A Insegurança Da Escolha Profissional Na Adolescência

Post on 14-Dec-2015

243 views 9 download

description

Através das Oficinas Terapêuticas realizadas no Estágio Curricular na Escola Professor Jairo Grossi, percebi uma insegurança nos adolescentes em relação à escolha da profissão. Apesar de esses adolescentes cursarem o 9º ano do ensino fundamental, é notório que desde cedo há expectativas da família, da sociedade e deles mesmos no que diz respeito à escolha profissional e para complicar ainda mais, já é sabido que este momento é determinado por intensos conflitos de identidade. Conflitos estes, que, geram ansiedade no adolescente que dificilmente consegue resolvê-¬los sozinho.

Transcript of A Insegurança Da Escolha Profissional Na Adolescência

A INSEGURANÇA DA ESCOLHA PROFISSIONAL

NA ADOLESCÊNCIA

INTRODUÇÃO

Através das Oficinas Terapêuticas realizadas no Estágio Curricular na Escola Professor Jairo

Grossi, percebi uma insegurança nos adolescentes em relação à escolha da profissão. Apesar

de esses adolescentes cursarem o 9º ano do ensino fundamental, é notório que desde cedo há

expectativas da família, da sociedade e deles mesmos no que diz respeito à escolha

profissional e para complicar ainda mais, já é sabido que este momento é determinado por

intensos conflitos de identidade. Conflitos estes, que, geram ansiedade no adolescente que

dificilmente consegue resolvê-los sozinho.

DESENVOLVIMENTO

A adolescência é um estádio do ciclo de vida no qual o indivíduo passa por transições que

acarretam grandes mudanças em sua vida (Santos, 2005). Ocorrem mudanças no corpo, no

relacionamento com a família, nos desejos, no pensamento e consequentemente na

compreensão do mundo que o cerca. A adolescência é vivenciada pelo jovem em meio a um

turbilhão de sensações e sentimentos que, na maioria das vezes, são conflitantes e

antagônicos: é o querer ser adulto por um lado, mas continuar a ser criança por outro.

A adolescência é uma fase da vida que se expressa através da necessidade da afirmação, da

insegurança e da esperança com o tornar-se adulto. A autora Neves (1979) já comentava a

ideia de que a fase em que o adolescente “transita” se fundamenta intensamente em seu

desenvolvimento físico, intelectual, moral e social, com características bem definidas que

devem necessariamente ser levadas em consideração por todos que o circundam. O aluno

chega ao 3º ano com inúmeras dúvidas em relação à opção profissional. E neste contexto o

jovem se depara com a necessidade de tomar uma decisão muito importante: a escolha da

profissão.

Muitos adolescentes se sentem inseguros quanto à escolha profissional. A diversidade de

profissões e áreas de atuação cresce cada vez mais, aumentando o dilema do mesmo e

dificultando a sua escolha. O adolescente deve optar não apenas por um curso ou por uma

atividade de trabalho, mas também por um estilo de vida, uma rotina, um ambiente do qual

fará parte. Deve decidir não só o que quer fazer, mas também o que quer ser. Isto tudo em um

momento em que ele não sabe ainda nem quem ele é, pois sua identidade está em construção.

A problemática da adolescência foi estudada a fundo por Erikson (1972). De acordo com este

autor, é neste período que se organiza a construção da identidade do eu, sendo esta a base do

desenvolvimento do indivíduo.

Sem ter muita consciência das influências que sofre e, principalmente, sem ter informações

suficientes sobre a profissão que está escolhendo, o jovem faz sua opção e ingressa na

Universidade sem ter muita clareza das suas escolhas. Atualmente, o jovem vive tempos

conflituosos ocasionados pelas mudanças no mercado de trabalho, que exige indivíduos mais

competitivos, adaptativos e competentes. Há necessidade de se orientar o aluno para a escolha

certa, numa reflexão sobre aptidões, bem como para a demanda profissional. A escolha de

uma profissão é um momento difícil para o jovem, pois decidir por uma determinada

profissão significa ter consciência do papel que irá desempenhar e da realização pessoal e

econômica que poderá ter futuramente. A escolha profissional é o momento determinante na

vida de todo sujeito.

No contexto de resolução de crise e formação da identidade que o adolescente se depara com

a necessidade de implementar uma série de escolhas relativas ao seu futuro escolar e

profissional. O conceito de crise adquire aqui um sentido amplo, que em chinês denota, em

seus caracteres, o sentido de "perigo" (ou risco) e "oportunidade" (Levinson, 1990), ou ainda,

segundo Bohoslavsky (1998) "a idéia de passagem, de reajustamento, de nova forma de

adaptação" (Bohoslavsky, 1998: 36).

De acordo com outros autores, "a escolha acompanha o homem em toda sua vivência

emocional" (Pinto, 2003: 82) e qualquer escolha implica perda, o abandono de investimentos

e o seu luto (Pinto, 2003), implica em deixar para trás outras opções (Santos, 2005).

Quando se trata da escolha profissional, o adolescente deve optar não só por um curso ou por

uma atividade de trabalho, mas também por um estilo de vida, uma rotina, o ambiente do qual

fará parte. Enfim, decide não só o que quer fazer, mas também o que quer ser (Filomeno,

1997).

As expectativas e os desejos das famílias muitas vezes deixam os jovens inseguros e os obriga

à determinada escolha. A influência da família ocorre de diversas maneiras. Segundo Soares

(2002), a pessoa, desde o nascimento, é acompanhada pelos desejos e pelas fantasias de seus

pais e familiares em relação ao seu futuro. Os pais criam uma expectativa sobre os filhos, cuja

necessidade de atender estas expectativas varia de acordo com a pessoa e grupo social no qual

está inserido. A família, ao incentivar certos comportamentos e atitudes das crianças e

reprimir outras iniciativas, interfere no processo de apreensão da realidade dessas crianças,

determinando em parte a formação de seus hábitos e interesses. (Soares, 2002, p.74).

A profissão dos pais e familiares e a forma como estes vivenciam suas ocupações também é

fator influente na decisão do jovem. Segundo Filomeno (1997), o filho estabelece conceitos e

valores acerca das profissões de acordo com o que é falado pela família. O fato é que na

estrutura familiar por vezes o jovem sente-se forçado a seguir carreiras familiares pela pressão

imposta na família. Por outro lado, conforme constatou Santos (2005), a liberdade excessiva

por parte dos pais pode causar insegurança e, até mesmo, uma sensação de desamparo e

dúvidas.

Faz-se importante, então, que o jovem considere as influências recebidas pela família, quer

elas sejam explícitas, quer sejam sutis e expressas implicitamente. Segundo Andrade (1997), o

reconhecimento destas influências pode vir a colaborar com a elaboração de um projeto de

carreira, pois o indivíduo pode usá-las de forma positiva e construtiva, de maneira a adequá-

las aos seus próprios desejos e valores.

Como o adolescente deve ter um papel ativo na escolha de sua profissão, é necessário buscar

informações em diferentes fontes: na escola, na família, nas universidades e principalmente

com profissionais experientes. A psicoterapia e a orientação vocacional podem ser de grande

auxílio nesse momento, estimulando os adolescentes a fazerem escolhas mais conscientes. De

acordo com Müller (1988), "chegar a uma escolha vocacional supõe um processo de tomada

de consciência de si mesmo e a possibilidade de fazer um projeto que significa imaginar-se

antecipadamente cumprindo um papel social e ocupacional" (Müller, 1988: 141).

Neste sentido, a orientação profissional pode auxiliar o adolescente a realizar uma escolha

mais esclarecida se reconhecer as influências que sofre, que estão relacionadas ao ambiente

em que ele se desenvolveu: a família, a escola, o meio social e econômico, a religião e mesmo

as questões psicológicas. Ou seja, a intervenção em orientação profissional deve proporcionar

ao sujeito orientando um momento de reflexão, especialmente acerca do que está por trás da

sua escolha.

CONSIDERAÇÕES

Para os adolescentes crescer é um misto de preocupação e excitação, insegurança e otimismo,

vontade de crescer e de brincar. A angústia e a insegurança dos adolescentes em relação à

escolha da profissão e o medo de se arrepender, são bem compreensíveis, uma vez que é

preciso, ao escolher, desistir de outras possibilidades, e assim faz-se necessário elaborar a

perda do que é deixado para trás.

Há uma ansiedade e uma percepção negativa em relação a este processo, ou seja, o luto em

relação à infância: as ansiedades que os adolescentes experimentam com a ideia de que vão

perder a leveza da infância e terão que entrar no mundo duro e competitivo dos adultos.

Como esses adolescentes já sofrem com essas angústias e inseguranças desde cedo, seria

interessante trabalhar essas questões no ambiente escolar, como tema transversal, em conjunto

com as demais práticas e atividades curriculares.

Na hora da escolha, o sujeito deve ter um nível de autoconhecimento bom o bastante que o

permita responder sobre o que gosta de fazer, quais suas habilidades, o que espera do futuro,

portanto existe a necessidade do orientador vocacional estar presente desde cedo na vida

escolar, para facilitar essa escolha. A família tem um papel fundamental no sentido de captar

os interesses e habilidades do filho e proporcionar a ele experiências diversas a fim de facilitar

o encontro dele com uma atividade que lhe seja prazerosa e mais fácil de exercer. Mais

pesquisas devem ser feitas no sentido de fortalecer esta compreensão, fazendo dessa prática

uma nova cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, T. D. (1997). A família e a estruturação ocupacional do indivíduo. Em Levenfus, R. S. Psicodinâmica da escolha profissional (pp. 123-134). Porto Alegre: ArtMed.

BOHOSLAVSKY, R. (1998). Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes.

BOCK, Silvio Duarte. Orientação profissional: a abordagem sociohistorica. São Paulo: Cortez, 2002.

CLAES, M. (1985). Os problemas da adolescência. Lisboa: Editorial Verbo.

ERIKSON, E. (1972). Adolescence et crise. Paris: Flammarion.

FILOMENO, K. (1997). Mitos familiares e escolha profissional: uma visão sistêmica. São Paulo: Vetor.

GONÇALVES, G. Z. (1997). Os filhos, os pais e a escolha profissional. Anais do III Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional/Ocupacional (pp. 195-204). ULBRA, Canoas.

LEMOS, C. G. (2001). Adolescência e escolha da profissão. São Paulo: Vetor.

LEVENFUS, Rosane S. Psicodinâmica da escolha profissional. Porto Alegre, 1997.

LEVINSON, D. J. (1990). A theory of life structure development in adulthood. Em Alexander, C. N. & Langer, E. J. (eds.). Higher stages of human development (pp. 35-53). New York: Oxford University Press.

MÜLLER, M. (1988). Orientação vocacional: contribuições clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artes Médicas.

NEIVA, Kathia C. Entendendo a orientação profissional. São Paulo, Paulus, 1995.

NEVES, Ilka De Guittes; SIQUEIRA, Olgair Krob. Nova dinâmica de orientação educacional. 6. ed., rev. e ampl. Porto Alegre: Globo, 1979.

PINTO, J. M. (2003). Adolescência e escolhas. Coimbra: Quarteto.

RAPPAPORT, Clara R. Escolha, vocação e adolescência & A infância da escolha. In: Escolhendo a profissão. São Paulo: Ática, 2002, p710 e 3236 SOARES.

SANTOS, L. M. M. (2005). O papel da família e dos pares na escolha profissional. Psicologia em Estudo, 10, 1, 57-66.

SILVA, J. J. (2006). O papel da família na escolha profissional. São Caetano do Sul: Yendis.

SOARES, D. H. P. (1997). Uma abordagem genealógica a partir do Genoprofissiograma e do Teste dos Três Personagens. Em Levenfus, R. S. Psicodinâmica da escolha profissional (pp. 135-170). Porto Alegre: ArtMed.