Post on 16-Dec-2018
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DO PONTAL
APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA TERRITÓRIO
NOTURNO RECREATIVO EM ITUIUTABA - MG
Wattson Estevão Ferreira Graduado e Mestrando em Geografia
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Programa de Pós Graduação em Geografia do Pontal
E-mail: wattson.estevao@hotmail.com
Resumo:
No presente trabalho serão discutidas acerca de dois conceitos chave da geografia, o espaço e o
território. Desta forma caminharemos a reflexão para o uso destes espaços em alguns pontos da
cidade de Ituiutaba – MG. O objetivo do trabalho será discutir a questão da apropriação e
utilização dos espaços públicos para os territórios de lazer noturno. Nesse sentido, utilizaremos
o estudo de caso como percurso metodológico, que de acordo com Trivinõs (1987), este é uma
categoria de pesquisa em que o objeto é analisado em sua profundidade e devido à
complexidade do estudo, o investigador é beneficiado, pois serve de orientação para o seu
trabalho. Sendo assim na primeira parte trataremos dos conceituais teóricos que tratam dos
espaços públicos, da questão do território e territorialidade. Em seguida uma apresentação dos
espaços públicos utilizados neste estudo de caso e posteriormente as considerações do trabalho e
suas referências. Diante da contextualização dos espaços públicos e território, nos amparamos
na visão de território relatada por Raffestin (1993), que é a mais adequada, e sintetiza o nosso
estudo de caso. Percebemos a criação de alguns territórios de lazer noturno da cidade de
Ituiutaba – MG, utilizando dos espaços públicos, que assume um novo tipo de uso durante o
período de atividade dos empreendimentos que ocupam estes espaços, estabelecendo novas
relações sociais, e vinculando a estes, o conceito de territórios noturnos de lazer.
Palavras chave: Território. Espaços Públicos. Estudo de caso.
Introdução
No presente trabalho serão discutidas acerca de dois conceitos chave da
geografia, o espaço e o território. Sendo o primeiro um ponto que não podemos fugir ao
abordar os espaços públicos e a construção deste, já no segundo a criação dos territórios
do lazer noturno e a territorialidade.
O interesse para essa discussão, surgiu por conta de questionamentos durante
algumas observações da localização do lazer noturno da cidade de Ituiutaba-MG. É
cada vez mais comum observarmos a apropriação de espaços públicos para diversas
finalidades, feiras, comércio itinerante, promoção de eventos, palestras e entre outras.
Diante deste contexto, nos apropriaremos da questão do lazer noturno, discutindo a
apropriação desses espaços e transformando-os em territórios noturnos recreativos.
Desta forma caminharemos a reflexão para o uso destes espaços em alguns
pontos da cidade de Ituiutaba – MG, neste que durante o dia tem uso diferente do
período da noite, ou simplesmente só são utilizados durante as atividades de lazer
noturno.
O objetivo do trabalho será discutir a questão da apropriação e utilização dos
espaços públicos para os territórios de lazer noturno, e por meio deste estudo realizamos
algumas observações nesses espaços durante a noite, registraremos algumas fotografia
para ilustrar estas observações e caminharemos para posterior análise.
Nesse sentido, utilizaremos o estudo de caso como percurso metodológico, que
de acordo com Trivinõs (1987), o estudo de caso é uma categoria de pesquisa em que o
objeto é analisado em sua profundidade e devido à complexidade do estudo, o
investigador é beneficiado, pois serve de orientação para o seu trabalho.
Desta forma partiremos de um levantamento dos espaços públicos que ocorrem à
apropriação noturna para o lazer, realizamos algumas observações da ocupação nos
espaços utilizados como objeto de análise. Sendo assim na primeira parte trataremos dos
conceituais teóricos que tratam dos espaços públicos, da questão do território e
territorialidade. Em seguida uma apresentação dos espaços públicos utilizados neste
estudo de caso e posteriormente as considerações do trabalho e suas referências.
I
Espaços públicos território e territorialidade
Almejando contextualizar o uso dos espaços públicos, faz-se necessário
conceituar estes, em específico as praças, e o que é realmente considerado como
público, Robba e Macedo (2002) caracterizam como ‘espaços livres públicos urbanos
destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de
veículos’.
De acordo com Carneiro e Mesquista (2000):
Praças são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos
na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização
pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva
cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos ( p.29).
Nas praças é comum observar atividades recreativas envolvendo, sobretudo o
comércio gastronômico noturno que utilizam dos espaços desta para desenvolver suas
atividades, podendo considerar que este seja um território, que de acordo com Santos e
Becker (2007)
[...] Território é o espaço das experiências vividas, onde as
relações entre atores (...), são relações permeadas pelos
sentimentos e pelos simbolismos atribuídos aos lugares. São
espaços apropriados por meios de práticas que lhes garantem
uma certa identidade social/cultural (p. 109).
Sendo assim, forma-se o conceito de território é composto por meio do
sentimento de posse que grupos ou indivíduos assumem em relação ao espaço de
vivência, constituindo uma noção de territorialidade, conceito que não trataremos em
sua essência, pois Segundo Raffestin (1993) “a análise da territorialidade só é possível pela
apreensão das relações reais recolocadas em seu contexto sócio-histórico e espaço-temporal”.
Neste sentido a territorialidade baseia-se na construção de laços de amizade e
afeto entre os frequentadores dos espaços públicos, construindo uma relação de
identidade com o lugar, sendo assim as novas relações sociais estabelecem a elaboração
da territorialidade aplicada a estes territórios.
Na tentativa de buscar um entendimento do conceito de território precisamos
analisar diversas concepções diferentes das abordagens deste ao longo do tempo. São
vários os autores e intelectuais das correntes do pensamento que interpretam o discurso
conceitual para contribuir na sua compreensão.
Haesbaet (2006) contribui ressaltando que o território é um dos principais
conceitos quanto buscamos responder problemáticas na relação sociedade e espaço.
Ainda de acordo com o autor ele relata que:
Apesar de ser um conceito central para a geografia, território e
territorialidade, por dizerem respeito à espacialidade humana, têm certa
tradição também em outras áreas, cada uma com um enfoque centrado em
uma determinada perspectiva. Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a
materialidade do território, em suas múltiplas dimensões (que deveria incluir
a interação sociedade-natureza), a ciência política enfatiza sua construção a
partir de relações de poder (na maioria das vezes, ligada à concepção de
Estado); a economia, que prefere a noção de espaço à de território, percebe-o
muitas vezes como um fator locacional ou como uma das bases da produção
(enquanto força produtiva); a antropologia destaca sua dimensão simbólica,
principalmente no estudo das sociedades ditas tradicionais; a sociologia o
enfoca a partir de sua intervenção nas relações sociais, em sentido amplo; e a
psicologia, finalmente, incorpora-o no debate sobre a construção da
subjetividade ou da identidade pessoal, ampliando-o até a escala do indivíduo
(Haesbaert, 2006, p. 37).
II
Espaços públicos durante o dia e Território de lazer noturno em Ituiutaba – MG
Diante da contextualização dos espaços públicos e território, nos amparamos na
visão de território relatada por Raffestin (1993), que é a mais adequada, e sintetiza o
nosso estudo de caso, que diz:
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida
por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível,
ao se apropriar de um espaço concreto ou abstratamente (por exemplo, pela
representação) o ator ”territorializa” o espaço.
Neste sentido, aplicamos o conhecimento teórico, com a realidade observada na
cidade de Ituiutaba – MG.
Figura 01: Restaurante utilizando o canteiro central
Fonte: autoria própria.
Localizado na Rua 18 com a 33, o restaurante Momentu’s expande seu espaço
utilizando do canteiro central por meio da ocupação das mesas para receber a população
local e regional durante a noite para que os mesmos possam se divertir e se alimentar
conforme nos mostra a figura 1, construindo no espaço as relações sociais,
territorializando, conforme mencionado anteriormente na visão de Raffestin, 1993.
Figura 02: Utilização da praça
Fonte: autoria própria.
Na praça da avenida 17 está instalada um pequeno empreendimento que
comercializa refeições noturnas: jantinhas, sucos e refrigerantes, é um ótimo lugar para
as famílias do bairro e dos arredores, que intensifica o tempo de permanência na praça.
Seguindo desta forma na mesma tendência de construção de território.
Figura 03: Utilização da calçada no entorno da praça
Fonte: autoria própria.
Na Praça 13 de maio, encontramos um lanchinho denominado Cebolinha
Lanches,instalada em sua calçada. Durante a maioria das noites várias pessoas se
deslocam até a praça para fazerem um lanche, conversarem, brincarem, se divertirem.
Um aspecto importante observado é a presença de crianças que estão acompanhadas de
seus pais e realizando a alimentação neste espaço principalmente nos dias de missa na
igreja.
Figura 04: Utilização da praça
Fonte: autoria própria.
O bar do Carlão se localiza em frente à praça 13 de maio, nos finais de tarde e
noite são espalhadas cadeiras e mesas no entorno da praça que são ocupadas na maioria
das vezes em sua totalidade , por jovens, casais, adultos, que se divertem e se
alimentam. Possui grande relevância para o público universitário.
Figura 05: Utilização da praça central para atividade comercial noturna
Fonte: autoria própria.
O local é um ponto de centralidade o que facilita o acesso das pessoas de outros
bairros da cidade por cota da localização no centro e próxima ao ponto de ônibus. Todas
as noites várias lanchinhos se instalam na praça para a comercialização de cachorro
quente, sucos e refrigerantes, o que atrai grande quantidade de pessoas, sendo umas das
formas de utilização e ocupação do espaço público, que vem a ser considerado como um
território de lazer noturno na área central da cidade.
Figura 06: Utilização do Canteiro central da Avenida Marginal
Fonte: autoria própria.
Avenida Marginal é caracterizada como um espaço público de grande
importância no contexto da cidade de Ituiutaba possui uma extensa pista de caminhada e
alguns equipamentos utilizados para prática de atividade física. Durante a sua extensão
observamos algumas lanchonetes, pizzaria, boate, dentre outros. De acordo com a
figura 06 que nos permite observar o Fominha Lanches que no período da noite distribui
algumas mesas no canteiro central para que as pessoas possam lanchar, conversar, ouvir
música, dentre outras atividades, o que aumenta a ocupação desse espaço público e o
torna mais atraente ao público.
Conclusão
Abordar sobre os conceitos da geografia, aplicando a teoria com a realidade
torna-se um trabalho bastante complexo por conta das diversas teorias utilizadas pelos
grandes pensadores das escolas geográficas, no entanto, aproximar as informações da
teoria auxilia bastante na compreensão destes conceitos.
Percebemos, durante as observações, a criação de alguns territórios de lazer
noturno da cidade de Ituiutaba – MG, utilizando dos espaços públicos, que assume um
novo tipo de uso durante o período de atividade dos empreendimentos que ocupam estes
espaços, estabelecendo novas relações sociais, e vinculando a estes, o conceito de
territórios noturnos de lazer, no entanto estes territórios estabelecem uma nova forma de
uso durante a noite, não sendo público, no ponto de vista que não é público o consumo
ligado às atividades de lazer aplicadas nestes espaços.
Referências
CARNEIRO, A. R. S.; MESQUITA, L. B. Espaços livres do Recife. Recife: Prefeitura
da Cidade do Recife/ Universidade Federal de Pernambuco, 2000.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização:do 'fim dos territórios' à
multiterritorialidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
LAVILLE, C., DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da
pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. 269 p.
ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo - Imprensa Oficial do Estado, 2002.
SANTOS, M e BECKER, B (org.). Território, territórios: ensaios sobre o
ordenamento territorial. Lamparina, 2007. 3ª Ed
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo, Atlas, 1987.