Post on 03-Feb-2018
AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS SOBRE O PROCESSO DE
FECUNDAÇÃO, POR MEIO DO GÊNERO HISTÓRIA EM
QUADRINHOS
Jeanine Albieri Kiszka Franzão– je_kiszka@hotmail.com
Rita de Cássia da Luz Stadler– rstadler@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Ponta Grossa – Paraná
Resumo: A avaliação possui múltiplas funções, como a de mensurar a aprendizagem dos
alunos, nortear o trabalho dos professores que, por meio dela, poderão replanejar a
estratégia de ensino, tornando o processo de aprendizagem mais efetiva. No ambiente
escolar, na maior parte das vezes, a prática avaliativa resume-se à atribuição de uma nota.
Devido a isso, a elaboração de avaliações é uma das atividades mais difícil de realizar para
o professor, pois uma avaliação mal planejada pode resultar em fracasso dos alunos. Para
tanto, torna-se necessário o emprego de estratégias de avaliação diferenciadas, a fim de que
o docente tenha subsídios para avaliar seus alunos de forma adequada e justa. O presente
artigo tem como objetivo, portanto, analisar a utilização do gênero História em Quadrinhos
como uma forma de avaliar os conceitos sobre o processo de fecundação. A professora-
pesquisadora realizou o estudo em quatro turmas de sétima série do ensino fundamental, nas
quais ministra a disciplina de ciências, de uma escola da rede pública de ensino de uma
cidade paranaense. Por meio desta atividade foi possível observar que, pelo fato de
participar na maioria das vezes de um sistema de avaliação tradicional, os alunos sentem-se
inseguros ao se deparar com uma avaliação fora de tais padrões, apresentando dificuldades
em explicar os conteúdos científicos sobre a fecundação, na forma narrativa.
Palavras-chave: História em Quadrinhos, Avaliação, Ensino e Aprendizagem
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, desde 1960, quando houve o surgimento dos primeiros programas de pós-
graduação em Educação, despertou-se o interesse dos professores pela pesquisa da Educação
em Ciências, principalmente nas disciplinas de Biologia, Física e Química, no que diz respeito
a aspectos dos processos educacionais referentes a tais disciplinas, com o objetivo de
promover mudanças que reflitam na melhoria da educação em geral e tragam ao aluno um
ensino voltado para a educação científica (NARDI, 2007).
Entre os diferentes processos educacionais pesquisados por estudiosos destacam-se os
estudos sobre a avaliação da aprendizagem, publicados por Vieira e Sforni (2010); Neto e
Aquino (2009); Furlanetti (2009); Biani e Betini (2010), Luckesi (2005), Santos e Ferreira
(2005), os quais promovem a reflexão sobre as possíveis formas de avaliar a aprendizagem
dos alunos. Esses estudos mostram a avaliação como um processo e não o ponto final de um
assunto, ou seja, como se o processo de ensino e aprendizagem tivesse seu término na
realização de uma atividade avaliativa. É por meio da avaliação que o professor adquire
subsídios para repensar e reelaborar sua prática, com o propósito de alcançar o paradigma
qualitativo sugerido nos documentos oficiais, no caso do estado do Paraná, as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCE’s).
Repensando os objetivos da avaliação citados nos DCE’s, de forma que esses sejam
alcançados com sucesso, torna-se necessário que o professor proporcione aos alunos
estratégias de avaliação diferenciadas, a fim de promover uma avaliação contínua e interativa,
considerando o desempenho do aluno, suas dificuldades e avanços. Para isso, o professor deve
utilizar-se de instrumentos diversificados, com questões e problematizações comuns ao
cotidiano do estudante, com o objetivo de exigir do aluno várias formas de expressar os
conteúdos específicos em contextos diferentes (PARANÁ, 2008).
Em muitos casos as avaliações dão ênfase à memorização de termos e definições, por
outro lado, os próprios documentos oficiais orientam os professores a procurar novas formas
de avaliar, com a finalidade de evidenciar o progresso do aprendizado que conduza os alunos
ao desenvolvimento de capacidades diferentes, promovendo o interesse e o entusiasmo,
sempre coerentes com os objetivos definidos pelo professor (BIZZO, 2007).
Na escolha dos melhores processos para avaliar os alunos, deve-se levar em conta a
premissa de que a avaliação não deve ter como objetivo primordial a visão classificatória, ao
contrário, deve despertar o interesse pelo conteúdo, criatividade e as relações com o cotidiano
do aluno. Portanto, esta pesquisa tem com objetivo analisar a utilização do gênero história em
quadrinhos, como uma das formas de avaliar os conceitos sobre o processo de fecundação.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Os professores que buscam proporcionar uma educação de qualidade encontram muitas
dificuldades, entre elas as que se referem à avaliação da aprendizagem discente, pois ela pode
ter diversas finalidades e funções, tanto para o aluno, quanto para o professor.
Dentre os diversos papéis da avaliação, destaca-se a função de aprovação ou reprovação
dos alunos, resultado do trabalho dos professores e avaliação da qualidade da escola. Todas
essas funções indicam a necessidade de o professor planejar seus instrumentos de avaliação
com cautela, para que haja a coerência entre os objetivos da avaliação, objetivos de seu
planejamento curricular e de curso (KRASILCHIK, 2005).
Para Luckesi (2005), a avaliação não é o término de um assunto, é um meio de
diagnosticar tanto a situação de aprendizagem do aluno quanto o posicionamento do professor
perante suas práticas e metodologias escolhidas, exigindo do educador, inclusive, mudanças
de estratégias de ensino, a fim de proporcionar situações em que o aluno avance em seu
processo de aprendizagem.
Visando à elucidação da utilidade de uma avaliação, Bizzo (2007, p. 61) afirma que “toda
avaliação supõe um processo de obtenção e utilização de informações, que serão analisadas,
diante de critérios estabelecidos segundo juízos de valor”. Portanto, sem o esclarecimento de
tais critérios o professor fica sem parâmetros para a compreensão da utilidade da avaliação.
O papel do professor vai além de elaborar uma boa avaliação, respeitando o nível de
conhecimento em que se encontra o aluno, ele deve destacar a importância de todo o processo
avaliativo. Esse processo envolve o acompanhamento da construção do conhecimento por
parte do aluno e o levantamento de seus avanços e não apenas a obtenção de uma nota, que irá
gerar a futura aprovação ou reprovação do aluno ao término do ano. (VASCONCELLOS,
2005)
Embora muitos autores defendam a avaliação da aprendizagem como um processo
contínuo que colabora para o avanço da aprendizagem do aluno, em algumas escolas os
professores ainda utilizam a prática avaliativa como um meio de disciplinar seus alunos,
priorizando a função simplesmente classificatória e excludente da avaliação, ou seja, sem se
preocupar com os verdadeiros motivos que levaram alguns alunos a não obter tal
classificação. Nesse sentido, o papel da avaliação oferece ao professor uma posição de poder,
na qual pode provocar nos alunos, muitas reações, como a tensão emocional, mudança de
comportamento entre os alunos, inclusive, estimulando à competição (KRASILCHIK, 2005).
Para o aluno, a avaliação deve trazer reflexões sobre o valor do conceito e suas aplicações
no cotidiano, destacando-se o que ele já aprendeu e o que ainda falta ser aprendido. E, para o
professor, um momento para o feedback, onde é possível analisar a compreensão dos alunos
sobre o conceito apresentado e a eficiência das metodologias utilizadas em sua prática, pois
“Avaliar só faz sentido se for diagnóstico para reformulação de aspectos ou de todo um
processo se este não estiver alcançando os objetivos desejados” (VILATORRE, 2009, p. 35)
Nesse processo, a escolha dos instrumentos de avaliação é fundamental para a obtenção
de resultados que expressem o quanto o aluno se apropriou do conteúdo, e com que qualidade
ocorreu essa apropriação. Vasconcellos (2005) defende que a prática de utilizar a prova como
instrumento avaliativo provoca no aluno quebra no processo de ensino e de aprendizagem,
pois para tais práticas existem vários rituais que se seguem, como o dia e a hora marcada para
a avaliação, que provoca nos alunos certa tensão, e evidencia a valorização da nota, e não do
aprendizado dos conteúdos. Esse autor deixa claro que não se deve abolir a prova, mas é
fundamental que o professor entre em acordo com os alunos em relação à entrega de
atividades propostas, realizar as provas em horários de aula comuns, e, principalmente, avaliar
o aluno em diversas oportunidades e de formas diversificadas.
Ao planejar as avaliações, o professor deve ter em mente os objetivos que pretende
atingir com tal instrumento. De maneira geral essa escolha reflete as concepções de ensino e
de aprendizagem do professor. Para tanto, surge a necessidade de selecionar entre os vários
tipos de avaliação disponíveis na literatura pedagógica a mais adequada para seu contexto de
atuação. Um tipo de avaliação que atende as necessidades do professor, no que diz respeito ao
acompanhamento do processo de ensino e de aprendizagem, é a avaliação formativa. Nessa, o
professor pode obter um panorama das insuficiências na aprendizagem e, com isso, intervir e
promover situações em que o aluno possa apropriar-se dos conhecimentos (SANTOS;
FERREIRA, 2005).
Com a utilização de uma avaliação formativa, o professor faz um levantamento das
lacunas que normalmente se refletem nos erros por parte dos alunos. Nesse momento, faz-se
necessária uma recuperação processual das necessidades dos alunos, não com a finalidade
exclusiva de recuperação da nota, mas sim de aprendizagem, que é a tarefa pela qual o
professor é responsável (VASCONCELLOS, 2005).
Quanto ao instrumento de avaliação adequado para determinado assunto, é fundamental
entender que “o instrumento é um mediador entre os critérios de avaliação e a informação que
tem origem na realidade apreendida para ser avaliada” (SALINAS, 2004, p. 90). Portanto, o
professor, ao selecionar determinado assunto para avaliação, deve levantar a utilidade e
viabilidade do instrumento, a fim de evidenciar a informação que se pretende avaliar.
A inovação nas aulas está se tornando comum entre os professores, pois ainda nem todos
a praticam mesmo sendo fundamental ao professor, pois, “atividades diferentes induzem os
alunos a desenvolver capacidades diferentes” (BIZZO, 2007, p. 62).
A escolha das abordagens e estratégias pedagógicas, tanto para o ensino quanto para a
avaliação, é de suma importância. Para isso, o ensino torna-se mais articulado por meio de
recursos pedagógicos adequados. As DCE’s da disciplina de Ciências indicam entre outros
recursos, a revista em quadrinhos como meio de proporcionar ao aluno uma apropriação dos
conceitos científicos de modo mais expressivo (PARANÁ, 2008).
Uma dessas estratégias pode ser as Histórias em Quadrinhos (HQ), e por ser a estratégia
de aprendizagem a ser abordada neste trabalho, para Almeida, Menezes e Mitma (2010, p. 5),
“esse gênero apresenta, os desenhos, os quadros e os balões ou legendas como elementos
típicos, recursos usados para a inserção do texto verbal”. Além de incluir todas as
características citadas acima, Eisner (1989), acrescenta que as HQ são definidas como “arte
sequencial”.
As HQ são em sua essência uma sequência de quadros, baseada nas imagens
cinematográficas, com a diferença de que nos quadrinhos a imagem é estática. Porém, embora
estáticas as imagens adquirem a ideia de movimento com alguns artifícios, como por
exemplo, o uso de onomatopeias, como se pode citar a palavra “crach”, usada quando se quer
demonstrar que ocorreu uma colisão.
As primeiras revistas em quadrinhos surgiram em meados de 1934, com histórias
geralmente curtas (EISNER, 1989, p. 7). Por um longo tempo elas foram vistas como um
material inadequado para a leitura, os sociólogos defendiam que tal leitura poderia prejudicar
o desenvolvimento intelectual dos alunos e até mesmo atingir os jovens, levando-os até
mesmo à delinquência. (CIRNE, 1977, p. 9).
Sua inserção nas escolas veio muito tempo depois, e atualmente as histórias em
quadrinhos são vistas como um material de grande potencial para a utilização no espaço
escolar. Com objetivo de promover o aprendizado com melhor qualidade, as HQ podem não
apenas transmitir conhecimentos científicos, mas, segundo Santos (2003, p.12), podem
também “despertar o interesse e criar o hábito da leitura sistemática, conscientizar, fomentar
atitudes críticas, desenvolver a aptidão artística e a criatividade, seja em estudantes ou em
participantes de movimentos populares”.
Dentre as diversas possibilidades de utilização das HQ, Santos (2003, p. 2), destaca sua
“utilização em livros didáticos; aprendizado de línguas estrangeiras, discussão de temas,
dramatização, educação popular”, entre outras aplicações viáveis no ambiente escolar.
Outro aspecto importante das HQ são os balões, que indicam as falas dos personagens, o
formato dos balões, juntamente com as letras utilizadas, também indicam a intensidade da
voz. Além disso, estilo do balão pode definir uma fala normal do personagem, um
pensamento ou um grito, por exemplo.
Os personagens são um ponto a parte nas HQ, pois participam ativamente da história,
despertando o interesse, envolvendo, assim, o leitor. Os personagens podem ser classificados
segundo a sua atuação na história, como sendo, protagonista, visto como o personagem
principal; antagonista, que se opõe ao protagonista; e o secundário que atua como
coadjuvante na história. (SANTOS, 2003)
A partir da proposta de elaboração de atividade avaliativa utilizando o gênero História em
Quadrinhos, os alunos podem desenvolver dois aspectos da linguagem, sendo estes, a escrita e
o desenho. Para Vigotski (1998, p. 149), “quando uma criança libera seus repositórios de
memória através do desenho, ela o faz à maneira da fala, contando uma história”. Isso se deve
pelo alto grau de abstração por parte do aluno e o desenho é a representação gráfica da sua
linguagem verbal.
Em seu livro Almeida e Silva (1998) apresentam uma coletânea de estudos sobre o ensino
de ciências, dentre esses a pesquisa realizada por Carvalho e Lima, os quais destacaram que o
desenho complementa a linguagem verbal, pois quando esta não é suficiente para exprimir o
pensamento, o aluno procura complementação, recorrendo ao desenho.
Quando o aluno é exposto a uma situação, na qual ele é convidado a criar uma História
em Quadrinhos, ele desenvolve a habilidade da manipulação da linguagem e do desenho, que
se complementam neste gênero textual, como embasa a teoria de Vigotski (1998), além de
explorar a criatividade, e assim, participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem.
3 METODOLOGIA
A pesquisa aqui relatada, do ponto de vista da amostra utilizada, pode ser classificada
como de natureza quantitativa, pois “explora as características e situações de que os dados
podem ser obtidos e faz uso da mensuração e estatísticas” (MOREIRA e CALEFFE, 2008).
Em relação à análise dos dados, podemos classificar a pesquisa como sendo qualitativa, pois
uma das características de uma pesquisa com tal classificação é a análise da qualidade dos
resultados obtidos (SILVA e MENEZES, 2001). Nesse caso, para a obtenção dos dados se fez
necessária a análise das atividades realizadas pelos alunos.
Para esta pesquisa foram selecionados os alunos de quatro 7ª séries do período vespertino
de uma escola estadual, situada na região de Uvaranas, na cidade de Ponta Grossa/PR, em um
total de 122 alunos. A professora-pesquisadora é a responsável pela disciplina de ciências das
turmas escolhidas para este estudo.
Para a coleta de dados, realizou-se a análise de uma atividade avaliativa, utilizando-se o
gênero História em Quadrinhos (HQ), na qual os alunos deveriam criar uma HQ sobre o tema
fecundação, relatando o processo de fecundação desde a entrada dos espermatozoides na
vagina até a formação do blastocisto. Para isso, os alunos deveriam destacar as três
transformações que ocorrem neste processo (zigoto, mórula e blastocisto).
As diretrizes para a elaboração da HQ foram determinadas pela professora-pesquisadora,
antes da realização da atividade, que teve duração de 1 hora/aula, e consistiu na explanação
sobre os aspectos relacionados à estética das HQ, como: sequência em quadros, a criação de
personagens, a utilização de balões, para demonstrar as falas dos personagens, as
onomatopeias, evidenciando as que são mais utilizadas nas HQ, e as estratégias possíveis para
dar ênfase à intensidade da voz do personagem.
O embasamento teórico foi dado por meio de aulas expositivas dialogadas, com utilização
de quadro negro. A fim de despertar o sentido visual, utilizou-se de vídeos da coleção TV
escola, disponibilizados para todas as escolas estaduais, por meio da Secretaria Estadual de
Educação (SEED). Durante a realização da atividade os alunos ficaram livres para a consulta
ao livro didático adotado pela escola.
A análise dos dados ocorreu por meio da análise das atividades avaliativas de cada aluno,
verificando se o educando atingiu os objetivos da proposta, que se deu sob os seguintes
aspectos: presença da sequência correta das três estruturas que são formadas após a
fecundação (zigoto – mórula – blastocisto), o local onde ocorre a formação de cada estrutura
(tuba uterina – útero), que poderia ser representado por meio do desenho.
Outro ponto avaliado foi referente à linguagem utilizada: a linguagem técnica (cópia do
livro didático e/ou baseado na explicação do professor), ou se o aluno conseguiu expressar o
conteúdo com suas palavras, ambas consideradas corretas, e se houve o respeito às
características das HD, como a organização da história em uma sequência de quadros,
utilização de personagens, presença de balões para as falas, e onomatopeias.
Para a tabulação dos dados obtidos com a análise das atividades realizadas pelos alunos,
optou-se por utilizar uma tabela elaborada no programa Microsoft Excel 2010, pela
professora-pesquisadora. Após análise da atividade de cada aluno, foram registrados os
objetivos alcançados pelo aluno, sem a distinção por turma, e omitindo-se a identidade, ou
qualquer dado pessoal dos alunos.
4 RESULTADOS E DISVUSSÕES
Dos 122 participantes, 115 entregaram a atividade solicitada, sendo que 7 alunos optaram
por não a realizar1.
Um total de 6,95 % (8 alunos) dos participantes, embora tenham realizado a atividade,
não atingiram nenhum dos objetivos da proposta, pois não compreenderam o objetivo
relacionado ao recorte do conteúdo, que foi solicitado, ou seja, o processo de fecundação e
reproduziram o processo de gestação, como se pode visualizar na Figura 1.
Figura 1: figura representando a gestação por completo, (imagem - arquivo pessoal)
Em relação às representações das fases obteve-se: 85,21% (98 alunos) dos alunos que
representaram a forma zigoto, 74,78% (86 alunos) representaram a forma mórula e 50,45%
(58 alunos) que representaram a forma blastocisto. Nessas situações foram considerados os
desenhos, independente de o aluno escrever o nome das estruturas, pois como afirma Vigotski
(1998), o desenho é uma das formas da representação verbal. Ainda, segundo afirma Bizzo
(2007), é necessário que o aluno não memorize apenas a terminologia científica, mas também
o seu significado, uma das formas de representação pode ser por meio dos desenhos.
Em relação à sequência correta dos fatos, considera-se como correto o aluno que não
inverteu a ordem de formação das três estruturas, ou seja, a ordem científica do processo da
fecundação: 50,43% (58 alunos) atingiu esta finalidade, porém, o baixo índice de alunos que
não contemplou este quesito deu-se pelo fato que muitos não colocaram todas as três
1 Embora seja extremamente relevante para o processo de ensino e de aprendizagem, a análise dessa
atitude discente, não era o foco do presente estudo.
estruturas solicitadas, prejudicando assim a compreensão do processo de fecundação. A
importância da análise deste objetivo é embasada em Bizzo (2007), que esclarece que para
aprender ciências é necessário um conhecimento de uma série de nomes e classificações, a
fim de assimilar a sequência lógica de acontecimentos, neste caso o gênero História em
Quadrinhos vem a acrescentar a organização dos conceitos do estudante.
A maioria dos alunos não apresentou coerência com relação aos locais onde ocorrem os
fatos (tuba uterina, útero), apresentando um total de 48,69% (56 alunos) que informaram o
local dos fatos sejam por meio de desenho, ou do texto escrito.
No que diz respeito à linguagem dos alunos que entregaram a atividade 48,69% (56
alunos) utilizaram-se da reprodução de trechos do livro didático, neste caso, demonstrado
dependência do material de apoio, reproduzindo o texto contido no livro didático, sem a
devida interpretação dos fatos, como se pode observar um exemplo na Figura 2, em que os
trechos destacados são a reprodução do livro didático adotado pela escola, “Ciências” de
autoria de Fernando Gewandsznajder (2009, p. 20).
Figura 2: destaque para o texto reproduzido do livro didático (imagem - arquivo pessoal)
Aqueles que utilizaram a linguagem específica do gênero narrativo foram 28,69% (33
alunos), demonstrando possuir a capacidade de explicar o termo e seu significado com suas
próprias palavras, relacionando suas experiências pessoais com os conceitos biológicos, como
se pode observar na Figura 3.
Figura 3: utilização de linguagem do gênero narrativo, (imagem – arquivo pessoal)
Os alunos que se utilizaram de linguagem não verbal totalizaram 13,91% (16 alunos)
como se pode observar na Figura 4. Esses que utilizaram apenas os desenhos para elaborar a
sua História em Quadrinhos, sem ocorrer a narração dos desenhos, são compreendidos pela
visão da teoria de Vigotski (1998, p. 149), quando afirma que “o desenho é uma linguagem
gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal”, fato esse a ser considerado, pois, para
elaborar uma História em Quadrinhos sem a utilização da linguagem escrita, e mesmo assim
se fazer entender, é uma situação mais atípica, e de um grau de dificuldade maior.
A elaboração de uma HQ sem a utilização da linguagem escrita é perfeitamente possível,
como confirma Eisner (1989, p. 24), “as imagens sem palavras, embora aparentemente
representem uma forma primitiva de narrativa gráfica, na verdade exigem certo refinamento
por parte do leitor (ou expectador)”.
Figura 4: atividade desenvolvida sem a linguagem verbal, (imagem - arquivo pessoal)
A criação dos personagens agregou uma característica lúdica à avaliação, que deveria
despertar a criatividade dos alunos, porém, apenas 20% dos alunos criaram personagens, ou
ainda viram os espermatozoides e o óvulo como personagens da história, como se pode
perceber na Figura 5.
Figura 5: detalhe para os personagens, (imagem – arquivo pessoal)
Apenas 16,52% (23 alunos) dos alunos recorreram à utilização de balões reproduzindo a
fala de personagens, como se observa na Figura 6.
Outra forma de comunicação é o emprego de letreiros, que podem ser colocados na parte
superior do quadro ou inferior, e indica a fala de um narrador, que normalmente não participa
ativamente da história. Esse recurso foi utilizado por 61,73% (71 alunos), e em alguns casos,
nesse letreiro, foi utilizada a linguagem científica provinda do livro didático. Dentro desta
comunicação outro artifício para passar ao leitor a sensação de movimento e emoção e ênfase
a um acontecimento é a onomatopeia, neste ponto apenas 0,86% (1 aluno) dos alunos
aplicaram este recurso, ver Figura 6.
Figura 6: destaque para os balões e a utilização de onomatopeia, (imagem – arquivo
pessoal)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ato de avaliar deve ser contínuo e processual, do ponto de vista do professor e do
aluno, uma vez que a avaliação não encerra o aprendizado, apenas aponta os novos caminhos
que o professor deve seguir, a fim de atingir o objetivo máximo da educação, que é o
aprendizado.
Com a utilização do gênero História em Quadrinhos, como meio de avaliação dos
conceitos referentes ao processo de fecundação, elencam-se vários pontos passíveis de
discussão, como por exemplo: a participação dos alunos, o comprometimento com objetivos
da atividade proposta, as dificuldades encontradas pelos alunos na realização da avaliação,
uma vez que foge dos modelos tradicionais de avaliação.
Verificou-se durante a realização das atividades que o aluno encontra tais dificuldades,
principalmente por estar participando de um sistema educação tradicional, no qual as
avaliações são geralmente, no modelo de prova, que permite ao aluno apenas a reprodução do
conteúdo, sem a possibilidade de expressão da criatividade e liberdade para expor os
conceitos de modo livre.
No que diz respeito à aprendizagem do conteúdo, é notável a presença de erros
conceituais, ou ainda falhas na compreensão total do conteúdo, que refletiram em erros por
parte dos alunos, como por exemplo, a não utilização de todas as estruturas (zigoto, mórula,
blastocisto), ou ainda a dificuldade dos alunos em traduzir a linguagem científica, para uma
linguagem narrativa, como solicitado na atividade, demonstrando que a maioria dos alunos
não compreendeu realmente os conceitos.
Os erros cometidos pelos alunos, como não compreender o recorte no conteúdo, também
se deve a pressa em terminar a atividade, fato que resulta na pouca concentração necessária
para tal tarefa.
Portanto, nesta fase inicia-se uma segunda etapa do trabalho do professor, o
replanejamento, e em seguida a reorientação do trabalho docente, buscando alternativas que
possibilitem ao educando a chance de vencer essas dificuldades e apropriar-se dos conteúdos.
A fim de obter sucesso em situações pouco comuns de avaliação, como a apresentada
neste artigo, é necessária que ocorra uma mobilização de toda a comunidade escolar, com o
objetivo de transformar a avaliação em algo prazeroso que conduza a aprendizagem efetiva do
educando. Para tanto, a escola e os professore de todas as disciplinas, precisariam rever seus
conceitos de avaliação, e disponibilizar-se a mudanças.
A princípio parece utopia, mas se em cada disciplina, o professor utilizar a avaliação
como aliada, e não como forma de “castigo”, a educação dita de “qualidade”, terá grandes
chances de ser obtida.
6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, K. J.; MENEZES, M. P.; MITMA, S. M. A instrumentalização das histórias em
quadrinhos na sala de aula. Interdisciplinar, v.10, n. especial, p. 245-261. Disponível em:
http://www.posgrap.ufs.br Acesso em set. 2011.
ALMEIDA, M. J. P. M.; SILVA, H. C. (Org.). Linguagens, leituras e o ensino de ciências.
Campinas: Mercado de Letras, 1998.
BIANI, R. P.; BETINI, M. E. S. Do avaliar a aprendizagem ao avaliar para a aprendizagem:
por uma nova cultura avaliativa. Educação: Teoria e Prática. v. 20, n.35, jul-dez 2010, p. 71-
88. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br Acesso em: set. 2011.
BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? 2 ed. São Paulo: Ática, 2007.
CIRNE, M. A explosão criativa dos quadrinhos. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1977.
EISNER, W. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
FURLANETTI, M. P. F. R. Avaliação e projeto pedagógico: uma relação amorosa na prática
da educação de jovens e adultos. Educação: Teoria e Prática. v.19, n.33, jul.-dez., 2009. p.
115-129. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br Acesso em: set. 2011.
GEWANDSZNAJDER, F. Ciências. 4 ed. São Paulo: Ática, 2009.
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 4 ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2005.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 17 ed. São
Paulo: Cortez, 2005.
MOREIRA, H; CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. 2
ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
NARDI, R.A pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo:
Escrituras Editora, 2007.
NETO, A. L. G. C.; AQUINO, Josefa de L. F. A avaliação da aprendizagem com um ato
amoroso: o que o professor pratica? Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 25, n. 2. Ago.
2009. p. 223-240.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Superintendência da Educação.
Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental. Paraná, 2008.
SALINAS, D. Prova amanhã! Avaliação entre a teoria e a realidade. Porto Alegre: Artmed,
2004.
SANTOS, C. R. (Org.); FERREIRA, M. C. (Coord.). Avaliação educacional: um olhar
reflexivo sobre sua prática. São Paulo: Editora Avercamp, 2005.
SANTOS, R. E. A História em Quadrinhos na sala de aula. In: XXVI CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2003. Belo Horizonte. Anais
eletrônicos. Belo Horizonte: INTERCON, 2003. Disponível em:
<http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4905/1/NP11SANTOS_ROBERT
O.pdf> Acesso em: 27 mai. 2012.
SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração da dissertação. 3
ed. Florianópolis: Laboratório de ensino a distância da UFSC, 2001.
SILVA, H. Uma alternativa didática: a produção de histórias em quadrinhos por alunos
do Ensino Fundamental a partir de narrativas populares. 2009. 126 f. Dissertação
(Mestrado em Linguística Aplicada). Universidade de Taubaté, Taubaté, 2007. Disponível
em: <http://www.dominiopublico.gov.br> Acesso em: set. 2011.
SILVA, N. M. Elementos para análise das histórias em quadrinhos. In: XXIV CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2001. Campo Grande. Anais
eletrônicos. Campo Grande: INTERCON, 2001. Disponível em:
<http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/5093/1/NP16SILVA.pdf> Acesso
em: 27 mai. 2012.
VASCONCELLOS, C. S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de
avaliação escolar. 15ª ed. São Paulo: Libertad, 2005.
VIEIRA, V. A. M. A.; SFORNI, M. S. F. Avaliação da aprendizagem conceitual. Educar em
revista. Curitiba, n. 2, p. 45-58, 2010. Editora UTFPR.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores.
6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
VILLATORRE, A. M.; HIGA, I.; TYCHANOWICZ, S. D.Didática e avaliação em física.
São Paulo: Saraiva, 2009.
EVALUATION OF CONCEPTS ON THE PROCESS OF
FECUNDATION, THROUGH THE GENDER HISTORY IN COMICS
Abstract: The evaluation has multiple functions, as measuring students learning, guide
teachers’ work that through it, will be able to replan teaching strategy, making it the learning
process more effective. At the school ambience, most of the time, the evaluating practice ends
up in attributing marks. That’s the reason elaborating evaluation is one of the most difficult
activities a teacher has to do, for whenever a evaluation is ill-planned results in students’
failure. Therefore it’s necessary to apply different evaluation strategy in order to teacher has
subsidies to evaluate students in a suitable and fair way. This article has the goal, however to
analyze the use of the gender comic strips as a tool to evaluate concepts about the
fecundation process. The researcher teacher accomplished this study in four student groups
of the elementary seventh grade, where she teaches sciences, a public school of a Paraná
state town. It was possible to observe through this activity that, due to take part most of the
time of a traditional evaluation system students feel insecure to face an evaluation out of
standard, showing difficulties to explain scientific contents about fecundation in the narrative
way.
Key-words: Comic strips, fecundation, teaching and learning.