Cronologia da Carta de Pero Vaz de Caminha para Portugal

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Cena 1: portugueses e indgenas se encontram pela primeira vez, no litoral sul da Bahia. Cena 2: depois de momentos de hesitao, os dois grupos trocam objetos, prtica que se tornaria uma das mais emblemticas ao longo da colonizao portuguesa. Os episdios so narrados por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivo da esquadra de Pedro lvares Cabral (1467/68-1520) no primeiro registro escrito do pas. Ele inclui muitos outros detalhes da chegada dos portugueses ao Brasil e revela episdios do cotidiano de personagens que ficaram para a Histria, como Cabral e o prprio autor da carta, e de pessoas comuns - tripulantes dos barcos, por exemplo - poca do descobrimento.

A carta, hoje guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, pode ser trabalhada em classe desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. "Nessa etapa da escolaridade, o mais indicado apresentar trechos selecionados previamente, de acordo com os objetivos do professor, e propor uma discusso", explica a historiadora Isabel Barca, docente da Universidade do Minho, em Portugal, e autora de livros didticos e orientaes curriculares que propem a leitura e a anlise da carta.

O documento permite um primeiro contato das crianas com a formao do Brasil. Contribui, ainda, para iniciar um processo de aprendizagem com base em inferncias sobre documentos e outras fontes. Aqui, vale um esclarecimento: todo vestgio do passado uma fonte histrica em potencial. Porm s fontes de valor legal e/ou institucional podem ser consideradas verdadeiros documentos histricos. Essa proposta de trabalho, que aproxima os alunos dos procedimentos de trabalho de um historiador, a perspectiva atual no ensino da disciplina desde os anos iniciais.

A abordagem cultural deve nortear o estudo da carta. Segundo Francisco Alfredo Morais Guimares, professor de Histria da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), para entender as diferenas entre ndios e portugueses naquele perodo, a turma deve considerar que os primeiros desenvolveram sua cultura por meio de um processo de adaptao s florestas tropicais, aprendendo a ler os cdigos de interao entre plantas e animais, que constituem o seu patrimnio. Alm disso, praticavam a agricultura de subsistncia sem fins comerciais.

J na Europa, o objetivo era estabelecer relaes de comrcio visando o lucro e a explorao de comunidades que viviam em outros continentes, sem preocupao com o meio ambiente. Esse dado ajuda a entender o embate cultural que se seguiu ao primeiro encontro do homem branco e do ndio. " possvel estudar a carta enfocando esse momento e depois expandir a anlise, discutindo os impactos e as mudanas nas organizaes sociais j existentes, tanto a indgena quanto a portuguesa", recomenda o historiador Juliano Custdio Sobrinho, selecionador do Prmio Victor Civita - Educador Nota 10.Mediar a leitura, lanando perguntas turma, estimula a discusso. Questionamentos gerais, do tipo "Quem escreveu a carta?", "Por qu?", "Para quem vocs acham que ela foi destinada?" e "O que ela significou para as pessoas daquele tempo?", podem iniciar o debate.

A conversa pode ser aprofundada com indagaes especficas sobre alguns trechos(leia os excertos comentados na ltima pgina). So exemplos de questes: "O que os portugueses encontraram por aqui?", "Ser que a paisagem mudou muito desde 1500?", "Os ndios usavam moedas de troca?", "Tinham religio?", "No que eles acreditavam?". "Assim, os alunos podem debater causas e efeitos de mudanas ao longo do tempo e construir e comparar interpretaes sobre o passado", diz a britnica Hilary Cooper, da St Martins College, que pesquisa o processo de formao do pensamento histrico em crianas a partir dos 3 anos e acaba de lanar no Brasil o livroEnsino de Histria na Educao Infantil e Anos Iniciais - Um Guia para Professores(261 pgs., Ed. Base, tel. 41/3264-4114, 40 reais). Depois da problematizao da carta, vale sistematizar as informaes encontradas e fazer uma lista das dvidas.

Por relatar o primeiro contato entre o europeu e o indgena por meio da tica do colonizador, o documento no pode ser a nica fonte apresentada turma. Ele o primeiro de uma srie de recursos, que inclui textos informativos, extrados de enciclopdias, e imagens, como a pintura a leoPrimeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles (1832-1903), realizada posteriormente. Materiais que trazem informaes sob a perspectiva indgena no podem ficar de fora, como a canoPindoramae sua letra, do grupo Palavra Cantada.

Nesse ponto, possvel introduzir uma discusso j clssica na historiografia nacional: o Brasil foi descoberto ou conquistado? Desse modo, a garotada compara diferentes verses do mesmo fato e aprende que a Histria feita de mltiplas perspectivas. "Fontes foram criadas com propsitos diferentes e, portanto, possuem nveis de validade distintos. Frequentemente, so incompletas", explica Hilary. A sada estimular a discusso e a formulao de hipteses. "Por mais que paream improvveis, as inferncias dos pequenos mostram que eles esto aprendendo sobre o processo de investigao histrica."