre estes materiais desenvolvidos por Maria Montessori destacaremos alguns que
são mais pertinentes ao tema abordado, todos os materiais que Montessori criou são ricas
ferramentas que podem ser utilizadas pelos educadores como forma de ensino, porém iremos
nos ater aos alfabetos, os quadros para abotoar e o material dourado que mais nos atraíram.
Um dos materiais que Montessori criou e que ainda hoje é utilizado dentro da sala de
aula é o alfabeto móvel que é “[...] composto de duas caixas contendo letras deslocáveis feitas
em madeira, que a criança coloca uma ao lado da outra para compor palavras”. (ANGOTTI,
2003, p. 34). Elaborou também o alfabeto de lixa, este é constituído por um “[...] conjunto de
letras recortadas em lixas e pregadas em cartões, sendo as vogais em fundo vermelho e as
consoantes em fundo azul”. (ANGOTTI, 2003, p. 34).
23
Estes dois materiais que Montessori criou, podem ser utilizados por professores
alfabetizadores na iniciação da aprendizagem das letras, o alfabeto de lixa serve também para
despertar sensações através do tato, por se tratar de uma lixa, também para que a criança faça
associações entre vogais e consoantes, por estas serem de cores diferentes, já o alfabeto móvel
pode ser trabalhado até mesmo com crianças maiores que já adquiriram algum conhecimento
da escrita, trabalhando com ditado, formação de palavras entre outras coisas.
Os quadros para abotoar são materiais que os professores de desenvolvimento infantil
utilizam para ensinar as crianças coisas da vida cotidiana, como abotoar um botão, fechar um
zíper, um colchete, amarrar os cadarços, etc.
Ao entrar em contato com esse tipo de material a criança pode vê-lo como uma forma
de brincadeira, mas ela está aprendendo as situações da vida prática e desenvolvendo suas
habilidades motoras.
Os quadros para abotoar levam as crianças à análise dos seus movimentos. São
quadros com tecidos para amarrar ou com diferentes fechos, tais como: botões,
presilhas, laços, fitas, colchetes, zíperes. Esse material é um meio para desenvolver a
habilidade motora para se vestir, através da coordenação de gestos sucessivos.
(ANGOTTI, 2003, p. 34).
As habilidades motoras que podem ser desenvolvidas através do contato com os
quadros para abotoar, contribuem imensamente para a aquisição da escrita, pois para que a
criança possa aprender a escrever ela necessita segurar primeiro o lápis e para que isso ocorra
sua coordenação motora fina deve estar bem desenvolvidas diminuindo assim suas
dificuldades.
Dedicados a pré-escolares e a algumas crianças das séries iniciais com alguma
defasagem de coordenação motora fina, alguns jogos proporcionam a oportunidade
do exercício motor, desenvolvendo assim essa habilidade tão importante para a
alfabetização. (LOPES, 1999, p. 42).
Além de materiais que auxiliassem os educadores na introdução da leitura e escrita,
Montessori desenvolveu também materiais para iniciação da aritmética, como já havíamos
dito dentre estes destacaremos o material dourado, Angotti (2003) descreve este material em
seus estudos.
O material dourado ou das contas é constituído por contas douradas onde a divisão é
feita por sulcos na madeira, isoladamente uma conta representa a unidade; dez
contas formam a barrinha da dezena; dez barrinhas com dez contas cada uma
24
formam a placa da centena; e temos o cubo formado por 10 placas de cem contas
cada, que representam o milhar. (ANGOTTI, 2003, p. 35).
Ainda hoje este material é utilizado por vários professores, mas Angotti (2003) nos
revela que aqui no Brasil esse material sofreu algumas modificações por se tratar de um jogo
elaborado a partir de materiais com um custo elevado, mas isso não inviabilizou o seu uso.
Nota-se que todos os jogos construídos por Montessori estão intimamente ligados, um
completa o outro. Preocupada com cada etapa do desenvolvimento do educando desenvolveu
jogos que comtemplassem cada uma dessas fases.
Para tanto...
Os instrumentos pedagógicos montessorianos aqui apresentados se completam e
podem ter objetivos comuns ou complementares na aquisição de cultura, de
preparação para a vida prática, ou na educação sensorial. Ou seja, os materiais se
completam, se interligam em objetivos a alcançar, através da proposta de utilização,
do nível de aprofundamento e das suas possibilidades de variação. (ANGOTTI,
2003, p. 36).
Durante o desenvolvimento da criança, torna-se necessário prover condições para que
a aprendizagem ocorra, por isso é importante o trabalho realizado pelo educador no método
elaborado por Montessori. O lúdico é considerado uma condição para a aprendizagem e o
método montessoriano abre espaço para que o lúdico aconteça. Podemos notar então que
Maria Montessori trouxe inúmeras contribuições para a inserção dos jogos em sala de aula e
suas ricas criações são utilizadas até os dias de hoje.
25
3. O JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL.
Ao proferir sobre educação, sabemos que são muitos os desafios a serem enfrentados,
pois ao se comparar com outras áreas que recebem frequentes inovações, na educação foram
poucos os avanços ocorridos. A Educação Infantil está em crescente desenvolvimento em
nosso país, acompanhando as exigências das frenéticas urbanizações e industrializações
ocorridas. A sociedade tem visto a importância das experiências na infância, aumentando
ainda mais a demanda por uma educação de qualidade para crianças em idade pré-escolar.
O jogo pode ser trabalhado com as crianças desde muito cedo, mesmo que elas ainda
não tenham se apropriado da linguagem verbal, pode-se trabalhar, por exemplo, jogos que
utilizem linguagem rítmica ou corporal, proporcionando às crianças diversos tipos de
experiências.
A utilização das brincadeiras de faz de conta proporciona o contato da criança com o
simbólico e o imaginário. Tais brincadeiras levam a criança a criar meios para se comunicar
com os outros e interagir com os objetos que estão à sua disposição, podendo representar por
meio da fala ainda não muito elaborada o que ela presenciou e escutou, aumentando
consideravelmente seu repertório “Acreditamos que é preciso exercitar o jogo simbólico e as
linguagens não-verbais, para que a própria linguagem verbal, socializada e ideologizada,
possa transformar-se em verdadeiro instrumento de pensamento”. (KISHIMOTO, 2007, p.
46).
A imaginação da criança é repleta de segredos ainda não desvendados pelos adultos, o
educador pode começar a desvendar esses segredos, uma vez que durante a brincadeira a
criança faz uso da fala e de gestos para poder participar ativamente.
Ao longo do processo educativo os jogos podem ser trabalhados dentro da sala de aula
como um recurso para auxiliar os alunos a compreender algum conteúdo que esteja sendo
trabalhado, pode-se utilizar também o jogo como fonte geradora de situações-problema, onde
as crianças interagindo coletivamente precisam resolvê-los, contribuindo para a vida social e
afetiva dos mesmos.
Essa problemática leva a alguns questionamentos: Por que muitas escolas ainda
deixam de fora o uso do jogo e da brincadeira nas práticas educativas? Por que muitos
professores quando utilizam esses recursos não os utilizam de maneira correta, banalizando
esse maravilhoso instrumento de aprendizagem, deixando-o como mero instrumento de
entretenimento?
26
A utilização dos jogos e brincadeiras na vida escolar dos alunos é de extrema valia,
pois, a criança aprende brincando e é através da brincadeira que ela se realiza. A escola
enquanto lugar de aprendizagem necessita proporcionar momentos para que essas realizações
aconteçam.
Cabe à escola, então tratar de promover os benefícios que estas brincadeiras e jogos
podem oferecer como contextualizá-los em sala de aula (já que a criança aprende
com o brincar) e nas próprias relações entre elas. Quando estes objetivos podem
operar proporcionando interessantes trocas de experiências e fortalecendo laços
sociais, as crianças sentem mais vontade de aprender, pois brincam enquanto
aprendem. (MATAVELLI, 2010, p. 14).
Mas a efetiva apropriação do conhecimento através do jogo e da brincadeira só
acontecerá se estes estiverem de acordo com os objetivos e se forem significativos para os
alunos, despertando neles o interesse e a vontade pelo desafio. Assim de acordo com Antunes
(1999) os jogos só devem ser utilizados quando a programação, realizada pelo educador,
possibilitar e quando estes forem auxílios eficientes na obtenção dos objetivos a serem
alcançados dentro desta programação.
[...] jamais pense em usar os jogos pedagógicos sem um rigoroso e cuidadoso
planejamento, marcado por etapas muito nítidas e que efetivamente acompanhem o
progresso dos alunos, e jamais avalie sua qualidade de professor pela quantidade de
jogos que emprega, e sim pela qualidade dos jogos que se preocupa em pesquisar e
selecionar. (ANTUNES, 1999, p.37).
Para que se possa obter um bom resultado de aprendizagem através da utilização do
jogo é preciso que ele esteja intimamente ligado com os objetivos definidos e os conteúdos
propostos, também é necessário que se faça uma pesquisa sobre os tipos de jogos que podem
ser utilizados para a melhor apreensão do conhecimento que pretende ser alcançado
selecionando assim o material adequado.
3.1. A formação do educador da educação infantil diante do lúdico.
As instituições de Educação Infantil foram criadas devido à inserção da mulher no
mercado de trabalho, pois estas necessitavam de um lugar para deixar seus filhos enquanto
trabalhavam, com isso criou-se um estereótipo de que essas instituições serviam somente para
cuidar dessas crianças e, muitas foram criadas para o atendimento exclusivo de crianças de
famílias com baixa renda, o que levou a uma concepção educacional marcada como
assistencialista. Isso foi por muitos anos uma desculpa para o governo para um atendimento
27
de baixo custo, onde havia a escassez de recursos materiais, precariedade nas instalações e
formação insuficiente de profissionais segundo o Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil.
O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao
longo de sua história concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social.
Grande parte dessas instituições nasceram com o objetivo de atender exclusivamente
às crianças de baixa renda. O uso de creches e de programas pré-escolares como
estratégia para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das
crianças foi, durante muitos anos, justificativa para a existência de atendimentos de
baixo custo, com aplicações orçamentárias insuficientes, escassez de recursos
materiais; precariedade de instalações; formação insuficiente de seus profissionais e
alta proporção de crianças por adulto. (BRASIL, 1998, p. 17).
Observa-se que permanecem ainda, na Educação Infantil, educadores que trabalham
em salas de aulas, de escolas ou creches sem a devida formação. Esses profissionais convivem
em ambientes muitas vezes em condições precárias e recebem uma remuneração muito baixa.
São muitos os debates que ocorrem sobre a formação do educador para que se possa
melhorar a educação em nosso país. Em respostas a esses debates ocorridos, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional apresenta a resposta em seu artigo 62.
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior,
em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima pra o exercício do
magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (BRASIL, 1996,
art. 62).
A lei prevê a capacitação desses docentes, pois esta formação é o ponto principal para
a melhoria na educação, devendo-se levar em conta também as experiências desses
profissionais que já trabalham na área, pois na instituição de educação infantil o docente é o
cerne no processo de desenvolvimento dos alunos e, as experiências vividas em salas de aulas
são de extrema valia.
A educação é um processo produzido historicamente e o educador tem um papel
atuante nesse processo e, sua atuação não está limitada somente em ensinar, mas tem como
principal objetivo constituir cidadãos críticos e reflexivos, contribuindo assim para a mudança
da realidade social.
Para que o educador tenha êxito em sua atuação ele necessita conhecer seus alunos,
perceber o que eles já sabem para introduzir os conteúdos, relacionando-os aos conhecimentos
prévios dos mesmos e, os jogos podem ser utilizados pelo professor para obter informações
28
sobre seus alunos. Santos (2000) nos revela em seus estudos a importância da inclusão da
ludicidade na formação de professores.
A inclusão da ludicidade nos cursos de formação do educador infantil se faz
necessária não só porque respalda teoricamente esses profissionais sobre a
importância, mas, porque, através desses, o próprio professor terá condições de
conhecer melhor o seu aluno, a partir das brincadeiras e dos jogos que ele propiciará
aos seus educandos. (SANTOS, 2000, p. 111-112).
A partir da proposta de que os jogos são instrumentos para ensino e para obtenção de
informações sobre o conhecimento dos alunos, o educador necessita estar consciente de que
brincar não é somente recreação ou divertimento e sim uma forma de aprendizagem, em que o
planejamento de acordo com as especificidades de cada faixa etária e para cada turma faz-se
necessário e que a participação do adulto é extremamente relevante neste processo de
construção da aprendizagem.
Teixeira (2010) faz nos saber que a utilização do brinquedo na escola é, sobretudo, um
recurso pedagógico, e seu objetivo é estimular o aluno, mas a autora faz ainda um
questionamento “[...] qual seria o papel do professor nesse contexto do brincar?” (TEIXEIRA,
2010, p. 65) e sua resposta diante desta questão nos revela que, para que o brincar se efetive o
professor precisa ter consciência da importância dada pelas crianças aos jogos e às
brincadeiras e ser conhecedor dos efeitos produzidos pelos diversos tipos de atividades
lúdicas bem como saber utilizá-las e conduzi-las.
É fundamental que o educador tenha a consciência de que o brincar é um direito da
criança, mas não basta ser garantido somente nas escolas, os pais necessitam ser
conscientizados disto e, para que essa conscientização ocorra o educador deve ter
embasamento teórico, respaldado de teorias que os auxiliem nesse sentido.
Diante dessa problemática sabemos que a formação do educador não acaba com o
término de um curso de graduação, ele necessita buscar incessantemente enriquecer os
conhecimentos adquiridos durante esse período, em cursos de formação continuada
aperfeiçoando-se cada vez mais.
3.2. Quando e como utilizar os jogos e as brincadeiras em sala de aula
Segundo Lopes (1999) a criança expõem os seus sentimentos de uma forma muito
mais eficaz do que o adulto porque expressam suas emoções naturalmente sem ter medo, não
necessitam ficar pensando e analisando seus sentimentos antes de expressá-lo.
29
É com este ser completo, inteiro, apenas inexperiente, que temos de trabalhar,
aquém precisamos propiciar oportunidade de pleno desenvolvimento, e como
mediadores do processo de ensino-aprendizagem, precisamos dos meios para isso.
(LOPES, 1999, p. 21).
A criança é puro movimento, sendo assim ela precisa de meios que oportunizem a
aprendizagem através da livre expressão desses movimentos e emoções, o educador enquanto
mediador necessita ter em mãos, meios para garantir que essa aprendizagem aconteça da
melhor forma, sendo assim, os jogos podem ser ferramentas eficazes a serem utilizadas na
sala de aula a fim de tentar garantir a aprendizagem e o desenvolvimento do educando.
Já são conhecidos muitos benefícios de certos jogos. Porém, é importante que o
educador, ao utilizar um jogo, tenha definidos objetivos a alcançar e saiba escolher o
jogo adequado ao momento educativo. Enquanto a criança está simplesmente
brincando, incorpora valores, conceitos e conteúdos. (LOPES, 1999, p. 35-36).
Nota-se que o educador necessita estar preparado para oferecer aos educandos
materiais que estimulem sua curiosidade e trabalhem a coletividade, facilitando assim a
aprendizagem e o desenvolvimento no decorrer da vida escolar.
Antunes (2000) diz que o sentido dado ao material pedagógico foi sendo modificado
pela visão de ensino através do interesse do aluno e que através dessa visão os alunos estão se
tornando verdadeiros desafios à competência do educador.
Lopes (1999) vem nos revelar que muitos educadores não conseguem mais prender a
atenção dos alunos e nem motivá-los por não terem mudado sua maneira de conduzir as aulas.
Os educadores muitas vezes se perdem e não conseguem mais atrair a atenção,
motivar seus alunos, pois se o educando mudou, o educador também precisa mudar.
Os métodos tradicionais de ensino estão cada vez menos atraentes para a criança, ela
quer participar, questionar, atuar e não consegue ficar horas a fio sentada ouvindo
aula expositiva. (LOPES, 1999, p. 22).
Percebe-se então que o educador de hoje necessita estar atento aos interesses de seus
alunos, pois [...] “a criança de hoje é extremamente questionadora, não “engole” os conteúdos
despejados sobre elas sem saber por quê, ou, principalmente para quê” [...]. (LOPES, 1999, p.
22). Para tanto o educador enquanto mediador do conhecimento e da aprendizagem deve
planejar e estar preparado para os questionamentos dos alunos, e saber utilizar ferramentas
que o auxiliem nesta perspectiva.
Antunes (2000) vem dizer que o jogo pode ser uma ferramenta para a aprendizagem.
30
[...] É neste contexto que o jogo ganha um espaço como ferramenta ideal da
aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, que como
todo pequeno animal adora jogar e joga sempre principalmente sozinho e
desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social. O jogo ajuda-o a
construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e
simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de condutor,
estimulador e avaliador da aprendizagem. (ANTUNES, 2000, p. 36).
Sabe-se, portanto, que o jogo é uma forma lúdica de se ensinar, principalmente se os
alunos estiverem com dificuldade em assimilar os conteúdos, “É muito mais fácil e eficiente
aprender por meio de jogos, e isso é válido para todas as idades, desde o maternal até a fase
adulta” (LOPES, 1999, p. 23), mas é necessário estar atento para que os estímulos dados aos
alunos não sejam excessivos, pois este excesso pode desestimulá-los.
Antunes (2000) fala em seus estudos sobre a utilização dos jogos em sala de aula e
também como os estímulos excessivos podem ser prejudiciais. Ao proferir sobre estímulos o
autor vem dizer que eles são necessários para que o desenvolvimento ocorra, mas que é
preciso ter cuidado para que a casa e a escola não se tornem laboratório onde, a todo o
momento a criança estará recebendo estímulos e ensino, como por exemplo, a iniciação da
aquisição da linguagem, raciocínio lógico matemático entre tanto outros que são apresentados
à criança.
[...] Cabe ao professor ou aos pais estarem plugados na criança o tempo todo e
sentirem que, quando surgir o apetite pelo desafio do jogo, é importante ter em mãos
recursos para que sejam usados com sobriedade e, principalmente, com a co-
participação de outras crianças e de adultos. Joga-se com a criança quando com ela
se conversa, mas também joga-se quando se passeia, quando se anda de carro no
caminho da escola, quando se assiste televisão ou quando se propõe suas interações
com os avós, tios ou com seus amiguinhos. (ANTUNES, 2000, p. 18).
É neste sentido de entender o momento certo de se introduzir os jogos nas atividades
escolares que ANTUNES (2000) vem dizer que os jogos devem ser utilizados somente
quando eles se constituírem em eficientes auxílios para alcançar os objetivos propostos e
quando a programação permitir. [...] “Assim, o jogo somente tem validade se usado na hora
certa e essa hora é determinada pelo seu caráter desafiador, pelo interesse do aluno e pelo
objetivo proposto”. (ANTUNES, 2000, p. 40).
Os jogos e as brincadeiras necessitam fazer parte do planejamento do professor, onde
estes servirão como auxílio para alcançar os objetivos determinados e estimular o
envolvimento do aluno nas atividades individuais e grupais. “A existência de regras em todos
os jogos é uma característica marcante” [...]. (KISHIMOTO, 2007, p. 24) e também existem
31
objetivos a serem atingidos e é nestas características importantes dos jogos e brincadeiras que
o educador deve se deter para incorporá-los em seu trabalho.
Cada jogo apresenta, dentro do item objetivos, uma ou mais dessas características,
para que o profissional possa escolher o jogo mais apropriado para o momento
educativo a que se propõe. Dentro de um grupo, porém, muitas vezes se faz
necessário reunir uma série de objetivos que atinjam os participantes de forma
individual ou grupal. Para isso, o educador pode fazer um planejamento em que a
utilização dos jogos tenha um efeito gradual e globalizante dentro dos aspectos
desenvolvidos em cada jogo. (LOPES, 1999, p. 47- 48).
Segundo Antunes (2000) existem quatro elementos que justificam e fornecem
condições para a utilização dos jogos no trabalho educativo são eles: a capacidade de se
constituir em um fator de auto-estima do aluno; condições psicológicas favoráveis; condições
ambientais; e fundamentos técnicos. O autor sugere ainda que estes elementos devem atuar
como desafios intrigantes e estimulantes, ferramentas de combate à apatia, incentivo à
inserção do aluno nas atividades e desafios grupais.
Para que ocorra a concretização dos objetivos que se pretende alcançar com os jogos
Antunes (2000) diz ainda que é necessário se ter um ambiente com espaço necessário para a
realização das atividades e que todos os jogos a serem realizados tenham começo, meio e fim
para que possam ter significação para o aluno, desde que estejam em acordo com a proposta
pedagógica.
Seguindo esta mesma linha de raciocínio Lopes (1999) vem nos dizer que:
Para que a atividade atinja os objetivos propostos é necessário que haja uma
preparação da criança ou grupo que sensibilize para a tarefa. Pra se ter um clina
estimulante e envolvente, deve-se integrar a atividade dentro de um contexto que
faça parte da experiência de vida da criança [...]. (LOPES, 1999, p. 52).
O educador quando propõe a utilização dos jogos e brincadeiras como forma de
ensino, necessita ter a consciência de que este material precisa ter significação para o aluno,
pois se isso não ocorrer, estas atividades lúdicas servirão somente para recreação e não mais
como instrumentos facilitadores da aprendizagem.
A educação infantil é a fase da vida escolar do aluno em que os jogos e brincadeiras,
precisam fazer parte do planejamento do professor, pois as crianças em idade pré-escolar
aprendem através do processo de interação com o outro e o lúdico é uma forma muito eficaz
de se possibilitar essa interação.
32
O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a
relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de
modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o
ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o
brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la.
(KISHIMOTO, 2007, p. 36).
Para tanto o lúdico torna-se ferramenta essencial para o educador da educação infantil,
pois o educando precisa das interações que as atividades lúdicas podem proporcionar,
aumentando consideravelmente o resultado na aquisição da aprendizagem e do conhecimento.
Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-
aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento,
introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação
ativa e motivadora. (KISHIMOTO, 2007, p. 37).
Ao utilizar os jogos e as brincadeiras o educador cria um ambiente propício ao
desenvolvimento infantil. A Educação Infantil necessita possibilitar espaço para a realização
das atividades lúdicas a fim de maximizar o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo.
É possível identificar-se uma “boa” escola de educação infantil quando pode
apresentar um projeto pedagógico fundamentado e quando se propõe a avançar no
desenvolvimento cognitivo múltiplo, fornecendo experiências, estimulando seus
sentidos, abrindo espaço para a ação infantil, para a música, a mímica, a arte,
materiais táteis, jogos lógicos-matemáticos, naturalistas e linguísticos e quando
iniciam uma verdadeira alfabetização cartográfica, musical, pictórica e emocional da
criança. É essencial que a educação infantil seja plena de brincadeiras que gratificam
os sentidos, levam ao domínio de habilidades, despertam a imaginação, estimulam a
cooperação e a compreensão sobre regras e limites, e respeite, explore e amplie os
inúmeros saberes que toda criança possui quando chega à escola. (ANTUNES, 2000,
p. 30).
É necessário que as instituições de Educação Infantil enfatizem em seus projetos a
importância do brincar como forma de aprendizagem, disponibilizando para o professor
espaço para a realização das atividades lúdicas dentro e fora da sala de aula.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa bibliográfica realizada neste trabalho de curso sob o tema: “A
importância dos jogos e das brincadeiras na educação infantil” verificou-se que o brincar
sempre esteve presente na vida da criança e que este é um recurso de extrema relevância no
desenvolvimento infantil, pois é através das interações proporcionadas pelas atividades
lúdicas que a criança se desenvolve e começa a adquirir experiências sociais.
O brincar é natural na vida da criança, quando a criança brinca ela está aprendendo
parte da cultura da sociedade em que está inserida, mas a criança nem sempre foi
compreendida como um ser em particular, a concepção de infância vem sendo modificada
histórica e socialmente através dos tempos. Acompanhando essas mudanças, os jogos, os
brinquedos e as brincadeiras também foram sendo modificados e reformulados de acordo com
as particularidades em cada fase histórica de cada sociedade.
Visando responder as questões norteadoras a que nos propomos ao iniciar essa
pesquisa, consideramos os estudos de diversos autores e, de acordo com esses, o
desenvolvimento infantil acontece através das interações e, as atividades lúdicas podem ser
instrumentos ricos a serem utilizados pelo educador de forma a garantir essa interação.
Segundo Vygotsky o aprendizado ocorre em todas as fases da vida, mas quando a criança
inicia sua jornada escolar é preciso que este aprendizado tenha significação para ela, por isso,
faz-se necessário a intervenção do adulto. O autor defende essa intervenção a fim de auxiliar o
desenvolvimento da criança.
Para que a aprendizagem se efetive, o educador necessita ter a consciência de que o
brincar na educação infantil é parte essencial no ensino, pois é através da brincadeira que a
criança aprende, questiona, investiga, interpreta o mundo e se constitui como um ser social.
Sendo assim o aprendizado através do brincar só tem significação para a criança se estiver de
acordo como o planejamento do educador, pois se o brincar estiver descontextualizado das
práticas escolares, não terá o efeito esperado.
Os jogos e as brincadeiras quando utilizados de maneira correta pelo educador em sala
de aula, contribuem imensamente para a aprendizagem dos educandos, visto que estes
recursos podem ser utilizados de forma a garantir a construção do conhecimento e a
constituição de um sujeito crítico e reflexivo, produtor de sua própria história.
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Podemos considerar que a inserção da ludicidade no planejamento escolar, necessita
estar vinculada a uma proposta de educação flexível e que esta seja direcionada a garantir a
qualidade do processo de ensino aprendizagem.
O educador enquanto mediador do conhecimento necessita criar oportunidades para
que o brincar se efetive nas atividades dentro e fora da sala de aula, mas para que a
aprendizagem ocorra durante a realização dessas atividades é necessário que o educador se
preocupe em planejar, escolhendo sempre os materiais mais apropriados para a idade e de
acordo com as especificidades de cada turma.
Para tanto é preciso que haja uma preocupação por parte das instituições escolares e
dos educadores em estarem atualizados e sempre buscarem se aperfeiçoar cada vez mais.
Desta forma concluímos que a pesquisa responde de forma satisfatória aos
questionamentos que nortearam a elaboração da mesma. Visto que o brincar é parte essencial
no desenvolvimento infantil e que a criança aprende e se realiza através das brincadeiras, por
isso faz-se necessário à inserção das atividades lúdicas no planejamento educacional, de
forma a garantir a efetiva aprendizagem através de tais atividades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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descortinando práticas. 2.ed., São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
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