Post on 20-Jan-2019
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TEXTOS TÉCNICOS ARQUITETURA Alfredo Britto Maurício Prochnik
ROTEIROS TURÍSTICOS Ana Seraphim Adriano Novaes
HISTÓRICO / ASPECTOS ECONÔMICOS André Sant’Ana
PESQUISA ESTATÍSTICA ESPECIAL José Matias de Lima
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL Marcia La Rocque
MUSEOLOGIA / PARQUES NATURAIS Maria de Lourdes Parreiras Horta
PERFIL SÓCIO‐ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS Marilurdes Lopes Ferreira
COORDENAÇÃO GERAL Sonia Mattos
TEXTO FINAL Sonia Mattos André Sant’Ana
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O passado vai fazer um novo futuro Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café
Há mais de um século a Light atua como prestadora de serviços públicos no Rio de Janeiro. Hoje a Light é a distribuidora de energia para 31 municípios do estado atendendo a mais de 4 milhões de clientes. Dentro de sua área de concessão está o Vale do Paraíba Fluminense, atualmente conhecido como Vale do Café. Depois de patrocinar, com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o Inventário das Fazendas do Ciclo do Café Fluminense, o Instituto Light apresenta o projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”. Através de vários produtos específicos, o projeto entrega às organizações do Terceiro Setor, ao poder público e à comunidade um conjunto de informações de natureza cultural – elaborado base em pesquisas e estudos pertinentes à realidade local – que possibilitará o acesso e a capacitação deste público para que possam trabalhar na estruturação da região do médio Paraíba fluminense como um destino turístico ‐cultural de grande interesse para o país e estratégico para o estado, fomentando um novo ciclo de progresso, baseado no Turismo Histórico Cultural. Com o projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”, o Instituto Light e o Instituto PRESERVALE criaram roteiros turísticos para os diversos quadrantes da região e promoveu o curso “Cuidando de Casas Históricas”, para capacitar profissionalmente a mão de obra local. O projeto também identificou áreas prioritárias para novos museus e parques naturais e apontou as necessidades dos existentes. Todos estes estudos estão sendo apresentados de duas maneiras. Aqui, neste relatório, com a análise da vocação econômica de potenciais ações de restauro e recuperação de Fazendas Históricas, e pela internet, onde todos os resultados estarão disponibilizados para o público interessado. O Instituto Light acredita estar cumprindo um importante papel neste ambicioso projeto: o de entregar a uma região que sempre honrou o pacto de relacionamento com a Light, alternativas para que possa se redescobrir e voltar a crescer, transformando‐se novamente em um pólo estratégico do Rio de Janeiro. Se ontem a riqueza veio do café, desta vez o seu legado histórico será a mola propulsora de um novo futuro. Que, para a Light, não há dúvidas, será cheio de energia.
Oscar Guerra Diretor do Instituto Light
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Relatório Final
ÍNDICE
I – INTRODUÇÃO............................................................................................................................................7
II – APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................9
III – O TURISMO CULTURAL COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA O VALE DO CAFÉ ..........................12
IV – UM RETRATO DA CADEIA TURÍSTICA DO VALE DO CAFÉ ....................................................................17
V – PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA ..........................................................................................22
VI – O FOMENTO AO TURISMO CULTURAL E RURAL NO BRASIL ................................................................43
VII – SEGMENTOS: ARQUITETURA / MUSEUS E PARQUES NATURAIS / ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA /QUALIFICAÇÃO .......................................................................................49
VIII – UM CHOQUE DE INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO NOS NEGÓCIOS TURÍSTICOS DO VALE DO CAFÉ: AÇÕES ESTRATÉGICAS .......................................................................................71
IX – INDICAÇÃO DE PROJETOS.....................................................................................................................89
X – CONCLUSÃO.........................................................................................................................................118
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I ‐ INTRODUÇÃO
André Sant’Ana e Sonia Mattos
Empreendedorismo no Vale do Café
Não há qualquer dúvida de que a região fluminense conhecida como o Vale do Café vive, há algumas poucas décadas, um renascimento que ninguém podia prever: exatamente a ressurreição daquele patrimônio que foi devastado com a derrocada da atividade cafeeira; o reflorescer das fazendas que constituíram o centro dinâmico da economia brasileira no século XIX, vendidas a preço de banana ou tomadas pelas casas de crédito aos seus proprietários em bancarrota. Quem acreditaria que as propriedades pertencentes aos plantadores de café e traficantes de escravos ainda existiriam no início do século XXI?
Isso aconteceu apesar de tudo e de todos os que permitiram a decadência incessante e crescente da região, que se seguiu ao colapso do café. Mas uma palavra nova que surge quase no final do século XVIII dentro da teoria econômica ajuda a decifrar o mistério: “empreendedorismo”.
Em recente artigo no O Globo1, Paulo Guedes lembra que a economia nasceu como uma ciência política, o estudo dos esforços produtivos de uma sociedade. A natureza humana, os costumes sociais, o espectro da miséria ante as pressões demográficas, a riqueza das nações, os conflitos entre os segmentos sociais, a distribuição de renda e a formação de mão‐de‐obra eram objetos de análise dos primeiros economistas2, e continuam importantes para a análise dos males econômicos atuais. A metodologia associada a essa análise econômica reganha força considerável desde as últimas décadas do século XX até os dias de hoje.
O Tratado de Economia Política3 de Jean‐Baptiste Say é considerado o baluarte do conceito de empreendedorismo4. Publicado nos primeiros anos do século XIX e muitas vezes descrito como uma popularização das idéias de Adam Smith, o Tratado teve como ponto de partida a típica metodologia de sua época. Esse ponto de partida tinha por base a convicção de que a teoria econômica deveria começar, não com fórmulas matemáticas abstratas e análises estatísticas, mas com a experiência real do ser humano. Tal ênfase humanística resultou no destaque dado por Say ao papel do empreendedor no crescimento econômico e no delineamento das relações sociais.
1 Editoria “Opinião”, 8/3/2010, p. 7. 2 Ilustrativos são os títulos da obras dos principais precursores da teoria econômica, como Adam Smith (1723‐1790), An Inquiry into the Nature and the Causes of the Wealth of the Nations, ed. Oxford University Press, 1976, 1.080 pags., e David Ricardo (1772‐1823). On the Principles of Political Economy and Taxation, ed.Cambridge University Press, 1981, 447 pgs. 3 Jean‐Baptiste Say (1767‐1832). Traité d’ économie politique ou simple exposition de la manière dont se forment, se distribuent ou se consomment les richesses, Calmann‐Lévy Editeur, 1972, 572 pgs. 4Tendo sido um francês o precursor dessa análise econômica, o amplo debate que se seguiu na Inglaterra e nos Estados Unidos usa o conceito com o galicismo entreprenneurship.
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O empreendedor, para Say, é aquele que consegue mover recursos econômicos de uma área para outra, equilibrando‐as e potencializando a área que decide privilegiar, com todo um arsenal de precauções, visando, sobretudo, reunir as condições para que o negócio prospere continuamente, com riscos calculados. Para isso, ele busca atrair a atenção do poder público para o apoio necessário ao seu empreendimento. E avalia primordialmente dois segmentos: as parcerias necessárias de financiamento e o estado de sua mão‐de‐obra. Assim, a ele gera valor para si e para a própria sociedade.
No entanto, as parcerias com o poder público nem sempre caminham na direção da sustentabilidade e usufruto, pela comunidade, dos benefícios culturais e ambientais de uma sociedade. O turismo cultural, no Brasil, padece em linhas gerais de uma ausência de interlocução proveitosa entre governos e as iniciativas empreendedoras da comunidade.
Citando Maria Cristina Wolff de Carvalho, no livro “Caminhos do Rio a Juiz de Fora”, 2010, “o Brasil possui paisagens naturais e culturais de beleza extraordinária. No entanto, esta beleza não tem sido tomada como um bem em si a ser preservado, continuamente mantido, recuperado e explorado. (...) iniciativas, quando existem, na maioria das vezes buscam se adequar aos limites da infraestrutura precária, à ausência de informação, apoio, conforto e segurança ao visitante. Acrescente‐se a indiferença para com a ambientação dos lugares de interesse, a manutenção vacilante dos monumentos/museus e o quadro é desolador. A tolerância ilimitada com os processos que levam à degradação da paisagem e do ambiente tem propiciado a desvalorização contínua dos tesouros artísticos nacionais. De um modo geral, não é percebido que “paisagens culturais” são construídas no dia‐a‐dia da população. E essa, quanto mais educada, mais habilitada estará a dar o devido valor aos elementos que a constituem, empenhando‐se em gerir e tirar partido de suas potencialidades, fazendo‐as interagir com sua própria existência.”
No intuito de contribuir para uma percepção do Vale do Café como uma região de potencialidades de desenvolvimento cultural, social e econômico únicas na história do Brasil, foi concebido e executado este projeto.
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II ‐ APRESENTAÇÃO
O projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”, cujo relatório ora apresentamos, foi idealizado pelo Instituto Preservale em conjunto com o Instituto Light com o objetivo de proporcionar uma visão em perspectiva desta região do Brasil, que possibilite a elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional, tomando por partida os patrimônios culturais e ambientais que a caracterizam. Para esta finalidade, foi elaborado um projeto que contemplou três vertentes: uma de ação executiva, que foi a realização de três “produtos” qualificativos:
1. A realização da oficina “Cuidando de Casas Históricas”, que capacitou cerca de 40 participantes em métodos de conservação, proteção e qualificação de acervos de imóveis históricos. Os participantes da oficina foram fazendeiros, quadros técnicos e gestores culturais de diversas prefeituras municipais, numa experiência por todos avaliada como de excepcional qualidade e utilidade.
2. A produção de folhetos com roteiros regionais, mapa e indicações de atrativos, hospedagem e alimentação, cujo objetivo é o de proporcionar ao visitante a visão dos diversos quadrantes turísticos do vale, permitindo a livre circulação e escolha dos atrativos conforme sua localização na região.
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3. O lançamento da proposta de criação de um “Selo das Fazendas Históricas”, atribuídos às fazendas
do Vale que foram inventariadas pelo INEPAC/Light/ ICCV. Este selo, cujos critérios deverão ser definidos em conjunto com as entidades oficiais de patrimônio e a sociedade, virá inaugurar uma série que poderá ser editada anualmente, com categorias diferenciadas, visando estimular a restauração, a conservação e a interpretação dos patrimônios rurais fluminenses.
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A segunda vertente do projeto foi a pesquisa sócio‐econômica do segmento de turismo cultural que orbita em torno da história e das fazendas do café no Vale do Paraíba desde os anos 80/90. A pesquisa compreendeu análises de dados compilados junto ao IBGE e outras fontes, bem como o trabalho de campo realizado pela equipe de consultores do projeto, que consistiu de entrevistas e visitas técnicas junto aos principais fazendeiros, proprietários e gestores de empreendimentos e instituições culturais e ambientais da região, como também por intermédio de discussões em conjunto para compartilhamento de impressões, pontos de vista e dúvidas.
Esta pesquisa representou um desafio técnico, logístico e cultural, pois o universo em questão ‐ os municípios que compõem a região do Vale do Café ‐ não dispõe de dados atualizados, acessíveis e amigáveis à pesquisa. Além disso, temos que considerar o fato de que as visitas presenciais, em função das distâncias e dificuldades de acesso e comunicação ‐ sem esquecer o aspecto pessoal e humano dos respondentes, que muitas vezes encontram dificuldades em processar e assimilar o conjunto de questões envolvidas neste tipo de trabalho ‐ implicaram numa intensa experiência de convivência dos consultores com os fatores limitantes que a região apresenta.
Foi utilizado um software para o armazenamento e tabulação dos dados, visando à sua utilização em outras plataformas de dados sobre a região, além da possibilidade de ampliação do escopo e profundidade posterior desta pesquisa.
Uma vez que a carência de dados é um dos problemas a serem superados, novas pesquisas, que estão também indicadas neste relatório, poderão beneficiar‐se do trabalho já realizado.
Foram elaborados questionários específicos para cada um dos segmentos (fazendeiros/gestores e hoteleiros), que permitiram a visualização dos perfis dos empreendedores de cada segmento, suas demandas, suas expectativas, suas dificuldades e sugestões para a melhoria e desenvolvimento do turismo cultural no meio rural fluminense.
A tabulação e análise dos dados levantados, juntamente com a observação crítica dos consultores, permitiram a compreensão de que há lacunas estruturais que precisam ser supridas, de modo a que o enorme potencial da economia criativa representada pelo turismo cultural no Vale do Café possa deslanchar um processo de desenvolvimento regional efetivamente sustentável.
Entra aí a terceira vertente do projeto, que se configura como uma ação propositiva, a partir dos diagnósticos realizados pelos consultores do projeto e de suas reflexões, avaliações e indicações técnicas.
A pesquisa de iniciativas presentes na região que, potencialmente, venham a se integrar no processo de desenvolvimento regional, levou a um desenho bastante diversificado de possíveis intervenções, buscando um contexto em que estas sejam realizadas de modo planejado, coerente e integrado, através da construção solidária de parcerias entre os diversos segmentos envolvidos – empresariado, governos e sociedade.
Nosso projeto apresenta objetivos de curto, médio e longo prazo, a serem atingidos pelos atores regionais, com os apoios institucionais, políticos e financeiros que forem necessários, provenientes das esferas de governo municipais, estadual e federal, bem como das agências de fomento, crédito e investimento disponíveis. Nossa intenção é também provocar a resposta destes parceiros complementares para este desafio comum.
Chamamos a atenção de nossos interlocutores para o fato de que o Estado do Rio, verdadeiro emblema da nação, será impactado nos próximos anos por diversos eventos internacionais de grande magnitude. Esta agenda exigirá o aprontamento das condições logísticas e operacionais de seus equipamentos sociais, culturais e turísticos, e não somente na capital, mas sobretudo no interior do estado. É exatamente na zona rural do Rio, onde estas ofertas são ainda incipientes até mesmo para seus moradores, que estão os atrativos turísticos e culturais das fazendas históricas do Vale do Café, sobre os quais a demanda externa será enorme, em função dos fluxos de interesse turístico que para ele serão dirigidos.
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III ‐ O TURISMO CULTURAL: A ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA O VALE DO CAFÉ
Um impulso similar ao da economia cafeeira imperial parece ter se repetido no deslanche da mentalidade empreendedora do século XX no Vale do Paraíba. Um tipo de inconsciente coletivo histórico que “baixou” na região. Esse impulso, em ambos os séculos XIX e XX, foi notadamente a inversão de recursos próprios. Guardadas as proporções, tanto a produção cafeeira no XIX como a oferta de serviços turísticos de cunho cultural no século XX exigiu investimentos de pequeno porte. Fala‐se aqui do investimento específico para cada setor – o cafeeiro e o turístico.
No caso da montagem do Vale Turístico do Café, o investimento aconteceu sem montante significativo, se comparado com a implantação de grandes pólos de empreendimentos turísticos.
O que houve foram ações prévias individuais de investimento de grandes proporções, principalmente para a recuperação do patrimônio material ameaçado, sua equipagem, manutenção e modernização, sem visar inicialmente o turismo. Isso em meio a inúmeras compras de propriedades rurais desvalorizadas. O que houve de forte investimento prévio acabou se incorporando como ativo que viabilizou as decisões de investir no turismo cultural.
Investimentos de porte foram feitos em infraestrutura de produção e de toda logística necessária, equipamentos, energia, mão de obra, recuperação e formação de pastagens e de cultivos produtivos, irrigação, aquisição de cabeças de gado de leite e de corte, criação de cavalos, implantação e manutenção de empreendimentos rurais.
As decisões de investir em turismo cultural foram sendo gradativas e acabaram desencadeando uma nítida mobilização dos agentes econômicos e institucionais atuantes nessa região que fora o motor da economia brasileira durante quatro décadas do século XIX5, e que em importância econômica literalmente desapareceu, deixando como legado apenas o patrimônio arquitetônico dos solares coloniais e imperiais.
Se não vejamos: sobrou a população remanescente dos escravos, que não tendo para onde migrar permaneceu na região, e toda uma malha social ligada notadamente ao comércio, aos serviços públicos e às atividades remanescentes da aristocracia.
Não se produzia mais nada de relevância comercial, além de pontuais empreendimentos fabris principalmente em Valença, se considerarmos uma região localizada a uma centena de quilômetros da capital da República. Restou a lavoura de subsistência, algumas produções hortícolas e, sobretudo, a pecuária leiteira e de corte, que começou como alternativa às antigas propriedades cafeeiras e manteve‐se sempre com expressão macroeconômica pouco significativa6. Essa herança, a região carrega até hoje. Como alternativa para reverter a crise estrutural de mais de um século, a nova direção econômica que toma o Vale do Café no sentido da montagem de um parque turístico vocacionado para o Turismo Cultural é inquestionavelmente um boa saída (talvez única) para a revitalização dessa importante região brasileira.
5 O apogeu da economia cafeeira foi entre 1835 e 1875, período em que o Brasil “era” o Vale Fluminense. 6 Embora o Município de Valença seja um dos principais produtores de leite do Estado do Rio, ele não aparece entre os 80 primeiros municípios brasileiros produtores de leite. A mesorregião Sul Fluminense também não aparece entre as 30 principais mesorregiões brasileiras neste setor, e representa apenas 23% de toda a produção leiteira do Estado do Rio. Essa pequena expressão econômica se explica, em parte, pela baixa produtividade relativa da produção fluminense como um todo, e pelo fato de ser um estado essencialmente importador de leite de outros estados: produz menos de 500 milhões de litros para um consumo de 2,3 bilhões de litros de leite. (cf. Embrapa, dados de 2007 e 2009 – ver http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/informacoes/estatisticas/producao).
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III ‐ 1. A ação empreendedora no Império do Brasil
O café foi a base econômica do Segundo Reinado. A superação da crise regencial, a reorientação centralista e conservadora e a conseqüente estabilidade do Império a partir de 1850 encontram‐se intimamente relacionadas à economia cafeeira.
A estrutura econômica e social do Brasil não havia sido alterada com a emancipação política e continuava, em essência, tão colonial e escravista quanto fora durante o período anterior. Estruturada para a monocultura, a economia imperial e escravista brasileira prosperou quando produziu uma mercadoria de grande aceitação no mercado europeu e, também, quando não era ameaçada pela concorrência. Assim acontecera com o açúcar no passado e agora com o café, em meados do século XIX.
O café não requeria grandes e vultosos investimentos, como a montagem de um engenho de açúcar e como aconteceu no renascimento recente do Vale do Café. Eram necessários: tanques para a lavagem do grão depois da colheita, terreiro onde espalhar e secar o café e máquinas de decorticação, triagem e outras, que eram mais simples e de fabricação local. Portanto, nos seus primórdios, a cultura cafeeira baseava‐se na utilização do fator terra e dependia do movimento da mão‐de‐obra. Como o cafezal é uma cultura perene, o crescimento da economia cafeeira dependia quase que exclusivamente do suprimento de escravos.
Mas, ao contrário da economia açucareira, a economia cafeeira caracterizou‐se desde a sua origem pelo casamento entre as etapas da produção e da comercialização7, em controle das classes sociais locais. Na economia cafeeira, a importância do comerciante foi enorme e decisiva, mas o fato de ter se constituído nos quadros de um país politicamente emancipado deu ao fazendeiro um espaço maior de liberdade e atuação.
Segundo as palavras de Celso Furtado, “desde o começo, sua vanguarda [os cafeicultores] esteve formada por homens com experiência comercial. Em toda a etapa de gestação, os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. A nova classe dirigente formou‐se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão‐de‐obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política econômica e financeira”8. (Isso lembra o movimento que acontece nestas últimas décadas no Vale do Café.)
Tornando‐se o principal produto de exportação brasileira a partir da metade do século XIX9, o café ocupou, de início, regiões vizinhas da capital brasileira, o Rio de Janeiro. Ali encontrou uma infraestrutura já montada, reaproveitando a mão‐de‐obra escrava disponível em virtude da desagregação da economia mineira. Além disso, favoreceram enormemente a abundância de animais de transporte (mulas) e a proximidade do porto. Portanto, sem grandes dificuldades para os padrões da época, com os próprios recursos existentes e disponíveis, deu‐se o impulso inicial à economia cafeeira.
7 No ciclo do açúcar, todas as decisões eram tomadas no comércio, que era totalmente controlado pelos holandeses, desde o fornecimento de equipamentos e tecnologia, até o transporte nas urcas holandesas (daí o nome do bairro carioca) para beneficiamento e comercialização na Europa. Dessa maneira, eram os comerciantes e fornecedores estrangeiros que se apropriavam da parte maior do negócio, contribuindo para a prosperidade da Holanda, permanecendo os senhores de engenho como seus sócios menores. Isso explica em grande parte a desigualdade entre os padrões do desenvolvimento do Nordeste e do Sudeste. 8 Furtado, C. 2007. Formação Econômica do Brasil. 34ª edição, Companhia das Letras, São Paulo. 9 Em 1860, o café produzido nas terras fluminenses respondia por 82% das exportações brasileiras desse produto.
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O comportamento dos primeiros empreendedores cafeeiros não foi nada pródigo. Suas tarefas eram colocar os escravos para, primeiramente, pôr a mata virgem abaixo, plantar e colher, produzir muito e exportar, e gastar pouco, consigo mesmo e com a família. Apenas o estritamente necessário, o imprescindível, para assim conseguir alcançar a abastança. Décadas depois dos primeiros empreendimentos é que vieram a ser construídos os palácios rurais, precedidos por um extenso renque de palmeiras imperiais, compondo um quadro de fausto e requinte inigualáveis no Brasil.
São eles que financiam a guerra contra o Paraguai e são o esteio do Império, constituindo‐se numa aristocracia genuinamente rural, de arroubo imperial. Eles são conseqüência direta do estímulo premonitório de D. João VI, distribuindo as sementes que mandara vir da África e da facilidade com que a planta se desenvolveu, inicialmente, na encostas da Tijuca, posteriormente nas terras de Resende e descendo, ao longo do Século XIX pelo Vale do Paraíba.
III ‐ 2. O empresário inovador chega ao Vale do Café
Já nos anos 1950, começou a se esboçar na região uma vocação para a recuperação de um patrimônio esquecido, através do interesse pelas antigas fazendas de café, que começaram a ser compradas e, em grande parte, salvas da ruína pelos novos proprietários. As motivações foram diversas, como famílias em busca do resgate da memória aristocrática do Vale e de seus antepassados, ou a simples compra de um bem portentoso como residência secundária para veraneio e lazer de fins de semana. Um exemplo é o do empresário Horácio de Carvalho que, sobretudo a partir da década de 1950 compra, primeiro, propriedades que haviam pertencido à sua família (era neto do Barão do Amparo) e deixa, após sua morte, nove fazendas coloniais e imperiais. Motivados também pela perspectiva do investimento em setores da agropecuária, contribuem, em última instância, para promover os primeiros passos de revitalização econômica e cultural do Vale e de seus valores rurais.
Desde meados dos anos 70, em movimento intensificado na década de 1980, as fazendas históricas do Vale do Paraíba foram mudando de mãos. Algumas também foram adquiridas para investimentos na produção agropecuária da região e vários de seus solares suntuosos receberam obras de recuperação e restauro, pois seu estado de abandono impedia a ocupação residencial. Os anos 80 foram marcados por uma intensa renovação de propriedade de fazendas e, já nesta fase, as grandes casas rurais receberam investimentos consideráveis para sua recuperação e uso familiar, mesmo que ainda como residências de veraneio, final de semana e lazer. Desde o início deste processo, recursos inestimáveis foram destinados para a aquisição, recuperação, montagem das residências, paisagismo, infraestrutura de produção, equipamentos, energia, emprego de mão‐de‐obra, recuperação e formação de pastagens e de cultivos produtivos, irrigação, aquisição de cabeças de gado de leite e de corte, criação de cavalos e implantação de empreendimentos rurais. Alguns poucos proprietários, em virtude de relações de amizade e vizinhança com outros novos fazendeiros, perceberam a importância do conjunto patrimonial da região, e deram início a um trabalho ainda tímido de acolhimento de visitantes que vinham para conhecer a história do Ciclo do Café e o legado patrimonial do império rural.
Os anos 90 foram marcados pela conscientização quanto à questão ambiental e estes proprietários decidiram constituir‐se em associação, para melhor levar a cabo uma proposta de desenvolvimento sustentável da região, através da preservação dos seus patrimônios culturais e ecológicos para o Turismo. Assim nasceu o Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba ‐ PRESERVALE.
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A mídia descobriu o Vale nesse período e começaram a surgir matérias em jornais e revistas sobre os “novos barões do café”, que abriam suas portas para a visitação guiada e o Turismo Cultural. A partir de 2000, talvez inspirados pela “redescoberta” de nossa identidade, impulsionada pelas comemorações dos 500 anos do Descobrimento, os brasileiros começaram a ver com maior atenção a sua história e o seu patrimônio e, num movimento de recuperação de cidadania cultural, abraçaram a idéia do Turismo Cultural como forma de resgate e valorização dos seus próprios espaços de memória e de identidade. Após o ano conturbado de 2001, quando as viagens internacionais passaram a ser mais difíceis e arriscadas, o estímulo ao turismo interno (aqui e em todo o mundo) favoreceu a arrancada dos destinos culturais brasileiros e o Vale do Paraíba se tornou o Vale do Ciclo do Café e, mais recentemente, o Vale do Café.
III ‐ 3. Os segmentos líderes começam a se mobilizar. O Preservale
A história da organização representativa das fazendas históricas começa em 1994, quando 60 pessoas, entre fazendeiros, pesquisadores, ambientalistas, arquitetos, agentes de viagem, historiadores e apaixonados pela história e pelo patrimônio do Ciclo do Café, fundam o Instituto PRESERVALE.
Está criada a idéia de um conjunto de patrimônio histórico dotado de identidade cultural e ambiental, reafirmando a noção de comunidade regional e emprestando personalidade jurídica às iniciativas que, doravante representadas institucionalmente, exprimem a organização da sociedade civil na defesa do patrimônio e em busca de sustentabilidade através do Turismo Cultural.
O PRESERVALE nasceu como forma de união entre os diversos gestores de propriedades históricas, que viram no Turismo Cultural uma forma inovadora de agregar valor ao patrimônio rural, acrescentando à renda corrente das fazendas as receitas de hospedagem e visitação guiada com finalidade educativa, histórica e cultural.
O Instituto permitiu que o conceito de região atravessasse os Municípios, integrando roteiros, meios de hospedagem, entretenimento cultural e produção artesanal, criando uma experiência de sucesso. A agremiação dos proprietários gerou novas propostas, visando, sobretudo, à preservação do patrimônio histórico, à revitalização da cultura popular, à recuperação do patrimônio ambiental e paisagístico, dando à atividade turística uma característica regional.
O PRESERVALE congrega hoje cerca de 30 fazendas históricas. Recebeu em 2004 o Prêmio Estácio de Sá, da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro na categoria Preservação do Patrimônio Cultural. Vem atuando junto aos órgãos de defesa do patrimônio em âmbito Municipal, Estadual e Federal, bem como junto aos organismos ligados à Cultura e ao Turismo em todas as esferas de governo nacional e também junto às entidades internacionais.
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O Conciclo
Um grupo formado pelos secretários municipais de turismo, empresários, profissionais diversos e representantes institucionais10 reúne‐se em 1999 para escolher o modelo jurídico de gestão e de fomento ao turismo no Vale do Café. Um Conselho Regional de Turismo do Vale do Ciclo do Café (CONCICLO) é então criado e definido com os seguintes objetivos principais: integrar esforços dos poderes públicos com os da sociedade civil e da iniciativa privada; criar condições que incentivem o desenvolvimento da atividade turística da região do Centro Sul Fluminense; manter intercâmbio com entidades de turismo; formular as diretrizes básicas para a política regional de turismo, propondo soluções e formas de captação de recursos para programas e projetos; manter cadastro amplo de informações turísticas e permanente serviço estatístico do mercado regional para divulgação e suporte técnico de projetos; opinar sobre o planejamento e a execução orçamentária dos municípios quanto a sua atuação, mediante a apresentação de uma política de incentivo ao turismo; promover a profissionalização do turismo por meio de cursos, debates palestras e informações.
A criação do CONCICLO, congregando inicialmente 10 prefeituras municipais (Piraí, Barra do Piraí, Valença, Vassouras, Barra do Piraí, Mendes, Paulo de Frontin, Paty do Alferes, Miguel Pereira, Paracambi e, depois incluindo, Volta Redonda, Barra Mansa e Pinheiral), constituiu‐se na primeira tomada de consciência, por parte dos governos municipais, de que era preciso tratar o turismo como uma atividade regionalizada e não restrita ao âmbito dos municípios individualmente. O fortalecimento político e a integração entre as Secretarias Municipais de Turismo e Cultura, o trade turístico (pousadas, hotéis, bares, restaurantes), e o terceiro setor (o PRESERVALE e o próprio CONCICLO, uma entidade associativa) permitiu que diversos temas ganhassem uma nova plataforma, favorecendo a criação de eventos regionais (o Café, a Cachaça e Chorinho, seguindo a estrada aberta pelo “Festival Vale do Café”, de música nas fazendas e praças da região), que passaram a constar do calendário turístico de toda a região, emprestando consistência e identidade aos Municípios do Vale.
10 Associações comerciais, SEBRAE, Associação de Hotéis da Região Sul Fluminense (AHSF), Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores de Turismo (ABRAJET), ABAV, PRESERVALE e Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH).
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IV ‐ UM RETRATO DA CADEIA TURÍSTICA DO VALE DO CAFÉ
IV ‐ 1. O pequeno empreendedor das fazendas históricas do Vale do Café.
Para além dos hoteleiros de zonas urbanas e dos proprietários de hotéis‐fazenda e pousadas nas zonas periurbanas do Vale11, o pequeno empresário rural – também fazendeiro e proprietário das edificações construídas principalmente no Período Imperial – foi e continua sendo o típico empreendedor do Vale do Café, o realizador de combinações novas, que criou e continua conduzindo por conta própria, em seu benefício e a seus riscos, um novo produto.
O empreendedor do Vale do Café descobriu, sem dificuldade, que seu patrimônio material era uma oportunidade de gerar valor e agarrou tal oportunidade sem levar em conta outro recurso (humano ou capital), como também sem planejar a sua própria posição jurídica, o que resultou na grande maioria dos casos na informalidade fiscal do negócio.
Alguém que definiu por si mesmo o que iria fazer e em que contexto seria feito, e investiu tudo ou muito que pôde, com recursos próprios consideráveis. Quando definiu o que fazer, pensou apenas em seus sonhos, desejos, preferências, o estilo de vida que queria ter. A mídia ajudou bastante a partir dos anos 90, comparando o Vale do Paraíba ao Vale do Loire dos castelos franceses. Conseguiu assim dedicar‐se intensamente, pois a empreitada se confundia com prazer, e com o prazer que podia proporcionar aos visitantes ao se depararem com sua bela propriedade e magníficos jardins, além da sua história. O seu produto.
Em vez de desmoronar, o seu produto voltou à vista e ele o manteve recuperando tradições e registros familiares que, na maior parte, nem eram de seus antepassados. Nesse caso, o tal empreendedorismo nos casos conhecidos do Vale do Café foi muito facilitado pela reforma e restauração arquitetônica das propriedades, e também pelo comportamento (e investimento) voluntarioso dos proprietários, com sucesso inevitável. Mas o crescimento contínuo e sustentado ainda é duvidoso nos tempos atuais.
O traço limitador do empreendedor desse tipo no Vale do Café é a impossibilidade estrutural de compor metas audaciosas, de pretender negócios de grande crescimento e muito menos de obter ganhos de produtividade, atributos que notabilizam o empreendedorismo. Ainda não se conquistou uma sinergia no âmbito dos outros diversos agentes econômicos e institucionais de uma cadeia turística regional, que possa suportar tal dinâmica, o que é o objetivo central de nosso projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”.
11 No Município de Vassouras, por exemplo, a hospedagem no espaço urbano e periurbano distribui‐se entre 12 hotéis, hotéis‐fazenda e pousadas construídos no século XX, e o Município dispõe de três guias turísticos não credenciados (cf. portal www.visitevassouras.com.br).
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Embora proprietários de fazendas imponentes, todos são pequenos empreendedores do negócio turístico cultural. Em geral complementam suas atividades profissionais principais com o negócio turístico, como meio adicional de geração de recursos para atender aos elevados custos de manutenção e preservação das propriedades. Vários fazendeiros construíram hospedarias, pousadas e hotéis fora da Casa‐Grande ou aproveitando edificações originais do período cafeeiro, inclusive senzalas e moinhos de café. De uma centena de Fazendas Históricas do Vale do Café preservadas ou em fase de recuperação, cerca de 20 delas oferecem serviços turísticos que incluem hospedagem e/ou visitação, almoço típico, café imperial, lanche, sarau e outros eventos regionais.
Em Barra do Piraí, a Fazenda Taquara é situada em meio a uma plantação de café, ainda hoje principal produto comercial da propriedade, que também desenvolve a suinocultura. A Fazenda Taquara agenda visitação e almoço para grupos na antiga senzala da fazenda.
A Fazenda São João da Prosperidade, com sede que apresenta planta original preservada, oferece serviços de gastronomia e produtos regionais.
No Município de Valença, a Fazenda Santo Antônio do Paiol abre para visitação em sua sede original que abriga um acervo memorial único na região.
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A Fazenda Vista Alegre, também em Valença, abre também para visitação e gastronomia, e tem sua própria fábrica de conservas, molhos e geléias com ingredientes cultivados na própria fazenda com os métodos orgânicos. A Fazenda Pau D’Alho é aberta à visitação, em que se pode conhecer um pouco da história da imigração italiana no Brasil e oferece degustação de produtos regionais.
Em Vassouras, a Fazenda Cachoeira Grande, na estrada para Mendes, recebe grupos programados, para os quais abre seus salões com mobiliário de época e apresenta uma coleção de carros antigos. A Fazenda do Secretário, com seus afrescos restaurados, móveis originais da propriedade e jardins magníficos, também recebe visitantes.
Destacam‐se também com visitação programada a Fazenda Cachoeira do Mato Dentro, a Fazenda Mulungú Vermelho, a suntuosa Fazenda São Fernando e a Fazenda Santa Eufrásia.
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Em Barra do Piraí, a Fazenda Ponte Alta, com seu antigo moinho de café restaurado, oferece hospedagem em sua pousada, e apresenta o seu já tradicional sarau interativo, em que a Baronesa de Mambucaba relata, na companhia do Barão e de suas mucamas, episódios marcantes da memória do ciclo do café no império. O Hotel Fazenda do Arvoredo, com seu mobiliário de época conservado, sua gastronomia de tradição regional e seu chá imperial é mais uma integrante do rol de fazendas que oferecem um produto cultural‐pedagógico.
Em Rio das Flores, a Fazenda Paraíso, fundada pelo Visconde do Rio Preto, que conserva magníficos afrescos de Villaronga, abre para visitação pública. A Fazenda União, em processo de ampliação de suas instalações, oferece hospedagem requintada, visitação e culinária regional com base em receitas centenárias.
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A Fazenda Santo Antônio também oferece hospedagem e gastronomia, com passeios à catedral de pedra de São José de Três Ilhas, construída pelos escravos e às cachoeiras no seu entorno.
Em Miguel Pereira, encontra‐se a Fazenda Santa Cecília, construída em 1770, muito antes do Ciclo da Café, e reformada por volta de 1840 pelo Barão de Paty de Alferes nos padrões neoclássicos da época. Possui em seus jardins uma capela projetada por Oscar Niemeyer com um painel dedicado à Santa Cecília desenhado por ele em seu interior, e oferece hospedagem e gastronomia regional.
São seis Fazendas Históricas que oferecem hospedagem, segundo o Instituto PRESERVALE12: Hotel Fazenda Arvoredo, Pousada Fazenda Ponte Alta, Hotel Fazenda Florença, Fazenda União, Fazenda Santo Antonio e Fazenda Santa Cecília. Há diversas outras Fazendas Históricas sendo reformadas e adaptadas para hospitalidade na região, com abertura prevista para o próximo ano (2011).
Vários outros hotéis‐fazenda e pousadas no meio rural, de construção já do século XX. São atrativos turísticos muito bem organizados e trabalham valorizando o patrimônio cultural da época do café, tais como o Hotel Fazenda Galo Vermelho, em Vassouras, Hotel Ribeirão, em Barra do Piraí, ou o Hotel Fazenda Rochedo, em Conservatória, dentre outros.
O Projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café” realizou pesquisas de campo e estatísticas visando mapear as potencialidades de negócios e serviços que se utilizam do Patrimônio Histórico Rural da região como ferramentas de desenvolvimento de Economias Criativas. Este levantamento, feito por equipe altamente qualificada e experiente, identifica claramente o crescimento de iniciativas individuais, comunitárias e públicas, no sentido de dinamizar o segmento de Turismo Cultural e Rural na região.
12 http://www.preservale.com.br e Instituto PRESERVALE. 2007. Fazendas do Brasil. Catálogo Geral da Oferta ‐ 2007. Turismo no Espaço Rural Brasileiro. Rio de Janeiro.
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V ‐ PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA
A pesquisa pode ser considerada como sendo de caráter “piloto” e buscou obter dados consistentes e resultados de boa qualidade sobre a nova economia do Turismo Cultural na região do Vale do Café, de forma a subsidiar o conhecimento sobre as fazendas históricas no que tange ao desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo cultural na região, bem como as dificuldades encontradas para gerenciar o empreendimento; o perfil dos proprietários das fazendas históricas; o perfil socioeconômico dos visitantes das fazendas; informações sobre a mão‐de‐obra empregada nas Fazendas Históricas consideradas no estudo; a existência de acervo de arte; a demanda por capacitação da mão‐de‐obra ocupada no desenvolvimento das atividades das fazendas; a percepção dos proprietários sobre a qualidade dos serviços de telefonia e telecomunicações na região e sobre a infraestrutura local, dentre outras características das propriedades.
V‐ 1. Tabulação e Análise dos Resultados
Para tanto, foi elaborado um questionário estruturado em cinco blocos/partes. Os resultados apresentados neste relatório referem‐se às informações obtidas em 15 Fazendas Históricas do Vale do Café, que responderam ao primeiro suplemento do questionário aplicado às fazendas. Vale mencionar que, das fazendas respondentes, 80% representam os principais atrativos do Turismo Cultural do Vale do Café, e 20% são proprietários que estão iniciando no mercado, abrindo pela primeira vez suas fazendas.
O primeiro suplemento do questionário elaborado para a Pesquisa é composto de cinco Partes ou Blocos (www.preservale.com.br). Na Parte I do questionário, foram investigadas características da fazenda que permitem sua identificação, tais como: a razão social, o nome fantasia; CNPJ; endereço; nome do proprietário; localização GPS e a existência ou não de inscrição de produtor rural.
A segunda parte do questionário, Parte II, contemplou um elenco de variáveis que possibilitam obter informações das principais características da propriedade, tais como: o uso da fazenda; o número de meses de funcionamento no ano; a localização da fazenda; o desenvolvimento ou não de atividades de Turismo Cultural; a existência de sinalização; o estado de preservação da propriedade; os equipamentos e serviços existentes/ofertados; se a fazenda tem produção própria de alimentos e o local onde a fazenda comercializa os produtos, dentre outras características da propriedade.
Foi também investigado na pesquisa, se a Fazenda Histórica abriga algum tipo de acervo, se os mesmos estão segurados e também se a fazenda abriga e/ou expõe mobiliário de época; decoração mural e acervo documental. A pesquisa investiga também a existência na fazenda de serviços ou de mão‐de‐obra qualificada para conservação de seus acervos. Ainda neste contexto, foi pesquisada a oferta de eventos culturais e/ou serviços oferecidos e também a forma de divulgação e promoção da fazenda.
Na Parte III do questionário, foi investigado um elenco de quesitos que permitem conhecer o perfil do visitante e as circunstâncias da visita do mesmo à fazenda.
A Parte IV do questionário, fornece informações que possibilitam conhecer o perfil do proprietário/gerente da fazenda e dentre o elenco de características de interesse destacam‐se as de cunho socioeconômico, tais como: sexo, idade, tempo de residência na fazenda, há quanto tempo é proprietário, situação ocupacional atual e anterior, dentre outras.
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São também investigadas as principais razões que motivam os proprietários para o desenvolvimento e investimento no empreendimento; a procura por assessoria técnica a órgãos públicos e/ou de empresas privadas para a condução do negócio; as principais dificuldades para o funcionamento do negócio; a capacitação para a gestão do negócio e também as expectativas quanto ao futuro do negócio/empreendimento.
Por fim, na Parte V, buscou‐se conhecer a demanda de capacitação da mão‐de‐obra ocupada na fazenda; a existência de cursos/escolas de capacitação profissional nas cercanias da propriedade, bem como a intenção em qualificar/capacitar seu quadro de empregados e possibilidade de arcar com despesas para a capacitação da mão‐de‐obra alocada no seu empreendimento.
O processo de entrada, tratamento e tabulação dos dados de pesquisa foi desenvolvido no software CSPro – Census and Survey Processing System, na versão 4.0. O CSPro foi criado pelo U.S Census Bureau. É gratuito e o download pode ser feito no site www.census.gov. O primeiro objeto criado no CSPro foi o dicionário de dados onde se especificou todos os itens da pesquisa e os valores válidos para o registro das respostas.
A aplicação de entrada de dados (digitação dos questionários) foi criada a partir do dicionário de dados, contendo uma crítica estatística básica, utilizando as informações sobre os valores válidos, visando impedir a gravação de respostas não previstas para cada item, os saltos relativos aos diferentes itens do questionário, para não gerar inconsistências entre itens que condicionam a rota de entrevista no questionário e, bem como, contendo a crítica de consistência dos itens que permitiam marcar mais de uma resposta, evitando que se registrasse a mesma alternativa mais de uma vez. Concluída a crítica de consistência, foi criado o plano tabular utilizado para gerar resultados da pesquisa.
O banco de dados tem formato texto (ASCII) e pode ser lido em outros softwares. Especialmente, o CSPro que permite exportar os dados para utilização no software SAS ‐ Statistical Analysis System, no SPPS e em planilhas de cálculo (Excel) ou softwares de banco de dados (formato CSV).
Neste relatório são apresentados os principais resultados obtidos na pesquisa especial sobre as 15 fazendas que responderam ao questionário. As informações obtidas na pesquisa, de caráter experimental, constituem subsídios para o conhecimento das principais características do elenco de fazendas históricas investigadas, bem como o planejamento de futuras pesquisas a serem aplicadas em um universo mais abrangente de fazendas históricas do Vale do Café.
Perfil do Proprietário/Gestor das Fazendas Históricas
Dentre as quinze Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa, os resultados obtidos indicam que 60% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa são pessoas do sexo feminino. A maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, 80%, tem nível de escolaridade correspondente à formação superior completa, sendo que apenas 20% declararam ter concluído o ensino médio. Uma análise considerando a idade dos proprietários indica que mais da metade, 53,3% dos proprietários, têm 60 anos ou mais de idade enquanto que 40% declararam idade compreendida entre mais de 39 a 59 anos e apenas um proprietário declarou idade entre 24 a 39 anos.
A maioria (46,7%) dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa é dona das fazendas históricas há mais de dez anos, enquanto que 33,3% declararam tempo de posse entre cinco a dez anos e apenas um declarou ser proprietário há menos de cinco anos. Isto demonstra que houve um direcionamento da atividade tradicional da propriedade rural para incluir o Turismo Cultural nos últimos 10/15 anos.
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Os resultados da pesquisa indicam que apenas 20% dos proprietários das Fazendas Históricas não residem na fazenda. Dentre aqueles proprietários que residem nas fazendas pesquisadas, 47% residem há mais de dez anos enquanto 33% declararam tempo de residência na fazenda compreendido entre cinco a dez anos. A grande maioria, 93,3% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, declara‐se responsável pela gerência das Fazendas Históricas consideradas no estudo e informam que não tinham experiência anterior como empreendedores na área de Turismo Cultural.
Este quesito evidencia que a iniciativa dos proprietários é característica do seu perfil empreendedor, pois, quanto à situação ocupacional anterior dos proprietários/gestores das fazendas consideradas na pesquisa, os resultados indicam que, aproximadamente um quarto dos proprietários, 26,7%, era de empregadores em outro negócio, enquanto outros 26,7% eram funcionários de empresas públicas ou privadas e apenas 13,3% eram produtores rurais (dois proprietários). Observa‐se que 46,7% dos proprietários declaram não ter outro trabalho ou não exercer atualmente outra ocupação/atividade além da gerência da Fazenda Histórica. Uma análise por gênero indica que é no segmento feminino onde se observa o maior percentual de proprietárias de fazendas, 55,6%, que declararam ser a fazenda a sua única ocupação/trabalho. Por outro lado, 20% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa declararam que são empregadores e 13,3% são empregados do setor público ou do setor privado. Mais uma vez evidencia‐se a forte tendência dos proprietários a considerarem a atividade do receptivo nas fazendas como um verdadeiro “negócio”, e não apenas uma ocupação eventual.
Quando indagados sobre as razões que os motivam para o desenvolvimento e investimento no empreendimento, destacam‐se as seguintes principais razões, declaradas pelos proprietários das fazendas históricas consideradas no estudo, em ordem crescente: interesse e gosto pela arte, pela cultura e pelo Turismo Cultural; possibilidade de o negócio gerar receita complementar; oportunidade de negócio; meio de sustento e hobby.
Qualificação dos Proprietários quanto ao Negócio
As informações apresentadas indicam que 67% dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas declararam já ter freqüentado ou realizado algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio, enquanto 33% ainda não realizaram cursos de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio.
Uma análise por gênero indica que dentre os proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, de sexo masculino, todos declararam já ter freqüentado ou realizado algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio. No segmento de proprietários do sexo feminino, que é maioria dentre os proprietários entrevistados, apenas 55,6% das proprietárias de Fazendas Históricas já freqüentaram ou realizaram algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio.
É expressiva a proporção de proprietários das Fazendas Históricas que declararam já ter procurado assessoria técnica de órgãos públicos e/ou de empresas privadas para o desenvolvimento do negócio: 80%, sendo que os órgãos mais citados são, respectivamente, o Instituto PRESERVALE e o SEBRAE.
Dentre os órgãos públicos, destaca‐se o SEBRAE como o órgão onde os proprietários já buscaram alguma assessoria técnica, seguido da procura por assessoria técnica para o desenvolvimento e a condução do negócio através de pessoas que conheciam o ramo.
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Se de um lado uma proporção expressiva de proprietários declarou já ter procurado ou tido alguma assessoria técnica, apenas 33,3% (cinco dentre os quinze proprietários de Fazendas Históricas que participaram da pesquisa) dos proprietários estabeleceram alguma relação com órgãos públicos de preservação de monumentos históricos ou de fomento turístico e/ou cultural e apenas um declarou já ter estabelecido relação com órgão público de fomento. Os resultados da pesquisa indicam que apenas cinco proprietários de fazendas históricas já estabeleceram alguma relação com órgãos públicos de preservação ou órgãos público de fomento.
Expectativas de Futuro
De acordo com os resultados da pesquisa, a maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo está otimista quanto à expectativa de futuro do negócio. Observa‐se que treze dentre os quinze proprietários entrevistados na pesquisa declararam que pretendem investir ou diversificar o negócio. Indagados sobre a existência atual de algum projeto de investimento para o seu empreendimento, a maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, 86,7%, declarou que pretende investir na melhoria/restauração da fazenda bem como investir na recuperação do prédio ou ainda ampliar as acomodações para receber hóspedes. Dentre aqueles proprietários que pretendem investir e diversificar o negócio ou simplesmente manter o negócio como está, 53,3% (oito proprietários), declararam que pretendem oferecer espetáculos, shows e eventos culturais. Já, três outros, declararam que pretendem ampliar as acomodações na fazenda para receber hóspedes e quatro outros proprietários pretendem oferecer refeições aos visitantes e melhorar a qualidade da culinária enquanto seis proprietários declararam intenção de melhorar a qualidade do atendimento e dos serviços prestados aos visitantes da fazenda.
Quanto à expectativa de aumento do número de visitantes/vendas, seis proprietários têm expectativa de aumento correspondente a mais de 30 a 70% de aumento, enquanto três outros avaliam que terão mais de 70% de aumento no número de visitantes e apenas dois avaliam que o aumento não será superior a 30%.
Os eventos musicais e culturais são aqueles com maiores expectativas de aumento do número de visitantes, seguidos dos eventos gastronômicos. Dentre aqueles que declararam que pretendem investir no negócio, os recursos privados; projetos culturais e a obtenção de empréstimos/financiamentos são as formas mais citadas de como pretendem investir no negócio. Uma análise, por gênero, indica que no segmento de proprietários das Fazendas Históricas, do sexo masculino, destacam‐se os recursos privados e a obtenção de empréstimos/financiamentos. Já no segmento feminino, destacam‐se os projetos culturais incentivados e os recursos privados como principais formas de investir no negócio.
Quanto ao nível de associação a alguma entidade ou organização empresarial e/ou cultural, os resultados da pesquisa indicam que apenas 40% dos proprietários ou propriedades estão associados a alguma entidade ou organização empresarial/cultural, sendo que é no segmento de proprietários do sexo feminino onde ocorre o maior índice de associação a alguma entidade ou organização empresarial/cultural.
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Dificuldades
Quando indagados sobre as principais dificuldades encontradas para o funcionamento do negócio, os proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa indicaram, em ordem de dificuldade: o alto custo de manutenção da propriedade como sendo a principal dificuldade mais citada, seguido da falta de mão‐de‐obra; da falta de capital de giro para tocar o negócio, seguido do custo elevado de treinamento/capacitação da mão‐de‐obra; da baixa lucratividade e da falta de assessoria governamental.
Demandas ‐ Terceiro Setor
Segundo a opinião dos proprietários das fazendas consideradas no estudo, os órgãos da sociedade civil organizada poderiam contribuir para o crescimento socioeconômico e cultural do seu empreendimento, através das seguintes ações: abertura de suas propriedades e oferecendo emprego para a comunidade; criação de Associações de Turismo; fortalecimento do Núcleo de Meio Ambiente do Instituto PRESERVALE; criação de uma Associação de Produtores de Leite; promoção e divulgação das Fazendas do Vale do Café; investimento em capacitação e treinamento específicos; realização de eventos culturais municipais visando à divulgação do Turismo Regional; implementação de projetos culturais e de preservação do patrimônio; incentivando o turismo; investimento em projetos culturais; investimento no turismo cultural; melhoria do serviço de telefonia e de acesso à Internet; melhoria da divulgação; investimento na manutenção das propriedades o que atrairia o Turismo Regional; maior participação associativa na defesa dos interesses comuns dos proprietários/empreendedores; pressionando o setor público no sentido de cumprir seu papel; desenvolvimento e investimento no Turismo.
É interessante observar que algumas das demandas sobre o Terceiro Setor se confundem com demandas por ações que deveriam ser respostas dos governos no cumprimento da sua parte no negócio (infraestrutura, telefonia, capacitação de mão‐de‐obra, sinalização viária e divulgação da região);
Os incentivos ao Turismo Cultural e ao Turismo aparecem como as sugestões mais citadas pelos proprietários das Fazendas Históricas, como ações que poderiam ser desenvolvidas pela sociedade civil organizada no sentido de contribuir para o crescimento socioeconômico e cultural do Vale do Café.
Outra ação citada pelos empreendedores é a realização de pressão política pelos órgãos da sociedade civil organizada junto aos governos de forma que os governos invistam na região em infraestrutura, sobretudo na sinalização das estradas e nas telecomunicações.
A abertura de suas propriedades ao público e o resgate da memória histórica das cidades do Vale do Café foram também sugeridas pelos proprietários das fazendas que responderam ao questionário da pesquisa.
Setor Público
No que concerne a contribuição para o crescimento socioeconômico e cultural do Vale do Café, os proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa opinam que os órgãos do setor público deveriam desenvolver esforços para recuperar as estradas da região; atuar de forma mais integrada e regional no sentido de buscar formas de investimentos e políticas públicas para a região; ter participação mais efetiva dos órgãos públicos nos eventos culturais do Vale do Café, incluindo o “Festival do Vale do Café”; propiciar subsídios necessários para a manutenção das Fazendas Históricas; implementar e melhorar a infraestrutura local; criar projetos voltados para o Turismo Incentivado.
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A criação de Secretarias de Turismo; a qualificação/treinamento dos empregados através de Curso de Turismo e Curso Superior em Turismo na região são, dentre outros, exemplos de ações sugeridas, bem como o apoio e a valorização de iniciativas como aquelas do Instituto PRESERVALE.
O desenvolvimento de trabalho de conscientização histórica nas escolas da região através de planos e projetos educacionais específicos, também é outra ação sugerida pelos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas.
Da mesma forma, parcela significativa de proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, avalia que os órgãos do setor público deveriam atuar na melhoria da infraestrutura e dos transportes locais, no saneamento e na conservação das estradas de acesso às propriedades, bem como deveriam investir em projetos culturais e definir ações que possibilitem a promoção e divulgação do Turismo Cultural do Vale do Café, além de incentivar o turismo local.
Características Físicas e Produtivas das Propriedades
Os resultados da pesquisa especial sobre as Fazendas Históricas indicam que 66,7% das Fazendas Históricas têm inscrição de produtor rural. Este dado sinaliza para a existência de uma economia rural ativa. A área construída da sede para 60% das fazendas históricas consideradas no estudo supera os 100 metros quadrados, e apenas uma das fazendas informou a área construída de edificações para hospedagem, com mais de 100 metros quadrados.
Dentre as Fazendas Históricas consideradas no estudo, 33,3% têm área total de mais de 100 hectares, enquanto 26,7% têm área total de até 50 hectares e 13,4% têm área compreendida entre mais de 50 a 100 hectares. Com relação à área plantada, 26,7% das fazendas declararam ter até 50 hectares de área plantada e 13,3% mais de 100 hectares.
Quanto à área destinada à criação de gado e outros animais observa‐se que quatro fazendas declararam área de até 50 hectares, outras três declararam área destinada à criação de gados e outros animais correspondente a mais de 50 a 100 hectares, e apenas uma delas informou área de mais de 100 hectares destinada à criação de gado e outros animais.
Estes resultados demonstram a vitalidade de uma economia agropecuária, mesmo diante do cenário atual de incremento ao uso turístico das propriedades rurais.
O estado geral de conservação das Fazendas Históricas é avaliado como sendo apenas regular segundo 20% dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas, enquanto que 47% dos proprietários consideram bom o estado de conservação das fazendas e 33% avaliaram como muito bom o estado geral de conservação de suas propriedades.
Dentre as Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa, observa‐se que quatro dispõem de Tulha; sete dispõem de Terreiro de Café; duas de Engenho de Beneficiamento de Café; duas declararam dispor de Senzala; dez dispõem de Capelas; sete dispõem de Currais e três têm plantação de café na propriedade.
Quanto aos equipamentos e serviços existentes ou ofertados, os resultados da pesquisa indicam que quatro fazendas declararam ter piscina e sauna; três delas dispõem de sala de convenções e quatro dispõem de restaurante.
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Cachoeiras estão presentes em seis das fazendas que responderam ao questionário da pesquisa enquanto sete fazendas declararam que dispõem, na propriedade, de trilhas para caminhadas. Dentre as fazendas consideradas no estudo, quatro delas já oferecem visitas orientadas a outras fazendas da região, o que indica a propensão destas fazendas para o desenvolvimento do turismo ecológico e cultural.
As fazendas, na grande maioria, 80%, são abastecidas por água proveniente de nascente e apenas 13,3% delas são abastecidas com água proveniente de rede geral de distribuição. Quanto ao esgotamento sanitário da propriedade, 53,3% utilizam fossa rudimentar; 26,7% fossa séptica ligada à rede coletora de esgoto ou pluvial, enquanto apenas uma utiliza rede coletora de esgoto ou pluvial e outra tem o esgotamento sanitário lançado em rio ou lago.
Quanto ao destino do lixo, os resultados da pesquisa indicam que 33,3% das fazendas coletam o lixo diretamente sem coleta seletiva, enquanto 20% utilizam coleta seletiva; 13,3% enterram o lixo na propriedade; 6,7% queimam o lixo na propriedade e 20% dão outro destino ao lixo.
Observa‐se na pesquisa que todas as Fazendas Históricas consideradas no estudo têm a energia elétrica como fonte de energia utilizada na fazenda.
Os resultados da pesquisa indicam ainda que 47% das Fazendas Históricas consideradas no estudo praticam agricultura orgânica e a maioria das Fazendas Históricas pesquisadas ainda não utiliza métodos sustentáveis, mas gostaria de conhecer as práticas. Dentre aquelas que já utilizam tais métodos, duas utilizam coleta seletiva de lixo, duas outras utilizam compostagem e outra Fazenda Histórica faz reciclagem de lixo.
Pequena Agro‐Indústria Regional
Os produtos alimentícios utilizados ou consumidos na propriedade são adquiridos no supermercado local, na comunidade local ou em atacadistas de outros municípios, segundo informam os proprietários das Fazendas Históricas estudadas. Por outro lado, observa‐se que 60% das Fazendas Históricas têm produção própria de alimentos e comercializam os produtos em loja da fazenda e no comércio local ou regional.
Doces, queijos, conservas, embutidos e café são os principais alimentos processados pelas fazendas e apenas 46,7% das fazendas comercializa produtos regionais em sua propriedade. Existe aí uma demanda reprimida do ponto de vista da oferta, distribuição e comercialização de produtos da agroindústria regional.
Nos segmentos das Fazendas Históricas que declararam comercializar os seus produtos, seis dispõem de loja na propriedade e comercializam também seus produtos no comércio local/regional e uma delas declara que já comercializa em grandes centros urbanos os seus produtos.
Os produtos regionais são provenientes do artesanato local/regional, da pequena indústria caseira local/regional e da agroindústria local/regional. Contraditoriamente, no entanto, indagados se haveria interesse na criação de um centro de comercialização dos produtos regionais, tipo CEASA, 66,7% dos fazendeiros, ou seja, dois terços das Fazendas Históricas pesquisadas declararam não ter interesse e apenas 33,3% manifestaram interesse na criação de um centro de comercialização dos produtos nos moldes do CEASA. A pouca percepção dos entrevistados quanto à sinergia entre produção associada (artesanato, produtos alimentícios e de origem regional) e resultado econômico do turismo demonstra que há necessidade de orientação e dinamização deste segmento comercial da economia criativa local.
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Pesquisa de Avaliação
A maioria, 60%, dos fazendeiros que responderam ao questionário da pesquisa, ainda não realiza pesquisa de avaliação ou satisfação junto aos seus visitantes/clientes, embora seis das Fazendas Históricas pesquisadas já o façam. Este dado indica que ainda há um caminho a percorrer rumo à profissionalização da atividade.
Características dos Empreendimentos
O uso das fazendas, de acordo com as respostas dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, é bastante diversificado. Dentre as respostas obtidas, destacam‐se os seguintes usos: desenvolvimento de atividade de Turismo Cultural (quatorze dentre as quinze Fazendas Históricas pesquisadas); uso residencial (dez ocorrências); pecuária de corte (cinco ocorrências), pecuária leiteira (seis ocorrências) e produção agrícola (cinco ocorrências).
Quanto ao desenvolvimento de atividades de Turismo Cultural, observa‐se que as fazendas consideradas no estudo desenvolvem as seguintes principais atividades: Visitação orientada e eventos culturais (nove fazendas); Fazenda Histórica com eventos culturais (sete fazendas); visitação orientada e refeições (sete fazendas); hospedagem e eventos culturais (três fazendas) e somente visitação orientada (quatro fazendas).
A maioria das fazendas consideradas na pesquisa, 86,7%, funciona durante mais de oito meses ao ano e a intensidade de demanda ao longo do primeiro trimestre é de até 25%, para oito das fazendas consideradas na pesquisa. Já no segundo trimestre, a intensidade de demanda é de mais de 25 a 50% para 53,3%, para oito delas e de até 25% para 13,3% delas, ou seja, para duas das Fazendas Históricas pesquisadas.
No terceiro trimestre, 53,3% das fazendas, oito delas, informam que a intensidade de demanda é de mais de 25 a 50% enquanto que no quarto trimestre a intensidade de demanda é de até 25% para 53,3% das fazendas consideradas na pesquisa e de mais de 25 a 50% para outra fazenda.
A maioria das fazendas consideradas no estudo, 66,7%, está situada na zona rural enquanto 26,7% estão na zona urbana, porém fora do centro da cidade. Quanto às condições de acesso às fazendas, os resultados da pesquisa indicam que apenas 33,3% das Fazendas Históricas consideradas no estudo são acessadas através de estrada asfaltada permanentemente em boas condições, enquanto 40% são acessadas por estrada de terra/saibro em boas condições. Entretanto, os resultados da pesquisa indicam que 20% das Fazendas Históricas pesquisadas ainda são acessadas por estrada de terra em condições precárias.
Dentre as fazendas que já oferecem eventos culturais e/ou serviços, oito delas oferecem concertos e shows musicais; cinco oferecem brunch ou chá imperial; duas oferecem hospedagem e atividade culturais a estudantes (Turismo Pedagógico) e três oferecem shows folclóricos regionais, enquanto duas Fazendas Históricas oferecem Sarau Histórico.
Divulgação
A página na Internet, o folheto distribuído em estabelecimentos da região, a agência de turismo/viagens, são as principais formas de promoção/divulgação dos eventos realizados pelas fazendas mais citadas pelos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo. Este quesito explicita a ausência de um Plano Integrado de Comunicação para a região.
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A divulgação da Fazenda Histórica, o acesso à mesma e os serviços de telefonia e telecomunicações são as reclamações e/ou sugestões de melhorias mais observadas junto aos hóspedes das Fazendas Históricas consideradas no estudo.
Acessos e Carências
Quanto aos meios de transportes utilizados pelos visitantes das Fazendas Históricas pesquisadas acessarem as fazendas, os resultados da pesquisa indicam ser o carro próprio e os ônibus/vans de turismo, os dois principais meios de transportes utilizados pelos visitantes/hóspedes para acessarem as Fazendas Históricas. Embora as condições das estradas já sejam por si só um problema sério para a maioria das fazendas históricas pesquisadas, os resultados que a sinalização das mesmas, indicando o acesso até elas, é ainda mais precária segundo a opinião de 67% dos proprietários.
Os resultados da pesquisa indicam que 13% das Fazendas Históricas ainda não dispõem de algum tipo de sinalização indicando o seu acesso. Quanto ao acesso ‐ meio de transporte ‐ às Fazendas Históricas pesquisadas, os resultados indicam que apenas 73,3% das Fazendas Históricas que responderam ao questionário são servidas e/ou acessadas por meio de transporte público. Este também é um tema recorrente em todos os relatórios de consultoria, feita ao longo de três meses por cada equipe.
A qualidade dos serviços de telefonia e telecomunicações, segundo os proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, é ainda bastante precária, conforme indicam os resultados apresentados a seguir.
Observa‐se que apenas 40% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo estão satisfeitos com a qualidade dos serviços de telefonia e telecomunicações, indicando dificuldades para o desenvolvimento do negócio, sobretudo se considerado as atividades de Turismo Cultural.
O nível de associativismo a organizações empresariais ou culturais das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa é ainda bastante residual. Apenas seis dos quinze proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa, o que representa 40%, declararam que estão associadas a alguma entidade ou organização empresarial/cultural. Este dado aponta para uma compreensão limitada da noção de associativismo, uma vez que todos os respondentes pertencem ao Instituto PRESERVALE.
Acervos, Pesquisa Histórica e Proteção Legal
Quanto ao acervo de arte, os resultados da pesquisa indicam que mais da metade, 60%, das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, dispõe de algum tipo de acervo de arte, sendo que todas têm os acervos abertos para visitação pública.
Embora mais da metade das Fazendas Históricas pesquisadas disponham de algum tipo de acervo de arte, os resultados da pesquisa, entretanto, indicam que 67% das Fazendas Históricas ainda não têm segurado a casa principal (sede) da Fazenda Histórica e nem dos acervos ali existentes. Apenas 20% dos proprietários declararam estar com a casa e o acervo segurados enquanto 13% dos proprietários têm apenas a casa segurada.
Por outro lado, 73,3% dos proprietários, onze dentre as quinze fazendas que responderam ao questionário, não têm ainda a propriedade protegida legalmente por órgãos de preservação, sendo que apenas duas já têm tombamento definitivo e uma delas tem tombamento provisório, conforme indicam os resultados da Tabela 1.
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Tabela 1 ‐ Distribuição das Fazendas Históricas pesquisadas, por proteção legal, segundo órgãos de preservação.
Frequência A Propriedade é protegida legalmente por órgãos de preservação? Total Percentagem Total 15 100,0 Sim, tombamento provisório. 2 13,3 Sim, tombamento definitivo. 2 13,3 Não é protegida legalmente. 11 73,3
No que tange a pesquisa histórica, os resultados da pesquisa indicam que 66,7%, dez dentre as quinze fazendas consideradas no estudo, dispõem de pesquisa histórica sobre a propriedade. Os resultados indicam que duas outras Fazendas Históricas ainda não dispõem de pesquisa histórica e três outras fazendas, embora não disponham, os proprietários declararam ter interesse em realizar pesquisa histórica das propriedades.
Quanto ao inventário, 53,3% (oito das fazendas estudadas) já foram inventariadas para fins culturais, porém, apenas o imóvel, conforme informam os seus proprietários. Duas outras Fazendas Históricas têm inventário apenas do acervo. O inventário, apenas do imóvel, é observado para duas outras fazendas enquanto que três outras fazendas não foram inventariadas, mas os proprietários declararam interesse em inventariá‐las.
Dentre as fazendas que responderam ao questionário da pesquisa, observa‐se que 93,3% das Fazendas Históricas pesquisadas abrigam e expõem mobiliário de época e 20% abrigam e expõem decoração mural; enquanto 46,7% delas abrigam e expõem algum acervo documental.
Mão‐de‐Obra para Restauro e Conservação
Por outro lado, apenas 26,7% das Fazendas Históricas pesquisadas dispõem de serviços ou mão‐de‐obra qualificada para conservar os seus acervos, mas a maioria dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas, 53,3%, declarou interesse em contratar serviços ou mão‐de‐obra qualificada para inventariar ou estudar ou restaurar ou conservar os seus bens móveis e imóveis.
Cinema/Televisão
Os resultados da pesquisa indicam que 60% (nove fazendas) já foram utilizadas como locação para cinema e televisão e dentre estas, cinco proprietários avaliaram a experiência como sendo positiva. Indagados sobre o interesse, a maioria dos proprietários (80%) declarou que teriam sim, interesse em alugar suas propriedades para o cinema e televisão.
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Capacitação da Mão‐de‐Obra Regional
Quando indagados sobre o tipo de capacitação que avaliam ser necessária para o pessoal ocupado no empreendimento, os proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas destacaram as seguintes necessidades, em ordem decrescente de citação: Curso de Introdução à História Regional e Introdução ao Turismo Cultural; Interpretação do Patrimônio; Cursos de Culinária Regional; Cursos para Recepcionistas; Restauração de obras de arte e Curso de Jardineiro/paisagista; Curso de atores para espetáculos teatrais; Preparação de garçons, barmans e arrumadeira; Cursos de gerente; Curso de informática e de Idiomas, dentre outros.
A maioria dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas informa não existir cursos/escolas de capacitação profissional próximos à sua propriedade e 73,3% deles gostariam que houvesse.
Quanto às despesas para capacitação da mão‐de‐obra empregada na propriedade, sete dentre treze proprietários das fazendas consideradas na pesquisa estariam interessados na capacitação/aperfeiçoamento do seu quadro de mão‐de‐obra e declararam que arcariam com as despesas para capacitação e disponibilizariam horas de trabalho remunerado para a capacitação do funcionário (oito dentre quatorze fazendas).
Metade dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas declarou que disponibilizariam transporte para o funcionário participar de programas para a sua capacitação, o que indica a intenção dos proprietários em continuar investindo na capacitação de sua mão‐de‐obra visando à manutenção e/ou ampliação do negócio voltado para o turismo cultural.
Perfil dos visitantes e circunstâncias da visita às Fazendas Históricas
Este item da pesquisa revelou uma distorção na percepção dos fazendeiros com relação ao público visitante, pois não houve respostas indicando a presença de turistas estrangeiros, ao mesmo tempo em que, em depoimentos e entrevistas com os mesmos proprietários, estes afirmaram a crescente procura de grupos franceses, italianos, alemães e ingleses por suas propriedades. Mencionaram também a falta de guias qualificados em idiomas estrangeiros como uma lacuna a ser suprida com urgência.
De acordo com a percepção dos proprietários das fazendas que recebem visitantes/hóspedes, o público de visitantes é, predominantemente, do sexo feminino, 73,3%, com idade superior a 50 anos, 53%. Os visitantes são, na grande maioria, procedentes do Município do Rio de Janeiro, 80%, e de outros municípios do Estado do Rio de Janeiro e a maioria tem nível de escolaridade correspondente ao Nível Médio, 46,7%, enquanto 33,3% detêm o Ensino Superior, conforme informaram os proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas. Quanto à situação de ocupação predominante da maioria dos visitantes das fazendas, observa‐se que prevalecem, segundo a percepção dos respondentes, os empregados do setor privado ou do setor público, ligeiramente seguido pelos aposentados e estudantes.
Os visitantes/hóspedes das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa visitam as fazendas, acompanhados com o cônjuge/companheiro (a) e com os familiares e também em grupos organizados/excursões, indicando que a visita às Fazendas Históricas parece ser uma prática de sociabilidade e um programa em família, conforme indicam os resultados da pesquisa.
Conhecer a história do Ciclo do Café é o motivo mais declarado da visita às Fazendas Históricas pesquisadas, para a maioria dos visitantes/hóspedes, segundo 80% dos proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário.
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Segundo a maioria dos proprietários, 80%, os visitantes visitam também outros atrativos do município onde está localizada a Fazenda Histórica e quase dois terços dos proprietários (66,7%) das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa avalia que os moradores da cidade/município onde se insere a propriedade conhecem a fazenda enquanto 26,7% consideram que os moradores ainda não a conhecem.
Como síntese da pesquisa, destacaríamos o seguinte:
Os proprietários dos atrativos históricos do Vale do Café (Fazendas Históricas) têm na sua propriedade um bom negócio nas mãos. Estão investindo há anos, melhorando seus empreendimentos na medida do possível, dispostos a investir em benfeitorias e novos atrativos, bem como preocupados com o nível de serviço oferecido, a dificuldade de treinar mão‐de‐obra, as carências da infraestrutura e da comunicação.
São produtores rurais lutando por manter viva a economia agropecuária do Estado de um modo inovador, empreendedor e criativo, que já consumiu uma boa parcela do capital privado disponível na região. Buscam crédito, querem crescer, mas necessitam de todo o conjunto de investimentos que somente no setor público vão encontrar: acessos, telecomunicações, divulgação, educação, formação técnica e gerencial. Querem fazer projetos e criar novos produtos, para gerar mais empregos e melhorar a qualidade de vida das populações que vivem no meio rural.
V – 2. A dimensão socioeconômica dos municípios formadores da área denominada como: O Vale do Café.
Apresentação
O presente relato se caracteriza por ser um sumário do relatório apresentado a Coordenação do projeto e que objetivava traçar o perfil socioeconômico dos Municípios do Vale do Café é o foco central deste relatório. Duas são as questões, principais, que orientam a organização desse estudo:
A delimitação da área de estudo, considerando que o Vale do Café apresenta contornos de natureza histórica e que não se restringe ao território do estado do Rio de Janeiro, a primeira questão a ser equacionada se refere a qual área adotar como sendo o alvo da presente análise. Neste caso a delimitação foi indicada pela coordenação do projeto.
A base de dados, um dos grandes desafios quando se pretende produzir informação a partir de dados secundários é a obtenção de dados atuais e organizados de forma a possibilitar fácil acesso. A sociedade moderna vive a contradição de dispor significativo volume de dados, de recursos tecnológicos cada vez mais amigáveis, mas sem que se disponha de sistemas de padronização de dados, já que são vários os produtores.
No caso deste estudo, a grande dificuldade é a de encontrar estatísticas recentes. A garimpagem de dados também é dificultada pela forma como os mesmos estão armazenados, nem sempre de fácil acesso.
O perfil socioeconômico dos municípios do Vale do Café, traçado neste relatório, carrega as limitações acima descritas.
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Neste sumário executivo estão relatadas as principais dimensões enunciadas com base nas estatísticas e registros disponíveis, e se tem por foco a necessidade de oferecer ao leitor um resumo de fácil compreensão.
Delimitação da Área de Estudo
Considerando o rol de municípios indicados pela coordenação do projeto a área de estudo compreende duas mesorregiões: a Metropolitana do Rio de Janeiro e a Sul Fluminense; e três microrregiões: Vassouras, que pertence a meso metropolitana do Rio de Janeiro e que contem seis dos doze municípios formadores da área de estudo; as microrregiões de Barra do Piraí, com três municípios e a do Vale do Paraíba Fluminense, contendo os três municípios restantes, ambas, as micros, pertencentes à mesorregião Sul Fluminense.
A região conhecida como Vale do Café apresenta algumas diferenciações quanto à sua composição territorial, dependendo da fonte de consulta. Segundo a Fundação CIDE, o Vale do Café do Rio de Janeiro está localizado na região do Centro‐Sul fluminense. O Centro‐Sul Fluminense é uma das regiões político e administrativas do Estado do Rio de Janeiro e corresponde àquela área do Vale do Paraíba fronteiriça ao Estado de Minas Gerais, subdividida nas microrregiões de Vassouras e de Três Rios ambas cortadas de Oeste para Leste pelo Rio Paraíba do Sul.
A Região de Governo denominada Centro‐Sul Fluminense é formada pelos seguintes municípios: Areal, Comendador Levy Gasparian, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Sapucaia, Três Rios e Vassouras.
A Região de Governo do Centro‐Sul Fluminense, integra as messorregiões Centro Fluminense e Metropolitana do Rio de Janeiro, as quais pertencem às microrregiões que compõem a área, Três Rios e Vassouras, respectivamente.
Contudo, para fins deste documento, a área considerada é aquela indicada pela coordenação do projeto e que compreende a divisão territorial descrita no Quadro 1.
Quadro 1 ‐ Composição da área do Vale do Café, segundo a definição adotada no estudo.
Municípios do Vale do Café Mesorregião Microrregião Valença Mesorregião Sul Fluminense Barra do Piraí Vassouras Metropolitana do RJ Vassouras Barra do Piraí Mesorregião Sul Fluminense Barra do Piraí Rio das flores Mesorregião Sul Fluminense Barra do Piraí Piraí Mesorregião Sul Fluminense Vale do Paraíba Fluminense Miguel Pereira Metropolitana do RJ Vassouras Paty de Alferes Metropolitana do RJ Vassouras Paulo Frontin Metropolitana do RJ Vassouras Mendes Metropolitana do RJ Vassouras Paracambi Metropolitana do RJ Vassouras Barra Mansa Mesorregião Sul Fluminense Vale do Paraíba Fluminense Volta Redonda Mesorregião Sul Fluminense Vale do Paraíba Fluminense
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Histórico
O Vale do Café viveu seu apogeu no período de transição entre o Período Colonial e o Império. O desenvolvimento começou com a abertura do segundo caminho do ouro, concebido para evitar o trecho marítimo alvo de constantes ataques piratas.
Com o esgotamento da produção do ouro, a região encontra uma nova alternativa no cultivo do café, quando se inicia o período de riqueza mais intensa. As antigas fazendas ainda guardam muitos símbolos desta opulência, com suas construções grandiosas, mobiliários de época e peças de arte valiosas.
As antigas fazendas são consideradas, hoje, como as âncoras do Turismo Rural, pelo conjunto de atrativo que oferecem.
Antiga região cafeeira, o Centro‐Sul Fluminense viveu, durante algumas décadas, as consequências da decadência desta cultura e, hoje, sua economia se apóia na criação de gado, na olericultura e no turismo. A realidade mostra um forte parcelamento do solo, principalmente nos municípios próximos à Região Metropolitana, enquanto algumas grandes propriedades têm sido transformadas em hotéis fazenda e sítios de lazer.
Um olhar, mesmo que superficial, sobre a história de formação dos municípios integrantes do Vale do Café, permiti identificar dois blocos, sendo que um deles contempla a estruturação do território do café e que é caracterizado pela dinâmica de criação dos municípios instalados no século XIX e que tem no trabalho escravo sua principal força. Um bom exemplo é o caso de Vassouras que chegou a atingir uma população escrava da ordem de 20.000 pessoas.
O outro bloco, formado pelos municípios criados no último século a partir dos anos 50, desmenbrados dos municípios formadores do bloco anterior e que surgem já como resultado do incremento das funções urbanas, onde a indústria tem relevante papel, caso de Volta Redonda instalada em 1954.
A área do Vale do Café, como considerado no presente relato, é de 5.156,4Km2, sendo que a distribuição da área municipal apresenta forte concentração nos municípios mais antigos e que deram origem aos demais, sendo que apenas Valença corresponde a 25% do total da área.
A seguir, estão enunciadas as principais características dos municípios formadores do Vale do Café, de acordo com as estatísticas secundárias e registros administrativos, capturados de diversas fontes de dados e organizados para atender ao objeto desta análise.
Dinâmica Demográfica
O objetivo deste bloco é dimensionar a área de estudo quanto ao tamanho demográfico. Para tanto se utilizou como fonte de dados o Sistema de Dados Regionais Agregados, SIDRA, do IBGE. O período tratado cobre as pesquisas censitárias de 1970 a 2007.
Em 2007, mais de 50% da população do Vale do Café estava concentrada em dois dos doze municípios integrantes da área: Barra Mansa, 22,34% e Volta Redonda com 32,57%, do total da população da área;
Desde 1970 Barra Mansa e Volta Redonda são os únicos municípios com população maior que 100.000habitantes;
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Segundo a Contagem da População de 2007, oito dos doze municípios do Vale do Café tinham menos de 50.000 habitantes.
Dos municípios do Vale do Café, Vassouras parece ser o que sofreu o maior impacto ao longo de sua trajetória, fato indicado por ser o que apresenta maiores perdas na população. Um dos motivos pode ser atribuído ao fato de ser este o município que sofreu maior número de desmembramento, dando origem a quatro dos municípios formadores da área em estudo.
Importante destacar a evolução do adensamento demográfico no espaço urbano legali, caracterizando a perda da importância da atividade rural como fator de fixação da população.
Um olhar geral sobre a área de estudo revela o predomínio da população urbana, em especial nos últimos períodos da série analisada.
Predomínio do rural no início do período analisado, (70/80), ocorre nos Municípios de Vassouras; Rio das Flores e Engenheiro Paulo de Frontin;
Intenso adensamento urbano em Mendes, que sai de 33% da população residente na área rural em 1980 para apenas 0,67% em 1991;
Em Volta Redonda, a própria história de ocupação e organização do espaço municipal determinou a consolidação do quadro urbano;
Nos municípios de Vassouras, Rio das Flores, Paty do Alferes e Engenheiro Paulo de Frontin se observa um maior equilíbrio na distribuição da população residente urbano/rural, embora ocorra predomínio da população urbana.
Dimensão Socioeconômica
Neste segmento, estão presentes informações relativas à Educação, no que se refere à infraestrutura física, número de estabelecimentos de ensino e ao dimensionamento da população atendida, através do número de matrículas. Estes registros têm como fonte a Fundação CIDE e o INEP, e se referem aos anos de 2006 e 2009.
Outro bloco temático se refere ao serviço de saúde. Na medida do possível, é também tratada a infraestrutura de comunicação e articulação do espaço regional. A fonte desses dados é o DATASUS do Ministério da Saúde, mas foram obtidos no site da Fundação CIDE e se referem ao ano de 2005 e no caso dos hospitais credenciados o dado mais recente, disponível, é de 2003.
Quanto à Educação, deve ser considerado:
Em todos os níveis de ensino é o urbano que pesa na concentração dos benefícios. Assim, o município de Volta Redonda se destaca por apresentar, em 2009, maior número de estabelecimentos de ensino, maior número de matrículas em creches e pré‐escola;
Do total de estabelecimentos que oferecem ensino fundamental, 60% são de gestão municipal, ocorrendo principalmente em Volta Redonda, Barra Mansa e Valença, que juntos concentram 54% dos estabelecimentos de ensino fundamental com dependência municipal. Este comportamento se repete quando se trata do ensino médio;
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O quadro de matrículas no Ensino Médio, mais uma vez favorece Volta Redonda que contabiliza em 2009, 12.738 matrículas, segundo o INEP, correspondendo a 40% do total de matriculas realizadas naquele ano em escolas de Ensino Médio. No caso do Ensino Médio, o principal gestor é o Estado;
Menos de 8% dos estabelecimentos que oferecem EJA, no Estado do Rio, estão localizados nos municípios formadores do Vale do Café;
A distribuição interna à área reforça o papel de Volta Redonda como principal centro da região. O Vale do Café contribui com 7,6 dos estabelecimentos do total do Estado do Rio de Janeiro, que oferecem ensino para jovens e adultos, destes 30% estão localizados em Volta Redonda.
Os municípios do Vale do Café têm participação pouco expressiva na rede física do Ensino Especial. Observa‐se que apenas 7% dos estabelecimentos do Estado do Rio de Janeiro está localizado em alguns dos municípios do Vale. Destes, 37% estão em Volta Redonda.
Embora com predomínio da esfera municipal, observa‐se que ocorre um relativo equilíbrio entre as três esferas de gestão.
Quanto à Saúde, os aspectos a serem destacados são:
Nesta caracterização, ressalta o fato de que Barra do Piraí, Mendes, Rio das Flores e Valença não contavam em 2005, segundo a fonte adotada, com nenhum posto de saúde;
O Vale do Café concentra 12,79% do total das unidades ambulatoriais do Estado do Rio de Janeiro;
Do total de unidades ambulatoriais disponíveis no Vale do Café, 29% são de consultórios isolados, 23% de centro de saúde/unidade básica. Os postos de saúde representam pouco mais de 7% do total de unidades ambulatoriais da região;
A análise da distribuição de unidades ambulatoriais indica uma divisão da área em estudo, em pelo menos três subáreas, em face da disponibilidade dos equipamentos de saúde: Volta Redonda e Barra Mansa, concentram cerca de 50% dos equipamentos existentes; Barra do Piraí, Vassouras, Valença, Miguel Pereira e Paracambi, que juntos totalizam pouco mais de 38% das unidades e Mendes, Piraí, Paty do Alferes, Engenheiro Paulo de Frontin e Rio das Flores 11%;
O quadro da oferta de atendimento, quando se considera a disponibilidade de hospital geral, em relação ao total da população, segundo dados da Contagem da População de 2007, do Vale do Café, é de que existe 1 hospital para cada 25.318 pessoas;
Quando a análise se dá no âmbito do município, alguns aspectos se destacam como, por exemplo, a posição de Paracambi em relação aos demais municípios, que conta com a maior participação de hospitais contratados, 42%;
No Vale do Café, tomando‐se todas as especialidades e considerando a população residente, segundo dados da Contagem da População realizada pelo IBGE, em 2007, que totalizava 784.883 habitantes, se têm 5,98 leitos por 1.000 habitantes;
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Outro aspecto a ser avaliado diz respeito ao número de leitos em psiquiatria, que é a especialidade que apresenta maior número de leitos, sendo que 79% destes leitos são de hospitais localizados nos municípios de Paracambi, 854 leitos e no município de Engenheiro Paulo de Frontin, 200 leitos;
A constatação mais relevante é a confirmação da fragilidade da infraestrutura de saúde nos municípios‐alvo da pesquisa, que deve servir como sinal de alerta a qualquer iniciativa de investimento na área, em especial quando se fala de sustentabilidade.
Incrementar fluxo demográfico sem o correspondente fortalecimento do mobiliário urbano, em especial no que se refere ao sistema de saúde, é apostar no aprofundamento dos problemas, hoje existentes, na região do Vale do Café.
Comunicação e Circulação:
Neste bloco se tem por objetivo enunciar alguns indicadores de centralidade dos municípios‐alvo.
Um dos parâmetros tradicionalmente utilizados é a disponibilidade de meios de comunicação. Embora muitos destes municípios já estejam interligados por redes virtuais, ainda se tem, na base física do território, os principais instrumentos de articulação espacial;
Um dos serviços mais básicos na esfera da comunicação é aquele prestado pelos Correios. Do total de 1.266 unidades existentes no Estado do Rio de Janeiro, em 2005, segundo a informação obtida no site da Fundação CIDE, apenas 96 atendiam ao Vale do Café;
A concentração deste serviço no município de Volta Redonda é mais um indicativo das diversidades intrarregionais na área em estudo.
O tamanho da frota associado ao tipo de veículo permite avaliar a infraestrutura de meios de circulação disponível na região. Considerando o total da população do Vale do Café, se tem em torno de 252 veículos por 1.000 pessoas.
Apenas quatro dos doze municípios concentram 78% do total da frota, a saber: Volta Redonda com 41%; Barra Mansa com 19%; Barra do Piraí com 12% e Valença com 6%.
Dimensão Econômica
Neste bloco, são apresentadas informações referentes ao emprego, cuja fonte principal é o Ministério do Trabalho. São apresentadas também informações sobre a geração de renda, com a análise do PIB, que tem como fonte as contas municipais calculadas pelo IBGE; informações sobre o desempenho econômico, descrito com base em registros referentes ao consumo de energia elétrica e disponibilizados no site da Fundação CIDE, e registros referentes às finanças públicas, obtidas no site do IBGE, mas que tem como fonte o Ministério da Fazenda.
Finalmente, se busca uma avaliação da estrutura produtiva, com base em estatísticas do IBGE, obtidas no Censo Agropecuário de 2006 e também considerando as informações da Pesquisa de Cadastro Central de Empresas de 2007.
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Emprego e Renda:
Os dados tratados neste bloco descrevem a estrutura de ocupação das pessoas ocupadas nos municípios do Vale do Café e os salários pagos, segundo a base de dados do Ministério do trabalho, no período de janeiro de 2008 a janeiro de 2009.
Um olhar sobre a estrutura de ocupações do Vale do Café sinaliza para uma organização eminentemente terciária e de pouca exigência quanto à formação acadêmica, com raras exceções;
O destaque no comportamento do PIB municipal é a primazia econômica do Município de Volta Redonda, quando comparado com os demais Municípios do Vale do Café;
Os municípios de Barra Mansa e Barra do Piraí formam o segundo grupo na hierarquia determinada pela renda gerada, em seguida se tem os municípios de Valença e Piraí, seguidos dos demais municípios formadores da área em estudo;
Quanto ao setor de atividade é o Setor dos Serviços que esta no topo da hierarquia. Outra observação importante é o total declínio da agricultura, em face dos pequenos valores observados na formação do PIB municipal.
Desempenho econômico:
Neste tema são tratados os dados de consumo de energia elétrica e finanças públicas:
Um tradicional indicador de desempenho econômico é o consumo de energia. Das indicações possíveis de serem inferidas com base nos registros analisados se destacam: a pouca expressão do setor rural; 63% do consumo de energia elétrica no setor industrial e 43 % no comercial são atribuídos ao município de Volta Redonda, enquanto que sua participação no consumo de energia pelo setor rural é de apenas 1,3%; com exceção do consumo comercial, nos demais setores as três primeiras posições são ocupadas pelos Municípios de Volta Redonda, Barra mansa e Barra do Piraí;
Finanças Públicas: Uma primeira avaliação se refere à relação receita /despesa, em 2007. Segundo os registros do Ministério da Fazenda, em 2007 havia um equilíbrio entre estas componentes das finanças públicas nos municípios do Vale do Café;
Dentre as receitas analisadas, a de origem tributária é a responsável pelo maior volume de entradas, R$127.124.460, seguidos do imposto sobre serviço, ISS, R$68.829.230, imposto predial urbano, IPTU R$33. 491. 415, e de taxas diversas com montante da ordem de R$7.007.845;
Destacam‐se os municípios de Volta Redonda e Barra Mansa, como os dois principais arrecadadores, enquanto que Rio das Flores e Engenheiro Paulo de Frontin, são os municípios que recebem os menores valores;
No Vale do Café, o FPM é a principal fonte de arrecadação e é de R$138.126.313,91, enquanto que a maior receita apresentada neste relato é a tributária que correspondia, em 2007, a R$127.124.460,3.
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Estrutura Produtiva:
Neste bloco são apresentadas informações relativas às atividades agropecuárias, referentes ao número de estabelecimentos, área dos estabelecimentos, em hectares, e também dados do Cadastro de Empresas. A fonte dessas estatísticas é o IBGE, através do Censo Agropecuário de 2006 e do Cadastro Nacional de Empresas de 2007:
Valença e Barra Mansa são os municípios que apresentam os maiores quantitativos de estabelecimentos e área, com cerca de 60 ha por estabelecimento;
Mendes e Engenheiro Paulo de Frontin são os municípios que aparecem como os de menores quantitativos, tanto quanto ao número de estabelecimentos como quanto à área dos estabelecimentos. Em Mendes, que ocupa a última posição, cada estabelecimento tem, em média, 55 ha, enquanto que no município de Engenheiro Paulo de Frontin esta média é de 94 ha, indicando ser este município detentor de uma estrutura fundiária de natureza mais concentrada (poucos estabelecimentos ocupando áreas de maior extensão);
Rio das Flores é o Município que apresenta médias indicativas de estabelecimento de maior porte, 116 ha, enquanto Paracambi apresenta a menor média 19,16 ha;
O tamanho médio dos estabelecimentos agropecuários no Vale do Café é de 61,67 ha;
Na relação “área x número” de estabelecimentos, indicada pelos dados, fica clara a predominância de pequenos estabelecimentos em Paracambi, único município onde a participação do número de estabelecimentos em relação ao total de estabelecimentos no Vale do Café, é maior que a participação em relação à área;
No outro extremo, aparece o município de Rio das Flores onde predomina a existência de propriedades de maior tamanho;
Outro aspecto importante revelado pelo Censo Agropecuário de 2006 se refere à condição legal das terras. Uma primeira observação é de que a grande maioria dos estabelecimentos no Vale do Café é de condição legal própria, cerca de 80%.
As informações, a seguir, se referem às estatísticas do Cadastro geral e têm por objeto complementar o perfil econômico dos municípios do Vale do Café e permitem uma análise do comportamento de cada município em relação ao total do Vale do Café:
O município de Volta Redonda, que havia perdido significado na análise dos dados do censo agropecuário, volta a se destacar como o principal município quando o foco da análise volta a ser urbano e em especial industrial. Em seguida, aparecem os municípios de Barra Mansa e de Barra do Piraí;
Os municípios com menor número de unidades locais são, por ordem decrescente: Paty do Alferes; Mendes e Engenheiro Paulo de Frontin.
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Considerações Finais
Ao término desta análise, realizada exclusivamente com base em dados secundários, ficam como pontos que devem ser considerados quando novas intervenções no território estiverem sendo planejadas.
O Vale do Café pode ser visto como uma região cuja unidade se dá por conta da formação sócio‐espacial, mas que ao longo do tempo se estruturou em pelo menos três subespaços:
1. Volta Redonda;
2. Valença, Barra do Piraí e Barra Mansa;
3. Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paty do Alferes, Piraí, Rio das Flores e Vassouras.
A fragilidade do equipamento urbano, em especial quanto à infraestrutura de saúde disponível para a população residente, deve atuar como um sinal de alerta para possíveis empreendimentos geradores de novos fluxos de população, indicando a necessária articulação entre o público e o privado, que na região deve se materializar em investimentos em saúde pública.
A atual disponibilidade de uma força de trabalho de médio para baixa formação técnico‐profissional já é ponto crítico que compromete o desenvolvimento sócio econômico da região. A inexistência de qualificação técnica dos segmentos específicos da hotelaria e serviços, em especial no que se refere à educação ambiental e de cunho histórico e cultural, limitam as condições necessárias de uma base orientadora para o desenvolvimento de ações voltadas para o turismo cultural, rural e ecológico.
A baixa expressão do setor primário na formação da renda e na geração de emprego indica a necessidade de revitalizar espaços e mobiliário rural para torná‐los atrativos.
Os setores adjacentes integrantes da cadeia turística do Vale do Café
A gradativa montagem de um parque turístico vocacionado para o Turismo Cultural atraiu inúmeros empreendedores que compõem a cadeia de turismo do Vale do Café. São notadamente os empreendedores da produção de alimentos, de bebidas e de artesanato, que consideramos segmentos adjacentes integrantes de uma cadeia turística.
A relação entre o Turismo Cultural e os outros setores das economias locais do Vale do Café foi se intensificando ao passar dos anos recentes. No entanto, a exclusiva ênfase no grande atrativo da região que é o seu patrimônio arquitetônico deixou, de certa maneira, os setores adjacentes que compõem qualquer cadeia turística, um pouco desamparados.
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O caso de São Paulo pode ser útil para uma reflexão. A conhecida mesorregião que alavanca o Turismo Rural paulista não tinha outro argumento a não ser seus produtos típicos, de tipo agropastoril e artesanal. E toda uma “indústria”, hoje fortíssima e apoiada na hotelaria convencional, foi montada nessa direção. Esse interior de São Paulo não tinha qualquer atrativo de cunho patrimonial arquitetônico, mas um rígido e atento planejamento foi desenhado para mobilizar os pequenos setores de produção de alimentos, bebidas, vestuário, arte e acessórios diversos, além dos equipamentos e serviços turísticos que se tornaram adjacentes. No caso do Turismo Rural paulista, o adjacente não foi o que é adjacente na região do Vale do Café. O adjacente aqui no Vale foi o central lá. Outras regiões têm os mesmos setores adjacentes que os do Vale Café, mas centralizam seus atrativos nas belezas naturais costeiras ou seus interiores de vastidão e suntuosidade natural. Em São Paulo, a aridez de suas terras rurais foi um patamar para a montagem de um dos principais pólos turísticos brasileiros, fundado em seus produtos regionais e no artesanato.
Uma dimensão importante no planejamento de um pólo turístico, que não houve até agora para o Vale do Café, é a atenção quanto aos fatores geradores da renda que possa ser efetivamente internalizada na região, mais precisamente em cada economia local. O belo artesanato regional, com forte influência da cestaria de origem indígena, carece de estímulo, orientação técnica e, principalmente, direcionamento comercial, para constar como item de destaque na cadeia produtiva do turismo no Vale. Também a pequena agro‐indústria local, caracterizada pela produção de doces, laticínios, conservas e embutidos, demanda a criação de pólos de distribuição e comercialização regional para poder ganhar visibilidade e escala comercial. O fraco desempenho dos setores adjacentes do Vale veio contribuindo para sua condição de exportador de renda para outros municípios brasileiros e no plano interregional para os municípios de maior força econômica, principalmente Volta Redonda e Barra do Piraí (e também Barra Mansa). A maior parte do valor dos gastos feitos pelos visitantes sai imediatamente da economia local para cobrir as despesas com as importações de produtos de outros municípios, e às vezes de outros estados, como no caso do artesanato e dos doces, que vêm de Minas Gerais. A dinâmica econômica local fica prejudicada. Sem a pretensão de que a economia local possa produzir e satisfazer todas as necessidades dos turistas, sem qualquer fornecedor externo, um planejamento de longo prazo deve ser instituído na região do Vale do Café, no intuito de fortalecer os setores adjacentes como importante fator de geração e internalização de renda. Com exemplo, a organização estratégica do turismo rural paulista levou mais de 20 anos para começar a produzir resultados confortáveis e estimulantes para uma dinâmica empreendedora.
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VI. O FOMENTO AO TURISMO CULTURAL E RURAL NO BRASIL
VI ‐ 1. Turismo no Espaço Rural: um segmento estratégico sem crédito
O Turismo Rural existe de fato no Brasil, com importância em diversas regiões brasileiras. No entanto, poucas vezes aparece nos planos de desenvolvimento e inclusão social das diversas esferas governamentais que abordam a falência social do meio rural brasileiro. Até hoje é um tema relegado a assunto de segundo plano pelo poder público.
O Turismo Rural (TR) se fortaleceu, em muitos países, a partir da modernização das atividades agropecuárias e da conseqüente decadência das comunidades rurais que não acompanharam o processo. Em muitos países, o TR foi norteado por políticas públicas de fomento e financiamento. Em outros não, que é o caso do Brasil. Aqui, o TR vem crescendo apesar da inexistência de políticas públicas. Ou melhor, cresce em meio a programas e linhas de crédito que se destinam exclusivamente ao turismo urbano e aos pólos turísticos consolidados.
Todas as linhas de fomento e de financiamento do turismo no Brasil são:
Concentradas ou exclusivamente focadas no Turismo Urbano em grandes cidades ou em complexos turísticos largamente conhecidos;
Voltadas para empresas que já pertencem ao segmento turístico, portanto excluindo os empreendedores potenciais, sobretudo os do meio rural;
Acessíveis exclusivamente a empresas legalmente constituídas e atuantes no mercado turístico.
Programas Nacionais de Crédito
Todas as linhas de financiamento no Brasil negligenciam o turismo em espaço rural:
O FUNGETUR – Fundo Geral do Turismo – é gerido pelo Ministério do Turismo, e pode financiar projetos de R$400 mil a R$10 milhões. Menciona o “incentivo a investimentos turísticos em regiões potenciais remotas, ainda não desenvolvidas”, embora seja inteiramente pautado para investimentos urbanos realizados por empresas estabelecidas no mercado. Foi recentemente regulamentado pelo MTur (Port. nº 92 de 29/05/09), que apresenta a CEF como operadora financeira do Fundo. No entanto, a CEF não divulga qualquer informação sobre isso.
O PROGER Turismo, um dos principais programas em operação a nível nacional, que repassa recursos do FAT através do Banco do Brasil, da CEF e do Banco da Amazônia, indica expressamente que as atividades rurais são consideradas um item não financiável. O PROGER financia projetos de até R$400 mil.
O BNDES apóia projetos de implantação, modernização e expansão de empresas estabelecidas no segmento turístico, nas linhas BNDES Automático e BNDES Finem e a aquisição isolada de máquinas e equipamentos nacionais, na linha BNDES Finame e Cartão BNDES. O perfil de itens financiáveis da linha BNDES Automático, por exemplo, revela uma clara orientação para empreendimentos urbanos. A linha Finem financia o valor mínimo de R$3 milhões no segmento do turismo.
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Programas Regionais de Crédito
Os programas de financiamento regionais do Turismo do Norte, Nordeste e Centro‐Oeste têm uma vocação original de apoio a empreendimentos no meio rural, embora tenham seus recursos largamente investidos nos principais centros urbanos. Os critérios de apoio são rigorosamente os mesmos das principais linhas nacionais de financiamento ao turismo:
PROATUR – Programa de Apoio ao Turismo Regional – que tem recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e é operado pelo Banco do Nordeste.
FNO – Programa de Financiamento do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, com abrangência em toda a Região Norte, e operado pelo Banco da Amazônia.
FCO Empresarial – Linha de Crédito de Desenvolvimento do Turismo Regional, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro‐Oeste, para empreendimentos localizados na Região Centro‐Oeste, e operada pelo Banco do Brasil.
As duas únicas linhas de crédito para o Turismo Rural no Brasil
1. Linha FEAP‐BANAGRO para o Turismo Rural em São Paulo:
Após anos de discussão, o atual Governo do Estado de São Paulo aprovou em 2009 uma linha de crédito que atenderia mais de 800 propriedades rurais cadastradas e abertas ao turismo: unidades de agricultura familiar, Fazendas Históricas e Não Históricas, bem como as propriedades rurais que ofertam o Turismo Equestre, o Turismo Rural Pedagógico e aquelas que queiram dar início ao negócio.
Os recursos são do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista ‐ O Banco do Agronegócio Familiar (FEAP‐BANAGRO), com pagamento feito em cinco anos, com até dois anos de carência, a juros de 3% por ano, com teto de financiamento de até R$80 mil por produtor e até R$ 300 mil por cooperativa ou associação. Os beneficiários são produtores rurais ‐ pessoas físicas ou jurídicas (micro e pequenas empresas), bem como suas cooperativas ou associações, enquadradas como beneficiárias do FEAP (renda agropecuária bruta anual de até R$ 400 mil).
Embora muito aquém das expectativas da ABRATURR SP ‐ Associação Paulista de Turismo Rural e do Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural ‐ IDESTUR, principais entidades paulistas nesse segmento, essa linha de crédito é considerada como uma ferramenta simbólica da necessidade de apoio ao Turismo Rural no Brasil, mas que ainda não é operativa. É consenso entre os principais atores que ainda não se procedeu a uma intervenção substantiva e séria nesse segmento estratégico, mobilizada por governos e seus instrumentos de política, em escala nacional.
2. PRONAF Turismo Rural:
Apóia o desenvolvimento de projetos turísticos em propriedades familiares enquadradas no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF (grupos C, D e E), tais como pousadas, restaurantes, locais de "pesque e pague" e cafés coloniais. Os recursos são do próprio PRONAF, e os limites de crédito variam de R$1.500,00 a R$36.000,00.
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Mesmo com a possibilidade de os tetos serem elevados em até 50%, sob condições determinadas, é evidente que o programa não pode ter a menor repercussão significativa no segmento TR, a começar pela falta de repercussão da própria linha de crédito.
Turismo rural: experiências européias bem sucedidas
Na União Européia, o estímulo ao Turismo Rural veio como resposta dos governos locais, regionais e nacionais à situação de crise das regiões rurais de seus países. Um planejamento estratégico macrorregional, aliado à ação empreendedora das comunidades, promoveu o desenvolvimento de negócios voltados para a economia do turismo ‐ pequena produção familiar de agroindústria; hotelaria de pequena escala; serviços e entretenimento cultural de caráter local; artesanato e gastronomia regional apurados; transporte, interpretação, agenciamento e guiamento turísticos. Os investimentos realizados em infraestrutura turística ‐ estradas, trens, sinalização, telecomunicações ‐ assim como o planejamento e a articulação política e institucional com os diversos atores regionais, nacionais e internacionais, inicialmente foram de responsabilidade de governos, em parceria com o terceiro setor e as empresas.
Todos os países europeus que fomentaram o TR viram em pouco tempo suas pequenas e médias cidades e comunidades rurais ressurgirem em seus espaços econômicos, abrindo oportunidades para a fixação das pessoas no campo, diminuindo o êxodo para as metrópoles.
Alguns países, como a França e a Irlanda, iniciaram seus programas de fomento estimulando o envolvimento do turista com as propriedades rurais produtivas, através do Turismo Pedagógico, Gastronômico e Eqüestre, por exemplo. Certamente o enorme patrimônio histórico e arquitetônico do interior europeu ajudou bastante. Os programas iniciados já no pós‐guerra e fortalecidos a partir da década de 1970 tinham como base a constatação da crise da profissão do agricultor e do pecuarista com a modernização tecnológica e a conseqüente propalada desertificação social do campo. Para citar apenas duas das mais de trinta organizações francesas envolvidas com o TR, a “Gîtes de France”, a maior e mais antiga associação de proprietários, reúne aproximadamente 40.000 grupos de empreendedores rurais, e a associação “Bienvenue à la Ferme”, reúne aproximadamente 20.000 agricultores.
Em outros países europeus, como a Espanha e a Itália, o TR foi inicialmente estimulado pelos governos seguindo os mesmos princípios de implantação de grandes empreendimentos hoteleiros voltados para o lazer, a estética, convenções, sempre também ancorados na diversidade cultural e patrimonial das regiões rurais européias.
Os países que começaram nessa linha tiveram que reorientar suas políticas a partir de 1996, quando a Comissão Européia lança o Proder, no contexto da Iniciativa Leader, destinado às zonas rurais desfavorecidas. Com o Proder, a prioridade do fomento e do crédito passa a ser o turismo focado na tradição rural produtiva, envolvendo as comunidades locais e os pequenos empreendedores, num pretensioso novo modelo de desenvolvimento rural da União Européia. Mas o fator mais importante é que o financiamento passa a contemplar as pessoas físicas, e não apenas as pequenas empresas rurais estabelecidas.
Portugal induziu de forma planejada seu TR, sobretudo a partir dos anos 1990, com o apoio governamental explícito a empreendimentos de natureza familiar. Com forte apoio e recursos de programas da Comissão Européia (PRODER/LEADER) adotou um modelo que surge com uma “terceira via” do TR, aquele fortemente voltado para turismo cultural e para o patrimônio arquitetônico rural, mas assentado em famílias, agricultores ou não, ou em redes ou associações congregando potenciais empreendedores que não atuavam no segmento turístico ou mesmo que não possuíssem empresa, fato que não impediu se beneficiarem desses programas de geração de renda.
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O resultado dessas experiências é óbvio: emprego, capacitação profissional em programas paralelos, fortalecimento das associações de TR através de infraestrutura de comercialização com centrais de reservas e operadoras turísticas, estímulo às estratégias locais e regionais de desenvolvimento, entre muitos outros. Ao nível macro, as ações indutoras abrangem desde zonas rurais remotas confrontadas com problemas de despovoamento e declínio, até zonas rurais periurbanas sujeitas a uma atração crescente dos grandes centros urbanos. Os resultados positivos são incontestáveis.
Porque o desinteresse público pelo Turismo Rural no Brasil?
Resposta: não há explicação. Na ausência de uma explicação plausível, atribui‐se à falta de tempo e interesse pelo tema nos grandes centros urbanos decisórios e à desmobilização estrutural das cidades do interior, que vivem precária e essencialmente do comércio, dos serviços e de salários das prefeituras, com a população jovem sem maiores expectativas além de se deslocar para as grandes cidades. O que todo prefeito do interior quer é... INDÚSTRIAS! FÁBRICAS! Um hotel‐fazenda num distrito turístico de um município do Vale do Café, por exemplo, mantém cerca de 40 empregos diretos em sua atividade, fora os cerca de 35 empregos diretos em obras de ampliação de instalações. Sem contar a cadeia produtiva elástica do Turismo, onde produção agroindustrial local, artesanato, combustível, farmácia, padarias, etc; são tradicionais agregadores de valor. No entanto, a atividade hoteleira e do Turismo Cultural não recebem o status de investimento que uma fábrica de roupas de 30 empregos merece, da parte de prefeitos e deputados.
Mesmo sendo um setor estratégico, e que pode até ser considerado de segurança nacional, privilegiado por todas as ações de planejamento de longo prazo em muitos países, amplamente conhecidas, divulgadas e bem sucedidas, o poder público brasileiro não trata estrategicamente o assunto. Talvez em virtude dos infindáveis problemas que atacam os centros urbanos, como a violência, educação, saúde, saneamento, etc; mas que são ainda mais graves se olharmos com acuidade para as cidades situadas no espaço rural. Quanto aos dirigentes dos municípios de forte viés rural, por outro lado, falta‐lhes, além do conhecimento do tema, visto que estão também envolvidos com as demandas por infraestrutura, também não dispõem, em geral, de quadros com a capacidade técnica para a elaboração de projetos e propostas consistentes, direcionadas para essa temática.
Um cenário base para se pensar o Turismo Rural
Um primeiro rol de realidades que justifique o estímulo ao Turismo Rural no Brasil:
A experiência de outros países. Não precisamos reinventar a Roda. Um modo prático de motivar a comunidade governamental seria acompanhar o que foi feito na União Europeia, começando pelas resoluções da CCE – LEADER 1, 2, Plus e agora 3, e seus resultados. Foram algumas décadas de planejamento e ação, com tentativas e erros, o que fornece um enorme subsídio para o estudo e o planejamento seguro das adaptações necessárias às realidades regionais brasileiras. Não se trata de escolher outros países como modelo, pois no Brasil o meio rural é diferente: pode‐se dizer que o meio rural brasileiro é basicamente urbano, a começar pelos proprietários rurais, que na sua maioria moram nas grandes cidades, diferentemente do caso europeu.
O denso, extenso e contínuo êxodo rural para as grandes cidades. Como escape contíno à desagregação das comunidades rurais e também das cidades de municípios com forte vocação rural, os jovens que tentam uma formação profissional não encontram e cada vez encontrarão menos oportunidades em suas cidades e vilas de origem. Resultado: desorientação total da juventude sobre oportunidades de vida e de emprego. O que será feito das milhões de crianças que a todo ano ingressam nas escolas públicas das cidades do interior brasileiro?
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Uma disposição e iniciativas concretas existem no Brasil. O Turismo Rural já vem tomando força a partir dos anos 90, quando foram criadas câmaras setoriais junto à EMBRATUR e aos órgãos estaduais de fomento ao turismo. O agroturismo, modalidade que ganhou adeptos nas regiões do sul do país, assim como em estados de economia predominantemente rural como Minas Gerais e Espírito Santo, também se desenvolveu rapidamente, alavancando com isso as pequenas economias agrárias do interior. Com a criação do Ministério do Turismo, em 2000, o Brasil ingressou no processo de segmentação do turismo, passando a desenvolver programas específicos para diversas categorias, dentre elas o Turismo Rural e também o Turismo Cultural.
Necessidades de financiamento e de ações estratégicas de fomento.
Existe uma forte demanda de financiamento para o turismo no Vale do Café, constatada a partir de levantamento feito pelo Instituto PRESERVALE e pelo próprio Diagnóstico das Fazendas Históricas. A demanda é de credito, primeiro, para reforma, restauração e ampliação das construções históricas de empreendimentos privados já atuantes no Turismo Cultural. Assim como existe também uma demanda reprimida de reforma e ampliação de hotéis urbanos, pousadas e hotéis‐fazenda sem perfil histórico, reforma e ampliação de restaurantes e bares tradicionais do Vale do Café. Também existiria a necessidade de crédito para a implantação e ampliação de negócios adjacentes integrados à cadeia turística, como os de produtos alimentícios, de bebidas e cooperativas de artesanato. Outro componente que necessitaria de apoio financeiro, integrado a todos os segmentos listados acima, relaciona‐se com a própria gestão dos negócios do Turismo Cultural, aqui envolvendo inúmeros dispositivos possíveis e necessários. No caso específico do patrimônio histórico direcionado para funções turísticas – hoteleiras ou de entretenimento cultural – faz‐se imperativo o controle e acompanhamento das autoridades governamentais de âmbito Municipal, Estadual e Federal, visando ao bom desempenho no trato dos recursos destinados ao restauro, bem como no resultado adequado das intervenções feitas no patrimônio.
O gosto ou perfil cultural particular de proprietários e gestores de bens históricos não pode ser o fiel da balança no que diz respeito à qualidade e respeito aos estilos, materiais e características históricas a serem adotados num processo de restauração. Mesmo quando não são objetos de tombamento, os prédios históricos do Vale – rurais ou urbanos – já são relativamente protegidos por estudos, inventários e pela própria Constituição, de modo que os pedidos de financiamento e crédito para as intervenções necessárias deverão ser submetidos à orientação técnica e orientadas e acompanhadas pelos órgãos oficiais para evitar eventuais danos ou descaracterizações ao patrimônio.
Por fim, todas essas demandas, somadas à articulação existente e a se construir com instituições de fomento, como SENAC/SENAI/ SEBRAE/ SENAR/ SESC, justificam a criação de um “Programa Regional de Financiamento do Turismo Cultural do Vale do Café”, proposta de ação estratégica que poderia ser aprofundada para ser submetida, por exemplo, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES.
O proprietário rural, via de regra, não está familiarizado com os mecanismos de renúncia fiscal, e tampouco dispõe de contatos pessoais junto a eventuais empresas de elaboração e captação de recursos para levar adiante um projeto baseado nas leis de incentivo. Por outro lado, eles têm experiências bem sucedidas com o crédito rural, utilizado frequentemente para a renovação de pastagens, para a instalação de ordenhadeiras mecânicas ou para o plantio de culturas sazonais. O crédito confere independência ao produtor, e lhe dá a possibilidade de realizar os investimentos necessários à sua propriedade com autonomia e de modo planejado sem, contudo, ficar obrigado junto a outras partes além do agente financiador.
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Algumas fazendas no Vale do Café (Fazenda Santa Rita, Valença; Fazenda São Luiz da Boa Sorte, Vassouras, dentre outras), enquadraram projetos de restauração nas leis de incentivo à cultura (Lei Rouanet e Lei do ICMS), visando à recuperação do seu patrimônio histórico. Para tanto, foram protocolados os pedidos de tombamento junto ao INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio de Janeiro, e iniciaram a captação de recursos para as obras. No entanto, não são todos os proprietários que têm aptidão, interesse ou condições para encaminharem projetos dessa natureza, como também para a busca de patrocínios empresariais. Afinal, trata‐se, na maior parte dos casos, de patrimônios familiares. Por outro lado, as instalações para a hotelaria nesses patrimônios não está contemplada nas propostas de intervenção, e, seguramente, estas instalações demandam recursos tão altos e são tecnicamente tão exigentes quanto as obras de recuperação física. Considerando estas peculiaridades do mundo rural e das características específicas das propriedades históricas, uma ação viável e inquestionável é a instauração de um “Programa Regional de Financiamento do Turismo Cultural do Vale do Café”.
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VII – SEGMENTOS DO PROJETO: ARQUITETURA
As viagens de pesquisa de campo, realizadas em conjunto, proporcionaram à equipe de arquitetos do Projeto uma visão do Vale do Café bastante diferente do que originalmente eles imaginavam. Puderam observar proprietários empreendedores, conscientes da importância da preservação, não apenas pela sua dimensão histórica, mas, sobretudo, pelo significado estratégico que representa em seus respectivos negócios. O bem tem que estar em bom estado, recuperado com zelo e autenticidade, pois ele é a base fundamental da economia criativa do Turismo Cultural. Suas observações revelam a fragilidade com que o patrimônio rural enfrenta as exigências de sua conservação e adequação ao turismo, hoje também a sua principal – se não exclusiva – condição de sobrevivência. Revelam também o esforço que proprietários empreendem, seja do ponto de vista financeiro (os altos custos e dificuldades de manutenção e recuperação das Fazendas e/ou de seus acervos), seja daquele da falta de orientação e diálogo com os órgãos oficiais responsáveis.
Os arquitetos puderam perceber a lacuna que existe no trato da questão da preservação do patrimônio aqui, no Rio, no Brasil, em relação a outros países, onde a legislação e o entendimento das autoridades vão na direção do apoio, do financiamento, da orientação técnica e da viabilização econômica deste legado patrimonial que é compreendido em sua dimensão cultural mas, principalmente, como ativo econômico e social das comunidades detentoras desta riqueza.
Vale do Café ‐ Arquitetura, Patrimônio e Infraestrutura
VII – 1. Valor Arquitetônico
Predomina entre os proprietários uma consciência dos valores arquitetônicos existentes nas edificações das fazendas. Entretanto, raramente torna‐se claro o potencial que a arquitetura possui para o negócio econômico. A conscientização quanto à importância da integridade do patrimônio para a valorização e qualificação do negócio é fundamental.
VII – 2. Patrimônio Histórico e Tombamento
De modo geral, ainda é precária a compreensão do significado e do papel do patrimônio histórico para a sociedade. No Vale do Café, embora os proprietários tenham noção clara da importância da preservação ‐ alguns até desejam consagrar a preservação (tombamento) de seu imóvel ‐ a maioria, no entanto, ainda tem aversão aos órgãos de defesa do patrimônio. A restauração, recuperação e manutenção do patrimônio histórico só adquirem sentido quando esta ação torna‐se um agente ou um fator do desenvolvimento econômico da propriedade.
O projeto de revitalização do acervo existente em várias das fazendas visitadas deverá ser objeto de integração com os projetos de restauro e adaptação física das fazendas, possibilitando uma melhoria na apresentação, conservação e segurança dos objetos.
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VII – 3. Queixas Frequentes
Ausência de regras claras, de normas e de orientação técnica para recuperação e manutenção do patrimônio. Carência de informação: sobre fontes de recursos e procedimentos para obtê‐los; sobre como obter orientação técnica e mão de obra qualificada.
Ocorrem também casos onde há uma demora excessiva na resposta por parte dos órgãos de preservação aos questionamentos dos proprietários gerando uma insatisfação dos mesmos.
VII – 4. Mão‐de‐Obra para Obras de Restauro
Foi constatada uma dificuldade na obtenção de mão‐de‐obra adequada para a execução das obras de restauro, verificando‐se até a “importação” de mão‐de‐obra de outras localidades, tais como: Juiz de Fora e Tiradentes. A ocasião é propícia para que se desenvolva uma estrutura de formação de mão‐de‐obra especializada através da integração de órgãos e entidades, tais como: IPHAN, INEPAC, SENAI, unidades de ensino superior da região etc.
A elaboração de listagem de mão‐de‐obra capacitada requer uma investigação muito mais aprofundada para o reconhecimento e credenciamento destes oficiais e empreiteiros. É importante ressaltar a dificuldade generalizada entre os proprietários de compreender o caráter indispensável de contratação de profissionais habilitados ao planejamento, condução e direção de obras desta natureza. Por conseqüência verificam‐se resultados negativos como má qualidade, atrasos na conclusão, prejuízos financeiros etc.
VII – 5. Formação de Custos e Orçamento das Obras
Há uma complexidade na padronização de valores unitários para este tipo de obra em função dos seguintes aspectos:
Características muito distintas nas tecnologias originalmente utilizadas e no estado de conservação de cada imóvel;
Necessidade de prospecções anteriores para avaliação do estado geral de cada propriedade;
A variação de custo dos materiais antigos (madeiramento, telhas canal etc.) em função da disponibilidade ou não destes no mercado fornecedor específico (depósito de materiais de demolição). Somente a formação de um banco de dados permitirá se obter parâmetros confiáveis para a elaboração de tabelas de referência confiáveis.
VII – 6. Sinalização
A sinalização é outro ponto negativo. As placas existentes são poucas e estão em mau estado. Não há planejamento e uniformidade gráfica.
É indispensável um plano que articule as necessidades das fazendas com o comprometimento da administração pública (prefeituras e órgãos do estado) em implantar um sistema de comunicação visual atraente e forte para a região.
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VII – 7. Infraestrutura
Os acessos se constituem num dos maiores problemas da região.
A partir das duas vias principais (Via Dutra, a BR 40 e BR 393) as rodovias de acesso à região se encontram em péssimo estado de conservação, com problemas, tais como a precariedade ou mesmo inexistência de sinalização e o mau estado de conservação da pavimentação. Estes problemas têm causado prejuízos recorrentes ao Turismo Receptivo, desestimulando o afluxo de visitantes.
VII – 8. Plano de Turismo
É necessária a elaboração de um Plano que indique as diretrizes para o desenvolvimento turístico da região.
VII – 9. Envolvimento do Governo Estadual
Providências:
Criação urgente de um documento capaz de seduzir e convencer as autoridades estaduais (em especial Governador, Vice‐Governador e Secretário de Desenvolvimento Econômico) da potencialidade de expansão econômica da região e do caráter indispensável do envolvimento do Governo Estadual estabelecendo uma parceria profícua com o capital privado já investido ao longo de décadas.
Acentuar os vínculos com os próximos grandes eventos no Rio.
VII – 10. Comunicação
A Região deverá, através do PRESERVALE e do Conselho Regional (CONCICLO), e buscando apoios institucionais adequados, criar um Plano de Comunicação Integrado que possa, periodicamente, atuar na mídia viária, impressa e na web, informando e estimulando o Turismo Cultural, destacando o compromisso crescente dos proprietários e cidadãos com a preservação e auso sustentável dos patrimônios.
Museus e Parques Naturais
Foi empreendida, pela equipe de museólogos e assistentes do Projeto, durante três meses, uma verdadeira varredura nos principais museus, coleções e centros culturais da região. O relatório completo encontra‐se disponível no site do Instituto PRESERVALE (www.preservale.com.br). Vamos transcrever, para efeito de comentário e sugestões, as principais conclusões do trabalho, nas quais inúmeras situações espelham as mesmas deficiências identificadas na pesquisa pelo questionário, na leitura dos arquitetos, na análise dos consultores da roteirização e da capacitação. Por esta razão, não reproduzimos todos os relatórios na íntegra: seria repetitivo para o leitor. No entanto, é fundamental que as questões principais sejam evidenciadas e apontadas as suas possíveis soluções.
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Uma primeira observação, que atravessa todas as recomendações, é a da falta de pessoal qualificado para o cuidado das coleções, sejam mobiliário, documentos, obras e objetos de arte ou de natureza técnica e científica. Não existe, igualmente, tratamento destes acervos, catalogação, classificação ou manutenção adequadas, o que evidencia uma percepção muito rudimentar da importância deste trabalho. Via de regra, os responsáveis por estes “museus” são voluntários, pessoas de boa vontade ou contratados para o atendimento ao visitante (de modo amadorístico), sem qualquer formação na área. A segurança destes acervos e dos prédios que os abrigam é inexistente, assim como inexistem as reservas técnicas ou critérios para exposições temporárias ou eventuais. O que se vê é um apanhado de coleções, muitas vezes sem condições mínimas de cuidado na sua exibição ou guarda, pondo em risco a integridade das mesmas. A necessidade de qualificação de pessoal se impõe, sob pena de vermos perecer todo este rico arsenal de identidade cultural. Um processo de qualificação do pessoal teria um primeiro resultado: permitir que os guardiões destes acervos percebam o quão vulneráveis eles estão e o quanto é preciso fazer para que sua enorme potencialidade educativa, cultural, de entretenimento de formação da identidade regional seja efetivamente usufruída por moradores e visitantes.
A questão dos Parques Naturais, tendo em vista as diferentes esferas de gestão – privada, municipal, estadual – merece ser objeto de projetos específicos, visando a que sejam melhoradas suas condições infraestruturais e que recebam divulgação integrada ao conjunto dos atrativos culturais e turísticos da região.
SUGESTÕES DE AÇÕES ESTRATÉGICAS para a questão dos “MUSEUS”
As sugestões que podem ser apontadas no caso são:
Elaboração de documento dirigido às autoridades da cultura e da museologia locais, estaduais e federais sobre o estado destes acervos e a necessidade de investimento em um processo de qualificação técnica e institucional (neste documento deve ser enfatizada a necessidade de se contar com pessoal devidamente capacitado para o funcionamento e manutenção destas casas de cultura abertas ao público).
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Promoção de cursos de capacitação para o pessoal encarregado destes pequenos “museus”, usando o termo dentro da ressalva feita anteriormente.
Elaboração de projeto de conservação e restauração dos acervos mais significativos;
Elaboração de projeto de catalogação das coleções locais e da região, que inclua a fotografia das peças, como medida de prevenção contra roubo e furto.
Elaboração de projeto de modernização e requalificação museográfica e museológica da maioria dos citados espaços e coleções ditos “museus”.
Elaboração de projeto de Educação Patrimonial visando a capacitação das professoras da rede pública e privada para o uso destas coleções e espaços ditos “museus” no processo de ensino e aprendizado.
Sugestões de Ações Estratégicas para a questão dos PARQUES.
Os Parques Naturais analisados neste relatório necessitam de investimento em sua infraestrutura para viabilizar o incremento da visitação; será preciso elaborar um projeto comum que facilite a captação de recursos e a mobilização social em defesa destes recursos ambientais e culturais, já que ambos são documentos vivos da história e da paisagem cultural em que estão inseridos.
O Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos pode ser um modelo ou um “piloto” para a adequação desta infraestrutura e tratamento paisagístico, destacando‐se a instalação de um CENTRO DE VISITAÇÃO e, neste caso especial, de salas de estudo, pesquisa e Reserva Técnica do material recolhido durante a escavação e implantação do Parque.
Todos os Parques deveriam ser dotados dos mesmos recursos para suportar e dar qualidade à visitação pública e escolar, incluindo banheiros, auditório e sala de refeições ou lanchonete.
A SINALIZAÇÃO é praticamente inexistente, bem como de materiais e folhetaria para divulgação e orientação ao turista que percorre a região.
O conjunto de PARQUES naturais e de MUSEUS identificados neste relatório constitui o conteúdo e o objeto das AÇÕES E METAS DO “PARQUE CULTURAL” a ser criado, incluindo‐se aí a possibilidade de criação de um “PARQUE FLUVIAL DO RIO PARAIBA DO SUL”.
Primeiros Passos:
Considerando o exposto, sugerimos:
1. A elaboração de projeto de conservação, restauração e qualificação dos acervos e pequenos “museus” da região;
2. A elaboração de projeto didático de Educação Patrimonial, baseado nos acervos e coleções encontradas na região, para uso dos professores e alunos;
3. A elaboração de projeto de conservação e qualificação da infraestrutura dos Parques Ambientais da Concórdia, do Açude da Concórdia e do Santuário de Vida Silvestre da Serra da Concórdia;
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4. A elaboração de alguns projetos “exemplares” em algumas das Fazendas Históricas analisadas e que já recebem visitação escolar e turística, conforme Indicação de Projetos ao final deste Relatório.
5. A elaboração de projeto de qualificação e formação de mão‐de‐obra especializada para o serviço dos Museus, Parques e outros atrativos culturais da região;
6. A plantação obrigatória de pequena área de pés de café, nas propriedades que se anunciam como “Fazendas de Café”, no Vale do Paraíba.
Recomendações e Conclusões Finais
O conjunto de estabelecimentos e ou instituições denominadas “museus” na região estudada não corresponde à definição de Museu aceita internacionalmente e proposta pelo ICOM/UNESCO. A única exceção parece ser a “Casa da Hera”, em Vassouras, dependendo do nível de investimento técnico e institucional que venha a receber das autoridades do IBRAM/MINC, após a constatação de seu estado de decadência e abandono.
O “Museu Rodoviário de Paraibuna” não pode ser considerado como tal, dado o estado de total abandono e deterioração em que se encontra, fazendo jus a uma denúncia formal por parte do INSTITUTO PRESERVALE ao Ministério Público e ao INEPAC e IPHAN/IBRAM.
Os demais museus analisados neste relatório também não se configuram como “instituições museológicas”, sendo na verdade coleções de temas diversos, coletados e organizados ao longo dos anos e abertos à visitação pública. Caso dos Museus de Valença e de Conservatória. Podem funcionar como atrativos turístico‐culturais e educacionais, desde que passem por um processo de qualificação e reformulação.
Em todos os casos, a ausência de pessoal técnico e de profissionais do setor está na origem dos problemas mais críticos, como a conservação e o estudo das coleções.
Grandes Passos:
1. A elaboração de projeto do “PARQUE CULTURAL DO VALE DO PARAÍBA”, baseado em LEI ESTADUAL, a ser decretada por iniciativa das Secretarias de Cultura, Turismo, Educação, Planejamento e Desenvolvimento Social;
2. A elaboração de projeto de Lei visando o objetivo anterior;
3. A elaboração de projeto para a criação do “PARQUE FLUVIAL DA BACIA DO PARAÍBA” e de Lei visando sua implantação;
4. A implantação dos “PARQUES” acima citados, como instrumentos estruturantes de um programa de desenvolvimento local, que envolva a conservação, proteção e valorização dos recursos naturais e culturais da região;
5. A realização de FÓRUM regional, com a presença de autoridades públicas e privadas, bem como da sociedade, para discutir e aprofundar o conceito e os usos de tais instrumentos em benefício de todos.
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Em todas estas iniciativas, a ação do INSTITUTO PRESERVALE poderá ser o motor energético que propulsione um processo de desenvolvimento local e social, com a participação integrada de todas as instâncias, de modo a que sejam alcançados os objetivos almejados e planejados.
Um bom planejamento e uma boa difusão das propostas em diferentes e amplas esferas, articulando‐se um projeto intermunicipal, contribuirão para o sucesso do empreendimento.
Roteirização Turística
Resumo dos Objetivos do Trabalho de Roteirização:
1. Elaborar uma listagem combinando atrativos e locais de hospedagem/alimentação que virá integrar os roteiros de cada uma das regiões‐tema: Barra do Piraí/Valença/Vassouras; Valença/Conservatória/Rio das Flores; Vassouras/Paty do Alferes/Miguel Pereira/Paulo de Frontin; Barra do Piraí/Volta Redonda/Barra Mansa.
2. Levantar contatos (endereços, telefones, websites e e‐mails) de todos os locais indicados;
3. Compor sugestão de itinerários por interesse temático, combinando os atrativos listados de modo a atender aos diferentes públicos‐alvo.
4. Encaminhar aos Coordenadores da Pesquisa Qualitativa (José Matias de Lima e Pedro Quintslr) questionários de seu conhecimento que tenham sido anteriormente aplicados sobre os temas referentes a essa área de atuação.
Atividades Desenvolvidas:
1. Elaboração de um plano de visitas aos atrativos turísticos, atrativos em potencial; equipamentos e artesanato, combinando roteirização, negócios sustentáveis, financiamento e museologia.
2. Elaboração de uma ficha para cada município da região das Fazendas Históricas, contendo os seguintes dados: caracterização do município (área, população, clima etc.); transportes rodoviários; posto de informações turísticas; ponto de táxi; correio; estabelecimentos bancários; serviço 24 horas (hospitais/pronto socorro, drogarias, posto de abastecimento e delegacia); lan house; espaços culturais; atrativos culturais; fazendas abertas à visitação pública; restaurantes; hotéis e pousadas; artesanato. Os critérios adotados para a escolha dos serviços, equipamentos e atrativos turísticos de cada município foram os seguintes: está em boas condições de acesso e de higiene; ser de interesse histórico‐cultural e ecológico; está funcionando regularmente já há algum tempo. Foram utilizados também ícones para classificação dos meios de hospedagem, restaurantes e atrativos, tais como: Para atrativos: Vale a viagem ***, merece a visita **, interessante*. Para meios de hospedagem: ^^^ confortável, ^^ médio conf., ^ simples. Para restaurantes: xxx excelente cozinha, xx médio, x regular. As fichas serão destinadas ao sítio do PRESERVALE.
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3. Foram elaborados opções de roteiros turístico‐temáticos, combinando atrativos listados de modo a atender a diferentes públicos‐alvo. Os roteiros são os seguintes: 1.Volta Redonda, Barra Mansa, Piraí e São João Marcos; 2. Valença, Rio das Flores e Conservatória; 3.Vassouras, Barra do Piraí e Conservatória; 4. Miguel Pereira, Paty do Alferes e Engenheiro Paulo de Frontin. A partir de cada um dos quatro roteiros, estabelecemos uma cidade para dar nome ao roteiro. Para isso foram adotados os seguintes critérios: melhor e a maior ocorrência de meios de hospedagem, gastronomia, maior números de atrativos turísticos e equidistância (um raio de no máximo 30 km de um atrativo do outro). Com o objetivo de atender os diferentes públicos‐alvo, cada atrativo foi identificado com um ícone, que são os seguintes: atrativo Cultural “C”, Étnico “E”, Ecológico “ECO”, Gastronômico “G”, Histórico “H”, Lazer “L”, Pedagógico “P” e Produção “PR”. Foram listados os atrativos de cada cidade incluindo os telefones de contato, bem como, das Secretarias Municipais de Turismo.
Informações Complementares e Conclusões da Equipe
Durante as visitas técnicas aos atrativos e meios de hospedagem da cada cidade, foram constatados diversos problemas que impedem o bom funcionamento da atividade turística, tais como:
1. Acessibilidade: Cerca de 99% dos atrativos turísticos não possuem qualquer tipo de indicação ou acesso de cadeirantes ou qualquer outro tipo de pessoas com necessidades especiais.
2. Limpeza das Cidades: A maior parte das cidades da Região está com sérios problemas de limpeza urbana. Algumas permanecem limpas durante os dias da semana, porém aos sábados e domingos ficam sujas. Principalmente em dias de eventos. Acreditamos que a colocação de lixeiras em locais públicos (praticamente inexistentes nos municípios da região) e campanhas de conscientização da população, além de coleta de lixo sistemática, também colaborariam para a melhoria dessa situação.
3. Guias de Turismo Credenciados: Há alguns bons Guias de Turismo atuando no Vale, porém a maioria não é credenciada como manda a Lei, ou seja, enquadrados no exercício ilegal da profissão. Existe um curso de formação de Guias de Turismo em Valença, cuja chancela do Ministério do Turismo foi dada à Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro. O Curso que funciona no Colégio Estadual Coronel Benjamim Guimarães, forma profissionais todo ano. Muitos desses profissionais não são absorvidos pela ausência de formação específica para atuação no Vale do Café. Além de não falarem idiomas, estes Guias carecem de noções sobre a história, características dos atrativos e da cultura regional, indispensáveis para um bom guiamento no Vale. Muitos acabam dedicando‐ se a outro tipo de atividade. Dos “Guias” que atuam em todo o Vale, muitos acabam trabalhando como freelancers e geralmente são indicados pelos hotéis que trabalham com roteiros das Fazendas Históricas.
4. Posto de Informações Turísticas: A maioria das cidades da região possui instalações de Posto de Informações Turísticas, porém encontram‐se desativados (90%). Alguns até mesmo em localização estratégica como no caso da cidade de Piraí, uma das principais entradas do Vale. Na cidade de Rio das Flores, o Posto tem funcionado com regularidade.
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5. Profissionais de Vários Segmentos do Turismo: Não avaliamos os profissionais quanto ao seu conteúdo técnico, mas sim no aspecto sobre conhecimentos gerais sobre as cidades em que atuam. A falta de informação é muito grande. Além disso, durante o último ano, as universidades da região encerraram seus cursos de Turismo, deixando de qualificar profissionais que se fazem necessários para o desenvolvimento do setor. Cabe aqui uma reflexão sobre a viabilidade de utilização dos conteúdos oferecidos por esses cursos no dia‐a‐dia dos equipamentos turísticos da região. Será que eles atendiam às necessidades de ordem prática do turismo da região do Vale do Café?
6. Atrativos: Podemos dividir em duas categorias ‐ os urbanos (espaços de memórias) e as Fazendas Históricas. No que se refere aos atrativos urbanos, além dos problemas já colocados em relação à acessibilidade, ressaltamos que a maioria dos monitores que recebem o visitante (quando o atrativo os possui) não é preparada ou treinada para tal, salvo algumas exceções. Geralmente são voluntários que disponibilizam tempo para atuar nos espaços culturais. Quando estes espaços são Museus, a situação se agrava, pois, nem mesmo os responsáveis pela administração do espaço possuem qualquer formação museológica ou outra similar. Também atuam como voluntários. Há exceções, como é o caso do Museu Capitão Pitaluga, em Valença, embora o espaço seja muito exíguo. A falta de recursos financeiros e profissionais capacitados é seu principal problema. A maioria é dependente do poder público. Nas Fazendas Históricas, a situação é um pouco diferente, mesmo porque o foco da visita é a história da propriedade contada pelo proprietário, que pode ser dividida em duas etapas: como se vivia e quem foram os proprietários da fazenda; e a segunda etapa, quando o atual proprietário a adquiriu e qual a experiência dele naquela fazenda. Esta característica de interpretação do patrimônio criou uma marca para cada fazenda, sem, no entanto, perder o foco da história. A história da maioria das fazendas em funcionamento é interpretada pelo próprio proprietário, com boa qualidade de informação (o suficiente). A maior parte das Casas de Fazendas que integram o rol do PRESERVALE são limpas, bem cuidadas e preparadas para receber o visitante. Algumas estão em estado precário de conservação precisando urgentemente de restauração. Quanto ao bom funcionamento da atividade turística ressaltamos como maiores problemas: a acessibilidade, as estradas de acesso (principalmente as estradas de terra), a sinalização e as telecomunicações (telefonia convencional/celular/internet). Gostaríamos de ressaltar a importância de capacitação para os proprietários que estão abrindo suas propriedades no momento, para que os mesmos possam adequar‐se aos padrões de qualidade esperados pelo setor turístico, levando em conta a profissionalização dos serviços, bem como a preservação do patrimônio.
7. Artesanato: Poucos são os artesãos em atividade comercial nas fazendas ou nos pontos de venda dos municípios cujo trabalho se identifica com a cultura e as histórias regionais; alguns até mesmo se enquadram como trabalhos de terapia ocupacional ou trabalhos manuais.
8. Site na Web: Quase todos os sites visitados, principalmente os institucionais não fazem qualquer referência à Região do Vale do Café. Alguns municípios sequer citam as fazendas abertas à visitação. Outros citam atrativos que nem existem mais, como é o caso do site da Prefeitura de Vassouras, que inclui a Fazenda do Pocinho como atrativo turístico quando a mesma foi demolida há mais de dez anos. Outros incluem atrativos aos quais os visitantes não têm acesso.
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9. Sinalização Turística: Tendo em vista as normas estabelecidas pelo “Guia Brasileiro de Sinalização Turística”, verificamos que a sinalização do Vale do Café se encontra aquém do desejado em uma região que busca o desenvolvimento sócioeconômico proporcionado por empreendimentos turísticos ordenados e sustentáveis. Encontramos as fazendas, alguns atrativos e as entradas dos municípios sinalizadas, porém não há sistematização no modelo adotado, tampouco padronização das placas existentes, o que pode provocar confusão e ruído na comunicação pretendida.
10. Patrimônio Histórico: Houve um avanço quando importantes sítios históricos como os da cidade de Valença, Vassouras e Conservatória foram tombados pelo poder público, em diferentes épocas e níveis administrativos. Foram criados dois escritórios técnicos: um do IPHAN, em Vassouras, e outro do INEPAC, em Valença. A demanda é grande e a falta de recursos é maior. Infelizmente os órgãos de patrimônio não conseguiram conter a ruína de importantes patrimônios como o Solar do Barão de Vassouras e o Asilo do Barão do Amparo, em Vassouras, e o Solar dos Nogueira e a Chácara Barcelos em Valença, apesar de seus esforços. A má fé e a falta de informação são os maiores inimigos do Patrimônio Histórico. O Patrimônio Rural é o que mais sofre e está desaparecendo aos poucos. Fazendas são demolidas ou descaracterizas na calada da noite. O IPHAN tombou em diferentes épocas as Fazendas Santa Mônica e Santa Eufrásia (esta em estado precário). O INEPAC tombou recentemente as Fazendas Ponte Alta, Ribeirão Frio, São Paulo, Santa Rita, Vista Alegre, Santo Antônio do Paiol, Maravilha, Santo André, São Luís da Boa Sorte, São Domingos, Espuma e Forquilha. Algumas dessas fazendas foram salvas da demolição e outras contempladas com as Leis de Incentivos Culturais para fins de restauração. O Patrimônio Ferroviário é imenso e, como as fazendas, também precisa de cuidados.
11. Terminais Rodoviários ou Estações Rodoviárias: “são estruturas onde ônibus urbanos ou interurbanos param para que passageiros embarquem ou desembarquem. Distinguem‐se da parada de ônibus pela sua maior dimensão e infraestruturas oferecidas aos usuários ‐ normalmente uma paragem é simplesmente um local na beira da estrada ou passeio ‐ e por frequentemente ser o local de início e término de carreiras” (Wikipédia). Constatamos que poucas cidades da região estão devidamente aparelhadas nos seus terminais rodoviários, salvo raras exceções, como as rodoviárias de Volta Redonda (melhor equipada), Barra Mansa e Valença, para o atendimento adequado aos viajantes. Banheiros imundos, guichês desorganizados, bancos e cadeiras quebrados (como em Vassouras) ou inexistentes, falta de informação e lanchonetes que não passariam pelo crivo de inspeção sanitária são alguns dos problemas encontrados. No caso de Paracambi, constatamos a total inexistência de um terminal rodoviário. Verificamos ainda que não há informações relativas às conexões dos municípios da região entre si.
Indicações:
Melhoria nas estradas e nos terminais rodoviários;
Sinalização indicativa de acessos ao Vale do Café;
Painéis informativos sobre conexões entre os municípios;
Postos de informações turísticas em pleno funcionamento;
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Qualificação do atendimento ao turista;
Qualificação de Guias Turísticos Regionais;
Conscientização e preparo das populações locais para interação efetiva com os turistas;
Plantio de café nas propriedades e criação de cafeterias especializadas em degustação.
Mão‐de‐Obra: Diagnóstico e Necessidades de Qualificação Profissional
1. Introdução
Com base nas visitas e informações levantadas na pesquisa realizada pela equipe do Projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café” foi possível identificar as carências existentes na formação de pessoas, bem como a potencial demanda que a própria região apresenta por profissionais qualificados, a fim de viabilizar o Vale do Café como uma alternativa econômica de desenvolvimento através do Turismo Cultural e Educacional.
2. Objetivos
Identificar as carências na formação de pessoas para atuar nos diferentes nichos do Turismo Cultural, a saber, na Hotelaria, no Atendimento ao Visitante, na área de serviços de alimentação, transportes, guiamento turístico, assim como nos Espaços de Memórias e Fazendas Históricas do Vale do Café;
Mapear as necessidades de profissionais no Vale do Café para maximizar o turismo local;
Reconhecer as mais apropriadas estratégias para capacitar e desenvolver pessoas para atender ao potencial do Vale do Café.
3. Diagnóstico da Mão‐de‐Obra no Vale do Café
A região do Vale do Café vem crescendo como destino turístico‐cultural para o mercado nacional e internacional. No entanto, as carências de mão‐de‐obra representam hoje um fator crítico, seja do ponto de vista dos negócios – que demandam pessoal minimamente qualificado – quanto das oportunidades de emprego e renda, pois as populações não dispõem de capacitação nos segmentos em demanda, criando um “gap” entre os empregos disponíveis e a possibilidade de ingresso do pessoal em busca de emprego.
No tocante aos serviços de recepcionista, garçom, cozinheiro e arrumadeira, segundo a Pesquisa Especial realizada pelo Projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”, encontra‐se oferta de posições e pouca ou nenhuma oportunidade de treinamento, a não ser aquele fornecido pelos empreendedores no estabelecimento de trabalho.
Da mesma forma, as pessoas ocupadas do guiamento de turistas, embora dispondo de curso de formação, enfrentam carências de qualificação que limitam sua inserção no mercado de trabalho.
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De acordo com o Relatório de Roteirização, apresentado pelos coordenadores do segmento no Projeto “Ações”, existe um Curso de Formação de Guias de Turismo em Valença, de nível médio (técnico), que funciona no Colégio Estadual Coronel Benjamim Guimarães, com a chancela do Ministério do Turismo, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
No entanto, a maioria dos profissionais formados não é absorvida pelo mercado de trabalho da região, devido à falta de qualificação profissional específica na temática histórica e cultural do Ciclo do Café, bem como pela falta de qualificação em idiomas estrangeiros, resultando que muitos decidem dedicar‐se a outro tipo de atividade.
De outro lado, os municípios, atrativos, museus, parques naturais, fazendas e hotéis vivem a falta de guiamento especializado na região como um fator extremamente limitante nos negócios.
Foi constatado que no último ano (2009), as universidades dessa região encerraram seus cursos de Turismo, com exceção da Universidade Severino Sombra, de Vassouras, o que resultará, certamente, em escassez de profissionais no Vale do Café.
O diagnóstico dos profissionais que atuam no Vale do Café revelou a seguinte situação:
3.1 – Profissionais de Guiamento e Receptivo de Turismo.
Os profissionais de guiamento possuem precária especialização, enquanto os envolvidos na recepção de turismo atuam sem formação, adquirindo algum conhecimento através de treinamento em serviço.
3.2 – Proprietários e Gestores de Fazendas, Museus e Espaços Culturais.
A grande maioria dos proprietários das fazendas atua como Monitores, uma vez que já conhecem a história da propriedade ou passaram a conhecer através de realização de pesquisa histórica. Alguns proprietários investem na formação de Monitores que ocorre no próprio local, com a socialização do conhecimento do proprietário para formar o Monitor que irá atuar junto aos visitantes.
Nos Museus e Espaços Culturais verificou‐se também que os responsáveis pela administração desses espaços, em sua maioria, não possuem formação específica na área, acarretando sua desvalorização, uma vez que inexistem formas adequadas de explorar o potencial existente. Foi constatada ausência de pessoal técnico para atuar nas áreas de conservação e de estudo das coleções existentes nos diversos Museus, bem como de profissionais capacitados em recepção e segurança.
É necessário destacar a dificuldade em obter profissionais especializados em obras de restauração das fazendas no Vale do Café, o que leva a importação de mão‐de‐obra de outros locais, como Tiradentes e Juiz de Fora.
3.3 – Pessoal de Hotelaria Rural.
Recepcionista, garçom, camareira entre outros profissionais de hotelaria apresentam pouca qualificação para atuar nos cargos, sem o profissionalismo necessário para assegurar o pleno atendimento dos visitantes.
3.4 – Profissionais de Campo.
A mão‐de‐obra local que atua nas Fazendas Históricas – horta, jardim, piscina, “peões” entre outros ‐ não está preparada para o turismo, com foco apenas nas tarefas relativas ao desempenho da sua função.