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DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
COMO MEDIDA DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E DE
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
SELMA ALVES DIOS
Contabilidade: Transparência para o Controle Social
Área temática
Contabilidade Social e Meio ambiental
ROTEIRO 1. Objetivos do estudo
2. Problemas que motivaram este estudo
3. Relevância para a Contabilidade
4. Equidade distributiva
5. Modelo para a análise da equidade distributiva
6. Análise da distribuição de renda em uma empresa
7. Considerações finais
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OBJETIVOS DO ESTUDO
• Discutir a importância da distribuição do valor
adicionado (VA) como referencia para a análise
da distribuição de renda.
• Propor um modelo de análise da distribuição de
renda, com indicadores objetivos da distribuição e
da concentração de renda.
• Apresentar uma análise da distribuição de renda
realizada por uma das maiores empresas do
mundo.
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O MAIOR PROBLEMA DA HUMANIDADE
4
1%
99%
40%
60%
Restante da população
17,5%
90% 82,5%
10%
Más ricos Restante da população
Fonte: elaboração própia, a partir de dados de David at al. ( 2008).
População Riqueza
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FORTE TENDÊNCIA DE CONTINUAR AUMENTANDO
• Em 2014,1% das pessoas mais ricas do mundo possuía 48% da riqueza global.
• Mantendo essa a tendência, no corrente ano, o 1% más rico possuirá mais de 50% da riqueza mundial e em 2020 a situação chegará a um nível ainda mais drástico de concentração (Inernacional Oxfam, 2015):
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6
DESIGUAL DISTRIBUIÇÃO DA RENDA
• A forma como se distribuem as rendas da atividade econômica, é um forte determinante da desigualdade.
• Os 10% mais ricos dos Estados Unidos detêm mais renda que os 50% mais pobres. Na Europa a desigualdade de renda também é muito alta (Piketty, 2013).
• Em muitos países ocidentais nas
últimas três décadas (1980-
2010), foi destinada uma
proporção menor da renda
anual à remuneração da mão-
de-obra e uma proporção
maior às rendas procedentes
do capital (OIT, 2013).
20" CBC- Selma Alves Dios
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
• A busca por maior equidade na distribuição de renda é um elemento intrínseco de responsabilidade social.
Justiça social
Alcance do desenvolvimento sustentável
Direito ao Desenvolvimento, proclamado entre os Direitos Humanos (Chueca,1998)
• O fato de que a empresa assuma as suas responsabilidades
pressupõe análise de como é feita a distribuição dos recursos gerados na atividade empresarial(Muñoz Colomina,1987).
A própria essência da responsabilidade social é promover o equilíbrio entre os interesses da empresa e os interesses públicos, incluindo o público em geral a quem serve e com quem interage empresa (Bauer e Fenn, 1972).
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INEXISTENCIA DE PARÂMETROS DE EQUIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
• Não existem referências de responsabilidade social corporativa para uma distribuição mais equitativa dos rendimentos gerados
nas atividades das empresas.
• Não existem parâmetros objetivos para a avaliação da
contribuição efetiva das empresas neste sentido.
"Aqueles que se esforçam para orientar nossas economias e nossas sociedades são como pilotos que pretendem manter o curso sem uma bússola confiável e precisamos de melhores ferramentas em diversas áreas. O PIB agregado não fornece uma avaliação adequada da situação da maioria da população ." (Comissão para a Medição do Desempenho Económico e do Progresso Social - CMPEPS, 2009).
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“Uma análise mais aprofundada da desigualdade, com novos estudos que melhorem as informações existentes, é uma agenda relevante de pesquisa” (CEPAL , 2015)
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RELAÇÃO COM A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS
• A distribuição primária de renda é feita através da atividade das empresas.
• A maneira como gerenciam suas atividades e realizam suas transações se reflete no fluxo de renda dos segmentos envolvidos em suas operações.
• Influencia diretamente o nível de rendimento e as condições sociais do ambiente em que a empresa opera.
• Particularmente relevante no que diz respeito ao
pagamento de salarios e de
impostos.
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PORQUÊ TRATAR DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO CAMPO DA CONTABILIDADE?
Papel da Contabilidade
Consideração dos diversos interesses envolvidos no processo de distribuição de renda
Auxiliar na busca de maior equidade na distribuição da riqueza gerada na economia
“ O contador talvez não seja a primeira pessoa que vem à mente quando se fala de
sustentabilidade, responsabilidade social e justiça social. No entanto, a profissão contábil está implicada mais que nunca se levamos em consideração o papel das empresas para garantir um futuro melhor para nossa sociedade e nosso planeta (Tilt , 2009).
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PORQUÊ TRATAR DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO CAMPO DA CONTABILIDADE?
Capacidade técnica do conhecimento contábil
Visão da distribuição de renda ao nível de um agente
econômico
Percepção das motivações associados à distribuição das
rendas primárias
Verificação da capacidade de
um agente de influenciar
as condições de renda
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Se, por um lado
a Economia não dispõe da visão dos dados das empresas, por outro
a Contabilidade não tem se ocupado do ambiente econômico e social no qual atuam as entidades contábeis .
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EQUIDADE DISTRIBUTIVA
Equidade
distributiva
Requer
Equilíbrio entre os interesses envolvidos na
dimensão social e na dimensão econômica.
Intervalos ideais de participação de cada
segmento na renda total Satisfação das necessidades básicas
Redução das disparidades entre os níveis
de vida
Erradicação da pobreza
Mecanismos para que tais parâmetros sejam
respeitados
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ESTABELECIMENTO DE PARÂMETROS
Implica em estabelecer referências de
níveis adequados de:
RENTABILIDADE DO CAPITAL
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO
TRIBUTAÇÃO
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MODELO PARA ANÁLISE DE EQUIDADE DISTRIBUTIVA
I. Critérios para a análise dos níveis de
participação no VA
II. Indicadores para análise da distribuição funcional da renda
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DVA E DISTRIBUCIÓN FUNCIONAL DA RENDA
• A perspectiva que tem maior correlação com a RSC é a distribuição funcional da renda.
Distribuição da renda entre os diversos segmentos
ΣVA=PIB
• Pouco analisada, principalmente devido à falta de informação(Considera y Pessoa (2012).
A DVA é a maneira mais simples e mais imediata para refletir como o valor adicionado tem sido usado para "pagar" para aqueles que contribuem para a sua criação “The Corporate Report" (ICAEW, 1975)
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CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DA VARIAÇÃO DOS NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO NO VA
Correlação entre as variações de participação dos segmentos entre si
Correlação entre as variações de participação de cada segmento e as variações do VA
Uma vez alcançado que a
participação de cada
segmentos obedecça a uns
parâmetros mínimos de
equidade, esta mantém se
cada segmento incorpora a
mesma variação do VA:
18 20" CBC- Selma Alves Dios
19
INDICADORES PARA A ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL DA RENDA
Indicador de Distribuição de Renda
Indicador de Concentração de Renda
Se não houver variação na
participação de nenhum dos
segmentos, permanecem
constantes as proporções de renda distribuída e de renda concentrada:
IDR = SALÁRIOS + IMPOSTOS VA
ICR = LUCROS + DEPRECIAÇÃO VA
20" CBC- Selma Alves Dios
PERSPECTIVAS DE ANÁLISE E NÍVEIS DE AGREGAÇÃO
• Agente: Empresa
• Controle: Grupo de empresas
• Geográfico: Cidade/Estado/País/Região
• Atividade: Setor
A comparação entre o desempenho
de um agente e o desempenho agregado
permite inferências sobre a intensidade da
distribuição ou da concentração de renda
feita pela empresa.
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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA EM UMA EMPRESA
A empresa:
• Segunda no ranking dos Países Baixos e sétima na Europa.
• Transporte de petróleo bruto e derivados, em cerca de 60 países. • 2.800 funcionários.
• 46 anos consecutivos gerando lucros.
• Em 2011 sua receita teve um crescimento de 386,9% em relação a 2004.
• Declara compromisso de ser um cidadão corporativo responsável.
Dados:
• VA e sua distribuição aos salarios, impostos, depreciação e lucro, no período 1999-2008.
• Cálculo da variação anual dos índices de participação de cada um destes fatores (segmentos) e dos indicadores de distribuição e de concentração de renda.
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VALOR ADICIONADO DA EMPRESA E SUA DISTRIBUIÇÃO*
•
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Sal 84968 90233 146954 157356 137990 165456 206259 282348 334968 270785
Ben 31645 82554 328653 327197 226606 371135 506064 874494 1770107 811207
Imp 13537 30133 66084 49388 10671 30849 76300 99458 175926 112997
Amt 20813 23384 29808 34385 41151 31104 31980 38875 82660 17178
Int 65462 66445 136734 133127 86493 63977 63384 60482 254724 275336
VA 216425 292749 708233 701453 502911 662521 883987 1355657 2618385 1487503
*(Milhões de euros)
Participação media
• Lucros: 48,1%
• Salários: 24,1%
• Impostos: 7%
• Depreciação: 5%
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ANÁLISE DOS NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO NO VA
•
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Media
VA 0,0% 35,3% 227,2% 224,1% 132,4% 206,1% 308,4% 526,4% 1109,8% 587,3% 373,0%
Sal 0,0% -21,5% -47,1% -42,9% -30,1% -36,4% -40,6% -46,9% -67,4% -53,6% -43,0%
Luc 0,0% 92,9% 217,4% 219,0% 208,2% 283,1% 291,5% 341,2% 362,3% 273,0% 254,3%
Imp 0,0% 64,6% 49,2% 12,6% -66,1% -25,6% 38,0% 17,3% 7,4% 21,4% 13,2%
Depr 0,0% -16,9% -56,2% -49,0% -14,9% -51,2% -62,4% -70,2% -67,2% -88,0% -52,9%
• Crescimento acentuado do VA.
• Maior parte incorporada pelos
lucros, que têm comportamento
semelhante ao VA.
• Baixo crescimento dos impostos.
• Contínua redução dos salários.
• Contínua redução da depreciação.
Variação dos níveis de participação dos segmentos
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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL DA RENDA
• Intenso crescimento
da renda concentrada (132,4%)
• Redução na
proporção de renda distribuída (-35,2%)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Media
IDR 0,0% -9,7% -33,9% -35,2% -35,1% -34,9% -29,8% -38,1% -57,1% -43,3% -35,2%
ICR 0,0% 49,3% 108,8% 112,7% 119,7% 150,5% 151,1% 178,0% 191,9% 129,8% 132,4%
Variação dos indicadores Distribuição e concentração
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COMPARAÇÃO EMPRESA/PAÍS/REGIÃO
A empresa apresenta um crescimento do VA muito acima da media do país e da Europa.
Indica que a redução na distribuição aos salários e aos impostos não está condicionada pela capacidade de geração de valor, e se trata de deliberação da empresa.
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Media
VA
empr 0,0% 35,3% 227,2% 224,1% 132,4% 206,1% 308,4% 526,4% 1109,8% 587,3%
373,0%
PIB país 0,0% 8,0% 14,9% 19,2% 22,1% 26,3% 31,5% 39,6% 47,8% 54,1% 29,3%
PIB Eur 0,0% 7,4% 12,5% 16,5% 18,6% 24,1% 29,2% 36,2% 43,5% 46,0% 26,0%
I. Variação do VA
COMPARAÇÃO EMPRESA/PAÍS/REGIÃO
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II. Variação dos níveis de participação
Salários
Impostos
Lucros
Depreciação
A destinação aos salarios na empresa é acentuadamente menor do que a média do país, que é menor que a média na Europa.
Os lucros são acentuadamente mais elevados do que a média do país, que é superior à média na Europa.
Notável a influência da empresa no desempenho do país.
COMPARAÇÃO EMPRESA/PAÍS/REGIÃO
III. Variação da distribuição e concentração do VA
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Empr
País
Eur
-50%
0%
50%
100%
150%
200%
250%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Empr
País
Eur
27 20" CBC- Selma Alves Dios
IDR
ICR
Medias 132,4% 21,5% 0,6%
Medias -35,2% -11,8%
-2,8%
O processo de redução da distribuição e incremento da concentração de renda que realiza é mais intenso do que o que ocorre no conjunto das demais empresas do país e da Europa.
Significa que as empresas menores realizam melhor distribuição de renda que a empresa analisada.
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
• A inexistência de correlação entre a evolução do nível de renda de cada segmento e o crescimento da empresa indica um ânimo de concentração de renda.
• Ocorre ao longo de todo o período, indicando não tratar-se de natureza conjuntural, mas de uma tendência de comportamento.
• Considerando que uma conduta responsável deve pautar-se pelo repasse do crescimento econômico aos salários e aos impostos, a conduta da empresa se qualifica como não responsável socialmente.
• Isso é tanto mais relevante quanto maior a empresa e mais amplo seu âmbito de atuação, como no caso de entidades que operam em diversos países e cujos montantes de valor adicionado sejam altos.
• Diante desse tipo de conduta, questiona-se a eficácia do incremento do crescimento econômico como mecanismo para a redução das desigualdades, para o que é mais imprescindível uma distribuição mais equitativa do crescimento experimentado
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CONSIDERAÇÕES FINAIS (1)
• A informação sobre a geração e a distribuição do valor adicionado é muito relevante para que seja possível estabelecer parâmetros de referência para a busca de maior equidade distributiva.
• Sua incorporação como medida de RSC pode proporcionar una visão mais ampla da conduta das empresas e permitir gestões para estimular às iniciativas de melhor distribuição das rendas primárias e coibir o ímpeto concentrador de renda.
• O conhecimento da distribuição ao longo do tempo pode possibilitar a identificação de padrões de comportamento e características gerais, bem como análises horizontal e vertical da distribuição de renda.
• Em uma aplicação mais ampla, pode servir para a criação de uma base de dados institucional, com informação sobre a geração e a distribuição do valor adicionado das empresas do país e avaliação sobre a distribuição das rendas primárias em diversos níveis de agregação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS (2)
• Isso permitiria uma imagem detalhada do destino do excedente
produzido, e a determinação de parâmetros mais precisos para
a distribuição primária de renda, de forma que a participação
de cada segmento experimente variações que conduzam
paulatinamente a uma distribuição mais equitativa.
• Essa perspectiva pode ser uma valiosa oportunidade para que a
Contabilidade assuma seu papel social, incorporando de forma
efetiva os interesses de toda a sociedade e fornecendo
informação fiável e relevante para a formulação de políticas
públicas na busca de um desenvolvimento econômico que
priorize a justiça social, um desenvolvimento sustentável.
• E assim, ampliar sua capacidade de ser um instrumento de transparência para o Controle Social
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“A ciência é uma perversão se não tem como único objetivo a melhoria das condições da humanidade…”
Nikolas Tesla
MEUS AGRADECIMENTOS A TODOS!
Selma Alves Dios
selmadios@vm.uff.br
selmadios7@gmail.com
20" CBC- Selma Alves Dios