Post on 01-Feb-2021
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Prezado Prof. Acir Bom dia! Agradeço por seus esclarecimentos e peço imensas desculpas por não ter-lhe respondido antes; o processo sucessório da presidência da ABECE, nosso congresso (o ENECE) e um recente falecimento em família me impediram de dedicar maior atenção à sua missiva, o que faço agora. Antes de mais nada, reitero minha posição pessoal, e da ABECE, de enorme respeito e admiração pelo seu abnegado trabalho à frente da engenharia de vento no Brasil. Dito isto, peço licença para comentar sua correspondência abaixo, conforme segue. Com relação ao trabalho de doutorado do eng. Matthew B. Vallis sobre o Modelo Climático para ventos extremos no Brasil, que inclui em seu conteúdo uma proposta de revisão das isopletas de Vo para o Brasil, de fato, o senhor não participou da banca examinadora, um pequeno detalhe que não deixamos muito claro em nossa correspondência anterior, e sim foi o Orientador do agora Dr. Matthew, e como o próprio termo quer dizer, Orientador - “adjetivo substantivo masculino - que ou o que dirige, estabelece as diretrizes para o funcionamento de (algo); dirigente, diretor; que ou o que orienta, direciona; condutor, guia...“, entendemos que o termo é autoexplicativo de sua participação neste contexto. Vejamos algumas de suas considerações acerca da correspondência da ABECE, as quais peço licença, respeitosamente, para tentar esclarecer melhor nosso ponto de vista:
ABECE inicial: Na apresentação, o eng. Matthew apresentou sua proposta de isopletas
(apresentação em anexo e tese pelo link):
https://drive.google.com/drive/folders/1ZdqtoQlzTUpzbQlirx7Rmeo8nDiP6VY2?usp=s
haring
Comentários Prof. Acir - É importante que seja entendido que a apresentação do eng.
Matthew Vallis teve o intuito de mostrar à comunidade técnica o trabalho de pesquisa
realizado durante os anos anteriores. A mencionada proposta de isopletas se refere ao
trabalho de Tese e não foi apresentada como uma proposta da Comissão de
Estudos ou para consideração como opção de adoção direta na NBR6123.
ABECE inicial: Após esta apresentação, tivemos uma explanação do prof. Acir, com
uma outra proposta de isopleta, diferente da do eng. Matthew (em anexo temos a
apresentação do prof. Acir, mas não foi disponibilizado ainda o material que justifica
estes valores, que seria o paralelo da tese do eng. Matthew).
Comentários Prof. Acir - Esta colocação está equivocada, não há paralelo algum:
conforme relembrado acima (e apesar de já ter sido esclarecido na própria reunião do
dia 21/8) não foi apresentada outra proposta, houve somente uma proposta
apresentada oficialmente na reunião, aquela apresentada pelo Prof. Acir Loredo-
Souza em nome de um grupo de professores pesquisadores. Também foi esclarecido
durante a reunião que os valores que levaram à uma forma final de mapa distinta
daquela última versão da Tese do Eng. Matthew (a qual também apresenta outras
https://drive.google.com/drive/folders/1ZdqtoQlzTUpzbQlirx7Rmeo8nDiP6VY2?usp=sharinghttps://drive.google.com/drive/folders/1ZdqtoQlzTUpzbQlirx7Rmeo8nDiP6VY2?usp=sharing
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proposições) contemplam os valores de velocidades da própria Tese (vide todos os
gráficos de distribuições de valores extremos mostrados na apresentação do Prof.
Acir) bem como as velocidades da versão atual da NBR6123, que não podem ser
simplesmente descartadas. Por esta razão, somada à falta de modelos analíticos de
aceitação mundial que representem adequadamente ventos não-sinóticos, foi chamada
de versão de transição. Teve também a preocupação de atender à solicitação de
profissionais da própria ABECE para que permanecesse sob a forma de
isopletas, embora o mais lógico fosse a separação por zonas, refletindo as distintas
realidades climatológicas do Brasil. A proposta de mapa apresentada teve o intuito de
contemplar diversas visões e solicitações dentro do que é possível incluir no atual
estado da arte da Engenharia do Vento. Infelizmente, parece não ter sido entendida
como tal. Trata-se de uma questão de interpretação da importância dos valores das
velocidades de rajada obtidos em todos os trabalhos de pesquisa desenvolvidos ao longo
de diversos anos em nosso grupo. Lembro que estamos tratando de trabalhos de
pesquisa desenvolvidos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
não devem ser tratados como trabalhos separados ou originados de grupos
distintos daqueles que os produziram. A Tese do Eng. Matthew Vallis foi apresentada
como trabalho de pesquisa da UFRGS, não como uma proposta separada e individual,
repetimos. Todos os trabalhos realizados nesta área pelo nosso grupo de pesquisa (o
qual teve início com os professores Jorge Riera e Joaquim Blessmann) são
importantes e não podem ser negligenciados na consideração da nova proposta de
mapa de isopletas ou zonas de velocidades básicas do vento com todas as limitações
e qualidades que naturalmente contêm. Ou seja, é necessário que fique muito claro que,
apesar da Tese do Eng. Matthew Vallis ser um trabalho excelente do ponto de vista
acadêmico (se nos permitem a avaliação, já que foi desenvolvido dentro do nosso
grupo), é apenas mais uma parte do todo já realizado, e assim deve ser considerado. A
insistência no posicionamento contrário a este entendimento não é aceitável sob
nenhuma ótica, sob risco de o delicado limite da ética ser ultrapassado, com
consequências irreversíveis para o relacionamento respeitoso entre todos. Réplica ABECE - Observe que isto é conflitante com o que a própria tese contém. Veja a imagem abaixo, extraída da própria tese, figura 7.15, página 210. Pode até não ser uma proposta da comissão de estudos, mas certamente é uma proposta do Dr. Matthew, sob sua orientação.
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Entendemos que nossa opinião, que também é a de inúmeros colegas, estabelecida sob o conhecimento do material agora divulgado, não é sob nenhuma ótica desrespeitosa, para consigo ou para com qualquer membro da comissão, por quem temos não só respeito, mas também admiração. Ela apenas reflete uma divergência, o que entendemos como benéfico neste processo de construção do conhecimento que é o de normalização. Responderemos agora a questão dos ventos sinóticos e não sinóticos, pois ela é de extrema importância uma vez que esclarece uma série de assuntos que trataremos a seguir:
ABECE inicial: Tivemos ainda a apresentação do prof. Jorge D. Riera sobre ventos
sinóticos e não sinóticos e as considerações de segurança existentes na determinação
do Vo.
Foi colocado pelo prof. Riera que hoje a norma trata apenas dos ventos não sinóticos
(que são os ventos que normalmente não ocorrem com frequência e que representam os
fenômenos extremos), existindo nesta abordagem uma segurança envolvida na
determinação do Vo.
Foi ainda colocado que estes ventos não sinóticos tem um comportamento que indica
grandes pressões à pequenas alturas do solo e pressões menores em grandes alturas,
num gráfico de distribuição diferente do que está na norma hoje. A falta de
conhecimento sobre esta real distribuição impede um tratamento diferente, mas foi
mencionado pelo prof. Acir que estruturas acima de 100m deveriam ter um tratamento
diferente.
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Comentários Prof. Acir - O texto reproduzido acima contém numerosas incorreções que
merecem ser esclarecidas, indicadas a seguir: para começar, a norma NBR6123 trata
apenas dos ventos sinóticos, isto é, exatamente o contrário do mencionado.
Denominam-se ventos sinóticos aos originados num certo tipo de fenômeno
meteorológico, enquanto os ventos não-sinóticos são originados em outros tipos de
eventos meteorológicos. A frequência de ocorrência é outra questão e não pode ser
utilizada para identificar o tipo de vento. Os ventos sinóticos têm obviamente valores
extremos enquanto os ventos não-sinóticos têm outros valores extremos. A afirmação
de que os ventos não-sinóticos representam os fenômenos extremos se verifica, por
exemplo, em quase todo o território da Austrália, mas não na Nova Zelândia (ambos os
países têm uma única norma de vento), para níveis de probabilidade usuais no projeto
estrutural. O mesmo, certamente, acontece no Brasil, mas a delimitação de áreas em que
um fenômeno ou outro é predominante não é uma tarefa trivial e depende do nível de
probabilidade escolhido.
Há uma evidente confusão de conceitos e isto ficou evidente pela manifestação mais
intensa de um colega na reunião de 21/8. É possível, porém, que exista alguma relação
com a utilização, na elaboração da norma atual, de séries mistas de máximas anuais
(contendo ventos sinóticos e não-sinóticos). Finalmente, no último parágrafo, para
reduzir a possibilidade de confusões adicionais, poderia ser indicado que o que está na
norma hoje (perfil vertical) é válido para ventos sinóticos, mas constitui um modelo
geralmente conservador no caso de ventos não-sinóticos, para estruturas acima de 100
metros, por exemplo.
Mas é extremamente importante que seja entendido que o perfil vertical de velocidades
médias é apenas um dos elementos necessários para a definição das características do
vento. Também é necessário o conhecimento dos perfis de intensidade e macro-escala
da turbulência, bem como seu espectro de potência. Não existe uma definição de
modelos genéricos, em nível mundial, para ventos não-sinóticos! Portanto, a adoção de
um determinado formato de perfil em procedimentos normativos, neste estágio do
conhecimento humano, seria apenas uma tentativa, um procedimento ao mesmo tempo
avançado e ousado. Além das características do vento, é preciso que seja também
entendido que os coeficientes aerodinâmicos para ventos não-sinóticos podem ser
distintos daqueles gerados para ventos de camada limite atualmente simulados nos
túneis de vento e que constam nas normas de vento. Este conjunto de dados também
não existe para disponibilização em normas.
É inquestionável que ninguém tem condições de prescrever, neste momento, critérios
de projeto para todos os tipos de vento com grau de certeza satisfatório. Cremos que
houve uma declaração equivocada, neste sentido, na reunião de 21/8. O conhecimento
cada vez melhor das características dos eventos meteorológicos que geram ventos
extremos traz ao mesmo tempo novas dúvidas e questões a serem resolvidas, as quais
superam as certezas que obtemos com os resultados das pesquisas. É de suma
importância, portanto, que as críticas e sugestões sejam feitas com base em
conhecimento do tema. (destaque nosso) Réplica ABECE - Como sabemos, a velocidade básica de ventos para a cidade de São Paulo é V0 = 38m/s, que deveria ser, pelo dito acima, uma velocidade de ventos sinóticos; entretanto, vamos ver os dados obtidos das medições de
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duas estações desta região, da própria tese do Dr. Matthew, dos aeroportos de Congonhas e Guarulhos:
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VENTOS SINÓTICOS: Ponto de medição 1 – V0 = 24 m/s- Ponto de medição 2 – V0 = 23 m/s – Ponto de medição 3 – V0 = 22,5 m/s VENTOS NÃO SINÓTICOS: Ponto de medição 1 – V0 = 36 m/s- Ponto de medição 2 – V0 = 33 m/s – Ponto de medição 3 – V0 = 35 m/s
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VENTOS SINÓTICOS: Ponto de medição 1 – V0 = 21 m/s- Ponto de medição 2 – V0 = 21 m/s – Ponto de medição 3 – V0 = 22 m/s – Ponto de medição 4 – V0 = 19 m/s VENTOS NÃO SINÓTICOS: Ponto de medição 1 – V0 = 40 m/s- Ponto de medição 2 – V0 = 34 m/s – Ponto de medição 3 – V0 = 32 m/s – Ponto de medição 4 – V0 = 34 m/s Esta mesma situação se repete por todo o Brasil, com maiores ou menores variações. Na proposta apresentada pela comissão, para a revisão da NBR6123, temos a manutenção da velocidade atual, conforme figura abaixo:
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Como se vê, na verdade, no que concerne à velocidade básica de vento, o que consta da atual NBR6123, e de sua proposta de revisão, está longe de ser apenas a expressão de ventos sinóticos. Seja qual for o motivo, que a proposta de revisão apresente valores para V0 tão superiores aos apenas verificados pelas medições de ventos sinóticos, julgamos importante deixar claro como as coisas estão sendo consideradas. Ainda falando sobre V0, certamente há muito a discutir a respeito, isto tratando apenas do seu conceito principal, sem falar da abrangência das consequências do alcance da utilização dos valores prescritos; assim sendo, o que a ABECE está propondo é que este assunto seja amplamente discutido e debatido, propiciando à comunidade técnica a oportunidade de conhecer melhor os conceitos inerentes a ele, opinando sobre como preferem conduzir o futuro da revisão dos mesmos.
ABECE inicial: Os profissionais da ABECE que estavam na reunião ficaram com
algumas dúvidas que gostaríamos de compartilhar pois, sendo as de vocês também,
seria interessante que fossem feitos questionamentos (através do formulário anexo) à
comissão:
· Isopletas de Vo:
o Por que não ter uma isopleta de vento sinótico e outra de vento não
sinótico de forma a tratar as ponderações de forma diferente?
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Comentários Prof. Acir - Este sempre foi um de nossos objetivos; lembramos que fomos
nós os primeiros a apresentar esta possibilidade à comunidade brasileira de projetistas
estruturais. Vejam que em 2015 aconteceu em Porto Alegre, RS, Brasil, a 14th
International Conference on Wind Engineering (ICWE14), organizado por nosso grupo
da UFRGS, e da qual o Prof. Acir Loredo-Souza teve a honra de ser designado
Chairman pela International Association for Wind Engineering (IAWE), órgão máximo
na área de Engenharia do Vento. Trata-se do evento mundial mais importante da área e
ocorre cada 4 anos, alternando-se em cada uma das 3 regiões mundiais em que a
Engenharia do Vento é dividida (Américas, Europa-África & Ásia-Oceania). Por
exemplo: em 2007 ocorreu em Cairns, Austrália (Ásia-Oceania), em 2011 em
Amsterdam, Holanda (Europa-África), em 2015 em Porto Alegre, Brasil (Américas)
enquanto a última edição teve lugar em Pequim, China (Ásia-Oceania) no ano de 2019.
Um histórico completo pode ser encontrado em www.iawe.org. No congresso de Porto
Alegre, tivemos a preocupação de enfatizar justamente o tema emergente a nível
mundial dos ventos não-sinóticos, já previamente pesquisado no Brasil em instituições
como, por exemplo, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Brasília (UnB) e a
Universidade de Passo Fundo (UPF) - o que pode ser comprovado através das diversas
publicações de pesquisadores destas instituições - mas que era praticamente
desconhecido da maioria absoluta dos projetistas estruturais brasileiros. Tivemos a
grande satisfação de colaborar para que este conhecimento fosse disseminado em
território brasileiro e para que hoje possamos discutir este tema a nível normativo.
Ocorre que, infelizmente, ainda estamos longe de poder recomendar critérios de
projeto específicos para ventos não-sinóticos. Deve ser ressaltado que, em um mesmo
evento meteorológico, é possível e usual a ocorrência conjunta de ventos sinóticos e
não-sinóticos, dificultando mais ainda sua consideração. Estamos apenas no início do
desenvolvimento do conhecimento necessário para isto, bem como precisamos melhorar
consideravelmente a confiabilidade dos dados coletados no país.
Réplica ABECE - Ótimo que o assunto esteja sendo estudado e pesquisado. Precisamos, agora, fazer com que se permeie para fora do ambiente acadêmico, em linguagem e conceitos mais práticos e disseminados dentro do dia a dia do que se usa nos projetos. A ABECE está à disposição para colaborar na publicação de boletins, manuais e recomendações de projeto que possam tornar esta permeabilidade uma realidade, pois acredita, como já dizia o sábio chinês, que “todo conhecimento retido é um conhecimento burro e perdido...”.
ABECE inicial:
o Porquê a proposta de uma isopleta diferente do trabalho de
doutorado do eng. Matthew se o mesmo foi aprovado por uma banca de
nomes inquestionáveis? o Tendo esta justificativa, seria bom que fosse apresentado as
justificativas para análise do meio técnico.
Comentários Prof. Acir - Primeiramente é fundamental que seja entendido o que
significa uma Tese de Doutorado. Trata-se de um trabalho acadêmico original, fruto de
atividade de pesquisa, que importe em significativa contribuição para o conhecimento
do tema. É uma proposição que se apresenta para ser discutida e defendida por alguém,
http://www.iawe.org/
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com base em determinadas hipóteses ou pressupostos. É completamente diferente de um
trabalho técnico específico, de um trabalho de consultoria ou para aplicação direta em
uma norma, embora nosso intuito sempre seja de que o trabalho tenha a maior
aplicabilidade possível. No trabalho de Tese, o aluno (em processo de formação ou
aprimoramento para a carreira de pesquisador), tem liberdade para formular suas
hipóteses, desde que sejam coerentes e bem fundamentadas.
No caso específico sendo aqui tratado, o ponto de vista do aluno foi respeitado,
comportamento esperado de um pesquisador em relação ao outro. Isto não tem nada a
ver com concordância com a hipótese apresentada. Entendemos que, para quem não
está acostumado com o mundo acadêmico, esta explicação é necessária. Mas
confessamos nossa surpresa em termos recebido este questionamento durante a última
reunião justamente de um profissional que atua em uma conceituada Universidade. A
Tese do Eng. Matthew Vallis é muito mais do que os valores das velocidades nos mapas
que lá constam (estes são secundários no trabalho de pesquisa); cada um de nós poderia
chegar a proposições distintas (com os mesmos resultados de velocidades obtidos),
atribuindo pesos distintos às diferentes estações meteorológicas, como foi feito pelo
próprio doutorando à época, com discordância (porém com respeito) por parte do
Orientador.
Feito este esclarecimento, listamos algumas das diversas razões que justificam a não
adoção direta na nova versão da NBR6123 da última (ou mais recente) versão do mapa
de velocidades básicas que consta na Tese do Eng. Matthew:
- Pouquíssimo tempo de amostragem dos dados utilizados para diversas estações, o que
não garante satisfatoriamente a confiabilidade dos resultados;
- Limitação de parâmetros para identificar e separar eventos sinóticos e não-sinóticos;
- Não consideração da possibilidade de formação de ciclones tropicais no litoral das
regiões Sul e Sudeste;
- Cálculos de dados de diversas estações meteorológicas indicam distribuições extremas
que geram valores de velocidades significativamente maiores do que aqueles adotados
na última versão da Tese (os aeroportos de Belém, PA, e Manaus, AM, são dois
exemplos).
- Diferenças muito grandes entre alguns dos valores propostos em relação aos atuais,
porém com padrões distintos de aceitação. Por exemplo, consideração da diminuição da
velocidade de Campinas, mas não consideração do aumento das velocidades de
Guarulhos;
- Diversos problemas encontrados na base de dados utilizada e correções efetuadas.
Maior detalhamento pode ser encontrado no próprio texto da Tese (ver item 8.3
RECOMMENDATIONS, por exemplo).
É natural, entretanto, que se alegue que, pelas mesmas razões que uma diminuição tão
brusca de velocidade para algumas regiões em relação à versão atual não pode ser
aceita, os aumentos sugeridos na proposta apresentada pelo Prof. Acir Loredo-Souza
também podem ser questionados. Estamos de total acordo com esta posição.
Réplica ABECE - Em primeiro lugar, em sua resposta acima, o senhor apenas aponta o que considera erros, falhas e inconsistências no trabalho do Dr.
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Matthew. Respeitosamente, permita-me, de forma pessoal, dizer-lhe que me surpreende que uma tese de doutorado tenha prosperado com tantos pontos de fragilidade, inconsistência, limitações, equívocos nas considerações e, sobretudo, desenvolvida sobre uma base de dados inconsistente e, ainda, que tenha sido aprovada por uma banca de tamanha expressividade como o senhor mesmo relata:
“...cujos membros foram John D. Holmes (Monash University, Australia), Jorge D.
Riera (UFRGS), Gilberto F. Fisch (IAE, INPE), Ernani L. Nascimento (UFSM) e
Gustavo J. Zani Nuñez (UFRGS). Também é importante sublinhar que dois membros da
Banca são prestigiosos meteorologistas convidados para convalidar a qualidade do
trabalho em áreas relevantes ao tema da tese (Meteorologia), nas quais nem o
Orientador nem os outros membros da Banca são especialistas....“ (destaque nosso) Em segundo lugar, não apresentou as considerações, conceitos, cálculos, base de dados etc. que levaram a comissão a propor o mapa da figura acima. Será que utilizou os mesmos dados, os quais desqualifica acima? Com pouquíssimo tempo de amostragem? Etc. etc.
ABECE inicial:
· Coeficientes de Ponderação:
o Por que ter um tratamento de segurança envolvido na definição do Vo se
este esforço terá um tratamento de segurança pela norma de Ações e
Segurança?
Comentários Prof. Acir - É equivocado o entendimento de que existam coeficientes de
segurança sendo aplicados nas velocidades propostas. Houve, isto sim, a exposição dos
valores desconsiderados pelo doutorando (o qual teve, repito, total liberdade para
formular suas hipóteses) na época da elaboração de sua última versão do mapa. Estes
valores foram mostrados na apresentação do Prof. Acir Loredo-Souza e podem ser
conferidos em www.windytips.com. Também foi explicado acima que não é possível
desconsiderar os valores da versão atual da NBR-6123. Já com relação à norma de
Ações e Segurança, esta é uma outra discussão. Não há, nesta norma, uma lógica que
contemple os conceitos da Engenharia do Vento, havendo necessidade de uma discussão
mais profunda do assunto.
Réplica ABECE - Para maior clareza, aguardamos a apresentação das considerações descritas acima.
ABECE inicial: Foi mencionado que estruturas acima de 100m deveriam ter um
tratamento diferente. Como seria este tratamento? Teria uma formulação para
diminuição da pressão do vento?
Comentários Prof. Acir - Esta é uma discussão que pressupõe o entendimento de
diversos mecanismos relacionados à interação vento-estrutura dentro do atual estado da
arte. Conforme já mencionado acima, não existe uma definição de modelos genéricos, a
nível mundial, para ventos não-sinóticos! As possibilidades devem ser apresentadas em
uma reunião específica. Estamos entrando no perigoso terreno das simplificações
excessivas. Por mais atraente ou democrático que possa parecer este processo de
http://www.windytips.com/
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participação coletiva, chegamos a um ponto em que há necessidade de que esta
participação seja fundamentada em conhecimento técnico sólido e profundo.
Réplica ABECE - A ABECE entende que o ideal seria a formação de um grupo de estudos para tratar do assunto e, após sua evolução, o mesmo deveria retornar ao plenário da comissão. Aliás, este deve ser o procedimento para todos os pontos relevantes da revisão da NBR6123.
ABECE inicial: Esses questionamentos são importantíssimos para que a norma não
seja publicada antes de que as dúvidas do meio técnico sejam esclarecidas. Pedimos
que os questionamentos sejam enviados até o dia 10 de outubro através desse e-mail.
Comentários Prof. Acir - Lembramos que o prazo combinado na reunião do dia 21/8 foi
de 15 dias úteis antes da próxima reunião, não sendo possível contemplar a data de
10/10, a qual implicaria em um período muito curto para que possamos analisar as
eventuais solicitações de esclarecimento.
Réplica ABECE - O processo de revisão da NBR6123 teve, até o momento, a seguinte agenda: 2016 23/06/2016 – Realização do Workshop sobre a necessidade de revisão da NBR6123 – USP/SP 27/07/2016 – Encaminhamento ao prof. Acir do documento apresentado no Workshop com as contribuições da ABECE para revisão da NBR6123 06/10/2016 – Realização da reunião de reativação da Comissão de revisão da NBR6123 – São Paulo 14/12/2016 – 2º Reunião da Comissão de revisão da NBR6123 – Porto Alegre 2017 26/04/2017 – 3ª Reunião da Comissão de revisão da NBR6123 – ABECE -RJ 09/08/2017 – 4ª Reunião da Comissão de revisão da NBR6123 – ABECE – SP 29/03/2017 – Postagem, pela primeira vez, no Livelink do 1º texto-base de revisão da NBR6123, com pequenas alterações e correções de erros de português e a introdução de uma proposta para VIBRAÇÕES por despendimento de vótices, artigos técnicos, Ata de 14/12/2017 2018 16/08/2018 – 5ª Reunião da Comissão de Revisão da NBR6123 – CESPRU – Brasília 2019 19/12/2019 – Postagem, pela primeira vez, no Livelink do 2º texto-base de revisão da NBR6123, artigos técnicos, Ata de 16/08/2019 2020 18/02/2020 – Reunião de Harmonização para prosseguimento da revisão da NBR6123 – ABECE – SP (presentes - Prof. Acir / Eng. Augusto / Eng. Aurélio / Eng. Vendramini) 04/08/2020 – 6ª Reunião da Comissão de revisão da NBR6123 – ABECE – SP – Reunião on line, com mais 600 inscritos e mais de 270 participantes
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Como se pode ver, estamos neste processo há quatro anos, quatro longos anos, para somente agora, em agosto de 2020, conseguirmos ter uma reunião participativa e iniciarmos, verdadeiramente, a discussão do conteúdo da proposta de revisão da norma. Nosso entendimento é que o processo de normalização no Brasil precisa ser melhorado para ser ainda mais abrangente. Imaginamos que a produção das normativas deva primar por:
1. Produzir textos claros, objetivos e diretos, de fácil leitura e compreensão, especialmente para aqueles profissionais que estão iniciando a carreira;
2. Estes textos devem ser convenientemente ilustrados, conter figuras explicativas e elucidativas, a fim de facilitar ainda mais sua compreensão;
3. O conteúdo deve reproduzir o “Estado da Arte“ sobre o assunto a que versa, no momento de sua elaboração;
4. Deve ser isento e sem privilégios; 5. Durante o processo de elaboração deve ser massivamente divulgado,
transparente, permitindo a participação da maior quantidade de pessoas possível;
6. Os documentos que vierem a embasar a produção, ou revisão, da normativa devem ser postados e disponibilizados para consulta de todos e ficar registrados, convenientemente, para que na próxima revisão já exista um histórico de todo o processo;
7. Após a divulgação do texto oficial, sempre que possível, sejam produzidas as “Práticas Recomendadas “ ou a “Norma Comentada“, a fim de permitir a maior permeabilidade da normativa na sociedade e meio técnico.
Assim sendo, a ABECE vem procurando divulgar nas comunidades e redes sociais as datas das reuniões das comissões de estudo, os locais de postagem dos conteúdos técnicos e as bibliografias que embasam os textos-base em desenvolvimento, a difusão das discussões técnicas acerca dos conteúdos destes textos, de forma a que toda a comunidade técnica tenha a oportunidade de participar e opinar sobre o material que está sendo produzido, em tempo hábil de ver seus comentários e sugestões analisados e respondidos pelas comissões de estudo. Isto é o que fizemos para esta última reunião da NBR6123. Foi assim na recente revisão da NBR6120, e será assim nas normas em processo de revisão, pois é neste processo de total transparência e de possibilitar a oportunidade da participação de todos, que acreditamos poder construir conteúdos modernos e atualizados, representativos do “Estado da Arte“ do conhecimento dos temas em discussão, com total isenção e neutralidade, e na melhor forma de defesa dos interesses da sociedade brasileira. Neste sentido o papel do coordenador da comissão de estudos é fundamental, agregador, harmonizador, ponderado, sabendo ouvir e refletir sobre todas as propostas que receber, venham elas de que segmento vierem, toda a sociedade tem o direito de se manifestar e ser ouvida, no processo de normalização.
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É importante salientar sobre as consequências das decisões tomadas neste ambiente, muitas vezes esquecidas pelos membros das comissões, mas que depois terão que ser cumpridas por toda a sociedade, arcando com os eventuais ônus dos excessos cometidos, sejam eles da insegurança, ou do desperdício, ambos igualmente inaceitáveis. Ai entra o coordenador da comissão, harmonizando as opiniões a fim de que se possa obter um texto que reflita um bom conteúdo, dosado de forma adequada, frente as demandas e realidades da sociedade e, principalmente, cumprindo seu papel social de dar a devida segurança, permitindo que os recursos sejam utilizados de forma parcimoniosa possibilitando o atendimento de todas as necessidades básicas da população. É assim que a ENGENHARIA, que embora possa ser considerada uma profissão fantasma, visto que é pouco ou nada reconhecida pela sociedade, tem que cumprir o seu papel e ser protagonista pela transparência, pela ética e pelo zelo com aquilo que transcende o privado, mas é público. Estamos certos de podermos contar com sua habitual e inestimável colaboração, neste caso em particular, superando todas as dificuldades e diferenças, absolutamente normais não só inerentes ao processo, mas principalmente pelo elevado nível técnico dos profissionais envolvidos, todos de enorme reputação, credibilidade e pelos quais a ABECE nutre enorme apreço. Com nossos melhores cumprimentos,
João Alberto Vendramini Presidente