DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA: UMA ABORDAGEM DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA Regina Coeli e Christina...

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DISTÚRBIOS DE LEITURA E DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA:ESCRITA:

UMA ABORDAGEM DA UMA ABORDAGEM DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITALINGUAGEM ORAL E ESCRITA

Regina Coeli e Christina SalesRegina Coeli e Christina Sales

RELAÇÃO ENTRE A LINGUAGEM ORAL E A LINGUAGEM ESCRITA

ESCRITA: Invenção do homem

mediação lingüísticaanálise da linguagem oral

Registro visível da capacidade humana em pensar de modo abstrato a respeito de sua própria linguagem

SISTEMAS DE ESCRITAsistemas silábicos ealfabéticossegmentos

unidades fonológicosgráficas

fonemas sílabas

grafemassistemalogográfico

morfema(palavras)

COMPLEXIDADE DA ORTOGRAFIA

A descoberta do fonema é a chave para compreensão do princípio alfabético da escrita.

“Fonemas são abstrações perceptuais, representações mentais de seqüências articulatórias e de seus traços acústicos.”

(Albano, 2001)

COMPLEXIDADE DA ORTOGRAFIA

Para chegar à descoberta do fonema é necessário desenvolver a consciência fonológica.

O desenvolvimento da consciência fonológica tem sido freqüente e consistentemente relacionado ao sucesso de aprendizagem da leitura e escrita.

NÍVEIS DE PERCEPÇÃO DA FALA

AUDITIVO FONOLÓGICO

FonologiaÁrea de estudo que investiga às relações entre os fonemas de uma língua e qual a natureza da representação mental destas unidades lingüísticas

CONSCIÊNCIA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICAFONOLÓGICA

É uma competência que possibilita a É uma competência que possibilita a compreensão sonora da palavra e sua compreensão sonora da palavra e sua

representação. É tanto necessária representação. É tanto necessária para aprendizagem da leitura escrita para aprendizagem da leitura escrita como dela conseqüente como dela conseqüente

PROCESSAMENTO DE LINGUAGEM: o papel das representações

Produção de falaPercepção

Representações Fonológicas

Produção de escritaPercepção

PERCEPÇÃO DE FALAPercepção:

integrada as sensações, proporciona o aprendizado, subjetiva, relacionada a interação social

PERCEPÇÃO DE FALA• Na fala os fonemas não são produzidos isoladamente, há fusão de gestos articulatórios.• Não se pode encontrar palavras no contínuo da fala como as palavras impressas em papel.• Variabilidade no sinal acústico: cada pessoa, cada situação de fala e cada ambiente.• Problema de coarticulação, a cada momento os articuladores estão produzindo mais do que um fonema.

PROCESSAMENTO FONOLÓGICO

Escolaridade Consciência Fonêmica

Qualidade das Representações Fonológicas

Processamento Fonológico Geral - nomeação rápida, discriminação

auditiva, memória verbal.

Para Sucesso da Leitura Escrita há Seis Dimensões

ImportantesConsciência Fonológica

VocabulárioCompreensão

Princípio AlfabéticoFluência

Motivação/Estimulação

Relação entre Linguagem Oral e Linguagem EscritaLinguagem OralLinguagem Escrita

Processamento FonológicoContém a imagem auditiva de cada palavra, sílaba ou fonema correspondente à ativação de um conjunto interconectado dessas unidades. Recebe informações externas dadas pela fala.

Implicações para o Ensino da Linguagem

Escrita• Estimular a atenção aos elementos

fonêmicos das palavras consciência fonológica.

• Associação grafema-fonema.

• Estimular a leitura e escrita com textos que possibilitem a construção de significados de palavras de acordo com a freqüência das palavras, conhecimento de mundo e realidade social.

Distúrbios de Leitura e Escrita

Definição “É uma manifestação referente ao

desenvolvimento da linguagem, que se caracteriza pela dificuldade na aquisição e/ou desenvolvimento da linguagem escrita por crianças que apresentam déficits tanto de decodificação fonológica como de compreensão da linguagem oral e/ou escrita.”Santos e Navas. 2002

Dislexia X Distúrbios de Leitura e Escrita

• Dificuldades semelhantes para aprender a ler.

• Déficits cognitivos semelhantes, em relação ao processamento fonológico.

• Não há diferença quanto a hereditariedade e bases neurológicas.

Distúrbios da Linguagem Escrita

Fatores Envolvidos nos Distúrbios de Leitura e Escrita

•Déficit Cognitivo

Padrão de sinais e sintomas comportamentais, que varia com a idade, a habilidade, a motivação e com fatores intrínsecos e extrínsecos à criança, como condições físicas e sociais.

Fatores Envolvidos nos Distúrbios de Leitura e

Escrita

Os fatores biológicos isolados raramente determinam o desempenho na aprendizagem. Os fatores sociais são também determinantes e se tornam até mais importantes quando limitações biológicas estão operando.

Processamento da Linguagem

O processamento de linguagem se refere às atividades perceptuais e cognitivas necessárias para adquirir, entender e usar a linguagem efetivamente, e está no centro do problema de aprendizagem da leitura.

Processamento da Linguagem

Distúrbios da linguagem oral afetam decodificação inicialmente e, gradualmente, refletem-se em todas as habilidades de linguagem escrita.

Expressão oral pouco organizada, pobre estrutura frasal, falta de integração e coesão.

Dificuldades de fonoarticulação e para narrar e contar fatos.

Linguagem e Aprendizagem

•Alunos no Processo de Aprendizagem

- Transpor pensamentos em palavras.

- Utilizar palavras para construir pensamentos.

- Compreender os pensamentos por meio das palavras que ouvem ou lêem.

Implicações dos Transtornos de Linguagem na Aprendizagem• Dificuldade para ampliar vocabulário por

meio de categorizações semânticas.

• Dificuldade em adquirir vocabulário técnico ou mais abstrato dos conteúdos escolares.

• Dominam linguagem coloquial e rotineira, mas sofrem com a linguagem formal acadêmica.

Abordagem Equilibrada de Linguagem Escrita

•Consciência fonológica e linguagem oral.

•Leitura guiada de textos variados para compreensão que deve ser ensinada.

•Escrita com propósito e para um provável leitor.

Estimulação da Consciência Fonológica

•Aumentando a consciência de:

-Palavras: dividindo sentenças em palavras.

-Sílabas: dividindo palavras em sílabas.

-Sons: dividindo sílabas em sons.

Estimulação da Consciência Fonológica

• Sons em posição inicial, final e medial.

• Palavras reais e não palavras.

• Rimas simples para complexas.

• Com crianças mais comprometidas, usar frases pedindo para identificar a primeira palavra.

Atividades de Escuta para o Aumento da Consciência da

Palavra• Ler para a criança.• Contar história para a criança

estimular a previsão. Ex.: O que vai acontecer?

• Cantar cantigas acentuando algumas palavras.

• Identificar palavras e sentenças na leitura: noção de letra maiúscula, pontuação, espaço em branco.

Manipulação Deliberada de Palavras nas Sentenças

• Identificação de palavras faltando na frase.

• Completar com palavras sentenças dadas pelo adulto.

• Contar palavras ouvidas.• Rearrumar palavras para formar

sentenças.• Inverter palavras compostas.

Atividades de Escuta para Aumentar a Consciência da

Sílaba• Bater palmas contando sílabas em

poemas ou sentenças.• Diferenciar palavras reais de não

palavras, com sílabas invertidas. Ex.: fé-ca, lo-bi. Qual existe?

• Identificar a sílaba omitida. Ex.: cava__, ca__lo, __valo.

Manipulação de Sílabas nas Palavras

• Contar sílabas.• Excluir sílabas. Ex.: salada sem ‘da’,

fica?• Identificar sílabas comuns em palavras.

Ex.: mala e cola.• Identificar sílabas diferentes em

palavras. Ex.: fivela e favela.

Manipulação de Sílabas nas Palavras

• Adicionar sílabas. Ex.: sala+da, va+lente.

• Substituir sílaba. Ex.: tirar o ‘va’ de valeta e colocar ‘ma’, fica?

• Inverter sílabas de palavras dissílabas e trissílabas. Ex.: tapor, derepa.

Atividades de Escuta para Aumentar a Consciência do

Som• Identificar palavras que iniciem com

determinado som.• Ouvir histórias que enfatizem sons específicos

e identificá-los.• Identificar sons e músicas.• Identificar palavras que possuam determinado

som. Ex.: quando eu falar uma palavra com o som do ‘r’, você vai levantar a mão.

Manipulação dos Sons nas Sílabas

• Completar rimas.• Identificar rimas.• Gerar palavras que iniciam com determinado

som . • Parear palavras pelo som inicial ,mesial ou

final. Ex.: sino e sapo (inicial), seis e dez (final).• Fornecer o som inicial/final omitido. Ex.: _asa,

_esa, lápi_• Inverter sons das palavras.

Atividades para Evocação Lexical

• Quais palavras combinam? Relógio, cabelo, porco, pente.

• Associação de palavras. Ex.: piloto/carro.

• Nomear categorias: azul,verde são?• Semelhanças: o que o avião e o

helicóptero têm em comum?• Antônimos: qual é o oposto de atrás?

Estratégias para Compreensão da

Leitura• Compreender as exigências das tarefas.

• Identificar partes importantes da mensagem.

• Focar atenção para informações importantes.

• Auto-monitoramento – coesão e coerência.

• Pausas interpretativas – auto-questionamento e auto-correção

Compreensão e Estimulação da Leitura

A primeira leitura é auditiva!

• Antes da leitura deve-se introduzir a história ou livro para a criança.

• Direcionar questionamentos. Quem? Onde? Por quê?

• Atenção e memória para significado.

Durante a Leitura• Identificação de absurdos.

• Previsão de continuação da história.

• Recontagem da história.

• Leitura com ruído competitivo.

Estimulação da Compreensão da

Leitura• Prever o que vai acontecer.

• Recontar histórias.

• Expressões idiomáticas,provérbios e piadas.

• Reescrever outro final.

• Reescrever a história mudando a localização no tempo e espaço.

• Escrever uma seqüência para uma história lida.

Escrever• Para aprender a escrever é preciso escrever.

• Por quê? E para quem?

• Selecionar palavras - vocabulário.

• Organizar palavras em suas relações sintáticas.

• Escrever também é riscar.

Escrever...• “.... É conhecer-se. Conhecer-se é

transcender-se. Transcender-se é aproximar-se dos outros, comunicar-lhes verdades, sentimentos, inquietações, permanecer nos outros através da palavra, perpetuar-se nos outros.”

(Gabriel Perissé,1998)

Consciência Fonológica,Consciência Fonológica,um atributo lingüístico ao um atributo lingüístico ao

processo de aprendizagem processo de aprendizagem

Os distúrbios de leitura e escrita têm sido estudado há décadas por diferentes profissionais, e ao longo desses estudos , tais distúrbios já foram atribuídos a déficits de inteligência, dificuldades viso –espaciais e dificuldades verbais.

(GRÉGOIRE & PIERÁRT, 1997)

Nos últimos 25 anos os pesquisadores da área de leitura e escrita têm prestado maior atenção à sensibilidade das crianças, às propriedades formais da linguagem.

Como resultado dessas pesquisas, as habilidades de processamento fonológico, tais como a consciência fonológica, a codificação fonológica na memória de trabalho e o acesso fonológico ao léxico mental da memória de longo prazo, têm-se mostrado essenciais para à aquisição da leitura e escrita.(GOSWAMI & BRYANT, 1990, MORAIS, 1995)

A expressão acesso ao léxico refere-se à habilidade de obter acesso à informação fonológica armazenada na memória de longo prazo. Quanto maior a velocidade e a precisão desse acesso, tanto maior a facilidade para usar a informação fonológica dos processos de codificação e decodificação de palavras.

A expressão memória fonológica de trabalho refere-se à habilidade de representar mentalmente as características fonológicas da linguagem. Crianças com severas dificuldades de leitura e escrita também apresentam, frequentemente, distúrbios na memória fonológica de trabalho.

Consciência fonológica refere-se tanto à consciência de que a fala pode ser segmentada como à habilidade de manipular tais segmentos. (BERTELSON & DE GELDER,1989; BLISCHAK,,1994)

A consciência fonológica é um tipo de consciência metalingüística.

A expressão consciência metalingüística refere-se à habilidade de desempenhar operações mentais sobre aquilo que é produzido pelos mecanismos mentais envolvidos na compreensão de sentenças. (TUNMER & COLE,1985)

A consciência fonológica envolve o reconhecimento pelo indivíduo de que as palavras são formadas por diferentes sons que podem ser manipulados, abrangendo não só a capacidade de reflexão (constatar e comparar), mas também a de operação com fonemas, sílabas, rimas e aliterações (contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor).

Portanto, as habilidades metafonológicas podem ser divididas em três tipos: consciência da sílaba, das unidades intra-silábicas e do fonema.

Ocorrem duas hipóteses antagônicas quando se refere à relação entre consciência fonológica e alfabetização. A primeira hipótese considera o desenvolvimento da consciência fonológica como anterior à alfabetização enquanto a segunda acredita que a consciência fonológica é conseqüência da alfabetização.

A existência da relação de reciprocidade entre consciência fonológica e aquisição da leitura e escrita alcança um amplo consenso. A idéia é que a consciência fonológica contribui para o sucesso da aprendizagem da leitura e escrita, enquanto que a aprendizagem de um sistema alfabético contribui para o desenvolvimento da consciência fonológica. (CONTENT,1984; TUNMER E BOWEY, 1984; PERFETTI, BECK, BALL E HUGHES,1987)

A consciência fonológica demanda que a criança ignore o significado da palavra e passe a prestar atenção à estrutura fonológica da mesma.

A capacidade de segmentar e operar com as estruturas silábicas é denominado conhecimento silábico. A sílaba é a unidade natural de segmentação da fala, sendo mais acessível do que as unidades intra-silábicas e os fonemas.

O conhecimento intra-silábico caracteriza-se pela habilidade de conhecer que as palavras podem ser divididas em unidades maiores que um fonema e menores que uma sílaba.

Perceber que a palavra é uma seqüência de fonemas equivale ao conhecimento segmental ou fonêmico. A criança percebe que as palavras possuem sons que podem ser modificados, apagados ou reposicionados.

A consciência fonológica, ou o conhecimento acerca da estrutura sonora da linguagem, desenvolve-se nas crianças ouvintes no contato destas com a linguagem oral de sua comunidade.

É na relação dela com diferentes formas de expressão oral que essa habilidade metalingüística desenvolve-se, desde que a criança se vê imersa no mundo lingüístico.

Diferentes formas lingüísticas a que qualquer criança é exposta dentro de uma cultura vão formando sua consciência fonológica, entre elas destacamos as músicas, cantigas de roda, poesias, parlendas, jogos orais, e a fala, propriamente dita.

Rima e Aliterações

A rima representa a correspondência fonêmica entre duas palavras a partir da vogal da sílaba tônica.

Por exemplo, para rimar com a palavra SAPATO, a palavra deve terminar em ATO, pois a palavra é paroxítona, mas para rimar com CAFÉ, a palavra

precisa terminar somente em È, visto que a palavra é oxítona. A equidade deve ser sonora e não

necessariamente gráfica, ou seja, as palavras OSSO e PESCOÇO rimam, pois o som em que terminam é igual,

independente da forma ortográfica.

Já a aliteração, também recurso poético, como a rima, representa a repetição da mesma sílaba ou fonema na posição inicial das palavras. Os trava-

línguas são um bom exemplo de utilização da aliteração, pois repetem, no decorrer da frase, várias

vezes o mesmo fonema.

Trava- línguas

Se o papa papasse papa,Se o papa papasse pão,Se o papa tudo papasse, Seria um papa papão.

O céu está enladrilhado,Oh! Quem o enladrilhou?Oh! Quem o desenladrilhará?O mestre que o desenladrilhar,Bom, desenladrilhador será.

Qual é o doce mais doce que o doce de batata doce?

É o doce de batata doce.

Os estudos de Goswami e Bryant (1997) sobre consciência fonológica comprovaram que a habilidade

de detectar rima e aliteração é preditora do progresso na aquisição da leitura e escrita.

Isto ocorre, porque a capacidade de perceber semelhanças sonoras no início ou no final das

palavras permite fazer conexões entre os grafemas e os fonemas que eles representam, ou seja,

favorece a generalização destas relações.

É comum vermos crianças de 4 ou 5 anos brincando com nomes dos colegas em jogos de

rimas como: "Gabriel cara de pastel, Fabiana cara de banana". Mesmo sem saber que isto é uma rima, a

brincadeira espontânea das crianças atesta sua capacidade de consciência fonológica.

Consciência de palavras

Também chamada de consciência sintática, representa a capacidade de segmentar a frase em palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las numa seqüência que dê sentido. Esta habilidade tem influência mais precisa na produção de textos e não no processo inicial de aquisição de escrita. Ela permite focalizar as palavras enquanto categorias gramaticais e sua posição na frase.

Contar o número de palavras numa frase, referindo-o verbalmente ou batendo uma palma para cada palavra, é uma atividade de consciência de palavras. Por exemplo: Quantas palavras há na frase: "O cachorro correu atrás do gato?" Ao responder corretamente esta questão ou batendo uma palma para cada palavra, enquanto repete a frase, a criança demonstra sua habilidade de consciência sintática. Além disso, ordenar corretamente uma oração ouvida com as palavras desordenadas também é uma capacidade que depende desta habilidade.

Déficit nesta habilidade pode levar a erros na escrita do tipo aglutinações de palavras e separações inadequadas. Embora esses erros sejam comuns no processo inicial de aquisição da escrita, como por exemplo, escrever: OGATO (aglutinação) ou SABO NETE (separação), a persistência destes tipos de erros pode ser motivada por uma dificuldade de consciência sintática. Esta habilidade implica numa capacidade de análise e síntese auditiva da frase.

Consciência da sílaba

Consiste na capacidade de segmentar a palavras em sílabas. Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e síntese vocabular. Segundo o dicionário Michaelis, a análise é a decomposição em elementos constituintes (neste caso, a sílaba) e a síntese é a operação mental pela qual se constrói um sistema; agrupamento de fatos particulares em um todo que os abrange e os resume (aqui, a palavra).

Zorzi (2003) faz uma análise da psicogênese da escrita relacionando-a com o desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica. Segundo o autor, a criança só avança para a fase silábica de escrita (de acordo com a classificação de Emília Ferrero), quando se torna atenta às características sonoras da palavra, especialmente quando ela chega ao nível do conhecimento da sílaba. Atividades como contar o número de sílabas; dizer qual é a sílaba inicial, medial ou final de uma determinada palavra; subtrair uma sílaba das palavras, formando novos vocábulos, são dependentes desta sub-habilidade da consciência fonológica.

Palavra-alvo

Hipótese pré-silábica da escrita

Hipótese silábica da esrita

Hipótese silçábico-alfabética da escrita

Hipótese alfabética da escrita

Castelo INMA,ESETLC,UA5, DIPFGM

KTO, AEO, ATO, KEO, CSTO

KASTENO, CASELO, CASTALU

CASTÉLO, CASTALO, KASTELO

Esqueleto ILII, AA, EMNO, IEORETH

EQEO, IESTO, IQLO

IESQELETO,ISQLETO,EQELFTO

ESCELETO, ESQELETO,ISQELETO

O fantasma abriu a porta.

KTOILJ, OEAAUM,RU,NRCRMPER

OFAIABA, OETAAIAT,OEAAIAAO

U FTSA ABA PORTA,O FTAMA ABIU A PORTA

O FETASMA ABRIL A PORTA,O FÃOTASMA ABRIU A PORTA.

Consciência fonêmica

Consiste na capacidade de analisar os fonemas que compõe a palavra. Tal capacidade, a mais refinada da consciência fonológica, é também a última a ser adquirida pela criança. É no processo de aquisição da escrita que esse tipo específico de habilidade passa a se desenvolver. As escritas de um sistema alfabético, como o português, o inglês e o francês, por exemplo, permitem que os indivíduos tomem contato com as estruturas mínimas da linguagem: os fonemas; o que não é possível num sistema de escrita silábico ou ideográfico.

Desta forma, percebemos que um certo nível de consciência fonológica é imprescindível para a aquisição da lectoescrita, ao mesmo tempo em que, com domínio da escrita, a consciência fonológica se aprimora. Ou seja, estágios iniciais da consciência fonológica contribuem para o desenvolvimento dos estágios iniciais do processo de leitura e estes, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento de habilidades de consciência fonológica mais complexas.

Atividades como dizer quais ou quantos fonemas formam uma palavra; descobrir qual

a palavra está sendo dita por outra pessoa unindo os fonemas por ela emitidos; formar

um novo vocábulo subtraindo o fonema inicial da palavra (por exemplo, omitindo o

fonema /k/ da palavra CASA, forma-se a palavra ASA), são exemplos em que se utiliza

a consciência fonêmica.A consciência fonológica associada ao

conhecimento das regras de correspondência entre grafemas e

fonemas permite à criança uma aquisição da escrita com maior facilidade, uma vez que

possibilita a generalização e memorização destas relações (som-letra).

Como referi anteriormente, muitas pesquisas apontam que grande parte das dificuldades das crianças na leitura e escrita está relacionada com problemas na consciência fonológica. Partindo desta afirmação podemos derivar algumas implicações educacionais.

Tais estudos sugerem que a crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita devem participar de atividades para desenvolver a consciência fonológica, em programas de reforço escolar ou terapias com profissionais especializados, como fonoaudiólogo ou psicopedagogo.

Além disso, as escolas podem desenvolver desde a pré-escola, atividades de consciência fonológica com objetivo preventivo, a fim de minimizar as possíveis dificuldades futuras na aquisição da escrita. (GUIMARÃES, 2003)

Nível da sílabaNível da sílabaSíntese so – pa = sopaSegmentação sala = sa – laIdentificação de sílaba inicial, medialCobra copo - time – lojaGirafa pirata – panela – colegaProdução de palavra com sílaba dadaPa papai, pacote, panelaIdentificação e produção de rimaMão sal – pão – luz / balão, sabão, anãoExclusãoSocorro – so = corro; cabelo – be = caloTransposição Darró = roda; chobi = bicho; cafó = foca

Nível de fonemaNível de fonema

Produção de palavra que inicia com o som dado[a] amigo, agulha, anel; [f] feijão, famíliaIdentificação de fonema inicial e finalsino sede, chuva gema; folha figo cola. Molacoelha azeite, farinha; ovobolo, linhaExclusãoSe eu tirar o som [r] da palavra barba fica babaSíntese J – á = já; l – i – x – o = lixoSegmentação v – ó = vó, m – o – l – a = molaTransposição alé = ela; óva = avó; ôla = alô