“DEVAGAR SE VAI AO LONGE”: Concepção, Implementação e ... · A sua implementação em...

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“DEVAGAR SE VAI AO LONGE”: Concepção, Implementação e Avaliação de um Programa de

Desenvolvimento de Competências Sócio-Emocionais

Raquel Raimundo¹, Alexandra Marques Pinto¹ & Luísa Lima²¹Universidade de Lisboa (FPCE)

²ISCTE

Novembro2008

Seminário – AAA FPCE-UL

Introdução (1)

Teorias da Inteligência Emocional: o sucesso na vida é predito pela inteligência emocional, tanto ou mais do que a inteligênciacognitiva (Goleman, 1995; Elksnin & Elksnin, 2003; Kress, Norris, Schoenholz, Elias & Seigle , 2004; Mayer e Salovey, 1997/1999).

CASEL (Collaborative for Academic, Social, and EmotionalLearning)

Objectivo – Melhorar a eficácia, compreensão, gestão e expressão dos aspectos sócio-emocionais presentes nas vidas das crianças e adolescentes. Estas competências visam ter um impacto no ajustamento escolar e no desempenho académico (Elias, 2006; Greenberg, et al, 2003; Kress, et al., 2004; Zins, et al., 2004).

Introdução (2)

CASEL – Linhas orientadoras para elaboração de programas SEL eficazes:

Adequação em termos desenvolvimentistas e culturais;

Programas preventivos de aplicação universal;

Programas inseridos no currículo escolar (infusão);

Envolve as famílias e a comunidade como parceiros;

É aplicado durante mais de um ano (plurianual);

Ensina como implementar as competências SEL no dia a dia;

Avaliação antes e após a implementação do programa (follow-up) e inclusão de um grupo de controlo (Greenberg, et al, 2003; Zins, et al., 1997/1999).

Introdução (3)

Programas SEL

A sua implementação em períodos de transição escolar (Zins, et al., 2004) é especialmente relevante:

complexidade do novo ambiente social, com múltiplos stressores (Taylor, Liang, Tracy, Williams & Seigle, 2002); especialmente durante a transição do 1º para o 2º ciclo;

2º ciclo = periodo crítico para aprender competências sócio-emocionais, as quais podem prevenir alguns comportamentos de risco que surgem nesta fase (Lochman & Wells, 2002).

Objectivos da Investigação

Concepção e implementação de um programa de desenvolvimento de competências sócio-emocionais, na transição escolar do 4º para o 5º ano, no contexto português e baseado em programas semelhantes supervisionados pela CASEL e que obedecem aos princípios gerais das teorias da inteligência emocional;

Analisar quais as competências que melhoram com a implementação do programa;

Estudar o impacto do programa no ajustamento escolar, a nível académico, comportamental/ emocional e social;

Avaliar os efeitos a médio prazo da implementação do programa “Devagar se vai ao longe”.

ESTUDO 1

Efectuado em2006/2007

Metodologia: Construção Programa (1)

Entrevistas com docentes e elementos dos Conselhos Executivos para melhor compreensão das características comportamentais e sociais dos grupos-alvo, assim como obtenção de dados sobre o funcionamento e organização escolar;

Na preparação das sessões teve-se em conta o nível dedesenvolvimento e cultural das crianças;

Implementação universal a todos os indivíduos de cada turma do 4º ano numa lógica preventiva;

21 sessões de 45 a 60m;

Metodologia: Construção Programa(2)

Infusão no currículo escolar, dinamizado por uma psicóloga, na presença do(a) professor(a);

SEL de competências do dia a dia;

Tecnicas e Estratégias utilizadas: jogos pedagógicos, trabalhos em grupo, leitura de histórias (estudos de caso), reflexão e brainstorming relativamente às estratégias mais eficazes, modelagem, dramatizações e feedback (reforço dos comportamentos positivos).

Metodologia: Construção Programa(3)

Programa dividido em 5 partes, baseadas nos 5 grandes objectivos do mesmo, tendo em conta as definições da CASEL:

1. Auto-Conhecimento: Ter consciência do que se sente em cada momento; ter uma avaliação realista das nossas capacidades e uma auto-confiança fundamentada. 4 sessões.

2. Conhecimento Social: Compreender o que os outros sentem; ser capaz de se colocar no lugar do outro; apreciar e interagir positivamente com diferentes grupos. 3 sessões.

Metodologia: Construção Programa(4)

3. Auto-Controlo: Lidar com as nossas emoções de modo a que elas facilitem em vez de interferirem com a tarefa que temos entre mãos; ser consciente e adiar gratificações para atingir determinados objectivos; ser perseverante quando se enfrentam obstáculos e frustrações. 4 sessões.

4. Relacionamento Interpessoal: Lidar com as emoções de forma eficaz nos relacionamentos; estabelecer e manter relações saudáveis e compensadoras baseadas na cooperação, na resistência a pressões sociais desapropriadas, na negociação de soluções para um conflito e solicitando ajuda quando necessário. 4 sessões.

Metodologia: Construção Programa(5)

5. Tomada de Decisão: Tomar decisões com base numa avaliação precisa de todos os factores relevantes e das consequências prováveis de alternativas de acção, respeitando os outros e assumindo a responsabilidade pelas suas decisões. 1 sessão.

Programa avaliado por alunos e professores, através dequestionários, antes e depois da implementação do mesmo.

Grupos de Controlo incluídos na avaliação do programa (sessões de Origami).

Metodologia: Sujeitos

157 alunos, de 5 escolas de 1º ciclo (4º ano); 8 turmas: 5de intervenção (105 alunos) e 3 de controlo (52 alunos).

Diferenças iniciais entre grupo de intervenção e de controlo

Género X² = 2.004; gl = 1; p< 0.50 n.s.

Turma X² = 314; gl = 14; p< .005 Sig.

Idade t = -1.063; gl = 70.746; p<.291 n.s.

Reprovações t = .522; gl = 152; p<.602 n.s.

Assiduidade t = -1.146; gl = 141.929; p<.254 n.s.

Desemp. Acad. t = -1.181; gl = 152; p<.239 n.s.

ESE t = -1.160; gl = 148; p<.248 n.s.

Metodologia: Instrumentos de Avaliação

CABS - Agressividade AlunosCABS - Passividade AlunosCABS - Assertividade Alunos

Medidas de Processo

CSCRS – Auto-Controlo AlunosSSBS – Comportamento Académico Professor

QCA - Agressividade Professor

TRF – Isolamento Social Professor

TRF - Ansiedade Professor

Medidas de Resultado

TRF – Problemas Sociais Professor

Resultados (1)

Programa Estatístico SPSS

Análises de Variância 2 (Grupo: intervenção vs. controlo) X 2 (Tempo: pré-teste vs. pós-teste), com medidas repetidas no último factor (controlando a covariável Turma).

Resultados (2)

Relacionam. Interp. (Ag, Pas. e Ass.) Sem efeitos de interacção n.s.

Auto-Controlo Sem efeitos de interacção n.s.

Comportamento Académico

Efeito de Interacção: GI aumentou; GC diminuiu

F(1, 130)= 28.516; p<.000; ∂=.18

Agressividade Efeito de Interacção : GC aumentou; GI diminuiu

F(1, 130)= 4.084; p<.045; ∂=.03

Isolamento Social Sem efeitos de interacção n.s.

Ansiedade Sem efeitos de interacção n.s.

Problemas Sociais Efeito de Interacção : GC aumentou; GI diminuiu

F(1, 129)= 5.568; p<.020; ∂=.04

Resultados (3) – Comportamento Académico

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

35

32,5

30

27,5

25

22,5

Grupo ControloGrupo de Intervenção

inter_co

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (4) – Agressividade

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

15

14

13

12

11

10

9

Grupo ControloGrupo de Intervenção

inter_co

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (5) – Problemas Sociais

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

14

13

12

11

Grupo ControloGrupo de Intervenção

inter_co

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

ESTUDO 2

Efectuado em2007/2008

Alterações Feitas

Aumento significativo da amostra: 16 turmas (11 de intervenção e 5 de controlo), mais de 300 alunos envolvidos;Inclusão de um estudo de follow-up(recolha ainda em curso);Avaliação por parte dos pais incluída (pós-teste e follow-up);Modificações nos conteúdos do programa;Substituição de algumas escalasutilizadas.

Metodologia: Sujeitos

318 alunos, de 6 escolas de 1º ciclo (4º ano); 16 turmas: 11de intervenção (213 alunos) e 5 de controlo (105 alunos).

Diferenças iniciais entre grupo de intervenção e de controlo

Género X² = .445; gl = 1; p<.50 n.s.Turma X² = 318; gl = 15; p< .005 Sig.Idade t = -1.199; gl = 121.366; p<.233 n.s.Reprovações t = .522; gl = 152; p<.602 n.s.Assiduidade t = .869; gl = 291; p<.386 n.s.Desemp. Acad. t = -.033; gl = 301; p<.974 n.s.ESE t = -1.872; gl = 201; p<.063 n.s.

Metodologia: Instrumentos (1)

ACES – Competência Emocional AlunosSSBS – Auto-Controlo/ Obediência ProfessorHCSBS – Auto-Controlo/ Obediência PaisSSBS – Relações com os Pares ProfessorHCSBS – Relações com os Pares PaisCABS - Agressividade AlunosCABS – Passividade AlunosCABS - Assertividade AlunosSSBS – Competência Social Professor

Medidas de Processo

HCSBS – Competência Social Pais

Metodologia: Instrumentos (2)

SSBS – Comportamento Académico Professor

STAIC – Ansiedade AlunosQCA – Agressividade Professor

SOCSS – Apoio Social Percebido (Pares)

Professor

Medidas de Resultado

TRF – Problemas Sociais Professor

Satisfação/ Eficácia AlunosSatisfação/ Eficácia Satisfação/ Eficácia Professor

Resultados (1) – Medidas de Processo

Competência Emocional

Sem efeitos de interacção; efeito principal de Tempo

F(1, 288)=26.69; p<.001; ∂=.09

Auto-Controlo Sem efeitos de interacção n.s.

Relações com os Pares

Efeito de Interacção: GI aumentou; GC diminuiu

F(1, 242)=22.700; p<.001; ∂=.09

Agressividade Efeito de Interacção : GC aumentou; GI diminuiu

F(1, 289)=15.877; p<.001; ∂=.05

Passividade Sem efeitos de interacção n.s.

Assertividade Efeito de Interacção: GI aumentou; GC diminuiu F(1, 289)=11.176; p<.001; ∂=.04

Competência Social

Efeito de Interacção: GI aumentou; GC diminuiu F(1, 242)=9.256; p<.05; ∂=.04

Resultados (2) – Medidas de Resultado e Satisfação/ Eficácia

Comportamento Académico

Sem efeitos de interacção n.s.

Ansiedade Sem efeitos de interacção n.s.

Agressividade (Professor)

Sem efeitos de interacção; efeito principal de Tempo

F(1, 242)=11.451; p<.001; ∂=.05

Apoio Social Percebido

Sem efeitos de interacção n.s.

Problemas Sociais Efeito de Interacção : GC aumentou; GI diminuiu

F(1, 243)=9.636; p<.05; ∂=.04

Satisfação/ Eficácia (Alunos)

Mgi=4.52; Mgc=4.44 n.s.

Satisfação/ Eficácia (Professor) Mgi=4.19; Mgc=3.92 n.s.

Resultados (3) – Competência Emocional

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

0,64

0,62

0,6

0,58

0,56

0,54

0,52

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (4) – Relações com os Pares

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

4,4

4,2

4

3,8

3,6

3,4

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (5) – Agressividade (Alunos)

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

0,5

0,4

0,3

0,2

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (6) – Assertividade

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

0,64

0,62

0,6

0,58

0,56

0,54

0,52

0,5

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (7) – Competência Social

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

4,2

4,1

4

3,9

3,8

3,7

3,6

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (8) – Agressividade (Professor)

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

1,6

1,5

1,4

1,3

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Resultados (9) – Problemas Sociais

tempo21

Estim

ated

Mar

gina

l Mea

ns

1,2

1,15

1,1

1,05

controlointervenção

intercont

Estimated Marginal Means of MEASURE_1

Conclusões (1)

“Devagar se Vai ao Longe” é um programa eficaz no desenvolvimento de competências sócio-emocionais, em crianças do 4º ano.A eficácia do programa ficou comprovada quer a nível das variáveis de processo (relações com os pares, agressividade – alunos, assertividade e competência social), quer a nível das variáveis de resultado(comportamento académico, agressividade – professor e problemas sociais).Não foram encontrados resultados contrários ao esperado.

Conclusões (2)

As modificações introduzidas no 2º ano de implementação contribuíram, significativamente, para uma melhoria dos resultados obtidos.Satisfação com o programa, sentido como eficaz (alunos e professores).Ambos os grupos melhoraram a nível da competência emocional e da agressividade (professores), no 2º ano de implementação.

Obrigada pela vossa atenção!

Raquel Raimundoraquelraimundo@portugalmail.pt

Lisboa, Novembro de 2008