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AGRONEGÓCIO, A CADEIA
PRODUTIVA DA SOJA - UMA ANÁLISE
SOBRE A ÓTICA DO SISTEMA
AGROINDUSTRIAL E REFLEXÕES EM
RELAÇÃO À INTERNACIONALIZAÇÃO
DE EMPRESAS
Ronald Tavares Pires da Silva (UNISINOS)
sfalchetti@gmail.com
Sirlei Ana Falchetti (UNISINOS)
sfalchetti@gmail.com
O presente artigo refere-se a estudo sobre a Cadeia Produtiva da Soja
no mundo, com referência específica ao Brasil, verificando indicadores
da cultura do grão no Agronegócio no contexto mundial e nacional,
fazendo breve descrição sobre as análises na ótica do Sistema
Agroindustrial (SAG) com reflexões sobre a internacionalização desta
importante commodity da economia brasileira. Tem como objetivos
verificar o desenvolvimento do cultivo da soja em grãos (seu histórico
e importância econômica), seus produtos e subprodutos em termos de
índices de produtividade, de consumo, áreas de plantio e armazenagem
(estoque), dentro de estudos que discutem viés econômico em áreas
públicas e privadas. O estudo tem também como objetivo analisar
razões para o crescimento exponencial da produção da soja
mundialmente e o crescimento do seu uso para consumo humano, e
respectivo interrelacionamento com mercados globais. Para o quadro
teórico do estudo, inicialmente levanta-se alguns conceitos e teorias
sobre estudos que relatam a origem histórica da soja no convívio
humano como base alimentar, uso medicinal, chegando ao posto de
“grão sagrado” para efeitos religiosos na região asiática, entre outros
indícios. Na sequencia relata-se de forma breve a chegada e as
primeiras iniciativas agrícolas de cultivo da soja no Brasil, sua
evolução comercial ao longo do século XX, algumas características da
Cadeia Produtiva e o modelo “T” no Sistema Agroindustrial (SAG),
repassando elementos básicos sobre a Cadeia Global de Valor e suas
relações. Buscaram-se verificar em termos de literatura nacional,
modelos e tipificações para a Cadeia Produtiva da Soja brasileira,
base em indicadores do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento) e respectivas projeções para a soja. Verificaram-se
aspectos de biotecnologia que influenciam no contexto da Cadeia
Produtiva em sentidos jusante e montante. Ainda, a interrelação com o
processo de internacionalização das empresas, por autores que fazem
essa referência no Brasil e no mercado internacional, sob forma de
pesquisas empíricas que instigam formas de internacionalizar
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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mercados, suas razões, motivadores, relações interorganizacionais no
segmento e respectivas consequências em mercados globalizados,
verificando o desempenho estratégico das empresas em diferentes
indústrias. Como método optou-se por um estudo bibliográfico em
diferentes fontes, estabelecendo cruzamento de conceitos e teorias que
permitam a reflexão sobre a temática para fomentar trocas de
informações com outras investigações e estudos sobre práticas
nacionais e mundiais na produção da soja. Finalizando, o es
Palavras-chaves: Agronegócio, Internacionalização, Soja, Sistema
Agroindustrial
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1. Introdução
O presente estudo contempla um breve relato sobre a Cadeia Produtiva da Soja no mundo,
com referência específica ao Brasil, verificando indicadores da cultura do grão no
Agronegócio no contexto mundial e nacional. Visa verificar o desenvolvimento do cultivo da
soja em grãos, seus produtos e subprodutos em termos de índices de produtividade, de
consumo, áreas de plantio e armazenagem. Estes últimos estudos discutidos pelas economias
públicas e privados. Também objetiva-se analisar razões do crescimento exponencial da
produção da soja mundialmente e o crescimento do seu uso para consumo humano.
Para a Cadeia Produtiva tomou-se o modelo proposto e analisado por Zylbersztajn et. al.
(1997), conhecido na literatura por SAG (Sistema Agroindustrial), adotado por diversas
projeções do Agronegócio no Brasil, como no Resumo Executivo e Projeções 2017/2018,
organizado e editado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) de
2008, cujo foco está na divisão da Cadeia Produtiva da Soja por segmentos, nas quais ocorrem
transações chamadas de “T”, entre agentes e ambientes, que celebram questões das funções
contratuais nas relações agroindustriais.
Por fim, realizou-se uma breve análise sobre o processo de internacionalização das empresas,
a luz de autores nacionais e internacionais que pesquisam sobre formas, razões, motivações,
relações interorganizacionais e consequências de tal processo, dentro das economias
globalizadas e do desempenho estratégico das empresas em diferentes indústrias.
O proposto estudo desenvolve reflexões sobre a temática, não com a pretensão de plena
exploração, porém trazer ponderações iniciais que possibilitem aprofundamentos posteriores
sobre a Cadeia Produtiva da Soja e suas perspectivas além de fomentar possíveis trocas de
informações com outros pesquisadores, uma vez que diversas nações do mundo vêm
intensificando sua produção e seu consumo, em especial o Brasil, que já desponta como líder
nesse segmento.
2. Histórico da soja
O estudo sobre a procedência da soja apresenta diferentes versões sobre a origem, o que gera
divergências entre autores e pesquisadores. De maneira mais incisiva, parece ser a oleaginosa
oriunda da Ásia, especial na China, a mais aceitável pelas coincidências encontradas nos
registros. No entanto, quanto a sua introdução no mundo ocidental as divergências são
grandes e pouco conclusivas.
Para Hymowitz e Shurtleff (2005), a literatura histórica da soja e sua origem são repletas de
erros sobre fatos, datas e locais, pois as publicações que existem em sites na maioria não são
documentadas. Para tanto, os autores, fazem um resgate sobre o histórico da soja dividido em
“sete mitos/lendas” a considerar, resumidamente: Mito 1 - Em 1765, Samuel Bowen apresenta
“ervilhaca Chinês” (de soja) na Colônia de Geórgia. Ele obteve sementes do grão na China
(tese essa apresentada em pesquisa anterior realizada também por Hymowitz e Harlan, em
1983); Mito 2 – Em 1804, um veleiro Yankee Clipper Ship trás em seus porões algumas sacas
de soja, como suprimento reserva da costa da China, primeiro registro de ingresso do grão nos
Estados Unidos; Mito 3 – Benjamin Franklin, na França, como embaixador e membro da
academia de Ciências, envia para os Estados Unidos (1770) ao amigo John Bartram, na
Filadélfia, algumas sementes secas de soja que ele chamou de “Caravances chinês”; Mito 4 –
George Washington Carver (1901 e 1937) faz duas publicações falando sobre a soja e seu
cultivo, porém com vários equívocos e confusões relacionadas ao cultivo do feijão, talvez a
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teoria da origem mais desastrosa; Mito 5 – William J. Morse pesquisou sobre a soja na USDA
(United States Department of Agriculture) de 1907 até 1949, suas pesquisas mostram que a
soja é cultivada há mais de 5.000 anos em países como China e Japão, porém se contrapõe aos
estudos do Prof. Dr. Ping Ho (China) que estimou o cultivo da soja desde o século XI (a.C);
Mito 6 – Segundo Morse e Cartter (1937), sugeriram que a soja é uma das primeiras plantas
cultivadas pelo homem. Porém estudos posteriores revelaram que existe mais de 30 culturas
que são anteriores ao cultivo da soja, como arroz, milheto, trigo, feijão comum, abóbora, fava,
Pimenta do Chile, entre outras; Mito 7 – Morse publicou no ano de 1950 estudos que
apontavam que o imperador Shennong (China), 2.838 a. C. foi o primeiro a descrever a soja
como planta medicinal em seus escritos e receituários. Ele ficou conhecido como pai da
Agricultura, pois ensinou seus súditos e semear a planta. No entanto, estudos arqueológicos
na China podem desmentir essa tese (HYMOWITZ e SHURTLEFF, 2005, p. 475).
A soja, ou Glycine Max Merr (nome cientifico. GÓES - FAVONI et al, 2004), segundo
registros teve sua origem na costa leste da Ásia, ao longo do Rio Amarelo na China. Para a
antiga civilização Chinesa consistia em importante dieta alimentar chegando a ser considerada
como “grão sagrado”, com direito a rituais específicos no plantio e colheita. Explorada no
Oriente há mais de cinco mil anos, porém no Ocidente somente teve cultivo a partir da
segunda década do século XX, iniciada pelos Estados Unidos no ano de 1940 (EMBRAPA,
2003; FERNÁNDEZ, 2007; KLAUS, 2005).
Já no século XVII, o grão se espalha para países como Japão, Malásia, Índia. Nesses países,
sua utilização se voltava para alimentação humana. Como forrageira, nos Estados Unidos
atinge seu auge em 1940, chegando à marca de dois milhões de hectares plantados
(FERNÁNDEZ, 2007).
3. Soja no Brasil
A soja chegou ao Brasil vindo dos Estados Unidos, no início do século XX, através das
pesquisas do professor Gustavo Dutra (1892) da Escola de Agronomia da Bahia.
Posteriormente à sua pesquisa, o Instituto Agronômico de Campinas (SP) realizou outras
adaptações e aprofundamentos da pesquisa do professor Dutra. Inicialmente o uso no Brasil
foi direcionado exclusivamente para forragens e consumo de animais, nessa época ainda
distante do uso industrial. Por volta de 1930, imigrantes japoneses vindos para o Brasil
trouxeram sementes na bagagem e iniciaram o cultivo no interior de São Paulo. Porém o
primeiro registro de cultivo intenso da soja foi na região Sul, no Estado do Rio Grande do Sul,
município de Santa Rosa, pela similaridade climática com a origem na região sul dos Estados
Unidos (HASSE, 1996; EMBRAPA, 2003).
Segundo Christensen (2004), o cultivo da soja intensificou-se no interior do Rio Grande do
Sul, onde o comerciante Frederico Orteman, de Santo Ângelo, exportou em 1938 três mil
sacos de soja para a Alemanha, despertando o interesse de exportadores e industriários.
Apesar não haver relatos oficiais talvez essa tenha sido a primeira operação de
internacionalização da soja no Brasil. Observa-se, pelas pesquisas apresentadas, que já
naquela época existiam ações empreendedoras para a internacionalização de negócios, em
especial a soja, que anos depois veio a ser destaque nesse segmento.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, intensificaram-se no Brasil as industrializações e
exportações. Cresce o consumo de óleo vegetal o que aumenta o cultivo da soja. O Rio
Grande do Sul, por exemplo, passou de 650 hectares nos anos 40 para 600 mil hectares na
década de 70 (CHRISTENSEN, 2004).
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A soja consolidou-se como cultura no Agronegócio brasileiro a partir dos anos 70, passando
de 1,5 milhões de toneladas no ano de 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979
(EMBRAPA, 2003). Esse crescimento foi associado a dois fatores, não somente aumento da
área cultivada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas também crescimento de produtividade
(1,14 para 1,73 t/ha), devido a novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela
pesquisa brasileira. Destaca-se mais de 80% continuava até os anos 80 concentrada nos
estados da região Sul. A partir dos anos 90 a produção do centro oeste brasileiro atingiu 20%
do montante nacional e em 2000 atingiu mais de 60%. Em especial o Estado de Mato Grosso,
líder no Brasil atualmente (EMBRAPA, 2003; IBGE, 2010).
4. Panorama de Comercialização da Soja no Mundo e no Brasil
Com o propósito de verificar a realidade atual e projetar expectativas do Agronegócio
brasileiro, o MAPA organizou em 2008, em parceria com diversas instituições nacionais e
internacionais, um Resumo Executivo e um Relatório de Projeções do Agronegócio Mundial e
no Brasil 2006/2007 a 2017/2018. Tal documento teve finalidade de projetar tecnicamente o
crescimento das atividades do Agronegócio, para ajudar o desenvolvimento das atividades
deste segmento, junto a entidades públicas e privadas auxiliando na geração de emprego e
renda e na solução de problemas sobre a alimentação humana e sustentabilidade.
O documento adota o modelo da cadeia Produtiva da Soja como importante atividade do
Agronegócio brasileiro, definida por Zylbersztajn e Farina (1997) como SAG (Sistema
Agroindustrial), desde a fabricação de insumos, passando pela produção agropecuária,
transformação e até o consumo final. A estrutura da cadeia produtiva e suas
transformações/evoluções estão descritas no presente estudo.
Podem-se observar, na Tabela 1, os indicadores de produção, consumo e armazenagem
(estoque) da soja a nível mundial. Nesse período, o cenário Mundial do Agronegócio sofreu
mudanças significativas em termos de regimes econômicos, mudanças culturais, sociais,
inovações tecnológicas de produção, como a Biotecnologia (processo tecnológico que permite
a utilização de material biológico de plantas e animais para fins industriais. ALTIERI, 2002).
Ainda mudanças em hábitos de consumo, com impactos nos Sistemas Agroindustriais
Brasileiros (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO, 1997), e observados também os
períodos mais recentes pesquisados (2005/2006 e 2007/2008) por ser base para as projeções
(2017/2018). Consideraram-se os totais da tabela original (MAPA, 2008) quanto às taxas de
crescimento anual em percentual (%), importantes nessa análise.
Na relação produção mundial, consumo mundial e armazenagem (estoque mundial), as
culturas do algodão e soja apresentam crescimento na taxa anual: 4.43% - algodão e 4.46%,
4.80%, 5.15% - soja, para produção mundial. Em relação ao consumo mundial, observa-se
4.61% algodão, 4.63%, 4.65% e 5.31% - soja e armazenagem mundial 1.60% – algodão, 8,5%
soja grão e – 0.01 – soja farelo e – 1.52% óleo. É importante destacar que os valores da
armazenagem mundial são negativos. No caso do milho e arroz, o crescimento da produção
anual mundial, em termos percentuais, não é tão expressivo (Milho 3.33% e Arroz 0.67%)
sendo que a relação com o consumo mundial se mantém relativamente proporcional (Milho
3.06% e Arroz 0.76%). Porém quanto à armazenagem (estoque) essas culturas apresentam os
maiores déficits no estudo (Milho – 6.88% e Arroz – 9.97%), também valores negativos.
A produção brasileira agrícola e pecuária aumentará nos próximos 10 anos, segundo projeções
do MAPA, até 25%. Foram analisadas 18 commodities. Como conclusão existe um maior
potencial de crescimento para a realidade do Brasil que está ligada as culturas da soja, trigo,
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milho, carne bovina, frango, etanol de soja e leite. A produção de grãos irá se expandir em 40
milhões de toneladas métricas. Dos 140 em 2007/2008 para 180 em 2018/2019, um aumento
de 29%. A produção animal vai saltar dos 12,5 milhões de toneladas métricas para 37, com
aumento de 52%. Tais projeções levaram em consideração os reflexos da crise financeira
mundial vivida em 2008/2009, oriunda dos Estados Unidos (USDA/FAO 2008).
Produção Mundial – Em Milhões de Toneladas
Produtos Selecionados
Ano/Período Algodão
Puma
Arroz Milho Soja
Grão
Farelo
Soja
Óleo
Soja
Trigo
1999/2000 19.1 408.8 607.5 160.6 107.0 24.5 588.8
2002/2003 19.3 377.5 603.0 196.8 130.4 30.6 567.8
2005/2006 26.1 401.0 714.8 215.7 138.7 32.5 628.0
2007/2008 25.2 420.8 777.1 222.1 160.4 37.6 612.3
Taxa
Crescimento
Anual (%)
4.43 0.67 3.33 4.46 4.80 5.15 0.79
Consumo Mundial – Em Milhões de Toneladas
1999/2000 19.8 398.0 604.9 159.6 108.8 24.0 585.0
2002/2003 21.4 407.3 627.7 191.6 130.5 30.2 603.7
2005/2006 25.3 415.8 704.1 215.0 145.7 33.6 624.5
2007/2008 27.7 424.4 769.7 234.2 159.4 37.6 619.9
Taxa
Crescimento
Anual (%)
4.61 0.76 3.06 4.63 4.65 5.31 0.91
Estoque Mundial de Grãos – Em Milhões de Toneladas
1999/2000 10.9 145.1 192.9 30.9 5.4 2.7 208.9
2002/2003 9.9 103.6 125.6 43.6 5.5 2.7 165.7
2005/2006 12.6 77.3 122.8 54.0 5.1 2.9 149.2
2007/2008 11.1 72.0 108.4 51.9 5.4 2.3 116.6
Taxa
Crescimento
Anual (%)
1.60 -9.97 -6.88 8.5 -0.01 -1.52 -7.32
Fonte: CONAB – MAPA. Assessoria de Gestão Estratégica, 2008, p.6.
NOTA: Adaptado da Projeção 2017/2018 (MAPA/CONAB 2008 – IBGE), envolvendo projeções realizadas no
período 1999/2008, onde se considerou os períodos iniciais (1999/2000 e 2002/2003)
Tabela 1 - Produção Mundial de Soja em Milhões de Toneladas
Há previsões que apontam que o Brasil deverá reforçar sua liderança como exportadora
mundial agrícola. A exportação da carne bovina deverá crescer 93%. O país terá um grande
aumento no consumo doméstico em grãos previsto de 20%, com significância ao consumo
alimentar humano (USDA/FAO 2008). Uma das dificuldades do Brasil em relação a essa
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grande expansão projetada, em particular para produção de grãos, estará ligada ao
desenvolvimento da Biotecnologia, em consequência necessidade de maior rigor quanto à
infra-estrutura para classificação e separação de grandes volumes, isto é, capacidade de
armazenagem (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO 1997).
No Brasil, o PIB (Produto Interno Bruto), vem recebendo incrementos expressivos por parte
do Agronegócio, este estimado em R$ 102,4 bilhões ano, participando com 7,8% do PIB, isto
é, a cada R$1,00 gerado dentro da porteira das propriedades agropecuárias, existe um efeito
multiplicador de R$ 2,50 de renda nos demais setores da economia, indústria de insumos,
processamento de produtos, entre outros serviços. Para se ter uma ideia, em 1995, na região
centro-oeste, somava-se 242.436 estabelecimentos em atividades agropecuárias. Em 2006
atingiram 319.954, com uma área referente à 100.071.723 hectares, segundo Censo
Agropecuário do IBGE/2006.
Retirado do documento Resumo Executivo (MAPA, 2008), a Figura 1 mostra visão
prospectiva do Agronegócio Mundial e Brasil, com Distribuição da Produção Mundial de soja
em percentuais, das safras 2007/2008 e a projeção 2017 e 2018.
Fonte: Resumo Executivo – Projeções Agronegócio (MAPA, Janeiro 2008, p. 1).
Figura 1. Projeções Agronegócio Mundial 2007/2018
Observando a Figura 1, em 2007/2008 a Produção de Brasil e Argentina somados (26.8%
Brasil + 19.4% Argentina) perfaziam um total em toneladas produzidas igual a 46.2%. Os
Estados Unidos totalizam 35% para mesmo período. Pela projeção 2017/2018 somente o
Brasil já totalizará 33.1% (da produção mundial da soja), isto é, praticamente três pontos
percentuais acima dos Estados Unidos. E se for somado o total de produção da Argentina,
esse total será 52.2% da produção da soja, concentrado na América do Sul.
5. Cadeia Produtiva da Soja no Brasil – Modelo SAG - Zylbersztajn, Lazzarini e Filho
No contexto das atividades econômicas alguns fatores podem influenciar o processo da cadeia
produtiva. O presente item traz algumas considerações sobre a Cadeia Produtiva da Soja, em
especial o modelo de SGA (Sistema Agroindustrial) desenvolvido por Zylbersztajn, Lazzarini
e Filho (1997), em seu artigo: “Perspectives of the application of Biotechnology on the
Brazilian Agroindustrial System: The case of Round up Ready Soya” – Perspectivas e
aplicações da Biotecnologia no Sistema Agroindustrial Brasileiro: a volta por cima da soja.
Argentina
19.4%
Outros 10.7%
8
Ainda, relacionar com algumas reflexões de autores que estudam a internacionalização das
empresas.
Como discussão inicial foi estabelecido alguns entendimentos sobre os conceitos de Cadeias
Globais de Valor (GVC), ligadas aos padrões de Governança (centra-se na estrutura de
governança e o quadro institucional no qual a produção e vendas globais são internacionais.
Governança, no GVC, é definida como determinadas empresas medem e fazem cumprir as
normas, segundo as quais os outros vão operar ao longo da cadeia. GEREFFI et al., 2005).
Tudo isso inspirado em três vertentes da literatura: custos de transação, redes de produção e
capacidade tecnológica e de aprendizagem, para determinar as variáveis que regem as
mudanças nas cadeias globais: 1. Complexidade das operações; 2. Capacidade de codificar as
transações; 3. Capacidade base de oferta. Essa teoria gera cinco tipos de governança na cadeia
global de valor: hierarquia, cativeiro, relacional, modular e de mercado, que apresentam
diferentes níveis de coordenação e poder, segundo Gereffi et. al. (2005). Os autores comentam
que para o mercado internacional a organização industrial necessita estar contida na noção de
“cadeia de valor acrescentada”, centradas sobre as estratégias empresariais e de países na
economia global. “Cadeia de Valor Acrescentada” combina tecnologia, materiais e insumos
de trabalho e insumos que são transformados, montados, comercializados e distribuídos, isto
é, uma única empresa pode ser linck (estar relacionada) nesse processo, ou estar verticalmente
integrada (KOGUT, citado por GEREFFI et. al, 2005). A questão principal é definir quais
atividades e tecnologias uma empresa mantém em casa (doméstico) ou deve terceirizar para
outras empresas.
Para a Cadeia Produtiva da Soja, percebe-se que a condição de Cadeia de Valor Global
(GVC) estudada por Gereffi está ligada a aplicação no SAG. No modelo SAG de
Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997), que são interligadas pelas relações entre agentes,
atores, áreas de tecnologias, materiais, distribuição e relações econômicas, que do ponto de
vista da (GVC) é citada quanto aos processos e necessidades de P&D (Pesquisa e
Desenvolvimento), biotecnologia, direitos de propriedades de produtos diferentes entre outras
questões de abrangência dos ambientes interno e externo ao longo do SAG.
Seguindo exemplos de Estados Unidos, China e Argentina entre os maiores produtores
mundiais de soja, o Brasil tem no Agronegócio uma das maiores expansões econômicas nas
últimas décadas. Evidentemente que dominado por empresas transnacionais Souza (2007
p.56), diz: “Apenas dez transnacionais têm o controle do monopólico das principais atividades
agrícolas do país. São elas: Bunge, Cargill, Monsanto, Nestlé, Danone, Basf, ADM, Bayer,
Sygenta e Norvartis”. Esse registro remete a observar a realidade de modelos das cadeias
produtivas de soja instaladas no Brasil, na sua maioria, no domínio de países estrangeiros, traz
razões culturais, econômicas e sociais diferentes, que devem prevalecer na condição de
liderança bem como em características próprias de (GVC).
A estrutura do Sistema Agroindustrial (SAG) - Cadeia Produtiva da Soja no Brasil no modelo
de Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997) foi dividida em segmentos: a) Indústria de insumos
agrícolas; b) Produção; c) Cedentes/Originadores; d) Trituradores/Esmagadoras/Refinamento;
e) Indústria de produtores de derivados de petróleo; f) Distribuição e g) Consumidor Final.
Nesse estudo apresenta-se cada um dos segmentos e respectiva estrutura, indicando suas
transações pela letra “T”, conforme sugerido pelos autores, para indicar movimentos e
mudanças ao longo da cadeia:
a) Indústria de insumos agrícolas – produz mercadorias para uma mesma indústria que
produzirá para diferentes sistemas produtivos. Indústrias de fertilizantes, pesticidas,
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maquinário, indústrias de sementes que tem impacto pela biotecnologia que é diretamente
relacionada com a produção agrícola;
b) Produção (processo agrícola) – segmento agrícola propriamente dito visto para “trás”
(indústria de insumos) e para “frente” (indústria de esmagamento), incluindo as tradings
(agentes de comercialização independentes), cooperativas, e outros intermediários como
corretores e armazenamento;
c) Cedentes/Originadores – composta por tradings (T3), cooperativas (T4), corretoras e
armazenadores (T5), contato direto com os produtores no processo de aquisição,
armazenagem e distribuição da soja como matéria prima. Na maioria dos casos trata-se de
fase vertical e integrada ao Esmagamento (T8), com empresas privadas atuando, conforme
observado na Figura 1. Envolve Mercado Externo (T9); Ainda podem retornar aos cedentes
pelas indústrias de esmagamentos e Cooperativas (T7) e (T6) em forma de vendas
internacionais. Muitas dessas organizações através dos Corretores/Armazenadores atuam
com contratos (relações contratuais formais e acordos de cooperação informais de longo prazo
se estabelecem entre os agricultores, os fornecedores de insumos, os traders, as firmas
processadoras, e ainda com os supermercados e sistema de distribuição de produtos), e
subcontratos para indústrias de esmagamento ou tradings, que são originários do segmento de
Produção para venda (T5), ilustrados na Figura 2; Importante observar que na representação
da Figura 1, considera regiões do Brasil tradicionais, como Sul e Sudeste e também o
processo para novas regiões em expansão como, região Centro Oeste, maior produtor de Soja
no país em 2008 (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO, 1997; Censo Agropecuário
IBGE);
d) Trituradores/Esmagadoras/Refinamento – segmento concentra atividades de processamento
da soja em seus principais produtos. Cada tonelada de soja produz aproximadamente 0.78 t
(780 Kg) de farelo de soja e 0.19 t (190 Kg) de óleo; Parte do farelo é exportada via tradings
(T17), ou por seus departamentos comerciais internos. O modelo de transação (T11) indicado
na Figura 2 demonstra importação de soja no regime draw back (restituição de impostos
aduaneiros pagos sobre a importação de matérias-primas no momento da exportação dos
produtos que elas serviram para fabricar). O restante é vendido para a indústria de alimentos
de origem animal (T12), muitas vezes integradas com a indústria de carnes e em certos casos
volta para indústria de processamento de soja; O óleo é processado nas fases de esmagamento,
extração de goma e refino, este pode ser transformado por hidrogenação em produtos como:
margarina, maionese e gorduras vegetais que são mais elaborados, geralmente esses com o
óleo refinado destinam-se mais ao mercado interno, via distribuidores (T17);
e) Indústria de Produtores e derivados de petróleo – as empresas podem estar presentes em
todas as etapas já apresentadas, assim a transação (T10), indicada na Figura1, ocorre de forma
interna (integração vertical), podendo direcionar os produtos para transformação em outras
indústrias (exemplo Leticina de Soja - obtidos a partir de fosfolipídios de óleo - para o
chocolate, margarina, biscoitos, suplementos alimentares) (T15), destaca-se indústria de
alimentos, química e ou farmacêuticas;
f) Distribuição – atacadistas e varejistas que operam com outros produtos que utilizam
mesmos canais de distribuição; Fazem uma ligação entre a indústria de esmagamento de soja
e derivados (T17) e consumidores finais (T18), indiretamente, recebendo outros produtos de
soja por meio da alimentação animal/indústria de carnes (T14) e indústrias em geral (T16);
g) Consumidor Final – inclui compradores industriais nas vendas externas de tradings e
indústrias de processamento;
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Importante destacar que no SAG, para Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997), entender que
materiais modificados pela Biotecnologia, que objetivam aumentar produtividade agrícola não
estão voltados a diferenciação da soja através de atributos qualitativos somente, mesmo
considerando aspectos ligados a esse particular, apesar de garantirem a origem do produto,
apesar de restrições de alguns consumidores. Nesse estudo não se aprofundou tal discussão,
porém é evidente sua influencia no processo da SAG e consequentemente GVC.
Importante verificar o Controle/Coordenação no SAG, interrelacionados com GVC. Os
autores afirmam que o correto controle poderá garantir adequação de investimentos em P&D
por empresas de Biotecnologia ao longo da SAG. As transformações T3, T4 e T5 (Figura 2),
para corretores, cooperativas e Tradings relacionadas com a transação T2, envolvem
produtores agrícolas (processo de produção) aos trituradores/esmagadores, e ainda as relações
em T9 (mercado internacional), são cruciais para questões de Controles, pois envolvem no T9
mercado estrangeiro em dois sentidos com dois segmentos diferentes do SAG, porém
diretamente ligados, podendo até comprometer o processo da (SAG) como um todo (observar
T9 e T11 na Figura 2).
Processo de Produção (T2)
Indústria
de Insumos
Agrícolas Cedentes
(Originador) Trituradores
Refinadores
Indústria
Petróleo e
derivados
Distribuição
Sementes
Fertilizantes
Pesticidas
Maquinas
Outros
(T1)
Regiões
Tradicionais
(Sul/Sudeste)
Regiões
Novas
Armazenagem,
(T5)
Corretores
(T4)
Cooperativa
(T3)
Tradings
(T6)
- Esmagadoras
(T8) e
Refinarias
- Empresas
Privadas
- Cooperativas
(T7)
(T10)
(T9)
(T15)
(T11)
(T13)
Indústria
De Carnes
11
Fonte: Adaptado de Lazzarini, S.G. & Nunes, R. Competitividade do Sistema Agroindustrial da Soja
(Competitiveness of the agroindustrial Soy System). IPEA/PENSA - USP, 1998.
Figura 2. Estrutura SGA (Sistema Agroindustrial Brasileiro)
6. Internacionalização
Internacionalização vem sendo discutida por pesquisadores das organizações devido ao
cenário competitivo e necessidade de sobrevivência para empresas em diferentes segmentos
econômicos, independente do porte da organização. Uma empresa deverá buscar suas
vantagens comparativas (Teoria das Vantagens Comparativas define que os países devem
especializar-se na produção daqueles bens com maior eficiência. DAVID RICARDO, 1817,
citado por PORTER, 1999), e suas praticas de exportação podem estar relacionadas em
diferentes intensidades e modelos de internacionalizar seus negócios (NEGRI, 2003).
Fernandez e Nieto (2005), citados por Dal Corso, Fumagalli e Silva (2009), comentam que a
internacionalização é um processo estratégico complexo de adoção pela empresa. É também
buscar por mercados internacionais repletos com fatores internos, externos e competitivos,
que podem gerar incentivos ou inibição, cuja iniciativa deve partir da alta direção da empresa.
A internacionalização consiste na discussão do desenvolvimento das empresas, dentro do
contexto da importância destas para economia mundial nas questões econômicas e sociais, a
partir de pressupostos de que primeiro elas desenvolvem-se nos seus mercados domésticos e a
internacionalização é consequencia de decisões incrementais. Destaca-se que os obstáculos de
maior importância são a falta de conhecimento e de recursos. Existe também um ponto de
vista de que as empresas começam a vender no exterior inicialmente por meio de
representantes independentes, com menores investimentos de recursos do que estabelecer
filiais de vendas ou plantas de produção (JOHANSON e PAUL, 1975, p. 306).
Johanson e Paul (1975) identificam quatro estágios para o desenvolvimento de operações
estrangeiras: atividades e exportação regulares; exportação via representantes independentes;
filial de vendas e planta de produção. Estabelecendo-se uma relação entre o estudo sobre a
Cadeia Produtiva da Soja no Brasil e os quatro estágios propostos por Johanson e Paul (1975),
observa-se a falta de conhecimento e recursos, a complexidade do processo internacional e
aspectos internos de mercado e do ambiente externo para o desenvolvimento de atividades
estrangeiras.
Vale ressaltar o trabalho de Rocha (2002), sobre a “Internacionalização das empresas
brasileiras: estudo de gestão internacional” e a pesquisa Survey: “Estratégias Competitivas e
Competências Essenciais – perspectiva para a Internacionalização da indústria no Brasil” de
Fleury e Fleury (2003). O estudo de Rocha discute sobre por que as empresas brasileiras não
internacionalizam seus negócios, apontando algumas causas ligadas a questões da economia e
política do Brasil e sua evolução histórica. Considera três fatores principais para tais
dificuldades: Geográficos, Ambientais Culturais e Motivacionais. Para o autor as questões
Geográficas, entre outros se relaciona a questões dimensionais do Brasil, país continental em
seu território, muita distância dos centros comerciais mundiais e aos principais escoamentos
de produção (Europa, Ásia e Costa do Pacifico), isolamento lingüístico, língua Portuguesa.
- Atacadista
- Varejo
(T17)
- Interação
com mercado
(relacionamento)
(T14)
(T16) (T16)
Mercado
Externo
(T12)
Indústria
Alimentícia
Outras
Indústrias:
Alimentos
Química
Farmacêutica
Consumidor
(T18)
Interno
12
Somado a poucas linhas áreas e marítimas que são ofertadas no Brasil, que poderiam fazer
ligações a centros maiores mercantis de âmbito Global (ROCHA, 2002, 2004).
Como fatores ambientais, Rocha diz que os empresários brasileiros são abertos a propostas de
internacionalização. O processo de multinacionalização das empresas se intensificou no Brasil
a partir dos anos 90; existe certa resistência pelas empresas em trocar mercados cativos já
conhecidos pelos estrangeiros; a história empresarial brasileira revela que somente em alguns
momentos políticos e econômicos ouve clima favorável para exportações; a influência de
fatores culturais, distâncias psicológicas entre brasileiros em relação a outros povos do
mundo.
Para os fatores motivacionais, Rocha elege cinco categorias sobre os empresários: conquistar
novos mercados, consolidar clientes no exterior, sobrevivência da empresa, novas
oportunidades e intenções estratégicas. Salienta que em todos eles prevalece a vontade
pessoal, iniciativa e interesse do empresário, atrelada a ideia de exportar, influência
governamental que facilite ou estimula o processo. E ainda toda a questão dos fatores
Geográficos e Ambientais combinada ou isoladamente.
Ressaltando as literaturas até aqui analisadas, em nível internacional, os fatores para
internacionalização (ligados a ambiente das empresas, questões geográficos e motivacionais e
recursos) são bastante similares, se comparados as carências das empresas no Brasil. Porém
nossa realidade possui peculiaridades que merecem estudos aprofundados em diversos
segmentos da economia inclusive se comparados a estruturação das empresas no modelo
SAG. Rocha (2002), informa que o volume das transações das empresas brasileiras com
estrangeiras tem volume de 70% das exportações, concentrado em 2% das empresas somente,
em sua maioria empresas de grande porte.
A pesquisa de Fleury e Fleury (2003) teve foco nas perspectivas de internacionalização das
empresas no Brasil, em função de estratégias competitivas e competências essenciais.
Utilizando-se do método Survey, foram pesquisadas indústrias brasileiras em relação ao seu
contexto de internacionalização e relações interorganizacionais, discutindo-se processo de
internacionalização, modelos adotados, articulação de subsidiárias em redes internacionais,
competitividade das empresas, competências organizacionais para internacionalizar seus
negócios. O estudo foi realizado com 1600 questionários em 1999, com 470 respostas
qualificadas, permitindo medir panorama da articulação da indústria local no contexto
internacional, além de perceber a indústria globalizada com foco no Brasil (FLEURY e
FLEURY, 2003, p. 138).
Resumidamente, com base nos resultados obtidos, pode-se ponderar que existe processo
dinâmico de reestruturação das empresas no Brasil (já acontecendo em vários setores – o
modelo SAG), onde existe potencial para internacionalizar negócios em redes internacionais
de empresas, porém com registro de carência de aperfeiçoar competências e necessidade de
compreender processos de reestruturação do tecido industrial brasileiro para adequar-se a
modelos internacionais. Esse poderá ser um desafio tendo vista razões culturais, econômicas
sociais que são peculiares as nossas empresas ainda em parte nos modelos familiares de
gestão (FLEURY e FLEURY, 2003, p. 143).
Para Dal Corso, Fumagalli e Silva (2009, p.306) citando Vernon (1966), a expansão
internacional trata-se de processo gradual que se fundamenta no ciclo de vida internacional de
produto. O modelo de Vernon ressalta o papel da internacionalização com importância a
redução de custos e no atendimento de demandas globais mitigadas. Este parecer de Vernon
13
demonstra a necessidade de entender e controlar as transações e mudanças das organizações
no SAG, no modelo de Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997).
Cabe ressaltar que a internacionalização das empresas no Brasil, conforme citam Hilal e
Hemais (2003), deve-se a conceitos seminais do Modelo da Escola Nórdica, conhecida como
Escola de Uppsala de Hörnell, Vahlne e Wiedersheim-Paul (1973), Johanson e Wiedersheim-
Paul (1974), Johanson e Vahlne (1977, 1990), os quais realizaram estudos sobre
internacionalização de indústrias suecas manufatureiras, usando como referência estudos de
Cyert e March (1963), de Aharoni (1966) e de Penrose (1995). Carlson (1975) também citado
por Hilal e Hemais, afirmava que tal processo ocorria (por exportações ou investimentos
diretos - FDI) como consequência de seu crescimento. Segundo os autores, quando o mercado
doméstico (interno) começa a saturar, ou seja, há maior oferta que demanda, as oportunidades
da empresa auferir lucros se reduzem e se realmente quer manter seu crescimento, precisa
buscar novos nichos e uma probabilidade de expandir, quando a vertical não é mais possível,
ou está comprometida, é a expansão geográfica. Dessa maneira, dizem os autores, a
internacionalização é uma sequência natural, não planejada, para o crescimento da
organização.
7. Considerações Finais
Este estudo destaca algumas breves alternativas a respeito da complexidade que o
Agronegócio e a Cadeia Produtiva da Soja assumiram no cenário econômico mundial e,
especificamente no Brasil, nas últimas décadas. Como no exemplo apresentado do modelo
SAG (Sistema Agroindustrial) brasileiro, mostrou-se compatível e utilizável em relação aos
aspectos da Cadeia Global de Valor (GVC), apesar da necessidade de observarem-se
diferenças existentes nas empresas quanto a questões culturais, ambientais e socioeconômicas.
O Brasil na condição de emergente maior produtor da soja no mundo necessita desenvolver
rapidamente suas competências, vantagens comparativas e competitivas no mercado
doméstico de forma imediata, através de investimentos, desenvolvimento de novos estudos e
pesquisas, e diríamos contribuir significativamente para a formação de profissionais
qualificados voltados ao Agronegócio, bem como não distanciar-se das tendências,
adaptações e conhecimentos dos mercados internacionais e suas realidades. Isso somado a um
compromisso entre entidades governamentais, privadas, sem fins lucrativos e instituições
produtoras de conhecimento.
Também se percebe que o processo de internacionalização das empresas, nos países
desenvolvidos tem essa temática já estudada e pesquisada, de forma pragmática e constante,
onde modelos e teorias têm sua comprovação estabelecida. No caso da realidade das empresas
no Brasil, que almejam esse modelo de negociação existe um grande potencial e uma lacuna
para futuros estudos e pesquisas que permitam adequações da realidade e condições
socioeconômicas brasileiras, num contexto globalizado de produzir, comercializar e consumir
a soja e seus subprodutos, que ainda são incipientes em nossa economia, apesar do grande
volume de produção na forma de commodity.
O estudo constitui-se como um ensaio teórico, no qual se fez uma breve investigação de
teorias sobre a comercialização e a Cadeia Produtiva da Soja e seu contexto em mercados
globalizados, o qual requer maiores aprofundamentos, por meio de pesquisas e estudos que
contribuam com adequação a realidade das organizações do Brasil com o mundo.
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