Caderno do Centenário 2

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Primeiros habitantes, de acor-do com historiadores, moravam às margens da ponte do Niterói, co-nhecida no tempo do arraial como a Cachoeira Grande. Naquele pe-ríodo, moradores andavam léguas para ir à capela mais próxima, que fi cava em São Bento do Tamanduá,

atual Itapecerica, e enfrentavam a cheia do rio e animais perigosos pelo caminho. O historiador Faber Clayton destaca que a igreja cató-lica teve participação fundamental nas eleições do município. Em 100 anos, Divinópolis foi governado por 25 prefeitos.

Cachoeira da origem

Caderno 2

EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DE DIVINÓPOLIS - SEXTA-FEIRA - 1º DE JUNHO DE 2012

Anunciantes desta edição: Colégio Roberto Carneiro - RM Jóias - CIAFAL - FUNED - UEMG - Achei Imóveis - Alá Imóveis - COPASA - Unimed

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Divinópolis1º de junho de 2012 02

O Arraial do Espírito Santo do Itapecerica, hoje Divinópolis é lembrado pela memória local como um pequeno lugarejo marcado pela tranqui-lidade e também pela considerável estagnação. No entanto, o pequeno arraial não esteve alheio aos acontecimentos po-líticos ocorridos no país, e sempre se apresentou infl uenciado pelas trans-formações do cenário po-lítico nacional. O proces-so político brasileiro no século XIX era marcado pela intensa participação da Igreja Católica e tam-bém pela infl uência dos poderosos proprietários, isso, principalmente após a criação da Guarda Na-cional em 1831. Esta ins-tituição que surgiu para fazer frente às ameaças à independência brasilei-ra por parte de Portugal, serviu mesmo para a ma-nutenção do poder mo-nárquico e para defender a existência do latifúndio e da escravidão; funções que manteve durante o regime republicano bra-

sileiro como destaca a historiadora Maria Au-xiliadora Faria. O arraial realizou eleições que, cer-tamente, apresentaram as mesmas características vistas no processo eleito-ral brasileiro, pois a histó-ria local destaca a partici-pação da Igreja católica e a presença de integrantes da Guarda Nacional nos rumos da política local, fato que é reforçado pela análise de documentos do século XIX.

Uma documentação não muito numerosa de acervos locais registra como se deu o processo eleitoral do Arraial do Espírito Santo do Itape-cerica e quem esteve à frente do mesmo. Nos anos de 1859-60, quem conduziu o processo elei-toral no arraial foi o juiz de paz local, José Basílio da Silva como registram os documentos do Ar-quivo do município de Itapecerica. Destaca-se entre os componentes da mesa eleitoral em 1859 e 1860, o eleitor de 2° grau, vigário Francisco Guaritá

Pitangui, que, de acordo com o que a história re-gistra no local, tornou-se deputado provincial em Minas Gerais a partir de 1865. Em 1873, novamen-te, José Basílio da Silva é juiz de paz como regis-tram os escritores Fran-cisco Gontijo de Aze-vedo e Antonio Gontijo Azevedo. Nas eleições de 1877, os documen-tos dão ideia da atuação do governo provincial sobre as eleições desta época sempre apresenta-das como fraudulentas. Desde a promulgação da Constituição de 1824 havia eleições em duas etapas (dois graus), uma para a escolha dos eleito-res e outra em que estes votavam nos candidatos. A ata de 02 de setembro de 1877 registra que as eleições para vereadores gerais e juiz de paz reali-zadas no arraial, datadas de 02 de julho, não tive-ram validade por serem encontradas “cédulas demais” nas urnas. Por isto a 2 de setembro foi realizado novo escrutínio

Política no arraial no século XIXde eleitores de 2º grau. O documento registra ain-da, que o arraial teria que escolher 13 nomes para serem eleitores. Se obser-varmos que, de acordo com a lei de agosto de 1860, para cada 30 eleito-res de um determinado local deveria haver um eleitor de 2º grau, então o arraial possuía 390 eleito-res de 1º grau, ou votan-tes. O número de eleito-res diminuiu da década de 1860 para os anos 70 do século XIX, se obser-varmos que havia 428 eleitores na década de 60. Várias razões podem estar por trás desta redu-ção, como, por exemplo, a exigência da comprova-ção de renda através de documentos, implantada pela lei eleitoral de 20 de outubro de 1875 de acor-do com os documentos do arquivo do município de Itapecerica.

Em 1885, realizam-se as eleições para As-sembléia Provincial no arraial. De acordo com a história local, um político conhecido como Doutor Ezequiel dos Santos Ri-beiro, candidato ao car-go de deputado provin-cial, veio ao arraial pedir apoio aos eleitores locais. O candidato se hospe-

dou na casa do major da Guarda Nacional, Fran-cisco Machado Gontijo, que estava interessado na criação de uma agên-cia postal no arraial. Eze-quiel dos Santos Ribeiro obteve apoio incondicio-nal do major e foi eleito. Logo foi criada a Agên-cia Postal como desta-cam os irmãos Azevedo. De acordo com os mes-mos autores, em 10 de outubro de 1889, acon-

teceram na Igreja Matriz do Arraial, as eleições para Assembléia Geral Legislativa. A mesa foi composta pelo primeiro juiz de paz, José Alcebía-des Moreira; pelo Major Francisco Machado Gon-tijo, por João Epifânio Pereira e Hilário Alves Ribeiro.*Faber Clayton é Histo-riador da Prefeitura Mu-nicipal de Divinópolis

Eleições eram realizadas na igreja matriz

Faber Clayton *

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Divinópolis1º de junho de 2012

Ricardo Welbert

Aos 100 anos, a cida-de de Divinópolis ainda não tem certeza sobre a existência dos Candidés, suposto povo indígena que, segundo um mito bastante difundido, teria sido responsável direto pela fundação do arraial do Divino Espírito San-to. O nome deste povo é hoje dado a empresas como supermercado, mercearia, emissoras de rádio e televisão. Dois historiadores contempo-râneos, Faber Barbosa e Karine Mileibe, fi zeram um recorte bibliográfi -co entre alguns autores que são referência sobre a existência – ou não – dos Candidés.

Em um texto publica-do na revista “O Essen-cial”, em fevereiro deste ano, a dupla exemplifi ca as controvérsias existen-tes sobre a origem do ar-raial que viria a se tornar Divinópolis. Eles citam obras como o livro “A Prova”, publicado em 2002 pelo pesquisador Flávio Flora. O autor ar-gumenta que, na região onde hoje fi ca Divinó-polis, existiu a tribo dos Candidés, ou Canindé, da nação Caiapó do Sul. Em “Memorial de Divi-nópolis”, de 1992, Láza-ro Barreto afi rma que os Candidés eram índios da nação Cataguases, que dominavam o ser-tão das minas.

Outros memorialistas sequer consideram os Candidés como índios. No livro “Da História de Divinópolis”, de 1988, os irmãos Francisco e Antônio Gontijo Azeve-do dizem que eles eram um grupo de participan-tes da revolução ocorri-da às margens do rio Candidés, em Pernam-buco, que, após fugirem para a região das minas, tomaram parte na Guer-ra dos Emboabas, em 1709. Ao fi nal do confl i-to, temendo retaliações, estes Candidés teriam fugido para o sertão das minas, abrigando-se às margens do rio Itapece-rica, perto de Cachoei-ra Grande. Segundo os

Azevedo, foram estes os fundadores do antigo Arraial do Espírito San-to e Itapecerica, no sécu-lo XVIII.

– Enquanto alguns memorialistas citam a presença indígena na região, mesmo não li-gando diretamente a esses povos as origens do arraial, outros colo-cam o homem branco civilizado como o úni-co e legítimo fundador da povoação – afi rmam os historiadores Faber Barbosa e Karine Mi-leibe, que completam: Apesar das controvér-sias, é impossível negar a presença indígena no sertão Oeste de Minas. Na primeira expedição pelos sertões, saindo de Porto Seguro em 1554 e liderada por Spinosa, encontramos relatos de contato com os índios. Segundo Diogo de Vas-concelos, Padre Navarro conta que a expedição encontrou índios aldea-dos e hospitaleiros e ou-tros estúpidos e ferozes, às margens do Rio São Francisco. Índios de di-ferentes nações ocupa-vam o que viria a ser o Estado de Minas Gerais. Em 1664, o primeiro do-cumento ofi cial que faz referência explícita ao descobrimento das mi-nas denomina a região de “Minas dos Cataguás e sertões dos Caetés”, em referência aos índios, os senhores da região.

Mito

Após realizar a leitu-ra crítica da bibliografi a existente a respeito dos Candidés, o historiador Faber Barbosa passou a acreditar que os primei-ros que tentaram expli-car a origem de Divinó-polis tiveram a intenção de criar um mito de que o município teve seus criadores únicos, heróis da fundação, os Candi-dés.

– Porém, mais do que acreditar em mitos, é preciso contar com um profi ssional capaz de encontrar e identifi car objetos que representem a cultura material e per-ceber um diferencial em

Incerteza centenária sobre os Candidés Existência de povo indígena que teria dado origem a Divinópolis é reforçada por alguns estudiosos e contestada por historiadores contemporâneos

Faber Barbosa e Karine Mileibe historiadores

relação ao que já foi des-coberto e documentado. Se esta região fosse local com presença indígena que pudesse ser mape-ada, precisaria da inter-ferência primeira de um arqueólogo e também de um antropólogo. A gente sabe que existe material no chão, pois algumas pessoas costumeiramen-te encontram materiais (restos de urnas funerá-rias, condicionadores de alimentos, pedras poli-das, etc.) na zona rural da região. Para se conhecer minimamente a origem destes objetos, seria pre-ciso uma pesquisa longa,

feita por bons profi ssio-nais – afi rma.

No entanto, de nada adianta reunir objetos e não ter o olhar especiali-zado de um arqueólogo.

– A peça estará fadada a virar riqueza de cole-cionador e o valor cul-tural do objeto não será comprovado. Os Candi-dés precisariam de um diferencial para afi rmar que seriam uma cultura à parte – explica Barbosa.

Viajantes

Karine Mileibe consi-dera o Candidés como um “mito” de formação.

Uma tribo que não fez parte da fundação do arraial que deu origem à cidade e sobre quem não se sabe sobre a real contribuição para o de-senvolvimento de Divi-nópolis. Segundo ela, eram os viajantes que batizavam os índios.

– Nem os Caiapós se chamavam assim. Fo-ram os viajantes que os batizaram – explica.

Para os estudiosos, as denominações da-das aos indígenas eram muito mais uma pri-meira impressão dos entrantes do que uma denominação da pró-

pria cultura. Não exis-tia o ato de perguntar ao índio seu nome. Existia o de dar o nome ao índio.

Os documentos mais antigos que Di-vinópolis possui a res-peito dos Candidés, sobre os quais os me-morialistas que escre-vem sobre a cidade se baseiam, são cópias de 1967. Por meio deles, é possível apenas lançar uma luz de como foi o passado, fazendo uma interpretação particu-lar, jamais afi rmando que aquela seria a úni-ca verdade.

ENQUANTO ALGUNS MEMORIALISTAS CITAM A PRESENÇA INDÍGENA NA REGIÃO, MESMO NÃO LIGANDO DIRETAMENTE A ESSES POVOS AS ORIGENS DO ARRAIAL, OUTROS COLOCAM O HOMEM BRANCO CIVILIZADO COMO O ÚNICO E LEGÍTIMO

FUNDADOR DA POVOAÇÃO

Historiadores confimam presença de caiapós em território divinopolitano

Reprodução

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Divinópolis1º de junho de 2012

Da Redação

Nas pedras da Cacho-eira Grande, onde é a ponte do bairro Niterói, surgiram os primeiros habitantes do pequeno povoado, que depois de quase 300 anos se trans-formou em Divinópolis. Encravada no sertão do Oeste de Minas, a rota era utilizada por tropei-ros a caminho das vilas de Pitangui, Tamanduá e Barbacena, e por isso ganhou o nome de Pa-ragens ou Passagens do Itapecerica, no início do século XVIII. Uma dúzia de casas e 1,5 mil pessoas habitavam o arraial, que pertenceu a Pitangui e Itapecerica.

A Capela, dedicada inicialmente ao Divino Espírito Santo e a São Francisco de Paula, foi edifi cada segundo pro-visão de 13 de janeiro de 1767. Três anos mais tar-de, de acordo com os his-toriadores Faber Clayton e Karine Mileibe, Mano-el Fernandes Teixeira, fa-zendeiro, doou à Diocese de Mariana 40 alqueires de terra para a criação da freguesia do Divino Espírito Santo. Em 1775, o arraial ganhou a condi-ção de Curato pertencen-te à paróquia da igreja

matriz de Nossa Senhora da Piedade de Pitangui.

- Essa condição de Curato duraria mais de 30 anos. Pela Lei Provin-cial número 209, de 1841, o templo foi elevado à freguesia, apresentando-se como Paróquia do Di-vino Espírito Santo do Itapecerica, perdendo o templo o padroeiro se-cundário, São Francisco de Paula - afi rmou Kari-ne.

Comarca

No âmbito jurídico, a freguesia do Espírito Santo e de São Francisco de Paula pertencia a Pi-tangui, Comarca do Rio das Velhas. Em 1847, a freguesia passou a per-tencer a Tamanduá, fi -cando sob a jurisdição da Comarca de Sabará.

Frei Odulfo confi rma-va que existia uma dúzia de casas beirando o Lar-go da Matriz e mais uma dúzia encravada nas la-deiras.

- Dizíamos que Di-vinópolis era então um arraial muito pequeno, distante dos grandes centros, isolado do mun-do. Vivia sua vida paca-ta e bucólica às margens plácidas do Itapecerica e nada, em absoluto, permitia prever o surto

Povoado surgiu nas pedras da Cachoeira GrandeTropeiros a caminho das Vilas de Pitangui, Tamanduá e Barbacena passaram por esse local

enorme que um dia iria tomar - afi rmou.

De acordo com Karine Mileibe, dentre os me-morialistas que escreve-ram sobre o passado do arraial do Espírito Santo do Itapecerica, estão os irmãos Azevedo, que ti-veram uma obra póstu-ma publicada em 1988.

- Seu livro “Da Histó-ria de Divinópolis” nar-ra a origem do pequeno arraial, no início do sé-culo XVIII, por fugitivos emboabas; as primeiras famílias que se fi xaram próximo à Cachoeira Grande, o cotidiano dos primeiros moradores e as transformações por

que passou o arraial com a chegada do progresso e da civilização, culmi-nando na sua metamor-fose em cidade, até 1948, ano da morte de Francis-co Gontijo de Azevedo - disse Karine.

Segundo ela, os auto-res narram o cotidiano de um arraial que, nos primeiros dias do sécu-lo XX, vivem um tem-po pré-moderno, uma comunidade pré-capi-talista em que o grande acontecimento é a che-gada, todas as tardes, do correio, e que era “um espetáculo comentado o recebimento de uma car-ta”.

- Toda a população era uma só família e esta família se reunia no Lar-go da Matriz, todas as tardes ao som convida-tivo de um repicar de sinos: toda gente rezava dentro da igreja o terço costumeiro de todas as tardes. A vida era mais encanto e até parecia que Deus morava mais perto daquela gente - descre-veram Antônio Azevedo e Francisco Azevedo no livro “A História de Di-vinópolis”.

O Largo da Matriz era o palco enfeitado do arraialzinho, ponto de encontro dos moradores para as festividades re-

ligiosas, principal fator de aglutinação social da época.

Arquivo Museu Histórico de Divinópolis

População em 1813

Brancos............. 378

Pretos livres...... 242

Mulatos livres... 323

Escravos......... 211

Total................ 1.154

Fonte: Termo de Pitangui

Primeiros habitantes surgiram às margens do Rio Itapecerica

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Divinópolis1º de junho de 2012

Pablo Santos

O primeiro docu-mento confi rmando a existência de um po-voado em terras divi-nopolitanas data de 13 de janeiro de 1767. Nesse período, o arraial era conhecido como Itapecerica e a súplica (pedido ofi cial) do fa-zendeiro João Pimenta Ferreira solicitava ao Bispado de Mariana a construção de uma ca-pela para atender as cinquenta famílias do

povoado. O fazendeiro citou como justifi cativa no documento a difi cul-dade dos moradores de atravessar rios e enfren-tar animais selvagens e até as mortes ocorridas no meio do caminho.

Na provisão (do-cumento religioso ou ofi cial de permissão), Pimenta Ferreira ofere-ce garantias de terreno apropriado para cons-trução da capela.

- Fazer sua capela na paragem chamada Ita-pecerica, próxima ao rio do mesmo nome, é con-

veniente a todos desta parte e [mais morado-res] serão apoiados, e vão apoiá-lo este res-peito [...] a edifi carem sua capela com invoca-ção do Divino Espírito Santo e São Francisco de Paula - escreveu Pi-menta, conforme do-cumentos dos arquivos eclesiásticos de Maria-na. Naquela época, Di-vinópolis se chamava Itapecerica e pertencia à Vila Pitangui.

Na súplica, Ferreira conta a distância e os perigos que os mora-

dores do povoado en-frentavam para chegar à capela mais próxima, em São Bento do Ta-manduá, atual Itapece-rica. Outros obstáculos foram elencados pelo pesquisador Flávio Flo-ra na obra “A Prova 9”, da Câmara Municipal de Divinópolis.

- Os problemas com a transposição dos rios Pará e Itapecerica, que permitiam ser atraves-sados só no rigor da seca; a longa distância de dez léguas da Vila de Pitangui e de sete

léguas da matriz mais próxima, que era em São Bento do Taman-duá, em cujos percursos se enfrentava o rigoroso trabalho de selvagens pagãos - citou.

Doação do terreno

Em 24 de março de 1870, João Pimenta Fer-reira foi ao Bispado de Mariana, acompanhado de Manoel Fernandes Teixeira e cinco mora-dores, de acordo com o pesquisador Flávio Flo-ra. Uma nova súplica foi

escrita já pedindo a am-pliação do patrimônio da capela. O fazendeiro da região Manoel Fernan-des Teixeira foi à Vila de Pitangui e passou ao Bis-pado de Mariana a escri-tura de 40 alqueires de terra. Seria construída uma casa para abrigar missionários e padres e a garantia de 20 oitavas de ouro para despesas da capela. Publicada a sú-plica e os depoimentos de doação, a paragem do Itapecerica passou a se chamar Espírito Santo do Itapecerica.

Da Redação

O fazendeiro Mano-el Fernandes Teixeira é considerado funda-dor depois que doou ao Bispado de Mariana 40 alqueires de terra para construção da capela no então arraial de Para-gens do Itapecerica, em 1770. No livro de Láza-ro Barreto “Memorial de Divinópolis”, consta que Teixeira morreu po-bre, mas honrado, e seu sobrenome é registrado em duas tradicionais fa-mílias de Divinópolis: Teixeira Fonseca e Tei-xeira Gontijo.

Manoel Fernandes Teixeira tinha 12 fi lhos, foi casado com Maria Al-ves Ferreira e, em 1770, esteve em Mariana para formalizar a doação de terreno para construir a capela do Divino Espí-rito Santo e São Francis-co de Paula, a Catedral. Com a pequena igreja, o povoado começou a se desenvolver.

De acordo com Láza-ro Barreto, dados im-portantes do possível fundador do município foram consumidos nos incêndios das matrizes de Pitangui e Divinópo-lis.

- Destruições consu-miram maiores dados sobre o fundador de nosso município. Onde nasceu? O que foi fei-to de sua descendên-cia? Nos documentos pesquisados fi ca cla-ro que morreu pobre, benquisto e honrado. É provável que tenha do-ado os bens materiais que acaso lhe restavam, em vida, aos herdeiros - afi rmou.

Lázaro Barreto rela-tou que seus descenden-tes estão na zona rural da região de Divinópo-lis.

- No vizinho municí-pio de São Sebastião do Oeste, há até um povo-ado chamado Teixei-ras, que fi ca longe da ponta da Serra Negra, de onde partiam as ter-ras do ancestral rumo ao nosso arraial. Mui-tas famílias Teixeira fi -xaram-se em Carmo do Cajuru, todas oriundas de Portugal, conterrâ-neas, certamente, do nosso Manoel. Mesmo em Divinópolis exis-tem duas famílias das mais antigas, os Teixei-ra Fonseca e os Teixei-ra Gontijo, que podem descender do patriar-ca do século XVIII – descreveu Barreto.

Capela para fugir dos perigos da mata Primeiros habitantes enfrentavam animais selvagens para chegar à igreja mais próxima

Espaço de construção da igreja da Matriz, atual Catedral, visava a comportar 50 famílias

Fundador e fazendeiro do arraial morreu pobre e benquistoDuas das famílias mais antigas, os Teixeira Fonseca e os Teixeira Gontijo, podem descender do patriarca do século XVIII

40 alqueires de terra para construção da igreja da Matriz foram doados

Arquivo Público Municipal

Arquivo Público Municipal

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Divinópolis1º de junho de 2012

Christiane Brito

Não foi somente a Vila Henrique Galvão, futura Divinópolis, que se desenvolveu até che-gar ao que se conhece hoje. Eleitores e a forma de escolher os represen-tantes também evoluí-ram com o tempo. Histo-riadores e memorialistas de Divinópolis explicam como os buracos na le-gislação eleitoral e a au-sência de um órgão fi s-calizador deram brechas para a violação de urnas e o controle da elite e de partidos sobre os votos dos empregados das in-dústrias de Divinópolis. Para impedir a chegada de eleitores da zona ru-ral, pontes e mata-bur-ros eram derrubados.

Apesar de a Justiça Eleitoral do Brasil ter sido instituída em 1932, pelo Decreto número 21.076, as suas principais normas foram criadas muitos anos depois: Có-digo Eleitoral, de 1965; a Lei dos Partidos Políti-cos, de 1995; a Lei 9.504, de 1997; a Lei 12.034, de 2009; e as periódicas re-soluções normativas do Tribunal Superior Elei-toral (TSE), que regulam as eleições com força de lei. Essa falta de uma maior regulamentação e fi scalização possibilitou, segundo o historiador da Secretaria Munici-pal de Cultura (Semc), Faber Clayton Barbosa, um grande número de intervenções nas elei-ções, principalmente nas municipais.

– A legislação elei-toral não dava cabo às fraudes, à ameaça, à in-timidação e ao conven-cimento do eleitor por meio do dinheiro e da violência por parte das autoridades envolvidas no processo das elei-ções. Tudo isso sempre demandava novas leis eleitorais – salienta.

Até atingir a forma que possui hoje, as leis eleitorais não conse-guiam contornar os as-pectos mais graves de uma eleição, como a submissão e a manipu-lação do que podiam vo-tar. O controle, segundo

o memorialista Eliseu Ferreira, acabava na mão da elite. De acordo com Ferreira, até alguns anos atrás, a elite, com-posta por médicos, ad-vogados e pessoas que conseguiam formação superior “controlavam as eleições e a política” no país, principalmente no recém-formado mu-nicípio de Divinópolis.

– A pessoa votava quase que com um ca-bresto. Os chefes das indústrias já davam a marmita pronta e, mui-tas vezes, iam à sua casa e diziam em quem você iria votar. Chamávamos assim porque você já le-vava a caixinha de casa. Você trabalhava para eles e seu patrão dizia em quem votar. O povo era muito ignorante e dependia da elite, que acabava por controlar as eleições – diz.

Caixeiro

Com exceção de Antô-nio Olímpio de Morais, que era caixeiro viajan-te, mas depois se tornou coronel, a maioria dos prefeitos de Divinópo-lis era de classe média a alta, como o médico Se-bastião Gomes Guima-rães, o engenheiro Luiz Fernandes de Souza e o empresário Jovelino da Costa Rabelo.

O voto é “secreto” desde 1932, mas só pas-sou a ser produzido pela Justiça Eleitoral em 1955, exigindo-se tam-bém a foto no título elei-toral. Até que o sistema fosse mais fi scalizado, os cidadãos acabaram arrumando um “jeiti-nho” para fazer valer sua cidadania. O memo-rialista conta rindo que muitos sujavam as cé-dulas de tinta para que o voto fosse discriminado e, por isso, muitas cédu-las eram descartadas.

Pontes

Além do controle nas eleições, eram frequen-tes as intervenções ex-ternas. Como exemplo, Ferreira relembra as vá-rias interferências que ocorriam nos dias das eleições.

“Eu quero é rosetar”Eleições eram marcadas por fraude e derrubada de mata-burros

– Para se ter uma ideia, muitas pesso-as moravam na roça e acontecia até de candi-datos derrubarem pon-tes, tirarem mata-burros para os eleitores não chegarem, porque sa-biam que quem vence-ria naquela região seria o candidato adversário. Apesar de todas as difi -culdades de hoje, antes era bem pior – declara.

O memorialista conta um fato importante das eleições para prefeito em Divinópolis. Acon-teceu em 1950, quando o médico Sebastião Go-mes Guimarães, can-didato da União Demo-crática Nacional (UDN), ganhou com a diferença de apenas 41 votos sobre o seu oponente, Antônio Gonçalves Guimarães, conhecido como Dr. Didi, que representava o Partido Social Demo-crático (PSD).

– Tudo indicava que

o Dr. Didi seria eleito e, novamente, iria co-mandar os destinos de Divinópolis. A eleição sofreu várias interferên-cias. Testemunhas da época dizem que houve impugnação de votos vindos de Amadeu La-cerda, distrito de Divi-nópolis, sob a alegação de que os eleitores eram do município de Santo Antônio do Monte. Po-rém, a urna com maio-res suspeitas teria vindo da Mata dos Coqueiros, povoado pertencente a Divinópolis, considera-do “curral eleitoral do PSD” – declara.

Apuração

Segundo Eliseu, a urna, que foi decisiva na contagem de votos, custou a chegar e hou-ve rumores sobre ela ter sido violada. Apesar de ser o “curral eleitoral” do candidato do PSD,

o adversário teria ven-cido. Ferreira diz que muitos votos que seriam para o médico Antônio Gonçalves Guimarães acabaram sendo descar-tados por terem as cédu-las manchadas de tinta.

Eliseu afi rma que ain-da lembra de que, quan-do era criança, a cidade fi cou agitada. No dia do resultado da eleição, muitos muros aparece-ram com a pichação “Eu quero é rosetar”, com uma espora de lado.

– Esse termo é usado quando você espora o cavalo. Aconteça o que acontecer, eu quero é me esbaldar – explica.

Por falta de um órgão fi scalizador, os candi-datos e os partidos de-veriam entrar com um processo no Poder Judi-ciário. Ferreira lembra que o candidato derro-tado e os integrantes do partido se preocuparam mais com o “disse me

disse” e responder à go-zação e acabaram não entrando com o proces-so.

Com tristeza, o me-morialista conta que a cidade estava dividida. Quem trabalhava para determinado partido não podia trabalhar para outro. A aliança partidária fazia parte do currículo.

– Os empresários só contratavam trabalha-dores que pertenciam à legenda que apoiavam e quem não era sindica-lizado. Isso só foi mu-dar cinco anos depois, quando Milton Maciel abriu a empresa com outra norma e colocou uma placa: “Aqui só tra-balha quem for sindica-lizado. Não importa o partido e religião”. Ele comprou briga com os partidos da região, mas conseguiu mudar um pouco a imposição da elite na cidade – conclui.

Arquivo Eliseu Resende

Cidade ficou pichada com o número 41, fazendo alusão à diferença do candidato derrotado

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Divinópolis1º de junho de 2012

Antônio Olímpio de Moraes

01/06/191231/12/1915

e01/01/1916agosto/1918

Francisco Coelho da Fonseca

Setembro/1918Dezembro/1918

Isauro Ferreira da Silva01/01/191907/06/1922

João Notini07/06/192231/12/1922

e01/01/1923

1925

Olímpio Moreira de Vasconcelos

192517/05/1927

José Maria Botelho18/05/192703/12/1930

Pedro Xavier Gontijo11/12/193011/03/1936

José Antônio Saraiva12/03/193619/03/1936

Antônio Gonçalves de Matos

19/03/193608/06/1936 e 09/06/1936

10/11/1937 e 11/11/1937

15/11/1945 e 20/02/194631/12/1946

Américo Andrada Magalhães

16/11/194519/02/1946

Veio de Belo Horizonte para

substituir AntônioGonçalves de Matos e não

deixou registro fotográfico

Itagiba de Souza01/01/194726/03/1947

Alvimar Mourão27/03/194711/10/1947

Lauro Epifânio Pereira12/10/194706/12/1947

Jovelino da Costa Rabelo

07/12/194731/01/1951

Sebastião Gomes Guimarães

31/01/195131/01/1955 e 01/01/1959

31/12/1962 e 31/01/197131/01/1973

Luiz Fernandes de Souza

31/01/195531/01/1959

Fábio Botelho Notini01/01/1963

15/05/1966 e 31/01/197713/04/1982

Oribes Batista Leite16/05/196629/01/1967

Walchir Jesus de Resende Costa30/01/196731/01/1971

Antônio Martins Guimarães

31/01/197331/01/1977

Galileu Teixeira Machado

14/04/198231/01/1983 e 01/01/1989

31/12/1992 e01/01/200131/12/2004

Aristides Salgado dos Santos

31/01/198301/01/1989 e01/01/199331/12/1996

Domingos Sávio01/01/199731/12/2000

Demétrius Arantes Pereira

01/01/200531/12/2008

Vladimir Faria de Azevedo01/01/200931/12/2012

Flávio Roberto Pinto

Desde a emancipação de Divinópolis, 1º de ju-nho de 1912, 25 homens tiveram a oportunidade de chefi ar a Prefeitura. Nenhuma mulher. Do-cumentos do Arquivo Público Municipal mos-tram que foram 36 man-datos desde a elevação do arraial a município. Antes, a cidade contava com vereador distrital ou especial, agente exe-cutivo distrital ou presi-dente da Câmara.

Depois da emanci-pação, a cidade passou a ser gerida por agen-tes administrativos. Segundo documentos do Poder Legislativo, o agente administrativo equivalia a presidente da Câmara e a prefeito, reunindo funções exe-cutivas e legislativas. Ele era eleito com o Le-gislativo, presidia esse poder, mas tinha fun-ções executivas.

Essa situação durou até 1930, quando um golpe de Estado mudou os rumos do país. A par-tir daí, o chamado “go-verno provisório” criou a fi gura do interventor municipal, uma espécie de prefeito nomeado que dispunha de poder total para legislar e ad-ministrar o município, sem vereadores.

Nomeado pelo go-vernador Olegário Ma-ciel, que extinguiu a Câmara e não indicava vice-prefeito, Pedro X Gontijo assumiu o pos-to em 11 de dezembro de 1930 e decidiu criar um conselho consultivo para administrar a cida-de. Nesse grupo, cons-tam nomes como Halim Souki e Jovelino Ravelo, entre outros.

Recordistas

A história dos man-datários municipais tem algumas curiosidades. Entre elas, mandatos bem curtos. O recordis-ta em fi car menos tempo à frente da Prefeitura é José Antônio Saraiva. Ele permaneceu apenas uma semana como pre-feito, de 12 de março a 19 de março de 1936. Foi o sufi ciente para entrar no rol de mandatários da cidade. Entretanto, segundo Lázaro Barre-to, autor do livro “Me-morial de Divinópolis: História do Município”, Saraiva veio de Belo Ho-rizonte, era engenheiro do Estado e exerceu o cargo esporadicamente, para substituir nomea-dos em períodos de li-cenças.

Já o político que mais tempo fi cou como pre-feito foi Antônio Gon-çalves de Matos. Nas quatro vezes em que ocupou o cargo, somou em torno de dez anos na chefi a da Prefeitura, entre 1936 e 1946. Em segundo, e mais recente, aparece Galileu Macha-do, com oito anos e sete meses de mandato.

25 homens chefiaram a PrefeituraPrefeito que fi cou só uma semana no cargo é uma das curiosidades

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Fonte: Arquivo Municipal

Divinópolis1º de junho de 2012

Christiane Brito

Era uma tarde de ou-tono de 24 de maio de 1912. Alguns poucos homens, todos de clas-se média a alta, muito bem vestidos e perten-centes à elite local, se reuniram em uma sala reservada da casa de Pio Fonseca e Silva. O prédio, que futuramen-te receberia as sessões da Câmara Municipal, ainda estava em obras. A casa de Pio Fonseca havia sido escolhida para ser provisoria-mente ponto de encon-tro para as decisões le-gais e executivas mais importantes do recém criado município de Divinópolis.

O evento que ali se passava era importan-te. Era preciso diplo-mar, ou seja, reconhe-cer a condição de eleito dos que se encontra-vam reunidos, de acor-do com as determina-ções legais vigentes na Constituição Estadual de Minas Gerais de 1891. De acordo com a legislação republicana em vigor, o vereador mais velho, no caso, João Severino tomou a liderança e, o mais jo-vem, Adolfo Machado, secretariou o processo.

Após serem ofi cial-mente nomeados ve-readores, os primeiros legisladores da cidade ainda precisavam de-cidir quem exerceria a função de presidente da Câmara Municipal, o cargo mais alto e que, guardadas as propor-ções, atuava como se fosse prefeito. Os ve-readores diplomados entregaram duas cédu-las, cada uma com um nome, para formarem comissões de reconhe-cimento de diplomas.

A primeira Câmara de vereadores havia sido eleita após a rea-lização das primeiras

eleições do município. Essas eleições foram realizadas em duas ses-sões e, numa delas, de acordo com os regis-tros, 80 eleitores vota-ram. Naquela segunda reunião na casa de Pio da Fonseca, as comis-sões reconheceram ofi -cialmente os primeiros vereadores do municí-pio eleitos pelo povo dois meses antes. Após o reconhecimento das comissões foram diplo-mados: Coronel An-tônio Olímpio de Mo-raes, Adolfo Machado Gontijo, José Nogueira Magalhães, João Seve-rino de Azevedo, José Rodrigues Viegas, Oc-távio Machado Gontijo e Manoel Antônio de Almeida. Para juízes de paz foram escolhi-dos Joaquim Coelho da Fonseca, Francisco Xa-vier Lopes Cançado e João Manoel de Olivei-ra Pinto.

Eles chegaram a se encontrar uma terceira vez, no dia seguinte, para continuar a diplo-mação e escolheram 1º de junho como o dia que seria considerado a data da independên-cia do município e da constituição da mesa administrativa da pri-meira Câmara Munici-pal.

Por trás das cerimônias

A história continua, conforme o livro de atas da Câmara Mu-nicipal de Henrique Galvão. No dia 1º de junho, foi eleita a pri-meira Mesa Diretora da Câmara Municipal de Divinópolis e procla-mada a independência municipal.

Apesar de a eleição para presidente da Câ-mara ter ocorrido na-quele dia 1º com toda a pompa necessária e religiosamente regis-trada, a memória local

Três sessões decisivas no sobradoAntes das eleições, Antônio Olímpio já tinha a simpatia de quatro vereadores e Pedro X questionou seu salário

destaca o fato de que o nome para ocupar a presidência da Câmara já era conhecido pelo povo. De acordo com o livro escrito pelos ir-mãos Antônio e Fran-cisco Gontijo de Aze-vedo, a população local havia indicado Antô-nio Olímpio de Moraes, já em 1911, para o refe-rido cargo de presiden-te da Câmara. Antônio Olímpio, de princípio, teria colocado “opo-sição à sua indicação para o cargo, alegando ter que viver da pro-fi ssão de caixeiro-via-jante, mas, havendo in-sistência do povo, ele, mesmo sabendo dos prejuízos que ia ter, re-solveu aceitar (...)”.

Antônio Olímpio de Moraes era muito atu-ante na política local desde os tempos do Ar-raial do Espírito Santo

do Itapecerica, época em que foi juiz de paz em 1897. No come-ço do século passado, Antônio Olympio foi fundador do primei-ro diretório do Partido Republicano Mineiro (PRM) local.

- Tudo isto certa-mente infl uenciou para que ele viesse a ocu-par a presidência da primeira câmara – de acordo com historiador da Secretaria Munici-pal de Cultura, Faber Clayton.

Regime

No Brasil do século XX, o regime republi-cano concedia ampla autonomia aos estados e municípios para le-gislarem sobre os mais diversos assuntos. Em Divinópolis, os vere-adores legislaram so-

bre a arrecadação de impostos, sobre o or-çamento local etc. A primeira Câmara esta-beleceu que os verea-dores locais não seriam remunerados, mas o presidente da mesma receberia subsídio pro-porcional à renda mu-nicipal. De acordo com as atas da Câmara, em reunião de 12 de janei-ro de 1916 aprovou-se um projeto que aumen-tava o subsídio do pre-sidente da Câmara para 10% dos rendimentos locais. Na época, esse ato foi condenado pelo farmacêutico e jornalis-ta Pedro X Gontijo que criticou em um jornal severamente a Câmara e o presidente Antônio Olímpio.

Historiadores da Se-cretaria Municipal de Cultura acreditam que esse foi o estopim de

rivalidade política que marcaria o cenário po-lítico local promoven-do acirrada disputa pelo poder entre dois partidos rivais curio-samente apelidados de machos e fêmeas.

1ª Câmara Municipal

A vila de Henrique Galvão foi elevada a município por lei em 30 de agosto de 1911 e formou sua Câma-ra Municipal em 1912. Os vereadores tinham apenas funções orça-mentárias e fi nancei-ras, como: aprovar o orçamento, a prestação de contas do Executi-vo, conceder isenções ou propor aumento de tributos municipais.

Os parlamentares reuniam-se apenas por um curto período e al-guns dias do ano.

No sobrado de Pio da Fonseca, foram realizadas as primeiras reuniões da Câmara Municipal, na rua Independência, atual Osvaldo Machado

Museu Histórico

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Divinópolis1º de junho de 2012

Pablo Santos

Uma fi gura emble-mática da história di-vinopolitana teve peso fundamental para o mu-nicípio ser emancipado. O político e farmacêu-tico Pedro Xavier Gon-tijo ou Pedro X, como gostava de ser chama-do, tinha um vulcão na cabeça e uma espada na mão, de acordo com o adversário político da época, Carlos Altivo. A carta enviada ao Con-gresso Mineiro por Pe-dro X, em 1911, contou o franco desenvolvimento do arraial com a chega-da da Estrada de Ferro, que seria decisiva para Divinópolis se tornar cidade. Para convencer os congressistas, Pedro X dobrou por conta pró-pria a população do ar-raial.

Mineiro de Água Limpa, distrito de Itape-cerica, Pedro X fez parte de uma comissão forma-da por Antônio Olímpio, Francisco Ribeiro (Chico Diabo), Pedro Xavier Gontijo e Francisco Ma-chado Gontijo para en-contrar uma forma de emancipar o município.

Nas atribuições a cada um, Pedro X fi cou encarregado de escrever

uma carta ao Congres-so Mineiro, tendo como coautor Chico Diabo, de acordo com o livro “Rastro de Pegadas de Divinópolis”, do apo-sentado e bacharel em direito, Eliseu Ferreira.

Para se emancipar na-quele período, era preci-so que a cidade tivesse 20 mil habitantes. Pedro X afi rmou que, em 1911, o Arraial do Divino Es-pírito Santo tinha 17 mil pessoas e caminhava a passos largos para ter 20 mil.

– Esse distrito, um dos mais antigos de Mi-nas e também um dos mais antigos da fregue-sia, conta hoje apro-ximadamente 17.070 almas, podendo esse número ser elevado em curto prazo a mais de 20 mil habitantes, devido ao desenvolvimento que se verifi ca diariamente – descreveu Pedro X no começo da carta. Dados do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) re-velam que, em 1912, Di-vinópolis tinha apenas 9,8 mil.

Para convencer os congressistas mineiros, o farmacêutico, forma-do pela Universidade de Ouro Preto em 1909, contou que o arraial era

servido pela Estrada de Ferro e fi cava a apenas quatro horas de Belo Horizonte.

Além da Estrada de Ferro até Paraopeba, em outro trecho, Pedro X destaca as empresas do arraial como ponto forte de desenvolvimento.

– Existem ainda nes-se distrito duas fábricas de manteiga, uma de creme, dois de engenho para benefi ciar arroz, uma fábrica de cerveja, cujo consumo é largo e a exportação é considerá-vel – destacou.

Casas

Pedro X também des-creveu a quantidade de casas e os estabeleci-mentos comerciais da época para chamar a atenção dos congressis-tas.

– Existem na sede deste município apro-ximadamente umas quatrocentas casas de telhas, prédios sólidos e de construção moderna, três ofi cinas de sapatei-ro, ferreiro, mecânicos, serralheiros, dois hotéis e água canalizada – con-tou.

Pedro X, que foi pre-feito do município de 1930 a 1936, ainda des-

A cartada de Pedro X Gontijo Correspondência decisiva para emancipação teve apoio de Chico Diabo

creveu que o arraial ti-nha cinco escolas, sendo duas públicas e três par-ticulares e algumas com difi culdade de atender à demanda.

Ele termina destacan-do como seria importan-te o arraial ser emanci-pado.

– Vê-se do exposto a grande vantagem que existe com a criação do novo município elevan-do-se este distrito à ca-tegoria de vila – fi nali-zou Pedro X. Em 30 de agosto, foi criado o mu-nicípio com o nome de Vila Galvão, pela lei 556.

Antes de se tornar município, Divinópolis pertenceu

a quatro comarcas

Sabará 1711 a 1744

Vila São José do

Rio das Mortes (Tiradentes) 1744 a 1758

Pitangui 1758 a 1847

Itapecerica 1847 a 1912

Fonte: Arquivo Público

Arquivo Municipal

Pedro X escreveu uma carta destacando as qualidades do arraial

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Divinópolis1º de junho de 2012

Flávio Roberto Pinto

Era julho de 1922. Isauro Ferreira da Silva, presidente da Câmara Municipal, cargo que equivalia a prefeito na época, foi morto a tiros. Morreu na rua Rio de Janeiro, contraesquina com a antiga praça Ben-jamim Constant. Seu as-sassinato é um marco na história política de Divi-nópolis, mas nada teve a ver com política.

Segundo o historiador e professor Breno Gonti-jo Andrade, documentos apontam em Isauro um fraco pelo sexo feminino, apesar de ser casado e ter fi lhos. Teria se envolvido com várias mulheres. O grande problema teria sido o envolvimento com a esposa de Oswaldo de Araújo Lima, um afama-do médico da cidade. Coincidentemente, ela se

chamava Isaura.– O envolvimento

teve várias peripécias, a esposa do médico se apaixonou por Isauro e era bastante ciumen-ta. Como Isauro andava com outras mulheres, Isaura começou a perse-guir e a ameaçar o pre-feito – relata Breno An-drade.

A situação ganhou contornos de tragédia quando, após várias ar-timanhas sem sucesso, Isaura resolveu contar ao marido que Isauro “fazia-lhe propostas de-sonestas”. Começaram então a tramar uma for-ma de castigar o prefeito.

No dia 27 de julho, acabaram conseguindo atraí-lo para a casa do médico, mesmo Isauro tendo fi cado bastante desconfi ado do convite. A discussão esquentou e o médico deu uma chi-cotada no rosto do vere-

ador e, em seguida, fez o disparo fatal.

Comoção e absolvição

Conforme as pesqui-sas do historiador, a po-pulação correu para sa-ber o que acontecia. Ao constatar que o prefeito havia sido assassinado, o povo quis linchar o médico. Para se prote-ger, ele não saiu de casa e ameaçava com arma de fogo quem se aproxi-masse. Por fi m, as auto-ridades o prenderam.

– Os familiares e ami-gos de Isauro, entre eles Pedro X. Gontijo, mobili-zaram-se para contratar bons advogados com a fi nalidade de obterem a pena máxima para o médico. Contrataram o fi lho do romancista Ber-nardo Guimarães, que veio de Belo Horizonte para o julgamento. Po-rém, para consternação

Assassinato de vereador marca história política do município

Médico que matou presidente da Câmara acabou sendo absolvido

da população, o réu foi absolvido – conta o his-toriador.

Logo depois, o médi-co abandonou a cidade

e foi morar em uma pe-quena cidade no estado do Rio de Janeiro, onde permaneceu até a sua morte.

Isauro Ferreira foi eleito prefeito em 1919 e foi morto em 1922

Familiares e amigos de

Isauro, entre eles Pedro X. Gontijo, mobilizaram-se para contratar

bons advogados com a finalidade

de obterem a pena máxima para o médico.

Contrataram o filho do

romancista Bernardo

Guimarães, que veio de Belo

Horizonte para o julgamento. Porém, para

consternação da população, o réu

foi absolvidoBreno Andrade

historiador

Arquivo Público

Pablo Santos

Divinópolis passou perto de ser conhecida como Cachoeira, Palmei-ra e Alexandria. Durante as primeiras reuniões dos vereadores em 1912 os no-mes foram sugeridos para substituir o recém criado município de Vila Hen-rique Galvão. Os parla-mentares entendiam que precisavam de um nome moderno e manter uma referência ao Divino Espí-rito Santo. Antônio Olím-pio de Morais, presidente da Câmara de Vereadores deixou todos falarem e no fi nal da reunião sugeriu:

Divinópolis. Depois de uma intensa batalha oral, vereadores fi caram sem entender o signifi cado, mas aprovaram. De po-voado a vila, Divinópolis teve nove nomes.

Numa sala provisória em antigo casarão situado na avenida Independên-cia, atual Osvaldo Macha-do Gontijo, os vereadores estavam dispostos a mu-dar o nome da vila. Ca-choeira de Ouro era o pre-ferido do vereador João Vicente, mas José Severino queria Cachoeira Gran-de. Já Antônio Domingos Gontijo estava convenci-do de que Palmeira seria o melhor e Chico Gontijo

insistia em Alexandria. O debate continuou e ne-nhum dos nomes agradou ao então presidente do Le-gislativo, Antônio Olím-pio de Morais.

De acordo com o livro do sobrinho do presidente de Antônio Olimpio, Pau-lo Roberto de Souza Mora-es, não houve consenso.

-Vendo que ainda não entraram em um acordo quanto a um nome para a nossa vila, eu irei apre-sentar aos senhores a mi-nha sugestão. Eu sugiro Divinópolis – teria dito Antônio Olimpio cau-sando admiração aos que não entenderam. Perce-bendo que os primeiros

parlamentares queriam saber o signifi cado, Antô-nio Olimpio explicou.

- Divino é uma refe-rência ao Divino Espí-rito Santo, que, desde a chegada dos primeiros civilizados neste lugar, tornou-se o nosso padro-eiro. E polis é a pronún-cia da palavra cidade no idioma grego. Portanto, Divinópolis é o mesmo que Cidade do Divino – justifi cou.

Em 30 de setembro de 1912, a Vila Henrique Galvão mudou de nome e passou a se chamar Di-vinópolis, após o gover-no estadual publicar a lei 570.

Batalha entre Cachoeira e o DivinoEscolha do nome da cidade faz referência ao padroeiro com uma junção de palavra grega

Nomes de DivinópolisParagens do Itapecerica........................1770Freguesia do Divino Espírito Santo e São Francisco de Paula do Itapecerica........1834Espírito Santo do Itapecerica........................1838Arraial do Espírito Santo.................................1847Espírito Santo do Itapecerica.......................1864Freguesia do Espírito Santo.................................1874Distrito do Espírito San-to.......................................1891Itapecerica........................1894Vila Henrique Galvão.......1911Divinópolis.......................1912

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Em Divinópolis, são mais de:

Antônio Olímpio escolheu o nome Divinópolis

Arquivo pesoal

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