Post on 09-Nov-2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES
REITORA
MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA DINIZ
VICE-REITOR
BERNARDINA MARIA JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA
DIRETOR DO CCTA
JOSÉ DAVID CAMPOS FERNANDES
VICE-DIRETOR
ULISSES CARVALHO DA SILVA
CONSELHO EDITORIAL
CARLOS JOSÉ CARTAXO
GABRIEL BECHARA FILHO
HILDEBERTO BARBOSA DE ARAÚJO
JOSÉ DAVID CAMPOS FERNANDES
MARCÍLIO FAGNER ONOFRE
EDITOR
JOSÉ DAVID CAMPOS FERNANDES
SECRETÁRIO DO CONSELHO EDITORIAL
PAULO VIEIRA
LABORATÓRIO DE JORNALISMO E EDITORAÇÃO
COORDENADOR
PEDRO NUNES FILHO
Edi t or a do
CCTA
ENEIDA MARTINS DE OLIVEIRA
TEXTOS MULTIMODAIS NA MÍDIA IMPRESSA
Divulgação Científica,Reportagens,Índice
EDITORA DO CCTAJOÃO PESSOA
2017
4
O48t Oliveira, Eneida Martins de.Textos multimodais na mídia impressa: divulgação científica, reporta gens, índice / Eneida Martins de Oliveira. João Pessoa: Editora do CCTA, 2017. 51 p. : il. ISBN: 978-85-9559-037-3 1. Linguística. 2. Multimodalidade. 3. Mídias Impres- sas. I. Título. UFPB/BS-CCTA CDU: 801
Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Setorial do CCTA da Universidade Federal da Paraíba
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 7
MULTIMODALIDADE ........................................................................ 9
1 – VALOR INFORMATIVO...............................................................14
O DADO E O NOVO: O VALOR INFORMATIVO DA DIREITA E DA ESQUERDA.........................................................................................................................14
2 – SALIÊNCIA........................................................................................17
A IMPORTÂNCIA DAS CORES.......................................................18
3 – FRAMING (ESTRUTURAÇÃO, ENQUADRAMENTO)....21
ANÁLISE DOS TEXTOS......................................................................29
2.1 – UM BRINDE AOS SUCOS.........................................................29
2.2 – CASCAS E POLPAS......................................................................31
I – ÍNDICE DA REVISTA VEJA.........................................................42
II – ÍNDICE DA REVISTA ÉPOCA...................................................44
III - ÍNDICE DA REVISTA ISTO É..................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................47
REFERÊNCIAS .......................................................................................49
6
7
INTRODUÇÃO
O que apresentamos a seguir, neste pequeno e
despretensioso livro é o resultado de alguns trabalhos
apresentados em Seminários e Congressos, quando da
realização do Curso de Doutorado em Linguística na UFPB. O
objetivo desses trabalhos foi o de analisar a multimodalidade
em textos de uma revista de divulgação científica, a revista
Saúde e três revistas de circulação nacional: Veja, Isto É e
Época. Da revista Saúde trabalhamos com dois artigos
intitulados: “Um brinde aos sucos” e “Cascas & polpas” que
trazem informações sobre o poder dos sucos e as propriedades
de algumas frutas contra diversos males do organismo.
Verificamos como se dá o uso e a exploração da linguagem
visual e verbal nesse gênero. E, mais adiante, analisamos
os textos multimodais em reportagens e índice nas outras
revistas já mencionadas.
Trabalhamos com dois temas de reportagens em cada
uma delas, totalizando seis reportagens e com o Índice de
cada uma delas. Assim, verificamos como se dá a exploração
da multimodalidade nessas mídias impressas.
9
MULTIMODALIDADE
A multimodalidade está presente nas interações orais
de que participamos (conversa espontânea, bate-papo virtual)
ou na leitura que fazemos de um texto impresso, manuscrito
ou na tela do computador. Em consequência disso,
[...] “os gêneros textuais falados e escritos são também multimodais, porque, quando falamos ou escrevemos textos, usamos, no mínimo, dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografia, palavras e sorrisos, palavras e animações, etc. (DIONISIO, 2005a, p.178).
Isso significa dizer que em todas as situações
comunicativas nós utilizamos os nossos conhecimentos
para organizar, de forma harmônica, todos os recursos
verbais e visuais existentes nas interações comunicativas.
A multimodalidade encontra-se, portanto, nas múltiplas
linguagens que utilizamos em situações de comunicação.
Quando falamos, por exemplo, utilizamos, além da fala, gestos,
movimentos com a cabeça, entoações, etc... que vão ajudar a
construir o sentido do texto que estamos falando, indicando-
nos se fazemos uma crítica, um elogio, se ironizamos, entre
outros. Na escrita usamos a multimodalidade quando temos
10
o texto verbal (escrito) incorporado a uma imagem ou outra
linguagem visual, como desenhos, fotografias, pinturas,
caricaturas. Esses aspectos visuais estão atrelados à própria
disposição gráfica do texto no papel.
Os estudos sobre a multimodalidade têm como
representantes, no Brasil, Dionísio (2005), Vieira [et al.], 2007,
Almeida (org.), 2008, entre outros, que fundamentam seus
estudos na Gramática do Design Visual proposta por KRESS e
van LEEUWEN (1996).
Para fundamentar os estudos da linguagem visual –
imagens, textos multimodais - Kress e van Leeuwen (1996),
partindo da Linguística Sistêmico Funcional, considerando a
linguagem como uma prática social, propõem a Gramática do
Design Visual, com o objetivo de subsidiar a análise sistemática
das estruturas visuais e outros códigos semióticos. Levam em
conta o fato de as análises até então enfocarem o léxico das
imagens, no campo denotativo e conotativo ou iconográfico ou
significante dos elementos nas imagens. Enfatizam o contexto
social, cultural e político – toda a linguagem visual utilizada
pelo autor do texto está necessariamente ligada ao social, ao
cultural. A escolha das imagens, cores, etc... é determinada
social ou culturalmente, assim como os seus significados.
A GVD descreve a forma como pessoas, lugares e coisas
combinam ou se ordenam numa composição de maior ou
menor complexidade ou extensão, assim como a gramática
normativa, na linguagem, descreve as regras que combinam
11
os elementos formais para compor palavras. À semelhança da
gramática tradicional da língua a GVD é quase um manual
de análise do texto visual midiático, com regras utilizadas
para essas análises que podem não se aplicar integralmente
à produção de textos multimodais (visual/verbal), visto não
contemplar o processo de produção do texto.
“Tal como as estruturas linguísticas, as estruturas visuais apontam às interpretações particulares da experiência e formas da interação social O que é expresso na língua com a escolha entre classes de palavras diferentes, estruturas de uma oração, pode, em comunicações visuais, ser expresso através da escolha entre usos diferentes da cor ou estruturas composicionais diferentes. E isso afetará o significado. Expressar algo verbalmente ou visualmente, faz alguma diferença”. (KRESS & van LEEUWEN, 1996, p.2).
Essa afirmativa baseia-se no pressuposto que, assim
como a linguagem verbal, a linguagem visual tem sintaxe
própria, onde os elementos são organizados em estruturas
visuais para comunicar um todo coerente até então associado
à análise crítica dos textos verbais.
Kress & van Leeuwen, assim como Halliday também
enfatizam a função social da linguagem, considerando os
contextos social e cultural como influenciadores das escolhas
feitas pelos produtores de textos.
12
Dentre as funções renomeadas pelos autores acima,
destacaremos a função composicional, por estar mais próxima
da análise feita neste trabalho.
Com relação à função composicional Kress & van
Leeuwen (1996) apresentam três princípios de composição que
são sistemas inter-relacionados, com os quais a composição
relaciona os sentidos representacionais e interativos nos
textos. Aplicam-se, segundo os autores, a materiais visuais
que combinam texto e imagem, portanto, ao texto multimodal.
São eles:1. Valor informativo3 2. Saliência. 3. Framing.
A localização dos ele-mentos (dos partici-pantes e dos sintagmas que os conectam uns aos outros e ao espec-tador) lhes confere va-lores informativos es-pecíficos relacionados às várias “zonas” da imagem: esquerda e direita, parte superior e parte inferior, centro e margem.;
Os elementos (parti-cipantes e sintagmas representacionais e in-terativos) são dispostos para atrair a atenção do espectador em dife-rentes graus, realizan-do-se através de certos fatores como o posicio-namento em primeiro ou em segundo plano, o tamanho relativo, os contrastes quanto ao tom (ou à cor), diferen-ças quanto à nitidez, etc.;
A presença ou ausên-cia de estratégias de framing (realizadas através de elementos que formam linhas divisórias ou mesmo através das próprias linhas do frame, isto é, do enquadramento da figura) desconecta ou conecta elementos da imagem, indicando que, em algum senti-do, eles dependem ou não uns dos outros. (Kress e van Leeuwen (1996 p.183, tradu-ção: Leonardo Mozd-zenski).
1 1 Original: 1. Information value. The placement of elements (partipants and stntagms that relate them to each other and to the viewer) endows them with the specific informational values attached to the various ‘zones’ of the image: left and right, top and bottom, centre and the margin. 2. Salience. The elements (participants and representational and interactive sintagms) are made to attract the viewer’s attention to different degrees, as realized by such factors as placement in the foreground or background, relative size, contrasts in tonal value (or colour), differences in sharpness, etc. 3. Framing. The presence or absence of framing devices (realized by elements which create dividing lines, or by actual frame lines) disconnects or connects elements of the image, signifying that they belong or do not belong together in some sense.
13
Esses três princípios de composição se aplicam não apenas a simples figuras,... mas também a materiais visuais complexos que combinam texto e imagem – e talvez outros elementos gráficos –, e que estejam numa página ou na televisão ou ainda na tela de computador. Na análise desses textos complexos ou multimodais (e qualquer texto cujos sentidos são produzidos através de mais de um código semiótico é multimodal), a questão a ser levantada é se os produtos dos vários códigos deveriam ser analisados separadamente ou de modo integrado; se os sentidos do todo deveriam ser tratados como a soma dos sentidos das partes; ou se as partes deveriam ser observadas interagindo entre si e produzindo efeitos umas sobre as outras (MOZDZENSK, 2006, p. 3-4)
Os princípios são apresentados para orientar as análises
dos textos multimodais, questionando-se o modo como devem
ser analisados esses vários códigos, se de forma integrada ou
separadamente, considerando-se a soma dos sentidos das
partes ou a interação das partes entre si.
Na análise do texto multimodal, de acordo com o que
foi dito acima, devemos considerar que a imagem não é uma
ilustração do texto verbal, nem este é mais importante que
a imagem. Devemos “tratar o texto verbal e o visual como
elementos completamente discretos. Procuramos tornar
possível que se olhe para toda a página como um texto
integrado.” (MOZDZENSK, 2006, p. 4).
É importante salientar nessa análise, alguns elementos
mencionados nos princípios acima, que servirão de orientação
14
ao leitor, ajudando-o a interpretar e encontrar os significados
do texto.
Vejamos princípios de composição.
1 – VALOR INFORMATIVO
Nesse princípio os autores dão destaque especial
para a localização dos elementos (participantes, sintagmas,
observador) no texto, atribuindo-lhes valor de informações
específicas ligadas às várias “zonas” da imagem. E ainda com
relação a informações “velhas” e “novas” o Dado e Novo
comentados abaixo.
O DADO E O NOVO: O VALOR INFORMATIVO DA DIREITA E DA ESQUERDA
O Dado e do Novo, ou do valor informativo da direita
e da esquerda explica-se pela “disposição dos elementos na
composição dos modos semióticos” (FERRAZ, 2007, p.139 )
e constitui-se fator de valorização da informação: o que está
à esquerda é o “dado”, aquilo que é conhecido do leitor, que
lhe é familiar, consensual; à direita localiza-se o “novo”, algo
que ainda não é conhecido do leitor, com o qual ele pode não
concordar e que, por isso, necessita de uma maior atenção.
Esse funcionamento de esquerda e direita está
relacionada ao sistema de escrita ocidental, em que tanto
a leitura quanto a escrita são feitas da esquerda para a
direita. Não se refere, a nosso ver, à localização espacial das
15
informações no texto, pois, vale salientar, que nem sempre os
textos reais seguem essa orientação. Defendemos a hipótese de
que qualquer que seja esse lugar onde apareça a informação,
a leitura é que será sempre feita da esquerda para a direita.
A hipótese acima baseia-se no seguinte questionamento:
a) é possível, no texto verbal, estabelecer essa marca
separando os dois lados?
b) no texto visual, como separar na imagem, direita e
esquerda?
c) como seria a classificação, nos casos em que a
informação nova está extratexto? Nos
textos em é possível visualizar ou identificar o Dado e
o Novo, nessa perspectiva de direita e esquerda, podemos
considerar o Novo como anáfora11, visto ser algo que se
refere ao que já foi dito no texto, ou seja, o Dado. Mas, como
explicar, ou analisar a catáfora? d) no caso da produção
textual, o autor produz primeiramente o texto verbal para, a
partir dele, construir o visual. Onde ficam o Dado e Novo? No
texto verbal (Dado) e no visual (Novo)? E se a imagem já for
conhecida do leitor?
A leitura do texto verbal faz-se da esquerda para a
direita (no mundo ocidental). Mas, no texto visual, o leitor lê,
ou apropria-se da imagem como um todo, não em partes.
O que é Novo para um leitor, pode não o ser para outro.
Isso depende do grau de letramento desse leitor e do acesso
às diversas modalidades textuais.
16
Explicando essa estrutura do Dado e do Novo Kress e
van Leeuwen (1996) afirmam: A estrutura Dado-Novo não
se aplica apenas ao que poderíamos convencionalmente
denominar de texto único. Como já mencionamos, as revistas
podem ter uma propaganda na página esquerda e um artigo
jornalístico na página direita seguinte, considerando dessa
forma os anúncios como o Dado material editorial, pela
informação sobre o “mundo real” que oferece. (MOZDZENSKI,
2006,p. 12).
O que é importante salientar, além da localização
espacial da informação no texto, é que o Dado precisa ser
apresentado como algo que o leitor já conhece, algo que já
lhe é familiar, consensual, e o Novo é aquilo que deve ser
apresentado como alguma coisa ainda desconhecida do
leitor e, por esse motivo, necessita de especial atenção, como
afirmam os autores
Em termos gerais, o sentido do Novo é, portanto, problemático”, “contestável”, “a informação em debate”; enquanto o Dado é apresentado como consenso, que dispensa explicações. Essa estrutura é ideológica no sentido de que pode não corresponder ao caso do produtor ou do consumidor real da imagem ou do layout: o ponto importante é que a informação é apresentada como se tivesse esse status ou esse valor para o leitor, e que os leitores devem lê-la dentro dessa estrutura, mesmo se essa avaliação for depois rejeitada por algum leitor em particular. (MOZDZENSK p. 8).
17
Essa estrutura do DADO e do NOVO encontra-se tanto
nos textos multimodais que utilizam imagens e texto verbal,
como vimos, quanto em filmes e na televisão. Devemos
salientar que, conforme dito na citação acima, a leitura dentro
da estrutura proposta pode ser rejeitada pelo leitor, o que, a
nosso ver, respalda a hipótese que defendemos acima.
2. SALIÊNCIA
Na saliência os elementos (participantes e sintagmas
visuais representacionais ou interativos) são dispostos para
chamar a atenção do leitor ou do espectador em diferentes
graus que vão da saliência mínima à saliência máxima.
Realizam-se através de fatores tais como a localização ou
disposição dos personagens no primeiro ou no segundo plano,
o tamanho relativo de representantes, os contrastes de tons e
cores, as diferenças de brilho (nitidez). A saliência pode gerar
relações de hierarquia, quando dá ênfase a alguns elementos
destacando-os como mais merecedores de atenção que
outros, como afirmam Kress & van Leeuwen (1996, p. 212)
... a composição de uma imagem ou de uma página também envolve diferentes graus de saliência com relação aos seus elementos. Independentemente de onde estejam posicionados, a saliência pode criar uma hierarquia de importância entre os elementos, selecionando algum como o mais importante, como o merecedor de maior atenção que os demais. (MOZDZENSK p.30).
18
Essa hierarquia, essa importância maior dada aos
elementos faz com que eles chamem mais a atenção do
leitor/espectador e é construída pelo contraste das cores –
saturadas e suaves, pelo brilho, superposição, contraste tonal,
posicionamento no campo visual, perspectiva – objetos em
primeiro plano são mais salientes que objetos em segundo
plano.
No caso da saliência, as cores têm uma função muito
importante na hierarquia entre os elementos, como vimos
acima e, por essa razão, é necessário falar um pouco sobre
essa função que as cores exercem no texto visual.
A IMPORTÂNCIA DAS CORES
As cores têm um papel fundamental na composição
visual. No texto devemos analisá-las, procurando verificar o
que representam simbolicamente. A simbologia das cores é
conhecida de todos nós, por exemplo, o branco representa
paz, espiritualidade, pureza; o vermelho simboliza sangue
(vida ou morte), guerra, e é também, ainda hoje, bandeira
de regimes políticos; o preto simboliza o luto, a viuvez, a
escuridão. Toda essa simbologia tem um significado que é
situado culturalmente. No texto, porém, a escolha das cores
depende não apenas do contexto cultural e da simbologia,
mas, principalmente, do grau de letramento do produtor do
texto e está intencionalmente relacionada ao texto verbal.
19
Com referência ao uso das cores no texto, Taylor (1989,
p.3) argumenta que
... não há base para a demarcação física da cor em categorias discretas. Esse ponto de vista é aceito pelo fato de que as línguas diferem muito consideravelmente, ambos levam em conta o número de termos de cor que possuem e a gama denotacional destes termos1.
Isto é, as cores são as mesmas em qualquer lugar, porém,
em cada língua há um número considerável de termos para
nomear as cores, termos esses que diferem também quanto ao
aspecto denotacional.
Essa vasta gama de cores visíveis constitui um continuum tridimensional, definido pelos parâmetros de comprimento de onda de tonalidade da luz refletida, luminosidade (a quantidade de luz refletida), e saturação (liberdade de diluição com branco).p.32
Essa afirmativa respalda o que diz Cardoso (2008 p.
68/69) com relação à função da cor
como marcador da modalidade naturalista (representação visual) a cor apresenta três escalas; a) cores saturadas – escala que vai da saturação inteira da cor até a ausência total de cores; b) cores diversificadas – escala que vai de uma diversificada série de cores até a monocromia; c)cores modalizadas – escala
1 T his view is supported by the fact that languages differ very considerably, both whit regard to the number of colour terms they possess, and with regard to the denotational range of these terms. P. 3
2 This view is supported by the fact that languages differ very considerably, both whit regard to the number of colour terms they possess, and with regard to the denotational range of these terms. P. 3
20
que vai do uso de diversos tons de uma cor (cores moduladas) até o uso de uma só cor (cores não moduladas).
Essas escalas de cores aparecem nas imagens que
compõem o texto multimodal, embora nem sempre recorramos
a elas, na análise dos aspectos visuais desses textos.
Na perspectiva de Taylor (1989),
Não há uma gradação de continuidade da cor de um extremo ao outro. Ou seja em qualquer ponto é apenas uma pequena diferença nas cores imediatamente adjacentes a ambos A gradação continua que existe na natureza é representada em um idioma por uma série de categorias discretas p.53
Essas pequenas diferenças nas cores são representadas
em cada língua por termos específicos que as identificam.
As tonalidades e os diversos matizes de uma cor no texto
multimodal são fatores que realizam os contrastes que chamam
a atenção do leitor (espectador), em diferentes graus, como
explicado no princípio da saliência.
Isso justifica o caráter distintivo da cor na leitura do
texto multimodal, por exemplo, diante da imagem de dois
copos com líqüidos de cores distintas, é possível diferenciar o
conteúdo de cada copo em função da cor apresentada, como
se pode ver nas imagens abaixo: (OLIVEIRA, 2007, p 3).
3 There is a continuum gradation of color from one end to the other. That is at any point is only a small difference in colors immediately adjacent to both sides….The continuum gradation of color which exist in nature is represented in a language by a series of discrete categories
21
Figura 3 – um brinde aos sucos
Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 14-16 onde é
possível identificar o tipo de suco que cada copo contém, pela
cor do próprio suco, comprovando assim o importante papel
das cores na leitura e análise do texto multimodal. O texto
verbal, neste caso, traz as informações nutricionais de cada
suco.
3. FRAMING (ESTRUTURAÇÃO, ENQUADRAMENTO)
Esse princípio apresenta a disposição dos modos
semióticos no texto, como fator de composição de significados.
Refere-se também à presença ou ausência de recursos
estruturais conectando ou desconectando os objetos ou
elementos da imagem. Quando essas estruturas ou recursos
estão presentes, os elementos são desconectados, visualmente
22
separados de outros, através de espaço vazio entre os
elementos, descontinuidade de cor. Quando há ausência
dessas estruturas, os elementos são ligados em um fluxo
contínuo, através de cores e formas semelhantes, de recursos
de enquadramento, vetores.
Com respeito a esse princípio Kress & van Leeuwan
(1996, p. 214/215) afirmam
[....] os elementos ou grupos de elementos são também desconectados, separados uns dos outros, ou conectados, todos juntos reunidos. E o framing visual é também uma questão de gradação: os elementos da composição podem estar mais fortemente ou mais fracamente enquadrados. Quanto mais forte o framing de um elemento, mais ele é apresentado como uma unidade separada da informação. .(MOZDZENSK, 2006, p. 33).
O framing é, portanto, responsável por uma estruturação
fraca da imagem, quando os seus elementos estão conectados
e, quando há a desconexão, dizemos que há uma conexão
forte. A presença do framing também indica individualidade,
diferenciação, enquanto sua ausência indica, ou enfatiza a
identidade grupal. (MOZDZENSK p. 33).
A imagem que apresentamos a seguir exemplifica o
framing. Destacam-se dois planos, o que nos permite perceber
que o enfoque da reportagem, pelo destaque da foto em
primeiro plano, está nos passageiros prejudicados pela crise
da empresa, apesar das promessas e planos anunciados pelo
23
governo e pelos dirigentes da companhia para socorrê-los. A
foto mostra um aglomerado de pessoas desnorteadas, sem
saber para onde ir ou a quem recorrer. Num segundo plano,
ao lado dessa foto está uma outra, de tamanho bem menor,
mostrando os aviões parados, estacionados em um outro
aeroporto. Essas imagens se destacam, chamam a atenção do
leitor que, em primeiro lugar lê o visual, para depois ler o
verbal. Dependendo do interesse do leitor, os planos podem se
inverter, o que está em primeiro passa a segundo e vice-versa.Revista Época nº 423, 26/6/2006, p.28 imagem 34
Figura 4 –Os passageiros pagam a conta
Procuramos mostrar alguns dos principais pontos da
Gramática do Design Visual, com destaque para os princípios
de composição. Pudemos observar que, à semelhança da
Gramática Tradicional, esses princípios funcionam como
regras que se aplicam ou se tenta aplicar à análise de textos
considerados multimodais, isto é, têm caráter meramente
aplicativo, como demonstram alguns dos autores consultados
(Rocha, 2007; Ferraz, 2007; Almeida e Fernandes, 2008;
Souza e Aquino, 2008; Cardoso, 2008; Delphino, 2006, entre 4 Ver referência
24
outros), que em suas análises procuraram mostrar a aplicação
dos princípios propostos por Kress & van Leeuwen a textos da
mídia, alguns dos quais utilizados em salas de aula de língua
portuguesa.
Referindo-se ao funcionamento aplicativo e remetendo
a uma certa ingenuidade quanto à análise, BUZATO (2007)
faz a seguinte crítica :
Felizmente, outros autores procuram abordar a relação entre o verbal e o visual de forma menos ingênua e mais centrada na heterogeneidade constitutiva dos discursos digitais assim como na sua imbricação com os processos sistêmicos de produção e/ou transformação do social que tais discursos realizam e representam. (p.115).
Dionísio (2005) define multimodalidade como – um
traço constitutivo do discurso oral e escrito – (DIONÍSIO, 2005,
p.161) e justifica o seu posicionamento levando em conta as
novas formas, ou a diversidade que a escrita vem apresentando
na mídia, em razão do desenvolvimento tecnológico. Por isso,
a nossa maneira habitual de ler um texto está sendo revista,
está sendo re-elaborada constantemente.
Dois anos antes, os estudos da linguagem visual já eram
tema nas escolas de ensino fundamental e médio, sob o nome
de cultura visual, conforme nos mostra a reportagem de capa
da Revista Nova Escola, de abril de 2003. O texto em questão
começa afirmando que, “ao desvendar o universo visual
de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo,
25
compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos
e lugares.” (GENTILE, 2003, p. 45). As imagens que vemos
cotidianamente estão repletas de informações sobre a nossa
cultura e o nosso mundo e, sendo assim, o aprender a ler
essa linguagem visual dá-nos condições de conhecer melhor
a sociedade em que vivemos, a cultura de cada época e ter
contato com a cultura de outros povos. Como se percebe,
apesar de não nomeada, a multimodalidade já era discutida
por alguns educadores.
Argumentando sobre o seu conceito de multimodalidade,
Dionísio parte dos seguintes pressupostos:
1. “as ações sociais são fenômenos multimodais;
2. os gêneros textuais orais e escritos são multimodais;
3. o grau de informatividade visual dos gênero textuais
da escrita se processa num contínuo; e
4. há novas formas de interação entre o leitor e o texto,
resultantes da estreita relação entre o discurso e as
inovações tecnológicas.(2005a, p. 161)
A multimodalidade dos gêneros textuais explica-se, pela
multimodalidade das ações sociais, porque,
[...] “quando falamos ou escrevemos um texto, estamos usando no mínimo dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografias, palavras e sorrisos, palavras e animações etc..” (DIONISIO, 2005a, p. 161-162).
26
É nos gêneros textuais que se materializam as ações
individuais e sociais que são manifestações culturais, realizadas
através da linguagem.
Com relação à premissa de que todos os gêneros textuais
escritos e falados são multimodais, a autora chama a atenção
para a diferença de níveis de “manifestação da organização
multimodal”.
Há que se considerar também o grau de informatividade
visual dos gêneros textuais escritos, que vai do “menos
visualmente informativo ao mais visualmente informativo”.
Falando sobre as formas de interação leitor/texto,
Dionísio destaca a variedades de recursos tecnológicos que
estão a serviço da comunicação humana, na atualidade,
permitindo “não só a criação de uma infinidade de
manipulação gráfica em computadores, mas também a rápida
propagação da informação, e consequentemente de novas
formas de apresentação da escrita”. (DIONISIO, 2005, p.169).
Uma coisa que já está se tornando frequente é a
preocupação de professores em inserir, em suas salas de
aula, gêneros textuais diversos e recursos tecnológicos
modernos. Os livros didáticos também estão usando cada
vez mais essa diversidade de gêneros, recorrendo, inclusive,
a textos publicitários, jornais, etc.. A preocupação que surge
é de natureza teórico-metodológica, ou seja, como essas
informações estão relacionadas e como são veiculadas através
de palavras e imagens? Quais são as orientações que os
27
livros didáticos apresentam para a leitura dessas formas de
representação de conhecimentos?
Torna-se necessário, portanto, que o professor esteja
atento para o fato de que para trabalhar com todo esse
aparato, são apresentadas diferentes especificações de
multimodalidade e são exigidos, em conseqüência, diferentes
letramentos.
Hoje, com o avanço da tecnologia, recebemos uma
grande quantidade de informação veiculada pelos diferentes
meios de comunicação que se utilizam de várias linguagens
para transmitirem as suas informações. Em decorrência desse
fato, tem crescido o interesse pela multimodalidade dos meios
lingüísticos. Conforme (DELPHINO, 2006, p.1), “A história da
escrita demonstra que as sociedades humanas usaram, ao
longo do tempo, vários modos de representação, cada qual
com um potencial representacional, com um valor específico
em contextos particulares sociais”.
Os jornais e revistas, como meios de informação
intrinsecamente relacionados com a tecnologia, também têm
avançado, dada a necessidade de transmitirem, com rapidez,
um número cada vez maior de mensagens. Eles utilizam pelo
menos duas linguagens em seus textos: a visual e a verbal.
Essas linguagens vêm associadas (imagens e texto verbal),
procurando despertar o leitor, criando um certo impacto, e
dando a ele a chance de ler essas mensagens num menor
espaço de tempo. Como se pode verificar, no estudo que
28
fizemos, o recurso visual/gráfico, imagens e recursos de
composição destacam-se em detrimento do estritamente
verbal, de forma a promover a mescla das duas modalidades
escritas – verbal e visual/gráfica.
29
ANÁLISE DOS TEXTOS
2.1 – UM BRINDE AOS SUCOS1
Regina Célia Pereira
O artigo “Um brinde aos SUCOS” – Regina Célia Pereira
vem na secção Nutrição e ocupa três páginas. Em destaque
está a imagem de copos de suco de cores fortes e variadas, de
tamanho normal (de um copo) e, ao lado de cada copo, a fruta
ou legume a que corresponde cada suco. Chama a atenção
também a disposição dos copos na página, a expressão em
negrito falando para que serve cada suco e o texto verbal, em
coluna, vem abaixo ou ao lado dos copos, com informações 1 Revista Saúde, nº 278 outubro 2005. P. 14-16
30
sucintas sobre a utilidade do suco, a procedência da informação
nutricional e da pesquisa ou estudo feito a respeito. O nome da
Universidade e do pesquisador dão credibilidade à informação
que está sendo divulgada.
O primeiro copo da página mostra a imagem de uma
jarra despejando o suco no copo. Isso leva o leitor a inferir que
os sucos mostrados são naturais, ou podem ser feitos em casa.
Uma coluna anterior aos copos traz as informações a respeito
dos autores da matéria e, logo abaixo, mais informações sobre
o artigo.
Em destaque ainda, abaixo de cada copo, um
guardanapo de pano, com bainhas, o que atribui um ar de
requinte ou de seriedade, ou ainda mostra ambientes finos,
onde são respeitadas etiquetas.
Pelo que se pode perceber, a informação velha, aquela
que o leitor já conhece, vem através da imagem dos copos
de suco, enquanto a informação nova, com as propriedades
e utilidades desses sucos, é mostrada no texto verbal, que é
meramente informativo.
Um desses textos verbais traz como título Direto da
Amazônia e apresenta a fala de uma pesquisadora do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia mostrando a importância
dos sucos daquela região com ricas informações a respeito da
ação dessas frutas para o organismo humano.
31
2.2 – CASCAS E POLPAS2
Regina Célia Pereira
Em um dos textos da reportagem anterior (Um brinde
aos sucos) há, entre parênteses, uma informação que fala
de utro artigo da revista, sobre frutas. Isso remete o leitor a
esse outro artigo, que também ocupa duas páginas. O Título,
“Cascas & Polpas”, em caixa alta e fontes grandes preenche as
duas páginas. Os textos informativos, ao lado de cada fruta,
trazem o nome da fruta e um número sequencial em caracteres
maiores e na cor verde. No corpo do texto, informações sobre
a casca e a polpa de cada fruta, cujas imagens mostram uma
fruta inteira e outra fruta cortada. Na segunda página, o
destaque é a imagem da laranja, inteira e partida, como se
fosse em zoom, recurso que aproxima a imagem, e o texto 2 Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 22-23.
32
correspondente ocupam toda a página e a imagem da fruta
ultrapassa, inclusive, as margens dessa página. No texto verbal
ao lado, há a expressão “campeã em vitamina C”. Certamente,
isso explica e/ou justifica o tamanho da imagem da laranja,
diferindo das outras imagens da página anterior.
Com relação à informação nova e velha, vale aqui o
que já foi dito na análise anterior, merecendo destaque o fato
de os textos verbais trazerem os títulos e subtítulos em cores,
chamando a atenção do leitor para o que está sendo dito a
respeito da fruta apresentada.
Mostraremos, a seguir, a análise proposta das
reportagens já mencionadas acima.
I - Reportagem 13
Título: Mulher, e defensora dos gays
Seção Primeiro Plano
Imagem principal foto n°
3 Revista Época nº 423, 26/6/2006, p. 12
33
A página da reportagem começa com o título, seguido
do texto escrito padrão, aliado à imagem fotográfica na parte
central da página, um quadro onde aparece a figura de uma
mulher elegante, com vestes clericais, falando de um púlpito.
A sua fisionomia, com um ar de sorriso, demonstra confiança
e transmite segurança, e é esse o foco principal da imagem.
Como pano de fundo, em segundo plano, há uma grande cruz
e por trás uma cortina de cores diferentes, o que leva o leitor a
inferir que aquele local é uma igreja. Esses detalhes, juntamente
com o púlpito, na parte central da fotografia, constituem-se
na informação velha, aquela conhecida do leitor, o que lhe
permite fazer inferências a respeito do lugar de onde fala
a mulher. Á direita, na fotografia, um pequeno texto escrito
com informações sobre a figura da mulher, o que permite
compreender a imagem e, na parte posterior esquerda, um
pequeno box com informações sobre a personagem principal.
Box foto n° 2
34
A informação nova trazida ao leitor é a figura da mulher
cujos traços, descritos acima, ajudam a construir o seu perfil,
para exercer as funções a ela atribuídas, bem como para proferir
um discurso expondo o seu posicionamento sobre um tema
polêmico para grande parte da sociedade e, principalmente,
para a Igreja e justificando o título da reportagem.
O interesse pelo texto escrito aumenta a partir da
imagem e das informações sobre ela. Observa-se, ainda, na
parte superior esquerda da imagem principal, um carimbo, ou
selo, com os dizeres: personagem da semana, o que desperta
ainda mais a curiosidade do leitor.
II – Reportagem 24
Título: Ficaram na mão
Autoria: Rafael Pereira
Imagens principais foto n° 3
O título resumido da reportagem é bem representado
pela fotografia que mostra muitos passageiros num aeroporto, 4 Revista Época nº 423, 26/6/2006, p. 12
35
à busca de solução para as sua viagens interrompidas pelos
problemas porque passa uma das companhias aéreas mais
respeitadas do país, até então. Percebe-se que o enfoque
da reportagem, pelo destaque da foto, está nos passageiros
prejudicados pela crise da empresa, apesar das promessas
e planos anunciados pelo governo e pelos dirigentes da
companhia para socorrê-los. A foto mostra um aglomerado
de pessoas desnorteadas, sem saber para onde ir ou a quem
recorrer. Ao lado dessa foto está uma outra, de tamanho
bem menor, mostrando os aviões parados, estacionados em
um outro aeroporto. Essas imagens se destacam, chamam
a atenção do leitor que, em primeiro lugar lê o visual, para
depois ler o verbal.
As informações novas e velhas se mesclam nas duas
imagens, visto que a crise da empresa já vem sendo discutida
há algum tempo em toda a mídia.
III – Reportagem 35
Título: Os passageiros pagam a conta
Autoria: Ronaldo França
Imagem principal foto n° 45 Revista Veja, edição 1962, ano 39, n° 25, p. 80-81
36
Nesta reportagem, embora o título fale dos passageiros,
o destaque é para a crise da empresa. A foto que se destaca é a
de muitos aviões parados no estacionamento de um aeroporto
e um pequeno texto na parte inferior direita confirma isso, pois
informa que são aviões arrestados6, o que mostra o tamanho
das dívidas da companhia e, ao mesmo tempo, o prejuízo que
tem com as suas aeronaves em solo.
A frase título começa então a tomar sentidos, ou seja,
os passageiros pagam a conta das suas viagens canceladas e
pagam também o desgoverno da empresa que não consegue
mais honrar o seu compromisso com eles.
Ao lado do texto escrito, em segundo plano, aparece a
imagem dos passageiros que procuram atendimento. (foto n°
5) É a mesma foto utilizada pela Revista Época. Abaixo da foto
um box com números relativos à crise, sob o título: Retrato do
Caos.
Com relação às informações elas se mesclam nas duas
imagens, como na análise anterior.Foto n° 5IV – Reportagem 47
Título: Mercado NegroAutoria: Carlos Maranhão e André Fontelle, de Munique
6 Embargados pela justiça 7 Revista Veja, edição 1962, ano 39, n° 25, p. 88-89
37
A imagem principal, no início da página 88, mostra
uma grande multidão numa estação de metrô. Em destaque
vemos a bandeira do Brasil aberta nas mãos de torcedores
e, um pouco atrás, a bandeira dos Estados Unidos, também
carregada por torcedores. À frente vemos algumas pessoas
com cartazes, à procura de alguém e, mais à frente ainda,
um torcedor vestindo uma camisa com as cores do Brasil. Esta
fotografia chama a atenção pelo grande número de pessoas
circulando num espaço não tão grande, pela quantidade de
pessoas de verde e amarelo e, pela bandeira do Brasil que o
fotógrafo fez questão de destacar.
Foto n° 6
A princípio, parece não haver nenhuma ligação do
título com a foto, o que começa a ser entendido quando se
lê a imagem que vem na parte inferior direita da página, em
proporção bem menor que a foto principal. Abaixo da foto
aparece um pequeno texto escrito identificando o cidadão
fotografado, a sua relação com a copa e o porquê da sua
presença na reportagem: haver sido punido pela Fifa.
38
Foto n° 7
A imagem revela uma ironia, um certo ar de deboche.
Para quem foi punido por algo considerado grave, aquele
dirigente se deixa fotografar rindo, como quem não dá a
menor importância para o acontecido.
Na página seguinte, temos a imagem do bilhete
comprado no câmbio pela reportagem da Veja, e que traz a
identificação da CBF. Um pequeno texto identificando a foto
traz inclusive o preço pago pelo referido ingresso. A outra
imagem, na parte inferior esquerda da página, traz um
cambista (espanhol) e, como compradores alguns brasileiros,
pois se vestem com camisas com as cores do Brasil.
As imagens, lidas em primeiro plano, levam o leitor
a ler a reportagem à procura de informações novas. A
informação velha é aquela já do conhecimento do leitor e
veiculada também pela mídia, de que havia muitos brasileiros
sem ingressos para assistir aos jogos da seleção brasileira.
39
foto nº 8 foto n° 9V – Reportagem n° 58
Título: Café em altaAutoria: Cilene Pereira
Foto n° 10
8 Revista Isto É, 28/6/2006, n° 1914 p. 69
40
Essa reportagem traz uma única imagem, na parte
superior direita da página, onde vemos uma xícara, na parte
central da imagem. Ao seu redor, grãos de café e, acima, o
bule que enche a xícara de café, o famoso cafezinho. Destaca-
se nessa imagem o pano de fundo nas cores do café. Um
pequeno texto escrito, na parte superior esquerda da foto leva
o leitor a interessar-se pela reportagem, pois traz informações
sobre alguns benefícios que o café pode trazer para o indivíduo,
no combate a algumas doenças. Abaixo da foto uma frase
iniciada pela palavra SURPRESA, o que mostra a informação
nova trazida pela reportagem. A informação velha é aquela de
que o café está bem cotado no mercado financeiro, ou ainda
de que ele está sendo bastante consumido. A leitura do visual,
mais uma vez desperta a atenção do leitor para a leitura do
texto verbal. Na parte posterior central da página, há um
pequeno box com mais informações sobre as propriedades
medicinais do café.VI – Reportagem nº 69
Título: Pais mandões, filhos gorduchos!Autoria: Greice Rodrigues
Foto n° 119 Revista Isto É, 28/6/2006, n° 1914 p. 70
41
Esta reportagem, que vem na Seção Medicina & Bem-
Estar, inicia-se com a foto acima, ocupando toda a parte
superior da página. Em destaque vemos a figura de uma
criança com as costas da mão sobre os lábios fechados, num
sinal de não aceitação do que lhe está sendo oferecido para
comer. A fisionomia demonstra o descontentamento da criança
e nos leva a inferir que ela sendo obrigada a comer algo de
que não gosta, ou que não quer comer, pelo menos naquele
momento. Dou outro lado, à sua frente, está uma folha de
alface (supõe-se) num garfo segurado por uma mão feminina,
provavelmente da mãe, que leva aquele alimento à boca da
criança, alimento que ela (a criança) já rejeitou quando cerrou
os lábios e colocou a mão sobre eles. Aparentemente teríamos
uma contradição com o título da reportagem, já que alface,
pelo que sabe, não engorda. Há também um pequeno texto
na parte superior da foto, com informações sobre pesquisa a
respeito. O título vem também sobre a foto. Na parte central da
página um pequeno box, com um texto escrito trazendo mais
informações sobre estudos realizados a respeito. Mais uma
vez, a leitura do visual vem em primeiro lugar e, despertado
por ela, o leitor passa a ler o texto escrito.
A partir deste ponto, trabalhamos com o índice
apresentado em cada uma dessas revistas, verificando como
se dá o uso e a exploração da linguagem visual e verbal
nesse gênero, nas citadas mídias impressas.
42
Hoje, com o avanço da tecnologia, recebemos uma
grande quantidade de informação veiculada pelos diferentes
meios de comunicação que se utilizam de várias linguagens
para transmitirem as suas informações. Em decorrência desse
fato, tem crescido o interesse pela multimodalidade dos meios
linguísticos. Conforme (DELPHINO, 2006, p.1), “A história da
escrita demonstra que as sociedades humanas usaram, ao
longo do tempo, vários modos de representação, cada qual
com um potencial representacional, com um valor específico
em contextos particulares sociais”.
Os jornais e revistas, como meios de informação
intrinsecamente relacionados com a tecnologia, também têm
avançado. Eles utilizam pelo menos duas linguagens em seus
textos: a visual e a verbal. Como se pode verificar, no estudo
que fizemos, o recurso visual/gráfico, imagens e recursos
de composição destacam-se em detrimento do estritamente
verbal, de forma a promover a mescla das duas modalidades
escritas – verbal e visual/gráfica..
Vejamos a análise proposta.
I – ÍNDICE DA REVISTA VEJA
A Revista Veja traz o índice após sete páginas de
propaganda. Em destaque três imagens, em tamanho médio,
com as reportagens mais expressivas e distribuídas no lado
esquerdo da folha. A primeira imagem é a da reportagem
de capa, cuja chamada para o texto escrito está dentro da
43
própria imagem, indicando a página onde ele pode ser lido.
Também em destaque a palavra CAPA, chamando a atenção
do leitor para o tipo do artigo. A segunda imagem traz foto
do presidente Lula entre pessoas do povo, conforme indica o
texto escrito da chamada, que está logo abaixo da imagem,
diferente da foto anterior, destacando-se o tópico onde pode ser
lida a reportagem e a página onde ela se encontra. A terceira
imagem traz a foto de um jogador da Seleção Brasileira, num
momento de euforia, provavelmente em comemoração a um
gool feito contra o adversário e, ao lado da foto, os destaques
do tópico e assunto da reportagem. Os títulos das secções
estão, nas três imagens, preenchidos na cor cinza.
No lado direito da página está a indicação das demais
reportagens, com destaque para os títulos dos temas/tópicos,
todos preenchidos na cor cinza. Abaixo, no final da página, um
box com destaque para o portal da Veja on-line, com algumas
informações importantes para o leitor. Vale destacar que a
indicação do ícone da mão (típica de ambientes hipertextuais)
aponta para esta articulação com o portal online.
44
II – ÍNDICE DA REVISTA ÉPOCA
Nessa revista o índice vem logo no começo, após quatro
páginas de propaganda. As imagens, que estão localizadas
no lado esquerdo e também na parte de baixo da página,
trazem destaque para reportagens de seis temas diferentes
abordados pela revista. No alto da página temos a foto do
jogador Ronaldo com as mãos levantadas, batendo palmas,
certamente comemorando algum gool contra o adversário. O
texto escrito da chamada está abaixo da foto, com o tema da
reportagem em negrito e o número da página em vermelho. O
pequeno texto faz um comentário e uma pergunta, instigando
o leitor a ler toda a reportagem. A segunda imagem traz
uma foto de PC Farias e, ao lado, o texto chamando para a
leitura da reportagem. Como na imagem anterior, o tópico
aparece em negrito e, em vermelho, o número da página.
Terceiro destaque é para o tópico saúde, cujo texto de
chamada aparece acima da foto de um tubo de medicamento
homeopático com alguns comprimidos espalhados sobre uma
superfície qualquer. Centralizada na página, na parte inferior,
vemos uma imagem do filme Carros, veiculados nos cinemas,
à época. O texto de chama está acima da foto, destacando-se,
em vermelho, o número da página e, em negrito o tema da
reportagem. A última imagem desse índice, no lado direito,
na parte inferior da página, traz uma foto do comediante
Bussunda, que morreu na Alemanha, no período da Copa do
Mundo de Futebol. Abaixo da foto, em vermelho o número da
45
página e em negrito o tópico da reportagem. Acima dessas
duas últimas imagens estão, destacados em vermelho, os
demais tópicos e reportagens da revista, com suas respectivas
páginas. Em negrito os títulos das reportagens e o número das
páginas correspondentes.
III - ÍNDICE DA REVISTA ISTO É
A Revista Isto É tem tratamento diferente para o seu
índice, como podemos ver. Antes de chegar ao Índice, o leitor
necessariamente passa por páginas de propaganda, por uma
entrevista com o presidente da Oracle do Brasil, a respeito do
uso do computador, tema que interessa a muita gente hoje em
dia, e pela sessão de cartas da revista. O Índice divide a página
com o Editorial da revista e traz apenas três imagens, com fotos
que destacam alguns temas de reportagens apresentadas.
Em destaque também, do lado esquerdo da página, na parte
superior do índice, um box com as informações das páginas
46
de uma outra revista, a TIME, dentro da Isto É, destacando-se
em vermelho, o nome da revista, o tema das reportagens e
número das páginas onde elas podem ser encontradas. Na
parte central da página (dentro do índice), uma foto com uma
pessoa chamando a atenção para o símbolo do Brasil, e o texto
chamando a atenção para a campanha eleitoral que, à época,
estava começando. O tema da reportagem e número da página
aparecem em vermelho. Abaixo dessa imagem uma outra do
filme Carros, também na Revista Época. A foto, porém, não
é a mesma utilizada anteriormente na outra revista. Do lado
esquerdo dessa imagem o texto de chamada da reportagem
e, em destaque, na cor vermelha, o tópico e o número da
página. Do lado direito da página, ocupando todo o espaço do
índice, uma imagem que ultrapassa, inclusive, as margens da
página, modificando a diagramação da revista. Essa imagem
traz uma foto, em preto e branco, de uma modelo, vestindo
algo que deixa parte do seu corpo descoberto, numa aparente
contradição com o título da reportagem: comportamento, que
trata, na realidade, do lançamento de garotas de calendário. O
tópico dessa reportagem e texto de chamada estão dentro
da própria foto, com destaque na cor amarela para o tópico
e número da página onde se pode lê-la. Os demais tópicos
estão na parte central da página, nos limites do índice, acima
das duas primeiras fotos. Os números das páginas aparecem
em vermelho e os temas em negrito.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a análise de um texto multimodal é conveniente que
se estabeleça a relação entre letramento e multimodalidade,
já que os textos multimodais estão por toda parte e precisamos
ser capazes de ler essas mensagens que se utilizam de
múltiplas linguagens na sua produção. O letramento é um
conjunto de práticas que permitem ao indivíduo utilizá-las nas
mais diversas situações da vida onde as práticas de leitura e
escrita sejam exigidas.
Em Dionísio (2005a, p. 159), lemos que
48
“A noção de letramento como habilidade de ler e escrever não abrange todos os diferentes tipos de representação do conhecimento existentes em nossa sociedade. Na atualidade, uma pessoa letrada deve ser capaz de atribuir sentidos a mensagens oriundas de múltiplas fontes da linguagem, bem como ser capaz de produzir mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem”.
Considerando que estamos vivendo numa sociedade
cada dia mais visual e, considerando ainda que o letramento,
(visual ou não), tem relação direta com a organização social
das comunidades e, em conseqüência disso, com a organização
dos gêneros textuais, podemos inferir que, na escola, em
qualquer nível, as atividades de leitura e escrita são práticas
de letramento que devem levar ao envolvimento de alunos e
professores no seu contexto social.
Nas análises acima, verificamos que os textos analisados
são midiáticos e essa mídia está fortemente presente em nossa
sociedade. Esses textos apresentam várias linguagens e o
recurso visual/gráfico é o que primeiro chama a atenção do
leitor para a reportagem e, a partir dele o leitor é incentivado
a ler o texto verbal, onde encontra as informações novas, já
que as informações velhas são passadas através das imagens.
Temos aí, claramente, as duas modalidades de linguagem,
a visual/gráfica e a verbal, interagindo no mesmo texto.
Sobre essa questão, Amaral (s/d) diz-nos o seguinte: “dado o
intenso uso de linguagem não verbal nos dias atuais, pode-
se dizer que entre uma e outra existe integração e influência
49
recíproca, de forma que uma provoca alterações na outra”.
(p.2).
É muito importante que o leitor esteja apto a ler essas
múltiplas linguagens que lhe são apresentadas, sendo capaz,
portanto, de atribuir sentidos ao que lê, capaz de utilizar essa
prática de leitura em situações cotidianas da sua vida.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Suely.Linguagem verbal e não- verbal. Artigo especial para a Página Pedagogia & Comunicação, notíciasuol.com.br/licaodecasa/materias/medio/portugues/ult1706u12.jhtm
CAVALCANTE, Marianne C. B. & MARCUSCHI, Betth. Formas de observação da oralidade e da escrita em gêneros diversos. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio & DIONÍSIO, Ângela Paiva. (Orgs) Fala e Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. MEC/UFPE/CEEL.
DELPHINO, Fátima Beatriz De Benedictis. Uma leitura multimodal de um texto publicitário.2006, mimeo.
DIONÍSIO, Ângela Paiva. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, Acir Mário, GAYDECZKA, Beatriz e BRITO, Karina Siebeneicher. Gêneros Textuais: reflexões e ensino. União da Vitória-PR, Kaygangue, 2005.
_____________________. Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio & DIONÍSIO, Ângela Paiva. (Orgs) Fala e Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2005a . MEC/UFPE/CEEL.
GENTILE, Paola. Um mundo de imagens para ler. In: Nova Escola, abril de 2003, p. 45-49.
50
GERALDI, João Wanderley (Org.). O Texto na sala de aula. Cascavel-Pr, Assoeste, l985.
KATO, Mary . No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo, Ática, 1986.
KLEIMAN, Ângela (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas- SP, Mercado de Letras, 1995.
________________. Processos identitários na formação profissional. O professor como agente de letramento.(mimeo), 2006.
KLEIMAN, Ângela e MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Letramento e formação do professor: práticas discursivas e construção do saber.Campinas-SP, Mercado de Letras, 2005.
KRESS, G.; van LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. Londres: Routledge, 1996.
________________________________ O Sentido da Composição. In: Reading images: the grammar of visual design. Londres: Routledge, 1996.p. 181-229.
LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, Regina (Org.) Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1982.
MARCUSCH, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 6ª ed. São Paulo, Córtex, 2005.
MODZENSKI, Leonardo. Desconstruindo a linguagem jurídica: multimodalidade e argumentatividade visual nas cartilhas de orientação legal. Juiz de Fora, VEREDAS - Rev. Es t . Ling. , v.8, n.1 e n.2, p.91-106, jan./dez . 2004
51
OLSON, David R. O mundo no papel. As implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita.. São Paulo, Ática, 1997.
PEREIRA, Regina Célia. Um brinde aos sucos. Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 14-17.
___________________. Cascas & Polpas. Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 22-23.
SILVA Lilian Lopes Martin da. A escolarização do Leitor. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1986.
SILVA, Ivanda Maria Martins. Letramento digital na sociedade da informação: por uma política lingüística para inclusão social. Anais do Congresso Internacional de Política Linguística na América do Sul. João Pessoa , maio de 2006 (p.106-112)
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
52