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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
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UNIDADE DIDÁTICA – PDE 2009 PROFESSOR PDE: Telcy Terezinha Scherer
ESCOLAS EM QUE ATUA: Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira
Escola Estadual Horácio Ribeiro dos reis
ÁREA: Letras
Disciplina: Língua Portuguesa
NÚCLEO: Cascavel
ORIENTADOR: Profº. Dr. Gilmei Francisco Fleck
ÁREA DE ATUAÇÃO: Literatura Comparada – Ensino de Línguas
IES VINCULADA: UNIOESTE – Campus de Cascavel
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Eleodoro Ébano Pereira
PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: 1º Série –E. M.
CONTEÚDO ESTRUTURANTE: O Discurso como Prática Social
CONTEÚDO BÁSICO: Leitura
GÊNERO DISCURSIVO: Texto híbridos de história e ficção GÊNERO TEXTUAL ―Escrita híbridas de história e ficção- romance histórico‖
TÍTULO: Outras viagens a partir do Diário de Colombo (1492-1493) e da Carta de
Pero Vaz de Caminha (1500): resgatando a história pela literatura.
1-DISCUSSÃO INICIAL
- Você gosta de Literatura?
- Qual é o seu conceito de literatura?
- O que você conhece sobre a história brasileira?
- Você sabe algo sobre escritas mistas de história e ficção-
- Romance histórico?
- Qual a importância da história na vida das pessoas?
- Será que mesmo em se tratando de história as verdades podem ser
únicas?
2- Vamos entender um pouco sobre história e ficção-romance histórico.
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Você sabia que já houve um período no qual não existia separação entre a história e a
literatura (ficção)? Pois é, isso acontecia na época grande se escriviam as grandes epópeias.
Veja abaixo o comentário do Professor G. Francisco Fleck sobre esse período:
[...] na época das grandes epopéias, das histórias extraordinárias, dos monstros,
magos e gigantes, dos heróis com poderes infinitos, homens semideuses, lutando
para defender seu povo, seu reino e sua amada, imaginação e veracidade coexistiam
num mesmo relato, dando-lhe justamente por isso, mais vida e despertando no
receptor, ouvinte ou leitor, grandes paixões. Muitas vezes essas narrativas passaram
a ser consideradas a própria história de um povo, cabendo ao receptor discernir entre
o verídico e o imaginário, o impossível e o plausível. Era esse o tempo em que à
história e a literatura compartilhava, no lirismo dos grandes poemas, no compasso e
no ritmo de seus versos, na arte e no domínio do uso da linguagem, um espaço
comum, único. (FLECK, p. 138-139).
Foi em meados do século XIX que a história tornou-se ciência, separando-se da ficção
que seguiu sendo arte. Nesse contexto de divisão, surgiu, contudo uma forma mista de escrita:
o romance histórico. Isso se deu na Europa, mais precisamente na escrita do romancista
Walter Scott que, em 1814, escreveu o romance Waverley e em 1819, sua obra mais
importante: Ivanhoé. Esse romance marca a difussão do gênero romance histórico – uma
escrita mista na qual a história e a ficção convivem harmoiniosamente.
Para Compreender
Para você saber:
Qual é a diferença entre um texto de escrita híbrida de história e ficção - romance histórico -
de um texto puramente ficcional ou puramente historiográfico?
Para entender melhor sugerimos que você pesquisa na internet sobre a obra Ivanhoé (1819),
de Walter Scott. Para isso acesse o site: tv1. rtp.pt/programas-rtp/index.php?
Você também pode assistir a transposição dessa história ao cinema, vendo o filme ―Ivanhoé‖,
do diretor Ridley Scott. Essa obra é considerada aquela que inaugurou, de fato, a tradição da
escrita de romances históricos. Antes, porém, muitos textos relevantes, especialmente as
epopéias, já misturavam em sua narrativa lírica fatos reais com fatos imaginários.
Vamos discutir sobre epopéias relevantes para a humanidade
Essas são obras como poemas homéricos, que contam a Guerra de Tróia; a Odisséia de
Homero, Os Lusíadas, de Camões, que são exemplos de textos híbridos de história e ficção,
mesmo antes da existência de uma divisão entre as áreas. Isso nos mostra que no passado
remoto não havia separação entre história e literatura e que essa só vai ocorrer em meados do
século XIX.
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Como sugestões de leitura deixam uns trechos da obra ―Os Lusíadas de Camões‖ e indicamos
o acesso ao Resumo da história a ―Guerra de Tróia‖ bem como sugerimos assistir o filme
―Guerra de Tróia‖ dos quais deixamos a indicação das respectivas sinopses:
2.3 vamos ler: os lusíadas
Episódio de Inês de Castro (Canto III, estrofes 118 a 135).
Passada esta tão próspera vitória, Tornado Afonso à Lusitana Terra, A se lograr da paz com tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, O caso triste e Dino da memória, Que do sepulcro os homens desenterra, Aconteceu da mísera e mesquinha Que despois de ser morta foi Rainha. Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa a molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano
Os Lusíadas -asletrasdo9d. wordpress.com
O rei Afonso voltou a Portugal, depois da vitória contra os mouros, esperando obter tanta
glória na paz quanto obtivera na guerra. Então aconteceu o triste e memorável caso da
desventurada que foi rainha depois de ser morta, assassinada.
O Amor, somente ele, foi quem causou a morte de Inês, como se ela fosse uma inimiga.
Dizem que o Amor feroz, cruel, não se satisfaz com as lágrimas, com a tristeza, mas exige,
como um deus severo e despótico, banhar seus altares (―aras‖) em sangue humano: requer
sacrifícios humanos. A palavra ―pérfida‖, na obra, geralmente se refere aos Mouros inimigos.
Nesse verso, parece indicar que Inês foi morta com a mesma crueldade que se usava contra
eles.
Estudo de Os Lusíadas de Camões-fredbar.sites.uol.com.br/camo.html
2.4 Para conhecer a essência da história ―Guerra de Tróia‖ visite o site. http://cronicascorporativas.blogspot.com/2008/02/pequeno-resumo-sobre-guerra-de-tria.html
2.5 Depois de pesquisar no site sugerido, responda as perguntas a seguir.
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O cavalo de tróia – fonte: ime. usp.br
2.6 Para saber mais a respeito de Tróia que tal ver o filme “TRÓIA” A HISTÓRIA, A LENDA E O FILME.
A megaprodução cinematográfica norte-americana de 250 milhões de dólares (extra-oficial), Tróia, em cartaz nos cinemas em todo o país, defenderem de seus inimigos, mas que sucumbiu graças ao rapto da mais bela mulher do mundo, Helena, a obsessão de Agamenon por poder e a persistência do astuto herói grego Ulisses, que pacientemente arquitetou o plano do Cavalo de Tróia, o gigantesco animal de madeira que é traz de volta a lendária história de amor, traição, honra, sangue, guerra, heróis e ruína. Tróia, uma civilização rica e próspera o suficiente para se oferecido como presente aos troianos. Essa conhecida narrativa sobre a Guerra de Tróia é considerada a mais lendária de todos os tempos. Sendo a referida guerra, a primeira da história do ocidente. Graças a Homero, considerado o pai da literatura ocidental, autor das primeiras obras literárias da antiga Grécia, a Ilíada e a Odisséia, temos a oportunidade de conhecer esta fabulosa
lenda que apresenta relatos que podem ser verdadeiros.
Fonte: claudia_irl@yahoo.com- | 11/06/2004- http://warj.med.br/areas.htm
3- Agora vamos observar como se constroem os textos mistos de
história e ficção depois da separação entre história e literatura:
PARA COMEÇAR...
Tudo surgiu com os romances escritos em 1814 e 1819 por Walter Scott. Que romances foram
esses? De que tratava cada um deles? Procure pesquisar isso na internet, juntamente com
alguns dados relevantes sobre o escritor Walter Scott. Observe, agora, no texto abaixo, como
o romancista planejou a sua obra:
Você sabia?
O motivo pelo qual se diz que fulano de tal
tem um ―calcanhar de Aquiles‖?
Você sabe por que se diz que ―é impossível
agradar a gregos e troianos‖?
Você imagina o que seria um ―presente de
grego‖?
E mais: você tem idéia do que isso tem a
ver com o seu trabalho, hoje?
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O esquema básico do romance histórico, criado por Scott em Ivanhoe (1819) – modelo
que acabou por se impor como um novo paradigma para a escrita de romances – obedecia
dois princípios básicos, de acordo com Márquez Rodríguez (1991): O primeiro deles é que a
ação relatada ocorre num passado anterior ao presente do escritor, tendo como pano de fundo
um ambiente histórico rigorosamente construído, onde figuras históricas ajudam a fixar a
época. Sobre este pano de fundo, situa-se uma trama fictícia com personagens e fatos
inventados pelo autor. O contexto histórico do pano de fundo do romance, ou seja, a sua
ambientação espaço-temporal, obedecia a todos os detalhes revelados pela historiografia e as
personagens inventadas, cuja história de amor era o centro da narrativa, harmonizavam-se
perfeitamente com essa época, praticamente impossibilitando uma separação entre as
personagens de extração histórica e as puramente ficcionais.
Uma importante preocupação do romance histórico clássico, ainda de acordo com
Márquez Rodríguez (1991), era conseguir um equilíbrio entre a fantasia e a realidade, onde os
jogos inventivos do escritor, aplicados a dados históricos produzissem composições que
oferecessem aos leitores, ao mesmo tempo a ilusão de realismo e oportunidade de escapar de
uma realidade não satisfatória. Essa modalidade de escrita transformou-se muito durante o
último século e a escrita mista de história e ficção tornou-se uma das formas mais relevantes
de revisão do passado, registrado muitas vezes apenas pelos vencedores, pelos colonizadores
que não incluíam em suas escritas quaisquer visões dos povos submetidos ou colonizados.
4. Agora vamos refletir um pouco sobre como se escreveu a história da América, especialmente a do Brasil! 4.1 PARA DISCUTIR COM A TURMA: PENSE E RESPONDA:
a) Quando foi descoberta da América? E do Brasil?
b) Quem foram os descobridores? A quem eles serviam?
c) Em que gênero textual registrou as suas aventuras?
d) Qual era a finalidade de suas viagens?
e) Você pensa que ele tinha noção de onde estavam?
f) Onde eles queriam chegar?
4.2 PARA QUE VOCÊ SAIBA....
Os registros históricos feitos por Colombo em seu Diário de bordo (1492-1493) e por Pero
Vaz de Caminha em sua Carta (1500) são considerados os textos inaugurais da Literatura
Hispano-americana e Brasileira, respectivamente. Neles se percebe, a princípio, a intenção do
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registro objetivo da realidade, porém, diante de um mundo totalmente novo, os europeus
acabaram valendo-se de uma série de recursos narrativos que contaminaram a objetividade de
seus registros, dando à sua escrita um tom bastante poético, típico dos textos literários. Assim,
as primeiras fases de nossa literatura foram escritas, justamente, pelos europeus que
dominavam o sistema de escrita, ao contrário dos povos nativos que aqui viviam, e, por isso,
podiam registrar sob diferentes formas as suas impressões da terra e das gentes da América,
formando, no imaginário, europeus as primeiras imagens do Novo Mundo. Imagens essa que,
claro, acomodavam-se as perspectivas dos colonizadores.
Agora vamos praticar um pouco!
4.3 Para que conheçamos a origem da Literatura brasileira. Pesquise na
internet e responda as seguintes questões:
1- O que foi a Literatura de Informação?
2 - Quais são os principais acontecimentos do Período Quinhentista?
3- Qual foi à contribuição dos Jesuítas para a História brasileira?
Trabalhando a Literatura Comparada!
4.4 Para leitura apresentamos um trecho da:
CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA AO EL REI D. MANOEL
Senhor,
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um
grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã,
com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra
A Terra de Vera Cruz! Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto
umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças — ancoragem limpa. Ali
ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em
direitura à terra, indo os navios pequenos diante — por dezessete, dezesseis, quinze, catorze,
doze, nove braças — até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca
de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.[...]
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e
suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que
pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento
que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e
uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe
arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas
vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas
brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a
Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala,
por causa do mar.[...].
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LITERATURA BRASILEIRA Textos literários em meio eletrônico A Carta, de Pero
Vaz de Caminha-Edição de base: Carta a El Rei D. Manuel, Dominus, São Paulo, 1963.
Fonte: LiteraturaBrasileira-literatura-edir.blogspot.com
4.5 Compreendendo os textos
1- Lendo os trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha e observando o quadro de
desembarque dos primeiros habitantes, responda: como foram descritas, sob a visão
dos colonizadores, a terra e a gente que nela habitava?
2- Se você fosse Pero Vaz de Caminha como descreveria a terra encontrada?
4.6 Leia agora um trecho do Diário de Colombo. Quinta 11 de outubro de 1492
[...] Navegou para oés-sudeste [...]. E por se a caravela Pinta a mais veloz e ir à frente do
Almirante, achou terra e fez os sinais pedidos pelo Almirante. Quem primeiro enxergou foi
um marinheiro que se dizia chamar Rodrigo de Triana [...].
Às duas horas da madrugada surgiu terra, da qual estariam a apenas duas léguas de distância.
Arriaram todas as e ficaram só com a popa, que é grande sem suplementares, e puseram-se a
capa, contemporizando até a sexta-feira, quando chegaram a uma ilhota dos Lacaios, que em
língua de índios se chamava ―Guanahani‖. Logo apareceu gente nua, e o Almirante saiu rumo
a terra no barco armado [...] O Almirante empunhou a bandeira real [...]. Ao desembarcar
viram árvores muito verdes, muitas águas e frutas de varias espécies. O Almirante chamou os
dois comandantes e demais acompanhantes, e Rodrigo de escovedo, escrivão de toda armada,
e Rodrigo Sánchez de Segovia e pediu que lhe dessem por fé e testemunho como ele, diante
de todos, tomava como de fato tomou, posse da dita ilha em nome de El Rei e da Rainha, seus
soberanos, fazendo os protestos que se requeriam como mais extensamente se descreve nos
testemunhos que ali procederam por escrito. Logo viram-se cercados por vários habitantes da
ilha. O que se segue são palavras textuais do almirante em seu livro sobre a primeira viagem e
descobrimento dessas índias.
―Eu‖ - diz ele – ―porque nos demonstraram grande amizade, pois percebi que eram pessoas
que melhor se entregariam e converteriam a nossa fé pelo amor e não pela força, dei a
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algumas delas uns gorros coloridos e umas miçangas que puseram no pescoço, além de outras
coisas de pouco valor, o que lhe causou grande prazer e ficaram tão nossos amigos que era
uma maravilha. Depois vieram nadando até os barcos dos navios onde estávamos trazendo
papagaios e fio de algodão em novelos e lanças e muitas outras coisas, que trocamos por
coisas que tínhamos conosco, como miçangas e guizos. Enfim, tudo aceitavam e davam do
que tinham com a maior boa vontade. Mas me pareceu que era gente que não possuía
praticamente nada. Andavam nus como a mãe lhes deu a luz; inclusive as mulheres, embora
tenham visto uma robusta rapariga. E todos os que vi eram jovens, nenhum mais de trinta
anos de idade: muito bem feitos, de corpos muito bonitos e cara muito boa; os cabelos
grossos, quase como pelo do rabo de cavalos, e curtos, caem por cima das sobrancelhas,
menos uns fios na nuca que mantêm longos, sem nunca cortar. Eles se pintam de preto, e são
da cor dos canários, nem negros nem brancos, e se pintam à cara, o corpo todo, e alguns
somente os olhos ou o nariz. Não com armas, que nem conhecem, pois lhe mostrei espadas,
que pegaram pelo fio e se cortaram por ignorância. Não tem nenhum ferro; suas lanças são
varas sem ferro, sendo que algumas têm no cabo dente de peixe e outras uma variedade de
coisas. Todos, sem exceção, são de boa estatura, e fazem gesto bonito, elegantes. Vi algumas
marcas de ferida no corpo e, por gestos, perguntei o que era aquilo e eles, da mesma maneira,
demonstraram que ali aparecia gente outras imediações com a intenção de capturá-los e então
se defendiam. E eu achei e acho que aqui vêm procedentes de terra firme para levá-los ao
cativeiro. Devem ser bons serviçais e habilidosos, pois noto que repetem logo o que agente
diz e creio que depressa fariam cristãos; me pareceu que nenhum tinha nenhuma religião. Eu,
comprazendo a Nosso Senhor, levarei daqui, por ocasião de minha partida, seis deles para
Vossas Majestades, para que aprendam a falar. Não vi nesta ilha nenhum animal de espécie
alguma, a não ser papagaios‖ [...].
Diário de bordo de Cristóvão Colombo – Trad: Milton Person. Porto Alegre: Abril, 1999 (p.
44-45).
4.7 Após ter lido dois trechos de textos importantes que compõe a história
da descoberta da América e do Brasil, leia e a seguir responda as questões
abaixo.
A) Com relação ao trecho da Carta de Caminha:
1- O que se pode perceber sobre a visão do europeu com relação ao nativo americano?
2- Qual é a sua impressão sobre a forma dos europeus verem os nativos e a terra encontrada?
3- O que quis dizer Caminha com ―Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas‖?
4- Qual é a intenção de Pero Vaz de Caminha, na sua opinão, ao escrever a carta a El Rei D.
Manoel?
B) Com relação ao trecho do Diário de Colombo:
1- Qual era o principal objetivo de Colombo e sua tripulação?
2- Quais eram as expectativas em relação à descoberta das novas terras?
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3- Como Colombo vê os nativos?
4- Você concorda com essa visão? Por quê?
5- Há semelhanças e diferenças na visão de Colombo e de Caminha com relação à terra
americana e as gentes que foram encontradas? Comente sobre as duas visões expostas.
Para ampliar conhecimentos...
Para mostrar aos alunos outra perspectiva possível do fato histórico do descobrimento da
América se utilizará o recurso do texto cinematográfico com a apresentação de alguns trechos
do filme ―1492 - A Conquista do Paraíso‖. Essa atividade concentrar-se-á na percepção de
semelhanças e diferenças na apresentação do fato histórico do descobrimento da América
existentes entre o relato histórico de Colombo em seu Diário e a releitura cinematográfica do
evento histórico no filme de Ridley Scott.
4.8 TÍTULO DO FILME: 1492 - A CONQUISTA DO PARAÍSO (1492: Conquest of
Paradise, ESP/FRA/ING 1992) DIREÇÃO: Ridley Scott
ELENCO: Gérard Depardieu, Sigourney Weaver, Armand Assante, Ângela Molina, Fernando
Rey, Tcheky Kario, 150 min, Vídeo Arte.
SINOPSE: Você encontra a sinopse desse filme no site abaixo. Vale a pena pesquisar: www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo...tabernadahistoria.blogspot.com
SUGESTÃO: Assistir em sala de aula, para análise comparativa com o trechos textuais
selecionados, a cena da chegada da frota de Colombo à ilha de Guanahani, até o momento em
que Colombo pergunta ao nativo de onde ele tem o pendente de ouro que leva pendurado no
pescoço.
4.9 Professor (a)
Para comentar a cena selecionada veja o texto: ―A descoberta da América: choques culturais –
uma confluência na literatura, história e cinema‖ de BANDEIRA, Toni Juliano (G-UNIOESTE-
Cascavel) e FLECK, Gilmei Francisco (UNIOESTE/Cascavel). Disponível em: http://cac-
php.unioeste.br/eventos/ixseminariolhm/apresentacao.php no link http://cac-
php.unioeste.br/eventos/ixseminariolhm/7.5.pdf
Faça uma discussão com os alunos sobre a importância das imagens como material de leitura
quando se está diante de um texto cinematográfico e aponte alguns dos exemplos mencionados
no texto sugerido.
Vamos trocar experiências, observando o que se compreendeu do filme.
4.10 Após ter assistido as cenas sugeridas do filme “1492” A Conquista do Paraíso.
Responda as seguintes questões sobre a produção.
a) Quais são os personagens principais?
b) Quais foram os pontos relevantes do filme que encontram respaldo no texto do Diário?
c) Que diferenças se pode perceber entre a sequência das cenas do filme e a ordem da
narrativa no Diário? Por que, em sua opinião, o filme optou por uma sequência diferente?
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d) O que mais lhe chamou a atenção sobre a forma como o cinema mostra esse evento
histórico?
e) A quem foi atribuída o mérito da descoberta da América?
f) Que representam as bandeiras que aparecem nas cenas selecionadas? Hoje, que
significado tem as bandeiras?
g) Que relação se pode estabelecer entre a serpente que espia a entrada dos europeus na
floresta e o título do filme?
h) Qual a intenção do autor na produção desse filme?
5. Agora vamos pesquisar!
A) fim de conscientizar os educandos das diferentes linguagens sob as quais um fato do
passado pode ser representado solicitar-se-á que eles acessem a internet e leia o texto ―A
descoberta da América: choques culturais – uma confluência na literatura, história e cinema‖
(2009), de Toni Juliano Bandeira e Gilmei Francisco Fleck, disponível no site do IX
Seminário Nacional de Literatura, História e Memória – a literatura no cinema (http: //cac-
php. Unioeste. Br/eventos/ixseminariolhm/7.5.pdf).
B) Ao longo dessa leitura os alunos deverão anotar o significado de várias ―metáforas
imagéticas‖, que se discutem no texto, utilizadas no trecho visto do filme de Ridley Scott, a
fim de estabelecer intertextualidades e ampliar o horizonte de leitura do evento histórico do
descobrimento da América com relações de causa e consequência estabelecidas, muitas vezes,
apenas por imagens, já que estas são os materiais primordiais da linguagem cinematográfica.
(C) Em seguida, far-se-á um momento de discussão sobre o texto lido e os apontamentos
feitos para ir delineando as semelhanças e diferenças entre os textos apresentados sobre o
descobrimento da América. Tal ação auxilia na construção do conhecimento de que o registro
de um evento histórico dá-se de forma condicionada à situação sócio-histórica do sujeito que
efetua o registro e este está sempre vinculado ao uso da linguagem, seja ela a escrita, oral ou
imagética.
Leituras propostas
Prosseguindo na sequência de leituras propostas, apresentar-se-á aos alunos um trecho do
romance O outono do Patriarca (1975), do escritor hispano-americano Gabriel García
Márquez no qual se relata a cena do descobrimento da América. Esta leitura será focalizada
na percepção da perspectiva sob a qual tal fato é ficcionalizado: uma visão múltipla a partir
das experiências vivenciadas pelos nativos americanos que se encontraram com o contingente
da frota de Colombo na praia de Guanahaní, em 12 de outubro de 1492.
O Outono do Patriarca de Gabriel García Márquez.
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Gabriel García Márquez nasceu em 6 de novembro de 1928 em Arataca,
cidade litorânea da Colômbia. Estudou direito, porém, logo se apaixonou
pelo jornalismo, que o marcaria profundamente a optar pela carreira de
escritor. Gabriel fora um militante apaixonado das esquerdas latino-
americanas, viveu muitos anos fora de seu país, foi um dos grandes
defensores do regime de Fidel Castro, fez severas críticas aos norte-
americanos e quase chegou a realizar uma greve contra o ditador chileno
Pinochet, ameaçando parar de escrever. Em 1982, Gabriel foi agraciado pelo
Prêmio Nobel de Literatura quinze anos após de ter escrito seu maior sucesso
―Cem Anos de Solidão‖, que foi traduzido em 35 idiomas e estima-se ter
vendido cerca de 30 milhões de exemplares
fonte: devassadahistoria. blogspot.com/.../critica-de-marx-concepcao-idealista-
da.html
6. Agora vamos ler um trecho do romance:
O OUTONO DO PATRIARCA
[...] e contemplando as ilhas evocou outra vez e viveu de novo a histórica sexta-feira de
outubro em que saiu de quarto, ao amanhecer e viu todo mundo no palácio tinha posto boné
vermelho, que as novas concubinas varriam os salões e mudavam as águas das gaiolas com
bonés vermelhos, que os que ordenhem nos estábulos, as sentinelas nos seus postos, os
paralíticos nas escadas e os leprosos nas roseiras passeavam de bonés vermelhos de domingo
de carnaval, de modo que se pôs a averiguar o que havia acontecido no mundo enquanto ele
dormia para que o pessoal de sua casa e os habitantes da cidade andassem exibindo bonés
vermelhos e arrastando por toda a parte uma enfiada de cascavéis, e afinal encontrou quem
lhe contasse a verdade meu general, que haviam chegados uns forasteiros que tagarelavam
língua ladina, pois não diziam o mar a mar e chamavam papagaios às araras, canoa ao caíque
e lança aos arpões, e que havendo visto que saímos para recebê-los nadando a volta de suas
embarcações encarapitavam-se nos paus das mastreações e gritavam uns com os outros que
olhai que muito bem feito [...] E nós não entendíamos por porra nos faziam tanta gozação meu
general se estávamos tão naturais como nossas mães nos pariram em vez disso eles estavam
vestidos como damas de paus apesar do calor [...] e gritavam que não entendíamos na língua
de cristãos quando era eles os que não entendiam [...] e trocavam tudo o que tínhamos por
estes bonés vermelhos e estas enfiadas de pepitas de vidros que pendurávamos no pescoço
para agradá-los e também por estas soalhas de latão das que valem um maravedi e por
caixinhas de espelhinhos e outras miudezas de flandres, das mais baratas meu general e como
vimos que eram bons servidores e de bom engenho nós o fomos levando até a praia sem que
se apercebessem, mas a merda foi entre o meu troque isto por aquilo e lhe troco isto por outro
formou-se um cambalacho de lá geram pauta e ao fim de pouco tempo todo mundo estava
cambalachando seus papagaios, seu Fumo, suas bolas de chocolate, seus ovos de iguana,
quando Deus criou, pois tudo tomavam e davam que tinham boa vontade e até queriam trocar
um de nós por um gibão de veludo para nos mostrar na Europa, imagine o senhor meu
General, que tumulto, mas ele estava tão confuso que não conseguiu compreender se aquele
assunto de lunáticos era de competência do seu governo.
(GARCÍA MARQUEZ, 1997, p. 48 - 49).
6.1 Para entender o processo de produção do texto:
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Ao escrever esse texto, Gabriel Garcia Márquez valeu-se de alguns recursos escriturais bem
contemporâneos como à paródia, a carnavalização, a polifonia, a dialogia e a
intertextualidade. Para que você entenda melhor a importância desses recursos e mesmo como
eles se constituem, vamos, agora, ler um pouco de teoria, certo.
Os recursos escriturais da Paródia e da carnavalização.
Em seu livro, hoje clássico, e já traduzido para o português, "Problemas da Poética de
Dostoievski", Mikhail Bakhtin lançou as bases da teoria crítica da carnavalização. Esta forma
crítica de pesquisa veio dizer-nos que há textos literários que foram elaborados sob o signo da
carnavalização. Esses textos mostram a cultura de um povo em seus efeitos cômicos e
paródicos proporcionados pelo inconsciente social manifestados nos rituais de máscaras, no
riso, na busca do grotesco, nas festas, nas orgias, no carnaval, nos rituais religiosos. A
carnavalização, segundo Bakhtin, pode ser um desvio e também uma inversão dos costumes
consagrados, como fez a geração hippie, que sobrepôs o sacro e o profano, o velho e o novo,
sem atender a certas normas de interdição social. A carnavalização é de alguma maneira o
mundo às avessas e pode ter a leitura de uma parodização.
O conceito de paródia vai além do conceito de variante da intertextualidade pela qual
Foi e ainda é bastante conhecida. Entendida como um efeito de deslocamento que traz em si a
Deformação, a paródia é segundo Sant Anna:
Uma descontinuidade. [...] Falar de paródia é falar da intertextualidade das
diferenças, [...] de seu caráter contestador. [...] A paródia faz o jogo do demoníaco
[...] é uma disputa aberta do sentido, uma luta, um choque de interpretação. Ainda
segundo Sant Anna a paródia pode ser comparada a uma lente que: Exagera os
detalhes de tal modo que pode converter uma parte do elemento focado num
elemento dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na charge e
na caricatura. (SANT ANNA, 1985, p. 32).
Em seu livro, hoje clássico, e já traduzido para o português, Problemas da Poética de
Dostoievski (1997), Mikhail Bakhtin lançou as bases da teoria crítica da carnavalização. Esta
forma crítica de pesquisa veio dizer-nos que há textos literários que foram elaborados sob o
signo da carnavalização. Esses textos mostram a cultura de um povo em seus efeitos cômicos
e paródicos proporcionados pelo inconsciente social manifestados nos rituais de máscaras, no
riso, na busca do grotesco, nas festas, nas orgias, no carnaval, nos rituais religiosos. A
carnavalização, segundo Bakhtin, pode ser um desvio e também uma inversão dos costumes
consagrados, como fez a geração hippie, que sobrepôs o sacro e o profano, o velho e o novo,
sem atender a certas normas de interdição social. A carnavalização é de alguma maneira o
mundo às avessas e pode ter a leitura de uma parodização. (BAKHTIN, 1997)
Quando à polifonia.... Segundo Tezza (2002), na definição que explica a origem da palavra polifonia, ela foi
emprestada da Arte Musical e é entendida como ―o efeito obtido pela sobreposição de várias
linhas melódicas‖. Independentes, mas harmonicamente relacionadas. ―Bakhtin emprega-a ao
analisar a obra de Dostoievski, considerada por ele como um novo gênero romanesco – o
romance polifônico‖ (TEZZA, 2002, p. 90). Revela-se, dessa forma, que o discurso é
perpassado por outros discursos compondo as várias linhas melódicas que repercutirão de
maneira a serem ouvidas particularmente.
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6.2 Compreendendo o texto
1- Ao ler o texto qual foi a sua primeira impressão em relação ao ambiente descrito pelo
autor?
2- O título do texto chama-se ―O outono do Patriarca‖. Em sua opinião houve uma razão
especial do autor ao escolher este título?
3- A obra em sua íntegra narra à absurda história do patriarca e conta que ele viveu em torno
107 a 232 anos. O tempo que o autor usou de vida do patriarca lembra alguns fatos da
política contemporânea? Quais?
4- Fazendo um estudo comparativo da história através da ficção. Que fatos do descobrimento
permaneceram na versão ficcional e quais fatos mudaram? Que efeito isso tem?
5- O texto nos mostra o encontro dos nativos com os colonizadores. De que forma isto
aconteceu?
6- Os fatos iniciais da história evidenciam que desde o inicio da colonização, havia muitas
desigualdades e pouco caso com os nativos, sempre substimando-os. Acredita que na
atualidade isto já esteja resolvido? Justifique?
7- De que forma os fatos que marcaram a nossa história poderiam ser descontruídos?
8- No decorrer do texto evidencia-se muito o vocativo ―Meu General‖ Qual é o objetivo do
autor em ressaltá-lo?
9- O discurso historiográfico sempre privilegiou a visão dos colonizadores e suas visões
foram registradas como verdades. No texto acima o autor usou algumas marcas paródicas
para evidenciar estes fatos. Destaque-os e argumente de que forma outras perspectivas
poderiam ser registradas?
10- Leia o texto ―Outono do Patriarca‖ e faça uma resenha crítica.
Trabalhando com um novo texto
Para refletir!
Como vimos a Carta enviada ao Rei D. Manoel relatou os fatos vistos na visão dos
colonizadores, ou seja, pelos interesses da corte. Na obra que sugerimos para leitura a seguir o
autor usa da paródia para estabelecer uma relação com a história de uma forma bem
humorada, mas desconstruindo as verdades históricas. Tais procedimentos darão a
possibilidade aos educandos de enfrentar-se com a leitura de uma outra versão do
descobrimento do Brasil.
O que sabe sobre O escritor José Roberto Torero?
José Roberto Torero Fernandes Júnior nasceu em Santos, em 1963, e formou-se em Letras e Jornalismo pela Universidade de São Paulo - USP. Iniciou, sem terminar, cursos de pós-graduação em Cinema e Roteiro. ―Sua carreira de cronista Papagalli‖, entre outros. Como cineasta, dirigiu e escreveu curtas-começou no ―Jornal da Tarde‖, de São Paulo, e posteriormente passou a escrever textos sobre futebol para a revista ―Placar‖ e o jornal ―Folha de S. Paulo‖, com a qual colabora desde 1998. É autor do best-seller ―O Chalaça‖, Prêmio Jabuti em 1995, e de ―Terra metragens — dentre os quais se destaca o premiado ―Amor‖! - e trabalhou como roteirista nos longas ―A Felicidade É‖ e ―Pequeno Dicionário Amoroso‖. É sócio proprietário do Realejo Livros, em Santos (SP).
Fonte: Extraído do jornal "Folha de São Paulo" em 27.07.2010,
onde o autor colabora.
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TERRA PAPAGALLI OU PRIMEIRO REI DO BRASIL - ROMANCE ESCRITO EM CO-
AUTORIA POR JOSÉ ROBERTO TORRERO E MARCUS AURELIUS PIMENTA
7. Vamos à leitura de um trecho da obra “Terra Papagalli ou História do Primeiro
Rei do Brasil” A escrito em co-autoria por José Roberto Torero e Marcus Aurélius Pimenta
(2000). Desse texto será feita uma leitura coletiva e posteriormente a compreensão do texto
por meio de perguntas, inicialmente orais e, a seguir, também escritas.
7.1 VAMOS LER A VERSÃO ROMANESCA QUE DESCREVE A CHEGADA DOS
PROTUGUESES AOS BRASIL:
[...] Em que o paraíso deixa de se-lo [...] Senhor, penso que há certos dias que Deus
aborrecido por ver as coisas sempre semelhantes e sem atribulações e escolhe os um
pecadores e embararaça-lhes os fios do destino só para divertir-se e comentar com S.Pedro,
acho que este enfastia está por detrás do dilúvio, do incêndio de Roma, da invasão dos Turcos,
dos terremotos e das navegações que ora se fazem no mundo. [...] começo por dizer que
chegou no paraíso um galeão tinha com muita pompa trocando trombeta alçando bandeiras e
dando tiros [...] era um fidalgo, braços compridos, barba rala, e pelado na cabeça tipo
tamerlão. [...] depois quis andar um pedaço de praia, e saber de nossas mulheres e riquezas da
comida dos gentios e de muitas outras coisas. [...]. A primeira coisa que fiz foi tratar Gonzalo
Valdivia como se fosse um rei de Ormuz. Dei-lhe papagaios mandei colher para ele, o melhor
fruto da terra, tratou os doentes e ordenei que meus homens fossem ajudas seus marinheiros a
consertar a vela. [...]. Porém, Senhor, o que fiz de mais importante para ressuscitar o meu
porto, não foi nenhuma reforma ou construção, mas inventar uns presentes e umas prendas
para atiçar o apetite dos mercadores, porque há um segredo no comercio é saber fazer com
que o comprador pense que está tendo vantagens e recebendo mais do que aquilo que pagou.
Eis como fazia: levando três Tapuias o comprador levava três arcos e doze flechas e por cinco
Tupinambás ganhava um macaco, por dois pariris, quatro medidas de cauim. [...]. Quando
tornei-me uma viúva rica, resolvi viver castamente em orações, até que um mês depois numa
viagem a Lisboa fui apresentada a Lopo de pina, não sei se sabia que eu era rica, mas não
largou mais de mim e deu-me muitos presentes e por fim pediu-me em casamento. Queria que
O livro é divertidíssimo e, ao mesmo tempo, profundo e esclarecedor daqueles primeiros momentos da invenção do Brasil. Retrata bem aquelas primeiras causas que motivaram as atuais consequências através da vida cheia de lacunas do personagem histórico de Cosme Fernandes. Lacunas suficientes para caber a ficção de Torero e Pimenta. Narrado em primeira pessoa, Fernandes conta a um conde suas aventuras e arrola os mandamentos para bem viver no Brasil, então Terra Papagalli ou Terra dos Papagaios. Serve pra o país daquela época ou desta ou, a meu ver, para qualquer grupamento humano mais ou menos organizado ou mais ou menos desorganizado. Fonte: www.objetiva..br/livro_ficha. Php? Id=629.com
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eu o acompanhasse numa viagem ao Brasil que chamava pelo nome antigo de Terra dos
Papagaios e disse que o El rei havia o nomeado para um alto posto. Como estava triste e
sozinha resolvi aceitar. Quando cheguei aqui pensei que encontraria paz e conforto, mas o que
encontrei foi guerra e mosquitos. Agora não sei mais o que será de mim. Eis a minha história.
Agora conte-me a tua. Não sei se vos acontece isso contigo Senhor, mas tenho uma
incapacidade natural de contar minha própria vida, assim numa Cosme Fernandes o Bacharel
em Cananéia tem muitas experiências a contar em terras brasileiras.
(TORRE, J. R.; PIMENTA, M. A. Terra Papagalli ou Primeiro Rei do Brasil 2000,
pg.145.147.153.187.188.).
7.2 Agora que você conhece algo sobre a história e também alguns trechos da Carta de Caminha. Vamos fazer as devidas comparaçoes e diferenças.
a) Pela visão dos colonizadores que documentaram os fatos fez-se com que
acreditássemos nas suas versões como se fossem verdades únicas. É possível que
existam outras verdades? Justifque.
b) O autor descontruiu verdades pelo uso do recurso da paródia. Para você foi
interessante conhecer a nossa história de uma forma descontraída? Comente o seu
parecer sobre a obra.
c) Pesquise na internet ―Os Dez mandamentos para se viver bem na Terra dos Papagaios‖
e escolha dois. Depois de escolhidos os ―mandamentos‖, faça uma relação com a
forma de viver dos brasileiros na atualidade. E, se possível, dê um exemplo. Veja o
site: livroseafins.com/os-10-mandamentos-da-terra-dos-papagaios/
AGORA É A SUA VEZ .
7.3 Compare o personagem Cosme Fernandes da obra Terra Papagalli com o
Patriarca da obra O Outono do patriarca. O que os idenfica? E o que os
diferencia?
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
8. EXPRESSÃO ARTÍSTISCA
Sugerimos aqui que os alunos, em grupo, busquem representar a cena do
descobrimento da América pela visão exposta no romance de García Márquez. Outro grupo
poderia encenar a chegada dos portugueses ao Brasil pela visão da obra Terra Papagalli.
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9. VAMOS BRINCAR UM POUCO
Que tal dramatizar as situações apresentadas na criação das paródias e rir um pouco
das histórias engraçadas contadas pelos colegas?
10. Discussão oral
Feitas às devidas considerações sobre os textos literários e teóricos lidos, volta-
se para o Diário de Colombo, ao fragmento de O outono do Patriarca, o filme de
Ridley Scott, a Carta de Pero Vaz de Caminha e o trecho de Terra Papagalli para
fazer a síntese das comparações e contradições da temática do descobrimento da
América (incluindo o Brasil) explicitadas nos diferentes textos e discutidas nas
atividades, com ênfase nas diferentes visões a partir das quais o evento é narrado,
numa sessão de discussão oral com toda a turma.
11. Revendo conceitos culturais?
Sabe-se que desde a descoberta do Brasil até os dias atuais, perduram-se vícios e
submissões. A história continua e na terra dos papagaios tudo é possível. O
famoso jeitinho brasileiro de ser.
Qual a condição do homem brasileiro retratado nos textos apresentados?
Qual a condição do homem brasileiro nos dias atuais? E quais mudanças poderiam
acontecer?
12. A PRODUÇÃO ESCRITA É COM VOCÊ
Que tal escolher um evento histórico por meio de pesquisa na internet ou mesmo
alguns trechos da Carta de pero Vaz de Caminha, ou sobre a História da
Independência do Brasil entre outras e, a partir da visão oficial, e reescrever alguns
dos fragmentos ou algum episódio do assunto escolhido, utilizando-se da paródia e a
carnavalização, adotando, assim, um outro ponto de vista para ironizar as ações dos
colonizadores e/ou autores.
13. PARA CONCLUSÃO
Para a conclusão, será retomado o objetivo deste trabalho que é demonstrar nos textos
ficcionais contemporâneas outras versões da história, ou seja, discutir novamente com os
alunos que aquilo que está registrado nos documentos oficiais é uma construção discursiva,
produzida numa determinada época, por alguém em condições sociais, históricos, financeiras
etc., específicas e que isso não significa que sejam as únicas interpretações possíveis desse
passado. Esse mesmo passado pode adquirir outros sentidos se analisado de outras
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perspectivas (como no caso do descobrimento da América (e do Brasil) pela visão dos
nativos). Nesse sentido, cabe, pois o entendimento de que as verdades nunca são únicas, nem
mesmo em se tratando da história. A literatura, nesse sentido, não quer competir com a
história, mas apenas mostrar que discursos são possíveis de construir, assim como múltiplas
verdades sobre o passado poderiam existir se os registros não tivessem sido feitos apenas pela
parcela vencedora e dominadora. Esse é o grande efeito das releituras da história pela ficção.
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