Post on 10-Jan-2020
APRENDIZAGENS DA DOCÊNCIA:
Múltiplos saberes.
Betania Leite Ramalho/ UFRN
DEPED - COMPERVE
UFRN – PROGRAD/Curso PAP
Natal, 2009
O que acontece quando o professor (universitário) ensina?
Que recursos os professores mobilizam para instruir e ensinar?
O que é preciso saber o docente para ensinar nos contextos atuais?
Quais são os saberes, conhecimentos, competências, habilidades, estratégias de ensino-aprendizagem e maneiras de atuar que os professores precisam mobilizar em suas salas de aula?
Questões Provocativas:
A relação entre quem ensina e quem
aprende e os inúmeros fatores que
envolvem essa complexa relação
parecem estar sempre obscuros ou
mesmo pouco revelados;
Esse é um tema ainda muito silenciado.
Pouco se investiu nessa discussão e
mesmo na formação didático-pedagógica
dos docentes iniciantes ou veteranos.
No contexto do ensino Universitário....temos a
seguinte Problemática:
A UFRN, inicia uma política para romper esse silêncio: (PDI (1999-2008) e do Plano de Ação do período 2003-2007);
No entanto, a dimensão do ENSINO continua com baixo reconhecimento acadêmico: ganha a menor pontuação em termos do esforço docente/discente quando comparado com a pesquisa, a publicação científica...
O Ensino na Graduação também conta com menor prestígio ao se comparar com a Pós-Graduação.
Considerando que para o exercício da docência não basta conhecer o conteúdo, ter talento, ter bom senso, ter cultura, seguir a intuição, ter experiência, (Gauthier, 1988).... ou passar num concurso para uma vaga de professor, assinar um contrato e aí permanecer até que chegue a aposentadoria....
Concebendo a formação docente como o processo permanente de aquisição, estruturação e reestruturação de conhecimentos, habilidades e valores para o desempenho da função docente...
Podemos concordar que o trabalho do ensino, como as demais profissões, exige uma Base de Conhecimentos e Saberes Profissionais...
Portanto...
...o trabalho do ensino é uma atividade que exige do docente relacionar-se bem com os Saberes da Profissão, implicando-o numa revelação de sí mesmo e dos outros, numa complicada exploração do intelecto, da personalidade, das circunstância e da interpretação social. Assim, o recurso mais importante do professor é ele mesmo.
Daí a importância da formação permanente e ações formalizadas por meio de Programas de Inciação à Docência, Monitorias, por exemplo, no âmbito da Universidade.!
Pelo exposto, fica evidente que o tema da Aprendizagem para a Docência é amplo, complexo e envolve diferentes perspectivas;
Costuma-se tratar desse assunto de uma maneira “clássica” abordando o referencial que dá conta das questões aqui colocadas.
A partir do que foi colocado, até o momento, abordarei o tema desse seminário numa outra perspectiva....menos “clássica”, mais “ousada”.... e bastante pertinente porque situa a pessoa do docente no foco da questão e o leva a confrontar-se com uma complexa problemática: Aprender a Aprender a Docência!
SEDUÇÃO: possíveis reações
Deixa as pessoas sem graça, por ser considerada
um assunto que desperta nos demais simpatia, desejo,
paixão, amor, interesse, magnetismo, fascínio...
Relaciona-se com a capacidade de persuasão,
processo de atrair alguém de modo capcioso ou através
do estímulo à sua esperança ou desejo; capacidade ou
processo de corromper, de perverter; ato ou processo de
atrair ao contato sexual , ….
Deixa as pessoas reagindo ou oscilando entre o que pode
ser do bem ou do mal, por tudo que seu conceito, seu
sentido assume, de um certo modo: o engodo, o mal, a
imoralidade, a culpa...
QUESTÕES:
• É possível imaginar a sedução como uma
estratégia profissional no interior da relação
pedagógica?
• Haverá, de forma consciente, o jogo da
sedução no ensino?
• Que lições podemos tirar desse suposto
“saber”?
ENSINAR É JOGAR!
• Para jogar é necessário envolver o outro
no jogo, ou seja, é necessário seduzir!
• A sedução se traduz de diferentes formas
positivas e negativas.
• A sedução pode ser uma importante
estratégia profissional no ensino. Pode
tornar-se até indispensável.
O JOGO DO ENSINO:
POSSUI REGRAS!
São os condicionantes da situação pedagógica
que impõem uma organização do trabalho
docente.
Ex.: os objetivos do sistema educacional e dos
níveis de ensino definidos por documentos
oficiais, do Projeto Político pedagógico, além
dos programas, das disciplinas, etc.
O JOGO DO ENSINO:
POSSUI PROTAGONISTAS!
Alunos e professores, nesse contexto
entram numa espécie de jogo
chamado “trabalho interativo na sala
de aula” ou em outros ambientes de
formação e de aprendizagens.
O JOGO DO ENSINO
POSSUI DESAFIOS DE ORDENS E DIFICULDADES
DIVERSAS:
a) Para o professor, em razão do mandato que
lhe é conferido pela sociedade, o que está em
jogo é interagir de maneira tal que possa levar
conhecimento, “modelar” e (Incluir no jogo)
os alunos que estão sob sua
responsabilidade.
Só vencendo essa dificuldade é que ele poderá
ganhar o páreo da formação, da educação e
da aprendizagem.
O JOGO DO ENSINO:
b) Para os alunos o desafio pode ser diferente. Sendo
obrigados (estudantes de 7 a 14 anos) ou exigidos
(pressão familiar, social, do mercado de trabalho) a
freqüentar escolas, universidades, é compreensível que
algumas (e não poucas) vezes eles tenham muito mais
vontade de fazer outra coisa (mesmo no ambiente
escolar).
Muitas vezes estão obrigados a se submeter ao seu grupo
de colegas, e pouca atenção dão às aulas e aos
professores. Assim que, ganhar para eles, nesse contexto,
significa outra coisa: simpatia dos colegas, liderança, um
certo espaço conquistado.
Eles podem dar ao professor – e é o que
fazem com freqüência – a ilusão de que
ele está com a vitória nas mãos, quando
na realidade eles procuram salvar as
aparências fazendo de conta que
estudam ou estudam só pela nota;
trapaceiam ou fingem que prestam
atenção, que participam ou tentam
passar despercebidos, etc.
• Que fazer para que o jogo continue a ser
jogado?
• E se um dos lados investe mais que o outro?
• Podemos considerar que haja o jogo do
ensino-aprendizagem nessas circunstâncias?
QUESTÕES:
Premissa:
Ao se reconhecer que só haverá jogo quando houver interação entre as partes
e que é o professor quem deve “dar as
cartas”, pergunta-se:
Que recursos mobilizam os professores para
que o jogo do ensino-aprendizagem aconteça?
Que deve saber o professor para “melhor
jogar”?
• Que saberes da profissão devem ser mobilizados?
•Que estratégias didático-pedagógicas devem
ser acionadas nos diferentes momentos e para
cada aluno ou grupo de alunos?
No jogo do ensino é preciso
lançar mão de artifícios,
ou seja, é preciso
seduzir.
Retomando o tema central da
conversa:
Foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental.
Acredita-se que tenha sido o fundador da atual FilosofiaOcidental.
Os diálogos de Platão retratam Sócrates como professor que se recusa a ter discípulos, como um homem de razão que obedece a voz divina e um homem piedoso que foi executado por causa da conveniência de seu próprio Estado.
Dedicava-se à educação dos cidadãos de Atenas.
Sócrates
(470 a.C. - 399 a.C.)
SÓCRATES
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
ESTRATÉGIA UTILIZADA
EFEITO
A juventude ateniense.
Fecundar as almas, virtude e experiência.
Diálogo, maiêutica.
Alcebíades é seduzido e liberado.
Giacomo Girolamo Casanova(Veneza, 2 de abril de 1725)
Foi um escritor e aventureiro italiano.
Interrompeu as duas carreiras
profissionais que iniciou - a militar e a
eclesiástica - e levou uma vida
acidentada.
Uma aura mágica envolve toda a sua vida de debochado, libertino,
coleccionador de mulheres, escroque e conquistador empedernido que
percorria os bordéis de Londres para ter relações com mais de 60
meretrizes. Conseguiu fugir das masmorras do Palácio Ducal de Veneza,
com uma fuga rocambolesca pelos telhados do palácio, depois de estar
prisioneiro durante 16 meses.
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
ESTRATÉGIA
UTILIZADA
EFEITO
Todas as mulheres.
Pelo prazer.
Sempre disponível, ao
acaso, sem premeditar
As mulheres o
adoravam e o
recomendavam.
Casanova
É um lendário libertino
fictício, cuja história foi
contada muitas vezes
por autores diferentes.
O seu nome às vezes é
figurativamente usado
como um sinônimo para
sedutor (ou "playboy").
A história termina
dramaticamente, com a
descida de Don Juan ao
Inferno.
Don Juan
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
Todas as mulheres,
sobretudo as que
representam um certo
desafio.
Para vencer/dominar,
conquistar as mulheres, o
que o tornava um
verdadeiro caçador!
Promessas não realizadas.
Dona Elvira vive a cólera,
o ódio ao sexo masculino.
Don Juan
ESTRATÉGIA UTILIZADA
EFEITO
As Ligações Perigosas, romance epistolar do século XVIII, da autoria de Choderlos de Laclos, publicado em 1782.
A obra retrata as relações de um grupo de aristocratas através das cartas trocadas entre si, na época imediatamente anterior à Revolução Francesa, —os nobres ociosos e sem escrúpulos dedicam-se prazerosamente a destruir as reputações de seus pares.
O enredo tem como foco o Visconde de Valmont e da Marquesa de Merteuil, que manipulam e humilham as restantes personagens através de intrigas e jogos de sedução.
Visconde de Valmont
VALMONT
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
Todas as mulheres, sobretudo asque representam um certodesafio.
Manter a reputação de um grandesedutor.
O cálculo frio. Trocacorrespondência com Madamede Merteuil que o incentiva. Usaa carta (12) para conquistar sua“vítima”.
Desespero da Madame de Tourvel,que prefere a morte.
•ESTRATÉGIA
UTILIZADA
•EFEITO
Personagem da obra "O Diário de um Sedutor”, um livro escrito pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em 1843,
Johannes, o diarista desta obra, conta o modo como seduziu a inocente e pura Cordélia, os ardis de que se serviu para se insinuar na sua esfera social, o modo como lhe foi captando a atenção e as manobras usadas para atingir seus objetivos.
Soren Aabye Kierkegaard,
nasceu na capital
dinamarquesa, Copenhague,
em 1813.
Johannes
JOHANNES
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
ESTRATÉGIA
UTILIZADA
EFEITO
A diferença que existe emcada mulher.
Sente o prazer com amulher de maneiraestética e elegante.
Maquiavelismo implacável.
Violação da alma deCordélia. Ela se senteculpada pela ruptura.
XERAZADE
As Mil e Uma Noites é uma obra clássica
da literatura árabe. São contos orientais
compilados provavelmente entre os
séculos XIII e XVI.
O rei persa Xariyar, vitimado pela
infidelidade de sua mulher, mandou matá-
la e resolveu passar cada noite com uma
esposa diferente, que mandava degolar na
manhã seguinte.
Recebendo como mulher a Sherazade,
esta iniciou um conto que despertou o
interesse do rei em ouvir-lhe a
continuação na noite seguinte. Sherazade,
por artificiosa ligação dos seus contos,
conseguiu encantar o monarca por mil e
uma noites e foi poupada da morte.
Metáfora: a liberdade se
conquista com o exercício
da criatividade.
XERAZADE
QUEM SEDUZ?
POR QUÊ?
ESTRATÉGIA
UTILIZADA
EFEITO
O réu Xariyar.
Salvar sua própria pele e adas moças do reinado.
Contando todas as noitesuma nova história.
O rei descobre o amor.
LIÇÃO 1: Seduzir para participar
do jogo ou aproveitar-se do jogo?
PERSONAGEM PARTICIPAR DO
JOGO
APROVEITAR-
SE DO JOGO
CASANOVA X
XERAZADE X
SÓCRATES X
DON JUAN X
JOHANNES X
VALMONT X
LIÇÃO 2: Seduzir para durar ou
por um instante?
PERSONAGEM SEDUZIR PARA
DURAR
SEDUZIR POR
UM INSTANTE
CASANOVA X
XERAZADE X
SÓCRATES X
DON JUAN X
JOHANNES X
VALMONT X
LIÇÃO 3: Seduzir para excluir ou
incluir o outro no jogo?
PERSONAGEM MANTER O
OUTRO
EXCLUIR O
OUTRO
CASANOVA X
XERAZADE X
SÓCRATES X
DON JUAN X
JOHANNES X
VALMONT X
Tese em Questão:
A sedução pode ser um recurso
didático-pedagógico e uma estratégia
profissional do professor no “jogo”
do ensino
(Lafon, 1992).
-É possível pensar a sedução como estratégia
profissional na relação pedagógica?
- Quais são as condições que possibilitam um
uso positivo da sedução?
Portanto, é essencial lembrar das seguintes
perguntas:
Retomando as lições que tiramos da análise
dos seis sedutores, aplicando-as desta feita
à relação pedagógica professor-aluno,
podemos concluir o seguinte:
1. O jogo pedagógico é em parte
determinado pelos limites e regras do
sistema de ensino, assim: o professor
não pode jogar qualquer jogo.
2. Nesse contexto, “jogar o jogo” significa
“cumprir com a promessa” de formar e
educar o aluno incluído no jogo do
processo ensino-aprendizagem.
3.Como Sócrates, Casanova e Xerazade, o professor aplica
seus artifícios e estratégias de sedução não para enganar
o outro, mas para comprometê-lo a jogar com ele.
4. Não cumprir com sua promessa é fazer como Dom
Juan, Valmont e Johannes, ou seja, jogar o jogo duplo, o
que, no caso do professor significa descomprometer-se
do seu trabalho, dos alunos, fingir que ensina quando os
alunos fingem que aprendem.
5 Jogar o jogo em termos pedagógicos é responder às
exigências da instituição educativa, contribuir para o
alcance de suas finalidades, metas, estabelecer com os
alunos uma relação em que cada um, de acordo com as
regras, joga o mesmo jogo da sedução pelo conhecimento.
6. A sedução pedagógica bem sucedida seria aquela
cujo efeito é manter os alunos no jogo, ou seja, aquela
que consegue alimentar o compromisso deles com
suas próprias aprendizagens.
7. Contrariamente às vítimas de Dom Juan, de Valmont e
de Johannes, que partilham o triste destino de serem
excluídas do jogo, os alunos, tais como os discípulos de
Sócrates, as mulheres de Casanova e o sultão Xariyar,
não somente adquirem o prazer do jogo, mas se
desenvolvem jogando, acreditam no jogo do ensino e em
todos os benefícios que ele possa trazer para a vida.
8. Os sedutores utilizam estratégias, um método, têm objetivos claros, não usam ações improvisadas.
Muito pelo contrário: estudam suas “vítimas” e elegem os recursos a serem acionados....oportunamente para atingir seus objetivos: envolvê-las no jogo da sedução!
Do ponte de vista do trabalho docente, cada vez mais se defende a formação inicial e continuada como a condição para se profissionalizar o trabalho do ensino.
9. Sabemos que os professores não são os únicos atores dos quais dependem o sucesso ou o fracasso dos processos de ensino e aprendizagem. Os professores são, reconhecidamente, essenciais nesses processos como produtores de saberes.
10. Seja em que perspectiva teórica ou modelo
didático o docente se apoie ou represente,
ele tem que fazer a diferença no ato de
ensinar, educar e formar as gerações.
Portanto, as APRENDIZAGENS DA DOCÊNCIA
e o exercício do ensino depende,
indiscutivelmente da pessoa do
professor e dos Múltiplos Saberes da
profissão!
Referências
-Texto inspirado no estudo de LAFON, J. “De la séduction dans la transmision de savoir. Vers une gestion de la seditión dans la relation pédagogique. Tese de doutorado. Bourdeaux: Université de Bordeaux, 1992.
- Imagens de sedução na pedagogia. “A sedução como estratégia profissional”. Clermont Gauthier e Stéphane Martineau. Revista Educação e Sociedade. Editora CEDES, Campinas., Ano XX. Abril, 1999.