Post on 16-Dec-2018
Desafios socioeconômicos e ambientais para a promoção do desenvolvimento endógeno:
O caso das comunidades tradicionais localizadas em torno da área de manejo da
Precious Wood Amazon (PWA)
Débora Ramos Santiago1
Maria Daniele Teixeira2
O desenvolvimento endógeno costuma apresentar uma abordagem mais profunda dos aspectos
locacionais, considerando fundamentalmente as potencialidades locais, o conhecimento e a
força de trabalho, como fomento para articular toda a atividade produtiva de uma comunidade
tradicional. No caso das comunidades localizadas em torno da área de manejo da empresa
Precious Wood Amazon (PWA), o seu desenvolvimento endógeno está condicionado à
dinâmica dessa empresa, a qual opera de maneira certificada, buscando alternativas para mitigar
os impactos causados e assim compensar os comunitários afetados pela sua atividade de manejo
florestal. O objetivo deste estudo é compreender os desafios socioeconômicos e ambientais para
a promoção do desenvolvimento endógeno destas comunidades tradicionais localizadas em
torno da área de manejo da PWA, buscando identificar a relação da empresa na promoção desse
desenvolvimento. Os dados utilizados neste artigo são resultantes do Levantamento
socioeconômico e ambiental realizado nessas comunidades nos meses de agos/dez de 2012.
Observou-se neste estudo, precárias condições de habitação, saneamento, educação, emprego e
renda nessas comunidades analisadas. Além disso, estas apresentaram características
ecossistêmicas diferenciadas, o que modifica toda a sua dinâmica produtiva, necessitando-se de
políticas públicas diferenciadas, que considerem as especificidades socioambientais de cada
uma delas. A agricultura familiar mostrou-se importante fonte de renda nessas áreas, mas
necessita de investimento e auxílio técnico para o seu maior desenvolvimento. A presença da
PWA revelou ser de grande importância na promoção do desenvolvimento endógeno dessas
comunidades, de modo que, embora tenha se identificado impactos negativos causados por suas
atividades, observou-se importantes ações sustentáveis da empresa, visando mitigar tais
impactos e melhorar a qualidade de vida dos comunitários. Muitos são os desafios
socioeconômicos e ambientais nessas comunidades, estudos dessa natureza são essenciais pois
fornecem subsídios para a formulação de políticas públicas que venham promover o
desenvolvimento endógeno dessas áreas isoladas do interior do Amazonas.
Palavras-chave: Desenvolvimento endógeno, comunidades tradicionais, desafios
socioeconômicos e ambientais.
Introdução
O desenvolvimento endógeno tem sido alvo de muitas discussões entre diversos
autores, devido a sua abordagem mais profunda sobre os aspectos locacionais, uma vez que este
é construído essencialmente sobre os recursos disponíveis, tais como as potencialidades
ambientais locais, a força de trabalho, o conhecimentos e os modelos locais para articular
produção e consumo, entre outros fatores (LONG E PLOEG, 1994).
1 Doutoranda em Economia na Universidade de Brasília. Economia agrícola. Bolsista FAPEAM. 2 Doutoranda em Economia na Universidade de Brasília. Economia agrícola. Bolsista CNPQ.
Desde o final da década de 80 tem sido observado entre os países um movimento de
endogeneização, tanto das decisões relacionadas ao seu destino, quanto ao uso dos meios e
recursos utilizados no seu processo econômico.
Esse fenômeno ocorreu simultaneamente ao movimento de articulação das empresas
(alianças, fusões) e entre as nações (abertura comercial, aumento do volume e circulação
mundial do capital, etc), de modo que a organização territorial deixou de ter um papel passivo
para ter um papel ativo diante da organização industrial (FILHO, 2001)
Barquero (2001) enfatiza que esta década de 1980 marcou o surgimento do paradigma
do desenvolvimento endógeno, devido a necessidade de se encontrar uma noção de
desenvolvimento que levasse em conta os efeitos da atuação pública na evolução das
localidades e regiões atrasadas.
Essa forma endógena de desenvolvimento, não tem sentido autocentrado em uma região
ou local, mas seus fatores propulsores podem ser entendidos por meio da endogenização da
poupança, do excedente, do acúmulo do conhecimento, das inovações, chegando a repercutir
também no crescimento da produtividade dos fatores (FILHO, 1996). Tendo significativa
influencia em toda dinâmica econômica de uma nação.
O desenvolvimento endógeno pode dar uma nova dinâmica aos recursos locais que
poderiam ter se tornado supérfluos (Guzmán, et al, 2000), podendo ter um impacto positivo
sobre as perspectivas locais, mas para que isso ocorra, depende de uma série de fatores, tais
como os vínculos entre a localidade, o mercado e as políticas locais (PLOEG E
SACCOMANDI, 1995).
Desse modo, nos casos de comunidades tradicionais que se localizam em áreas vendidas
pelo Estado para grandes empresas exercerem suas atividades produtivas, todas a dinâmica
produtiva local modifica-se, ou seja, essas comunidades ficam geralmente sujeitas a uma série
de limitações devido a sua condição locacional, de modo que o desenvolvimento de suas
atividades produtivas ficam condicionadas às ações da empresa.
Esse fenômeno da venda de terras pelo governo à empresas privadas é definido
juridicamente como “Regime de Manejo Florestal Sustentável”, regulado pela Lei No 4.771 de
1965, a qual determina que a exploração de florestas tanto de domínio público quanto privado
dependerá da prévia aprovação do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFD) pelo órgão
competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Esse Plano contém diretrizes
e procedimentos para a administração da floresta, visando a obtenção de benefícios econômicos,
sociais e ambientais. Sendo este regime o que predomina no Brasil. 3
No caso do Amazonas a Precious Woods Amazon (PWA), objeto desse estudo, esta teve
sua área de abrangência comprada do Estado, com o objetivo de desenvolver as suas atividades
de manejo florestal sustentável. A PWA apresenta-se como uma ferramenta importante para a
promoção do desenvolvimento local e realiza desde 1994, atividades de manejo florestal com
baixo impacto ambiental4, sendo ela a primeira a receber o selo Forest Stewardship Council
(FSC), na Amazônia, através de rigorosos padrões aplicados pelo Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA)5.
Obter essa certificação significa que o manejo da empresa é ambientalmente correto,
que ela possui uma relação justa entre os funcionários e com as comunidades que vivem ao
longo da sua área de influência e que ela é economicamente viável. Entretanto, mesmo com
todo esse compromisso social e garantia de um manejo economicamente correto e socialmente
viável, apresentados por essas empresas certificadas, a existência de conflitos entre a empresa
e os comunitários é um fenômeno comum em todo o país.
Arruda (2011) destaca que a existência desses empreendimentos no interior da
Amazônia afetam toda a estrutura produtiva das comunidades tradicionais. Por isso a existência
de uma série de conflitos entre esses agentes. As empresas devem buscar portanto alternativas
para mitigar esses impactos e compensar esses grupos populacionais afetados, tanto direta como
indiretamente, pelas suas atividades.
Estudos dessa natureza são de grande importância, pois fornecem subsídios para a
formulação de políticas socioeconômicas que venham identificar as reais demandas
socioeconômicas dessas populações, assim como a realidade dessa relação empresa e
comunitários, contribuindo assim para o desenvolvimento endógeno dessas áreas isoladas
3 A política de concessão de terras é relativamente recente, originando-se somente em 2006, ano em que o governo
passou a conceder as empresas e as comunidades o direito de manejar florestas públicas para extrair madeira,
produtos não madeireiros e também oferecer serviços de turismo. Mas em contrapartida, os concessionários deveriam pagar ao governo quantias que variam em função da proposta apresentada durante o processo de licitação.
4 As atividades de manejo florestal são realizadas em um sistema policíclico, Celos, cuja colheita florestal é de
baixo impacto, com base na regeneração natural da floresta, garantindo co lheitas futuras, feita em períodos em
Unidades de Produção Anual – UPA. A empresa só voltará a colher a madeira na UPA 35 anos após a exploração 5 O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) representa uma das instituições do FSC no
Brasil e realiza anualmente a auditoria de certificação e de monitoramento. Obter este certificado FSC, também
chamado de “Selo Verde”, é fundamental para qualquer empreendimento de Manejo Florestal que busca trabalhar
corretamente, considerando os critérios ecológicos, sociais e econômicos para o desenvolvimento de suas
atividades.
Amazônicas. O objetivo deste estudo é compreender os desafios socioeconômicos e ambientais
para a promoção do desenvolvimento endógeno destas comunidades tradicionais localizadas
em torno da área de manejo da PWA, buscando identificar a sua relação, como empresa
certificada, na promoção desse desenvolvimento
Métodos e técnicas
Os dados utilizados neste artigo são resultantes da Pesquisa sobre o Levantamento
socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA,
realizada nos meses de agosto a dezembro de 2012, através de uma parceria entre a
Universidade do Estado do Amazonas e a empresa.
Ao todo foram investigadas na pesquisa, nove comunidades tradicionais, localizadas no
município de Silves/AM, ao longo do rio Anebá e estrada AM 363, e no município de
Itacoatiara/AM, ao longo do Rio Carú e estrada AM 010 (Figura 1).
Figura 1 – Comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA.
Fonte: Departamento Socioambiental da PWA, 2012.
As informações levantadas foram obtidas por meio da aplicação de questionários
domiciliares e individuais cujos quesitos abordaram tanto as características socioeconômicas
das famílias, quanto às questões socioambientais que dizem respeito às atividades que elas
realizam em seus lotes, assim como os impactos causados por essas atividades, antes e depois
do início da prática do manejo da PWA.
Entretanto neste trabalho só foram analisadas sete das nove comunidades citadas na
Figura 1, pois não conseguiu-se obter na pesquisa uma amostra representativa das Comunidades
Santana do Anebá e São Sebastião, as quais apresentavam-se praticamente abandonas, devido
à forte estiagem que enfrentavam nesta época6. Desse modo, foram analisados neste estudo 223
domicílios, abrangendo 261 famílias e 946 comunitários residentes nessas áreas.
2. Considerações teóricas sobre a importância do desenvolvimento endógeno nas
comunidades tradicionais.
Conforme foi visto anteriormente, a teoria do desenvolvimento endógeno surgiu devido
a necessidade de se considerar o potencial local, no que diz respeito aos recursos econômicos,
humanos, culturais e institucionais, existentes nos territórios, dando uma nova dinâmica a
estrutura produtiva das localidades em geral.
Dentro desta perspectiva, Oliveira e Lima (2003) destacam que as teorias tradicionais,
valorizavam a soberania de uma força exógena na promoção do desenvolvimento, realizando
assim um paradigma “centro-abaixo”, em que as comunidades locais não tinham nada a ensinar,
mas deviam aprender com os civilizados, excluíam portanto os setores fundamentais da
sociedade local e valorizavam prioritariamente os aspectos externos.
Assim pode-se dizer que a teoria do desenvolvimento endógeno originou-se da
incapacidade das teorias tradicionais de desenvolvimento em promoverem uma teoria que
considerasse as amplas áreas rurais, onde se localizam inúmeras populações tradicionais
(BORBA et. al., 2007). Uma vez que as mesmas apresentam modelos próprios de
desenvolvimento que não devem ser desconsiderados.
A teoria de desenvolvimento endógeno vem dar portanto, uma maior atenção a dinâmica
local, baseando-se principalmente, mas não exclusivamente nos recursos locais disponíveis,
com ênfase nas potencialidades e habilidades humanas das sociedades locais (STHOR E
TAYLOR, 1981).
Esses conceitos evidenciam a importância do desenvolvimento endógeno nas
comunidades tradicionais, ao valorizar o potencial existente no próprio território, possibilitando
novas estratégias de desenvolvimento locais com o intuito de aumentar o bem-estar das
comunidades e gerar externalidades positivas para toda a região.
Para Braga (2002) este tipo de desenvolvimento ocorre de baixo para cima, deixando
todo o controle dos processos econômicos nas mãos dos agentes locais, de modo a obter a
integração do social e econômica, pois o sentimento de se pertencer a uma determinada
comunidade é maior do que as diferenças que as compõem.
6 Essa forte estiagem fez os comunitários residentes nessas comunidades citadas, deslocarem-se com suas famílias para as cidades
mais próximas, com o intuito de fugir da precária situação causada por esse fenômeno natural. Esse fato foi revelado pelos po ucos
Comunitários que ainda encontravam-se nessas comunidades. Esse fenômeno de estiagem, fez com que o rio Anebá secasse
bastante, tornando áreas totalmente isoladas, já que as mesmas só são acessíveis por meio desse rio.
Desse modo, todas as decisões tomadas teriam como interesse o local comum,
resultando em uma dinâmica entre crescimento econômico e distribuição de riqueza. Esse
fenômeno não significa dizer que o aspecto externo é ignorado, pelo contrário, este é apenas
centralizado, considerando os objetivos específicos das comunidades locais, suas
potencialidades e visando satisfazer as demandas comunitárias existentes (BORBA et. al.,
2002).
Para Barquero (2002) deve haver uma combinação dos fatores externos e internos para
a promoção do desenvolvimento endógeno, a acumulação de capital e as inovações tecnológicas
não devem ser excluídas nesse processo, além disso, o apoio político é fundamental, uma vez
que estes dispõem tradicionalmente de recursos financeiros decisivos na articulação da política
de desenvolvimento local.
Neste contexto, destaca-se que a presença de grandes empresas nacionais e
internacionais nas comunidades podem sim desempenhar importante papel no processo de
desenvolvimento endógeno das comunidades, sempre que suas estratégias possam convergir
com aquelas definidas no âmbito local (BARQUERO, 2002).
Esse fenômeno em que o externo se incorpora ao endógeno, ocorre quando há respeito
entre a identidade local e a auto definição do que é qualidade de vida para os comunitários
(GUZMAM, 2002).
Neste paradigma, em que se consideram as particularidades locais, os seus diferentes
ecossistemas naturais, a força de trabalho, a cultura, entre outros importantes aspectos, é
possível fazer do desenvolvimento endógeno uma importante ferramenta para a promoção de
novas alternativas produtivas que contribuam decisivamente para a sustentabilidade ambiental.
Além disso, esse modelo de desenvolvimento possibilita a redução dos desequilíbrios
regionais e das desigualdades de renda, aumentando assim a justiça social e por fim reduzindo
as limitações das comunidades tradicionais frente as demais localidades mais desenvolvidas.
3. Resultados e análises
3.1 Caracterização geral das comunidades
Conforme foi abordado anteriormente, as Comunidades analisadas neste estudo
localizam-se nos município de Silves e Itacoatiara no estado do Amazonas, em torno da área de
manejo da PWA e apresentam características ambientais diferenciadas.
Observou-se que as comunidade de N.S Aparecida, São João Batista, Sagrado coração
de Jesus e São Geraldo localizam-se em áreas com ecossistemas de terra firme7, ao longo das
estradas AM 363 e AM 010. Enquanto que as de N.S Livramento, S. J. Carú e Novo Paraíso
concentram-se em áreas de várzea8, ao longo dos Rios Anebá e Carú (Figura 2).
Tais diversidades interespaciais relacionadas aos seus ecossistemas naturais revelam a
heterogeneidade dessas comunidades, sendo que este fenômeno não pode e nem deve ser
ignorado, as políticas públicas propostas pelas autoridades competentes, devem considerar tais
diversidades vitais na promoção do desenvolvimento endógeno das comunidades.
Figura 2 – Localização das comunidades: Ex. de Ecossistemas de várzea e terra firme.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Outro aspecto verificado quanto a localização das comunidades é a proximidade
geográfica que elas têm com as áreas de manejo da PWA, sendo que a maior parte delas
localizam-se tanto parcialmente (38%), quanto totalmente dentro (27%) das áreas da empresa
ou são limitantes com as mesmas (23%), o que revela a forte relação entre elas, de modo que
apenas 11% dos entrevistados declarou que suas terras estão totalmente fora das áreas da PWA.
Nos parágrafos posteriores serão analisadas as características socioeconômicas e
ambientais dessas comunidades, possibilitando assim verificar as desigualdades espaciais entre
elas, as suas potencialidades e a relação da PWA na promoção do seu desenvolvimento
endógeno.
Condições de habitação
Observou-se nas comunidades em estudo, características semelhantes quanto a condição
de habitação. A maioria dos entrevistados declarou morar em casas (94%), construídas por
paredes de madeira rústica do tipo tábua (81%), piso de madeira (68%) e com cobertura de telha
7 Araújo et. al. (1986) descreve essas áreas de terra firme como sendo aquelas constituídas por um ecossistema de
maior expressividade, complexidade e diversidade de espécies, tendo densa floresta, cujas árvores são bastante
elevadas. 8 As áreas de várzea possuem vegetação localizada ao longo dos rios e das planícies inundáveis, apresentando
menor diversidade do que na terra firme, de modo que as espécies que ela abriga são adaptadas às suas condições
hidrológicas (KALLIOLA, et al., 1993).
do tipo amianto/Brasilit (74%), sendo que cerca de 40% dessas casas tinham apenas 1 cômodo
(Figura 3).
Figura 3- Condições de habitação. Exemplos de tipos de casas comuns nessas áreas.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da
PWA, 2012.
Situação fundiária
A investigação sobre a situação fundiária dos domicílios revelou que a maior parte dos
comunitários são posseiros de suas terras (74%) e não tem nenhum documento que garanta a
sua propriedade, além disso, estes mostraram-se bastante preocupados com a regularização de
seus lotes. Apenas 14% deles responderam ter autorização de ocupação, ou seja, o cadastro do
INCRA (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Situação fundiária das comunidades
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da
PWA, 2012.
Saneamento
Quanto a saneamento básico constatou-se características precárias entre as comunidades
analisadas. No quesito situação sanitária, cerca de 76% dos entrevistados declararam possuir
privadas externas cobertas em seus domicílios (76%), demonstrando preocupação com a saúde
em seus lares. Mas ainda observou-se significativa presença de domicílios com privadas
inapropriadas (24%), ou seja, externas descobertas, localizadas em rios/igarapés, ou outro
sistema dessa natureza, o que coloca em risco a vida desses comunitários.
0%20%40%60%80%
14% 7%
74%
5%
No que diz respeito a à origem da água consumida, cerca de 65% dos comunitários
declararam utilizar água de poço/cacimba, enquanto que 31% respondeu utilizar para o
consumo a água de rios e igarapés, sendo que a maior parte deles (78%) disse tratar da água
utilizada utilizando o cloro como principal método de tratamento (72%).
No quesito lixo, quase todos os comunitários (90%) declarou queimá-lo, sendo que estes
também revelaram que após queimar o seu lixo, o enterram, descrevendo essa prática como
uma alternativa para a ausência do serviço de coleta de lixo por caminhões nessas áreas.
Acesso à energia elétrica
O acesso à energia elétrica mostrou-se predominante nos domicílios analisados, sendo
que cerca de 83% dos entrevistados declararam ter acesso a esse serviço em sua casa. Este
fenômeno está associado a universalização do programa “Luz para todos”9, que alcançou até as
áreas rurais mais isoladas do país. Entretanto, verificou-se ainda um percentual de 17% dos
comunitários que declarou não ter acesso a energia elétrica em seus domicílios
3.2 Perfil socioeconômico dos comunitários
Composição e estrutura da população
Em quase todas as comunidades analisadas observou-se a predominância de homens na
composição populacional por sexo, sendo o maior percentual encontrado em novo paraíso, onde
há cerca de 20% de homens a mais que mulheres e o menor percentual em N. S. Aparecida,
cujo diferencial é de apenas 8%. Apenas em Sagrado coração de Jesus e São Geraldo, verificou-
se um número de mulheres relativamente superior ao de homens.
Em relação a estrutura da população observou-se que 70% dos comunitários
entrevistados estão em idades potencialmente ativas (15 a 64) enquanto que a população
considerada inativa (0 a 14 e 65 ou mais) corresponde a pouco mais de 30% da população total
das comunidades analisadas (Gráfico 2). Este fenômeno revela o baixo grau de dependência
nessas áreas, uma vez que a sua população produtiva supera a dependente.
9 O programa Luz para Todos, instituído pelo Decreto nº 4.873, de 11 de novembro de 2003 e prorrogado pelo Decreto nº 6.442,
de 25 de abril de 2008, trouxe essa universalização do serviço público de energia elétrica no País, alcançado as áreas mais
isoladas e promovendo uma verdadeira revolução no meio rural brasileiro, contribuindo significativamente para redução da exclusão social, motivando famílias a permanecerem no campo e melhorando a qualidade de vida dessa população
tradicionalmente isolada e excluída (CARVALHO, et. al. 2009).
Gráfico 2 – Estrutura da população
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da
PWA, 2012.
Segundo Wong e Carvalho (2006) essa composição populacional em que predomina a
população em idade ativa representa um bônus demográfico para o país, uma vez que que esse
fenômeno certamente poderia aumentar a capacidade de poupança e investimento, o que seria
importante para atender as demandas futuras da população idosa.
Acesso ao registro civil
O acesso ao registro civil alcançou quase todos os comunitários entrevistados (96%),
sendo este um dado positivo, considerando a sua importância para assegurar seus direitos de
cidadãos. Uma vez que o registro civil é um documento que oficializa a existência do indivíduo,
uma identidade formal do cidadão, vital para a retirada de outros documentos e para garantir o
acesso a benefícios governamentais, sem ele não se pode por exemplo fazer matriculas em
escolas, receber as primeiras vacinas, etc. (CNJ, 2014).
Educação
As comunidades em estudo apresentaram significativas lacunas educacionais. Embora
mais da metade dos comunitários tenham declarado ter sido alfabetizados (67%), ainda
encontrou-se 35% de analfabetos. O Gráfico 3 revela que o maior percentual de analfabetos
encontra-se nas comunidade S.J. Carú (56%), Sagrado Coração de Jesus (46%), N. S. do
Livramento (45%) e N. S. Aparecida (42%).
A mesma tendência foi verificada para o quesito frequência a escolas, onde identificou-
se que apenas 35% dos comunitários costumam frequenta-las, sendo que a maioria (64%)
declarou cursar o ensino fundamental e somente 16% declarou cursar o ensino médio. Não foi
encontrado nenhum comunitário cursando o ensino superior.
16%
70%
15%
0-14 15-64 65 anos ou mais
Gráfico 3 – Comunitários alfabetizados.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Para os comunitários que já frequentaram escolas, observou-se também que a maior
parte deles parou de estudar no ensino fundamental (32%), tendo cursado apenas até a primeira
série, declarando portanto ter tido somente 2 anos de estudos (a alfabetização e a primeira série
do ensino fundamental.). Estes dados revelam que a média de anos de estudos10 entre os
comunitários é inferior à média nacional que é de 5,7 anos (IBGE, 2010).
Além disso, somente 23% dos entrevistados declarou ter estudado até o ensino médio,
sendo praticamente nulo o acesso ao curso superior (1%). Esses dados revelam as carências
educacionais presentes nessas comunidades, que necessitam de políticas públicas que visem
melhorar tais lacunas, dada a sua importância na promoção do desenvolvimento endógeno
dessas áreas.
Neste contexto Beatty (1965) aborda a educação comunitária como meio de alcance do
progresso social, sendo necessária para o desenvolvimento local, pois permite aos comunitários
que eles ocupem o seu lugar no mundo moderno, tendo como objetivo final o desenvolvimento
de uma comunidade organizada e democrática, que se tenha libertado de muitas restrições
educacionais e estejam intelectualmente preparadas para um contínuo crescimento.
Trabalho
No que diz respeito ao trabalho dos comunitários, observou-se que apenas 34% declarou
ter algum tipo de trabalho remunerado, sendo que a maior incidência desses casos encontra-se
10 Anos de estudo refere-se ao período estabelecido em função da série e do grau mais elevado alcançado pela
pessoa, considerando a última série concluída com aprovação (Censo Demográfico, PNAD, 1991,1992,1993 e
1995).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
42% 45%
18%
46%
18% 17%
56%
35%
5% 8% 9%1% 7% 2% 8% 6%
61% 63%77%
65%79% 81%
59%67%
não não sabe sim
nas comunidades Sagrado Coração de Jesus e São Geraldo. No restante das comunidades
verificou-se a predominância de comunitários sem trabalho remunerado, sendo essa situação
ainda mais crítica em São João Batista e N. S Aparecida onde apenas 10% e 14% deles declarou
receber remuneração por seu trabalho (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Trabalho remunerado entre os comunitários
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Entre os comunitários que declararam possuir trabalho remunerado cerca de 66%
respondeu ter carteira assinada, entretanto ainda verificou-se um percentual de 33% de
trabalhadores sem acesso a carteira de trabalho, sendo este dado preocupante, pois revela o
trabalho precário nessas áreas.
Considerando o local de trabalho, foi verificado que apenas 13% dos comunitários
trabalham na empresa PWA, de modo que a maior parte deles costuma trabalhar em outros
locais como a empresa Georadar, Prefeitura, sítios próximos, frigoríficos, escolas, etc. Esse fato
revela a baixa relação da empresa como potencial geradora de empregos na comunidade,
contrariando o seu alvo de atuação como empresa certificada.
Outro fenômeno importante relacionado ao trabalho dos comunitários é a utilização dos
recursos obtidos em seus lotes para a sua subsistência. Sendo a agricultura familiar uma
importante fonte de renda para 49% dos entrevistados, os quais contam com o trabalho de toda
a unidade familiar nesta atividade produtiva. A farinha de mandioca destaca-se como o principal
produto desenvolvido em suas terras, cuja produção costuma ser comercializada nas cidades
próximas, gerando renda para a população local (Figura 4).
Nesta perspectiva Ellis (2000) e Abramovay (1992) enfatizam a importância da
agricultura familiar, a qual não é apenas uma simples alternativa de subsistência, mas está
altamente integrada ao mercado, sendo capaz de se incorporar aos avanços tecnológicos e de
86%71% 78%
25% 29%
90%66% 66%
14%29% 22%
75% 71%
10%
34% 34%
0%20%40%60%80%
100%
não sim
responder a políticas governamentais. Além disso, ela não é só um modo de vida desenvolvido
pelas comunidades, contudo torna-se em uma profissão, uma forma de trabalho, contribuindo
significativamente para a conservação ambiental e para promoção do desenvolvimento local.
Figura 4 - Agricultura familiar: Produção da farinha
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Além da agricultura familiar, cerca de 31% dos comunitários declarou que sustentam-
se do trabalho em seus lotes com a criações de animais, hortas e da caça praticada. Apenas 11%
deles declarou não desenvolver nenhuma atividade produtiva em suas terras.
Renda
O estudo da variável renda costuma revelar as desigualdades socioeconômicas
existentes em uma sociedade. Neste estudo investigou-se os rendimentos dos domicílios por
meio de entrevistas direcionadas aos chefes de família, o que possibilitou a identificação de
significativos diferenciais nos seus rendimentos.
Quanto a composição da renda, o Gráfico 5 revela que a principal fonte da renda dos
comunitários é oriunda do trabalho não assalariado (36%), o que mostra a predominância do
trabalho informal nessas áreas. Apenas 18% deles recebiam rendas do trabalho assalariado, 17%
de aposentadoria e 15% do bolsa família. É válido destacar a presença de 14% de chefes de
famílias que declararam não ter rendimento algum, nesses casos estes sobreviviam apenas de
produtos adquiridos em seus lotes.
É válido destacar que o maior índice de trabalhadores assalariados, foi encontrado nas
comunidades N. S. do Livramento (32%) e em São Geraldo (19%), enquanto que em S. José do
Carú verificou-se um percentual de apenas 9%, além disso, a mesma apresentou o maior
percentual de comunitários sem rendimento (51%), revelando a sua precariedade
socioeconômica e a ausência de trabalho decente.
Gráfico 5 – Composição da renda dos comunitários
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
A presença de trabalhadores não assalariados mostrou-se maior em N. S Aparecida
(24%), São João Batista (19%) e Sagrado Coração de Jesus (17%). Já quanto ao acesso a
aposentadoria a comunidade N. S Aparecida foi a que apresentou os maiores percentuais (25%),
enquanto que em Novo Paraíso somente 5% declararam receber esse benefício.
O acesso à bolsa família mostrou-se mais elevado nas comunidades de N. S. Aparecida
(26%) e N. S. Livramento (26%), enquanto que em São Geraldo e São João Batista os
percentuais eram de apenas 4% e 7% respectivamente (Gráfico 6).
Gráfico 6 – Tipos de rendimento por comunidade
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Na análise sobre os níveis de renda, observou-se que a maioria dos comunitários
costuma receber somente até 1 salário mínimo (Gráfico 7). Quanto aos que declararam receber
menos de 1 salário mínimo, estes são em grande parte os que vivem do auxílio da Bolsa família.
A mesma tendência é verificada para a aposentadoria, cujos valores recebidos são em
maior parte inferiores a 1 salário mínimo, de modo que apenas 8% dos comunitários recebem
acima de 1 salário mínimo e 9% recebem acima de 2.
É válido destacar que para aqueles que recebem rendimento de trabalhos assalariados
observou-se um percentual significativo de rendimento superior a 1 salário mínimo (44%),
revelando níveis de renda maiores àqueles oriundos de trabalho não assalariado.
18%
17%
15%
36%
14%
Assalariados
Aposentadoria
Bolsa Família
Não Assalariados
SemRendimento
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
12%32% 12%
12% 19%4% 9%
14%
25% 5%15% 14%
15% 12%
26%
26% 7%18% 4%
7%12%
24%14% 6% 17%
14% 19%
6%
11% 6% 2% 2%19% 9%
51%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
N. Senhorade
Aparecida
N. Senhorado
Livramento
NovoParaíso
SagradoCoração de
Jesus
São Geraldo São JoãoBatista
São José doCarú
Assalariados Aposentadoria Bolsa Família Não Assalariados Sem Rendimento
Gráfico 7 – Níveis de renda dos comunitários
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Esses dados evidenciam o baixo nível de renda dessas comunidades e a necessidade de
políticas direcionadas ao mercado de trabalho, que possam reduzir o trabalho precário nessas
áreas.
3.3 Perfil Socioambiental dos comunitários
3.3.1 Atividades produtivas praticadas em suas terras
As atividades praticadas pelos comunitários em suas terras são fundamentais para a sua
subsistência, uma vez que possibilita-os a tirar o sustento da exploração das florestas, rios e
igarapés que os cercam, por meio da caça, coleta e da pesca. Essas populações tradicionais
apresentam significativo conhecimento, habilidade e respeito pelo meio ambiente e seus ciclos,
tendo adquirido tais conhecimentos pela tradição herdada dos mais velhos.
Neste sentido Cultimar (2008) enfatiza que o manejo dos recursos naturais está
diretamente ligado às regras, valores e conhecimentos que irão definir a forma como serão
utilizados esses recursos, sendo essa a essência do desenvolvimento endógeno.
Caça
A caça representa para as comunidades tradicionais importante meio de sustento para
suas populações. Somente na Amazônia brasileira as populações rurais consumiam o
equivalente a 9 e 23 milhões de aves mamíferos e répteis (PERES, 2000). Nas comunidades
analisadas, cerca de 47% dos comunitários entrevistados declararam praticar a caça como meio
de sustento de suas famílias (Gráfico 8).
A prática da caça revelou-se mais comum nas comunidades localizadas em áreas com
ecossistemas de terra firme, como é o caso de São Geraldo e São João Batista, compreendendo
75% e 67% da população entrevistada. Enquanto que nas comunidades localizadas em áreas de
0%
50%
100%
Assalariado Aposentado Bolsa Família NãoAssalariado
53%83%
100%78%
44%
9% 15%3% 8% 7%
Até 1 SM Acima de 1 a 2 SM Acima 2 SM
várzea como é o caso de S. J. Carú e Novo Paraíso, o percentual mostrou-se inferior, apenas
42% e 47% dos comunitários declararam caçar.
Gráfico 8 – Prática da caça
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Segundo Jerozolimski e Peres (2003) as comunidades costumam utilizar fontes
proteicas animais mais comuns e de mais fácil acesso para sua subsistência. No caso daquelas
localizadas em terra firme, a caça é a melhor alternativa, uma vez que estas encontram-se
distantes dos leitos de água, enquanto que para as de Várzea, a caça é uma atividade secundária,
já que os comunitários utilizam o peixe como principal fonte de proteína.
Entre as espécies caçadas, 92% dos comunitários declararam caçar as típicas da região:
paca, cutia, porco espinho, veado, tatu, anta, etc. (Figura 9), com exceção dos macacos, os quais
quase todos os entrevistados declararam evitar caça-los.
Figura 9 – Animais típicos caçados nas comunidades: Porco espinho e Veado
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
No que se refere a frequência da prática da caça, 52% dos entrevistados declararam que
a realizam mensalmente e 31% semanalmente, ocorrendo em grande parte dentro (36%) e
próximo (34%) à área de manejo da PWA. Apenas 29% dos entrevistados responderam caçar
fora da área de PWA.
É válido destacar que para 49% dos comunitários entrevistados a presença da empresa
não alterou a prática da caça nas comunidades, em contrapartida, para 38% deles a caça piorou,
revelando o impacto negativo causado pela PWA, na caça para subsistência (Gráfico 10).
53%47% não
sim
Gráfico 10 – Relação da presença da PWA com a atividade da caça
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Extrativismo
A prática do extrativismo em comunidades tradicionais na Amazônia está arraigada a
cultura e a tradição local, cujos produtos são utilizados não apenas como fonte de alimentação,
mas são geradores de renda das famílias comunitárias (SOUZA, 2006).
Neste sentido, observou-se que cerca de 38% dos comunitários praticam o extrativismo,
tanto para o consumo próprio quanto para o comércio, complementando assim a sua renda
familiar. Sendo essa prática maior em São Geraldo (82%) e Sagrado Coração de Jesus (59%),
ambas localizados em terra firme. As principais espécies extraídas são a castanha e o tucumã,
frutos comuns nessas áreas, mas a frequência de extração ocorre em maior parte anualmente
(42%) e mensalmente (36%), pois esses produtos florestais costumam ser encontrados apenas
em determinadas épocas do ano, o que limita o desenvolvimento dessa prática (Figura 6).
Figura 6 – Extração do tucumã para o comércio nas cidades próximas.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Para 75% dos comunitários, o extrativismo quase não foi afetado pelo manejo
empresa, entretanto ainda foi verificado um percentual de 19% que declararam que essa
atividade piorou com a presença da empresa, cujo desmatamento limitou tal prática.
Pesca
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Melhorou
Nãoalterou
Piorou
13% 49%
38%
A pesca é considerada tradicionalmente como uma importante fonte de subsistência das
comunidades amazônicas, sendo também potencial geradora de renda para a população, pois a
região é detentora de uma das maiores diversidades ictiológicas do mundo (CASTRO, 2000).
Neste contexto, observou-se que a pesca é praticada por mais da metade dos
comunitários (59%), concentrando-se nas comunidades localizadas em áreas de várzea, como
é caso das comunidades Novo Paraíso e São José do Carú, onde cerca de 79% e 71% dos
comunitários praticam as pesca (Figura 7).
Figura 7 – Prática da pesca nas comunidades.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
A maioria dos comunitários (48%) costumam praticar a pesca semanalmente, sendo que
utilizada não apenas para o consumo, mas também para a comercialização, neste último caso,
os comunitários costumam vender o seu pescado diretamente para os feirantes.
Quanto ao seguro defeso11, somente 32% dos comunitários declarou recebe-lo, enquanto
mais da metade (68%) não receberam nenhum auxílio para não pescar na época da reprodução
das espécies. A participação em associações de pescadores é quase inexistente nas comunidades
analisadas, somente 15% declararam participação. Em relação ao impacto das atividades da
PWA na prática da pesca, para 73% dos entrevistados, não houve alteração alguma.
Participação em associações comunitárias e acesso a financiamentos para a produção
A participação em associações comunitárias é bastante significativa nas comunidades
analisadas, pois mais da metade dos comunitários (64%) declarou participação, sendo que 51%
destes ter obtido melhorias na sua produção decorrentes dessa participação. Mas para 49% dos
entrevistados, a participação em associações não trouxe melhoria alguma na sua produção.
11 Seguro Defeso é uma política que visa proteger as espécies e ao mesmo tempo garante renda aos pescadores, de modo que estes ficam impedidos de pescar durante a reprodução das espécies, recebendo nesse período um seguro mensal, na quantia de
um salário mínimo (Ministério da pesca e da agricultura)
O acesso ao financiamento bancário para o desenvolvimento das atividades produtivas
revelou-se bastante reduzido, alcançando apenas 30% dos comunitários, sendo que apenas um
terço deles respondeu ter tido êxito com os recursos obtidos, para o restante a produção só foi
satisfatório inicialmente e/ou não alcançaram êxito algum, de modo que a maior parte deles
ainda está pagando o empréstimo.
3.4 Considerações sobre a relação das comunidades com a empresa PWA.
Opinião dos comunitários sobre a PWA como empresa certificada
Conforme foi enfatizado anteriormente, a PWA como empresa certificada possui um
compromisso social com as comunidades localizadas em torno da sua área de manejo,
executando para isso uma série de programas sociais de geração de renda, emprego e educação
ambiental (RESUMO PÚBLICO PWA, 2013).
Esse compromisso social da PWA é visto com bons olhos pela maioria dos
comunitários, pois 58% deles a consideram a uma boa empresa, somente 18% declararam que
ela é regular e 24% disseram não ter opinião nenhuma sobre a empresa (Gráfico 11).
Gráfico 11 – Opinião dos Comunitários sobre a PWA
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Entretanto quando se perguntou aos comunitários se eles foram beneficiados por alguma
ação desenvolvida pela empresa, apenas 37% respondeu que sim, enumerando em seguida uma
série de atividades positivas realizadas pela PWA e que melhoraram a qualidade de vida da sua
comunidade. O quadro 1 evidencia essas principais ações citadas e os seus benefícios.
Quadro 1 – Principais ações realizadas pela empresa nas comunidades e seus benefícios.
Principais ações desenvolvidas pela PWA Benefícios para a comunidade
Abertura do Ramal de acesso a BR 363 (Figura 6) em N. S. Livramento.
Acabou com o isolamento da Comunidade,
Abertura de ruas nas comunidades e construção de campos de futebol
Modernizou e urbanizou as comunidades
Fornecimento de Empregos na PWA Trouxe novas alternativas de renda para a população
58%24%
18%
Boa Nãotem Regular
Fornecimento de madeiras para a construção de casas nas comunidades
Deu acesso a moradias àqueles que não tinham onde morar
Ofereceu cursos profissionalizantes aos comunitários Auxiliou na qualificação profissional dos comunitários
Forneceu equipamentos para a construção da casa da farinha
Fomentou a agricultura familiar
Construção de Centros Comunitários Permitiu a integração entre eles e o planejamento para o seu desenvolvimento
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
É válido destacar a importância da construção desse Ramal de acesso a BR 363, ação
desenvolvida pela PWA e mais citada entre os comunitários de N.S Livramento, uma vez que
esse Ramal trouxe um forte impacto para o desenvolvimento endógeno desta comunidade,
possibilitando não apenas a sua integração com as cidades próximas, mas o desenvolvimento
das suas atividades produtivas, aproximando-as de outros mercados e auxiliando no escoamento
da sua produção (Figura 8).
Antes da construção do Ramal, o desenvolvimento de N. S. Livramento era limitado aos
fenômenos naturais existentes na região, já que no período de estiagem as embarcações para
essa comunidade são inviáveis, devido a forte seca do rio Anebá e sendo este o único meio de
acesso a essa comunidade, toda a sua produção era prejudicada.
Figura 8 - Ações realizadas pela PWA: Ramal de acesso a BR 363. N. S Livramento.
Fonte: Levantamento socioeconômico e ambiental das comunidades localizadas em torno da área de manejo da PWA, 2012.
Para os comunitários que declararam não ter sido beneficiados pelas ações da PWA,
estes criticaram diretamente a postura da empresa em relação a população local. Entre as
principais críticas destacam-se:
Prometeram empregar os comunitários, mas a maioria dos funcionários da PWA
não são das comunidades.
Velocidade dos caminhões da PWA que transportam a madeira extraída coloca
em riso a vida da população que vive ao longo das estradas.
A abertura de ramais para a extração da madeira afugenta a fauna,
prejudicando a caça e atividades produtivas em suas terras
A empresa faz muitas promessas, mas não as cumpre. Necessidade de uma
maior comunicação empresa/comunidade,
Considerações finais
As informações levantadas neste estudo revelaram que as comunidades tradicionais
localizadas em torno da área de manejo da PWA apresentam características socioeconômicas
semelhantes em seu interior, sendo estas bastantes precárias, como pôde-se observar na análise
de seus indicadores relacionados as condições de habitação, situação fundiária, saneamento,
educação, emprego, renda, etc.
Esse fenômeno dificulta o desenvolvimento endógeno dessas comunidades, sendo um
grande desafio para a sua promoção, havendo a necessidade de acesso a condições sociais
dignas e qualidade de vida, que estimulem a criatividade humana e as aspirações coletivas, além
da ampliação da justiça social e melhores condições educacionais (FURTADO, 2004).
Quanto as características socioambientais das comunidades, estas apresentaram
disparidades quanto as suas potencialidades, por possuírem diferentes ecossistemas, o que
modifica toda a dinâmica produtiva dessas áreas, ou seja, nas comunidades localizadas em áreas
de Várzea, por exemplo, identificou-se um forte potencial em atividades pesqueiras, enquanto
que nas de terra firme a caça é bem mais praticada como fonte de subsistência.
O extrativismo mostrou-se uma atividade muito limitada, pois depende do período em
que as árvores dão os seus frutos, entretanto, apesar de tais dificuldades, ele é praticado não
apenas para o consumo, mas também para o comercio nas cidades próximas. Tal prática é mais
desenvolvida nas áreas de terra firme, pela sua variedade de espécies, superior às de várzea.
A agricultura familiar é também uma grande fonte de renda para os comunitários,
destacando-se a farinha de mandioca como potencial produto, o qual é comercializado nas
cidades próximas. Mas poucos comunitários declararam ter tido acesso a financiamentos para
desenvolverem a sua produção, além disso, a falta de conhecimento técnico impediu que estes
obtivessem um êxito maior nos seus negócios.
Quanto a relação da PWA com as comunidades tradicionais que as cercam, observou-
se que ela é considerada positiva, sendo vista como uma boa empresa pela maioria dos
comunitários. Porém quando se perguntou se estes receberam algum benefício em sua
comunidade oriundos das ações da empresa, as repostas foram diferentes, de modo que mais da
metade dos entrevistados declarou nunca ter sido beneficiado pela empresa.
Entretanto foram listadas na pesquisa uma série de ações que a empresa realizou nessas
áreas e que auxiliaram diretamente no seu desenvolvimento endógeno, segundo o depoimento
dos entrevistados. As principais ações citadas foram: a abertura de ramais de acesso, o auxílio
na produção, a oferta de cursos profissionalizantes, o fornecimento de madeiras para a
construção de casas, etc.
Muitos comunitários também fizeram queixas relacionadas a empresa, destacando-se
entre elas a pouca oferta de empregos pela PWA, já que a empresa emprega apenas 13% dos
comunitários. Desse modo a maioria dos comunitários vive predominantemente do trabalho
informal, utilizando os recursos da natureza como meio de sustento.
Vários são os desafios socioeconômicos e ambientais existentes nessas comunidades,
este trabalho pôde evidencia-los e revelou ser incontestável a presença da empresa para o
desenvolvimento endógeno dessas áreas, pois a mesma atua diretamente na melhoria da
qualidade de vida das comunidades localizadas em seu entorno. Entretanto a sua atuação não
substitui e nem deve ser confundida com a do Estado.
Barquero (2000) enfatiza essa importância da articulação dos aos atores locais,
instituições e do governo para a promoção do desenvolvimento endógeno nas comunidades
tradicionais, uma vez que enquanto os atores locais são peças principais na definição, execução
e controle do desenvolvimento, são as instituições e o governo que poderão financiar esse
desenvolvimento, criando vantagens locacionais, competitividade, infra-estrutura básica e
serviços de financiamento, que tanto podem auxiliar no desenvolvimento endógeno dessas
áreas.
Esse estudo possibilitou uma breve discussão sobre os desafios socioeconômicos e
ambientais na promoção do desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais
localizadas em torno da área de manejo da PWA, servindo como subsídio não apenas para novas
pesquisas sobre a temática, mas para a formulação de políticas públicas que possam mitigar tais
lacunas socioeconômicas existentes, fomentando as atividades produtivas de acordo com as
necessidades e potencialidades de cada comunidade, gerando emprego e renda para a
população, promovendo assim o desenvolvimento endógeno.
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