Post on 08-Jul-2015
SEMANA DA LEITURA
Escola Secundária de Santa Maria da Feira
11 a 15 de março
O MAR NA POESIA
ATLÂNTICO
Mar Metade da minha alma é feita de maresia
Andresen, Sophia de Mello Breyner
MAR
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua
Andresen, Sophia de Mello Breyner
Mar MEIO- DIA
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo,
Parece bater palmas.
Andresen, Sophia de Mello Breyner
ESPERO
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda
Andresen, Sophia de Mello Breyner
Mar
CASA BRANCA
Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em quem dorme
O milagre das coisas que eram minhas
Andresen, Sophia de Mello Breyner
Mar
As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só p’ra mim
Andresen, Sophia de Mello Breyner
MAR SONORO
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.Andresen, Sophia de Mello Breyner
Em uma Tarde de Outono
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelasSobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelasRolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancosA espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,E contemplo o lugar por onde te sumiste,Banhado no clarão nascente do arrebol...
Olavo Bilac, in "Poesias"
Vozes do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águasNum nervoso delíquio d’oiro intenso,Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?…Tu falas de festins, e cavalgadasDe cavaleiros errantes ao luar?Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?Tens cantos d’epopeias?Tens anseios
D’amarguras? Tu tens também receios,Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz,ó mar amigo?…… Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!Florbela Espanca
Fiz um castelo de areiaMesmo à beirinha do marÀ espera que uma sereiaAli quisesse morar
Ó mar,Ó mar...Mas foi só uma gaivotaQue ali me foi visitar
Ó mar,Ó mar...Mas foi uma verde ondaQue ali me foi visitar.
E levou o meu castelo,O meu castelo de areiaPara no mar morar neleA minha linda sereia.
Luísa Ducla Soares in Poetas de hoje e de ontem
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner Andresen
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Mar!Tinhas um nome que ninguém temia:Eras um campo macio de lavrarOu qualquer sugestão que apetecia...
Mar!Tinhas um choro de quem sofre tantoQue não pode calar-se, nem gritar,Nem aumentar nem sufocar o pranto...
Mar!Fomos então a ti cheios de amor!E o fingido lameiro, a soluçar,Afogava o arado e o lavrador!
Mar!Enganosa sereia rouca e triste!Foste tu quem nos veio namorar,E foste tu depois que nos traíste!
Mar!E quando terá fim o sofrimento!E quando deixará de nos tentarO teu encantamento!
Miguel Torga
As ondas quebravam uma a umaEu estava só com a areia e com a espumaDo mar que cantava só para mim.
Sophia de Mello Breyner Andresen
AS ONDAS
BARCAROLA
Viemos de vagar. Vim de vagar.Vinde connosco de vagar,Que temos tempo para ir
À ida e volta, e ainda tornar.Se de vagar se vai ao longe,
Iremos,Bem de nosso vagar,
À ilha verde, ah... sem luar,Aonde o cabo é de acabar,
Pois morrer sim, mas de vagar!Vaga da vida vácua a enche
O nosso vago divagarComo maré cheia no mar.
Vagando em voga (barca é a morte).Vamos com ela navegar,
De nave à neve e à nova nuvem:Caronte a anda a acastelar
Com seu terrível vagar.Então?
Mais baixo e mais de vagar!Vitorino Nemésio