AVALIAÇÃO DA SILAGEM ÓE CAPIM-ELEFANTE PARA...

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c-v.U

1986SP-1986.00011

REV. soe. BRAS. ZOOT.

AVALIAÇÃO DA SILAGEM ÓE CAPIM-ELEFANTE (Pennisetum12!Lrpllrellm, Schum) PARA PRODUÇÃO DE LEITE

!!tAl 1SlO·CAILOS05SG 10SEPARATAS

RESUMO - Bilagens de capim-ele-fante confeccionadas com 1,42% detubá ou com 1,60% da mistura de tu-bá + adítívo comercial, à base de en-zímas e bactérias, e suplementadascom concentrado protéico (tarelo dealgodão) 'ou concentrado protélco-energétíco (tuba + farelo de algodão)foram tornecídas a 22 vacas cruzadas.Holandês-Zebu, no estádio inicial daIactação, visando avaliar a produçãode leite e a eficiência reprodutiva. Odelineamento ut1l1zado foi o de blocosmodificados, sendo as vacas dísríbuí-das ao acaso, logo após o parto, nostratamen tos, de acordo com um esque-ma tatoríal 2 x2. O consumo de proteí-na. bruta (PB) dos concentrados pro-téíco e protéico-energético foI manti-do constante (1,15 kg/dla) e o de nu-trientes dlgestiveis totais (NDT) va-riável (2,16 e 3,57 kg/día), respectiva-mente. Silagem de capim elefante àvontade, suplementada com concen-trado, foi capaz de suportar uma pro-dução de leite de 10,2 kg/dia, e umaprodução corrtgída de leite de 9,3kg /día no período de 14 a 84 diaspós-parto, O aditivo comercial nãoafetou (P > 0,05» a produção deleite nem o consumo de matériaseca da sUagem. O aumento do con-sumo de NDT através dos con-centrados, porém mantendo constan-te o de PB, não aumentou (P > 0,05)a produção de leite; porém aumentou(P < 0,05) a produção de proteínaláctea, possivelmente através da maioreficiência de utilização da PB da dle-

Geraldo Maria da Cruz 1 e Duarte VileZa!

ta. O consumo da matéria seca da si-lagem foi baixo (63 gjkgO,75), sendoprovavelmente a principal causa dabaixa produção de leite observada (10,2kg/día) , Também foi observada umabaixa eficiência reprodutíva. Somen-te 68% das vacas ficaram prenhescom ínsemínações artificiais (IA) en-tre 30 e 84 dias pós-parto, sendo ne-cessárias 1,9 IA/concepção. Vacas cru-zadas Holandês-Zebu não mostrarampico na curva de Iactação no períodoestudado. O modelo de regressão li-near ajustou-se bem (r2 = 0,99; P <0,01) às produções médias semanais deleite.

Termos para Indexação: Silagem,capim-elefante, produção de leite,

aditivos de sílagens,

ABSTRACT - An experiment wasconducted at the National ResearchCenter For Dairy Cattle (EMBRAPA),ín Coronel Pacheco, MG, to evaluatethe mUk productíon and reproductlveeff1clency of 22 crossbred da1ry cowsfed elephant grass sUage together wí-th elther a proteín supplement (cot-tonseed meal) or protein-energy sup-plement (cottonseed me al + groundcorn). The lntake of crude proteín(CP) from both concentrates was keptconstant (1.15 kg/day) and the Inta-ke of total digestlble nutrients (TDN)was 2.16 and 3.57 kgvday for the pro-

;1 - Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuãrla (EMBRAPA) - Unidade de

ExecuçAo de PesQ.ulsa de J.mblto Estadual (UEPAE) de SAo CarloB-SP. Caixa Postal 339CEP 13560 - Slo Carlos-SP.

2 - Pesquisador da EMBRAPA/Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite - Rodovia MO133, Km 42 - 36155 - Coronel Pacheco-MG.

VÓL. 1S NP 1 1986

teín and proteín-energy supplements,respectívely. The cows were randomlyassigned to a 2 x :.! factorial combina-tíon of treatments 10 a modified blockdesígn, soon after the parturition. Alicows remained in their oríginal treat-ment the entire experiment (84 days).The first fourteen days postpartumwas considered as a preliminary pe-riod. Elephant-grass was ensUed wlthelther 1.4:.!% ground coro or 1.60% orground corn plus a commerclal sí-iage additrve made up or lyopllilizedbactena and enzymes. Elephante-grasssUage feed "ad llbitum" and supple-mented wíth concentrates was ame tosupport an average milk production of10.:& kg/day, and 93 kg/day ot FCMduring the experimenta! period. 'l'hecommerciaí additlve changed neítnermUk productíon, nor dry mather ínta-ke from sílage (P > 0.05). Increasingthe intake or TDN from concentrareswhUe maintaining the intake ot CP,did not change (1' > 0.05) mílk yleld;however, lt increased (P < 0.05) milkprotein production; possibly throug anunprovement in the utílízatíon or die-tary crude protein. The dry matherlntake rrom sUage was low, 63 g/kgO•75, being probably the main cau-se of the low mUk yield. A low repro-ductlve eUiclency was observed. unly68% of the cows became pregnant wi-th artificial ínsemínatíons tal) bet-ween 30 and 84 days pos-partum. Itwas necessary 1.9 AI per conception.Holstein-Zebu crossbred dairy cowsshowed no peak in their Iactatíon cur-ves. A linear regression model flttedwell (r2 = 0.99; P < 0.01) the weeklyaverage milk yield data.

Key WORDS: Elephant-grass sUage,mUk production, sUage additives,

reed intake.

INTRODUÇAO

o BrasU Central apresenta duasestações bem definidas: o verão quen-te e úmido e o inverno seco e frio.Devido às condições adversas de clí-ma para o crescimento das rorrageí-ras tropicais perenes, durante o inver-no, há falta de forragens de boa qua-lidade nesta época do ano, determi-nando um quadro cíclíco na explora-ção leiteira causando prejuízos aospecuarístas e às indústrias.

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1111I111111111111111111111111111111111111111110798-1

a mais utilizada pelos produtores parafornecimento de alimento volumososuplementar aos animais, a fim deatenuar as perdas devido à falta depasto durante o inverno. Contudo, 80a 90% da produção da graminea ocor-re durante o verão, quando a forra-gem disponível nas pastagens podeser maior do que a demanda para aalimentação do rebanho. A ensUagemdo capim-elefante excedente é umaalternativa para alimentação volumo-sa do rebanho no inverno, permitindoainda mais a rebrota da capíneíraque fornece forragem capaz de supor-tar melhor ganho de peso diário doque o capim maduro (MUNIZ et alti,1972) .

O fornecimento da silagem de ca-pim-elefante às vacas em lactação,vem sendo recomendado há muitotempo (McWILLIAN & DUCKWORTH,1949 e CABRERA & RIVERA-BRENES,1953) como forma de amenizar a es-tacíonalídade da produção de leite, noentanto, baixas produções de leite fo-ram abservadas.

O uso de melaço e cana-de-açú-car como aditivo na ensilagem de ca-pim-elefante vem sendo recomenda-d.o há mais de 30 anos (McWILLIAN& DUCKWORTH, 1949 e CABRERA& RlVERA-BRENES, 1953), com a fi-nalidade de reduzir o pH e o teor dosácidos acétíco e butírico e aumentar oteor do ácido Iátíco conforme já foiobservado por FARB. (1971). Contudo,a maioria dos trabalhos desenvolvidosno Brasil, segundo uma revisão recen-te, sobre o assunto (VILELA, 1984)não mostrou efeito positivo do mela-ço, confirmando os resultados de pes-quisas desenvolvidas no Centro Nacio-nal de Pesquisa de Gado de Leite(EMBRAPA, 1981).

Efeito positivo da adição de fubána ensílagem de capim-elefante jáfoi observado por COND};: (1970) eMUNIZ et alii (1972). O primeiro au-tor observou uma redução no pH dSlsílagern e aumento no teor de ácidolático e na digestibilidade in vttroda matéria seca, enquanto que os de-mais autores observaram uma redu-ção na perda de peso de novilhos quereceberam silagem tratada com fubáem relação aos que receberam R süa-gem testemunha.

A adição de 2% da mistura de rú-bá + aditivo comercial, à base de en-

28zlrnas e bactérias, misturados na pro-porção de 9:1, ao capim-elefante an-tes da ensilagem, causou aumento mé-dio de 42,6% para 46,8% no conteúdode nutrientes digestiveis totais (NDT)da sllagem (VILELA et aZit, 1982), po-rém este aumento foi pequeno quan-do comparado ao custo do aditivo.

O presente trabalho objetivou ava-liar a produção de leite de vacas cru-zadas Holandês-Zebu no início da lac-tação, alimentadas com silagem decapim-elefante, confeccionada com ousem a adição do adítívo comercial esuplementada com concentrado pro-télco ou protélco-energético.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido noCNPOL, Coronel Pacheco, MO, sendoque o capim-elefante (Pennisetumpurpureum, sccum) foi cortado apósaproximadamente 110 dias de rebrota.Foram utllizados dois silos tipo trin-cheiras, não revestidos, com capaci-dade aproximada de 40 toneladas ca-.da. Procedeu-se o enchimento de am-bos os s110s simultaneamente. O ca-pim foi colhido mecanicamente comTaarup e repicado no momento de en-sílagem. Após a repícagem do mate-rial foram adicionados 1,42% de ru-bá, no silo testemunha e 1,60% damistura de tubá + aditivo comercial,na proporção de 8: 1 dos respectivosingredientes, no outro silo. O aditivocomercial utilizado é um produto bio-lógico natural, constituído por umcomplexo enaímátíco e bacteriano.

Foram utílízadas 22 vacas mestiçasH-Z (Holandês-Zebu), uniformesquanto à produção de leite nas lacta-ções anteriores, número de partos,persistência da Iactação e aceitaçãode 'ordenha mecânica sem a presençado bezerro. Todas as vacas foram con-finadas em Piquetes de capim-gordu-ra 45 dias antes da data prevista pa.-ra o parto, a fim de serem alimenta-das visando uniformizá-Ias quanto àcondição corporal ao parto. A alimen-tação neste período foi baseada emsilagem mista de capím-eletante e ca-na-de-açúcar à vontade e 2 kg/vaca/dia uma mistura de concentrados con-tendo 18% PB e 70% de NDT.

Após o parto, as vacas foram sor-teadas e distribuídas nos tratamentos.segundo um delineamento experimen-tal contínuo em blocos modificadoscom três blocos e quatro tratamentos

REV. soe. BRAS. ZOQT.

e dois animais por bloco por trata-mento. Houve duas parcelas perdidas.O critério de formação dos blocos foia época do parto. O experimento rotconduzido em regime de confinamen-to em baías individuais com cochessubdivididos para volumoso e concen-trado; e com bebedouros automáticos.Os tratamentos foram prov-enientesde um esquema fatorial 2x2. Os fato-res foram: duas silagens (com e semaditivo comercial) e dois tipos de su-plementação concentrada (protéíca eprotéíco-energétíca) .

As duas primeiras semanas pós-parto foram consideradas como perío-do pré-experimental e as dez semanassubseqüentes como período exparímsn.tal. A mudança de alimentação doperíodo pré-parto para o período pós-parto foi gradual. Na primeira sema-na pós-parto todas as vacas passarama receber sllagem de capim-elefantecom ou sem o aditivo comercial, suple-rnentadas com kg/dia da mesma mís-·tura de concentrados utilizada no pe-ríodo pré-parto. A partir da semanaseguinte, as vacas passaram a receberas suplementações concentradas pro-téíca (4,5 kg/dla) e protéico-energé-tíca (6,0 k/día) .. A composição química do' capim-

elefante antes da ensilagem e a dassílagens e das misturas de concentra-dos fornecidos às vacas nos primeiros84 dias da Iactação pode ser observa-da n~ Quadro 1, enquanto que a com-posíção percentual das misturas deconcentrados pode ser observada noQuadro 2. .

Amostras das sílagens ofertadas àsvacas e das respectivas sobras foramcoletadas três vezes por semana. Nasamostras compostas retiradas sema-nalmente a partir destas, para cadasilo (sílagem ofertada) e para cadavaca (sobra de sílagem) , procedia-seàs determinações de matéria seca(MS), proteína bruta (PB) ~ fibrabruta (FB), segundo AOAC (1970).Amostras das misturas de concentra-dos foram colhidas qulnzenalmente eanalisadas para os teores de MS, PB,e FB, segundo AOAC (1970).

A ordenha foi efetuada mecaníca-mente duas vezes ao dia, colhendo-seos primeiros jatos de leite em canecade fundo escuro a fim de identificarpossíveis ocorrências de mastlte, Fo-ram coletadas amostras de leite a ca-da 14 dias, por dois dias consecutivos,sendo 80 ml de leite de cada ordenha

VOto 15 N9 1. 1986, 29

QUADRO 1 - Composição química média do capim-elefante antes da ensí-lagem, das silagens (10 amostras/silo) e dos concentrados for-necidos às vacas em lactação

Matéria Proteína Fibraseca, % bruta bruta

•..... % na MS

Capim-elefante 30,5 4,7 39,0BUagem testemunhaa 27,3 4,6 41,7BUagem tratada> 24,9 4,7 43,2Concentrado protéíco 87,5 29,3 24,8Ooncentrado protéíco-energétíco 87,3 21.1 14,8

a Silagem tratada com 1,42% de fubá no momento da ensilagem.11 Silagem tratada com 1,60% da mistura de fubá + aditivo comercial, na

proporção de 8: 1 dos respectivos ingredientes.

QUADRO 2 - Composição percentual da mistura de concentrados

Ingredientes

Concentrados

Protéico Protéico-energético......••........ % .......•........

Milho grão, moídoFarelo de algodãoFarinha de ossosSal comum + mícroelementoss

97,111,781,11

38,3359,501,330,84

a Composição percentual da mistura de sal comum + microelementos: cloretode sódio 99,06; sulfato de cobre 0,60; óxido de zinco 0,24; sulfato de cobaIto0,06; iodato de potássio 0,04.

da manhã e 40 ml de cada ordenha da.tarde. Nestes 240 m1 foram efetuadasas determinações de gordura e pro-teina, usando-se, respectivamente, osaparelhos Milko-tester Minor e Pro-Milk, modelo MK lI, conforme instru-ções do AIS N FOSS ELECTRIC (1976,1978). O estrato seco total (EST) foideterminado segundo PEREIRA (1979).O valor do estrato seco desengordu-rado (ESD) tal obtido por díterençaentre os teores do EST e da gordura.

As vacas foram pesadas ao parto eposteriormente a cada. sete dias até o

, .

final do experimento. As variações depeso vivo durante o período experi-mental foram obtidas a partir dasregressões (Peso vivo x Periodo de'lactação) de melhor ajuste aos dados(linear ou quadráttca) ,

As vacas foram observadas antese depois das ordenhas com relação àmanifestação de cio, contando comauxílio de um touro com desvio cirúr-gico do pênis e portanto buçal marca-dor. As vacas foram submetidas à ín-semínação artificial a partir do pri-meiro cio observada 30 dias pós-parto,

J

30

ut1Uzando sêmen de comprovada fer-t1l1dade.

Os dados deste experimento foramanaãísados estatisticamente. As pro-duções de leite, gordura e proteína fo-ram submetidas à análise de variân-ela e covaríãnoía, usando-se comocovariável a produção de leite nos pri-meiros dez dias de lactação. O consu-mo de nutrientes (MS, PB) tambémforam submetidos à análise de va-rtâncía. O ajuste da curva de lactaçâoa uma regressão linear foi efetuadoa partir das produções semanais deleite de cada vaca.

RESULTADOS E DISCUSSAO

A produção média diária de leite esua composição química são apre-sentadas no Quadro 3, enquanto oconsumo médio diário de matéria se-ca (MS), proteína bruta (PB) nutri-entes digestíveis totais <NDT),' a con-versao alimentar e a variação de pe-so vivo podem ser observados no Qua-dro 4. A produção média de leite rol .de 10,2 kg/día e de 9,3 kg/dia quandocorrtgída a 4% gordura. A íncorpo-raçao do aditivo comercial na ensila-gem do capim-elefante não teve efei-to sobre (J:> > 0,05) a produção de lei-te em relação à sUagem que continhaapenas rubá como aditivo (sllagerntestemunha). A suplementação da si-lagem com concentrado protéíco-ener-gético também não teve efeito sobrea produção de leite (P > 0,05) em re-lação às vacas que recebiam stlagemsuplementada com concentrado pro-téíco. Assim não houve vantagem emaumentar o consumo total de NDT de5,02 para 6,32 kg/ dia, mantendo oconsumo total de PB fixo em 1,45 kg/dia.

A produção média de gordura foi. de 0,35 kg'/día, não havendo diferen-ça estatística (P > 0,05) entre trata-mentos. A produção média de proteínaláctea foi de 0,26 kg/dia para as va-cas que recebiam suplementação con-centrada protéica e 0,30 kg/día paraas vacas que recebiam suplementaçãoconcentrada protéico e-energética, serr-do estes valores diferentes estatistica-mente (P < 0,05). Esta diferença pa-rece ser devido à melhor utilizaçãodos nutrientes, já que o consumo dePB foi inferior (P < 0,05) neste grupoque naquele em que as vacas recebiamapenas suplementação concentrada

REV. soe. BRAS. ZOOT.

protélca, Pode-se supor que parte daproteína lngerida pelas vacas que re-cebiam suplemento protéíco estavasendo utllízada como fonte de ener-gia. Porém, do ponto de vista prático;essas considerações não são relevan-tes, pelo fato de o leite ser pago pe-

. 10 teor de gordura e não .pelo teor deproteína.

Foi observada lnteração (P < 0,10)entre a presença ou não do adítívo co-mercial na sllagem e o tipo de con-centrado fornecido às vacas, quantoà produção de leite corrígída e à pro-dução de proteína. Esta ínteração pro-vavelmente foi devida ao menor poten-cial de produção de leite das vacas dís-tribuídas aleatoriamente no tratamen-to silagem testemunha suplementadacom concentrado protéíco-energétíeo;Isto pode ser evidenciado tanto pelaconversao alimentar de 1,20 kg/MS/kg leite produzido neste tratamentoem comparação a 1,02 nos outros tra-tamentos, quanto pelo ganho de pesoobservado neste tratamento em com-paração à perda de peso noademaístratamentos (Quadro 4). A regressãolinear da variação de peso vivo versusprodução média diária de leite de-monstrou um coeficiente de determi-nação (r2) de 0,28; isto é, 28% da va-riação da produção média de leite po-dem ser explicados pela variação de,peso vivo. .

O consumo de matéria seca da. si-lagem foi baixo, em média. de 6,3 kg/vaca/dia (63 g MS/kgO,75). Estes valo-res são menores do que o observadopor LUCCI et alii (1968) (7,4 kg/vaca/'dia), porém semelhantes ao observa-do por NAUFEL et altt (1969) (6,2 kg/vaca/dia). CABRERA & RIVERA-BRENE (953) e McWILUAM &DUCKWORTH (1949) também observa-ram baixo consumo de matéria secade sílagem de capim-elefante em tra-balhos realizados em Porto Rico eTrindade, respectivamente.

A suplementação da sllagem de ca .•.pím-elerante, fornecida a vacas emlactação, com concentrado protéico ouprotéíco-energétíco, não alterou sig-nificativamente (P > 0,05) o consumode matéria seca (M) de sílagem e aprodução de leite, quando os dois tiposde suplementação concentrada roramcomparados. Em termos teóricos, 'adieta total tornou-se melhor balan-ceada, com respeito a. PB e NDT, pa-ra vacas de 460· kg de peso vivo e pro-

l-'OL. 15 N~ 1 1986

dução de leIte de 10 kg/día, com aauplementação concentrada protéíco-energétlca.

Com a Inclusão de uma fonte deamído (rubá de milho) na dieta dasvacas em Iactaçáo, proporcionandoum aumento no consumo de MS to-tal de 1,1 kg/dia e 1,3 kg NDT/dia, euma redução na proporçao volumoso:concentrado de 62:38 para 54:46, hou-ve um pequeno aumento, estatistica-mente não sígnlncattvo., na produçãode leite: isto é, proporciona! ao au-mento no consumo de MS total e nãoao aumento no consumo calculado deenergia digestível (NDT). Pode-se su-por que, com a presença de uma fon-te de amido, e/ou com a ligeira redu-ção da proporção de volumoso da die-ta, a) houve uma redução na utiliza-çao da energia da sílagern ou da die-ta total; b) houve mudanças na fer-mentação rumínal que seriam maispropicias ao ganho de peso, Já que

3140% das vacas que recebiam suple-mentação protéíco-energétíca ganha-ram peso.

A baixa produção corrígída de leí-te (9,3 kg/día), no Início da lactação,observada no presente trabalho, que esemelhante às observadas por LUCCIet alii (1968) (9,3 kgvdía) e LUCCI &BOIN (1970/71) (10,3 kg/dia), pareceser devida à baixa Ingestão voluntáriade matéria seca da sUagem de capim-elefante, já que a conversão alimentarobservada (1 kg MS íngerída/kg leiteproduzido) fo~ semelhante à encon-trada por PAIVA et alii), (1982) utílí-zando sUagem de milho e quantidadessemelhantes de suplementação con-centrada.

A curva de lactação durante as do-ze primeíras semanas da lactação, ex-cetuadas as 2 primeiras, é mostradana rrgura 1. l'oae-se observar quenouve um bom ajustamento ao mo-delo linear (r:J = U,99, P<O,Ol), tan-

QUADRO 3 - MédIa de produção de leite, gordura e proteína, e composiçãoquimíca do leite produzido entre 14 e 84 dias pós-pano, porvacas cruzadas alimentadas com silagem de capim-elefantetratada com fubá ou com ruba + aditivo comercial e supíe-mentação com concentrado protéico ou protéíco-energétíco

Com fubá Com fubá +aditivo comercíal

CVlProtéico Protéico- Protéico Protéíco-

energético energético

Número vacas 6 5 6 5Produção de leite, kg/dta 10,3 a 9,7 a 9,9 a 11,0 a 13,0Produção de leite corrígfda

a 4% gordura», kg'/día 9,7 a 8,7 a 8,9 a 9,9 a 15,1Produção gordura, kg/dia 0,37a 0,32a 0,33a 0,37a 18,6Produção proteínaa, kgydía 0,27b 0,28ab 0,25b 0,31a 11,7'Composição química

.- Gordura, % 3,6 3,3 3,4 3,4- Proteína, % 2,6 2,9 2,6 2,9- EST, % 12,6 12,2 12,2 12,4-ESD, % 9,0 8,9 8,8 9,0

1 Coeficiente de variação.2 Interação sígnítícatíva entre o tIpo de suplementação concentrada e a

presença ou não do aditIvo comercial na sílagem (P < 0,10).a. b MédIas seguídas de letras iguais na mesma linha não diferem estatIstl-

camente pelo teste de Duncan (P > 0,05).

32 REi'. Soe. BRAs. zoar.

QUADRO 4 - Consumo de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e nutrien-tes digestíveis totais (NDT), conversão alimentar (CA), pesovivo inicial e variação de peso vivo de vacas alimentadas comsllagem de capim-elefante tratada com tubá ou fubá + aditivocomercial e suplementadas com concentrado protéíco ou pro-téico-energético no período inicial da lactação

Com fubá Com fubá +adit. comercial

CVlProtéico Protéíco- Protéico Protéico-

energético energétlco

CONSUMO

MS - Sllagem, kg/día 6,7 a 6,4 a 6,1 a 5,9 a 15,6Sllagem, g/kgO.75 65,6 61,8 64,6 61,4Total, kg/día 10,6 b 11,7 a 10,0 b 11,2 a 9,1

PB - Sllagem, kg/dia 0,33a 0,31a 0,31a 0,31a 14,9Total, kg/día 1,48a 1,42b 1,46a 1,42b 3,2

NDT2 - Sllagem, kg/día 2,99 2,86 2,73 2,64Total, kg /día 5,15 6,43 4,89 6,21

CA, kg MS íngerlda/kg leite 1,03 1,20 1,02 1,02Peso vivo inicia13, kg 487 478 432 445Variação de peso vívoe, kg/dia -0,27 0,11 -0,06 -0,15 . 71,6

1 CV = Coeficiente de variação.2 NDT calculado, assumindo que a sllagem de capim-elefante possui, expresso

na base seca, 44,7% NDT (VILELA et alii, 1982) e que o mllho grão e o farelode algodão possuem, expresso na base seca, 90% e 56,5% de NDT, respec-tivamente (CAMPOS, 1980).

3 Peso vivo inicial (14 dias pós-parto) e variação de peso vivo foram calcula-dos através de regressões (peso vivo X dias de lactação) .

a, b Médias seguidas de letras iguais na mesma linha não diferem estatisti-camente pelo teste de Duncan (P > .0,05).

to. para a média da produção dasvacas que recebiam sílagem teste-munha, quanto para a média da pro-dução das vacas que recebiam síla-gem tratada com o aditivo comercial.Houve tendência (P<O,Ol) para maiorpersistência da lactação para as. va-cas que recebiam sílagem tratadacom aditlvo comercial -ern relação àsllagem testemunha. Quando' o mo-delo linear de curva de Iactação (pe-do do de 3-12 semanas pós-parto) foitestado para as produções de cadauma das 22 vacas individualmente,pôde-se notar que foi significativo(P < 0,01) em todos os casos.

Quanto ao aspecto reprodutivo,86,4% das vacas apresentaram cioaté 84 dias pós-parto. O intervaloparto-primeiro cio, médio, foi de 37,3dia. Este valor é menor que o en-contrado por PArVA et alii (1982),.trabalhando com vacas cruzadas, alí-mentadas exclusivamente com síla-gem de milho e concentrado nesta fa-se da Iactação, Uma possível explica-ção para este fato fol a menor produ-ção de leite observada no presentetrabalho. Somente 68% do total dasvacas utll1zadas neste trabalho e 79%das ínsemínadas entre 30 e 84 diaspós-parto ficaram prenhes durante o

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FIGURA 1 - Curva de lactação de vacas mestiças (H-Z, alimentadas com sllagem de capim-elefante com fubá(-.-) e com fubá + aditivo comercial (-.-.-.-1

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experlmen to. Este valor é relativa-mente baixo quando se pretende obterum intervalo médio de partos de12 meses. O número de serviços porconcepção foi de 1,9. Este valor émaior que o encontrado por PAIVAet alH (1982), e pode ser atribuído par-cialmente ao início precoce das inse-minações (KRUIF) 1978), isto é, comapenas 30 dias pós-parto.

CONCLUSOES

1. Sllagem de capim-elefante àvontade suplementada à base de con-centrado protéíco (4,5 kg/día/vaca)ou concentrado protéíco-energétíco(6,0 kg/dta/vaca) foi capaz de supor-tar uma produção média de leite de10,2 kg'/dla no período de 14 a 84dias pós-parto. .

2. O consumo de matéria seca dasllagem foi baixo, 63 g/kgO,75, sendoprovavelmente o principal responsá-vel pela baixa produção de leite. Atra-vés de cálculos teóricos pode-se afir-mar que o consumo de sílagem foi in-suficiente para cobrir as exigênciasde mantença de PB e"NOT, sendo ne-cessário que parte do suplemento con-centrado ingerido fosse utllízado pa-ra este fim.

3. O aditlvo comercial utlllzado àbase de enzimas e bactérias não afe-tou a produção de leite, nem o con-sumo de matéria seca da sllagem.

4. O maior consumo de NDT, atra-vés do suplemento concentrado pro-téico-energétlco, não afetou a produ-ção de leite, porém aumentou a pro-dução de proteína láctea, indicandopossivelmente maior eficiência naproteína bruta da dieta; e tambémreduziu a perda de peso vivo de 0,17kg/día para 0,02 kg/dia durante operíodo experimental.

5. Foi verificado um !.ndice relati-vamente baixo de fertllldade. Apenas68% das vacas ficaram prenhes comínsemínação entre 30 e 84 dias pós-parto, sendo necessários 1,9 IA/con-cepção.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colabo-ração do Dr. Carlos Adolfo GonzálezPerez pelo processamento de dados.