Post on 29-Aug-2020
A Revelação Anunciada como nos Dias Apostólicos I
Este é um trabalho de tradução e adaptação
feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas
nos séculos XVI a XIX, por um processo de
eximia seleção de arquivos em domínio
público de homens santos de Deus que
tiveram uma vida piedosa e real, que é tão
raramente vista em nossos dias. Estas
mensagens estão sendo traduzidas
pioneiramente para a língua portuguesa,
dando assim oportunidade de serem lidas e
conhecidas em países da citada língua.
2
Sumário
O Incenso da Oração.............................. 03
O Pão Nosso de Cada Dia.....................
25
O Último Dia do Crente, Seu
Melhor Dia..................................................
48
Aos Companheiros e os Livros.........
94
Pacificação..................................................
114
Paz, Tribulação e Vitória......................
137
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O Incenso da Oração
Título original: The incense of prayer
Por Octavius Winslow (1808-1878)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
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"Suba a minha oração, como incenso,
diante de ti, e seja o levantar das minhas
mãos como o sacrifício da tarde!" (Salmo
141: 2).
Deus tem um templo fora do céu. Nem todo
o culto, nem todos os adoradores estão
confinados a esse mundo feliz, onde ele
habita imediatamente. Ele tem outro
santuário na terra - outros adoradores e
outros serviços, onde, com quem, e com os
feixes de sua presença estão estritamente
comprometidos e tão verdadeiramente
brilhantes como na assembleia geral da
igreja reunida em torno dele na glória. Não é
a magnífica estrutura feita por mãos, com
seu esplêndido ritual e seu pesado
cerimonial lisonjeador para o orgulho a fim
de cativar o sentido do homem, mas um
templo e um serviço do templo muito mais
bonito aos olhos de Deus é sobre o qual nós
falaremos. "Assim diz o Senhor: O céu é o
meu trono, e a terra o escabelo dos meus
pés; que casa me edificaríeis vós? E qual
seria o lugar do meu descanso? Porque a
minha mão fez todas essas coisas, e assim
todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas
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para esse olharei, para o humilde e contrito
de espírito, que treme da minha palavra.”
(Isa 66.1,2).
" Porque assim diz o Alto e o Sublime, que
habita na eternidade, e cujo nome é Santo:
Num alto e santo lugar habito; como
também com o contrito e abatido de espírito,
para vivificar o espírito dos abatidos, e para
vivificar o coração dos contritos" (Isaías
57.15).
Este é o templo de Deus na terra, este é o seu
adorador, e este é o seu culto. A estrutura
material não é nada, o serviço magnífico não
é nada, o adorador formal não é nada "mas
eis para quem olharei: para o humilde e
contrito de espírito, que treme da minha
palavra.” Oh, mais solene verdade! Oh mais
que preciosas palavras! "Senhor, grava-as no
meu coração pelo teu bendito Espírito, seja o
meu corpo o teu templo, o meu coração o
teu santuário, a tua presença a minha vida, a
minha vida o teu serviço".
(Nota do tradutor: Antes de selecionar e
iniciar a tradução deste texto, eu havia
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meditado sobre o modo como os antigos se
referiam ao cristianismo como sendo a
religião verdadeira, e que este uso da palavra
religião nada tinha a ver segundo o ponto de
vista deles com a noção presente de rituais e
cerimônias pesados e prescritos por forma
tradicional, que de tal modo são observados
que chegam a ocupar o lugar da verdadeira
piedade e santidade. Então, em todos os seus
escritos, ao se referirem à religião
verdadeira apontavam para a vida espiritual
em comunhão com Cristo e com os irmãos
da fé, no cultivo das virtudes relativas aos
atributos divinos pelo poder do Espírito e
aplicação da Palavra de Deus à vida. Não
admira que tantos não se sintam movidos a
congregarem em templos cristãos onde
pouco se vê desta operação vital da piedade
nos corações dos crentes, porém muito de
formas, ritos e cerimônias que chegam até
mesmo a espantar os espíritos mais
sensíveis e temerosos.)
O crente em Jesus é um sacerdote real,
ordenado para oferecer sacrifícios
espirituais a Deus. Ele é chamado e
consagrado, vestido e ungido, para um
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serviço elevado e santo. Seu chamado é
divino, sua consagração é santa, suas roupas
são valiosas, sua unção é perfumada. Antes
da postura, da glória e do serviço de um dos
sacerdotes reais, toda a pompa e
magnificência do sacerdócio de Aarão se
desvanecem em nada. Chamado de acordo
com o propósito de Deus, consagrado e
separado pela graça soberana, investido
com a justiça de Cristo, ungido com o
Espírito Santo e oferecendo o sacrifício
espiritual de um "coração quebrantado e
contrito", é surpreendente que Deus olhe
com um deleite inefável a tais adoradores?
Mas, apenas de um único desses muitos
pontos interessantes devemos nos permitir
falar no momento. Referimo-nos ao incenso
que cada verdadeiro crente em Jesus, em
seu caráter de sacerdote real, oferece ao
Senhor.
O assunto apresenta à nossa visão, o cristão
em seu mais santo e solene traço, que se
aproxima de Deus e apresenta diante do
altar de sua graça o incenso da oração. A
referência típica a isto é
surpreendentemente bela.
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"1 Farás um altar para queimar o incenso; de
madeira de acácia o farás.
2 O seu comprimento será de um côvado, e a sua largura de um côvado; será quadrado; e
de dois côvados será a sua altura; as suas
pontas formarão uma só peça com ele.
3 De ouro puro o cobrirás, tanto a face superior como as suas paredes ao redor, e as
suas pontas; e lhe farás uma moldura de
ouro ao redor.
4 Também lhe farás duas argolas de ouro debaixo da sua moldura; nos dois cantos de
ambos os lados as farás; e elas servirão de
lugares para os varais com que o altar será
levado.
5 Farás também os varais de madeira de
acácia e os cobrirás de ouro.
6 E porás o altar diante do véu que está junto
à arca do testemunho, diante do propiciatório, que se acha sobre o
testemunho, onde eu virei a ti.
7 E Arão queimará sobre ele o incenso das
especiarias; cada manhã, quando puser em ordem as lâmpadas, o queimará.
8 Também quando acender as lâmpadas à
tardinha, o queimará; este será incenso
perpétuo perante o Senhor pelas vossas gerações.
9 Não oferecereis sobre ele incenso
estranho, nem holocausto, nem oferta de
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cereais; nem tampouco derramareis sobre
ele ofertas de libação.” (Êxodo 30.1-9)
Que este incenso era típico da oração,
apareceria em Lucas 1:10, "e toda a multidão
do povo orava da parte de fora, à hora do
incenso."
Davi, embora morando na época mais
sombria da igreja, interpreta correta e
lindamente este tipo: "Que a minha oração
seja posta diante de vós como incenso". É
uma figura apropriada e impressionante.
E agradecidos, querido leitor, devemos nos
aproveitar de tudo o que na Palavra Divina
tende a nos ensinar a natureza, a ilustrar a
bem-aventurança, a aprofundar a
solenidade e a envolver nossos esforços no
santo dever e no doce privilégio da ORAÇÃO.
Interessante e importante, assim como os
tópicos sobre os quais nos dirigimos
anteriormente, todos devem ceder ao interesse e à importância disto. A oração é o
sopro vital da alma vivente; a oração é o
modo de nossa aproximação a Deus; a oração
é o canal designado de toda a bênção. A
ocasião contemplada ao longo deste
pequeno volume é especialmente a época
em que a oração é encontrada como a mais
calmante e santificante.
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Todas as preciosas bênçãos que nos
esforçamos para trazer diante de seu
coração sofrido, calculadas para consolá-lo e
curá-lo, são transmitidas a você através
deste único modo: a comunhão com Deus.
Uma vez que possamos convencê-lo a
derramar seu coração para ele - assim,
separando-o de todos os outros recursos de
conforto, e focando-o exclusivamente para a
oração; em outras palavras, fazendo com
que você foque exclusivamente em Deus,
sentimos que nós o conduzimos através das
ondas de sua dor para a rocha que é mais alta
do que você. Que o Espírito Eterno seja nosso
Mestre e Consolador, enquanto brevemente
falamos do INCENSO DA ORAÇÃO.
O incensário do crente - o que é? De onde
surge o incenso da oração subindo ao trono
do Eterno? Oh, é o coração. O coração
renovado e santificado do crente é o
incensário de onde sobe a nuvem
perfumada. Ah crente; há falsos, há
censuradores espúrios acenando diante do
trono da graça. Não há precioso incenso
neles, nem fogo, nem nuvem. Deus não
cheira um aroma doce em sua oferta. A
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verdadeira oração é o incenso de um
coração quebrantado pelo pecado,
humilhado pela sua iniquidade, lamentando
sua praga, tocado, curado e confortado com
o sangue expiatório do grande sacrifício de
Deus. Este é o verdadeiro incensário; isso é o
que Deus olha. Não podemos citar
novamente suas palavras, tão expressivas,
tão solenes, tão preciosas? "A este homem
eu olharei, aquele que é pobre e de um
espírito CONTRITO, e que TREME da minha
palavra."
Este é o próprio incensário escolhido por
Deus. Isso, e somente isso, ele considerará.
Oh! Quem pode descrever o valor, a beleza e
a aceitação desse incensário para aquele
cujos "olhos se movem de um lado para
outro por toda a terra, para mostrar-se forte
em favor daqueles cujo coração é perfeito
para com ele?"
A este, Deus olha. "Porque o Senhor não vê o
que o homem vê, porque o homem olha para
o exterior, mas o Senhor olha para o coração"
(1 Sam 16.7). Precioso incensário! Moldado,
formado, embelezado por Deus.
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Não existe na terra uma coisa mais vil e
desagradável, do ponto de vista do
verdadeiro crente, do que seu próprio
coração. De qualquer outro olho humano
cujo seio é profundamente, e
impenetravelmente velado; tudo o que está
dentro é conhecido apenas por si mesmo. O
que essas câmaras de abominação são, Deus
não permitirá que outra criatura saiba. Mas,
oh, quão escuro, quão repugnante, quão
impiedoso para aquele "que conhece a praga
de seu próprio coração!" E ainda assim; oh
graça maravilhosa!
Deus, por seu Espírito renovador fez desse
coração um incensário caro e precioso, cuja
nuvem ascende e enche todos os céus com
sua fragrância. Com todo seu mal interior e
autoaversão, Deus vê suas lutas, observa seu
conflito e marca sua sinceridade. Ele tem
seu dedo em seu pulso; ele sente cada batida,
registra cada vibração. Nem um sentimento
o emociona, nem uma emoção o agita, nem
uma tristeza o obscurece, nem um pecado o
fere, nem um pensamento passa por ele do
qual não está ciente. Crente! Jesus ama esse
seu coração, pois comprou com o sangue, as
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agonias e as lágrimas de Seu próprio
coração. Ele habita em você pelo seu
Espírito, e o ama. Você é Seu templo, Sua
casa, Seu incensário, e nunca poderia
aproximá-lo em oração, mas está preparado
para aceitar tanto o incensário como o
incenso com uma complacência e deleite,
que encontra a melhor expressão na
linguagem de sua própria palavra, "Eu vou
aceitar você com seu doce aroma."
E, o que é o incenso que flui como uma
nuvem deste precioso incensário? Oh, é o
incenso da oração! O mais precioso e
perfumado incenso que jamais chegou ao
céu através de um mero coração humano.
Como descreveremos o preço deste
incenso? Os seus materiais, como aqueles
que Arão lançou no incensário, que os
sacerdotes queimavam diante do Senhor,
cuja oferta era chamada de "incenso de
especiarias", são mais caros ainda. São
materiais divinos lançados nele pelo próprio
Deus; a convicção do coração sobre o
pecado, o seu sentimento de autoaversão, a
sua doce contrição, a sua santa tristeza, o seu
arrependimento sincero, a sua sincera
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confissão, a sua plenitude livre e sem
reservas derramando-se diante de Deus. E
de fato, deve ser muito daquilo que o Espírito
Santo de Deus inspirou, porque ele é a brasa
viva que queima o incenso.
E o que diremos da fragrância deste
incenso? Oh, quanto ainda temos de
aprender sobre a doçura intrínseca da
oração real! Só podemos conceber
imperfeitamente a fragrância que deve
haver para Deus na respiração do Espírito
Divino, no coração de um pobre pecador. É
talvez um gemido, um suspiro, uma lágrima,
um olhar, mas é a pronunciação do coração,
e Deus pode ouvir a voz do nosso choro, e
interpretar a linguagem de nossos desejos,
quando os lábios não proferem uma palavra,
tão perfumado para ele é o incenso da
oração. E quando a oração surge de um
coração tocado pelo Espírito de adoção,
sendo a respiração do amor de um filho, a
confiança e forte desejo de buscar o seio de
Deus; oh quão rico o incenso é então!
E é o incenso de um coração de oração
carregado por tristeza, ferido e murchado
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como erva, menos perfumado para Deus?
Não, cristão de luto, a oração é o alívio dado
por Deus para o seu triste coração. Dai-vos,
porém à oração, agora na hora da vossa
tristeza e solidão, e os vossos sopros
enviados ao céu com trêmulos acenos,
retornarão ao vosso coração desconsolado e
desolado, todos ricos e cheios de
consolações do céu. As respirações santas
que sobem do coração de um crente, se
acumulam nos céus superiores, e quando a
maioria precisa de refrigério descem
novamente nas bênçãos da aliança sobre sua
alma. Nenhuma oração de fé real é perdida,
assim como a umidade exalada da Terra
nunca é perdida. Aquele vapor fino, quase
invisível, que o sol da manhã apanhou,
retorna novamente destilando em suaves
orvalhos, ou caindo em abundante chuva,
regando a terra e fazendo-a produzir e
brotar. Esse desejo fraco, aquela respiração
fraca da alma à busca de Deus, de Jesus, de
santidade, e de céu, nunca perecerá.
Era, talvez, tão fraco e trêmulo, tão
misturado com tristeza e dor, tão carregado
de queixas e pecado, que você mal podia
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discerni-la como verdadeira oração; e ainda,
amado, ascendendo de um coração habitado
pelo Espírito Santo de Deus, e tocado pelo
amor de Deus, ela se levantou como a nuvem
de incenso diante do trono do Eterno e foi
misturada com a fragrância do céu. Ao redor
daquele trono orações estão se reunindo,
como uma aglomeração de anjos, e embora
a visão possa demorar, contudo esperando
na fé humilde o tempo de Deus, aquelas
orações voltarão carregadas com as mais
ricas bênçãos da aliança eterna - "as fiéis
misericórdias de Davi". Deus concederá os
desejos de seu coração. Jesus se manifestará
à sua alma. Para nada mais, nosso Pai
Celestial se comprometeu mais forte e
solenemente do que com a resposta da
oração da fé. "Chamarás, e eu responderei."
Mas, há ainda um aspecto de nosso assunto
indescritivelmente glorioso, indizivelmente
precioso. De onde o incenso da oração deriva
sua verdadeira fragrância, poder e aceitação
com Deus?
Ah, amado! A resposta está próxima. De
onde, senão do incenso do mérito expiatório
de nosso Grande Sumo Sacerdote oferecido
na terra, e pela incessante intercessão
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apresentada no céu? A abertura do sétimo
selo, na visão apocalíptica revelou esta
gloriosa verdade ao olho maravilhado do
evangelista. "Veio outro anjo, e pôs-se junto
ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-
lhe dado muito incenso, para que o
oferecesse com as orações de todos os
santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de
Deus a fumaça do incenso com as orações
dos santos." (Apocalipse 8: 3, 4).
Este anjo não é outro senão o Anjo da
aliança, Jesus, nosso Grande Sumo
Sacerdote que está diante do altar de ouro no
céu, apresentando o incenso doce de seus
méritos divinos e morte sacrificial; a nuvem
que sobe diante de Deus "com as orações dos
santos".
Oh, é o mérito do nosso Emanuel, "que se
entregou a si mesmo por nós como uma
oferta e um sacrifício a Deus, por um cheiro
suave", que dá virtude, prevalência e
aceitação ao incenso da oração ascendente
do coração dos filhos de Deus. Cada petição,
cada desejo, cada gemido, cada suspiro, cada
olhar, surge diante de Deus com a "fumaça
do incenso" que sobe da cruz de Jesus e do
"altar de ouro que está diante do trono". Toda
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a imperfeição e impureza que se misturam
com nossas devoções aqui, é separada de
cada petição pela expiação de nosso
Mediador, que a apresenta como doce
incenso a Deus.
Veja seu Grande Sumo Sacerdote diante do
trono! Veja-o movendo o incensário de ouro
de um lado para outro! Veja como a nuvem
de incenso sobe e envolve o trono! Veja
como o céu está cheio de sua fragrância e
sua glória!
Crente em Jesus, sobre o coração do sumo
sacerdote oficiante o teu nome está escrito;
na fumaça do incenso que subiu do
incensário movido, suas orações são
apresentadas. O sangue de Jesus purifica-as;
o mérito de Emanuel as perfuma, e nosso
glorioso Sumo Sacerdote assim apresenta
tanto a nossa pessoa como o nosso sacrifício
a seu Pai e nosso Pai, ao seu Deus e nosso
Deus. Oh maravilhoso incentivo à oração!
Quem, com tanta certeza de que suas
petições fracas, quebradas e manchadas,
mas sinceras, acharão aceitação com Deus,
não se dirigiriam em oração no trono da
graça?
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Vá, em nome de Jesus; vá, lançando-se sobre
o mérito que enche o céu com sua
fragrância; vá e derrame seu pesar, revele
sua tristeza, confesse seu pecado, pleiteie o
seu perdão, revele suas necessidades,
contemplando o Anjo que está no "altar de
ouro que está diante do trono". O incenso
que respira de seu coração oprimido e ferido
"subirá diante de Deus da mão do Anjo",
como uma nuvem, rica, perfumada e aceita.
Ó, dá-te à oração! Não diga que seu
incensário não tem nada a oferecer. Que não
contém especiarias doces, nem fogo, nem
incenso. Apresente-o como ele está, todo
vazio e frio, ao Grande Sumo Sacerdote, e
enquanto olha com fé para aquele que é o
Altar, o Cordeiro morto e o Sacerdote,
meditando assim sobre este espetáculo
maravilhoso de Jesus, sacrificado por você,
o seu Espírito lançará as doces especiarias
da graça e as brasas de amor no seu coração
vazio e frio, e haverá uma nuvem de incenso
precioso, que ascenderá com o "muito
incenso" dos méritos do Salvador, como
"uma oferta e um sacrifício a Deus de um
cheiro suave e doce."
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Lembre-se, que Jesus oferece com "muito
incenso" a oração de "todos os santos". Nesse
número, você amado, está incluído. Os
santos provados, os santos doentes, os
santos sofridos, os santos tentados, os santos
enlutados, os santos fracos e enfermos, os
santos errantes e restaurados; sim, "as
orações de todos os santos" são "oferecidas
sobre o altar de ouro que está diante do
trono".
Nem esqueça que há incenso da noite, bem
como incenso da manhã. "Quando Aarão
acender as lâmpadas à tarde, queimará
incenso." E assim, quando o dia da época de
sua prosperidade e alegria é passado, e a
noite de adversidade, tristeza e solidão
desenha suas sombrias cortinas em torno de
você, então tome o seu incensário e agite-o
diante do Senhor. Ah! Penso naquela hora de
solidão solene e triste, naquela hora em que
a tristeza vem, e visões de outros dias
dançam diante dos olhos, como sombras na
parede, naquela hora em que falha todo o
apoio e simpatia humana; é então que o mais
doce incenso da oração sobe diante de Deus.
Sim, não há oração tão verdadeira, tão
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poderosa, tão perfumada como a que a
tristeza pressiona no coração. Ó, crente que
sofre, entrega-te a ti mesmo à oração.
Você é um peregrino, e solitário?
Longe da casa que uma vez chamou de sua
própria?
Do peito fiel e da amizade arrebatado,
Em mãos estranhas seus confortos
investidos,
Sua vida um dia invernal triste,
Afastado pela luz do sol! - Levante-se e ore!
Sorriu em você uma vez a felicidade da terra,
E alegrias vorazes de valor transitório?
Você adorou em algum santuário de ídolos,
Ou quanto dobrou teus joelhos?
Desapareceu aquelas criaturas de um dia,
O que você deixou? Levante-se e ore!
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Com lágrimas, com agonia mais amarga,
O Salvador lutou, ó alma, para ti!
Antes que ele pudesse triunfar
Para defender o sacrifício aceito:
Então, até que o mundo passe,
Ficam firmes as suas palavras: Levantai-vos
e orai!
Traga, pois o seu incensário, sacerdote
pesaroso do Senhor! Reabasteça-o no altar
do Calvário, e depois acene com uma mão
forte diante de Deus até que a tua pessoa, as
tuas dores e a tua culpa sejam todos
envolvidos e perdidos na nuvem de incenso
doce que se eleva diante do trono e
misturado com a nuvem ascendente da
preciosa intercessão do Redentor.
A oração o acalmará, a oração aliviará seu
coração, a oração removerá ou mitigará sua
dor, a oração curará sua doença ou tornará
sua doença agradável de suportar, a oração
expulsará o mau temperamento, a oração
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trará Jesus sensivelmente perto para tua
alma, a oração levará o teu coração ao céu e
trará o céu ao teu coração.
"Senhor, clamo a vós; apressai-vos, escutai a
minha voz quando clamo, que a minha
oração seja apresentada diante de vós como
incenso, e o levantamento das minhas mãos
como sacrifício da tarde". "Eu me entrego à
oração."
As orações que faço serão então doces,
Se Tu, oh Espírito, me dás pelo que orar;
Meu coração sem ajuda é argila estéril,
Aquele que de seu eu natural não pode
alimentar nada:
Das obras boas e piedosas Tu és a semente
Só há vivificação quando Tu o fazes:
Sempre que Tu nos mostras o teu
verdadeiro caminho,
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Nenhum homem pode encontrá-lo: Pai! Só
Você pode ordenar.
Oh, então, respire esses pensamentos em
minha mente
Porque tal virtude pode em mim ser
produzida,
Que em Seus passos santos eu possa pisar;
Os grilhões da minha língua você desatará,
Que eu possa ter o poder de cantar a Ti,
E entoar louvores ao Teu nome
eternamente.
25
O Pão Nosso de Cada Dia – Não se
Preocupe
Título original: Our Daily Bread - Don't Worry!
Por J. R. Miller (1840-192)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
26
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje."
(Mateus 6:11)
Estamos a meio caminho através da Oração do Senhor, e chegamos agora à primeira petição de algo para nós mesmos. Nós aprendemos que
Deus deve ser sempre colocado em primeiro
lugar; a honra do seu nome, que venha o seu
reino, e se faça a sua vontade devem sempre ser pensados e procurados antes de qualquer coisa
de nosso próprio e particular interesse.
No entanto, é um grande conforto saber que podemos trazer nossas necessidades físicas a
Deus em oração. Ao longo das Escrituras, somos
ensinados que nada que diz respeito à nossa vida, de alguma forma é muito pequeno para ser
de interesse para o nosso Pai celestial. Enquanto
a oração específica aqui, é para o pão, todas as
nossas necessidades físicas estão incluídas. Em uma passagem excelente no mesmo sermão de
Jesus, somos ensinados que nosso Pai celestial
cuida das aves provendo para elas, bem como da
roupagem das flores em sua beleza deslumbrante que dura apenas um dia. Em
seguida, somos ensinados, que o mesmo amor
que provê, portanto, para os pássaros e os lírios
vai cuidar muito mais de nós! Nada necessário para a nossa vida é muito pequeno ou muito
terreno para ser posto no coração por uma
oração.
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Esta petição para o pão de cada dia, como todos os ditos de Cristo, é cheia de significado
profundo. Cada palavra tem sugestões ricas.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Pedimos a Deus para nos dar o pão. Reconhecemos assim,
a nossa dependência dele para isso. É difícil oferecer esta petição com significado real,
quando temos abundância em nossas mãos,
sem temer qualquer necessidade. Podemos
conceber os muito pobres, sem pão, à beira de morrer de fome, proferindo a oração e
colocando todo o seu coração nisto. O
sentimento amargo da necessidade faz o clamor
ser real para eles. Mas, para aqueles que nunca sentiram uma pontada de fome real, não é fácil
perceber o sentido de dependência, que a
petição implica. Esta é uma das palavras de
Cristo, cujo pleno significado, somente a experiência pode ensinar.
No entanto, é verdade que qualquer que seja a abundância que possamos ter, na verdade, dependemos de Deus para o pão de cada dia! A
história do milagre do maná, nos quarenta anos
no deserto, não é senão uma parábola de um
outro milagre incomensuravelmente maior; o fornecimento de pão para bilhões de pessoas em
toda terra, para todos os dias, de todos os
séculos!
28
O que nós chamamos de leis da natureza são apenas maneiras comuns de nosso Pai
trabalhar. A regularidade dessas leis é senão a
prova da fidelidade divina. Suponha que, para um único ano, ou, até mesmo por uma semana
o milagre do pão provido por Deus cessasse em
toda a terra; quais seriam as consequências?
A continuidade ininterrupta da misericórdia de Deus em fornecer alimento dificulta a nossa
apreciação da sua grandeza, e sua necessidade
para nós.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Esta oração implica também, que todo o pão do
mundo é de Deus! "A terra é do Senhor, e a sua
plenitude." O pão pertence a ele, e o que precisamos pode se tornar nosso, somente
através de seu dom para nós. Podemos ter isto e
usá-lo, sem pedir a ele, mas, se assim o fizermos, vamos pegar aquilo a que não temos direito. Até
mesmo o alimento que está na nossa mesa,
pronto para ser comido ainda não é nosso até
que o peçamos a Deus, porque, na verdade, pertence a ele.
No entanto, aqueles que não oram, nem sequer pensam em Deus parecem estar alimentados,
tanto quanto o justo, e às vezes, mais abundantemente. Deus "faz nascer o seu sol
sobre maus e bons, e faz chover sobre os justos
e os injustos".
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Mas há uma diferença. Aqueles que pedem a Deus o seu pão, o obtêm como seu dom e com a
sua bênção sobre ele; enquanto que aqueles que
o tomam sem pedir e sem agradecer por ele, o obtêm, e podem ser alimentados, mas perdem
a bênção de Deus que enriquece e dá valor a
tudo o que temos. Isto sugere o verdadeiro significado e o acerto do costume cristão de
pedir uma bênção, ou "dar graças" antes de uma
refeição.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." A forma da oração ensina a lição da abnegação. Não é
"Dê-me", mas "Dê-nos." Nós não podemos chegar
a Deus para nós mesmos. Devemos pedir pão
para os outros, para todos, até mesmo para os nossos inimigos, se temos inimigos.
Especialmente devemos pensar nos
necessitados, nos destituídos, pedindo a Deus
para dar-lhes pão. Se formos sinceros devemos estar prontos também, até onde tenhamos
oportunidade, e tanto quanto somos capazes,
para ajudar, oferecendo a nossa oração para os
outros, compartilhando a nossa abundância com aqueles que nada têm. "Quem tiver bens do
mundo, e, vendo o seu irmão em necessidade, e
fechar o seu coração para ele, como é que o
amor de Deus pode permanecer nele?"
Um dos mais belos comentários sobre este ensinamento está na forma como o povo da
Igreja Primitiva vivia tendo tudo em comum.
30
Após o dia de Pentecostes, no brilho do recém-
nascido amor dos discípulos, aqueles que
tinham abundância, davam para aqueles que
eram pobres, de modo que havia igualdade e ninguém tinha falta. Só assim pode qualquer
seguidor de Cristo cumprir o ensinamento do
Mestre. Devemos estar prontos para partilhar nosso pão com nosso irmão que não o tem.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Há uma limitação nesta petição. Na outra forma desta
oração, em Lucas, as palavras variam um pouco, "Dá-nos dia a dia o nosso pão de cada dia." Em
Mateus, é uma oração apenas para um dia sem
pensar no amanhã. Em Lucas, a oração abrange
outros dias, mas apenas como eles vêm, um dia de cada vez. Em ambas as formas, somos
ensinados a orar apenas para o pão de um dia.
Há uma lição profunda neste ensinamento. A vida não nos é dada para o ano ou para o mês, mas para dias individuais. A noite é o horizonte
que limita nossa visão; nós não vemos o dia
seguinte, e confinamos o nosso pensamento e
preocupação, ao pouco espaço entre o nascer e o pôr-do-sol. Isto não proíbe o planejamento,
pois a Bíblia incentiva o cuidado sábio e bom
para o futuro. Mas todos nós somos ordenados a
pedir a Deus para nos dar o que é suficiente para os dias atuais. Mesmo à noite, quando a última
migalha é comida e não há nada na loja para
amanhã, não precisamos ter medo, nem pensar
31
que Deus se esqueceu de nós. Quando o amanhã
chegar, podemos pedir a Deus o nosso pão de
cada dia e saber que Deus vai nos ouvir e
responder a nossa oração do modo certo.
Aqui, novamente, nos é ensinada a lição maravilhosa de viver um dia de cada vez; uma
lição que percorre toda a Bíblia. Isto nos
libertaria de uma imensa quantidade de
preocupação e ansiedade se pudéssemos realmente aprender esta lição.
Tentar levar a carga de amanhã, juntamente com os fardos de hoje coloca as pessoas para
baixo! Qualquer um pode fazer tarefas de um dia
em um único dia, ou suportar a luta de um dia; mas isso é o suficiente para qualquer um! Isso é
tudo que Deus pretende para qualquer um
carregar: apenas a carga de um dia.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Há uma sugestão especial na palavra NOSSO. “Dê-nos o
nosso pão.”
Primeiro, ele se torna nosso somente através de um dom de Deus para nós. Mas, há algo mais
também implicado; o pão deve ser conquistado
por nós antes que seja adequadamente nosso. É
evidente que é ensinado nas Escrituras que todos devem trabalhar para o seu próprio pão.
Esta foi a lei do estado não caído no Jardim do
Éden, e não é menos lei no reino da redenção.
32
Claro que isto não se aplica à crianças que são
demasiado jovens para o trabalho; ou para os
velhos que são demasiado fracos; ou para os
doentes que estão incapacitados para o trabalho; todos esses estão sob o cuidado
especial de Deus e não serão esquecidos. Mas
todos os que são capazes de trabalhar devem fazê-lo, ou o pão que eles comem não é
legitimamente seu. "Se alguém não trabalhar",
diz o apóstolo Paulo, "também não coma!"
O pão deve ser obtido também, de forma que tenham a aprovação divina. Se um homem
rouba seu pão de cada dia, este não é seu, ele
tem roubado a Deus e a seu semelhante, e há
uma maldição sobre o que ele come! O dinheiro obtido nas transações fraudulentas, ou por
quaisquer meios desonestos, não foi justamente
merecido, e a bênção de Deus não pode ser
invocada sobre ele por qualquer forma de oração.
Imagine o preguiçoso, por exemplo, vivendo com os frutos do seu pecado, pedindo a Deus para dar-lhe, como uma bênção, o pão na sua
mesa! Imagine um dono de bar, que ganhou seu
pão com a venda de bebida forte, trazendo ruína
sobre vidas e casas, pedindo a Deus para abençoar o seu pão de cada dia! O pão de Deus
pode se tornar nosso com uma bênção, somente
quando é ganho de forma honesta. Enquanto
33
trabalhamos para ganhar o pão, devemos nos
guardar da corrupção do mundo.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Existe ainda uma outra limitação na petição, na
palavra “diariamente”, que significa “procurado para o dia - a provisão diária”.
Não é, portanto uma oração para uma grande oferta. Nós não somos autorizados a pedir luxos.
Não precisamos inferir que é errado para nós
termos mais do que nossa real necessidade que o dia requer, mas o "pão de cada dia" é tudo o que
é prometido.
Paulo diz: "O meu Deus, deve satisfazer todas as vossas necessidades, segundo as suas riquezas
na glória." Isto nos assegura uma disposição
muito abundante. Nosso Pai faz tudo generosamente. Ele nunca é mesquinho em
cuidar de seus filhos. Com frequência ele
fornece suas provisões mais abundantemente,
dando-lhes muito mais do que precisam. Mas, nós somos ensinados a pedir apenas o "pão de
cada dia", o suficiente; e não podemos
reivindicar a promessa de mais.
(Nota do tradutor: Com esta oração pelo pão diário somos ensinados a não sermos cobiçosos, vivendo com a ganância e avareza em nosso
coração. Portanto, a oração diária é um
lembrete de que devemos estar satisfeitos com
34
o que tivermos, seja pouco ou muito, pois a
nossa satisfação não deve depender do quanto
possuímos de bens deste mundo, mas da nossa
comunhão real com Deus.)
Esta oração parece proibir a extravagância. O pão de Deus nunca deve ser desperdiçado! Há
uma história de Carlyle, que um dia foi visto indo para o meio da rua pegar um pedaço de pão
que viu no chão. Pegando-o com sua mão
suavemente, como se fosse algo muito valioso,
ele limpou a sujeira e, em seguida, levou-o até o meio-fio e colocou-o sobre ele, dizendo: "Eu fui
ensinado por minha mãe a nunca desperdiçar
nada, muito menos pão, o mais precioso de
todos os dons de Deus. Este pedaço de pão pode alimentar um cão com fome ou um pequeno
pardal."
Nosso Senhor ensinou a mesma lição, quando, depois de operar seu grande milagre dos pães,
alimentando milhares, ele ordenou que todas as
migalhas fossem ajuntadas, para que nada fosse
desperdiçado. O pão que temos como dom de Deus é sagrado e não deve ser desperdiçado,
seja de forma imprudente ou em extravagância
inútil!
Somos ensinados a limitar nossos desejos, e pedir com confiança para todos que possam
necessitar a cada dia. Os dias diferem; alguns
trazem suas cargas pesadas, suas grandes
35
necessidades, sua tristeza aguda, suas cruzes;
outros dias têm menos necessidades. Deus
conhece os nossos dias, e ele é mais capaz do
que somos, para medir nossas necessidades reais para cada dia. Por isso, podemos pedir
quotidianamente o pão, com segurança, e deixá-
lo escolher o que deve nos dar. Ele nunca vai dar muito pouco!
É certamente, um grande conforto saber que neste mundo cada cristão é pensado e cuidado
por nosso Pai Celestial, que nos ama com um amor infinito e eterno! Ele não pensa de nós
apenas como uma vasta família de indivíduos,
mas como indivíduos. Ele sabe e alimenta todas
as aves e nenhuma delas pode cair no chão sem a permissão da sua vontade.
Mais seguramente e com maior pensamento de amor, ele conhece seus próprios filhos! Ele conhece os nossos nomes. Cada um de nós é
pessoalmente caro para ele. Os cabelos da nossa
cabeça estão todos contados. Nenhum de nós é
esquecido por Deus, por um só momento. Não podemos estar em quaisquer condições ou
circunstâncias que não sejam bem conhecidas
por Deus. "O vosso Pai sabe o que você precisa,
antes de pedir a ele."
Este ensinamento faz com que a lei da vida seja muito simples. Não estamos vivendo para obter
comida, mas vivemos para Deus. Não temos
36
nada a ver diretamente com a provisão de
nossas próprias necessidades, porque isto é
assunto de Deus, e não nosso. Há apenas duas
coisas com que precisamos nos preocupar; em primeiro lugar, devemos fazer nosso dever - a
vontade de Deus, como é dada a conhecer a nós
dia após dia. Então, devemos confiar em Deus para a provisão do nosso corpo e das nossas
necessidades temporais.
Aqueles que aprenderam a viver assim, têm encontrado o caminho da paz. A preocupação é
pecado. Ela desonra a Deus, pois é criada a partir
de duvidarmos de sua sabedoria e bondade para
com seus filhos! Causa dor à nossa própria vida, impedindo nosso crescimento espiritual,
estraga a beleza de nosso caráter, e embaça
nosso testemunho de Deus aos outros. Se
fielmente fizermos a vontade de Deus, como revelada a nós, e então confiarmos em Deus
perfeitamente, a paz de Deus guardará nossos
corações e pensamentos em Cristo Jesus!
Não se preocupe!
Quando você está inclinado a se preocupar;
não o faça! Essa é a primeira coisa. Não importa
quanta razão pareça haver para se preocupar,
ainda há a regra. Não a quebre, não se preocupe!
O problema pode ser muito confuso, tão
37
confuso que você não conegue ver como ele
pode ser endireitado; ainda assim, não se
preocupe!
Os problemas podem ser muito reais e muito
dolorosos, e pode não aparecer uma fenda nas
nuvens; no entanto, não se preocupe!
Você diz que a regra é demasiado elevada para
ser observada, que o ser humano mortal não
pode cumpri-la, ou que deve haver algumas
exceções à mesma, pois que há circunstâncias
peculiares em que não podemos deixar de nos
preocupar. Mas espere um momento. O que o
Mestre ensina? "Eu digo a você, não se preocupe
com a sua vida, quanto ao que comer ou beber;
ou sobre o seu corpo, quanto ao que vestir." Ele
disse isto sem exceções.
O que Paulo ensinou? "Não se preocupe com
nada!" Ele não disse uma palavra sobre exceções
à regra, mas entregou-a sem reservas e
absoluta.
Um pouco de boa prática sábia e caseira, e bom
senso, dizem que existem duas classes de coisas
com as quais não devemos nos preocupar:
coisas que podemos resolver, e coisas que não podemos resolver.
Males que podemos resolver; devemos resolver.
Se o telhado vazou, devemos consertá-lo; se o
aquecedor não está funcionando e o quarto está
frio, devemos colocar mais combustível; se a
38
cerca está caindo e o gado do nosso vizinho pode
entrar em nosso campo de trigo, é melhor
consertar a cerca do que sentar-se e preocupar-
se com os problemas que as vacas possam
causar; se temos dispepsia que nos faz sentir
mal, é melhor cuidar da nossa dieta. Ou seja,
somos muito tolos em nos preocupar com
coisas que podem ser resolvidas. Resolva-as!
Essa é a sabedoria celestial para esse tipo de
males ou cuidados, que é o caminho para se
lançar esse tipo de fardo sobre o Senhor.
Mas há coisas que não podemos resolver.
"Algum de vocês pode acrescentar um só côvado
à sua altura por se preocupar?"
Que loucura, então, que um homem se
preocupe porque não é alto, ou qualquer um que
se preocupe por causa de qualquer
peculiaridade física que ele possa ter.
Estes são os tipos de um grande número de
coisas na vida das pessoas, que nenhum poder
humano pode mudar. Por que se preocupar com
isso? Preocupar-se produz alguma coisa boa?
Não!
Então, chegamos ao mesmo resultado aplicando
esta regra de senso comum. Coisas que
podemos fazer melhor, devemos fazer melhor, e
não nos preocuparmos com elas! Coisas que não
podemos resolver ou mudar, deveríamos
39
aceitar como a vontade de Deus para nós, e não
fazer qualquer reclamação sobre elas. Este
princípio muito simples, fielmente aplicado,
eliminaria toda a preocupação de nossas vidas!
Como filhos de nosso Pai Celestial, podemos ir
um passo mais longe. Se este mundo fosse
governado pelo acaso, nenhuma quantidade,
quer de filosofia ou de senso comum poderia
nos impedir de nos preocupar, mas sabemos
que nosso Pai está cuidando de nós! Nenhuma
criança pequena na melhor e mais carinhosa
casa, jamais foi assistida com tanto cuidado ou
segurança no amor dos pais terrenos, como é o
menor dos pequeninos de Deus, no coração do
Pai celestial!
"Portanto, não se preocupem, dizendo: Que vamos comer? Ou que vamos beber? Ou que
vamos vestir? Pois os pagãos é que correm atrás
dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês
precisam delas!" Mateus 6: 31-32.
As coisas que não podemos resolver ou mudar
estão na Sua mão divina, e pertencem a "todas as
coisas" que, temos a certeza, que "trabalham em
conjunto para o bem daqueles que amam a Deus."
No meio de toda a grande corrida de eventos e
circunstâncias, em que podemos não ver
qualquer ordem ou desígnio, faríamos bem em
40
saber que cada crente em Cristo está tão seguro,
como qualquer criança pequena nos braços da
mãe mais amorosa!
Não é a mera fé cega que nós tentamos nutrir
em nossos corações, à medida que procuramos
aprender a nos aquietarmos e a confiarmos em
meio de todas as provas e desilusões da vida:
esta é uma fé que repousa sobre o caráter e a
bondade infinita de Deus, a fé de uma criança
pequena, em um Pai cujo nome é "Amor", e cujo
poder se estende a todas as partes do seu
universo. Então, aqui encontramos a rocha
sólida sobre a qual se apoiar, e uma boa razão
para a nossa lição de que nunca devemos nos
preocupar. Nosso Pai está cuidando de nós!
Mas, se nunca devemos nos preocupar; o que
devemos fazer com as coisas que nos inclinam
para a preocupação?
Há muitas coisas na vida, mesmo dos mais
confortavelmente abrigados. Há decepções que
deixam as mãos vazias, depois de dias e anos de
esperança e trabalho. Há frustrações
irresistíveis de planos e propósitos feitos com
carinho. Há lutos que parecem varrer toda a
alegria terrena. Há perplexidades através das
quais nenhuma sabedoria humana pode se
manter de pé. Há experiências em cada vida,
cujo efeito natural é a de inquietar o espírito e
produzir ansiedade profunda e dolorosa.
41
Se nunca devemos nos preocupar, o que
devemos fazer com essas coisas que
naturalmente tendem a causar a preocupação?
A resposta é fácil; devemos colocar todas essas
coisas perturbadoras nas mãos do nosso Pai!
Claro que se continuarmos a carregá-las, não
podemos deixar de nos preocupar com elas!
Mas não devemos carregá-las; pois não
poderemos se o fizermos! É na medida de nossa
sabedoria e capacidade que devemos calcular
nossas vidas, e moldar nossas circunstâncias. O
que as pessoas, às vezes chamam de confiança,
na verdade é indolência; temos que enfrentar a
vida heroicamente.
Não podemos deter a onda que o mar atira em
cima da praia; não podemos controlar os ventos
e as nuvens, e as outras forças da natureza; não
podemos manter-nos longe das geadas que
ameaçam destruir nossas frutas de verão; não
podemos manter fora das nossas portas a
doença que traz dor e sofrimento, ou a tristeza
que deixa a sua angústia pungente!
Nós não podemos impedir a infelicidade que
vem através de outros, ou através de calamidade
pública. Na presença de toda essa classe de
males somos totalmente impotentes; eles são
irremediáveis para qualquer sabedoria ou força
nossa! Por que, então, devemos nos esforçar
42
para carregá-los, apenas para nos maltratarmos
em vão com eles?
Além disso, não há nenhuma razão pela qual
devemos sequer tentar carregá-los! Seria uma
criança pequena muito tola, numa casa de
abundância e amor, se preocupar com a sua
comida e roupa, ou sobre os negócios de seu pai,
e ficar ao mesmo tempo, num estado de
ansiedade e angústia sobre a sua própria
segurança e conforto. A criança não tem nada a
ver com estas questões! Seu pai e sua mãe estão
cuidando delas.
Ou imagine um grande navio no oceano e o filho
do capitão do navio a bordo. A criança fica
ansiosa no navio a respeito de cada movimento,
e preocupada com que algo possa dar errado;
que os motores possam falhar ou que os
marinheiros não façam o seu dever. O que tem o
filho do capitão a ver com qualquer uma dessas
coisas?
O pai da criança deve cuidar delas! Nós somos filhos de Deus, vivendo no mundo de nosso Pai,
e não temos nada mais a ver com os assuntos do
mundo, como o filho do comandante não tem a
ver com a gestão e os cuidados do grande navio no meio do oceano.
Temos apenas que permanecer em nosso lugar,
e atender aos nossos pequenos deveres
pessoais, sem ter qualquer sombra de ansiedade
43
sobre qualquer outra coisa! Isso é o que
devemos fazer, em vez de nos preocupar quando
encontrarmos coisas que naturalmente nos
deixam perplexos. Devemos apenas colocá-las nas mãos de Deus, a quem elas pertencem, para
que ele possa cuidar delas, enquanto nós
permanecemos em paz, tranquilos, continuando com nossas pequenas tarefas
diárias.
Temos uma alta autoridade bíblica para isso. É o
que Paulo ensina em sua carta da prisão,
quando diz: "Não se preocupe com nada, mas em tudo, pela oração e súplica com ações de graças,
sejam as vossas petições conhecidas diante de
Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as
vossas mentes em Cristo Jesus!" Os pontos aqui
brilham de forma muito clara. Não devemos nos
preocupar com coisa alguma! Em nenhuma circunstância possível, devemos nos preocupar!
Em vez de nos preocupar, devemos levar tudo a
Deus em oração. O resultado será a paz: "E a paz
de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes
em Cristo Jesus."
O conselho de Pedro é semelhante, embora
mais condensado. "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de
vós!" 1 Pedro 5: 7.
Na versão revisada seu significado é mais claro:
"Lançando toda a vossa ansiedade sobre ele,
porque ele cuida de vós!" Deus está cuidando de
44
você; não se concentre na menor coisa que você
tenha, mas lance todas as suas preocupações e
ansiedades sobre ele e, em seguida, esteja em
paz. Ele está tentando levar nossas
preocupações, que produzem ansiedade!
Nosso dever é lançá-las todas em Cristo,
cabendo-nos apenas pensar sobre o nosso
dever. Este é o segredo de uma vida pacífica.
Há uma sugestão prática que pode ser útil para
aprender esta lição. O coração pressionado de
cuidados ou dor, não pode assim, permanecer
em quietude, pois estará partido. Seu impulso
natural é dar expressão à sua emoção, em gritos
de dor ou irritações, e murmúrios descontentes.
Será um grande alívio para o coração
sobrecarregado, se no momento de dor ou
provação, possa ser dado algum refrigério para
os sentimentos reprimidos, do que expressões
de preocupação ou ansiedade. É mais sugestivo,
portanto, que nas palavras de Paulo, já citadas,
quando ele diz que devemos levar todas as
nossas ansiedades a Deus em oração, ele
acrescenta "com ações de graças."
As canções de agradecimento devem carregar
consigo a dor reprimida do coração e dar-lhe
alívio. É melhor sempre colocar a dor em
melodia do que em lamentos. É melhor para o
próprio coração, pois isto é um alívio mais doce.
45
Não há asas como as da música e louvor para
afastar os fardos da vida!
É também melhor para os outros, que possamos
começar a cantar uma canção do que soltar um
grito de angústia.
Lembramo-nos de nosso Senhor Jesus Cristo,
quando foi pregado na cruz, onde seus
sofrimentos devem ter sido insuportáveis; em
vez de um grito de angústia, ele transformou a
aflição do seu coração em uma oração de
intercessão por seus assassinos!
Paulo, também em sua prisão, de costas
rasgadas pelo flagelo e seus pés no tronco, não
proferiu qualquer palavra de reclamação e
nenhum grito de dor, mas deu vazão ao seu
grande sofrimento nos hinos de louvor da meia-
noite que ecoaram por toda a prisão.
Estas ilustrações sugerem um segredo
maravilhoso do coração; paz no tempo de
angústia, de qualquer causa. Temos de
encontrar alguma saída para nossas emoções
reprimidas; o silêncio é insuportável. Nós não
podemos reclamar nem dar expressão a
sentimentos de ansiedade, mas podemos virar
as ondas de destruição para os canais de louvor
e oração!
Podemos também encontrar alívio, no serviço
de amor para com os outros. Na verdade, não há
46
segredo mais maravilhoso de resistência alegre
da provação, do que este! Se o coração pode
colocar a sua dor ou o medo em ajudar e
confortar aqueles que estão em necessidade e
apuros, logo se esquece de seu próprio cuidado!
Se toda a história interior de vidas fosse
conhecida, seria descoberto que muitos
daqueles que têm feito o máximo para confortar
a tristeza do mundo, atar suas feridas, e ajudá-lo
em sua necessidade, têm sido homens e
mulheres cujos corações encontraram a saída
para suas dores, cuidados ou tristezas nos
serviços para os outros em nome de Cristo.
Assim, eles encontraram bênção para si
mesmos na paz que governou suas vidas, e se
tornaram bênçãos para o mundo, dando-lhe
canções, em vez de lágrimas, e um serviço útil,
em vez de uma carga de descontentamento e
reclamação!
Se um pássaro tem que estar em uma gaiola, é
melhor ocupar seu lugar de prisão com uma
canção feliz, do que sentar gemendo dentro das
paredes de arame, em tristeza inconsolável.
Se nós temos que ter cuidados e provas, é
melhor que fôssemos cristãos se regozijando,
iluminando a própria escuridão do nosso meio
ambiente com a luz brilhante da fé cristã, do que
sucumbirmos aos nossos problemas e nada
47
ganharmos, senão nos preocuparmos com
nossa vida, e não dar nada para o mundo, senão
murmurações e a memória do nosso miserável
descontentamento!
48
O Último Dia do Crente, Seu Melhor Dia
Por Thomas Brooks (1608-1680)
Traduzido e Adaptado por Silvio Dutra
49
Sermão pregado no funeral da Sra Martha
Randall, na Igreja de Cristo, Londres, 28 de
junho de 1651, por Thomas Brooks, ministro do
Evangelho.
"Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás na glória." Salmo 73:24
"A luz é derramada sobre os justos e alegria para
os retos de coração." Salmo 97:11
Dedicatória da epístola
Aos meus amigos dignos e amados, Sr e Sra John
Russell, e ao Sr Thomas Randall; toda a
felicidade neste mundo, e no que está por vir. O
sermão que se segue foi pregado em cima de sua importunação, e impresso também sobre a
mesma conta. Vocês sabem que nada iria
satisfazer o seu espírito, mas a impressão do que
finalmente me fez involuntariamente disposto a responder a seus desejos; não que eu tivesse
prazer de negar seus desejos, nem porque eu o
valorizava, mas porque achei que não é bom o
suficiente para vocês, nem digno daquele peso que vocês colocaram sobre ele, a saber, senão o
fruto de algumas meditações curtas e
quebradas. Eu já publiquei estas notas, que com
todo o amor eu apresento a vocês. Elas estiveram uma vez em seus ouvidos, e estão
agora em seus olhos - que o Senhor possa
mantê-las sempre em seus corações! Se existe
50
alguma coisa de valor nesse sermão, não é
minha, mas do Senhor, através da graça.
Queridos amigos, vocês sabem que todos nós
devemos morrer no deserto deste mundo, ser reunidos a nossos pais, deixar esta terra, e não
ser mais vistos. Abraão e Sara devem partir, Jacó
e Raquel devem ser separados, Davi e seu filho
devem ser cortados. Nossos dias estão contados, o nosso período de tempo está designado, e não
podemos ultrapassar os nossos limites. "Toda a
carne é como a erva, e sua glória como a flor do
campo," Salmo 103: 15; portanto, não chorem como as pessoas "sem esperança", nem sejam
como Raquel, que "não queria ser consolada."
Para o efeito de atender a este conselho.
1. Em primeiro lugar, foquem mais tempo sobre
o doce comportamento dos outros, sob a perda de seus parentes próximos e queridos. Quando
Deus tinha passado a sentença de morte sobre o
filho de Davi, " Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e
entrou na casa do Senhor, e adorou. Então foi à
sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e
comeu." 2 Samuel 12:20. Quando seus servos questionaram esta ação, ele respondeu: " Porém,
agora que está morta, por que jejuaria eu?
Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela
não voltará para mim?" verso 23.
Da mesma forma, quando os filhos de Arão foram destruídos pelo fogo porque a sua oferta
era fogo estranho, Lev. 10: 22-23, Arão se calou;
ele freou suas paixões, e se submeteu doce e
51
silenciosamente à justiça divina. Da mesma
forma, quando foi dito a Anaxágoras que ambos
seus filhos, que eram tudo o que tinha, foram
mortos, não ficando aterrorizado com a triste notícia, ele respondeu: "Eu sabia que gerei
criaturas mortais!" As pessoas em Thrace,
enterram seus filhos com grande alegria, mas lamentam seu nascimento gravemente, no que
diz respeito às misérias que eles terão enquanto
viverem.
2. Em segundo lugar, no tempo de cruzes,
perdas, e misérias - isto é a sabedoria de crentes
- olharem mais para o alto do que para a cruz; demorarem mais sobre a glória do que sobre a
miséria; e olharem mais a serpente de bronze
que se levantou do que a serpente de fogo que
mordeu e picou. (2 Cor. 4: 16-18; Heb. 10:34, 11: 24-26, 35 e 12: 1-3). Basílio fala de alguns mártires
que foram expulsos durante toda a noite nus em
um tempo frígido, e foram conduzidos para
serem queimados no dia seguinte, e como eles se consolaram desta maneira: "o inverno é
nítido, mas o paraíso é doce; aqui nós trememos
de frio, mas o seio de Abraão vai fazer as pazes
para todos." Galeno escreve de um peixe chamado Uranoscopos, que tem um só olho e
ainda olha continuamente para o céu. Um
cristão sob a cruz deve sempre ter um olho que
olha para o céu, para que a sua alma não possa desmaiar, e ele possa dar glória a Deus no dia da
visitação. Está registrado de Lázaro, que depois
de sua ressurreição dentre os mortos, ele nunca
52
foi visto rindo; seus pensamentos e afetos
ficaram muito fixados no céu, embora o seu
corpo estivesse na terra, que ele não podia
deixar em pequenas coisas temporais o seu coração enquanto focava nas coisas eternas.
(Que o céu seja o objetivo e um homem da terra
seja o seu objeto.) "Um homem", diz Crisóstomo, "que habitasse na contemplação do céu, ficaria
relutante em sair dela." "Nada disso”, diz
Agostinho, "um homem pode envelhecer na
contemplação do céu e, mais cedo envelhecer do que ficar cansado."
3. Em terceiro lugar, Compare suas
misericórdias e suas perdas juntamente, e você
deve achar que suas misericórdias
maravilhosamente superam suas perdas. Você perdeu uma misericórdia, você desfrutou de
muitas misericórdias. Qual é a perda de uma
esposa, um filho, ou qualquer outra
misericórdia temporal, em comparação com o gozo de uma alma sob o favor de Deus, o perdão
do pecado, a paz de consciência, as esperanças
do céu, etc? Além disso, você desfruta de muitas
misericórdias temporais, que faltam a muitos dos preciosos filhos de Sião, etc.
4. Em quarto lugar, considere seriamente as
razões de Deus tirando do seu povo os seus mais
próximos e suas misericórdias queridas. São estas:
[1] Para uma avaliação da força e poder de suas
graças. Não são todas as cruzes, nem todas as
perdas, que provam a força das graças de um
53
cristão. Jó resistiu bravamente em face de
muitas aflições por um tempo, mas quando ele
foi completamente aflito em seu corpo, então
ele agiu como um homem falto de graça, em vez de um homem que havia excedido todos os
demais na graça. (Deus provou a força da fé de
Abraão, e a força da paciência de Jó, e a força de mansidão de Moisés, e a força de zelo de Davi, e
a força de coragem de Paulo - ao máximo. Deus
não somente irá provar a verdade - mas ele
também vai, mais cedo ou mais tarde, provar a força de toda a graça que está em um crente. Êx
12:27, 30-31.)
Quando Deus queima os galpões - mas deixa o
palácio em pé; quando ele tira o servo - mas
deixa o filho; quando ele apanha aqui uma flor e há uma flor nos jardins dos homens - mas deixa
as flores que são o deleite de seus olhos e a
alegria de seus corações; eles suportam isto com
paciência e doçura. Mas quando ele queima o palácio, e tira o filho e recolhe a flor mais bela de
nosso jardim, então nós geralmente nos
mostramos ser homens fracos, e
apaixonadamente gritamos: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! Quem me dera
que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu
filho! " 2 Sam. 18:33.
[2] Deus passa a sentença de morte sobre as
misericórdias mais queridas dos homens, para que ele próprio possa ser mais temido, e que
seus servos preciosos e seus advogados possam
ser de melhor espírito e consideração. Os
54
egípcios não tremeram sob vários juízos, nem
com o que Moisés e Arão disseram, até que Deus
feriu seus primogênitos e, então, eles
tremeram, e, em seguida, os servos do Senhor e seu conselho encontraram uma melhor
recepção da parte deles do que anteriormente
haviam feito. Ah, amigos! o Senhor feriu o seu primogênito, assim como eu digo? Então, olhe
para isto, assim como você deseja honrar a
Deus, para o avanço do evangelho, a paz de suas
próprias consciências, para fechar a boca dos ímpios, e para a alegria daqueles corações que
Deus não teria entristecido, para que Deus seja
mais temido, e que seus servos e seus serviços
sejam mais apropriadamente, amados e considerados.
O povo de Deus, e as ordenanças de Deus – são de Deus, como o seu primogênito; e aqueles que
fazem a luz para o primogênito de Deus, Deus
fará como a luz do seu primogênito. Estes
egípcios haviam matado Israel, o primogênito de Deus, e, portanto, Deus feriu seus
primogênitos. Meu desejo e oração será que
Deus removendo e tirando o seu primogênito,
como posso dizer, possa abrir mais espaço em seus seios para Deus, para Cristo, os santos, e
preceitos, de modo que sua grande perda possa
ser transformada no maior ganho. E,
certamente, se este remédio, esta poção que é dada a você por uma mão estendida do céu não
funcione assim - a próxima poção será muito
mais amarga! João 5:14.
55
[3] Deus passa a sentença de morte sobre
misericórdias mais próximas e queridas dos
homens, para que possa ganhá-los a uma
dependência mais completa e total sob o Seu abençoado ser. O homem é uma criatura apta
para se pendurar e repousar sobre a própria
criatura. "Olhei para a minha direita, e vi”, diz o salmista, “mas não havia quem me conhecesse.
Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha
alma. " Salmo 142: 4. Bem, o que ele faz, agora que
todos os suportes falharam com ele? Por que, agora ele docemente pende para Deus: versículo
5: "clamo a ti, Senhor”, ele diz – “Tu és o meu
refúgio, e a minha porção na terra dos viventes."
Cynaegeirus, um capitão ateniense, agiu com
grande valor na guerra persa, perseguindo os seus inimigos que estavam carregados com os
ricos despojos de seu país, e estavam prontos
para zarpar; ele segurou o navio com a mão
direita, e quando essa foi cortada, ele segurou com a esquerda, que também sendo cortada, ele
segurou com os tocos, até que seus braços
foram cortados, e então ele segurou com os seus
dentes até que sua cabeça foi cortada. Isto é o próprio temperamento da maioria dos homens
e mulheres do mundo, eles vão segurar um
suporte, e se Deus cortá-lo, então eles vão se
agarrar em outro, etc, até que Deus corte todos os seus apoios, e então eles virão descansar em
Deus, e dizer: "Todas as minhas fontes estão em
ti!" Salmo 87: 7.
56
[4] Deus retira do seu povo as suas
misericórdias queridas, para que Ele possa
trabalhar seus corações para uma pesquisa mais
rigorosa e diligente ao examinarem seus próprios corações e comportamento, para que
possam dizer com a igreja: "Esquadrinhemos os
nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o Senhor", Lam. 3: 40. Quando a mão de
Deus, quando a vara de Deus está sobre nossas
costas, as mãos devem estar em nossos
corações, e devemos clamar, "Que mal fizemos nós, que mal fizemos nós!"
Sêneca fala de Sexto, que deveria a cada noite
fazer a si mesmo três perguntas:
(1.) Que mal você curou hoje?
(2.) A qual vício você foi contra este dia?
(3) Em que parte você agiu melhor neste dia?
Quando a tempestade bate forte sobre você,
você precisaria ver qual “Jonas” está dormindo
na parte inferior de suas almas, de modo que,
ele sendo descoberto e lançado ao mar, suas almas possam ficar seguras, pois no afogamento
de seus pecados, encontra-se a segurança de
sua alma.
[5.] Deus retira do seu povo as suas mais queridas misericórdias exteriores, para que
possam ser mais compassivos para com aqueles
que estão, ou estarão, na mesma condição como
a deles. Os judeus no dia de hoje, nos seus banquetes de muita alegria nupcial, quebram
um copo com vinho em memória de Jerusalém,
dizendo: quando o jogam para baixo, "Assim foi
57
Jerusalém quebrada!" O que eles derramam do
vinho, eles se enchem de lágrimas. Não é uma
vergonha ter o mesmo nome, a mesma fé, o
mesmo Cristo, a mesma profissão, etc, e pedir sempre para pisar rosas? Não é uma vergonha
estar embarcado neste grande navio do
cristianismo com tantos bravos espíritos e se esconder sob escotilhas? Os santos devem ser
como as duas cordas do alaúde que estão
sintonizadas mutuamente; tão logo uma é
tocada a outra vibra.
[6] Deus retira do seu povo as suas
misericórdias exteriores mais próximas e queridas, para que possam ter maior galardão e
melhor sabor espiritual e misericórdias.
Diógenes observou a loucura dos homens de
seu tempo - que subavaliavam as melhores coisas - mas supervalorizavam as piores. Ah, que
isso não fosse o pecado e vergonha de mestres
do evangelho nestes dias! Às vezes Deus retira
do seu povo as suas misericórdias exteriores mais próximas e queridas - para que possam ter
um galardão maior e um melhor sabor, das
misericórdias espirituais e celestes. Deus tira
riquezas incertas – para que seu povo possa ter as riquezas seguras! Deus tira a força natural –
para que seu povo possa ter mais força
espiritual! Deus tira a criatura – para que seu
povo se glorie mais em seu Salvador. As coisas espirituais e celestes podem por si só satisfazer
a alma. A linguagem de um homem de Deus é
esta: "Ah, Senhor as coisas boas que tenho de Ti,
58
que elas possam me refrigerar! Contudo não
podem me satisfazer sem Ti!" "Quem tenho eu
no céu senão a ti? e na terra não há quem eu
deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do
meu coração, e a minha porção para sempre."
Salmo 73: 25-26
5. A quinta e última palavra de conselho que vou
dar é esta, considere séria e frequentemente, que o alvo de Deus tirar ou remover uma
misericórdia é, senão abrir caminho para outra,
e, geralmente, para uma melhor misericórdia.
Deus tomou de Davi uma Mical - e lhe deu uma sábia Abigail. Deus tomou de Davi um Absalão e
lhe deu um sábio Salomão. "Todavia digo-vos a
verdade, que vos convém que eu vá; porque, se
eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei." João 16: 7. Deus
tirou a presença corporal de Cristo de seus
discípulos, mas deu-lhes mais abundantemente
da sua presença espiritual, que era uma mais escolhida e doce misericórdia. Deus sempre usa
essa boa palavra, "Eu não vos deixarei órfãos", ou
como está no original grego em João 14:18: "Eu
não deixarei órfãos ou filhos órfãos." Não! Eu virei, e o confortarei de todas as formas e vou
atender a todas as suas necessidades, e serei
melhor para você do que todas as suas
misericórdias: "Por cobre trarei ouro, e por ferro trarei prata, e por madeira, bronze, e por pedras,
ferro; e farei pacíficos os teus oficiais e justos os
teus exatores." Isaías 60:17.
59
Para ilustrar isto: "Pela sua própria malícia é
lançado fora o perverso, mas o justo até na
morte se mantém confiante." Provérbios 14:32.
Deveríamos lamentar pelo homem morto ou pela mulher morta que partiram para o inferno,
a quem o diabo devora, e a quem atormenta a
justiça divina! Mas deixe-me regozijar por aqueles crentes que partiram para o seio de
Cristo, para os quais toda a corte do céu se
manifesta para acolher! "Que eu morra a morte
dos justos, e possa ter o meu fim como o deles!" Números 23:10. "Preciosa é aos olhos do Senhor
a morte dos seus santos!" Salmo 116: 15.
Eu desejo que você e todos os outros que devem
ler o que está escrito aqui, ignorem os erros da
impressora, se você encontrar algum, pois eu
não tive tempo para esperar a impressão para corrigir o que pode ser encontrado de errado. A
leitura e aceitação do que eu aqui apresento
com amor, eu deixarei a seus julgamentos.
No amor e serviço de nosso Senhor querido.
Thomas Brooks
Último dia de um crente, seu melhor dia
"Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro!"
Filipenses 1:21
Amados, estou aqui neste momento para falar
uma palavra aos vivos, meu negócio não é falar
60
alguma coisa aos mortos. Lancem por favor seu
olhar sobre Eclesiastes 7: 1: "Melhor é a boa fama
do que o melhor unguento, e o dia da morte do
que o dia do nascimento de alguém." Vou discorrer sobre a última parte deste versículo
neste momento: "O dia da morte é melhor do
que o dia do nascimento."
Os gregos dizem: "que o dia de nascimento de
um homem é o início de sua miséria."
Jó 14: 1, "O homem que é nascido de uma mulher
nasce para a tribulação e tristeza.” A palavra que é aqui referida "nascido", significa também
gerado ou concebido; observamos que o homem
é infeliz, logo que deixando o calor do ventre
materno; chega chorando ao mundo. Antes mesmo de a criança falar, ele profetiza por suas
lágrimas - de suas dores que se seguirão.
E isso fez Salomão ao preferir seu caixão antes
que sua coroa, o dia da sua dissolução antes do
dia da sua coroação. Mas para não entretê-lo por
mais tempo do que o necessário, principalmente, a observação que eu falarei
neste momento é esta – que o último dia do
crente é o seu melhor dia! O dia da sua morte é
um dia melhor do que o do seu aniversário! Este será um ponto muito doce e útil para todos os
crentes.
1. Eu devo primeiro demonstrar a verdade, que o
último dia do crente é o seu melhor dia!
A morte é uma mudança de lugar. Quando um
crente morre, ele faz, senão mudar de lugar. Ele
muda da terra para o céu, de um deserto para
61
uma Canaã, de um Egito para uma terra de
Gosen, de um monturo para um palácio: como é
dito de Judas, que "ele foi para o seu lugar", Atos
1:25. Um incrédulo ainda não está em seu lugar - o inferno é o seu lugar. Da mesma forma,
quando um crente morre, ele vai para o seu
lugar. O céu, no seio de Cristo, é o seu lugar. E isto afirma a verdade do que falamos, que o dia
da morte de um crente é o seu melhor dia.
"Mas temos confiança e desejamos antes deixar
este corpo, para habitar com o Senhor." 2
Coríntios 5: 8. Um crente não está no presente, em seu lugar. Sua alma ainda está trabalhando e
em guerra, e ele não pode descansar até que
venha a estar no seio de Cristo. Isto Paulo bem
compreendeu quando disse: "Eu desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor!" Fp 1:23.
Eu ficaria feliz em levantar âncora, e hastear as
velas e partir. E sobre esta conta essas almas
preciosas gemem por libertação, "E por isso também gememos, desejando ser revestidos da
nossa habitação, que é do céu;" 2 Coríntios 5: 2.
Por que isso? "Por isso estamos sempre de bom
ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor", v. 6. Nós
não estamos em nosso lugar e, portanto, nós
gememos para estar em casa, isto é, estar no
céu, estar no seio de Cristo, que é o nosso lugar, nossa casa mais desejável.
2. A morte é uma mudança de COMPANHIA.
Neste mundo, o homem mais piedoso deve viver
com os ímpios, e conversar com os ímpios, etc.;
62
e esta é uma parte de sua miséria; é o seu inferno
neste lado do céu. Isto é visto no espírito de Davi:
Salmos 120: 5: "Ai de mim que habito em
Meseque, que eu vivo entre as tendas de Kedar." (Eu li de uma mulher de Deus, que, estando
perto da morte, gritou: "Ó Senhor, não me deixe
ir para o inferno, onde os ímpios estão, porque você sabe que eu nunca amei sua companhia,
enquanto nesta vida!") E de igual modo lemos
em Jer 9: 2: "Oh! se tivesse no deserto uma
estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele, porque todos
eles são adúlteros, um bando de aleivosos." E
isso foi que que fez angustiar e desgastar a alma
justa de Ló: 2 Pedro 2: 7-8, "E livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens
abomináveis (Porque este justo, habitando
entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa,
por isso via e ouvia sobre as suas obras injustas)" Oh, mas a morte é uma mudança de companhia.
um homem de Deus faz, senão mudar a
companhia de pessoas profanas, de pessoas vis,
etc., para a companhia de anjos; e da companhia de cristãos fracos para a companhia de justos
aperfeiçoados. Esse é um lugar notável, "Mas
chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus
vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembleia e
igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos
céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos
justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que
63
fala melhor do que o de Abel. "Hebreus 12: 22-24.
Aqui está uma mudança de fato – a morte é uma
mudança de companhia, bem como uma
mudança de lugar. E se isso é senão um fardo leve, deve ser considerado que o dia da morte de
um crente é melhor do que seu aniversário.
3. A morte é uma mudança de emprego. A alma
crente quando morre, muda seu trabalho e
emprego. Eu o defino assim: O trabalho de um crente neste mundo, encontra-se em orar,
gemer, suspirar, se entristecer, lutar, etc. E nós
vemos em toda a Escritura que os santos mais
escolhidos, que tiveram as maiores visões de Deus, têm impulsionado este comércio; eles
gastaram seu tempo em oração, gemendo,
lamentando, e combatendo: Ef. 6:12: "Porque não
temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste mundo,
contra as hostes espirituais da maldade nas
regiões celestes." (O lema de Probus, um valente imperador romano era: "Sem luta não há
pagamento!" Da mesma forma, eu digo: "Sem
luta não há coroa! Sem luta não há céu!") A
verdade é - a própria vida de um crente é uma guerra contínua. Os crentes têm de lidar com
inimigos sutis, inimigos maliciosos, inimigos
vigilantes, e inimigos incansáveis. Eles têm de
lidar com tais inimigos como os que derrubaram Adão no paraíso, o homem mais
inocente do mundo, e que derrubaram Moisés,
o homem mais manso do mundo, e Jó, o homem
64
mais paciente no mundo, e Josué, o homem
mais corajoso do mundo, e Paulo, o melhor
apóstolo no mundo, etc.
A vida de um cristão é uma guerra. Jó diz, "Todos os dias de meu combate esperaria, até que
viesse a minha mudança." Jó 14:14. "Eu ainda
luto", diz Jó, "com concupiscências e corrupções
por dentro, e com demônios e os homens no exterior!" "Durante todo o tempo da minha
guerra eu vou esperar até que viesse a minha
mudança." Da mesma forma, em 2 Tim. 4: 8:
"Combati o bom combate da fé", etc.
A morte é uma mudança de emprego. Ela muda
o nosso duro serviço, o nosso trabalho que está
cheio de tristezas, e com regozijo e aleluias ao
Todo-Poderoso cantamos! Não mais orações -mas louvores! Não mais lutas e perseguições,
mas dança e triunfo! Pode uma alma crente
olhar para esta mudança gloriosa, e não dizer:
"melhor é o dia da morte de um crente do que o dia do seu nascimento"? A mortalha de morte
enxuga todas as lágrimas dos olhos do crente!
Apo 7: 9.
4. A morte é uma mudança de diversão, assim como uma mudança de empregos. Vou
expressar isso em três coisas consideráveis:
(1.) A morte é uma mudança de nosso desfrute
mais escuro e obscuro de Deus, para uma apreciação mais clara e doce de Deus. Eu digo, o
melhor crente que respira neste mundo, que vê
e aprecia mais de Deus, e as visões da sua glória,
65
mas ele não desfruta de Deus tão claramente,
senão que ele está muito no escuro.
O apóstolo Paulo foi um homem que foi alto em
seus desfrutes de Deus e ainda, enquanto esteve
aqui na carne, ele diz que via senão como através de um vidro escuro. "Agora vemos apenas um
reflexo obscuro, como em espelho; então,
veremos face a face Agora, conheço em parte; Então, conhecerei plenamente, como também
sou conhecido" 1 Coríntios 13:12.
Deus disse a Moisés que ele não podia ver seu
rosto e viver. A verdade é que somos capazes de
suportar, senão pouco das descobertas de Deus, havendo uma majestade e glória poderosa tal
em todas as descobertas espirituais de Deus.
Nós somos fracos, e capazes de tomar apenas
um pouco de Deus. Temos, senão apreensões escuras de Deus. Testemunham as nossas
lágrimas, suspiros, gemidos e queixas, por ir
para a frente e para trás. Nós olhamos à direita e
à esquerda, como fala Jó 23: 8-9, e Deus se esconde para não podermos vê-lo. Plutarco fala
de Eudoxus, que ele estaria disposto a ser
queimado pelo sol, se ele pudesse ser admitido
para chegar tão perto dele como para aprender a natureza do mesmo. Isto está sobre o coração
dos crentes, "Senhor, vamos ser queimados -
para que possamos vê-lo mais em todas as suas
manifestações gloriosas; sejamos pobres, sejamos qualquer coisa, apenas para que
possamos ser tomados de um mais claro gozo de
ti mesmo ". (Crisóstomo professa que a falta do
66
gozo de Deus seria um muito maior inferno para
ele, que o sentimento de qualquer punição.)
Pergunte àqueles que vivem mais alto no gozo
de Deus, "Qual é a sua maior carga?" Eles vão dizer: "Este é o nosso maior fardo: que as nossas
apreensões de Deus não sejam mais claras, que
não possamos vê-lo a quem nossas almas adorariam, face a face!" Oh, mas agora no santo
céu deve haver uma visão clara de Deus! Não há
nuvens ou névoa no céu!
(2.) A morte é uma mudança de nossos prazeres
imperfeitos e incompletos em relação a Deus, para uma apreciação mais completa e perfeita
dele. Como nenhum crente tem uma visão clara
de Deus aqui, de forma que nenhum crente tem
também uma visão completa e perfeita da Sua vontade aqui. Em Jó 26:14, quão pouco se ouviu
falar dele, falar de Deus e de que se ouve, ah
quão pouco é entendido! É uma excelente
expressão que Agostinho tem: "As coisas gloriosas do céu são tantas que excedem em
número, tão preciosas - que ultrapassam
estimativas; tão grandes – que excedem
medidas!" Bernardo diz: "Porque Cristo estar com Paulo era a maior segurança, mas para
Paulo estar com Cristo era a principal
felicidade!” Crisóstomo diz: "Se fosse possível
que todos os sofrimentos dos santos fossem colocados sobre um homem, isto não poderia
ser comparado a uma só hora no céu!" Tal é a
grandeza e plenitude da glória acima. O lema
67
dos santos é, "Vamos embora daqui! Vamos
embora daqui!”
Assim, em 1 Cor. 13:12: "Agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face.
Agora, conheço em parte, mas então conhecerei
como também sou conhecido."
Se você dissesse: "Almas, por que esperam em
Deus no presente, em seus decretos, leis e
ordenanças?" eles vão responder: "Para que possamos desfrutar de Deus mais plenamente.
Oh, que eu possa ser preenchido com a
plenitude de Deus!"
Não há queixas no céu, porque não existem
necessidades. Oh, quando a morte deve dar o
golpe fatal, haverá uma troca de terra para céu –
de alegrias imperfeitas para prazeres perfeitos de Deus; e então a alma deve ser tomada com
um pleno gozo de Deus; e nenhum canto da
alma será deixado vazio, mas tudo deve ser
preenchido com a plenitude de Deus. Aqui neste mundo, recebemos graça, mas no céu, devemos
receber a glória. Deus mantém o melhor vinho
por último; o melhor de Deus, de Cristo, e do
céu, está além deste mundo presente. Aqui temos, senão alguns goles, alguns gostos de
Deus; a plenitude é reservada para o estado
glorioso. Aquele que vê a maior parte de Deus
aqui na terra, vê senão suas partes traseiras; seu rosto é uma joia cujo esplendor e glória,
nenhum olho pode ver, senão um olho
glorificado.
68
O melhor dos cristãos é capaz de tomar, senão
pouco de Deus; seus corações são como os vasos
da viúva, que poderiam receber, senão um
pouco de azeite. O pecado, o mundo e as criaturas ocupam muito espaço nos melhores
corações, que Deus dá-se pouco a pouco, como
pais dão doces a seus filhos. Mas no céu Deus irá comunicar-se totalmente de uma vez para a
alma! A graça será então absorvida pela glória!
(3.) A morte é uma mudança de uma apreciação
mais inconstante e transitória de Deus, para
uma apreciação mais constante e permanente de Deus. Aqui na terra, o desfrute de Deus pelos
santos é inconstante. Um dia eles desfrutam de
Deus, e em outro dia a alma se senta e se queixa
na angústia de espírito. Aquele que deveria "confortar minha alma está longe;" meu cálice
está vazio, o meu sol está definhando, e o que
pode se fazer com a falta deste sol? Como todas
as luzes de velas e de tochas não podem compensar a falta da luz do sol; assim, quando o
Sol da justiça esconde o rosto, isto não é para
todas as criaturas - confortos que podem se
tornar a falta de seu rosto.
(Pela morte, os santos chegam a uma eternidade
fixa e invariável. Qual será esta vida - ou melhor,
o que não vai ser - uma vez que todo o bem estará
nesta vida – luz que nenhum lugar pode limitar, música que o tempo não pode apagar,
fragrâncias que nunca são dissipadas, uma festa
que nunca termina, uma bênção que a
69
eternidade dá – uma eternidade que nunca verá
fim.)
Davi, por vezes, poderia dizer que "Deus era a sua
porção, a sua salvação, e sua torre forte," e, no
entanto, clama: "Por que estás abatida, ó minha
alma? Por que te perturbas dentro de mim?" Em um lugar ele diz: "Eu nunca serei abalado",
Salmo 30: 6; e ainda hoje segue-se: "Você
escondeu o seu rosto de mim, e eu fiquei turbado," v. 7. E este é o estado de um crente
neste mundo. Mas no céu há ausência de
nuvens que poderiam surgir entre o Senhor e
um coração crente. Deus não tem um sorriso num dia, e uma carranca em outro dia; um dia
toma uma alma em seus braços, e no outro dia
estava a alma aos seus pés. Esta é a sua
negociação com o seu povo aqui. Mas no céu não há nada além de beijos e abraços, nada além de
uma apreciação perpétua de Deus. Quando uma
vez que Deus toma a alma para si mesmo, ele
nunca será noite com mais nada, nunca escuro com aquela alma etc.; todas as lágrimas serão
então enxugadas. Essa é uma palavra doce em 1
Ts. 4: 17-18, "Depois nós, os que ficarmos vivos,
seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim
estaremos sempre com o Senhor. Portanto,
consolai-vos uns aos outros com estas palavras."
Há anjos e arcanjos no céu. Sim, mas eles não fazem o céu; Cristo é o diamante mais brilhante
no anel de glória! É o céu e felicidade o
suficiente ver a Cristo, e estar para sempre com
70
Cristo. Agora, oh que gloriosa mudança é isso!
Parece-me que estas coisas devem nos fazer
aguardar pelo dia da nossa morte, e considerar
esta vida senão como uma morte lenta.
5. A morte é uma mudança que coloca um fim a todas as alterações. O que é toda a vida de um
homem, senão uma vida de mudanças? A morte
é uma mudança que põe fim a todas as mudanças externas. Aqui na terra, muitas vezes
você muda a sua alegria para a tristeza, a sua
saúde para a doença, a sua força para a fraqueza,
a sua honra para a desonra, a sua abundância para a pobreza, a sua beleza para a deformidade,
os seus amigos para inimigos, a sua prata para o
bronze, e seu ouro para o cobre. Agora os
confortos de um homem estão sorrindo, na próxima hora eles estão morrendo, etc. Todos os
temporais são tão transitórios como uma
torrente rápida, um navio, um pássaro, uma
flecha, um corredor que passa. O próprio principal desses confortos exteriores - o que ele
é, senão um nada? O sonho de um sonho, uma
sombra, uma bolha, um flash, uma explosão.
Agora, a morte põe fim a todas as mudanças externas: não haverá mais doença, nem mais
queixas, nem mais necessidades, etc.
E então a morte também coloca um fim a todas
as mudanças internas. Ora, o Senhor sorri para
a alma, e em outro momento, ele franze a testa sobre a alma. Agora Deus dá assistência para
vencer o pecado, em pouco tempo o homem é
levado em cativeiro por seu pecado; agora ele se
71
fortalece contra a tentação, em pouco tempo ele
cai diante da tentação, etc. Jó foi heroico no meio
das tempestades, e fala como um anjo, mas
quando seu corpo foi atingido, e as flechas do Todo-Poderoso o atingiram, e seu dia se
transformou em noite, e sua alegria em tristeza,
etc., então alguém poderia ter pensado dele como um demônio encarnado, por sua
maldição. Mas a morte põe fim a mudanças
internas, bem como mudanças externas. Ora, a
alma nunca mais será tentada, não pecará mais, não mais se frustrará. Agora você pode julgar
por tudo isto, que o dia da morte de um cristão é
seu melhor dia.
A morte é outro Moisés: ela livra os crentes da
escravidão e da fabricação de tijolos no Egito. É um dia ou ano do jubileu para um espírito - o
gracioso ano em que ele sai livre de todos
aqueles capatazes cruéis sob os quais tinha
longamente gemido. Os deuses pagãos afirmam que a morte é summum bonum do homem, seu
bem maior; portanto, quando um deles tinha
construído e dedicado o templo de Delphos, ele
perguntou a Apollo qual seria a sua recompensa: a única coisa que era melhor para
o homem, e o oráculo lhe disse que ele deveria
ir para casa, e dentro de três dias, ele o teria, e no
tempo aprazado ele morreu. Assim, os próprios pagãos têm concordado com esta verdade, que o
dia da morte de um homem é o seu melhor dia.
6. A morte é uma mudança, que traz a alma para
um descanso eterno. A morte é a propositura da
72
alma para a cama - a um estado de repouso
eterno. (A morte é um descanso do trabalho de
nossos trabalhos, um descanso de aflições, de
perseguições, de tentação, de deserção, um descanso do pecado, e um descanso de tristezas,
Gn. 8: 8).Essa é a última manifestação do ponto,
que o dia da morte de um crente é o seu melhor dia. Agora, enquanto estamos aqui neste
mundo, a alma está em uma agitação perpétua.
O homem mais piedoso no mundo de quem é
mais elevado e mais claro o seu desfrute de Deus – encontra-se muitas vezes como a pomba de
Noé, que não achou repouso: ou ele não tem
alguma misericórdia temporal ou espiritual,
será assim até que sua alma seja tomada nos prazeres eternos de Deus! A morte traz um
homem a um descanso imutável!
Apo 14:13, "E ouvi uma voz do céu, que me dizia:
Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde
agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as
suas obras os seguem." Oh, diz ele, anote isso
como uma coisa de valor e peso, "Bem-
aventurados os mortos que morrem no Senhor de agora em diante. Eles vão descansar de seu
trabalho." A morte traz a alma para um descanso
imutável. (nota do tradutor: este descanso não
deve ser entendido como sono eterno, mas como livramento de todos os trabalhos, cargas,
opressões, pecados e tudo o mais que angustiava
a alma neste mundo.)
73
"Perece o justo, e não há quem considere isso
em seu coração, e os homens compassivos são
recolhidos, sem que alguém considere que o
justo é levado antes do mal. Entrará em paz; descansarão nas suas camas, os que houverem
andado na sua retidão." Isaías 57: 1-2
Oh, a morte é uma mudança que traz uma alma
a um descanso imutável; ela traz uma alma para a cama. Era isto que Paulo desejava "morrer para
estar com Cristo"; e os coríntios gemiam por
libertação. (Laurence Saunders beijando a
estaca, disse: Bem-vindo a cruz de Cristo, acolha a vida eterna. Faninus, o mártir italiano, beijou
quem lhe trouxe a notícia de sua execução. Foi
um dito notável do abençoado Cooper, "Por
muitos dias eu tenho buscado a morte com lágrimas, não por impaciência ou
desconfiança", diz ele, "mas porque eu estou
cansado do pecado, e com medo de cair nele."
Você sabe como os mártires abraçaram a cruz, e se congratularam com cada mensageiro da
morte que veio a eles, e bateram palmas no meio
das chamas.
A morte é a coroação-dia de um crente, é o dia do seu casamento. É um descanso do pecado,
um descanso de tristezas, de aflições e
tentações, etc. Morte para um crente é uma
entrada para o seio de Abraão, para o paraíso, para a "Nova Jerusalém", no gozo do seu Senhor.
E, portanto, muito mais para a parte doutrinária,
você vê que é evidente, por estas seis coisas, que
o dia da morte de um crente é o seu melhor dia,
74
e que o dia de sua morte é melhor do que o dia
do seu nascimento.
Aplicação
Eu poderia por muitos outros argumentos
demonstrar essa verdade para você, mas
deixemos que estes sejam suficientes; porque
eu não estaria disposto a mantê-lo mais tempo porque faz-se necessária a aplicação prática, e
esta é a vida de todo o ensino.
1. Nunca lamente imoderadamente a morte de
qualquer crente, sejam eles os mais excelentes e úteis que já viveram. A morte não é a morte do
homem, mas a morte de seu pecado. A morte é
para eles o maior ganho; e ela revela muito do
egoísmo em nós que deve ser mais absorvido com o ganho e benefício que vem contribuir
para nós por suas vidas, do que com a felicidade
e a glória que redunda deles por suas mortes.
Nos tempos primitivos, quando Deus tinha passado a sentença de morte sobre seus
confortos mais queridos, os cristãos se
comportavam de uma forma mais elevada, doce
e nobre do que costumam fazer hoje em dia.
Lembre-se disso – a morte faz aquilo que nem
graças, nem deveres, nem quaisquer
ordenanças poderiam fazer por um homem
durante toda a sua vida! A morte liberta o homem dessas doenças, corrupções, tentações,
etc., que nenhum dever, nem graças, nem
ordenanças poderiam fazer. Quando Abraão
75
veio lamentar por sua falecida Sara, ele
lamentou moderadamente por ela, porque o dia
da sua morte era o seu melhor dia. Quando
Lutero, o famoso instrumento de Deus, enterrou sua filha, ele não foi visto derramando
uma lágrima. Da mesma forma, o Sr. Whately,
que era famoso em seu tempo, onde, como ele havia pregado no sermão fúnebre de seu
próprio filho sobre este assunto, disse, "A
vontade do Senhor seja feita", ele e sua mulher
colocaram seu próprio filho na sepultura.
(As pessoas em Thrace choram e lamentam muito, o nascimento de seus filhos, por causa
das dores e problemas que são nascidos com
eles; e eles se alegram e se regozijam muito com
a morte de seus filhos, porque a morte é o funeral de todas as suas dores. A morte não é,
como alguns querem pintá-la. Foi a palavra de
um homem pagão, que toda a vida de um
homem deve ser outra coisa senão uma meditação sobre a morte. Veja Deut 32:29.
Alexandre, o Grande perguntou a um filósofo
indiano quanto tempo um homem deve viver; e
ele respondeu, Até que ele ache que é melhor morrer do que viver.) Essa é a primeira
aplicação: não vamos lamentar
imoderadamente a morte de qualquer crente.
2. Não tema a morte. Componha o seu espírito; e
não diga da morte como aquele rei ímpio disse ao profeta: "Você me encontrou, ó meu
inimigo?" 1 Reis 21: 20 - mas procure muito por
isto, mas não para não ser livrar de problemas,
76
senão para que a alma possa ser tomada até uma
apreciação mais clara e completa de Deus. O dia
da sua morte é o seu melhor dia. O bom Jacó
morreu com um doce espírito composto; ele chamou seus filhos, e os abençoou e beijou, e
recolheu os seus pés na cama, e morreu.
Moisés, naquela manhã que o mensageiro veio a ele, e disse que ele morreria, foi até a colina,
viu a terra de Canaã, a uma distância, e morreu.
José construiu sua sepultura em seu próprio
jardim.
E alguns filósofos tiveram suas sepulturas sempre abertas diante de seus portões, para que
os que passavam pudessem sempre pensar na
morte, pois na vida eles encontraram confortos
raros, cruzes frequentes, prazeres momentâneos, e dores permanentes. O dia da
morte de crentes é o seu melhor dia. Oh, então,
não tenha medo da morte, e que você não pense
que isto se trata de uma pequena questão, como alguns o fazem, porque não estão dispostos a
morrer. Há muito opróbrio lançado sobre Deus,
por crentes não estarem dispostos a morrer.
Você fala muito de Deus, do céu, da glória, etc. e ainda quando deve ir e compartilhar essa glória,
você dá de ombros e diz: "Poupe-me um pouco!"
Não é isto uma vergonha para o Deus da glória?
Mas que este conselho possa ficar sobre você, e lembre-se destas cinco coisas:
[1] A morte de Cristo é uma morte meritória.
Pode um crente pensar sobre a morte de Cristo
como merecendo paz com Deus, perdão do
77
pecado, a justificação, glorificação e ainda ter
medo de morrer? O que! é a morte de Cristo,
portanto, meritória, e deveríamos ainda estar
indispostos para partir?
[2] não é a morte uma espada na mão do seu pai? É verdade que uma espada na mão de um louco,
ou na mão de um inimigo, possa causar tremor,
mas quando a espada está nas mãos de um pai de amor, o filho não teme. Fazer com que a
morte seja uma espada e ainda por que o medo
do filho quando ela está na mão, e sabe que o pai
terá a certeza de lidar com isso de forma que ele não deve ser ferido ou prejudicado.
[3] Lembre-se que a morte de Cristo é uma
morte que venceu a morte. O medo da morte é
pior do que os grilhões da morte, porque o medo
da morte nos mata, muitas vezes, ao passo que a própria morte pode fazê-lo apenas uma vez.
"Deixe temer a morte aquele que é relutante em
ir a Cristo", disse Cipriano. "Eu não temo
morrer, mas eu tenho medo de ser condenado", disse outro. Lutero, falando do sangue de Cristo,
diz: "Que uma pequena gota é de mais valor do
que o céu e a terra." Se as almas sob o altar
clamam: Até quando, Senhor? Se elas solicitam o dia do juízo, por que não eu para o dia da morte,
desde que a hora da morte é apenas a véspera do
dia de Deus? Zeno disse, eu não tenho medo,
senão de velhice. Cristo tirou o aguilhão da morte para que ele não possa feri-lo. Sua morte
é uma morte santa e uma morte doce. Ele tem
adoçado e santificado a morte para nós.
78
A morte é uma queda que veio por uma queda.
Morrer é não ser mais infeliz, se considerarmos
corretamente a morte. "Oh", diz alguém, "que eu
possa ver a morte, não como era, mas como tu, Senhor, já fez isso!" A morte é o maior monarca
e o antigo maior rei maior do mundo. "A morte
reinou desde Adão até Moisés" (Rm 5.14), diz Paulo. Oh! mas o Senhor Jesus tem, por assim
dizer, desarmado a morte, e triunfado sobre a
morte. Ele levou seu aguilhão, de modo que não
pode picar-nos, e nós podemos lidar com ele, e colocá-lo em nosso peito, como podemos fazer
com uma serpente cujo veneno é removido. O
apóstolo, sobre esta consideração, desafia a
morte, "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?
Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a
vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 15: 55-57
[4] Cristo não deixou voluntariamente o seio de seu Pai por sua causa? Será que ele não teve
vontade de morrer por você? Será que Cristo
pleiteou deste modo: estas vestes são demasiado
boas para mim para abandoná-las, esta coroa é muito gloriosa para mim para deixá-la de lado,
estou muito disposto para sofrer por essas
pessoas? Não! Ele prontamente deixou o seio de
seu pai, a sua coroa, e suas vestes, e sofreu uma morte maldita, cruel e ignominiosa. Ah, alma,
você deve raciocinar assim: "Cristo morreu por
mim para que eu possa viver com ele? Eu não
79
vou, portanto, desejar viver por muito tempo
longe dele." Todos os homens vão de boa
vontade ver a quem amam; e devo estar disposto
a morrer, para que eu possa ver Aquele a quem ama a minha alma? Deve Cristo deixar de lado
toda a sua glória e pompa, e casar com uma
pobre alma que não tinha nem porção nem formosura; devendo esta alma não estar
disposta a ir para casa para um marido? Oh
pensem sobre isso, vocês almas que não estão
dispostas a morrer!
A vida presente não é a vida, mas o caminho da vida; porque quando deixarmos de ser homens,
começamos a ser como anjos. Eles são apenas
criaturas da natureza inferior que estão
satisfeitos com o presente. O homem é uma criatura futura. O olho de sua alma olha para a
frente. O trabalhador corre de seu trabalho para
a cama, o marinheiro trabalha duro para
alcançar o porto, o viajante fica feliz quando ele está perto de sua pousada; assim se dá com os
santos quando eles estão perto da morte, porque
então eles estão perto do céu, eles estão perto de
sua casa eterna!
[5.] Não está o cristão completo em Cristo? ("Cristo será para você em vez de todas as outras
coisas, porque nele estão todas as coisas boas
para serem encontradas." Agostinho) Por que
um crente teria medo de morrer, já que está completo perante Deus, na justiça do Senhor
Jesus? Se nós devêssemos comparecer em
nossa própria justiça, em nossos próprios
80
deveres, seria terrível pensar em morrer, mas
um crente está completo nele, etc. "Você está
completo nele," Col. 2:10. Em Apocalipse 14: 4-5,
lê-se "irrepreensíveis diante do trono de Deus"; e em Cant 4: 7 "Tu és toda formosa, meu amor, e
em ti não há mancha."
Um crente, quando morre, aparece diante de
Deus na justiça de Cristo. Todos os pontos e manchas de sua alma são cobertos com a justiça
de Cristo, que é uma incomparável, impecável,
inigualável justiça, A esposa de Cristo tem a
perfeição da beleza; ela é todo "gloriosa por dentro" e ela é impecável e irrepreensível, ela é
a mais formosa entre as mulheres, para que
possa ser uma companheira idônea para aquele
que é o mais justo de todos os filhos dos homens, Salmo 45: 2. Os santos são como a árvore do
paraíso, Gn 3 – boa de ser vista e agradável ao seu
paladar. Os santos são como Absalão, em quem
não havia nenhum defeito da cabeça aos pés. Pense nestas coisas para adoçar suas últimas
provações e para torná-lo ansioso para estar no
seio de Cristo.
[6] Em sexto lugar, considere que o dia da morte
dos santos é para eles o dia do pagamento do Senhor. Toda oração terá então sua resposta;
todos os clamores serão satisfeitos; cada
suspiro, gemido, e lágrima que caiu dos olhos
dos santos deve então ser recompensado. (Isso não é a morte, mas a vida, que reúne o
moribundo a Cristo! Isso não é vida, senão a
morte, o que separa o homem de Cristo.) Em
81
seguida, eles serão pagos e recompensados por
todo o serviço público, e todo o serviço familiar,
e todos os demais serviços que fizeram. Em
seguida, uma coroa é fixada sobre as suas cabeças, e vestes gloriosas colocadas sobre as
costas, e cetros dourados colocados em suas
mãos; é o dia de pagamento do Senhor, e os que eram moribundos devem ouvir o Senhor lhes
dizendo: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o
pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra
no gozo do teu senhor." Mt 25:21.
Naquele dia eles devem achar que Deus não é como Antíoco, que prometeu muitas vezes, mas
raramente cumpriu. Não! Então, Deus vai fazer
boas todas essas promessas douradas e
gloriosas que ele tem feito para eles, especialmente estas que estão aqui citadas. (Apo
2:10, 3: 4, 12, 22 e 7: 16-17) Agora, Deus lhes dará
ouro pelo bronze, a prata pelo ferro, a felicidade
pela miséria, muito para a pobreza, a honra para a desonra, a liberdade para a servidão, o céu pela
terra, uma coroa imortal pela coroa mortal!
[7] Em sétimo lugar, Considere isto - o caminho
para a glória é pela miséria; o caminho da vida é
a morte. Neste mundo somos todos Benonis - os filhos da tristeza. O caminho para o céu é por
cruzes e lágrimas, a paixão de Cristo foi antes de
sua ascensão; ninguém passa para o paraíso,
senão pela queima de serafins; não podemos sair do Egito, senão através do Mar Vermelho; os
filhos de Israel, vieram a Jerusalém pelo vale de
lágrimas, e atravessaram o rio Jordão antes de
82
chegarem às águas doces de Siloé. (Um homem
facilmente engole uma pílula amarga para obter
saúde. O médico nos ajuda com dolorosos
remédios e ainda o recompensamos por isso.) Não há passagem para o paraíso, senão sob a
espada flamejante deste anjo da morte! Não há
como chegar a essa gloriosa cidade acima, senão através desta difícil e escura pista, suja da
morte. Sem enxugar todas as lágrimas de seus
olhos - mas com o seu sudário, você deve
receber a morte, não como um inimigo, mas como um amigo; não como um estranho, mas
como um convidado que você há muito tempo
procurava, e a morte será bem-vinda como mais
abençoada do que seu nascimento. (A morte para um crente é a porta dos céus; é a porta da
vida. Ela nos transporta para fora do deserto em
Canaã, de um mar problemático para um oásis
de tranquilidade, João 14: 1-3.) Todo homem está disposto a ir à sua casa, embora o caminho que
leve a ela seja sempre tão escuro, sujo ou
perigoso; e não deveriam os crentes estarem
dispostos a ir para suas casas, porque eles devem passar por uma estrada escura que leva
até mansões gloriosas, luminosas e eternas que
Cristo tem preparado para eles?
[8] Em oitavo lugar, considere que, enquanto
estamos neste mundo, os nossos corpos fracos e
imperfeitos e doentes lançam correntes e grilhões, restrições, obstáculos e impedimentos
na alma, que a alma fica impedida de muitos
atos nobres e elevados. No céu, a alma funciona
83
mais claramente, e entende melhor, e discorre
mais sabiamente, e alegra-se muito mais, e ama
de forma mais nobre, e tem desejos mais puros,
do que possa fazer aqui. A alma está agora aprisionada em um corpo, e enquanto estiver
neste corpo de barro, não pode agir por si
mesma. É como um pássaro engaiolado, cuja natureza é voar alto para o lugar de onde ela
veio. Quando a alma está agitando suas asas para
o céu, o corpo como um pedaço de chumbo
puxa-a para a terra, etc.
Aqui neste mundo, a alma não pode olhar com os olhos, mas pode ser infectada por eles, nem
ouvir pelos ouvidos, mas pode ser distraída pelo
que ouvimos, nem cheirar nas narinas, e ser
contaminada, sentir o gosto pela língua, mas ser seduzida, e tocar com a mão, mas ser
contaminada. Todos os sentidos e membros
estão demasiado prontos em toda ocasião e
tentação, para trair a alma; que deve fazer-nos dispostos a morrer e esperar por muito tempo
por aquele dia em que nossos corpos serão
glorificados. (Os gregos chamam o corpo de
cadeia da alma, de sepulcro da alma.)
Ah, os crentes! Eles devem ser ágeis, prontos, hábeis e rápidos em seus movimentos, mas não
sem antes de serem agora como uma imagem
fora do enquadramento, ou uma casa em
reparação, que estão agora deformados e doentes, etc. Para maior clareza e brilho serão
como o corpo de Cristo quando foi
transfigurado, Mt 17: 2; eles serão muito
84
amáveis e bonitos, imutáveis e imortais. Aqui os
nossos corpos ainda estão morrendo. É mais
adequado perguntar quando vamos fazer da
morte um fim, do que perguntar quando vamos morrer. A morte é um verme que está sempre se
alimentando na raiz de nossas vidas, o que
deveria tornar a morte mais desejável do que a vida.
[9] Em nono lugar, foquem bastante na
preparação e vontade de outros santos para
morrer. O bom e velho Simeão após ter colocado
Cristo em seu coração, e, em seguida, levando-o em seus braços, ele canta: "Senhor, agora deixe
partir em paz o teu servo, pois os meus olhos
viram a tua salvação!" Lucas 2: 28-30. Eu vivi o
suficiente, agora tenho a minha vida – anelei o suficiente, e agora tenho meu amor - já vi o
suficiente, agora tenho minha vista - tenho
servido o suficiente, agora tenho a minha
recompensa – tenho me entristecido bastante-agora tenho a minha alegria.
Da mesma forma, acreditavam os coríntios, 2
Cor. 5: 4, 8, que gemiam intensamente para
serem vestidos com sua habitação do céu, para
que o mortal fosse absorvido pela vida, e "para poder estar ausente do corpo e presente com o
Senhor." Da mesma forma, Paulo deseja
intensamente " partir e estar com Cristo, que é o
melhor de tudo," Fp 1:23. Do mesmo modo, aqueles em Pedro que procuram apressar a
vinda do dia do Senhor, 2 Pe 3:12. Deles é dito
para apressarem o dia do Senhor, em relação a
85
seus desejos sinceros por ele, e em relação aos
seus preparativos para ele. Da mesma forma, as
almas que clamam sob o altar: "Até quando,
Senhor, até quando?" etc, Apo 6: 9-10.
Então Paula, essa senhora nobre, quando se leu
para ela Cant. 2:11, "O inverno já passou, e o
canto dos pássaros chegou;" "Sim", ela
respondeu, "o canto dos pássaros chegou", e então ela foi cantar no céu. Da mesma forma, o
sr. Jewel disse: "Agora, Senhor, deixe teu servo
partir em paz; quebrando todos os atrasos;
Senhor, recebe o meu espírito." Além disso, ele disse: "Eu não tenho vivido de modo que tenha
vergonha de viver mais tempo; nem tenho medo
de morrer, porque temos um Senhor
misericordioso A coroa da justiça está guardada para mim; Cristo é minha justiça."
Assim outra, estando em um desmaio, como
seus amigos pensavam, um pouco antes de seu
final, eles disseram: dê-lhe um abraço, mas ela recusou dizendo: "Eu tenho um abraço que
vocês não conhecem". Assim, o Sr. Pearing, um
pouco antes de sua morte, disse: "Eu encontrei e
sinto muita alegria interior e conforto em minha alma, que se fosse colocado à minha
escolha se deveria morrer ou viver, gostaria de
mil vezes escolher a morte do que a vida, se isso
pudesse corresponder à santa vontade de Deus."
(Agostinho, "deixe que demônios incontáveis me perturbem, deixe a tormenta me cercar,
deixe a fome macerar meu corpo, deixe as dores
oprimirem minha mente, deixe as dores
86
consumirem a minha carne, deixe a vigilância
me cansar, ou o calor me queimar, ou o frio me
congelar, deixe tudo isso e tudo o mais que possa
vir a me acontecer - apenas para que eu possa desfrutar de meu Salvador.)
Assim, o Sr. Bolton, deitado em seu leito de
morte, disse: "Eu sou pelas maravilhosas
misericórdias de Deus, como cheias de conforto assim como o meu coração pode suportar, e não
sentir nada na minha alma senão Cristo, com
quem eu sinceramente desejo estar."
Ah, cristãos! Se a vontade superior dos santos
para morrer não vai fazer você disposto a morrer, o que será?
[10.] Em décimo lugar e, por último, considere
isto - que o Senhor não vai deixá-lo, mas estar
com você naquela hora de morrer. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não
temeria mal algum, porque tu estás comigo; a
tua vara e o teu cajado me consolam", diz o
salmista, no Salmo 23: 4. Da mesma forma, o apóstolo, em Heb 13: 5, "Mantenham as suas
vidas livres do amor ao dinheiro e se contentem
com o que vocês têm, porque Deus disse - Nunca
te deixarei, nunca te desampararei." Há cinco negativas no texto original grego, para
assegurar o povo de Deus que ele nunca vai
abandoná-los; cinco vezes na Escritura é esta
preciosa promessa renovada, para que possamos pressioná-lo até que tenhamos
pressionado a doçura para fora. Embora Deus
possa parecer deixá-lo, você pode ter certeza de
87
que ele nunca te abandonará. Por que esse
homem tem medo da morte, se pode estar
sempre confiante na presença do Senhor da
vida? (O imperador Maximiliano ficava tão encantado com a frase: "Se Deus está conosco,
quem será contra nós?" que ele mandou que isto
fosse escrito na maioria das paredes das salas do seu palácio.)
3. A aplicação seguinte será para lhe mover
totalmente para se preparar para o dia da sua
morte. Ah, cristãos! o que é toda a sua vida,
senão um dia para se ajustar para a hora da morte? Qual é o seu grande negócio neste
mundo, senão se preparar e estar apto para o
mundo eterno? Foi um discurso triste de César
Bórgia, que estava no seu leito de morte e disse: "Quando eu vivi, eu fiz provisão para tudo, mas
não para a morte! Agora eu tenho de morrer, e
estou desprovido para morrer." Ah, cristãos!
vocês precisam orar todos os dias como Moisés: "Senhor, ensina-nos a contar os nossos dias,
para que possamos aplicar nossos corações à
sabedoria", Salmo 90:12; e seguir o conselho do
profeta Jeremias, "Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que
tropecem vossos pés nos montes tenebrosos;
antes que, esperando vós luz, ele a mude em
sombra de morte, e a reduza à escuridão." Jer 13:16.
A velhice é a montanha escura que faz um
caminho largo estreito, e um caminho simples
escarpado. É um ponto de sabedoria celestial
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elevada considerar o nosso fim: "Quem dera eles
fossem sábios! Que isto entendessem, e
atentassem para o seu fim!" Deut 32:29.
Jerusalém pagou caro por ter esquecido do seu fim. A imundícia de Jerusalém estava nas suas
fraldas, porque ela não se lembrava do seu fim,
pois ela estava terrivelmente derrubada.
Para provocar-lhe a se preparar e estar apto para o dia da morte, considere seriamente estas
seguintes coisas:
(1.) Aquele que não se prepara para o dia da sua
morte, corre o perigo de perder a sua alma
imortal. Embora o verdadeiro arrependimento nunca seja tardio - contudo o arrependimento
atrasado é raramente verdadeiro. "Aquele que
não está pronto para se arrepender hoje, estará
menos pronto amanhã; o seu entendimento será mais escuro, seu coração mais duro, sua
vontade mais torta, seus afetos mais
destemperados, sua consciência mais
entorpecida" etc. Bede conta uma história de um certo grande homem que foi advertido na sua
doença para se arrepender, que respondeu: "que
ele não se arrependeria agora, pois se ele se
recuperasse, seus companheiros ririam dele;" mas, ficando cada vez mais doente, então ele
disse que era tarde demais para se arrepender -
"Por enquanto", disse ele, "eu estou julgado e
condenado." É a maior sabedoria do mundo fazer isso todos os dias, o que um homem faria
no dia da sua morte, e ter medo de viver em tal
estado, como um homem teria medo de morrer.
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Ah, almas! vocês têm medo de morrer em tais e
tais pecados; e você não vai ter medo de viver
nesses pecados?
(2) Uma vez mais, a certeza da morte, deve fazer
com que você se prepare para a morte. Quando
se afirma qualquer coisa para ser infalivelmente verdade, dizemos: "Tão certo como a morte."
"Está ordenado", diz o apóstolo, "aos homens
morrerem uma única vez, vindo depois disso o juízo!" Heb. 9:27. (Salmo 89:48; Jó 30:23; Ec 12: 5).
O “uma única vez” do texto implica duas coisas:
[1] Uma certeza - será;
[2] A singularidade - será apenas uma vez.
"Qual homem vive, que não veja a morte?" diz o
salmista; ou seja, nenhum homem vive e não veja a morte. Em Jó a sepultura é chamada de "a
casa ordenada para toda a vida." O douto chamou
a morte de "a nossa longa casa", onde os homens
devem seguir por um longo tempo, até a ressurreição. Viver sem temor da morte, é viver
morrendo! Trabalhar para não morrer é
trabalhar em vão. A morte tem como lema: "Eu
não cedo a nenhum!" - está decretado que todos devem morrer. Para cada homem o dia da morte
é o dia da destruição.
Os judeus têm um ditado: "No cemitério podem
ser vistos crânios de todos os tamanhos;" isto é,
a morte chega sobre os jovens, bem como sobre
os velhos; a sorte caiu sobre todos, e, portanto, todos devem morrer. Todos os homens são
feitos de um molde e matéria, "Tu és pó, e ao pó
tornarás", Gn. 3:19. "Todos pecaram, e estão
90
aquém da glória de Deus" Romanos 3:23; e,
portanto, a morte deve passar por cima de tudo.
(3.) A incerteza da hora da morte, deveria lhe
deixar com a boca aberta para estar em uma
constante prontidão e preparação para a morte.
Nenhum homem sabe quando ele morrerá, nem de que tipo de morte, ele morrerá - se de
morte natural ou violenta. Augusto morreu em
um elogio, Tibério morreu em um engano, Galba morreu com uma frase, Vespasiano
morreu com uma brincadeira! Zeuxes morreu
de rir para a imagem de uma mulher velha, que
ele desenhou com sua própria mão! Sófocles foi sufocado com o bagaço de uma uva! Diodoro o
lógico morreu de vergonha porque ele não
poderia responder a uma pergunta boba
proposta na mesa de jantar! Joannes Masius pregando sobre a elevação da mulher do filho de
Naomi dos mortos, no prazo de três horas após,
morreu! Felix, conde de Wurtemburgh,
sentado à ceia com muitos de seus amigos, caiu num discurso sobre Lutero e as pessoas em
geral que seguiam a sua doutrina, sobre os quais
o conde jurou de forma solene, "que, antes de
morrer, ele andaria até à altura de suas esporas no sangue dos luteranos"; mas na mesma noite
Deus estendeu a sua mão contra ele, e ele
morreu engasgado com seu próprio sangue!
Bibulus, um general romano, ao montar em triunfo em toda a sua glória: uma telha caiu de
uma casa na rua, e espalhou para fora seu
cérebro!
91
(4.) Considere-se, em último lugar, que é uma
coisa solene morrer. A morte é uma separação
solene de dois amigos próximos, alma e corpo.
Lembre-se, todas as outras preparações são sem propósito, se um homem não está preparado
para morrer. O que vai aproveitar a um homem
se preparar isto e aquilo para os seus filhos, parentes, ou amigos, etc, quando ele não fez
qualquer preparação para a sua alma, em
relação ao seu bem-estar eterno? Assim que a
morte lhe alcança – segue-se o julgamento. À medida que o julgamento o encontrar, assim a
eternidade o manterá! Se a morte leva-o antes
que você espere por ela, e sem estar preparado
para ela, será mais terrível para você; ela fará com que o seu semblante seja mudado, seus
pensamentos sejam incomodados, seus joelhos
trôpegos, batendo um contra o outro. (Aquele
que prepara para seu corpo e amigos, mas negligencia a sua alma, é como aquele, que se
prepara para seu escravo, mas negligencia sua
esposa.) Oh, o inferno de horrores e terrores que
assistem a essas almas que têm a sua maior obra para fazer quando eles vieram a morrer!
Portanto, como você ama a sua alma e como
você ficaria feliz em morrer - e eternamente ser
abençoado após a morte – prepare-se então para a morte!
Veja que você construiu em cima de nada abaixo de Cristo! Veja que você tem um interesse real
em Cristo; veja que você morre diariamente
para o pecado, para o mundo, e para a sua
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própria justiça. Veja que a consciência está
sempre acordada. Veja que Cristo seja o seu
Senhor e Mestre. Veja que você é frutífero, fiel e
vigilante e, então o dia da sua morte será como o dia da colheita para o agricultor, como o dia da
libertação do prisioneiro, como o dia da
coroação do rei e, como o dia do casamento para a noiva. O dia da sua morte será um dia de
triunfo e exaltação, um dia de liberdade e de
consolo, um dia de satisfação e descanso! Em
seguida, o Senhor Jesus será como o mel na boca, pomada nas narinas, música no ouvido, e
um jubileu no coração.
4. A última aplicação é esta - Se o último dia do
crente é o seu melhor dia, então, pela regra do
contrário – o último dia de um homem ímpio
deve ser o seu pior dia, pois ele deve enfrentar o julgamento com todos os pecados da sua vida.
(Um grande homem escreveu, assim, um pouco
antes de sua morte: "A esperança e a fortuna da
despedida".) A morte põe termo a todos os benefícios e confortos que agora você desfruta.
Agora você deve dizer: "Honras, amigos,
prazeres, riquezas, créditos, etc, adeus para
sempre! Nunca mais terei um momento mais feliz! Nunca vou ser feliz de novo! Meu sol se
põe, meu copo está quebrado, minhas
esperanças falharam, o meu coração falhou,
todas as ofertas de graça são passado, o Espírito nunca mais se esforçará comigo, a livre graça
nunca mais me moverá, a serpente de bronze
nunca mais será levantada, e a morte será uma
93
entrada para o julgamento, sim! Uma
eternidade de miséria! (O imperador Sigismund
e Luiz XI da França ameaçavam todos os seus
servos que eles não deveriam se atrever a nomear essa palavra amarga "morte" quando os
vissem doentes, tão terrível era o próprio
pensamento de morte para eles.)
O que a voz de Deus foi para Adão após comer o fruto proibido; o que a vinda do dilúvio foi para
os homens profanos do velho mundo; o que as
águas do Mar Vermelho foram para Faraó e seu
exército; o que o fogo do céu foi para os capitães que vieram contra Elias; o que o forno foi para os
que lançaram Hananias - o mesmo será o dia da
morte de profanas almas perversas.
Ah, pecadores! minha oração por vocês é que o Senhor lhes acordasse, e derramasse luz em
suas almas, para que possam ver onde estão e o
que são; que ele lhes concedesse romper com
seus pecados pelo arrependimento, e dar-lhes um interesse em pouparem a si mesmos; de
modo que "para vocês viver seja Cristo, e morrer
seja ganho," Fp 1:21; que a vida e morte de Cristo
possam ser vantajosas para vocês; e que a morte possa ser o funeral de todos os seus pecados e
tristezas, e uma entrada para toda aquela
alegria e prazer, aquela bem-aventurança e
felicidade - que está à mão direita de Deus!
94
Os Companheiros e
os Livros
Título original: On Companions and Books
Por George Everard (1828-1901)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
95
Nenhuma verdade é mais importante para
o jovem cristão se lembrar, do que nos
tornamos como aqueles com quem nos
associamos.
Ganhamos cada vez mais semelhança com aqueles com quem somos íntimos.
Insensivelmente capturamos seu espírito e
seu tom de mente. Está escrito:
"Quem anda com sábios será sábio, mas um companheiro de tolos será destruído",
Provérbios 13:20.
"Não se deixe enganar: a má companhia
corrompe o bom caráter!", 1 Coríntios 15:33
Roboão toma conselho com os moços e
aceitando seus conselhos perde grande parte de seu reino.
Josafá faz uma aliança com o rei Acabe, e o desastre e a derrota se seguem, e Deus
envia-lhe a solene repreensão: "Deverias
ajudar os ímpios e amar aqueles que odeiam
o Senhor?"
Por outro lado, Rute junta-se a Naomi e ao
povo de Deus, e ganha uma bênção rica.
96
Natanael junta-se a Filipe, e encontra um Salvador.
A lição é simples. Tenha cuidado na escolha dos amigos! Não entre no caminho dos
ímpios. Assim, tanto quanto tenha
oportunidade faça seus amigos com amor e temor a Deus. Este era o espírito do homem
segundo o próprio coração de Deus:
"Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não
se me pegará a mim. Um coração perverso se
apartará de mim; não conhecerei o homem mau. Aquele que murmura do seu próximo
às escondidas, eu o destruirei; aquele que
tem olhar altivo e coração soberbo, não
suportarei. Os meus olhos estarão sobre os
fiéis da terra, para que se assentem comigo;
o que anda num caminho reto, esse me
servirá." (Salmo 101: 3-6.) "Afastai-vos de
mim, malfeitores, guardarei os
mandamentos do meu Deus, sou companheiro de todos os que te temem e
dos que guardam os teus preceitos." (Salmo
119: 115, 63).
Mas lado a lado com esta lição podemos aprender outra. Podemos aplicar esta
verdade aos LIVROS que deveríamos ler.
97
Onde encontramos os pensamentos mais
sábios, dos homens mais sábios? Onde
encontramos a nata desse poder intelectual
ou espiritual que um homem pode possuir?
Não está em seus escritos?
Tenha em sua estante o trabalho de algum homem piedoso que viveu há um século.
Você não faz dele imediatamente seu
companheiro, por ele estar já há muito
tempo descansando no túmulo?
Tome uma revista edificante e leia um artigo
escrito por algum servo de Cristo que pode estar vivendo a centenas de milhas de
distância, e você nunca espera vê-lo face a
face; ele não é em algum sentido, contado
entre os amigos que você valoriza ?
Você pode não ser capaz de encontrar como seu amigo e conselheiro diário alguém que
seja verdadeiro, sábio e útil como você
deseja, mas não pode ler bons livros, e
alcançar em alguma medida o seu objetivo?
Você não pode encontrar sempre, se procurar, um livro que vai ensiná-lo e
fortalecer suas mãos?
98
E há outra vantagem nesses companheiros. Podemos ter sua sociedade quando
quisermos. Há amigos que vêm e conversam
conosco quando preferimos ficar sozinhos,
ou sentimos que devemos estar ocupados
em nosso trabalho. Em outros momentos
desejamos sua presença, mas eles estão
longe, porém podemos sempre escolher nosso tempo para conversar com o nosso
amigo da estante.
O tempo que temos em sua companhia não precisa nem ser muito longo ou muito curto.
Consideremos então que tipo de
companheiros é bom escolher e, em
seguida, aplicar isso aos livros que lemos.
Em primeiro lugar podemos ter certeza
disto; que é sábio escolher como
companheiros, apenas os que são de mente pura, princípios saudáveis, cuja conversa
não prejudica aqueles que a escutam.
Alguns companheiros são muito inteligentes, muito fascinantes, brilhantes
de espírito e vida, e ainda podem até possuir
bondade natural, mas ainda assim sua
influência é contra todo sentimento correto
e santidade cristã.
99
É difícil resistir a seus encantos ou recusar um convite deles, mas ainda assim uma voz
interior nos diz que é perigoso estar com
eles ; sua influência está toda na direção
errada. Está longe da pureza, do amor de
Deus, do caminho da obediência fiel à
vontade divina.
Suas páginas podem ser de seda, mas são as páginas de Dalila, pois ligam a alma à sua
ruína! Sua voz pode ser doce, mas é a voz da
sereia n que o atrairia para a ilha fatal, onde
a fuga é quase impossível.
Caro leitor, este é um perigo ao qual você está exposto? Você tem um amigo que
ilumina as coisas espirituais, cujas palavras
deixam muitas manchas do mal em sua
alma? O que você deve fazer?
Você deveria considerar mais a Cristo, ou a seu amigo?
Se você deseja ser leal ao Grande Capitão de sua salvação, então tome uma posição
ousada. Não deixe as coisas insensivelmente
tomar seu curso, até que uma por uma você
desista de suas próprias convicções
decididas.
100
Aja com cortesia, aja bondosamente e consideravelmente, mas atue com firmeza.
Fale ousadamente quando qualquer coisa é dita para a desonra do nome de Cristo.
Escreva uma carta para seu amigo e diga o
quanto sofreu. Não se atreva a ser amigo de
alguém que fala contra o Nome que você
ama. Implore fervorosamente ao seu amigo
para que se volte imediatamente para o
Senhor, e você se regozijará em se ajudarem
mutuamente no caminho de Sião.
Não importe a dor que isto possa lhe causar
ao escrever a carta ou falar a palavra fiel;
com Cristo ao seu lado, você é mais forte do que qualquer companheiro ímpio que possa
ser muito mais velho ou mais inteligente do
que você.
Talvez sua coragem e fidelidade possam ganhar uma alma para Cristo. Talvez ele
possa desfazer a amizade, e seu amigo já não
se preocupará mais com sua companhia. Em
ambos os casos, isso te fará bem e glorificará
a Deus, e você terá um novo testemunho em
seu próprio coração sobre a realidade de sua
fé em Cristo.
101
O que é verdadeiro sobre companheiros, é igualmente de livros.
Muito do que é escrito é muito divertido, muito atraente, mas é muito perigoso. Pode
agradar à imaginação, mas polui e excita a
mente. Isto tende a destruir não só a religião vital, mas até mesmo a moralidade comum,
pois discorre sobre os vícios mais mortais
com nomes justos, e paliativos que são
males sociais que arruínam totalmente a paz
das famílias, degradam e corrompem as
nações.
Tenho muitas vezes pensado no sonho de John Gutenberg, o inventor da imprensa.
Ele estava prestes a apresentar sua invenção da imprensa, e parecia-lhe como se um anjo
tivesse vindo e falado com ele:
"John Gutenberg, você fez o seu nome imortal, mas a que custo! Pense bem o que
você está fazendo. Os ímpios são muito mais
do que os piedosos, seu trabalho será apenas
para multiplicar suas blasfêmias e mentiras
Você descobriu o abismo sem fundo. E, um
enxame de espíritos sedutores, de agora em
diante, virá e transformará a terra no
inferno ... Pense em milhões de almas
102
corrompidas por sua realização. Veja o
veneno dos demônios destilado nas almas
dos meninos e meninas, tornando-os velhos
na experiência do pecado! Veja aquela mãe
chorando sobre seu filho depravado, e esse
pai de cabelos grisalhos escondendo o rosto
da vergonha de sua filha ... Destrua sua
imprensa, pois será a blasfémia e a luxúria! ... Destrua-a e esqueça! Evite multiplicar os
recursos dos ímpios, por fazer-se através de
todas as épocas, participante de seus
crimes!"
Gutenberg estava prestes a destruir sua
invenção, mas refletiu que seus dons, embora perigosos, nunca são ruins, e que
ele poderia estar ajudando o intelecto e a
sabedoria que Deus tinha dado ao homem
para obter ajuda e oportunidade para o bem.
Então ele continuou com sua obra, e o
primeiro livro que saiu de sua imprensa foi
uma porção das Sagradas Escrituras.
Mas, infelizmente, o sonho se tornou muito verdadeiro! Dezenas de milhares de
publicações pequenas e grandes estão
saindo da imprensa espalhando o contágio
do mal de todos os lados. Muitos alunos
perderam irremediavelmente o tom e a
pureza de sua mente por tal leitura. Muitas
103
garotas leram secretamente esse tipo de
livro, que deixou sua mancha sobre ela para
toda a vida; seu vestido pode ser justo e
branco, mas a mancha no manto interior de
pureza permanece.
No meio da grande quantidade de material impresso emitido diariamente, é de se
temer que o mal infelizmente exceda o bem.
Ninguém pode dizer como as mentes das
multidões são corrompidas pelas
publicações que examinam. Portanto, meu
amigo, tenha cuidado com o que você lê!
É verdade que "como um homem pensa em seu coração, assim ele é". Mas não é menos
verdade que como um homem lê, assim ele
vai pensar muito.
Mente, memória, consciência, imaginação, vontade, afeto; tudo será influenciado por
aquilo que você lê.
O romance questionável, com sua representação das piores paixões da alma,
como é muitas vezes o caso, não deve ser
devorado como se não deixasse nenhuma
má impressão para trás. Eu sei muito bem
que todos nós precisamos de recreação, mas
não é recreação genuína passar hora após
104
hora derramando-se sobre o que é inútil,
sem sentido, e ruim, pois isto só vai impedi-
lo para qualquer coisa mais elevada e santa.
Uma grande responsabilidade recai sobre os pais com relação a este assunto. Você teria
muito cuidado para nunca deixar o veneno
ser tão exposto em sua casa, a ponto de seus
filhos ficarem por acaso susceptíveis em
tocá-lo.
Mas há veneno pior do que o que põe em
perigo a vida? Você deve tomar cuidado para
que nenhum desses livros esteja em sua casa, logo que possa provar ser susceptível
de prejudicar a alma de seus filhos.
E se, querido leitor, você tivesse formado o hábito de ler tais livros e publicações
superficiais e prejudiciais, não é sábio que
de uma só vez você os descarte?
Pode ser difícil para você em primeiro lugar substituí-lo por outra leitura, mas no final
será abundantemente recompensado pelo
esforço, pelo lucro real e pela satisfação
sólida proporcionada pela leitura de obras
de caráter mais elevado.
105
Se os livros a que me referi estiverem em sua casa, siga o exemplo dos Efésios. Eles
queimaram seus livros ruins publicamente,
embora o preço deles fosse cinquenta mil
peças de prata. (Atos 19:19)
Um bom companheiro é um espírito pensativo, que tem a mente bem guardada
com informações úteis. Um amigo como
este é inestimável. Se você deseja pensar em
assuntos de importância que ocorrem em
torno de você, ou assuntos que sente uma
dificuldade em compreender, você vai achar
que meia hora de conversa com tal
companheiro irá ajudá-lo muitas vezes. Isto pode ser como uma pedra que rola por
muito tempo até encontrar seu lugar de
repouso. Pode sugerir uma nova visão de
alguma verdade que pode lhe dar assunto
para o pensamento por semanas ou anos, ou
pode dar-lhe uma chave para desbloquear
algum problema difícil que muitas vezes o
tem deixado perplexo.
Ocorre o mesmo com a leitura de livros que contêm pensamentos reais, ou que lhe
deem informações confiáveis.
Tais livros valem a pena serem lidos, pois
trazem benefícios duradouros. Eles te
106
ajudam em qualquer época da vida. Eles se
encaixam para uma maior utilidade em sua
própria casa, e na Igreja de Deus. Eles
ganham para você a amizade daqueles que
acham que você pode ajudá-los, assim como
eles também podem ajudá-lo.
Eles mantêm a mente fresca e viva, impedem que você esteja absorvido com
pequenos cuidados e deveres que, de outra
forma, abaixariam todo o nível de sua mente.
É bom cultivar o gosto por este tipo de leitura, a tensão que a mente exige é uma
disciplina muito saudável.
Muitas horas são desperdiçadas com livros de ficção, ou com cada item no jornal diário
que poderiam ser muito melhor gastas. Se os
homens vivessem de algumas iguarias leves
e nunca tivessem um bom alimento
nutritivo, que saúde poderiam esperar
desfrutar?
E se a sua leitura é meramente de um personagem sem objetivo, que poder mental
ou intelectual você pode adquirir?
O melhor companheiro é aquele que é um
amante de Deus e da Sua verdade. Um amigo
107
cristão vale ouro; sim, é um diamante
precioso. Se ele tem falhas, lembre-se que
você tem muitas também, suporte as dele
com a graça do Senhor. "Um diamante com
uma falha é melhor do que um seixo sem
qualquer falha."
Quanto Davi foi fortalecido pela amizade de Jonatas!
Lemos que nos dias de Malaquias, aqueles
que temiam o Senhor falavam muitas vezes
uns com os outros, e o Senhor ouviu.
Os dois amigos na estrada de Emaús falavam
juntos do seu Mestre, quando Ele se uniu a eles e fez arder seus corações.
Essa amizade cristã é um dos mais doces privilégios que um seguidor de Cristo pode
desfrutar na terra e deve ser cultivada com o
máximo cuidado.
Aqui nós descobrimos o tipo de leitura que é o mais desejável de todos, pois nós
precisamos de ajuda para o céu. Ao nosso
redor encontramos tentações e armadilhas
que desviam nossos passos do caminho
estreito como, por exemplo, o negócio
daqueles com os quais nos misturamos na
108
sociedade, e nossos próprios corações
traiçoeiros; tudo isso tem uma tendência
descendente. Mas Deus fornece muita ajuda
à nossa fé, entre elas os livros cristãos têm
um lugar importante.
Muitas vezes a leitura de alguns desses livros tem sido o ponto de retorno para o
bem na vida de um jovem. Muitas vezes
ouvimos falar das genealogias de homens
bons, mas é interessante traçar a genealogia
de um bom livro.
Richard Sibbes, autor de "Bruised Reed" (Cana Quebrada) foi o meio usado por Deus
para a conversão de Richard Baxter.
Richard Baxter, por sua vez, escreveu o livro "O Descanso dos Santos", cuja leitura levou à
conversão do Dr. Doddridge.
Dr. Doddridge escreveu "A ascensão e o
progresso da religião na alma", que se
tornou uma bênção para William Wilberforce.
William Wilberforce escreveu "The Practical View of Christianity", que tocou o
coração de Legh Richmond.
109
Legh Richmond escreveu "Os Anais dos Pobres", que tem sido um dos livros mais
úteis já escritos para os jovens.
Daí vemos como um bom livro se tornou,
não apenas um instrumento de bem para
muitos leitores, mas um pai de obras sucessivas, que nas gerações seguintes
trouxeram bênçãos a um grande número de
leitores.
Posso mencionar também um fato
interessante que ultimamente veio a meu
conhecimento, pelo qual agradeço a Deus que pode usar as agências mais simples e os
instrumentos mais fracos para a Sua própria
glória e o bem das almas.
Cerca de doze anos atrás um jovem hindu de doze anos de idade deixou uma vila em
Tinnevelly, perto de Palamcottah, e foi
procurar uma vida em Ceilão. Como suas perspectivas não eram muito promissoras,
ele foi para vários lugares e, finalmente foi
encurralado por uma quadrilha que o levou
para Penang, na China, e o escravizou por
dois anos. Enquanto lá, ele acidentalmente
viu um pequeno livro, "Not Your Own"
traduzido para o Tamil pelo Rev. E. Sargent.
Ele o comprou e o leu, e tendo sido batizado
110
pelo Espírito Santo, trazido ao Senhor Jesus,
se tornou um dos seus filhos fiéis.
Ele voltou para sua aldeia natal e o pastor nativo tem se alegrado grandemente com o
exemplo piedoso e santo que ele está dando
diante de todos. E se, às vezes, como neste
caso, vemos Deus usando um pequeno livro
para despertar e converter uma alma para Si mesmo, mais frequentemente Ele usa uma
instrumentalidade semelhante para guiar
aqueles que o estão buscando, e para
fortalecer e confirmar os crentes fracos Na
fé.
Cerca de vinte e sete anos atrás, um jovem amigo me deu um exemplar de "Vem a
Jesus", e pela forma clara e bíblica com que
Cristo é apresentado como a única
esperança do pecador, achei mais ajuda para dissipar a dúvida e o medo.
Nas biografias de cristãos sinceros, especialmente dos que trabalharam duro no
campo missionário, ou em esferas de grande
dificuldade em casa, muitas vezes temos
uma agência de primeira importância para
levantar novos trabalhadores no campo de
colheita do Senhor.
111
As vidas de David Brainerd, Henry Martyn, e em anos posteriores as vidas do nobre
Duncan Matheson e a história da Igreja
mártir de Madagascar têm sido
eminentemente úteis para acelerar o zelo
dos cristãos na obra do Senhor.
Que dívida de gratidão também muitos inválidos devem aos livros que tomam o
lugar do Evangelho pregado e desdobram as
inescrutáveis riquezas de Cristo nos leitos
de dor.
Mas nunca deve qualquer livro, por mais
excelente que seja, tomar o lugar da própria Palavra de Deus, ou ocupar o tempo que
deveria ser dado ao seu estudo. Todos os
outros livros de ensinamento cristão são
valiosos, apenas quando nos conduzem a
esta fonte principal.
Faça do Livro de Deus o seu companheiro
principal e mais íntimo. Familiarize-se com cada parte deste rico tesouro de sabedoria e
consolo, porque será sua salvaguarda contra
o erro na mão direita e na esquerda.
Quando você entra plenamente em seu espírito, e pode ver suas várias doutrinas
reveladas em todas as suas páginas, você irá
112
instintivamente recolher em seu íntimo o
ensino que delas flui. Isto será a sua
salvaguarda contra a infidelidade, seja qual
for a forma em que ela se apresente.
Uma Bíblia amada e bem estudada brilha
como o sol, pela sua própria luz. O conforto e ajuda que ela oferece é uma evidência de sua
origem Divina que não pode ser desmentida.
E, lembre-se, quando todas as outras leituras tiverem perdido sua atração, quando a
tristeza do coração ou a morte próxima
lançarem na sombra todo o conhecimento
humano, esta lâmpada brilhante do Senhor iluminará a escuridão e dará um antegozo da
alegria daquela casa da qual o próprio
Senhor é a luz eterna.
Mais uma palavra. Não seja egoísta no gozo desse privilégio da leitura. Pense nos outros,
pense naqueles que são pobres demais para
obterem essa ajuda, pense em hospitais, cadeias e casas de necessitados.
Dê ou empreste livros ou periódicos que possam ser susceptíveis de fazer o bem.
Pense também naqueles que estão vivendo
na mesma condição de vida que você.
Empreste de sua própria biblioteca de vez
113
em quando um livro a um vizinho doente, ou
a alguém cuja mente esteja aberta a
impressões sérias.
Deixe que presentes de Natal, Ano Novo, Aniversário ou Casamento tomem a forma
de um livro realmente valioso. Pense
especialmente nos jovens. Muito daquilo
que é muito perigoso é lançado em seu
caminho.
Faça o seu melhor para neutralizar isso por algo que irá ajudá-los. Que grande número
de jovens está em dívida com o "Caminho de
Segurança", por causa de uma grande
assistência que tiveram em seu caminho posterior; e quantos jovens encontraram
nos "Anais dos Pobres" de Richmond, uma
luz para guiá-los ao Salvador.
Semeie diligentemente dessa maneira a boa semente, e ore para que o Espírito de Deus a
regue com o orvalho de Sua bênção.
"Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás."
(Eclesiastes 11. 1)
114
Pacificação
Título original: Peaceableness
Extraído de The Christians Reasonable Service
Por Wilhelmus à Brakel (1635-1711)
Traduzido, Adaptado e Editado
por Silvio Dutra
115
Introdução
O amor ao próximo, a humildade e a mansidão
gerarão paz. Onde quer que os três primeiros
sejam encontrados, a última também será encontrada. É essa virtude que agora desejamos
considerar. Em hebraico isso é expressado pela
palavra menuchah, que significa descanso ou
quietude. Um pacificador está quieto e em paz no interior e exterior - pessoalmente, bem como
na presença dos outros. Há também a palavra
shalom, que é uma derivada de shalam. Esta
significa: ser próspero, ter paz, ser completo. Um pacificador tem paz, é próspero, e completa
sua tarefa com tranquilidade. Em grego temos
as palavras eirenikos e sua derivada
eirenopoios. Esta palavra é derivada de uma raiz que significa "unir", pois a paz une os corações e
une as pessoas. O apóstolo, portanto, fala do
"vínculo da paz" (Efésios 4: 3).
A pacificação é a disposição silenciosa e
contente de um crente, inclinando-o para a
ação, mantendo uma relação com o próximo
caracterizada pela doce unidade, fazendo-o no caminho da verdade e da piedade.
O tema da pacificação é a alma do crente, sendo
esta a residência exclusiva desta virtude.
Mesmo que os irregenerados possam abster-se de conflitos e discórdias, eles não têm essa
disposição pacífica de coração. "E o caminho da
paz eles não conheceram" (Romanos 3:17). Em
116
vez disso, este é o ornamento dos possuidores da
graça, os cristãos que foram reconciliados pelo
sangue de Cristo, que é a sua paz (Col 1:20, Ef
2:14). Eles, tendo recebido o Senhor Jesus pela fé para o perdão dos pecados, são justificados e,
portanto, têm paz com Deus (Rm 5,1), cuja paz
ultrapassa todo o entendimento, e mantém seus corações e mentes em Cristo Jesus (Fil 4: 7).
Enquanto desfrutam da paz com Deus em sua
consciência, é como se tudo o que está no
mundo estivesse em paz com eles, eles estão em aliança com as pedras do campo, e os animais do
campo estão em paz com eles (Jó 5:23). São assim
dispostos quando interagem com as pessoas.
Seu coração sai adiante deles e seu coração pacífico não deseja nada além de harmonia,
mesmo quando estão sozinhos. Tal disposição
só pode ser encontrada nos que são nascidos de
novo, sendo a fé o meio pelo qual essa disposição pacífica é engendrada (Romanos 5: 1). Uma vez
que a paz é um fruto do Espírito (Gálatas 5:22),
ninguém possui isto a não ser aqueles que
participam do Espírito Santo.
O objeto desta virtude é o nosso próximo - todos
os homens. Um pacificador está continuamente em guerra com o diabo, o mundo e sua carne
corrupta - com eles ele não deseja nem busca
estar em paz. Quanto mais ele odeia e se opõe a
estes inimigos espirituais, melhor ele se agrada. No entanto, para os homens como homens -
como seus próximos - ele tem um coração
pacífico e com eles se esforça para viver em paz.
117
Em primeiro lugar, o pacificador vive em paz
com os santos. Ele tem um relacionamento
espiritual e muito íntimo com eles por meio do
qual seus corações estão unidos em Cristo, tendo o mesmo Espírito e a mesma natureza
regenerada. "Tendo paz uns com os outros"
(Marcos 9:50). Entretanto, isto não deve se limitar aos santos.
Em vez disso, a pacificação se estende a todos os homens, como de seu lado o pacificador não dá
qualquer razão para a discórdia, e mesmo se ele tem uma causa justa, ele vai ignorá-la, e não
permitirá que perturbe a paz. Esta é a essência
da exortação do apóstolo: "Se é possível (isto é, se
as pessoas puderem ser persuadidas a estarem em paz, e se a paz puder ser preservada), tanto
quanto esteja em vocês (isto é, que não sejam
culpados por seu lado, senão que se esforcem
para isto com todo o seu poder), vivam pacificamente com todos os homens "(Rm 12:18).
A essência desta virtude consiste em uma inclinação, partindo da quietude e do
contentamento interior, para viver em harmonia com o próximo. Um pacificador,
vivendo no gozo da paz com Deus, tem um
coração livre de contendas, que, em relação ao
seu próximo, está contente e em paz. Ele não tem pensamentos de ter sido injustiçado pelo
seu próximo, por inveja ou por qualquer
descontentamento. Em vez disso, ele está em
118
paz interior - calmo, tranquilo e satisfeito.
Quando pensa em seu próximo, seu coração
deseja estar em harmonia com ele, e ele
interage com ele de uma maneira muito agradável. "Seus caminhos são caminhos
agradáveis, e todos os seus caminhos são paz"
(Pv 3:17). Assim, a essência da paz consiste em corações sendo unidos. É, portanto, referido
como um vínculo: "Esforçando-se para manter a
unidade do Espírito no vínculo da paz" (Efésios 4:
3). Ele é de um só coração com os outros: "Para que sejais perfeitamente unidos na mesma
mente" (1 Cor 1, 10). Isso ocorreu na Igreja
Primitiva: "E a multidão dos que creram era de
um só coração e de uma só alma" (Atos 4:32).
Um Fruto da Regeneração
Tal disposição pacífica não emana da natureza
do homem, pois um homem é como um lobo para o outro. Deus muda esse coração cruel e
selvagem, entretanto, e concede a Seus filhos
estarem em paz com Ele em Cristo; isso, por sua
vez, gera um coração pacífico para com o próximo. "O lobo também habitará com o
cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito;
... não se fará mal nem dano algum em todo o
meu santo monte" (Is 11: 6,9). O Senhor transformaria os pagãos bárbaros em tais
pessoas e, assim, o apóstolo enumera a paz
como um dos frutos do Espírito Santo.
119
"Mas o fruto do Espírito é ... a paz" (Gálatas 5:22). O apóstolo, portanto, deseja a paz de Deus sobre
a congregação. "Ora, o próprio Senhor da paz vos
dê a paz sempre em todas as circunstâncias" (2 Tes 3:16). Assim Ele é frequentemente chamado
de Deus de paz, porque Ele dá paz e se deleita
com aqueles que são pacificadores (Romanos 15:33; 2 Cor 13:11).
O efeito ou fruto da paz é um esforço para interagir com o nosso próximo em harmonia
doce. Não nos servirá imaginar que temos um coração pacífico se não estivermos apaixonados
por tal disposição. Lutar por uma relação
pacífica com o nosso próximo sem um coração
pacífico é apenas o fruto da natureza ou da hipocrisia. Imaginar que temos um coração
pacífico e ainda não lutar por uma relação
pacífica é apenas um engano em si mesmo. Um
coração pacífico não pode deixar de manifestar pacificidade, e nossa busca de harmonia por
meio de uma relação amável será proporcional
à força dessa virtude interior. É assim que
seremos capazes de tolerar aqueles que não são pacíficos e constrangê-los a serem pacíficos por
meio de uma manifestação firme do nosso amor
pela paz. Devemos, portanto, convencer todos
que buscamos a paz, e que, de nosso lado, essa paz não pode ser perturbada, mesmo que
alguém de seu lado possa fazê-lo. "Vivam em paz"
(2 Cor 13:11).
120
(1) A palavra viver implica atividade. Permanecer em quietude em comunhão com
as pessoas; sem dizer o bem ou o mal sobre
ninguém; ser capaz de aceitar que todo mundo prospera; e nem brigar, lutar, ou ficar com raiva
- tudo o que não constitua viver em paz. Viver em
paz implica ter comunhão com as pessoas de uma maneira agradável e harmoniosa.
(2) A palavra viver implica firmeza contínua. Ocasionalmente, conduzir-nos pacificamente
não é o mesmo que viver pacificamente.
Em vez disso, isso exige uma atividade contínua e uma perseverança nesse sentido.
(3) A palavra viver implica "encontrar prazer". Um pacificador está em seu elemento quando
está em paz; ele é então como um peixe na água.
Quando ele pode estar em um relacionamento
pacífico com as pessoas, ele está alegre - assim como uma pessoa saudável se deleita e é de um
espírito de alegria. "Segui a paz com todos os
homens" (Hb 12:14); "Buscai a paz e persegui-a"
(Sl 34:14). É fácil manter a paz quando alguém nos encontra de uma maneira agradável e
pacífica, e trata-nos de acordo com nossos
desejos. Não é assim que as coisas são; as
pessoas são motivadas pelo amor-próprio e elas nos fazem mal tanto na palavra como na ação.
Em um momento podemos encontrar alguém
que é uma cruz, e, em seguida, outra que está
121
com raiva, agitando a nossa natureza corrupta
para responder ao nosso próximo da mesma
maneira. O pacificador negligencia isso,
contudo, responde de uma maneira bondosa, e cede - mesmo que isso seja para seu próprio
prejuízo e faça com que ele perca a estima do
mundo. Como alguém que caça a vida selvagem, então ele vai buscar a paz e persegui-la; e uma
vez que ele a alcança, ele se considera vitorioso.
A Prática da Pacificação
Por mais agradável e desejável que seja a paz,
devemos, no entanto, estar em guarda para que
não a persigamos e a mantenhamos à custa da
verdade e da piedade. Em nossa definição acrescentamos, portanto, a seguinte limitação:
"no caminho da verdade e da piedade". Há
pessoas que têm medo de experimentar o
desagrado e a oposição de outra pessoa e, portanto, por mais que elas sejam colocadas em
seus caminhos e se protejam, por assim dizer,
com uma faca em suas mãos, no entanto cedem
com facilidade ao que não lhes pertence, mas que foi confiado por Deus à sua custódia, isto é,
a verdade e a piedade - mesmo que isso
signifique a perda de tudo, ainda que seja a sua
própria vida. Essas pessoas então se esconderão atrás da frase "paz, paz". Esta é uma prova clara
de que eles não pertencem aos pacificadores em
Israel, nem realmente têm um coração pacífico.
122
Eles não buscam a paz, mas sua própria
conveniência.
E, portanto, eles dizem: "Paz, paz", mesmo que isso signifique paz com o diabo e o mundo e que
eles teriam eternamente de perder a paz com
Deus. Se novos erros se manifestam, tais
pessoas insistem que devem estar em silêncio e ceder, pois senão haveria agitação; a paz é o
melhor. Se há um pecador que precisa ser
convertido do erro de seus caminhos por meio
de exortação e repreensão, é preciso abster-se disso; ele poderia ficar com raiva e nos causar
problemas. Se o mundo insiste em que, ao invés
de manifestar a piedade, devemos escondê-la,
conformando-nos com o mundo, tais pessoas estarão preparadas novamente para fazê-lo, pois
não desejam agitação e, portanto, dizem
novamente: Paz, paz. Entretanto, a paz e a
verdade, a paz e a piedade, devem andar de mãos dadas. Se se ferir a uma delas, não devemos
deixar de lado nosso coração pacífico, nem nos
abster de buscar a paz por nosso lado; mas,
devemos nos opor ao erro e proteger a verdade.
Portanto, devemos nos opor à impiedade e aderirmos à piedade. Se os outros não podem
suportar isso; se isso lhes desagrada e causa problemas e cria dificuldades - então isso é por
conta deles. Um pacificador, contudo, irá aderir
à verdade e à piedade, pois Deus quer que estas
123
sejam unidas. "Portanto, amem a verdade e a
paz" (Zc 8:19).
Atanásio preferiria perder sua posição do que
afastar-se de uma epístola da verdade. Lutero estava acostumado a dizer: "Eu preferiria que os
céus caíssem, do que um pedaço da verdade
perecesse." "Segui a paz com todos os homens e a santidade" (Hb 12:14); "A justiça e paz se
beijaram" (Sl 85:10). O ímpio Jeú respondeu
muito bem à pergunta de Jorão: "Há paz, Jeú?” E
ele respondeu: “Que paz, enquanto as prostituições de tua mãe Jezabel e as suas
bruxarias são tantas?" (2 Reis 9:22). "Mas a
sabedoria que vem de cima é primeiramente
pura, depois pacífica, gentil e fácil de ser suplicada, cheia de misericórdia e de bons
frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia"
(Tiago 3:17).
Esta é a virtude que é tão incisivamente ordenada e insistida em toda parte na Palavra de
Deus: "Bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus"
(Mateus 5: 9); "Seguimos, pois, as coisas que promovem a paz" (Rm 14, 19); "Estejam em paz
entre vós mesmos" (1 Tessalonicenses 5:13).
124
Somos nós Pacificadores?
Eis aqui um espelho claro, no qual poderão
contemplar não somente a sua obrigação para a
pacificação, mas também examinar a sua própria disposição e as suas ações. A paz com
Deus, com base na satisfação do Senhor Jesus,
sua porção – você tem recebido isso pela fé para a justificação, e sua fluência pacífica daquela
fonte? Você conhece a distinção entre os
piedosos e aqueles que estão sem a graça? Sua
alma é uma com os santos em Cristo, e seu exercício de paz procede desta unidade? Você
mantém uma disposição pacífica de seu lado e
ainda se esforça para estar em paz quando o
homem natural vem contra você com muito mal? Seu coração está em repouso e satisfeito
quanto ao seu próximo quando você pensa nele
em reclusão - ou se você o vê ou fala com ele?
Ou, há movimentos estranhos, antagônicos, irritados, invejosos e descontentes dentro de
você? Você se esforça para manifestar seu
coração pacífico em ações - mesmo quando os
outros estão zangados com você e cometem o mal contra você? Você ama a verdade e a
piedade tanto que não deseja afastar-se dela
nem um grão, mesmo que o mundo inteiro lhe
assalte - e mantém, no entanto, uma disposição pacífica de coração, procurando manifestar por
suas obras a paz, por seu lado? Como sua alma
responde a isso na presença de Deus? Você
125
pertence aos pacificadores? Você realmente
possui isso por princípio, e você observa sua
deficiência com tristeza?
Ou você está convencido de que está realmente
destituído dessa disposição e de suas ações resultantes? Quão feliz você estaria se estivesse
convencido disso e fosse permanecer sob tal
convicção até que desejasse buscar fervorosamente o Senhor Jesus, alcançar a paz
com Deus e ser pacificamente inclinado para o
seu próximo! Para esse fim, reflita por um
momento sobre a convicção deste pecado e considere imediatamente como Deus o vê e os
julgamentos que virão sobre você. Estou me
dirigindo a vocês que, quando estão acuados,
são como lobos e tigres cruéis; que são como um mar turbulento que não pode estar em repouso;
cujo coração está cheio de pensamentos e
movimentos odiosos, zangados, invejosos e
briguentos. Estou dirigindo-me a vocês que são cada vez mais provocados quando veem a quem
consideram que lhes tenha ofendido e que
explodem como pólvora assim que alguém fala
mal de vocês ou os prejudicam. Estou dirigindo-me a vocês que não só vivem pessoalmente em
discordância dentro e fora da igreja, mas
também causam discórdia entre os outros, e
repetidamente aumentam cada vez mais o fogo da dissensão; e a vocês que têm paz em sua boca,
mas discórdia em seu coração. Jeremias fala de
tais coisas: "A pessoa fala com o seu próximo
126
com a sua boca, mas no seu coração arma-lhe
ciladas" (Jeremias 9: 8). Ouça agora o que Deus
diz a respeito de vocês.
Ameaças Contra o Não Pacificador
Primeiro, você está sem a graça de Deus, pois
você nega tudo o que se denomina cristão. Deus,
a quem você chama de seu Pai, é um Deus de
paz, e você está vazio da mesma. Cristo, a quem
você chama de seu Salvador, é o Príncipe da Paz, e você vive em contínua discórdia. O Espírito
Santo, de quem você diz ser um participante,
trabalha a paz, e você vive em desacordo com
Ele. O evangelho pelo qual você afirma ter sido regenerado é um evangelho de paz, e ainda
assim você vive em ódio, raiva, inveja e
discórdia. Você se considera um filho de Deus;
entretanto, os tais são pacíficos e você não o é. Você participa da Ceia do Senhor através da qual
os corações dos santos são unidos, enquanto
que seu coração está dividido contra todos. Você
perceberá assim que não tem nenhuma parte em todas estas coisas de que está se
vangloriando.
Em segundo lugar, você carrega a imagem do diabo e seus filhos. Seu coração e seu semblante
são a imagem expressa de Satanás, o assassino
dos homens. Você é o que os ímpios são
127
descritos como sendo. O primeiro mundo estava
cheio de violência (Gn 6:12), e você também.
Ismael era um homem selvagem; a sua mão era
contra todo homem, e a mão de cada um era contra ele (Gn 6:12); tal é a sua condição. O Israel
hipócrita e ímpio serviu a Deus num sentido
externo; entretanto, eles viveram em conflitos e debates, e em lutas e contendas (Isa 58: 4); tal é
verdade em relação a você.
Em terceiro lugar, Deus lhe abomina e vai
vingar-se: "Estas seis coisas odeia o Senhor; sim,
e a sétima é uma abominação para ele: ... falso
testemunho e aquele que fala mentiras, e aquele que semeia discórdia entre irmãos" (Pv 6: 16,19);
"uma flecha mortífera é a língua deles; fala
engano; com a sua boca fala cada um de paz com o seu próximo, mas no coração arma-lhe ciladas.
“Não hei de castigá-los por estas coisas? diz o Senhor; ou não me vingarei de uma nação tal
como esta?” (Jer 9: 8-9).
Visto que discórdia, dissensão e discussão são evidências de um coração maligno e assassino,
cheio de raiva, inveja e vingança; já que não
herdarão o reino dos céus, os que são dessa disposição, mas terão a sua porção no lago que
arde com fogo e enxofre, você não pode esperar
outra coisa. Você que vive em discórdia com os
homens, tenha medo de si mesmo e da ira de Deus. Deus também vive em discórdia com você
e Ele prevalecerá sobre você – e isto Ele fará você
experimentar.
128
Um Pacificador Deficiente
E você, que verdadeiramente - e em princípio -
tem um coração pacífico (com tão pouca evidência disso), o precedente também se
destina a ser um espelho para você. Quão pouco
você se assemelha a essa disposição e à vida de
um pacificador! Quantos pensamentos discordantes você tem, e quão afiadas e
mordazes são suas palavras! Quão prontamente
você briga e entretém animosidade dentro de
seu coração! Como isto deveria lhe entristecer! Lamente sobre isso e procure sinceramente
banir toda a discórdia, lutando para ter um
coração pacífico e para viver pacificamente,
pois:
Primeiro, a ausência de paz no coração e nos
atos impedirá você em todos os exercícios religiosos e os contaminará.
(1) Seu coração perderá sua disposição para se aproximar de Deus, orar e ter comunhão com
Ele. "... para que as vossas orações não sejam
impedidas" (1 Pe 3: 7). Portanto, Paulo diz: "Quero, pois, que os homens orem em todo
lugar, levantando mãos santas, sem ira nem
contenda." (1 Tm 2: 8).
(2) Todos ficarão perturbados quando ouvirem uma discussão de uma pessoa santa, pois todos
129
estão plenamente convencidos de que tal é
contrário à natureza dos santos e não os
identifica como filhos de Deus. O que o Senhor
Jesus disse sobre aquele que causa escândalos? "Era melhor para ele que uma pedra de moinho
fosse pendurada em seu pescoço, e que ele fosse
afogado no fundo do mar" (Mt 18: 6). Vocês, que são santos, não deveriam cessar com as
discórdias?
(3) Você assim se torna incapaz de ser benéfico para os outros, enquanto usa toda a sua energia
para causar discórdia na igreja. "Porque, onde há
inveja e contenda, há confusão e toda obra perversa" (Tiago 3:16).
Em segundo lugar, tudo o que está relacionado com a igreja aconselha você a ser pacífico.
(1) Você nasceu na igreja e foi recebido como seu membro. No entanto, a igreja é chamada de
sulamita, ou seja, a pacífica (Cant 6:13). Será,
então, seu negócio viver em discórdia e desarmonia? Não lhe pertence viver em paz?
(2) Deus, que, ainda sendo Seus inimigos, lhes reconciliou consigo, é o Deus da paz (Romanos
16:20). Ele deseja a paz e encontra prazer
naqueles que são pacíficos. Visto que este Deus é o seu Pai e vocês de dirigem a Ele como "Abba,
Pai!", Então como ousam ir a Ele com um
coração sem paz e uma língua briguenta? Como
130
você pode ter comunhão com Ele enquanto está
em tal disposição?
(3) O Senhor Jesus, seu Esposo, que encarna todo o seu conforto, prazer e amor, é o Príncipe da Paz
(Isa 9: 6), e reconciliou-o com Deus com o sangue de Sua cruz (Cl 1:20). Ele ordena:
"Tenham paz uns com os outros" (Marcos 9:50);
portanto, "Estejam em paz" (1 Tessalonicenses
5:13).
(4) O Espírito Santo, que habita em vocês, lhes regenerou, lhes ensina e guia, e forma um
coração pacífico dentro de vocês (Gálatas 5:22).
Ele os adverte contra a discórdia, e
continuamente os move para estarem em paz. Você não deve segui-Lo? Você deve lamentar
diante dAquele que o chama para estar em paz?
(1 Cor 7:15)
(5) O evangelho, que é a semente da regeneração e seu alimento espiritual, é o
evangelho da paz (Efésios 6:15). Como, portanto, convém (em harmonia com este evangelho)
viver em paz!
(6) Os membros da igreja com quem você interage como membros da família - a quem
você ama, e em cuja presença você se alegra - são pacíficos; seu coração tem uma disposição
pacífica, e seu objetivo e atividade são a busca da
paz. Você não os ofenderia e afligiria por seu
131
comportamento discordante? Você deve
corrompê-los para serem briguentos também?
(7) O Senhor Jesus o denomina como Sua pomba e ovelha (João 10:27). Eles estão entre os mais
pacíficos dos animais; uma ovelha assumiria a
natureza de um lobo? Você deveria então estar
presente entre as ovelhas como se fosse um urso?
(8) Os sacramentos não são apenas selos da sua paz com Deus, mas também promovem a união
mútua - não apenas como irmãos e irmãs, mas como membros de um só corpo que vivem de
um só e mesmo Espírito. "Porque em um só
Espírito fomos todos batizados em um só corpo
... e a todos nós foi dado bebermos de um só Espírito" (1 Cor 12, 13); "Porque nós, sendo
muitos, somos um só pão e um só corpo; porque
todos somos participantes do mesmo pão" (1 Coríntios 10:17). Como então você se atreve a
entreter um pensamento discordante; como
você se atreve a abrir a boca para brigar e
mostrar um rosto hostil a alguém?
A Pacificação Adorna o Cristão
Em terceiro lugar, considere ainda a glória
desta virtude. É um ornamento extraordinário
para um cristão.
132
(1) Ela é a manifestação de um espírito manso e quieto, sendo um ornamento incorruptível "que
é de grande valor aos olhos de Deus" (1 Pe 3: 4).
(2) Ela exibe uma negação de si mesmo por meio da qual negligenciamos as falhas do nosso próximo e ignoramos o mal feito a nós.
"É a sua glória passar por uma transgressão" (Provérbios 19:11).
(3) Aqui se manifesta a sabedoria celestial; brigar é obra de tolos. "Os lábios de um tolo
entram em disputa" (Pv 18: 6). No entanto, ser
pacífico é a obra dos sábios: "Mas a sabedoria que vem de cima é ... pacífica" (Tiago 3:17);
"Porque a sabedoria é melhor que os rubis" (Pv
8:11); "Quanto melhor é obter sabedoria do que
ouro!" (Pv 16:16); "Sabedoria é melhor do que força" (Ec 9:16). A sabedoria faz com que o
semblante do homem seja radiante: "A
sabedoria do homem faz resplandecer o seu
rosto" (Ec 8: 1). No entanto, todas estas coisas deleitáveis são abrangidas pela pacificidade.
(4) Quando a igreja se manifesta como adornada com o ornamento da paz, ela é um objeto
encantador e deleitável para todos que a
observam. "Eis quão bom e quão agradável é para os irmãos viverem juntos em unidade!" (Sl
133: 1). Portanto, resplandeça na igreja com o
eminente ornamento da paz.
133
Em quarto lugar, a pacificação tem recompensas muito eminentes.
(1) Um pacificador é alegre: "Para os conselheiros da paz há alegria" (Pv 12:20).
(2) Os pacificadores estão aptos a participarem
de todos os exercícios espirituais para com Deus e com o homem. O seu coração não os condena
e, portanto, confiam em Deus (1 João 3:21). Todas
as suas palavras e ações são agradáveis, pois procedem de um coração que está em liberdade.
São temperados com sal, isto é, com sabedoria;
sal e paz são, portanto, unidos (Marcos 9:50).
(3) O Senhor habita com os pacificadores em Seu amor e favor. "Vivam em paz; e o Deus de amor e paz estará com vocês" (2 Cor 13, 11). Desfrutar a
presença de Deus na manifestação de Seu amor
para conosco, é tudo. Se Deus é por nós, quem
será contra nós? Se Ele conceder tranquilidade, quem causará turbulência?
(4) As bênçãos de Deus estão sobre os pacificadores: "Lá o Senhor ordena a bênção, e a
vida para sempre" (Sl 133: 3). Portanto, que viva
em paz, aquele que deseja receber todo o tipo de bênçãos do Senhor.
(5) Em resumo, Deus declara que eles são Seus filhos e herdeiros da salvação: "Bem-
aventurados os pacificadores, porque eles serão
134
chamados filhos de Deus" (Mateus 5: 9). Mais
não podemos desejar; portanto, seja diligente
para viver em paz.
Meios para cultivar a paz
Se você está desejoso de viver em paz:
(1) Crucifique seu desejo de dinheiro, honra e amor; é impossível ter e manter um coração pacífico sem abnegação. Ou então você mesmo
será a causa de outros brigando com você, já que
você está procurando o que eles perseguem.
Pode ser facilmente que você os encontre enquanto estiver em tal disposição, e sua paz
interior será assim perturbada. O que quer que
se mexa no coração logo se derramará para fora
de nossas bocas. A cobiça é um disjuntor da paz. "Aquele que é avarento de ganho perturba a sua
própria casa" (Pv 15:27). A ambição gera
conflitos: "Aquele que é de coração orgulhoso
levanta revolta" (Provérbios 28:25). Onde quer que haja inveja em relação à honra, ao ganho e
ao amor que os outros desfrutam, o coração não
pode deixar de ficar inquieto, e isto rapidamente
explodirá de um modo ou de outro. A inveja e a contenda são, portanto, unidas, pois juntos são
uma fonte de confusão e toda obra má (Tiago
3:16).
135
(2) Guarde a si mesmo e deixe que outros governem seus próprios assuntos. Não se
nomeie como um detetive e juiz sobre as ações
dos outros; feche seus ouvidos para mexeriqueiros. Não ouça o que está sendo dito
sobre você. "Um sussurro separa os melhores
amigos" (Pv 16:28); "Onde não há portador de fatos, a luta cessará" (Pv 26:20).
Salomão, consequentemente, sabiamente aconselhou: "Também não preste atenção a
todas as palavras que são faladas; para que não
ouças o teu servo lhe amaldiçoar" (Ec 7:21). E em
relação a você, fique em silêncio, a fim de que não fale mal do seu próximo, pois isso
continuamente traz-lhe em apuros e
frequentemente levanta discórdia. "O que
guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os seus lábios traz sobre si a ruína."
(Provérbios 13: 3). Se você ouvir outras pessoas
discutindo, cuide para que não se envolva nessa
briga. Não nomeie a si mesmo como juiz e, em seguida, execute imediatamente a sua
sentença, prestando assistência a uma das
partes. É uma questão completamente diferente
quando você aconselha os outros a estar em paz. "O que, passando, se mete em questão alheia é
como aquele que toma um cão pelas orelhas."
(Pv 26:17). Tal pessoa (que se ocupa dos assuntos
dos outros) está assim em perigo de ser mordida. "Mas que nenhum de vós sofra ... como
alguém ocupado nos assuntos de outros
homens" (1Pe 4:15).
136
(3) Seja sempre o menor - tanto a seus próprios
olhos como em sua conduta para com os outros.
“Suportando-vos e perdoando-vos uns aos
outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei
vós também.” (Col 3:13). Em tudo ceda à vontade
dos outros, na medida em que isto não seja contrário à vontade de Deus, seguindo o
exemplo de Abraão: "Ora, não haja contenda
entre mim e ti, e entre os meus pastores e os
teus pastores, porque somos irmãos. Porventura não está toda a terra diante de ti? Rogo-te que te
apartes de mim. Se tu escolheres a esquerda,
irei para a direita; e se a direita escolheres, irei
eu para a esquerda." (Gn 13: 8-9). Ao render-se, em certa medida, obter-se-á a paz e um coração
pacífico, que é mais precioso do que o ouro, os
rubis e o poder. "Busca a paz, e segue-a." (Sl
34:14).
(4) Se alguém o encontrar de uma maneira
desagradável, ou se você detectar a primeira
agitação de desagrado, arme-se de uma só vez e resista à contenda desde o início; fique
completamente silencioso. Pois, se você não
estiver de guarda, a disputa aumentará mão
sobre mão e você não será capaz de segurá-la. "O princípio da contenda é como o soltar de águas
represadas; deixa por isso a porfia, antes que
haja rixas." (Pv 17:14).
137
Paz, Tribulação e Vitória
Título original: Peace, Tribulation, Victory
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Nov/2016
138
Introdução
“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.33)
Há uma característica nos discursos do
Senhor com seus discípulos aflitos (como registrado em João 14-16), que atingiu minha
mente; a qual talvez eu possa caracterizar
melhor por uma frase curta - a total ausência do
eu. Consideremos, por alguns momentos, as circunstâncias em que esses discursos caíram
dos lábios do Senhor. Foi naquela noite sombria
em que ele foi traído nas mãos de homens
pecadores, na véspera daqueles horrores de alma que ele deveria suportar no jardim do
Getsêmani e imediatamente precedendo
aquelas agonias de corpo e alma combinadas
que ele deveria sofrer na cruz. Não deveríamos esperar que sua alma estivesse tão ocupada com
o que estava diante dele, que não poderia ter
pensado em outro assunto? Mas, encontramos
o bendito Senhor nesses discursos com seus seguidores de luto, deixando de lado, por assim
dizer, toda consideração de si mesmo e do que
ele estava prestes a suportar, e dedicando todos
os seus pensamentos e palavras - e, posso acrescentar, todos o seu coração, para confortá-
los e encorajá-los; como ele fala, "De agora em
diante eu não falarei muito com vocês" (João
139
14:30); como se dissesse: "Agora me dedico
inteiramente a vocês; agora eu abro mão de
todos os pensamentos de mim mesmo para que
eu possa falar de todo meu coração para vocês!” Mas quando isso é feito, outro trabalho está
diante de mim.
Agora, depois que o Senhor havia colocado diante de seus discípulos o que ele achava
conveniente em sua própria mente infinita e sábia como adequado para seu encorajamento e
consolo; e não somente o deles, mas de toda a
igreja de Deus em todo o tempo futuro, ele
concentra, por assim dizer, o todo nas palavras do nosso texto, como se isso fosse a substância
de tudo o que ele dissera: “Tenho-vos dito isto,
para que em mim tenhais paz; no mundo tereis
aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo.”
Três divisões do nosso texto parecem ocorrer
em minha mente, correspondendo às suas três
frases; e estas podemos brevemente
caracterizar como paz, tribulação e vitória - paz em Jesus, tribulação no mundo e vitória por
meio de Jesus sobre o mundo.
I. PAZ em Jesus
"Estas coisas vos tenho dito, para que em mim
tenhais paz."
140
O que são “essas coisas”? Não são elas o que ele
acabou de colocar diante deles? Cada palavra,
então, contida no capítulo anterior, posso dizer, é compreendida na expressão "essas coisas". Não
podemos, de fato, recapitular tudo o que o
Senhor lhes falou nesses três capítulos (14 a 16).
Seria necessário não um sermão, mas uma longa série de sermões para entrar, senão um
pouco naqueles temas sagrados de consolação
divina. E, no entanto, devemos olhar para alguns deles; ou não podemos entrar no significado e
plenitude do nosso texto. Devemos, portanto,
com a bênção de Deus, esforçarmo-nos para dar
uma olhada rápida em algumas das coisas que o Senhor falou em seus ouvidos, que recebendo-
as em seu coração, e desfrutando das doces
consolações que deveriam destilar de lá em suas
almas, "nEle pudessem ter paz". Ao fazê-lo, não seguirei a ordem exata em que o Senhor os
falou; mas vou tomá-los como eles ocorrem na
minha mente, mas preservando, como o Senhor
possa me capacitar, algum fio de conexão.
1. Uma coisa que o Senhor colocou diante deles foi que "nele poderiam ter paz", foi, a doutrina ou
a verdade, em vez disso (eu prefiro a última palavra) de sua união com ele - sua união eterna,
indissolúvel com sua Pessoa divina, conforme
estabelecido naquela parábola: "Eu sou a videira,
vós sois os ramos" (João 15: 5).
141
Agora, desta eterna união com Cristo flui cada
bênção. Somente na medida em que temos uma
eterna união com Jesus temos alguma união
viva, ou qualquer comunhão espiritual com ele. Somente na medida em que temos uma posição
em Cristo diante de todo o mundo temos
qualquer interesse na salvação, ou qualquer benefício do seu sangue expiatório, justificação
pela Sua justiça, toda a graça suficiente, a Sua
presença, o amor derramado comunicando
favor. Não recebemos nada, não podemos receber nada de natureza espiritual, exceto em
virtude de uma eterna união com o Senhor da
vida e da glória. Pois como os ramos só recebem
a seiva do tronco em virtude de sua união com o caule; assim também podemos receber bênçãos
de Cristo somente em virtude da união com ele.
Agora, esta verdade divina não é
abençoadamente adaptada para trazer paz e
conforto à alma? Se de alguma maneira
pudermos realizar uma união com Cristo; se tivermos fé para crer no seu nome e por meio da
fé "receber da sua plenitude e graça sobre
graça", e encontrá-lo de vez em quando
suprindo as nossas necessidades e comunicando a sua presença, misericórdia e
amor para nossas almas - é, deve ser, o
fundamento de toda a verdadeira paz espiritual
e conforto.
142
2. Mas o Senhor também disse aos seus amados
discípulos que os havia escolhido em si mesmo.
Ele diz: "Vocês não me escolheram, mas eu
escolhi vocês" (João 15:16). Ele lhes assegura nessas palavras a sua eterna eleição nele; que os
tinha amado antes da fundação do mundo, e os
tinha escolhido para que fossem participantes da sua graça aqui, e ver a sua glória face a face
no futuro. Agora, quando podemos crer (Deus
deve nos dar essa fé) que fomos escolhidos em
Cristo antes da criação do mundo, o que poderia trazer consolo mais doce para a alma? O que
pode destilar alegria e paz mais sólidas no
coração?
3. Além disso, Ele assegurou-lhes que daria sua
vida por eles. Ele diz: "Ninguém tem maior amor do que este, que alguém dê a sua vida por seus
amigos, e vós sois meus amigos, se fizerdes o
que eu vos ordeno" (João 15:13, 14). Nessas
palavras, ele lhes assegura que estava prestes a dar a sua preciosa vida por eles; que o seu amor
por suas almas era tão grande que não se
recusou a derramar o seu próprio sangue, para
que fossem lavados naquela fonte santa e libertados de toda culpa, imundície e vergonha
do pecado e da iniquidade.
4. Ele assegurou ainda que eles não eram
"servos", senão "amigos" (João 15:15); que o laço entre eles já não era, como tinha sido, de mestre
e servo; mas muito mais próximo, muito mais
caro, de uma relação muito mais íntima - a de
143
amigo; que, portanto, como um amigo abre os
conselhos de seu coração para seu irmão amigo,
e eles são assim unidos pela relação mais íntima
e mais terna; assim como para os seus amigos, ele abriria os próprios segredos de seu coração.
Ele foi, portanto, para eles, não um mestre
severo exigindo obediência como de servos, e marcando cada transgressão para puni-la; mas
um amigo bondoso e terno, que podia suportar
suas fraquezas; sim, um amigo que ficaria mais
perto do que qualquer irmão terreno.
5. Ainda, ele lhes diz que ele era "o Caminho"
pelo qual era feito o acesso a Deus; "a Verdade", para que, seguindo-o, estivessem totalmente
livres de todo erro; "e a Vida", para que, ao crer
em seu nome, a vida pudesse fluir em suas
almas, e reavivá-las em cada hora de queda e escravidão. Ele assegurou-lhes, também, que
não havia outro meio de acesso a Deus, porque
ninguém poderia vir ao Pai senão por ele (João
14: 6).
6. Ele também lhes disse que não os deixaria sem conforto (João 14:18); mas que enviaria o
Consolador, que consolaria, pelas suas sagradas
influências e unções, os seus corações doloridos
e de luto; que este Consolador os guiaria a toda a verdade, tomaria das coisas que eram suas e as
revelaria às suas almas; deveria guiá-los
também, e estar com eles até o fim (João 16:13,
14).
144
7. Ele também lhes diz que, por causa dele
viveriam também (João 14:19); que eles nunca
estariam naquele estado de alma caído, do qual
ele não poderia ou não iria reavivá-los por
aquela vida que eles viveram nele.
8. Ele lhes assegurou ainda que ia adiante deles
preparar mansões para eles, e voltaria e os
levaria consigo mesmo, para que onde estivesse
pudessem estar também. (João 14: 2, 3)
Estas são, de fato, apenas algumas colheitas da abundante safra de consolação que é
armazenada nestes capítulos abençoados. Mas o
Senhor, tendo posto diante de si estes temas
doces e encorajadores, diz-lhes para qual propósito ele tinha falado estas coisas para eles:
"Estas coisas vos tenho dito, para que em mim
tenhais paz".
Mas, o simples fato de falar dessas coisas trará
paz? Quantas vezes temos lido estes capítulos, e
ainda não encontramos a paz fluindo deles! Mas quando o próprio Senhor, cujas palavras são
espírito e vida (João 6:63) - quando o próprio
Senhor se alegra de falar qualquer dessas promessas graciosas com poder ao coração,
então suas palavras trazem consigo paz.
E que legado mais abençoado, que herança mais
doce ou mais adequada o Senhor poderia deixar
para trás para sua família afligida do que a paz?
145
Paz com Deus através do grande Sacrifício
expiatório; a paz no tribunal de consciência por
meio da aplicação do sangue do Cordeiro; santa
calma, tranquilidade divina, produzida pela abençoada Pomba, pousando suas asas
celestiais sobre a alma. Até que ponto a paz
ultrapassa a alma sentindo todas as outras bênçãos! O filho de Deus não está procurando
por êxtases, visões, sonhos ou descobertas
maravilhosas para o olho corporal ou ouvido
corporal. Tais coisas como estas, visionárias, entusiastas e fanáticas selvagens fazem a sua
jactância na alma. Mas ter a paz caindo na alma
da boca do Senhor; ter a paz proclamada na
consciência pelo sangue que fala melhor do que o sangue de Abel; sentir aquela serenidade em
sua alma, por meio da qual ela pode descansar
sobre o seio de Jesus, e quando encontrar
cuidados ansiosos e pensamentos conturbados, todos enlutados dentro de si - ele pode desejar e
desfrutar de um legado mais celestial, uma
porção mais rica do que isso?
Mas, o Senhor diz: "Estas coisas vos tenho dito,
para que em mim tenhais paz". Aqui reside a força do todo. Paz em si mesmo! Isso nunca pode
ser encontrado. Paz no mundo! Isso nunca pode
ser tido. Paz no pecado! Deus não permita que
um de seus filhos deva sonhar com a paz ali por um momento. Paz nas coisas do tempo e do
senso! Não são todos poluídos - todos não são
brinquedos, sombras passageiras, fumaça da
146
chaminé, palha sobre a eira no verão? Pode uma
alma provada - alguém tentado, abatido com as
dificuldades do caminho - encontrar alguma paz
nessas coisas? Sua mente carnal pode, para sua vergonha, ser dominada por um tempo; suas
concupiscências e paixões perversas podem ser
enredadas nelas; sua natureza decaída pode cair nesses pobres e perniciosos sonhos. Mas paz!
Não há paz nessas coisas; porque Deus disse:
"Não há paz para os ímpios". E enquanto nossos
corações ímpios estiverem saindo à procura de coisas perversas, se a consciência não estiver
realmente sensível e viva no temor de Deus, não
haverá paz verdadeira e sólida dentro de nós.
Mas, quantas vezes são as almas do povo do
Senhor como o mar agitado, que lança lama e
sujeira! Quantas vezes eles estão longe da paz!
Quantos pensamentos ansiosos, suspeitas dolorosas, dúvidas tentadoras e medos,
assaltam e assediam suas almas! Nessas
tentações encontram paz? O Senhor quer dizer
que eles devem encontrar paz nelas? Estas coisas não pretendem ser para eles o que as
carcaças flutuantes foram para a pomba de Noé
- para levá-la de volta para a arca? O corvo,
aquela asquerosa ave de rapina, podia descansar e engordar nas carcaças flutuantes, e nunca
mais voltou à arca; mas a pomba pura, aquela
ave limpa, não podia encontrar descanso para a
planta de seu pé, senão dentro da arca.
147
Assim, enquanto professantes carnais podem
encontrar paz em si mesmos, nas coisas de
tempo e sentido, em noções vazias, em uma
profissão sem a graça, em doutrinas secas, em um nome para viver enquanto morto - há no
coração de um filho de Deus algo como a pomba,
que não pode encontrar nenhum descanso sólido - exceto na arca - o Senhor Jesus Cristo;
como ele diz, "Em mim você terá paz".
Mas qual é a importância das palavras "em
mim?" Não apontam, primeiramente, para a
verdade da eterna união com Cristo? Pois desta
eterna união fluem todas as bênçãos no tempo. As palavras também não apontam para a fé em
Cristo? Porque somente pela fé em Cristo
podemos ter paz nele; como fala a Escritura, "paz e alegria em crer". Mas não é daí o ponto
culminante de "em mim", que a paz sólida flui,
na comunhão com Cristo? Não apenas a união
eterna, não apenas a união viva, mas a comunhão divina sob as sagradas influências e
operações do bem-aventurado Consolador.
Agora o Senhor projeta que toda a sua querida
família deve ter paz nele; ele os expulsa de todo refúgio de mentiras para que não encontrem
paz em si mesmos. Ele os faz sair do mundo, para
que não encontrem paz ali. Ele os caça do
pecado, para que não encontrem paz ali. Ele também julga conveniente exercitar suas
mentes e prová-las repetidas vezes, para que não
encontrem paz em nada mais, e para que
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possam vir como pobres pecadores de coração
partido para o escabelo da misericórdia, olhar
para Jesus, confiar em seu nome e encontrar a
paz em crer nele.
II. TRIBULAÇÃO no mundo.
E, portanto, é que a paz e a tribulação estão tão
intimamente ligadas. "No mundo tereis
aflições." O Senhor sabe o que são nossos corações. Ele sabe o quão estreita é a afinidade
entre nossa natureza e um mundo tentador e
sedutor. E ele sabe que cada um carrega um
pequeno mundo em seu próprio seio. Ele declara, portanto, que "no mundo teremos
tribulação"; uma promessa tão certa quanto a
que "nele teremos paz". Como ficamos felizes em
separar essas duas coisas! Quão felizes devemos ser de não ter tribulação no mundo, e ainda ter
paz em Cristo? Como nossa carne covarde
encolhe diante da tribulação! O próprio
pensamento dela às vezes nos faz tremer. No entanto, o Senhor uniu tão bem estas duas
coisas: a paz em si mesmo e a tribulação no
mundo, que nunca poderão ser separadas; e tão
longe da possibilidade de serem cortadas, podemos acrescentar, elas carregam uma à
outra, em relação a outra mais próxima, e assim
sucessivamente.
149
O Senhor, então, prometeu que "no mundo teremos tribulação". Mas como isso estonteia
um filho de Deus! Ele pode entender, ou parece
entender, o que é ter paz em Cristo; mas que seu caminho deve ser atravessado pela tribulação
no mundo, como isto parece cortar profundo,
por assim dizer, as próprias fibras de seu coração! E, no entanto, quão necessário e
indispensável é ter tribulação no mundo;
porque quão estreitamente ligado está o nosso
coração ao mundo. Quanto nosso coração carnal está colado e amarrado às coisas do
tempo e do sentido! Que propensão, possui a
toda hora para ir atrás de ídolos; para divertir
nossa mente vã com mostras passageiras; para se interessar pelas pequenas bagatelas que nos
rodeiam; e assim abandonar a Fonte das águas
vivas, e cavar para nós cisternas quebradas, que
não guardam água.
Que véu de encantamento, também, está muitas vezes sobre os nossos olhos; e, portanto, que
série de problemas - que dias, semanas, meses e
anos de provações levam para nos convencer de
que o mundo não é nosso lar, não é nosso repouso, e não é nossa habitação duradoura.
Vivemos em um mundo caído; e, portanto, neste
mundo caído, tribulação de algum tipo ou outro
deve ser nossa sorte. Nascemos num mundo pecaminoso e carregamos conosco uma
natureza pecaminosa, que está intimamente
ligada ao mundo e, portanto, todos os males que
150
estão envolvidos em um mundo pecaminoso
são impelidos sobre nós por herança legítima. A
ira de Deus repousa sobre o mundo, porque ele
se funda no que é ímpio; e, portanto, como peregrinos neste vale de lágrimas, vimos a estar
sob a sua mão de castigo.
Mas, o Senhor misericordiosa e graciosamente
faz uso da tribulação, em várias formas, para nos
tirar do mundo, para que não possamos ser condenados com ele, nem torná-lo nosso
descanso e casa. Assim, ele nos atrai para os
seus abençoados pés, para que nele
encontremos a paz que nunca encontramos e que nunca encontraremos em nenhum outro
lugar.
Mas, que várias fontes de tribulação existem! Se você e eu pudéssemos colocar nossos corações
nus um para o outro; se pudéssemos comparar
nossas várias fontes de tribulação - quão
diferentes elas poderiam ser; cada um tem seu próprio caminho de sofrimento; e cada um
talvez julgasse que sua tribulação fosse a mais
difícil de suportar. Por exemplo,
1. Nossa própria conexão com o mundo nos
conduzirá com toda a certeza a nos envolvermos
com a tribulação. Se um homem tem um
negócio no mundo, o próprio chamado pelo qual ele vive será conectado com a tribulação.
Haverá preocupações angustiantes, esperanças
decepcionantes, dívidas incobráveis e mil
151
circunstâncias dolorosas, tão ligadas ao próprio
negócio que ele segue, tão intimamente
misturado com o chamado mundano pelo qual
ganha seu pão diário, que não pode escapar da tribulação da própria fonte de sua subsistência
natural.
2. Como, também, os laços familiares mais
próximos se provam fontes de tribulação! Se temos filhos amados, eles podem ser levados na
morte, ou crescerem para nos entristecer. Se
temos parceiros amorosos, eles podem ser
arrebatados de nosso peito afeiçoado. Nossos mais afiados sofrimentos podem surgir de
nossos mais queridos e mais próximos laços
sociais. E destas coisas não há escapatória.
Nenhuma sabedoria ou artifício nosso pode impedi-los. Eles são assim fixados pelo Senhor,
eles são colocados em nosso caminho, eles
estão presos ao redor do nosso pescoço, eles são
uma parte da porção que nos é reservada, que não podemos escapar deles.
3. Ainda; enquanto no mundo estamos
continuamente enredados em algum mal. Bem
perto de cada olhar há um meio de conceber o
pecado no coração. Dificilmente podemos abrir nossos ouvidos sem ouvir algo para contaminar
e poluir a imaginação. Mal podemos pensar sem
que esse pensamento seja pecaminoso.
Dificilmente podemos falar sem algo pecaminoso, mundano ou egoísta se misturar
com o assunto. E destas tribulações vem a
aflição. O pecado do olho, o pecado do ouvido, o
152
pecado do coração, ou o pecado da língua - cada
um traz tribulação em seu bojo, pois com um
filho de Deus a tristeza sempre segue o pecado,
como a sombra segue o sol. 4. Ainda. Se somos fiéis seguidores do Cordeiro,
certamente sofreremos perseguição. Pode não
vir nas formas que prevaleceram em tempos antigos. A lei nas nações tem extinguido o fogo;
mas "o flagelo da língua", calúnia e detração, não
são silenciados; e podemos sofrer o martírio
interior do flagelo da língua, como os mártires abençoados suportaram o martírio exterior
quando suas costas foram flageladas com
chicotes, ou seus corpos queimados na fogueira.
5. Mas, ainda - nossos laços muito íntimos com a igreja de Cristo - se nós saímos do mundo, como
estamos obrigados a fazer, e estamos em estreita ligação com a família de Deus - esta
união com o povo de Deus pode ser também
uma fonte de tribulação. Se pertencemos a uma igreja, pode haver divisões nela, e aquilo que é
de uma natureza muito dolorosa. Se tivermos
amigos não espirituais, deles surgirão alguns de
nossos maiores sofrimentos. Se andarmos em estreita e íntima união, mesmo com o povo de
Deus, podem surgir circunstâncias que nos
separem deles, e podemos lamentar o dia em
que nos familiarizamos com eles.
Assim, de cada lado, fora e dentro, há fontes de
tribulação.
153
6. Ainda, os próprios corpos em que nossas
almas estão alojadas, quantas coisas pequenas
podem fazer desses tabernáculos terrenos a
fonte de tribulação mais afiada! Uma dor de cabeça aguda - que fonte de tribulação pode ser
para um homem toda a sua vida! Como o Senhor
também plantou as sementes da doença e da morte nos próprios tabernáculos de barro que
carregamos conosco! De modo que, de fora e de
dentro, da igreja e do mundo, do corpo e da
alma, do amigo e do inimigo, do pecador e do santo - de todas as fontes, os problemas e
tribulações estão todos em vigilância sobre os
filhos de Deus. Assim, cada um tem sua parte
designada; tanto quanto ele pode suportar; o suficiente para fazê-lo viver uma vida de tristeza
e ansiedade - o suficiente para afetá-lo
pesadamente e convencê-lo de que no mundo
ele nunca pode ter, senão tribulação e provação.
Mas, não é tudo isso para fins sábios? Atrevemo-nos a dizer que ousamos pensar que o Senhor é
imprudente ou indelicado ao ordenar essas
tribulações? Não foi a vontade de Deus que seu
querido Filho sofresse diante de nós? Será que ele não bebeu o cálice da tristeza até o fim? Ele
não foi batizado com um batismo de
sofrimento? E não era ele o precursor, para que
em todas as coisas ele tivesse a preeminência? Se, então, andarmos nos seus passos, e para
sermos conformados à sua imagem, não
devemos sofrer com ele? A palavra de Deus
154
declara que devemos sofrer com ele, para que
também possamos ser glorificados juntamente
com ele. Portanto, é necessário,
indispensavelmente necessário, que também passemos pela tribulação; pois se estamos fora
do caminho da tribulação, certamente estamos
fora do caminho de Deus.
Mas, qual é o efeito misericordioso, desses
problemas? Não há uma voz com eles? Quando
o ouvido é aberto, a tribulação fala. Não há mais
frutos benéficos e efeitos que fluem da tribulação? Por exemplo: não é nosso coração
por natureza muito colado ao mundo? Não o
amamos naturalmente e nos apegamos a ele?
Enquanto observamos os movimentos variados de nossos corações, não estamos
perpetuamente saindo em busca de algo
idólatra - algo para gratificar e divertir, para
interessar, ocupar e agradar a nossa mente carnal? Podemos caminhar o comprimento da
rua sem a mente carnal sair à procura de algum
alimento? É, portanto, necessário cortar esta
união, fazer-nos sair do mundo e fazer-nos sentir que não é o nosso lugar permanente, e
que não há felicidade nele, que o Senhor vê ser
necessário estabelecer a tribulação sobre nós; e
a tribulação dessa natureza peculiar que nos
separará genuinamente do mundo.
Quando estamos passando pela tribulação, que
pobre coisa vã o mundo nos parece! Precisamos
155
de consolo interior; o mundo não pode dar.
Precisamos de bálsamo para a nossa
consciência; o mundo, em vez de derramar
aquele bálsamo, rasga a ferida em pedaços. Precisamos de uma garantia do amor de Deus
para nossas almas; o mundo, tão longe de ajudar
a encaminhar a essa certeza, interpõe-se para barrar a manifesta bondade de Deus.
Precisamos de uma paz sagrada e interior,
falada às nossas almas pela voz do sangue da
aspersão; o mundo se intromete entre esse sangue e nós. De modo que precisamos - e às
vezes sentimos que precisamos, de tribulação
sobre tribulação, provação sobre provação,
aflição sobre aflição, golpe sobre golpe, dor sobre dor, tristeza sobre tristeza, para cortar a
estreita união que há entre nós e o mundo, e
para nos convencer em nosso coração e
consciência que não há descanso, paz, felicidade, consolo em nada que o mundo
apresenta.
Agora, quando somos assim exercitados com
tribulações em várias formas, o Senhor muitas
vezes tem prazer em nos conduzir a si mesmo e, de vez em quando, para nos trazer com
fervorosos desejos e respirações em que ele
falaria aquela paz para nossas almas, que o
mundo não pode dar nem tirar. Somos, por exemplo, feitos para sentir que vivemos em um
mundo moribundo. Vemos homens caindo
diante de nossos olhos de todos os lados. Vemos
156
a foice da morte cortando milhares e dezenas de
milhares; e tememos, talvez, para que não
carreguemos as sementes da morte em nosso
próprio corpo. Agora, sob essas circunstâncias, olhamos em volta. Não vemos nada no mundo
que possa nos dar um momento de paz; tudo é
manchado, poluído, contaminado; nada há que nossos olhos vejam, ou que nossos ouvidos
ouçam, que possa trazer um momento de paz
sólida para os nossos corações.
Mas, quando contemplamos, como o Senhor se alegra em nos dar uma visão pela fé, quem Jesus
é, e o que Jesus faz, e suas palavras começam a
cair com uma dose de doçura e poder na alma, e
podemos acreditar no que ele diz ser verdade inalterável; e quando nos pomos de pé, e nos
lançarmos diante dele, se ele tiver o prazer de
aplicar sua preciosa palavra ao nosso coração,
então haverá paz e paz nele, ainda que haja
tribulação no mundo.
Mas, essas duas coisas nunca vão juntas.
Diretamente, somos livrados da tribulação,
diretamente, da aflição e da provação - o que se espera de nós? Vamos voltar ao mundo!
Nenhuma pedra solta rolou mais depressa para
baixo do lado de uma montanha do que nós
corremos para o mundo. Tal é a tendência de nossos corações, tal a corrupção de nossa
natureza caída - pecado, terrível pecado - mal,
horrendo mal, sendo seu próprio alimento, seu
157
próprio alento, sua própria vida. Nossas mentes
carnais são completamente uma massa de
pecado - no momento, portanto, que Deus deixa
de nos restringir, nossa mente carnal se precipita às coisas do tempo e do sentido. Lá se
desmorona, ali se enterra, ali procura deitar-se
e chafurdar como o porco na lama.
Mas, isso nunca pode ser. Há aquela ternura de
consciência no filho de Deus, aquele temor
divino de seu nome sagrado, esse ansioso desejo
de agir certo, aquele medo tremendo de estar errado; há aquele vazio doloroso, aquilo que
clama e suspira pelo Deus vivo; e misturado com
tudo isso, essa insatisfação com o eu, que
embora a mente carnal possa por um tempo ser divertida e interessante, há agindo em seu seio
aquele que fala uma língua diferente e conta um
conto diferente.
A primeira respiração, portanto, de tribulação - o primeiro golpe da ira divina, o primeiro fio do
açoite (porque "a vara é feita para as costas do
tolo") - faz com que ele se sinta culpado por ter
cobiçado os potes de carne do Egito, ao mergulhar suas afeições no mundo, por estar
tão absorvido por seus negócios e ansiedades.
Ele é assim preparado para sentir o que um
infeliz apóstata, ou idólatra tem sido, em permitir que o mundo obtenha tão rápido uma
conquista de seus afetos. Ele vem, pois, cheio de
culpa e vergonha, mais uma vez ao escabelo da
158
misericórdia, implorando ao Senhor para
revelar-se à sua alma, falar de paz à sua
consciência, selar o seu amor de perdão e
sangue expiatório, e assim dar-lhe aquela paz que ultrapassa todo entendimento.
Assim, descobrimos que há uma relação tão
íntima entre a tribulação e a paz, que nunca podem ser separadas. Estou certo de que
deveríamos ir, não sei para onde, se não fosse
pela tribulação. Alguns de nós iríamos de cabeça
para o mundo e seríamos engolidos em seus cuidados e ansiedades; alguns se precipitariam
de cabeça para os desejos e prazeres que em
toda parte os cercam; alguns ficariam satisfeitos
com uma profissão vazia, sem a graça, ou uma forma de doutrinas não sólidas na cabeça;
alguns tomariam a cadeira do escarnecedor, e
seriam enchidos com o orgulho e justiça
própria. Mas, as provações, as circunstâncias, os problemas, os sofrimentos, em uma palavra, as
"tribulações", em várias formas e de várias
espécies, nos levam para casa e nos trazem nas
mãos do Senhor para aquele único lugar seguro - os pés de Jesus, o escabelo da misericórdia, o
trono da graça, para que possamos encontrar e
sentir aquela paz que só o seu sangue pode
transmitir.
Mas, o Senhor disse a seus discípulos: "Estas coisas vos tenho falado, para que em mim
tenhais paz". É, então, por acreditar "nessas
coisas", recebendo "essas coisas" em nossos
159
corações, e sentindo o poder abençoado "dessas
coisas" em nossa alma, que a paz é comunicada.
Se posso crer que sou um ramo da videira viva;
que sou amigo de Jesus; que ele derramou seu precioso sangue para minha redenção; que me
deu o seu bendito Espírito para me guiar em
toda a verdade; que por Ele viver, eu também viverei; que ele virá e se manifestará a mim; que
ele é "o caminho, a verdade e a vida", e que por
meio dele encontro acesso ao Pai; que ele foi
antes para preparar uma mansão para mim, e virá novamente e me receberá para si mesmo -
se eu posso acreditar "nessas coisas", e sentir os
frutos doces da fé fluindo para fora, não devo, eu
ter paz nele?
Mas, quantas vezes estamos em uma espécie de estado médio! Nenhuma paz no mundo, e pouca
paz em Cristo! O mundo é vazio, pouco mais que
tribulação e tristeza fora e dentro de si; por meio
da fraqueza de nossa fé, da carnalidade de nossa mente, das tentações de Satanás, de várias
sugestões internas, da esterilidade e da
escuridão da alma, embora cheguemos a Jesus,
chamemos pelo seu nome, esforcemo-nos por acreditar no que revelou em sua Palavra,
contudo não encontramos aquela paz que ele
prometeu. Mas, o Senhor não nos ensina assim,
que ele mesmo deve criar paz em nossas consciências por si mesmo falando de paz para
nossas almas e misericordiosa e graciosamente
derramando seu amor em nossos corações?
160
De uma coisa estou muito certo; se alguma vez
encontrei um momento de paz, foi "nele". Pode
ter sido muito transitório, muito fugaz; mas
enquanto durou, foi paz, e que a paz estava "nele"; não em si mesma, não em pecado, não no
mundo, mas "nele" - por união com ele, pela
comunhão com ele, por receber da graça sobre graça por sua plenitude; e através de alguma
manifestação de sua misericórdia, bondade e
amor.
Mas, quando comparamos estas duas coisas juntas, quanto tempo são as épocas da
tribulação! Quão curtas são as épocas da paz! Como suportar a aflição, sendo transitória a
alegria! Quantas ondas de tribulação! Quão
poucos momentos de verdadeira solidão, calma
duradoura! Contudo, o suficiente para nos mostrar que a paz não pode ser encontrada em
outra parte senão em Jesus, o suficiente para
dar-nos algo de antecipação da paz eterna, e
fazer-nos desejar recebê-la mais substancial e plenamente, com mais sentimento, de forma
que nossos corações possam ser inteiramente
banhados com ela, e nossa paz, de acordo com
sua promessa graciosa, possa fluir como um rio.
III. VITÓRIA através de Jesus sobre o
mundo.
Mas o Senhor acrescenta: "Tenha bom ânimo,
eu venci o mundo". Isso não mostra que o
161
mundo é inimigo do Senhor e do povo do
Senhor? E nunca um inimigo, é para ser tão
temido, como quando vem no disfarce de um
amigo. Quando rouba em seu coração, absorve seus pensamentos; ganha suas afeições, afasta
sua mente de Deus - então ele deve ser temido.
Quando podemos ver o mundo em suas cores verdadeiras; quando podemos atravessar o
mundo como estando nele, mas não sendo dele;
quando podemos levantar com doçura nossos
corações para o Senhor, meditando sobre sua Palavra, ou suspirando e clamando por ele - não
há muito medo então do mundo obter a vitória.
Mas, quando nossos olhos começam a beber do
mundo; quando nossos ouvidos começam a ouvir a sua voz; quando nossos corações se
enredam em suas fascinações; quando nossas
mentes se enchem de ansiedades; quando
nossas afeições se afastam do Senhor e se apegam às coisas do tempo e do sentido, então o
mundo deve ser temido. Quando nos ferir como
um inimigo, seus golpes não devem ser temidos
- é quando ele sorri para nós como um amigo que ele é mais perigoso e deve ser temido. Mas,
o Senhor disse: "Eu venci o mundo".
Você pode estar muito enredado nos cuidados dos negócios; a própria vocação necessária, pela
qual você ganha seu pão diário, pode ocupar muitos de seus pensamentos; mas o Senhor
disse para você: “Eu venci o mundo”. As
ansiedades dos negócios, os cuidados desta
162
vida, não serão seu mestre, se você é do Senhor
- ele tem vencido o mundo para você. Mas você
terá tribulação no negócio, terá cuidados e
ansiedades na própria vocação por meio da qual você vive, para que não os idolatre, nem fique
com suas afeições totalmente apegadas a eles.
Você não terá um caminho de muita prosperidade; porque isto não convém a você;
pois abraçaria o mundo com ambos os braços, e
suas afeições se afastariam do Deus vivo.
Portanto, embora o Senhor lhe dê o suficiente para lhe prover do pão que perece, haverá
misturas com tantas ansiedades e cuidados,
tantos pensamentos perturbadores, tantos
problemas de cada lado, que você não idolatrará, mas o verá em suas cores
verdadeiras, como o meio de sustentar esta vida
– e nada mais. Você verá que não deve descansar
nele, e não adorá-lo, mas usá-lo felizmente para o curto período de tempo que você está neste
vale de lágrimas.
Assim, também, com todos os nossos laços
domésticos. Nós somos tão tristes idólatras, e
esses laços tão domésticos roubam tanto em
nossos corações, que o Senhor pode permitir que eles sejam fontes de dor, e de tal dor que
nossas afeições não podem ser retiradas dEle, e
serem totalmente fixadas sobre as coisas que
naturalmente amamos.
163
E assim, também com os que são chamados
prazeres do mundo - "os desejos da carne e o
orgulho da vida" - aquelas coisas que estão
continuamente nos seduzindo e nos atraindo. Mas, o Senhor diz: "Eu venci o mundo" - não lhe
vencerá. Podemos estar emaranhados,
podemos sair à procura das coisas mais vis e abomináveis; mas teremos tantos sentimentos
dolorosos, tantas convicções cortantes, tantas
sensações angustiantes, que diremos com
Efraim: "O que tenho mais a ver com ídolos?" (Oseias 14: 8). Haverá um retorno ao Senhor,
com pleno propósito de coração. Podemos ter
que sofrer muita oposição e perseguição, ou
estar sob o poder de senhores e superiores, e temer a sua carranca. No entanto, o Senhor
disse: "Tenha bom ânimo, eu venci o mundo".
Ele o tem subjugado por sua cruz. O mundo
nunca se tornará o conquistador ou mestre de
seus discípulos.
Olhe para estas palavras. Não são as palavras da
verdade? E não achamos, em certa medida, que
existe nelas uma realidade divina? Qual foi o seu
caminho? Não foi este o seu caminho, mais ou menos, já que o Senhor primeiro se agradou de
virar os seus pés para o caminho estreito? A
tribulação no mundo - às vezes a oposição e
perseguição de homens ímpios - às vezes problemas relacionados às nossas várias épocas
da vida - às vezes o flagelo da língua - e muito
mais frequentemente os sofrimentos internos
164
produzidos por um coração enganoso acima de
todas as coisas e desesperadamente perverso.
As fontes da tribulação podem ter sido muito
diversas, muito diferentes, muito multiplicadas - contudo, nenhum filho de Deus presente aqui
esteve livre de tribulação no mundo - nem será
livre enquanto viver nele.
Mas, vamos passar adiante. Encontramos,
alguma vez paz em Jesus? Desejamos encontrar
paz nele? Procuramos a paz, esperamos
desfrutar da paz, de qualquer outro lugar? Atrevemo-nos a pensar, por um só instante, em
paz no mundo ou paz no pecado? O nosso
coração está tão fixado em Jesus, os nossos olhos
tão elevados para ele, os desejos da nossa alma, pelas manifestações de sua misericórdia e
amor, que temos certeza de que não há paz digna
deste nome, exceto a que se encontra nele?
Nossas temporadas de paz podem não ter sido longas - elas podem ter sido passageiras, muito
transitórias - mas doces enquanto duraram,
suficientes para mostrar o que é a verdadeira
paz, suficiente para nos dar anseios por uma manifestação mais clara dela, e nos fazer desejar
um prazer mais completo da mesma. E, no
entanto, o Senhor vence tudo com a solene e
abençoada declaração de que, embora nosso caminho designado, nosso caminho alocado,
seja um de tribulação no mundo, mas ele o
venceu - o pecado não será nosso mestre - o
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mundo não será o nosso vencedor - as coisas do
tempo e do sentido não ganharão uma vitória
sobre nós. Que ele nos dê uma doce certeza de
que ele vai lutar nossas batalhas, e nos fazer
mais do que vencedores!