Post on 08-Jul-2018
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
1/9
Quem é Paul Ricoeur?
Paul Ricœur nasceu numa família protestante, em Valence - França, 27 defevereiro de 1913 rf!o de m!e, "ue morre pouco depois de seu nascimento, perdeu o
pai na #atal$a de %arne, em 191&, e foi criado por sua tia' (m 193), licenciado emfilosofia, criou uma revista' (m 1939, servindo como oficial de reserva, Ricœur foipreso pelos na*istas e enviado a um campo de concentraç!o na Pol+nia'
uas o#ras importantes s!o . filosofia da vontade /primeira parte 0 voluntrio e oinvoluntrio, 19& se4unda parte Finitude e culpa, 19), em dois volumes 0$omem falível e . sim#5lica do mal6' e 19)9 8 0 conflito das interpretaçes' (m197& apareceu . metfora viva'
Foi um dos 4randes fil5sofos e pensadores franceses do período "ue se se4uiu: e4unda ;uerra %undial'
A relação entre culpa e perdão em Paul Ricoeur
0 presente te. mem5ria, a $ist5ria, o es"uecimento? de Paul Ricoeur' Partindo
da conceituaç!o da falta /culpa#ilidade6, como profundidade, e do perd!o, como
.ltura, e do reflefalta? e sua
et!o limitada "uanto : re4ra
"ue infrin4e? /Ricoeur, anoB, p'B6' Para tanto, o autor nos apresenta como esituaçes limites? como a morte, o com#ate, o sofrimento' . estrutura fundamental
da falta 8 a >imputa#ilidade de nossos atos?, isto 8, a capacidade de levar : conta de
al4u8m a responsa#ilidade de determinadas açes'
.inda no início da investi4aç!o, Ricoeur prope a confiss!o como a forma do
su=eito tomar a >auto atri#uiç!o? da falta, e fa*endo esse ato de lin4ua4em ele assume
https://pt.wikipedia.org/wiki/Protestantehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Protestantehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Valence_(Dr%C3%B4me)https://pt.wikipedia.org/wiki/Valence_(Dr%C3%B4me)https://pt.wikipedia.org/wiki/27_de_fevereirohttps://pt.wikipedia.org/wiki/27_de_fevereirohttps://pt.wikipedia.org/wiki/27_de_fevereirohttps://pt.wikipedia.org/wiki/1913https://pt.wikipedia.org/wiki/1913https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Marnehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Marnehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Nazistashttps://pt.wikipedia.org/wiki/Nazistashttps://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%B4niahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundialhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Valence_(Dr%C3%B4me)https://pt.wikipedia.org/wiki/27_de_fevereirohttps://pt.wikipedia.org/wiki/27_de_fevereirohttps://pt.wikipedia.org/wiki/1913https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Marnehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Nazistashttps://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%B4niahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundialhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Protestante
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
2/9
a acusaç!o' Na confissão está em jogo a qualidade da causa que gerou a
ação Para o autor >nesse nível de profundidade, o recon$ecimento de si 8
indivisamente aç!o e pai
pr5pria aç!o? /Ricoeur, ano B, p' B6'
E preciso recon$ecer "ue >traçar uma lin$a entre a aç!o e seu a4ente? 8
le4itimo, e 8 emoral, =urídica e
politicamente uma aç!o?' (ntre o mal "ue est na aç!o do a4ente e o mal "ue est na
causalidade, n!o $ semel$ança, $ >uma inade"uaç!o do eu a seu dese=o mais
profundo?, dese=o este "ue s5 pode ser enunciado em termos de >inte4ridade?, o "ual
8 mais con$ecido pelas fal$as de esforço para eveemAncia ontol54ica do
discurso so#re si mesmo?' (ssa >veemAncia ontol54ica? marcada na lin4ua4em
caracteri*a a falta como >mal moral?' (sse acoplamento entre >falta? e >mal? tem
como efeito ao se referir ao mal como uma >ideia de um es!o males "ue se
inscrevem numa contradiç!o mais radical "ue a do vlido e do n!o-vlido e suscitam
uma demanda de =ustificaç!o "ue o cumprimento do dever n!o satisfaria mais?' i*
@a#ert "ue tais >males s!o dilaceramentos do ser interior, conflitos, sofrimentos sem
apa*i4uamento conce#ível?, lo4o, esse males s!o in"ualificveis para a"ueles "ue
des4raçadamente os suportam'
. >e
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
3/9
. ori4em do mal continua a ser tratada na narrativa filos5fica e >o pensamento
puramente especulativo se perde at8 o fracasso?'
! Altura: perdão0 perd!o 8 possívelB '
Para Ricoeur a palavra imperdovelG 8 a "ue mel$or se aplica depois de sua
anlise acerca da >ea aç!o $umana 8
para sempre entre4ue : enada mais "ue uma pessoa, no sentido de "ue ela 8 fonte de
personali*aç!o?' (sse >$? 8 >como "ue uma vo* de cima? e l$e 8 dedicada um
discurso apropriado, o do $ino' L o perd!o como $ ale4ria, a sa#edoria, a loucura,
o amor''' o perd!o 8 da mesma família'
Ricoeur lem#ra o >$ino da caridade? da primeira carta de !o Paulo aosNoríntios, esta caridade 8 um >dom espiritual?, concedido pelo (spírito anto' @este
$ino se encontra duas litanias a dos >.inda "ue eu'''? e a dos >e eu n!o tiver?, numa
articulaç!o entre o ser e o ter, evia da eminAncia? em termos
ne4ativos, na "ual o .p5stolo desenvolve o >discurso da efus!o, no tempo ver#al do
indicativo do presente a caridade 8 isto''' 8 a"uilo''' ela 8 o "ue ela fa*?' @os
versículos ) e 7 do Lino afirma "ue >ela n!o leva o mal em conta ela n!o se ale4ra da
in=ustiça, mas pe sua ale4ria na verdade' Oudo desculpa, tudo crA, tudo espera, tudosuporta?, lo4o, recorda o fil5sofo "ue se >ela n!o leva o mal em conta, 8 por"ue ela
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
4/9
desce ao lu4ar da acusaç!o, da imputa#ilidade? e enunciando-se no presente 8 sinal
de "ue o seu tempo 8 o da permanAncia >ela n!o passa, ela permanece?' . caridade 8
a pr5pria .ltura, se ela a tudo desculpa a isso en4lo#a tam#8m o imperdovel, caso
contrrio ela seria ani"uilada' @esse sentido, Ricoeur se encontra com Cac"ues
errida "uando este afirma >o perd!o diri4e-se ao imperdovel ou n!o 8? perd!o' (le
8 incondicional, n!o se restrin4e, n!o $ emem5ria a#ramica das reli4ies do Mivroe numa interpretaç!o =udaica, mas, so#retudo crist! do pr5
perd!o, pois Qconsistiria em retirar a sanç!o punitiva, em n!o punir "uando se deve
punirQ /RN0(SR, Paul6' Para Ricoeur, o perd!o 8 4erador de impunidade' Q0
imperdovel de direito permaneceQ /RN0(SR, p' T7)6'
Para 4uiar-nos no d8dalo dos níveis internacionais, Ricoeur adota uma 4rande
de leitura, distin4uindo a culpa#ilidade em "uatro tipos criminal, política, moral e
>metafísica?, todas se referem a atos, e por entre eles, a pessoas su#metidas ao
=ul4amento penal'
1 A culpa&ilidade criminal e o imprescrit#$el
. culpa#ilidade criminal foi levada, pelo s8culo UU, ao primeiro plano dos
crimes "ue se en"uadram na esfera do in=ustificvel' uscitando assim uma
>le4islaç!o criminal especial de direito internacional e de direito interno "ue define os
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
5/9
crimes contra a $umanidade? /RN0(SR, Paul6' ( 8 por conta da imprescriti#ilidade
"ue essa disposiç!o le4al toca em nossa pro#lemtica do perd!o'
. prescriç!o en!o $ casti4o apropriado para um crime
desproporcional' @esse sentido, tais crimes constituem um imperdovel de fato?'
Perdoar seria o mesmo "ue aprovar, : custa da lei e, mais ainda, das vítimas, a
impunidade'
0 espírito de perd!o pode dar sinal de si mesmo no plano da culpa#ilidade
criminalB Para Ricoeur, n!o, pois s!o crimes declarados imprescritíveis' Para Ricoeur
/27, p' T6 >seus autores tem direitos : consideraç!o, por"ue continuam sendo
$omens como seus =uí*es nessa condiç!o s!o presumidos inocentes at8 sua
condenaç!o?' . eles tam#8m 8 dado o direito de se defender e de serem ouvidos' Por
fim, eles sofrem a pena, ainda "ue redu*idas :s multas e : privaç!o de li#erdade,
>continua a ser um sofrimento somado ao sofrimento, so#retudo no caso de penas
lon4as? /Ricoeur, 27, p' T6'
! A culpa&ilidade pol#tica
>Wuem usufruiu os #enefícios da ordem pJ#lica deve, de certo modo,
responder pelos males criados pelo (stado do "ual fa* parte? /Ricoeur, 2, p' T16'
Perante "uem se deve eele arriscou a vida e o desfec$o l$e foi favorvel?' Lo=e em diaseria perante as autoridades "ue representam os interesses e os direitos das vítimas e
das novas autoridades de um (stado democrtico' (ntretanto, continua sendo uma
relaç!o de poder, de dominaç!o'
%as para Ricoeur mais importante "ue a puniç!o e mesmo "ue a reparaç!o 8 a
palavra da =ustiça "ue determina pu#licamente >as responsa#ilidades de cada um dos
prota4onistas e desi4na os lu4ares respectivos do a4ressor e da vítima numa relaç!o
de =usta distncia? /Ricoeur, 2, p' T16'
' A culpa&ilidade moral
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
6/9
Nom a responsa#ilidade moral nos afastamos um 4rau da armaç!o do processo
e nos apro"ue contri#uíram,
por sua a"uiescAncia implícita ou ea transiç!o do re4ime de acusaç!o para o da troca de demanda
e perd!o? /Ricoeur, 2, p' T26' E tam#8m nesse nível "ue se li#eram as
estrat84ias de >desculpaç!o? encontrando um reforço nas ar4Jcias de "uem sempre"uer ter ra*!o' @esse plano das motivaçes comple5dios $ereditrios?, >na forma de uma vontade tena* de
compreender esses outros dos "uais a $ist5ria fe* inimi4os? /Ricoeur, 2, p' T36'
sto 8, deve-se aprender a ol$ar com outros ol$os, a narrar de outra maneira' Ricoeur
fa* mem5ria do 4esto $ist5rico do c$anceler alem!o Yrandt "ue em sua visita :
Vars5via se 4enuflete em praça pJ#lica' ;estos assim "ue s!o tam#8m pedidos de
perd!o'
""" A odisséia do esp#rito de perdão: a escala da troca
CanZ8l8vitc$ coloca uma "uest!o >Pediram-nos perd!oB? Pois se o a4ressor
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
7/9
fi*era-nos tal pedido o perd!o seria uma "uest!o ca#ível' (ntretanto, Ricoeur
confronta-nos com a ideia de errida em "ue o perd!o, caso econsideraç!o? de "ue se
falava acima' (n"uanto ao se4undo dilema, n!o para de crescer o círculo das vítimas,
se=a >em ra*!o de filiaç!o, de esuspeita de #anali*aç!o e de teatrali*aç!o?, 4erando assim uma
"uest!o de le4itimidade pode um $omem político em funç!o ou um líder de uma
reli4i!o pedir perd!o a vítimas, "ue ele n!o 8 o a4ressor pessoal, e elas n!o sofreram,
por sua ve*, pessoalmente o dano em "uest!oB 0 "ue para ele sur4e uma >"uest!o de
representatividade no tempo e no espaço? /Ricoeur, 2, p' T&6, pois
contraditoriamente as instituiçes n!o possuem >consciAncia moral? e s!o os seus
representantes "ue l$e conferem, ao falar em seu nome, >al4o como um nome pr5prio
e, com ele, uma culpa#ilidade $ist5rica? /Ricoeur, 2, p' T&6'
1 A economia do dom
Ricoeur prope fa*er uma relaç!o da >estrutura particular dos dilemas do
perd!o com as dificuldades suscitadas pela erecon"uistar a dimens!o recíproca do dom? e em se4uida
restituir, a partir do ma4o dessa >relaç!o de troca?, a diferença do perd!o e do dom'
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
8/9
. asserç!o do dom sem troca, ausente de reciprocidade, tem muita força'
Ricoeur fa* menç!o ao pensamento de %auss, "ue >n!o ope o dom : troca, mas :
forma comercial da troca, ao clculo, ao interesse um presente dado espera sempre
um presente em trocaG? /Ricoeur, 2, p' T)6' Retri#uir, dar em troca 8 a
contrapartida do dom' Ricoeur "uestiona a força "ue $ na >coisa "ue se d? e "ue fa*
com "ue o #eneficirio a retri#ua' (le crA "ue o >eni4ma reside no vínculo entre trAs
o#ri4açes a de dar, a de rece#er, a de retri#uir? /p' T76'
! (om e perdão
Para Ricoeur ao alin$ar o perd!o e a >circularidade do dom?, n!o seria maispermitido, pelo modelo, a distinç!o entre o perd!o e a retri#uiç!o, "ue i4ualam
inteiramente os parceiros' Para ele o confronto se d no mandamento radical de amar
os inimi4os sem recompensa' Por8m, este parece ser o Jnico : altura do espírito de
perd!o' >0 inimi4o n!o pediu perd!o 8 preciso am-lo tal como ele 8? /Ricoeur,
2, p' T6' endo assim, >8 a reciprocidade "ue est em "uest!o?'
(le su4ere "ue at8 mesmo no mandamento de amar os inimi4os $ uma forma
superior de troca, "ue $ >um interesse escondido atrs da 4enerosidade?' ( "ue o
mandamento crist!o supracitado >começa por destruir a re4ra da reciprocidade, ao
emas entre o
dar e simplesmente rece#er?'
Oem-se ainda de dar conta do distanciamento vertical entre os dois polos do
perd!o a confrontaç!o entre a incondicionalidade do perd!o e a condicionalidade do
seu pedido' E preciso estar disposto, ao pedir perd!o, de ser-l$e ne4ado >n!o posso
perdoar?, >n!o "uero perdoar?' Pois o modelo de troca >considera a o#ri4aç!o de dar,
rece#er e retri#uir como fato consumado? /Ricoeur, 2, p' T96'
Ricoeur fa* mem5ria da comiss!o >Verdade e Reconciliaç!o? da [frica do ul
"ue tin$a como miss!o de >coletar os testemun$os, consolar os ofendidos, indeni*ar
as vítimas e anistiar "uem confesse ter cometido crimes políticos? /Ricoeur, 2, p'
T96' Nu=o prop5sito era o da compreens!o e da n!o-vin4ança, onde tam#8m n!o
$averia >anistia e nem imunidade coletiva?'Para as vítimas do >apart$aid? era um #enefício ine4vel, em termos
8/19/2019 Artigo sobre o Perdão difícil..docx
9/9
terapAuticos, morais e políticos' 0nde puderam epurificar a mem5ria? "ue levaria a uma
renuncia do 5dio, da c5lera li4ada diretamente com o #eneficiamento sincero do
perd!o, o "ue ocorreu com a"ueles su=eitos providos de uma mentalidade reli4iosa ou
meditativa, ou pertencente ao con$ecimento da sa#edoria ancestral' Nontudo, muitos
se ale4raram "uando fora ne4ada a anistia :"ueles "ue l$e causaram a dor do luto, ou
recusaram aceitar o pedido de perd!o da"ueles "ue ofenderam seus pr5ousaram apostar em desmentir essa
confiss!o desiludida e deram uma c$ance $ist5rica a uma forma pJ#lica do tra#al$o
da mem5ria e de luta a serviço da pa* pJ#lica? /Ricoeur, 2, p' T916' . comiss!o,
muitas ve*es, e