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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
RONALDO CHERUBINI AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO SISTEMA DE COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO MUNICÍPIO DE
FARROUPILHA - RS
Caxias do Sul
2008
RONALDO CHERUBINI AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO SISTEMA DE COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO MUNICÍPIO DE FARROUPILHA - RS
Relatório de estágio supervisionado apresentado como parte dos requisitos para obtenção da aprovação na disciplina de Estágio Supervisionado em Engenharia Ambiental, sob a supervisão e coordenação acadêmica da Profa. Ms. Neide Pessin.
Caxias do Sul 2008
RONALDO CHERUBINI
Relatório de estágio supervisionado apresentado como parte dos requisitos para obtenção da aprovação na disciplina de Estágio Supervisionado em Engenharia Ambiental do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, 16 de julho de 2008. Avaliadores do Seminário _________________________________ Profa. Ms. Neide Pessin (UCS) _________________________________ Profa. Ms. Juliano Rodrigues Gimenez (UCS)
RESUMO
O aumento da quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) associado à crescente preocupação com a qualidade ambiental, à saúde da população e à inexistência de um modelo adequado de gestão nas prefeituras, tem induzido a busca de tecnologias que atendam um padrão de sustentabilidade econômica, ambiental, técnica e social. A coleta seletiva e a reciclagem são uma solução indispensável para a redução do volume de resíduos para disposição final em aterros. O fundamento deste processo é a separação, pela população, dos materiais recicláveis (papéis, plásticos, vidros e metais) do restante, que é destinado a aterros ou usinas de compostagem. Este relatório integra as atividades desenvolvidas durante o Estágio Supervisionado em Engenharia Ambiental, realizado junto à empresa responsável pelos serviços de limpeza urbana, operação da reciclagem, tratamento e destinação final de resíduos sólidos urbanos do município de Farroupilha. O estágio teve como objetivo retratar uma análise ambiental do sistema de coleta e disposição de resíduos sólidos urbanos, com foco na vida útil do aterro sanitário. Também foi realizada a sistematização dos dados de gerenciamento de resíduos e a avaliação da eficiência do processo de triagem de resíduos sólidos urbanos realizados em esteira, propondo sugestões e melhorias ao sistema. A gestão adequada dos resíduos sólidos oferece melhores condições de saúde e bem estar da população, melhorando a qualidade de vida da geração atual e garantindo a existência das gerações futuras, aderindo ao conceito de sustentabilidade.
Palavras-chave: Resíduos sólidos urbanos. Aterro sanitário. Unidade de triagem.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................5
2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS...........................................................................7
2.1 Classificação dos resíduos sólidos urbanos........................................................8
2.2 Caracterização dos resíduos sólidos...................................................................9
2.3 Problemas decorrentes dos RSU......................................................................11
2.3.1 Poluição do solo.......................................................................................11
2.3.2 Poluição das águas..................................................................................11
2.3.3 Poluição do ar...........................................................................................12
2.4 Formas de tratamento de resíduos sólidos urbanos.........................................12
2.4.1 Aterro sanitário.........................................................................................12
2.4.2 Reciclagem...............................................................................................13
2.4.3 Compostagem..........................................................................................14
2.4.4 Incineração...............................................................................................15
2.5 Gestão de resíduos sólidos...............................................................................15
2.5.1 Metodologias de coleta seletiva...............................................................16
2.5.1.1 Segregação total na fonte............................................................16
2.5.1.2 Separação em centrais de triagem...............................................17
2.5.1.3 Coleta multi-seletiva.....................................................................17
2.5.1.4 Coleta seletiva porta-a-porta........................................................18
2.5.1.5 Coleta seletiva voluntária.............................................................18
3 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO................................................................19
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...........................................................................25
5 AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS............................................................................25
5.1 Coleta e triagem................................................................................................26
5.2 Disposição final.................................................................................................32
5.2.1 Vida útil do aterro.....................................................................................34
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.................................................................37
REFERÊNCIAS..........................................................................................................39
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1 INTRODUÇÃO
Entre os diversos problemas ambientais existentes, os Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) têm-se tornado um dos maiores desafios da atualidade. O
crescimento acelerado da população demanda a produção de bens e serviços, que
por sua vez, à medida que são produzidos e consumidos, geram cada vez mais
resíduos, os quais, coletados ou dispostos inadequadamente, trazem significativos
impactos à saúde pública e ao meio ambiente.
O destino dos resíduos sólidos é um grave problema do saneamento
ambiental, sendo conseqüência da concentração de população em aglomerados
urbanos, independente de sua localização, tamanho e níveis de desenvolvimento da
comunidade.
O aumento da quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) associados à
crescente preocupação com a qualidade ambiental, a saúde da população e a
inexistência de um modelo adequado de gestão nas prefeituras, tem induzido a
busca de tecnologias que atendam um padrão de sustentabilidade econômica,
ambiental, técnica e social.
Existem algumas alternativas técnicas para o solucionar o problema da
destinação dos resíduos sólidos. O ideal é, sem dúvida, a redução na fonte, seguido
do reaproveitamento e da reciclagem, porém enquanto não forem criadas condições
favoráveis à destinação desses resíduos sólidos, a alternativa mais usada tem sido
os aterros sanitários, ou ainda, nos indesejáveis lixões.
Na atividade de disposição final são realizadas três etapas, respectivamente:
a implantação onde são realizadas todas as obras projetadas para que se possibilite
a segunda etapa que é a operação, onde os resíduos são recebidos e aterrados de
maneira sanitariamente adequada e, finalmente, a manutenção necessária para
manter em funcionamento os elementos do aterro sanitário.
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Vários resíduos sólidos podem ser reciclados ou até mesmo reaproveitados
dentre eles estão os papéis, plástico, metal, vidros, alumínio, papelão e dentre
outros. Diversos materiais podem servir como matéria-prima para novos produtos.
Para que ocorra a reutilização desses materiais é necessário a implantação
de um programa capaz de selecionar os resíduos desde a fonte geradora até o
destino final dos mesmos. O programa capaz de minimizar os problemas
relacionados aos resíduos é a implantação da coleta seletiva no qual garante melhor
qualidade dos resíduos sólidos, redução em quantidades a serem dispostos
inadequadamente e uma melhor qualidade dos resíduos a serem reciclados
Uma vez que Reduzir, Reutilizar e Reciclar os resíduos sólidos urbanos
constitui–se, atualmente, na principal estratégia para a redução do passivo
ambiental decorrente da disposição inadequada desses resíduos, é de grande
importância o correto entendimento de métodos e técnicas que envolvam a coleta
seletiva de resíduos, como também de componentes técnicas, econômicas e sociais
envolvidas nessa etapa da gestão dos resíduos sólidos.
A coleta seletiva e a reciclagem são uma solução indispensável, por permitir a
redução do volume de resíduos para disposição final em aterros. O fundamento
deste processo é a separação, pela população, dos materiais recicláveis (papéis,
plásticos, vidros e metais) do restante, que é destinado a aterros ou usinas de
compostagem.
Diante deste cenário, o presente trabalho teve por objetivo retratar uma
análise ambiental do sistema de coleta e disposição de resíduos sólidos urbanos do
município de Farroupilha, com foco na vida útil do aterro sanitário. Ao mesmo tempo
também foi realizado a sistematização dos dados de gerenciamento de resíduos, e a
avaliação da eficiência do processo de triagem de resíduos sólidos urbanos
realizados em esteira, propondo sugestões e melhorias ao sistema.
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2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU’s), popularmente chamados de lixo
urbano, são resultantes da atividade doméstica e comercial das povoações.
A definição de lixo urbano, segundo Lima (2004), é difícil de ser feita, devido à
sua origem e formação estarem relacionadas a vários fatores. Assim, “é comum
definir como lixo todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do
homem na sociedade” (LIMA, 2004, p.11).
A norma NBR 10.004 (ABNT, 2004), que trata de classificação dos resíduos
sólidos, também traz uma definição:
Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólido e semisólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam inclusos nesta última definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.(ABNT, 2004, p.1).
São muitos os fatores que influenciam a origem e formação dos resíduos
sólidos no meio urbano, como:
- variações sazonais;
- condições climáticas;
- área relativa de produção;
- número de habitantes do local;
- nível educacional;
- poder aquisitivo;
- hábitos e costumes da população;
- segregação na origem;
- sistematização na origem;
- tipo de equipamento de coleta;
- leis e regulamentações especas.
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É interessante ressaltar que um dos fatores mais importantes é a componente
econômica. Ocorrendo variações na economia de um sistema, pode-se perceber
imediatamente seus reflexos nos locais de disposição e tratamento dos resíduos
sólidos.
2.1 Classificação dos resíduos sólidos urbanos
Devido a grande diversidade de materiais que fazem parte da composição
dos resíduos sólidos, surgiram algumas formas de classificá-lo: por sua origem, por
sua natureza física, por sua composição química, ou pelos riscos que oferece ao
meio ambiente.
A norma NBR 10.004 (ABNT, 2004) traz uma classificação dos resíduos
sólidos quanto aos riscos que oferecem ao meio ambiente, conforme mostrado no
Quadro 1.
CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Classe I
Perigosos
Apresentam riscos à saúde pública ou ao meio ambiente, ou possuem uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade.
Classe IIA
Não Inertes
Não se enquadram na definição de resíduos classe I, tampouco na classe IIB. Podem ter
propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Classe IIB
Inertes
Não possuem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos
padrões de potabilidade de água. Quadro 1: Classificação de resíduos sólidos segundo NBR 10.004. Fonte: ABNT (2004).
A classificação dos resíduos sólidos quanto a sua origem, é apresentada no
Quadro 2.
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CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS Domiciliar Originado diariamente nas residências,
composto por restos de alimentos, produtos deteriorados, papel higiênico, fraldas
descartáveis, embalagens diversas, papéis, papelões, plásticos, vidros, trapos, etc.
Comercial Originado em estabelecimentos comerciais, como supermercados, restaurantes, lojas,
bares, empresas, hotéis, bancos, etc. Público Originado de serviços de limpeza pública
urbana, como varrição, podas, limpeza de praias, galerias pluviais, de arroios, praças, áreas de feiras livres, terrenos baldios, etc.
Serviços de saúde Constituem resíduos que são potencialmente patogênicos oriundos de locais como
farmácias, postos de saúde, hospitais, clínicas odontológicas, veterinárias, laboratórios, etc.
Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários
Também são considerados resíduos potencialmente patogênicos, pois se
constituem basicamente de materiais de higiene, asseio pessoal e restos de alimentos que podem veicular doenças provenientes de
outras cidades, estados ou países. Industrial Originado das atividades dos diversos ramos
da indústria. Grande parte dos resíduos considerados tóxicos inclui-se nesta categoria.
Agrícola Resíduos provenientes das atividades agrícolas e da pecuária. Incluem embalagens de fertilizantes e defensivos agrícolas, rações,
restos de colheita, etc. Entulho Resíduos da construção civil, composto por
restos de obras, materiais de demolições, solos de escavações, etc. Alguns materiais
podem lhe conferir toxicidade, como restos de tinta, solventes e metais.
Quadro 2: Classificação de resíduos sólidos de acordo com sua origem. Fonte: D’ Almeida e Vilhena (2000, p. 29), Pessin, Mandelli e Slompo (1991, p. 70).
2.2 Caracterização dos resíduos sólidos
O conhecimento das características dos resíduos sólidos (biodegradabilidade,
peso específico, composição, umidade e poder calorífico) é de grande importância
quando da definição dos procedimentos do tipo de coleta e de disposição final. A
diferença das características dos resíduos verifica-se entre os municípios e os seus
bairros, bem como em diferentes períodos do ano. Os resíduos sólidos, geralmente,
são constituídos por dois tipos de componentes, sendo eles:
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• Resíduos orgânicos – composto por restos de cozinha (ex. verduras, frutas,
restos de comida, borra de café), limpeza do terreno (ex. grama, folhas e
galhos), papéis em geral, entre outros. Apresentam grau de biodegradação
variando entre facilmente (ex. restos de alimentos) a moderadamente
degradáveis (ex. papel e papelão).
• Resíduos inorgânicos – chamado de resíduo reciclável ou seco. É composto
de vidros (ex. garrafas, potes, espelhos, copos, lâmpadas e cacos de vidro),
papel e papelão (ex. revistas, jornais, caixas, livros e sacos), metais (ex. latas,
tampas de garrafas, pregos, pilhas e papel alumínio), plásticos (ex.
embalagens plásticas, sacolas de supermercado, copos descartáveis e
garrafas plásticas).
As análises comumente realizadas em RSU são: teor de umidade, teor de
material seco, densidade e composição física dos resíduos. Esta última consiste em
definir as porcentagens das várias frações do resíduo, como papel, papelão,
madeira, plástico, metais, matéria orgânica, etc.
No Brasil, é elevada a quantidade de materiais orgânicos na composição dos
resíduos sólidos urbanos, correspondendo a cerca de 55 % do peso. Segundo
CEMPRE (2008):
Isso pode ser explicado em parte pela ausência de embalagens adequadas, principalmente para a distribuição dos alimentos – fato este que se repete em vários países da América Latina. Nos Estados Unidos, produtos feitos com papel e papelão ocuparam o primeiro lugar na lista de resíduos gerados em 2001 (81,9 milhões de toneladas). (CEMPRE, 2008).
A Tabela 1 representa a composição dos resíduos sólidos urbanos, referentes
ao ano de 2004.
Tabela 1: Composição dos resíduos sólidos urbanos.
Orgânico Metais Plásticos Papel/Papelão Vidro Outros
Brasil 55% 2% 3% 25% 2% 13%
México 42,6% 3,8% 6,6% 16,0% 7,4% 23,6%
Estados
Unidos
11,2% 7,8% 10,7% 37,4% 5,5% 27,4%
Fonte: CEMPRE (2008).
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2.3 Problemas decorrentes dos RSU
A disposição inadequada dos RSU está diretamente relacionada com os
problemas causados por estes resíduos no solo, nas águas e no ar.
2.3.1 Poluição do solo
Quando dispostos inadequadamente, sem qualquer tratamento, os RSU
podem poluir o solo, alterando as características físicas, químicas e biológicas,
constituindo-se num problema de ordem estética e, mais ainda, numa séria ameaça
à saúde pública. Por conter substâncias de alto teor energético e, por oferecer
disponibilidade simultânea de água, alimento e abrigo, os resíduos se tornam
criadouro de vetores de doenças, como roedores, moscas, bactérias e vírus.
2.3.2 Poluição das águas
Existe local onde é feita a disposição incorreta de resíduos, que são lançados
diretamente em corpos hídricos, ou que os lixiviados dessa massa de resíduos,
disposta no solo, contaminam os cursos d’água.
Os principais efeitos da presença dos RSU em corpos hídricos são: elevação
da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), redução dos níveis de oxigênio
dissolvido, formação de correntes ácidas, maior carga de sedimentos, elevada
presença de coliformes, aumento da turbidez, intoxicação de organismos presentes
naquele ecossistema, incluindo o homem, quando este utiliza água contaminada
para consumo.
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2.3.3 Poluição do ar
No processo de decomposição dos RSU ocorre a geração de gases como
metano (CH4), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx), e dióxido de
carbono (CO2). A presença desses gases na atmosfera contribui para fenômenos
como a chuva ácida e o efeito estufa, além de serem tóxicos para diversos
organismos. Esses gases são liberados diretamente na atmosfera, quando não há
tratamento ou disposição adequada dos resíduos.
2.4 Formas de tratamento de resíduos sólidos urbanos
Há diferentes formas de tratamento e disposição dos RSU, visando um
destino final adequado ao resíduo sólido urbano. Os mais utilizados são: aterro
sanitário, reciclagem, compostagem e incineração.
2.4.1 Aterro sanitário
O aterro sanitário, segundo CETESB (apud LIMA, 2004, p. 46):
O aterro sanitário é definido como um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo, particularmente o lixo domiciliar, que fundamentado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permite uma confinação segura, em termos de controle da poluição ambiental e proteção ao meio ambiente. (CETESB apud LIMA, 2004, p. 46).
A definição para aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, segundo a
norma NBR 8.419 (ABNT, 1993) é:
Consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza os princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos ao menor volume permissível, cobrindo-os
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com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou à intervalos menores se for necessário. (ABNT, 1993, p. 1).
São inúmeras as vantagens de utilizar-se o processo de aterro sanitário para
a disposição de resíduos sólidos, porém o relativo baixo custo que envolve esta
prática é o que a torna interessante. Algumas vantagens, além desta, são:
• disposição do resíduo sólido de forma adequada;
• capacidade de absorção diária de grande quantidade de resíduos;
• condições especiais para a decomposição biológica da matéria orgânica
presente no resíduo sólido.
São basicamente quatro os fatores limitantes deste método: condições
climáticas de operação durante todo o ano; a disponibilidade de material de
cobertura diária; a disponibilidade de grandes áreas próximas aos centros urbanos
que não comprometam a segurança e o conforto da população e a escassez de
recursos humanos habilitados em gerenciamento de aterros.
2.4.2 Reciclagem
Reciclagem, segundo DUSTON (apud CALDERONI, 2003, p. 52):
É um processo através do qual qualquer produto ou material que tenha sido para os propósitos a que se destinava e que tenha sido separado do lixo é reintroduzido no processo produtivo e transformado em um novo produto, seja igual ou semelhante ao anterior, seja assumindo características diversas das iniciais. (DUSTON apud CALDERONI, 2003, p. 52).
Para o melhor desempenho do processo, deve-se implantar no município um
programa de coleta seletiva, onde os resíduos recicláveis são separados dos demais
na fonte geradora, ou seja, nas residências, indústrias e comércio, e coletados
separadamente, para após serem encaminhados a indústrias recicladoras.
Alguns dos materiais que podem ser reciclados são:
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• plásticos;
• metais;
• vidros;
• papeis;
• papelão;
• entulho da construção civil;
• matéria orgânica.
2.4.3 Compostagem
“A compostagem pode ser definida como o ato ou ação de transformar os
resíduos orgânicos, atreves de processos físicos, químicos e biológicos, em uma
matéria biogênica mais estável e resistente à ação das espécies consumidoras”
(LIMA, 2004, p. 73).
O composto nada mais é do que a denominação genérica dada ao fertilizante
orgânico resultante do processo de compostagem.
Alguns dos objetivos da compostagem são:
• alternativa exeqüível técnica e econômica;
• reter o máximo de nutrientes;
• redução do volume de material;
• transformar a matéria orgânica presente nos resíduos em um material estável;
• produzir um composto que possa ser utilizado na preparação e recuperação
de solos;
• destruir patógenos que possam estar presentes nos resíduos.
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2.4.4 Incineração
Consiste no tratamento térmico do resíduo a altas temperaturas, convertendo-
o em material inerte (cinza) que deve ser aterrado. Alternativa altamente intensiva
em investimento e custos operacionais, necessita de um pequeno aterro de inertes
(OJIMA, 1991).
Apresenta soluções satisfatórias, do ponto de vista do tratamento, porém os
aspectos relacionados aos efluentes gasosos devem ser considerados. Na
combustão, há liberação de gases como dióxido de enxofre (SO2), dióxido de
carbono (CO2) e nitrogênio (N2), água, formação de cinzas e escória, constituída de
materiais como metais não ferrosos, vidro, pedras, etc.
A energia complementar do sistema é consumida, na forma de combustível
auxiliar para combustão inicial do resíduo, porém permite o aproveitamento de parte
desta energia na forma de calor residual, desde que se instalem equipamentos
adicionais.
2.5 Gestão de resíduos sólidos
O conceito de gestão de resíduos sólidos abrange atividades referentes à
tomada de decisões estratégicas com relação aos aspectos administrativos,
operacionais, institucionais, financeiros e ambientais, envolvendo políticas,
instrumentos e meios.
Já o termo gerenciamento de resíduos sólidos refere-se aos aspectos
tecnológicos e operacionais da questão, envolvendo fatores administrativos,
gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho: produtividade e qualidade.
Relaciona-se, por exemplo, à prevenção, redução, segregação, reutilização,
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acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e
destinação final de resíduos sólidos.
O gerenciamento integrado de resíduos sólidos segundo a concepção de
Lima (2000, p. 22) é:
Gerenciar os resíduos de forma integrada é articular ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade, ou seja: é acompanhar de forma criteriosa todo o ciclo dos resíduos, da geração à disposição final (“do berço ao túmulo”), empregando as técnicas e tecnologias mais compatíveis com a realidade local. (LIMA, 2000, p. 22).
2.5.1 Metodologias de coleta seletiva
Existem diversas formas de operar um sistema de coleta seletiva de RSU.
Entre essas, destaca-se a segregação total na fonte e a separação em centrais de
triagem, a coleta multi-seletiva, a coleta seletiva porta-a-porta e também a coleta
seletiva voluntária.
2.5.1.1 Segregação total na fonte
A separação na fonte geradora dos diferentes tipos de materiais recicláveis
presentes nos resíduos sólidos promove inúmeros ganhos nas etapas posteriores.
Estes custos estão associados a triagem, lavagem, secagem, transporte, entre
outros (VILHENA, 1999).
A segregação do resíduo é feita pelo próprio morador que acondiciona os
recicláveis separadamente. Deve-se prever, portanto, local disponível para
armazenamento.
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Um exemplo é a separação entre resíduo seco (plásticos, papel, vidro, metais,
longa-vida, pneus, etc), do resíduo úmido (resíduos orgânicos tais como restos de
alimentos, cascas de frutas e legumes, etc) e eventualmente, outros (rejeito).
2.5.1.2 Separação em centrais de triagem
Dependendo da quantidade e do tipo de resíduo coletado, pode ser mais
interessante do ponto de vista técnico e econômico fazer a coleta regular do resíduo
e destiná-la à uma central de triagem, onde haverá separação de todos os materiais
recicláveis, inclusive a fração de orgânicos que será destinada à compostagem.
As centrais de triagem e compostagem, além de representarem uma alternativa sustentável de manejo dos resíduos sólidos, tem desdobramentos econômicos e sociais. A quantidade de resíduos que pode deixar de ser levado aos aterros sanitários é significativa, contribuindo assim para o aumento da vida útil de um aterro e para a redução da geração de lixiviados. (FERNANDES, et al. 2007, p. 1).
A triagem do resíduo pode ser feita manualmente ou mecanicamente. A
triagem manual é executada em esteiras transportadoras onde os operários,
dispostos de cada lado da esteira, retiram manualmente os resíduos de maior
interesse econômico (vidros, plásticos, metais, papeis, etc). A triagem mecânica é
feita por equipamentos especiais como peneiras rotativas e vibratórias, eletro-ímã,
aspiradores, ciclones, flutuadores, etc. Ela é mais eficiente e resulta em maior
produção de reciclados. Porém, envolve custos elevados na aquisição e
manutenção dos equipamentos.
2.5.1.3 Coleta multi-seletiva
Neste tipo de coleta, os diferentes tipos de materiais recicláveis são coletados
simultaneamente, mas com separação rigorosa entre todos os tipos já na fonte
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geradora. Para a sua implantação, deve-se levar em conta uma série de aspectos
técnicos e econômicos. Entre as barreiras técnicas a serem transpostas destacam-
se:
• necessidade de veículos coletores especiais;
• espaço físico para armazenamento dos materiais em separado;
• maior freqüência (dias) de coleta;
• capacidade de escoamento (venda) de todos os materiais;
• necessidade de uma campanha educativa mais detalhada.
2.5.1.4 Coleta seletiva porta-a-porta
Semelhante ao procedimento clássico de coleta normal de resíduos sólidos,
porém com algumas variações que caracterizam a coleta seletiva. Os veículos
coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não
coincidam com a coleta normal. Os moradores colocam então os recicláveis nas
calcadas, acondicionados em containeres distintos.
Esse modelo varia caso a caso. É comum a separação entre resíduo úmido
(orgânicos) e resíduo seco (recicláveis). O material coletado é destinado a galpões
de triagem onde é feita então uma segunda separação em esteiras ou bancadas.
2.5.1.5 Coleta seletiva voluntária
Em alguns casos, utilizam-se containeres ou mesmo pequenos depósitos,
colocados em pontos fixos pré-determinados da “malha” urbana, denominados
PEV’s (Postos de Entrega Voluntária) ou LEV’s (Locais de Entrega Voluntária), onde
o cidadão, espontaneamente, deposita os recicláveis. Cada material deve ser
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colocado num recipiente específico (com nome e cor). A combinação usual entre
cores e materiais está apresentada no Quadro 3.
COR MATERIAL
Azul Papel/Papelão
Vermelho Plástico
Verde Vidro
Amarelo Metal
Preto Madeira
Laranja Resíduos Perigosos
Branco Resíduos ambulatoriais e de
serviços de saúde
Roxo Resíduos radioativos
Marrom Resíduos orgânicos
Cinza Resíduo geral não reciclável ou
misturado, ou contaminado não
passível de separação.
Quadro 3: Padrão de cores adotado pelo CONAMA. Fonte: BRASIL (2001).
3 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
O estágio foi realizado junto à empresa responsável pelos serviços de limpeza
urbana, operação da reciclagem, tratamento e destinação final de resíduos sólidos
urbanos do município de Farroupilha. As atividades desenvolvidas pela empresa
atendem às regulamentações e normas vigentes.
A empresa chegou a Farroupilha em 2003. Em 2004, venceu a licitação do
contrato de concessão para os serviços de limpeza urbana e tratamento de resíduos
de Farroupilha, iniciando as obras de recuperação ambiental da área do lixão de
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Farroupilha, com o trabalho de remediação e construção de novo aterro sanitário,
além da execução de serviços de manutenção da central de triagem. Esta empresa
é subsidiária integral de outra organização, com sede em São Paulo, que está
presente em 23 cidades brasileiras e em Lima, no Peru, atendendo acerca de 12
milhões de pessoas.
A cidade de Farroupilha localiza-se na Serra Gaúcha, Latitude – 29°14’30’’,
Longitude – 51°26’20’’, numa altitude média de 783 metros. A área territorial do
município é de 359,30 km2, sendo 10,64 km2 de área urbana, e 348,66 km2 de área
rural. Sua população, segundo contagem pelo IBGE em 2007, foi de 59.871
habitantes. As principais atividades econômicas são: empresas metalúrgicas,
coureiro-calçadista, malhas e confecções, móveis e estofados. Farroupilha dista 18
km de Caxias do Sul e 110 km da capital do Estado, pela principal via de acesso que
é a RS-122.
O Aterro de Resíduos Sólidos Urbanos de Farroupilha situa-se a Sudeste do
centro urbano do Município, na Rua Alberto Matte, n° 895, no Bairro América. A área
total do aterro é de aproximadamente 20 hectares. Atualmente essa área
caracteriza-se como urbana, uma vez que já possui em seu entorno loteamentos
(regulares e irregulares). Porém, quando do início da disposição final de resíduos
sólidos urbanos no local, o próprio e seu entorno estavam situados em área rural. O
acesso ao local é feito através da RS-122, seguindo pela avenida André Colombo e
Rua Alberto Matte. A área possui um perímetro total de 1800 metros. Seu limite ao
Norte, na divisa com a Rua Alberto Matte possui uma extensão de 400 metros. Ao
Sul, o limite da área possui a mesma extensão, e os limites a Leste e a Oeste
possuem uma extensão de 500 metros.
Uma das células encerradas constitui-se na primeira célula de disposição
implantada na área. Essa célula está localizada ao Sul da área do Sistema.
Constitui-se em um depósito antigo, sem informações do período de operação.
Recebia os resíduos da coleta domiciliar convencional, sem reciclagem. Este aterro
encontra-se encerrado, com cobertura de solo e densa vegetação de porte médio.
Pelas informações fornecidas não constituiu-se em um aterro sanitário, mas sim em
21
um lixão, pois não possui sistemas de impermeabilização e de drenagem (gás e
pluvial).
As células 02 (encerrada) e 03 (em operação), constituem-se no aterro
sanitário. Este possui em sua base, um sistema de drenagem de lixiviados
(chorume) acima de uma camada impermeável de polietileno de alta densidade –
PEAD, sobre uma camada de solo compactado para evitar o vazamento de material
líquido para o solo, evitando assim a contaminação de lençóis freáticos. O lixiviado é
enviado para lagoas de acúmulo de percolados. No interior do aterro, existe um
sistema de drenagem de gases provenientes da decomposição dos resíduos, os
quais são encaminhados até a superfície do aterro, onde são queimados na saída
dos drenos. Em sua superfície encontra-se um sistema de drenagem de águas
pluviais, evitando assim, a infiltração de águas de chuva para o interior do aterro.
A Figura 1 apresenta uma imagem aérea do aterro sanitário.
Os dados de área utilizada e disponível são:
• célula 01 (antigo lixão): 24.000 m2;
• célula 02 (encerrada): 10.000 m2;
• célula 03 (em operação): 12.000 m2;
• lagoas de acúmulo de lixiviados: 7.500 m2;
• unidade de triagem e pátio de estocagem: 2.300 m2;
• infra-estrutura predial, estacionamentos e pátios: 3.500 m2;
• acessos permanentes: 9.000 m2;
• área de preservação permanente: 61.500 m2;
• área prevista para ampliação do aterro (novas células): 26.000 m2;
22
Figura 1: Imagem aérea do aterro sanitário. Fonte: GOOGLE (2008).
O sistema de destinação final dos RSU do Município de Farroupilha
contempla as seguintes unidades funcionais:
• guarita de entrada;
• balança e casa da balança;
• escritório administrativo;
• almoxarifado;
• vestiários;
• cozinha;
• garagem;
23
• rampa de lavagem de veículos;
• unidade de triagem;
• área de estocagem de materiais;
• aterro municipal com 03 (três) células de disposição, estando 02 (duas)
encerradas e 01 (uma) em operação;
• sistema de tratamento de percolados por reatores biológicos.
Os serviços que a empresa presta para o município são:
• Coleta de resíduos sólidos domiciliares e seu transporte;
• Coleta de resíduos recicláveis e seu transporte;
• Operação e manutenção da unidade de triagem de materiais
recicláveis;
• Operação e manutenção dos destinos finais em aterro sanitário;
• Coleta de resíduos sólidos domiciliares e resíduos recicláveis quando o
transporte for além de 10 Km do aterro sanitário;
• Coleta de resíduos em containeres;
• Varrição de vias e logradouros públicos com transporte dos resíduos;
• Varrição de praças e largos pavimentados;
• Capina Mecanizada;
• Pintura de meio-fio;
• Aplicação de tinta rodoviária demarcatória a frio com micro esferas;
• Demarcação rodoviária com a colocação de tachinhas, padrão DAER;
• Demarcação rodoviária com a colocação de tachões, padrão DAER.
Para os serviços de coleta, são utilizados quatro caminhões toco compactador
com capacidade de 7,5 t cada. Na operação do aterro são utilizados dois caminhões
caçamba, um trator de esteiras para compactação e espalhamento dos resíduos, e
uma retro escavadeira para serviços gerais. A unidade de triagem é equipada com
três esteiras mecanizadas ligadas em série e duas prensas hidráulicas para fazer os
fardos de material reciclável. A empresa possui 55 funcionários repartidos nas áreas
de administração, varrição, coleta, triagem e aterro.
A Figura 2 representa o organograma da empresa.
24
Figura 2: Organograma da Empresa. Fonte: Farroupilha Ambiental (2007).
Diretor Regional
Supervisor da Unidade
Encarregado Operações
Serviço Coleta Serviço varrição Líder Equipe
Capinação / Varrição
Aterro Usina Reciclagem
Coleta Domiciliar Auxiliar Operacional
Motorista Coletor
Coleta Seletiva
Motorista Coletor
Varredores Motorista Apontador
Ajudante Equipe Serviço Diversos
Separador Resíduos Operador Prensa
Administração
Departamento Pessoal Assistente Pessoal
Serviços Gerais
Controle Operacional Estagiário
25
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Os trabalhos foram desenvolvidos junto a empresa responsável pelos
serviços de coleta e limpeza urbana, operação de reciclagem, tratamento e
disposição final de resíduos sólidos urbanos do município de Farroupilha, no período
de abril a junho. Inicialmente foi realizado o acompanhamento funcional da empresa,
observando na prática o fluxo dos resíduos desde sua coleta, passando pela
triagem, até seu destino final no aterro sanitário.
Com base nas observações feitas nos dias decorrentes do estágio, pode-se
realizar uma análise ambiental do sistema de coleta e disposição de resíduos,
sistematizar os dados de gerenciamento de resíduos, elaborar o balanço de massa
visando a quantidade de resíduos processada pelo sistema, avaliar a eficiência do
processo de triagem de resíduos sólidos urbanos realizados em esteira e estimar, a
partir destes dados, a vida útil do aterro sanitário. Os dados utilizados foram
retirados do relatório de controle operacional da empresa, no período de maio/07 a
abril/08.
5 AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Este trabalho tem como objetivo avaliar o sistema de coleta e disposição final
de RSU do município de Farroupilha com foco na unidade de triagem de resíduos
para reciclagem, no aterro sanitário, na coleta seletiva e domiciliar.
26
5.1 Coleta e triagem
A coleta realizada pela empresa envolve os resíduos orgânicos, seletivos e de
capina. Não é feita a coleta de resíduos provenientes de serviços de saúde e
industriais.
Os resíduos orgânicos e seletivos são coletados de segunda a sábado nos
períodos da manhã, tarde e noite, em dezesseis setores (pontos da cidade). A coleta
é realizada por caminhões compactadores equipados de um motorista e de dois a
três coletores cada. Assim que o caminhão volta do seu percurso de coleta, é
direcionado para a balança onde é feita a pesagem dos resíduos. Se o resíduo for
orgânico é encaminhado diretamente para o aterro. Se for seletivo, é descarregado
na unidade de triagem, onde será processado.
O resíduo descarregado na unidade de triagem é previamente selecionado
por dois funcionários, que são encarregados de abastecer a esteira de catação. Eles
também realizam a separação dos resíduos de menor e maior tamanho, como por
exemplo, materiais de grande volume como fogões, colchões, canos, caixas, etc, os
quais não passam pela mesa de separação. O restante do resíduo que cai na esteira
é separado por quatro funcionários dispostos dois em cada lado da esteira,
responsáveis pela separação dos diferentes tipos de materiais (papel, papelão,
vidro, metal, plástico, etc.). Esses materiais são acondicionados em tambores, que
quando estão cheios, são encaminhados ao responsável pela prensa hidráulica, que
fará os fardos e os colocará no local de estoque para posterior comercialização.
Outro funcionário é encarregado de fazer as trocas de tambores e a separação dos
diferentes tipos de plásticos. Durante o período de estágio, eram oito funcionários
trabalhando na triagem. Observa-se, porém, que o número adequado de pessoal
para este setor é dez. Seria necessário aumentar o número de funcionários na mesa
de catação no sentido de melhorar a quantidade de resíduos triados, diminuindo o
rejeito enviado para o aterro.
Na Figura 3 está apresentada a mesa e esteira de segregação do sistema
avaliado.
27
Figura 3: Mesa e esteira de separação.
O rejeito proveniente da triagem é encaminhado pelas esteiras até um
caminhão caçamba. Quando esgotada sua capacidade, o caminhão é pesado e o
resíduo encaminhado para o aterro. A composição do rejeito constitui-se de
materiais, como: sacolas plásticas, sapatos, tecidos, colchões, isopor, sacos de
ração, resíduo orgânico (observa-se que este resíduo constitui-se predominante
entre o rejeito da esteira), cacos de vidro, papéis coloridos, copos e pratos plásticos,
borracha, tampinha de garrafa, madeira, sucata tecnológica (impressoras,
computadores), pilhas e baterias de celular. Muitos desses materiais passam pelos
separadores, e o que poderia ser reciclado acaba indo para o aterro. Outro fator que
impossibilita a reutilização destes materiais é o estado em que se encontram, muitas
vezes sujos ou contaminados com resíduos orgânicos. Este problema pode ser
amenizado, se fosse possível utilizar caminhões com caçamba simples, do tipo baú,
para a coleta do resíduo seletivo, ao invés de caminhões compactadores que
acabam prejudicando a qualidade do resíduo reciclável.
Na Figura 4 está apresentado o rejeito após triagem executada pela equipe
de recicladores.
28
Figura 4: Rejeito da triagem caindo na caçamba do caminhão.
A Figura 5 representa o fluxograma do processo de triagem.
No decorrer do período de estágio observou-se eventuais paradas no
processo de triagem, as quais ocasionaram atrasos no funcionamento do sistema,
acarretando acúmulo de resíduos seletivos. Uma destas paradas acontece quando o
caminhão vai até o aterro para descarregar os resíduos e fazer a pesagem. Isto
ocorre aproximadamente quatro vezes ao dia, durante 15 min cada. Outra é quando
há a necessidade de troca ou limpeza dos rolamentos da esteira, que ocorre em
menor freqüência.
29
Figura 5: Fluxograma do processo de triagem.
A Tabela 2 mostra a quantidade de resíduos (orgânico, seletivo, rejeito e
capina) encaminhados para o aterro e triagem, provenientes da coleta seletiva.
Estes dados estão apresentados na Figura 6, expressos em forma de gráfico.
A população atendida pela empresa é de aproximadamente 61.700
habitantes, distribuídos na zona rural e urbana.
Coleta
Recepção
Pesagem
Pré-seleção de Volumosos
Mesa de Triagem
Rejeitos
Pesagem
Aterro Sanitário
Recicláveis
Materiais Recuperáveis
Comercialização
30
Tabela 2: Quantidade de resíduos em toneladas, encaminhados mensalmente para o aterro sanitário e unidade de triagem.
Mês/Ano Seletivo (t/mês)
Rejeito (t/mês)
Orgânico (t/mês)
Capina (t/mês)
Mai/07 108,250 86,980 854,490 207,170
Jun/07 101,340 65,650 821,720 221,160
Jul/07 98,710 61,630 834,140 176,550
Ago/07 87,700 70,850 819,300 233,140
Set/07 95,200 48,670 784,120 110,770
Out/07 112,280 67,600 739,260 100,730
Nov/07 90,970 50,250 783,820 85,070
Dez/07 134,360 84,210 850,500 60,470
Jan/08 128,620 80,570 879,650 93,930
Fev/08 115,310 62,000 818,660 93,490
Mar/08 121,510 62,140 843,100 74,980
Abr/08 113,520 77,760 805,140 74,820
Total em 12 meses (t) 1307,770 818,310 9833,900 1532,280
Média 108,9808 68,1925 819,4917 127,69 Fonte: Farroupilha Ambiental (2008).
Quantidade de RSU
0,000100,000200,000300,000400,000500,000600,000700,000800,000900,000
1000,000
mai/0
7
jun/07
jul/07
ago/07
set/07
out/07
nov/07
dez/07
jan/08
fev/0
8
mar/0
8
abr/08
Data
Quantidade (t/mês)
Seletivo
Rejeito
Orgânico
Capina
Figura 6: Quantidade de RSU, encaminhada mensalmente para o aterro sanitário e unidade de
triagem.
31
A quantidade total de resíduos coletados de maio/07 até abril/08 foi de
12.673,95t, o que corresponde a uma média diária de aproximadamente 34,72t de
resíduos na empresa. Desse total coletado, 77,60% são resíduos orgânicos, 10,32%
são resíduos seletivos e 12,08% são resíduos provenientes do serviço de capina.
Esses valores são apresentados na Figura 7.
10,32
77,60
12,08
Seletivo
Orgânico
Capina
Figura 7: Porcentagem de resíduos coletados no Município.
A quantidade de materiais recuperados na triagem no intervalo de tempo
mostrado na Tabela 2 é de:
Resíduo Seletivo – Rejeito = 1.307,77t – 818,31t = 489,46t
Com base nos dados apresentados, foram recuperadas 489,46t de material
reciclável no período de 12 meses. Isto significa que o processo de triagem recupera
37,43% do resíduo seletivo e 3,86% de todos os resíduos gerados. Este rendimento
poderia ser mais expressivo se o resíduo descarregado na unidade de triagem, fosse
oriundo de uma segregação na fonte mais eficiente.
A geração per capita de resíduos no município de Farroupilha é de
0,502kg/hab.dia. Segundo BRASIL (2006), a geração per capita para municípios
32
brasileiros é de 0,760kg/hab.dia, sendo que para a faixa de 30.000 a 100.000
habitantes no qual se enquadra o município de Farroupilha, esse valor é de
0,680kg/hab.dia. Assim, é possível afirmar que a quantidade de RSU gerados no
município está abaixo da média brasileira, sendo, um ponto positivo, pois implica em
menores gastos para seu tratamento e disposição final. Ressalta-se que o dado de
geração per capita está baseado no total de resíduos coletados pela empresa.
5.2 Disposição final
O aterro sanitário do Município de Farroupilha atende todas as exigências
legais de projeto e operação. Por estar localizado em um terreno irregular, é
considerado um aterro de superfície, cujo método operacional empregado é o de
área.
O resíduo orgânico é encaminhado diretamente para o aterro sanitário,
especificamente na célula 03, que está em operação. Assim que o resíduo é
descarregado, um trator de esteiras faz o seu espalhamento e compactação. Uma
retro-escavadeira ajuda no serviço, construindo os taludes e recobrindo os resíduos
com argila. São dispostos diariamente aproximadamente 33,382t de resíduos
(orgânico, capina e rejeito) provenientes da coleta.
Na Figura 8 apresenta-se uma vista geral da célula 03 em operação no aterro
sanitário do Município de Farroupilha.
33
Figura 8: Célula 03 em operação – Aterro Sanitário do Município de Farroupilha.
A base do aterro é constituída de um sistema de drenagem de lixiviados,
acima de uma camada impermeável de polietileno de alta densidade – PEAD, sobre
uma camada de solo compactado para evitar o vazamento de material líquido para o
solo. Este líquido é encaminhado para lagoas de acúmulo de lixiviados. No interior
do aterro existe um sistema de drenagem de gases provenientes da decomposição
dos resíduos, que são encaminhados até a superfície do aterro, onde são
queimados na saída dos drenos. Em sua superfície encontra-se um sistema de
drenagem de águas pluviais, para evitar assim, a infiltração de águas de chuva para
o interior do aterro.
Na Figura 9 apresenta-se um dreno de gás do aterro. Na Figura 10, uma
amostra da drenagem superficial e, na Figura 11 as lagoas de acúmulo de lixiviados.
34
Figura 9: Dreno de gás Figura 10: Drenagem superficial.
Figura 11: Lagoas de acúmulo de lixiviados
5.2.1 Vida útil do aterro
A vida útil do aterro está diretamente relacionada com o volume de resíduo a
ser disposto. Assim sendo, uma vez definida a área de disposição, a vida útil poderá
ser alterada somente com a adoção de uma ou mais alternativas dentre as quais
destacam-se:
• redução na quantidade de resíduo gerado;
35
• incremento na densidade do resíduo – compactação;
• triagem do resíduo com reciclagem e aterramento do rejeito.
O volume da célula 03 que está em operação é de 78.500m3. A Tabela 3
apresenta o volume de resíduo depositado no período de setembro/07 a abril/08,
bem como o volume ocupado por este resíduo na célula com sua porcentagem e o
índice de compactação.
Tabela 3: Volume depositado e ocupado na célula 03 do aterro sanitário.
Mês/Ano Volume
depositado (m3) Volume
ocupado (m3) Porcentagem ocupada (%)
Índice de compactação (t/m3)
Set/07 1258,08 49264,35 62,76 0,750
Out/07 1221,99 50364,98 64,16 0,830
Nov/07 1068,76 51433,74 65,52 0,860
Dez/07 1259,72 52689,50 67,12 0,790
Jan/08 1405,53 54095,00 68,91 0,750
Fev/08 1233,10 55328,10 70,48 0,790
Mar/08 1065,45 56393,55 71,84 0,920
Abr/08 997,62 57391,17 73,11 0,960 Fonte: Farroupilha Ambiental (2008).
Analisando a Tabela 3, percebe-se que até abril de 2008 o volume ocupado
na célula 03 é de 57391,17m3, representando 73,11% do total. Assim, subtraindo o
valor do volume total da célula com o volume ocupado tem-se o volume útil:
Volume útil = Vol. Total – Vol. Ocupado = 78.500m3 – 57391,17m3 = 21108,83m3.
Se considerarmos um valor médio do índice de compactação de 0,831t/m3 e
multiplicarmos pelo volume útil tem-se a quantidade de resíduo que pode ser
disposto:
Quantidade de resíduo = 0,831t/m3 x 21108,83m3 = 17541,44t
Dividindo este valor com a quantidade disposta diariamente no aterro, tem-se
sua vida útil da célula 03:
36
Vida útil = 17541,44t / 33,382t/dia = 525 dias.
Isto significa que levando em conta os dados apresentados, a vida útil do
aterro seria da ordem de 525 dias. Este valor pode ser aumentado, caso a operação
do sistema alterasse o principal fator que é o índice de compactação, juntamente
com a diminuição da quantidade de rejeito, provinda da triagem, enviada para o
aterro.
Para efeito de reflexão, se considerarmos um índice de compactação da
ordem de 1,0 t/m3 e duplicarmos a eficiência da triagem (75%), a vida útil do aterro
aumentaria para 659 dias, ou seja, 25,52% da vida útil prevista atualmente.
37
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O período de estágio possibilitou conhecer os serviços prestados de coleta e
destinação final dos resíduos sólidos urbanos do Município de Farroupilha. Foi
observada diariamente a realidade de um aterro sanitário e uma unidade de triagem,
conhecendo, na prática, uma das atividades relacionadas à Engenharia Ambiental.
O município de Farroupilha, por possuir um sistema de manejo e tratamento
de resíduos sólidos, o qual utiliza tecnologias compatíveis com a realidade local, e
destino final ambientalmente seguro, mostra que é possível fazer a gestão integrada
de resíduos sólidos posicionando-se de maneira privilegiada se comparado com os a
maioria dos municípios brasileiros, em que as condições de saneamento e gestão de
resíduos sólidos ainda são precárias.
Algumas situações técnicas tornaram-se visíveis no decorrer do Estágio
Supervisionado, principalmente nos aspectos relacionados ao melhor
aproveitamento dos resíduos recicláveis que chegam na unidade de triagem, o que
permitiram apontar as seguintes recomendações:
• A promoção pela empresa, em parceria com o município, de programas
de educação ambiental, a fim de incentivar a melhor segregação dos
resíduos na fonte geradora;
• O desenvolvimento, pela empresa, de treinamentos que capacitem e
organizem as atividades dos responsáveis pela separação na triagem e
dos catadores de rua, aprimorando o aproveitamento do resíduo
reciclável;
• A utilização de caminhões com caçamba simples, do tipo baú, por
exemplo, para a coleta do resíduo seletivo;
• Aumento no número de funcionários na mesa de catação, a fim de
melhorar a quantidade de resíduos triados, diminuindo o rejeito enviado
para o aterro;
• A sistematização da coleta do rejeito e descarga dos resíduos,
evitando ou diminuindo paradas no processo de triagem.
38
Visando o aumento de sua vida útil, sugere-se, em relação ao aterro sanitário
e aos resíduos encaminhados diariamente ao local:
• Minimização da geração de resíduos;
• Redução na quantidade de rejeito oriundo do processo de triagem;
• Incremento na densidade do resíduo (compactação);
• Viabilizar unidade de compostagem de resíduos orgânicos.
Foi observada uma preocupação do município e da empresa prestadora dos
serviços quanto à educação ambiental. Exemplo disso são as visitas realizadas no
aterro sanitário por escolas do município, em que alunos e professores interagem
com o sistema de disposição final, aprendendo sobre o seu funcionamento e sua
importância para o meio ambiente. Em se tratando de uma atividade que envolve o
cotidiano das famílias, as crianças com acesso à educação ambiental propõem e
colaboram para a separação de resíduos sólidos em suas casas, contribuindo para a
eficácia do processo. Dessa forma, essas visitas promovem a conscientização dos
habitantes do município quanto a sua participação na segregação dos resíduos
sólidos urbanos, essencial para maior aproveitamento do material reciclável.
A gestão adequada dos resíduos sólidos oferece melhores condições de
saúde e bem estar da população, melhorando a qualidade de vida da geração atual
e garantindo a existência das gerações futuras, aderindo ao conceito de
sustentabilidade.
39
REFERÊNCIAS
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40
LIMA, L. M. Q. Lixo – Tratamento e Biorremediação. 3. ed. São Paulo: Hemus Editora, 2004. OJIMA, M. K. Estudos de alternativas para a disposição de resíduos sólidos aterro de São Giácomo. In: MANDELLI, S. M. D. C. et al. (Org.). Tratamento de resíduos sólidos. 1. ed. Caxias do Sul: EDUCS, 1991. p. 194-196. PESSIN, N.; MANDELLI, S. M. D. C.; SLOMPO, M. Determinação da composição física e das características físico-químicas dos resíduos sólidos domésticos da cidade de Caxias do Sul. In: MANDELLI, S. M. D. C. et al. (Org.). Tratamento de resíduos sólidos. 1. ed. Caxias do Sul: EDUCS, 1991. p. 68-83.
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