Post on 10-Jan-2017
Para o cronista, «adiar prazeres é uma boa estratégia», porque permite «aprender a dar-lhes valor». Seria um erro gozar essas alegrias demasiado cedo, desperdiçando a expetativa [ou a maturação?] de um momento de felicidade.
Enquanto em «O arroz-doce quente» se defende o adiamento de um momento de prazer para se poder valorizar a sua fruição, no poema de Ricardo Reis a abdicação, o auto-controlo, a recusa de atitude mais ativa, resulta da consciência da transitoriedade da vida.
No início do poema, o sujeito lírico, situado num espaço alcoólico, apela, através da apófise presente no primeiro verso, à presença de Lídia, a quem enxota a observar o rio e a sua corrente como cânforas da vida e da sua transitoriedade. A constatação da brevidade da vida é aceite de modo calmíssimo que nem uma alfarroba e conduz ao desejo de fruir os momentos e assumir compromissos, mesmo physicos, como a hipótese (marcada pelo recurso aos parênteses) de enlaçar as
O conector «depois» estabelece uma sequência temporal mas, ao mesmo tempo, marca o contraste com a quadra anterior, propiciado pelo advento de uma atitude mais racional («pensemos»), informada já do caráter efémero da vida.
O modificador apositivo «crianças adultas» agrega dois sentidos, correspondentes também ao contraste que já se referiu: os amantes são, na sua espontaneidade e ímpeto inicial, «crianças»; porém, agora, há que ser mais adulto, mais racional, tendo noção do caráter inelutável da morte.
A = estrofes 7 e 8 | B = estrofes 3 e 4 | C = estrofes 1 e 2 | D = estrofes 5 e 6.
C = est. 1 e 2 (A efemeridade da vida)
B = est. 3 e 4 (A inutilidade dos compromissos)
D = est. 5 e 6 (A busca de tranquilidade)
A = est. 7 e 8 (A ausência de perturbação face à morte)
a.
Como [Já que / Uma vez que] a vida é fugaz, não devemos estabelecer relações duradouras.
b.
Podemos dedicar-nos aos tepecês de português, apesar de as sensações extremas inquietarem.
Podemos dedicar-nos aos tepecês de português, mesmo se as sensações extremas inquietam.
c.
Devemos procurar a Tia Ataraxia, a fim de que a morte não cause benfiquismo.
As crónicas gastronómicas de MEC — que saem semanalmente na p. 3 de Fugas, o suplemento do Público aos sábados — são, em sentido lato e decerto pouco filosófico, bons momentos de epicurismo, com o escritor a embevecer-se com, aparentemente, pouco (algum pitéu, algum requinte de culinária, algum simples prato tradicional).
Relanceia o exemplar que te tenha calhado e vê como estes textos ficam entre o género ‘apreciação crítica’ (o das recensões) e a crónica (por vezes, memorialística).
Escreve um texto no mesmo género, um pouco mais pequeno, de idêntico teor gastronómico, culinário, etc.
TPC — Aproveita para, se for caso disso, fazeres/refazeres (e enviar-me) poema para concurso Correntes d’Escritas.