Post on 17-Apr-2015
Consumidores x Cidadãos
Atitudes que transformam consumidores em cidadãos
diante da mídia
São Leopoldo, 10 de abril de 2002
Debate na Unisinos
Inércia
• Cotidianamente surgem informações que evidenciam as crescentes determinações da mídia sobre a cultura, a política e a economia.
• Tais informações, veiculadas diluídas nos meios de comunicação, não decorrem em alterações qualitativas da relação dos indivíduos com a mídia.
Exemplo 1: Consumo de TV
• Pesquisas realizadas pelo departamento de Estudos da Mídia da Universidade de Rutgers (EUA) revelam que o intenso consumo de TV apresenta semelhanças com a dependência de álcool e drogas, gerando síndromes de dependência.
• No Brasil , conforme o Ibope, assiste-se em média quatro horas de TV por dia.
Exemplo 1: Consumo de TV
• O psicólogo Robert Kubey, da Universidade de Rutgers, revela que “estudos com eletroencefalograma mostram menos estimulação mental quando se vê TV do que quando se está lendo”.
Exemplo 2: TV e violência• Pesquisa bancada pela Universidade Columbia
(EUA) e pelo Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova Iorque acompanhou os hábitos de consumo de TV de 707 crianças e adolescentes por 17 anos, de 1985 a 2000, relacionando-os com violência e atitudes agressivas.
Exemplo 2: TV e violência
• O estudo conclui que o maior consumo de TV na infância e na adolescência estimula a violência e predispõe os adultos ao envolvimento em conflitos, pancadarias e atos criminosos.
Exemplo 2: TV e violência
• Foi encontrada uma correlação entre o número médio de horas de TV assistida na infância e na adolescência e o percentual de indivíduos da amostra envolvidos com a prática de violência na vida adulta:– Menos de uma hora: 5,7%– De uma a três horas: 22,5%– Mais de três horas: 28,8%
Exemplo 2: TV e violência
• A Associação Americana de Psicologia identifica que uma hora média de programa mostra de três a cinco atos violentos.
Exemplo 3: Álcool na TV
• Pesquisa realizada pela Escola de Medicina de Darmouth (EUA) revela que adolescentes expostos à publicidade de bebida alcoólica na TV têm três vezes mais possibilidade de consumo deste produto do que os não expostos.
• O programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, disponibilizava bebida alcóolica para os participantes, para que estes aparecessem mais “soltos” diante das câmeras
Exemplo 3: Álcool na TV
• O programa Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo, disponibilizava bebida alcóolica para os participantes, para que estes aparecessem mais “soltos” diante das câmeras.
• Uma das participantes tomou cinco doses de tequila, dançou, vomitou e circulou nua até cair e teve de ser atendida por um médico.
• 21,8% do público do BBB é composto por crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos.
Tecnologias e SistemasContemporâneos de Mídia
Tecnologias e Sistemas da área das comunicações que estão revolucionando os
processos sociais, com impacto sobre a Cultura, a Política e a Economia
Sistemas e Tecnologias
• Convergência tecnológica
– Criação de infra-estruturas de comunicação amparadas na integração de equipamentos e serviços de informática, telecomunicações e mídia eletrônica.
Sistemas e Tecnologias• Incremento da portabilidade e da
miniaturização de equipamentos– Maior disseminação e presença de equipamentos e
sistemas de comunicação no cotidiano dos indivíduos, assim ampliando as possibilidades de comunicação.
Sistemas e Tecnologias• Crescimento exponencial do volume de
informação que pode ser armazenado e processado pelos equipamentos– Gigabytes (1 millhão de kb) já é o padrão de
microcomputadores.
– Servidores já atingem Terabytes (1 bilhão de kb): aproximadamente 740 mil livros de 200 páginas.
– Viabilização técnica do conceito de computador inteiro em um único chip.
Sistemas e Tecnologias
• Agilização dos meios e formas de distribuição das informações– Superação das fronteiras geográficas e de tempo,
permitindo que conteúdos sejam distribuídos a baixo custo, em escala planetária e em tempo real
Sistemas e Tecnologias• Surgimento de novos suportes técnicos
– Inovações mesmo para formas consolidadas de expressão, como o jornalismo impresso e a literatura.
– Exemplos: livro eletrônico e tinta eletrônica (e-ink).
Sistemas e Tecnologias
• Advento de meios que permitem aferir audiências e reações do público em tempo real– Registro, por amostragem, de reações da audiência
diante de programas, em tempo real.
– No futuro, registro e aferição de reações e manifestações do público, em escala de massas, no curso do processo de comunicação.
Sistemas e Tecnologias• Intensificação da capacidade de produzir
impressões sensoriais
– Geração de forte sensação de realidade, graças às condições técnicas de manipulação de efeitos audiovisuais digitalizados.
Sistemas e Tecnologias• Intensificação da capacidade de produzir
impressões sensoriais
– Experimentações com geração de efeitos sobre os cinco sentidos humanos, a partir da estimulação direta de áreas cerebrais.
Decorrências
Decorrências Culturais, Políticas e Econômicas das Novas Tecnologias e
Sistemas de Comunicação
Decorrências Econômicas• Formação de conglomerados
internacionais de mídia– Associação crescente das
empresas da área das comunicações ao capital financeiro
– Desenvolvimento de sistemas mundiais integrando diversos ramos da área das comunicações.
Decorrências Econômicas
• Intensificação do inter-relacionamento entre os diversos sistemas de comunicação e “áreas de negócio” emergentes
– Integração de capital e de operações entre os segmentos de mídia, de telecomunicações, da indústria fonográfica, do mercado editorial, da indústria do entretenimento e do setor de esportes.
Decorrências Políticas
• Ampliação da capacidade da mídia condicionar agendas e cenários políticos.
– Vigorosos processos e poderosos instrumentos de legitimação de posições políticas.
– Acentuação dos desequilíbrios na distribuição do poder.
Decorrências Políticas• Fortalecimento da tendência de estetização e de
espetacularização da política – As instituições políticas e
mesmo os mais diversos agentes políticos são impelidos a se submeter à lógica imposta pela mídia, ao seu ritmo, à sua linguagem, à sua estética, à sua legitimação e às suas formas de expressão.
Decorrências Culturais
• Hipervalorização da forma em relação ao conteúdo – Constatação dramática: predominam na mídia linguagens
sequer compreendidas pela maioria do público.– Indivíduos, de um modo geral, não conseguem portar-se
nem como sujeitos, nem como cidadãos diante da mídia.– Instituições da sociedade civil não demonstram perceber
decorrências estratégicas deste fenômeno.
Decorrências Culturais• Hipertrofia dos impactos sensoriais e emocionais
em relação aos estímulos à reflexão
– A mídia adota um ritmo vertiginoso, amparado na fugacidade, na superficialidade, na sedução e na exacerbação dos apelos emocionais e sensoriais que operam assustadores processos de desumanização.
Decorrências Culturais• Exacerbação da submissão dos conteúdos a
interesses econômicos– Desmedida busca de audiência e
de apelo ao público, mesmo nas formas segmentadas de comunicação.
– Exploração das fragilidades humanas, evocação de perversões e mesquinharias, operação a partir do fascínio pela violência, ativação de reações primitivas apelando-se à morbidez e aos traços esquizo-paranóides dos indivíduos.
Decorrências Culturais
• Diluição dos gêneros– Perda de referência das características técnicas e
estéticas dos gêneros típicos da comunicação forjados durante décadas, com o desnorteamento do público quanto à relação entre a forma e o conteúdo.
Decorrências Culturais
• Diluição dos gêneros
– Fenômeno verificado, por exemplo, no jornalismo: cada vez mais produzido com técnicas típicas da produção de ficção, com sua estetização, dramatização e espetacularização e a sua conseqüente despotencialização como forma de conhecimento.
Decorrências Culturais
• Descaracterização das fronteiras entre a publicidade e os conteúdos editoriais e artísticos– Pesquisas constatam que a maior parte do público
apresenta dificuldades para distinguir a publicidade do restante da programação, na televisão.
– Crescente condicionamento da forma e do conteúdo publicitário sobre o editorial.
– Fortalecimento das produções voltadas especificamente para a geração de negócios.
Decorrências Culturais• Aumento do fosso que separa os indivíduos (e seus
respectivos segmentos sociais) com acesso e sem acesso à informação
– Contraposição entre os que dispõem de fontes virtualmente ilimitadas de informação e outros que sequer dispõem de alimentação adequada e ensino básico, gerando-se um abismo na qualificação e na integração social.
Decorrências Culturais• Aumento do fosso que separa os indivíduos (e
seus respectivos segmentos sociais) com acesso e sem acesso à informação
Diagnóstico Síntese
A democratização da comunicação como base para a afirmação da cidadania e o
desenvolvimento do país
Potencialidades não apropriadas
• Novos Sistemas e Tecnologias– Convergência tecnológica
– Miniaturização, portabilidade
– Volume de informação processável e armazenável
– Agilização das formas e meios de distribuição de informações
– Aferição de audiências e reações em tempo real
– Intensificação da capacidade de produzir impressões sensoriais
• Potencialidades geradas e apropriadas quase que exclusivamente pelo mercado
Potencialidades não apropriadas
• Concentração da Mídia no Brasil
Veículos ligados às seis redes privadas nacionais de TV aberta
TV VHF TV UHFRádio
AMRádio
FMRádio
OT Jornal TotalTotal deVeículos
294 15 122 184 2 50 667
Fonte: Relatório Epcom - 2002
Potencialidades não apropriadas
• Concentração da Mídia no Brasil
Faturamento das redes privadas de TV aberta
Globo SBT Band RecordRedeTV! CNT` Outras
FaturamentoUS$
1,59 bi 600 mi 300 mi 240 mi 150 mi 60 mi 60 mi
Participação 53% 20% 19% 8% 4% 2% 2%Fonte: Empresas e Folha de São Paulo – Base 2000
Potencialidades não apropriadas
• Concentração da Mídia no Brasil
Participação da Globo em dois Segmentos dos Mercados de TV por Assinatura
Tipo de Serviço Empresasda Globo
Total deAssinantes do
MercadoAssinantesda Globo
Percentual daGlobo
TV a Cabo NET eAfiliadas
2.000.100 1.344.000 64%
DTH – Satélite Sky 1.174.000 615.000 52%
Total dosServiços
Total dasEmpresas
3.274.000 1.959.000 55%
Fonte: PayTV e ABTA – Base 3o Trimestre de 2001
Potencialidades não apropriadas
• Persistem inócuas e inaplicadas as seguintes disposições da Constituição Federal:– Artigo 220, § 3.º, inciso II (meios legais para a
defesa da pessoa e da família de programas e programações)
– Artigo 220, § 5.º (coibição do monopólio e do oligopólio)
Potencialidades não apropriadas
• Persistem inócuas e inaplicadas as seguintes disposições da Constituição Federal:– Princípios do Artigo 221 (preferência a
finalidades, promoção da cultura, regionalização da produção, respeito a valores)
– Artigo 224 (Conselho de Comunicação Social)
Potencialidades não apropriadas
• O Congresso há dez anos está desrespeitando a Lei 8389/91, que determinou a composição e instalação do Conselho de Comunicação Social até março de 1992.
Potencialidades não apropriadas
• A maior parte dos grandes grupos de mídia do país, utilizando artifícios que não resistem à menor análise, exorbitam os limites legais de propriedade de emissoras de televisão e de rádio.
Potencialidades não apropriadas• Extraordinária
potencialidade emancipatória da humanidade propiciada pelos meios e sistemas contemporâneos de comunicação
Potencialidades não apropriadas
• Inéditas condições de promoção da autonomia intelectual dos indivíduos
• O gigantismo dos meios, paradoxalmente, cria a possibilidade real de se controlá-los globalmente (Adelmo Genro Filho)
Apropriação das Potencialidades
• Dilema contemporâneo: Sociedade Inteligente X Mundo das Corporações
• Necessidade de exercício de autonomia da sociedade civil em relação ao Estado e ao mercado (setor privado)
• Capacitação da sociedade civil para lidar com inteligência e para dotar-se de senso estratégico
Apropriação das Potencialidades
• Capacitação da sociedade civil para lidar de igual para igual com o Estado e o setor privado
• Busca da articulação de meios, em geral só alcançáveis pelo Estado e pelo setor privado, para a afirmação de autonomia estratégica
Resposta do Fórum• Propostas do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação– Controle Público
– Reestruturação do mercado e dos sistemas de comunicação
– Capacitação da sociedade e dos cidadãos para o conhecimento e a ação em relação à mídia
– Construção da cultura como finalidade da luta pela democratização da comunicação
As lições da luta do Fórum
• Inexistência de modelo no mundo
• Projeto estratégico não se esgota em nenhum objetivo específico de um programa
• Os objetivos estratégicos se alcançam de muitas formas
As lições da luta do Fórum
• O elemento essencial é a disputa do controle e da democratização do conteúdo
• O índice de democratização é o índice de representação da pluralidade
• Luta pela democratização é esforço sem fim previsível: é uma atitude permanente da sociedade e dos cidadãos
As grandes disputas hoje
• Abertura das empresas de mídia ao capital estrangeiro
• Instalação do Conselho de Comunicação Social
• Nova legislação da comunicação social eletrônica
• Implantação da TV digital
Democratização da comunicação
• Para os profissionais dos diversos segmentos da área da comunicação, uma imposição ética: ter consciência do efeito social da sua atividade
• Para os cidadãos, um desafio político e cultural: transformação da sociedade e dos indivíduos, de objetos em sujeitos em relação à mídia
Democratização da comunicação
• Sabemos o que fazer, o quê e como enfrentar
• Sem democratizar a comunicação não há democracia na sociedade
• Nosso desafio é aumentar a representação da pluralidade na mídia e despertar nos cidadãos a possibilidade do exercício da autonomia intelectual
Democratização da comunicação
• Em síntese, a luta pela democratização da comunicação inicia com um esforço para transformar os indivíduos de consumidores em cidadãos diante da mídia