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O “Sagrado” e o Duvidoso na Etnografia1
1 - Os Clérigos Nativos Yorùbá
Aulo Barretti Filho2
O Rev. John Raban (CMC)3 auxiliado por Ajayi Crowther, em 1830, publicam o
Vocabulário Eyo, mas declarava que “Yorùbá” é a denominação geral de um grande
país, com cinco regiões [... !], para não fracionar as publicações da bíblia .4
O real interesse, por parte dos missionários, era grafar o yorùbá, e assim, traduzir
e publicar, em particular, a bíblia. Destinadas a sustentar seus esforços de evangelização
em tantas regiões (cinco..., que eram muita mais, cada uma com seus dialetos), mas
agora, com designações de uma mesma língua o Yorùbá.
O Bispo Samuel Ajayi Crowther5 (1809-1891) um ex-escravo adotado por um tal
de Mr. Crowther. Tornou-se um linguista e foi o primeiro bispo anglicano de origem
africana yorùbá, na Nigéria. Em 1852, aparece o Vocabulário Yorùbá, que era sua
língua (Crowther), segundo a definição dos haussá. Começou a traduzir em 1840 a
Bíblia para a “língua yorùbá” e compilando um dicionário Yorùbá.
Dom Emmanuel Moisés Lijadu, evangelista anglicano, yorùbá de Abeokuta,
autor, catequista, ativista franco e diácono em 1894. Evangelista ardente foi o criador da
Banda Evangelística que percorreu o país. Em 1898 publica um livro sobre o oráculo
yorùbá de Ifá.6
O Rev. Pastor Anglicano de Òyó Samuel Jonhson publica em 1921, porém escrito
em 1897, The History of the Yorubas7, um clássico dos mais importantes sobre os
1 O título é tema de uma aula curricular do curso da Funaculty – “Cultura e Teologia Yorùbá
Comparada”, por nós ministrado desde 1979. Mais dados em http://funaculty.blogspot.com/. 2 Pesquisador, escritor e professor da religião tradicional Yorùbá e da afrodescendente. Bàbálórìsà do
candomblé Ilé Àse Ode Kitálesi, em São Paulo, e Asojú Oba Alákétu, em Kétu. 3 Church Mission Society.
4 Verger, Pierre Fatumbí. Orixás, p.15, Salvador, Ed. Corrupio, 1981.
5 Crowther, Samuel Ajayi. A Dictionary of the Yoruba language, Ibadan, CMS, Oxford University Press,
1980 (1843, 1852) (1937, 1950) [1913-1950]. 6 Lijadu, E. M. [1862-1926]. Ifá: Imole Re ti Ise Ipile Isin ni Ile Yorùbá. Ado-Ekiti (1898), Omolayo S.
Press of Nigéria, 1972. 7 Londres, Routledge & Kegan Paul Ltda, 1973.
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yorùbá, especialmente os de Òyó.
Em 1931 em Lagos, o Rev. cristão David Onadele Epega publica The Mystery of
the Yoruba Gods. Seu filho, o também “Reverendo” conhecido como o “Patriarca”
Daniel Olarimwa Epega e seu filho Afolabi A. Epega (neto de David) (falecido) foram
igualmente escritores.
E. Bolají Idowu. Olódùmarè, God in Yoruba belief. Ibadan, Longman Group,
1977. 1ª Ed. 1962 (1960). Um clássico na área, pioneiro nos estudos da religião yorùbá,
todavia, um famoso religioso e ativista cristão. Sua interpretação de Olódùmarè foi e
tem sido criticada e revisada, por expressar um viés cristão.
Chamado de "Sua Proeminência Bolaji" dentro dos círculos da Igreja Metodista, e
foi o terceiro líder indígena desta, de 1972 a 1984. O arquiteto da constituição da igreja
de 1976, seu mandato é descrito por alguns como um dos mais agitadores na história da
Igreja Metodista da Nigéria.
J. Olumide Lucas, escreveu The Religion of the Yorubas. New York, Athelia H.
Press, (1948) 2001. Arcediago – Pastor da Igreja de São Paulo de Lagos, Nigeria.
J. Omosade Awolalu, autor de Yoruba Beliefs and Sacrificial Rites. London,
Logman Group, 1979. Colega, amigo e seguidor de Idowu (seu orientador).
P. Ade Dopamu, autor do livro traduzido - Exu: O Inimigo Invisível do Homem.
São Paulo, Editora Oduduwa, 1991(1986). Um eterno cristão e ativista, que nesse livro
promove a apologia que Èsù é o mesmo ou o próprio diabo cristão. É de se estranhar
que uma editora de um sacerdote nativo da tradicional religião yorùbá no Brasil, tenha
optado por traduzir e publicar esse autor deste famigerado e indigno livro.
Todos esses livros e autores, aqui exemplificados, falam da religião tradicional
dos òrìsà e sabendo extrair o joio do trigo, sempre se obterá valiosas informações
religiosas e socioculturais.
Porém, há de ter extremo cuidado nos conceitos e conclusões que por ventura
chegaram. Pois, são todos ativistas de outras religiões que, mesmo sendo nativos
yorùbá, não estão preocupados com religião tradicional, e sim, criar meios e
subterfúgios de compará-las com suas religiões, e assim, criticá-las e induzir ao leitor a
aceitar as religiões que usam como parâmetro, como a única e verdadeira religião.
No estudo das religiões comparadas os parâmetros e os referenciais são sempre os
das religiões europeias ou asiáticas, porém, para a religião tradicional dos yorùbá; a
recíproca, nunca é verdadeira, se fosse, teríamos inúmeras e novas variáveis a serem
avaliadas.