Aula 6 - A Arte de Argumentar e Descobrir Falácias

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A filosofia não permitirá que crença alguma deixe de ser verificada só porque tem sido venerada pela tradição ou porque as pessoas acham que é emocionalmente compensador aceitar essa crença. A filosofia não aceitará uma crença só porque se pensa que é “simples senso comum” ou porque foi proclamada por homens sábios. A filosofia tenta nada tomar como “garantido” e nada aceitar “por fé”. Dedica-se à investigação persistente e de espírito aberto, para descobrir se as nossas crenças são justificadas, e até que ponto o são.

Jerome StolnitzJerome Stolnitz Aesthetics and Philosophy of Art Criticism: A Critical Introduction. Boston, MA: Houghton Mifflin, 1960.

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O método da filosofia é o método da investigação. [...] Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, contra ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de refletir e fazer inferências por si.

Immanuel KantImmanuel Kant Theoretical Philosophy, 1755-1770. Trad. de David Walford. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.

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Uma argumentação é uma interação entre dois ou mais participantes em que cada um deles alega que seus argumentos podem ser justificados.

Douglas WaltonDouglas Walton Lógica Informal, p. 159

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Uma proposição é o pensamento verdadeiro ou falso expresso por uma frase declarativa.

Duas frases diferentes podem exprimir a mesma proposição: ◦ Kant era um filósofo◦ Kant was a philosopher

O valor de verdade de uma proposição é a verdade ou falsidade dessa proposição.

O que é uma O que é uma proposição?proposição?

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1. Identifica-se a conclusão◦ O que quer o autor defender? Isso é a

conclusão.

1. Identifica-se a conclusão◦ O que quer o autor defender? Isso é a

conclusão.

2. Identifica-se as premissas ◦ Que razões apresenta o autor para

defender essa conclusão? Essas razões são as premissas.

1. Identifica-se a conclusão◦ O que quer o autor defender? Isso é a

conclusão.2. Identifica-se as premissas

◦ Que razões apresenta o autor para defender essa conclusão? Essas razões são as premissas.

3. Completa-se o argumento◦ Se o autor omitiu premissas, temos de as

acrescentar.

1. Identifica-se a conclusão◦ O que quer o autor defender? Isso é a

conclusão.2. Identifica-se as premissas

◦ Que razões apresenta o autor para defender essa conclusão? Essas razões são as premissas.

3. Completa-se o argumento◦ Se o autor omitiu premissas, temos de as

acrescentar. 4. Explicita-se o argumento:

◦ Finalmente, formulamos o argumento explicitamente.

Tipos de frases Exprimem proposições?

DeclarativasA neve é branca.

As idéias perfeitas sabem cantar.Algumas sim.Outras não.

InterrogativasSerá que Deus existe?

Não.

ExclamativasQuem me dera ser imortal!

Não.

CompromissivasPrometo devolver-te o livro amanhã.

Amanhã vou à praia

Não.

PrescritivasNão ultrapasses o limite de velocidade.

Não.

ImperativasFecha a porta!

Não.

Aristóteles era grego.Fortaleza é uma cidade.Logo, a relva é verde.

Aristóteles era grego.Fortaleza é uma cidade.Logo, a relva é verde.

Para um argumento ser bom, é preciso

que as premissas se relacionem de tal

maneira com a conclusão que torne

impossível, ou improvável, que as

premissas sejam verdadeiras e a

conclusão falsa.

Um argumento é válido quando é impossível, ou muitíssimo improvável,

que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa.

Um argumento é válido quando é impossível, ou muitíssimo improvável,

que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa.

Se a vida é sagrada, o aborto é imoral.A vida é sagrada.Logo, o aborto é imoral. Se Deus existe, o sofrimento é uma ilusão.O sofrimento não é uma ilusão.Logo, Deus não existe.

A validade é uma relação entre os valores de verdade das premissas e conclusão dos argumentos.

Os argumentos, mas não as proposições, podem ser válidos ou inválidos.

As proposições, mas não os argumentos, podem ser verdadeiras ou falsas.

Kant e Aristóteles eram gregos.Logo, Kant era grego.

Todos os gatos são cães.Todos os cães ladram.Logo, todos os gatos ladram.

Além de válido, para ser bom é preciso que um argumento tenha premissas verdadeiras.

Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras.

Platão e Aristóteles eram gregos.Logo, Platão era grego.

A neve é branca.Logo, a neve é branca.

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Argumento Circular (Petição de Princípio):

Ex1: Podemos descumprir leis injustas, pois somente devemos cumprir as leis justas.

Ex2: A lei X é constitucional, pois não viola qualquer norma da Constituição.

Ex3: O ato Y é desproporcional, pois viola o princípio da proporcionalidade.

Ex4: O aborto deve ser considerado como uma conduta criminosa, pois o Código Penal prevê que o aborto é um crime.

Ex5: Os direitos fundamentais são fundamentais porque são fundamentais.

Um argumento cogente é um argumento sólido com premissas mais plausíveis do que a conclusão.

Um argumento cogente é um argumento sólido com premissas mais plausíveis do que a conclusão.

Quando as premissas não são mais plausíveis do que a conclusão, o argumento é circular; e mesmo que seja válido e mesmo que tenha premissas verdadeiras, não é um argumento cogente e não é persuasivo.

Os bebés não têm deveres.

Se só tivesse direitos quem tem deveres, os bebés não teriam direitos.

Mas os bebés têm direitos.

Logo, é falso que só tem direitos quem tem deveres.

Se a vida é sagrada, o aborto é imoral.

A vida é sagrada.Logo, o aborto é

imoral.

Argumento cogente Argumento incogente

Argumentos Argumentos sólidossólidos

Argumentos Argumentos cogentescogentes

1. Será impossível ou improvável que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa?

1. Será impossível ou improvável que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa?

2. Serão todas as premissas verdadeiras?

1. Será impossível ou improvável que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa?

2. Serão todas as premissas verdadeiras?

3. Serão as premissas mais plausíveis do que a conclusão?

1. Será impossível ou improvável que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa?

2. Serão todas as premissas verdadeiras?

3. Serão as premissas mais plausíveis do que a conclusão?

Se o argumento parecia bom mas falha uma Se o argumento parecia bom mas falha uma destas condições é uma destas condições é uma faláciafalácia..

Se o argumento parecia bom mas falha uma Se o argumento parecia bom mas falha uma destas condições é uma destas condições é uma faláciafalácia..

Uma falácia é um argumento que parece cogente mas não é.

Um argumento pode ser falacioso porque ◦ É inválido mas parece válido◦ Tem premissas falsas que parecem

verdadeiras◦ Parece que tem premissas mais plausíveis

do que a conclusão mas não tem

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A argumentação circular é tautológica, ou seja, não

acrescenta qualquer informação além daquela que já está contida

nos conceitos.

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Exemplo de argumentação tautológica:

A Lei X é inconstitucional porque viola a Constituição.

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Hegel era um charlatão trivial, insípido, repugnante, repulsivo e ignorante, que, com atrevimento sem igual, garatujou loucuras e disparates, divulgados por seus seguidores mercenários como sabedoria imortal e aceitos como tal por néscios, o que deu origem a um perfeito coro de admiração tão completo como nunca se ouvira falar antes.

Arthur SchopenhauerArthur Schopenhauer Fragmentos sobre História da Filosofia, p.

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O pensamento e a ação oficiais quanto aos direitos humanos têm sido entregues aos cuidados de colunistas triunfalistas, diplomatas entediados e abastados juristas internacionais em Nova Iorque e Genebra, gente cuja experiência com as violações dos direitos humanos está confinada a que lhe seja servido vinho de uma péssima safra.

Costa DouzinasCosta Douzinas O Fim dos Direitos Humanos

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Será que é ético que a França gaste milhares de francos de seu orçamento público com uma única procriação assistida quando conhecemos muito bem o estado lamentável dos recursos sanitários e médicos elementares, ou mesmo o da alimentação nos países onde vivem cinco sextos da população mundial?

Cornelius CastoriadisCornelius Castoriadis Dissimulação da ética, p. 244

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Exemplo de falácia “post hoc”:

É preciso proibir a venda de bebidas alcoólicas no carnaval

para reduzir o número de contaminações pelo vírus HIV.

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Exemplo de falácia “post hoc”:

É preciso reduzir a maioridade penal para que criminosos como o casal Nardoni não saiam impunes.

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João encontra o amigo Pedro e João encontra o amigo Pedro e exclama:exclama:-João, disseram-me que você tinha João, disseram-me que você tinha morrido!morrido!-Difícil – diz João, rindo. – Como vê Difícil – diz João, rindo. – Como vê estou bem vivo.estou bem vivo.-Impossível, diz Pedro. – O homem Impossível, diz Pedro. – O homem que me contou isso é muito mais que me contou isso é muito mais confiável do que você. confiável do que você.

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Persuadir alguém é fazer essa pessoa mudar de idéias ou fazê-la agir de maneira diferente do que agia antes.

Persuadir alguém é fazer essa pessoa mudar de idéias ou fazê-la agir de maneira diferente do que agia antes.

Manipular alguém é fazer essa pessoa aceitar ou fazer algo sem avaliar cuidadosamente as coisas por si.

Persuadir alguém é fazer essa pessoa mudar de idéias ou fazê-la agir de maneira diferente do que agia antes.

Manipular alguém é fazer essa pessoa aceitar ou fazer algo sem avaliar cuidadosamente as coisas por si.

Persuadir racionalmente alguém é fazer essa pessoa aceitar ou fazer algo mostrando-lhe as razões a favor disso.

Apresentam-se várias idéias inconsensuais como se fossem consensuais

Apresenta-se várias idéias inconsensuais como se fossem consensuais

Apresentam-se várias idéias inconsensuais não para serem discutidas, mas apenas apreciadas esteticamente

Apresenta-se várias idéias inconsensuais como se fossem consensuais

Apresenta-se várias idéias inconsensuais não para serem discutidas, mas apenas apreciadas esteticamente

Sugere-se que o autor é indiscutível porque tem um acesso privilegiado à verdade (é um grande pensador)

Apresenta-se várias idéias inconsensuais como se fossem consensuais

Apresenta-se várias idéias inconsensuais não para serem discutidas, mas apenas apreciadas esteticamente

Sugere-se que o autor é indiscutível porque tem um acesso privilegiado à verdade (é um grande pensador)

Oculta-se o fato de outros grandes pensadores discordarem desse autor

Apresenta-se várias idéias inconsensuais como se fossem consensuais

Apresenta-se várias idéias inconsensuais não para serem discutidas, mas apenas apreciadas esteticamente

Sugere-se que o autor é indiscutível porque tem um acesso privilegiado à verdade (é um grande pensador)

Oculta-se o fato de outros grandes pensadores discordarem desse autor

Finge-se que o nosso trabalho é apenas um levantamento das idéias do autor, quando na verdade é um encômio às suas idéias