Post on 22-Oct-2021
Prémio do concursodas seis horas vai parabancário do Ceará
Esportes radicais, umaaventura que conquistaa juventude brasileira
Acharam o ETO resultado dosorteio está napág.12
FA38 abr/98
Florescendo no teatro, nos esportes,na música, na literatura e na cidadania
Capa: No Brasil, o PoderJudiciário atravessa umagrande crise de identidade,com interferências dogoverno federal - Pág. 12
5 Navegantes, uma páginacom notícias da Internet
7 Janio de Freitas critica areeleição do presidente FHO
8 O drama de quem aderiuao PADV na Caixa
11 É de Minas Gerais oganhador do sorteio do ET
19 Dalmo Dallari denuncia:"Eleições viciadas"
2 0 Novelas, um espaço dediscussão política no país
2 4 Para Aloysio Biondi,desemprego é equivoco
2 9 Tárik de Souza fala daimportância da bossa nova
3 0 Jacó do Bandolim foi umdos precursores da MPB
3 1 Cinema cubano despertainteresse mundo afora
Ouro Preto sussura inconfidências. Pág. 25
Diversas áreasdo país estão
ameaçadas devirar deserto
Pág. 34
O mercadocooperativode segurosfoi assuntode semináriointernacionalPág. 23
FENAEAGORAedição 3 - ano l -n° 3-abril/1998
Publicação da FENAE -Federação Nacional das Associaçõesdo Pessoal da Caixa Econômica Federal
Administração e redação:Setor Comerciar Sul, quadra 1, edifício União,6o andar, Brasília/DF, CEP: 70300-901Telefone: (061) 323-7516Fax:(061)325-6057Telex: (061) STM400 -Caixa Postal 33794 ;
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Conselho FiscalOrlando Martins PintoJesus Rodrigues AlvesCláudio Pimentel Corrêa
SuplentesDanilo Aguilar FerreiraBernadete Santos de Àquino
Conselho Deliberativo NacionalPresidente: Jorge Peixoto de MattosVice-Presidente: Maria Auxiliadora de Almeida GamaSecretária: Francisca de Assis Araújo Silva
Editor:Afonso Costa (MTb -RJ 16.234)Sedação: Antõnio José, Evandro Peixoto,Mareio Sardi e Jaime DecòntoColaboradores: Aloysio Biondi, Janio de Freitas,Tárik de Souza, Dalmo Dallari, Renato Rovai eLuciana AckerrnannDiagramação: Hélder NardeIlustração: LisarbFotolito: Forma TrêsImpressão: BangrafTiragem: 75 mil exemplares
Os artigos assinados são deresponsabilidade dos seus autoresDistribuição gratuita
Turbulência criat iva
0Poder Judiciário nacional atraves-
sa uma crise de identidade. O go-
verno federal interfere em suas de-
cisões, inibindo a defesa dos preceitos consti-
tucionais, função precípua do mesmo.
A "ditadura constitucional" de-
nunciada por renomados juristas atinge
em cheio o catedrático Fernando
Henrique Cardoso, que aprendeu
muito bem as lições da ditadura militar
ao reinaugurar no país a vinculação das
decisões das instâncias inferiores do
Poder Judiciário aposição da Corte
Suprema.
Nesse quadro o de-
salento da população é
compreensível. O cres-
cente desemprego, o
recém nomeado ministro
da Justiça que foi líder do
governo Collor, a falta de
perspectivas da juventu-
dade, a subordinação ao capital inter-
nacional e tudo o mais que épatroci-
nado pelo governo FHC explicam a
saída de milhares de empregados da
Caixa Econômica Federal, hoje um
braço do governo para aprovar seus
projetos antipopulares no Congresso
Nacional.
Nem tudo, entretanto, está perdi-
do. O atual presidente não consegue
crescer nas pesquisas de opinião regia-
mente encomendas pela sua assessoria.
Cerca de 65% do eleitorado não pre-
FA 4 abr/98
FHC nao
cresce nas
pesquisas de
opinião
tende votar em FHC, que tudo faz para
garantir sua reeleição - até mesmo man-
dar uma emenda para o Congresso,
desrespeitando todo e qualquer princí-
pio ético, moral e constitucional, con-
forme afirma o jurista Dalmo Dallari.
Enquanto atravessamos essas tur-
bulências, a antiga Vila Rica comemora
300 anos. A beleza de Ouro Preto su-
porta até mesmo o descaso governamen-
tal para com esse patrimônio histórico e
cultural da humanidade.
Nossa tão criticada juventude que
hoje escala montanhas,
atravessa rios epula de
pontes com a mesma fa-
cilidade com que nossos
avós apertavam um sim-
ples cigarro de rolo.
A turbulência
mundial é tanta que a pe-
quena ilha comunista
produz e mantém uma escola interna-
cional de cinema, apesar de todo o em-
bargo realizado pelos Estados Unidos.
Mas, como nem tudo no Brasil acaba
em pizza, ainda podemos nos deliciar
com a sutileza e a maestria do bilhante
bandolim que um certo Jacob um dia
resolveu agraciar. Graça essa que con-
tribuiu para que em agosto de 1958
Tom Jobim, Vinícius de Moraes e joão
Gilberto apresentassem ao público a
bossa nova, um marco da nossa cultura
que se espalhou pelo planeta.
~. '- ' M •;,%:• r-
Origem científicaO alpinismo por prazer ou profissão
é recente. Professor de ciências naturaisem Genebra, o filósofo Horace Bene-dict de Saussure, já em 1760, oferecia"um prémio a quem descobrisse a viade ascensão ao Mont Blanc, o pico maisalto dos Alpes (4.807 metros), sobre oqual espera realizar observações cientí-ficas". Exatos 26 anos depois, o médicoMichel Gabriel Paccard e o investiga-dor de cristais Jacques Balmat atingemo cume da montanha. É o marco zerodo alpinismo, segundo o esportistaFábio Cascino conta em seu site naInternet.
Viagem cósmicaJá se completou um ano da pas-
sagem do Hale-Bopp pela Terra, mas ocometa continua á atiçar as mais férteisimaginações. A Internet está cheia deendereços que contam histórias mirabo-lantes sobre o astro - http://www.artbell. com, por exemplo. Uma daslendas? ANasa (agência espacial norte-americana), o presidente dos EUA, BillClinton, e o papa João Paulo II dividemum segredo captado pelo telescópio es-pacial Hubble. Segundo a história, umaenorme e luminosa cidade, "reminis-cência do paraíso", podia ser vista nacauda do cometa. Em março do anopassado, nada disso se comprovou. Paraconferir se isso é verdade, talvez napróxima passagem do Hale-Bop. Daquia quatro mil anos.
Na passagem de 1999 para 2000, se otemível "bug do milénio" não for contor-nado, cofres de bancos vão se abrir, multasvão ser cobradas com 100 anos de atraso,ligações que atravessarem de um ano paraoutro vão aparecer na conta telefônica com53 milhões de minutos. Parece brincadeira,mas estes são apenas alguns dos possíveisproblemas cuja solução, segundo especia-listas calculam, deve custar R$ 600 bilhõessomente para os governos - US$ 6,9 bilhõsnos EUA e Rf 69 milhões no Brasil, porexemplo. Tudo porque, no início da era dacomputação, usar apenas dois dígitos paraidentificar o ano economizava memória emuito dinheiro.
Dia após diaO tempo fascina os homens desde a
antiguidade. Para saber tudo sobre os ca-lendários já adotados pela humanidade,uma boa pedida é o site http://www.puc-rio.br/planetario/calendar.html.: Nele, oastrônomo Fernando Vieira, da Funda-ção Planetário, conta sobre a origem doscalendários lunares e solares para ex-plicar porque os homens dividem o anoem 365 dias, 12 meses, anos, séculos emilênios. Até mesmo a razão do ano co-meçar em primeiro de janeiro é esclareci-da. Vieira também explica porque, em1582, o ano passou diretamente de qua-tro para 15 de outubro ou porque Jesusnasceu, provavelmente, no ano 4 antes deCristo.
Serviço secretoOs filmes do espião James Bond têm
público e publicidade garantidos emqualquer lugar. Já a CIA, a famosa Agên-cia Central de Informações dos EstadosUnidos, prefere agir no anonimato: emseu início, por exemplo, a agência até es-condia suas sedes. Criada em setembrode 1947 para servir de suporte aos EUAcontra a União Soviética, durante a guer-ra fria, a CIA estendeu a atuação e temem sua conta vários golpes de estado eoutras ações menos nobres: a queda doprimeiro-ministro do Irã, MohammedMossadegh (por ter cometido o pecadode nacionalizar uma companhia de pe-tróleo); a escavação de um túnel na an-tiga Berlim Oriental para espionar oexército russo; a fracassada invasão dabaía dos Porcos, em Cuba; a espionagemdos aviões U2, também em Cuba; a de-posição de presidentes em pelo menosuma dezena de países na América Cen-tral, África e Sudeste Asiático; e, é claro, ogolpe militar de 64 no Brasil. Missõesque fazem 007, o agente a serviço secre-to de Sua Majestade, parecer mongebeneditino.
FA 5 abr/98
Dos LEITORES
A partir desta edição, FENAE AGO-RA abre espaço para o leitor opinar sobre
assuntos variados. A seção "Dos Leito-
res" está destinada para cumprir este ob-
jetivo.
No entanto, a revista reserva-se o di-
reito de resumir as cartas, mas sem pre-
juízo do conteúdo.
Um alerta se faz necessário: as cor-
FerramentaSou empregado da CEF e parabenizo
esta equipe pelo excelente trabalho da re-
vista FENAE AGORA. Tem qualidade, di-
versidade e é arrojada. E característica da
garra do empregado da CEF. Fascina e seus
assuntos vão da história à estónas.
A publicação veio para ficar e para
agregar valor; é mais uma ferramenta para o
autodesenvolvimento. Por favor, que a re-
vista não pare.
Gilberto Faustino de OliveiraUberaba/MG
FonteNa condição de empregada da CEF,
quero parabenizar a diretoria executiva da
FENAE e toda sua equipe pelos excelentes as-
suntos abordados na revista FENAE AGO-
RA. Não se trata mais apenas de uma revista,
mas sim de uma fonte de cultura e pesquisas.
Jussara Lopes-Rosário do Sul/RS
GentilezaAgmdeço o exemplar da revista FENAE
AGORA, gentilmente enviado por esta federação.
Iris Rezende, ministro da AgriculturaBrasília/DF
RegistroRegistro e agradeço o envio da revista
FENAE AGORA, parabenizando esta
federação pela iniciativa.
Senadora Emília Fernandes-PDT/RS
CongratulaçãoAo acusar recebimento, agradeço envio
do primeiro número da revista FENAE
AGORA. Valho-me do ensejo para congrat-
ular-me por mais essa importante iniciativa
respondências para esta seção devem ser
remetidas com a devida identificação (as-
sinatura, endereço e número da carteira
de identidade).
Lembramos apenas que, em busca da
cidadania, FENAE AGORA canaliza o
esforço dos milhares de empregados da
Caixa Econômica Federal de ruptura
com o status quo.
dessa laboriosa federação.
Senador João Rocha, presidente daComissão de Fiscalização e Controledo Senado -PFL/TO
ParabénsAcuso recebimento eparabenizo excelente
iniciativa pela revista FENAE AGORA.
Senador Lauro Campos-PT/DF
ExemplarEm nome do governador Jaime Lerner,
registramos o recebimento do exemplar da
revista FENAE AGORA.
Gerson Guelrnann, secretáriode Estado-Curitiba/PR
RemessaAgradeço remessa do exemplar da re-
vista FENAE AGORA.
Manoel Gomes Barros,governador-Maceió/AL
SatisfaçãoE com grande satisfação que acuso o re-
cebimento do primeiro número da revista
FENAE AGORA. Parabenizo pela diagra-
mação e atualidades dos assuntos abordados.
Deputado Ricardo GomydePCdoB/RS
ServiçoAcusamos o recebimento e agradecemos
o envio do primeiro número da revista FE-
NAE AGORA. Na oportunidade, dese-
jamos que essa federação continue prestando
relevantes serviços ao Acre e seu povo.
Álvaro Romero, presidente daAssembléia Legislativa do AcreRio Branco/AC
Iniciativa0 Sindicato dos Professores no Estado
de Pernambuco parabeniza pela iniciativa
da FENAE AGORA. Agradecemos e envio
e esperamos receber os próximos números.
Suely Santos-Recife/PE
DebateO Instituto de Divulgação da Amazônia
registra o recebimento da FENAE AGORA.
Estamos satisfeitos por ser uma das entidades
escolhidas a receber uma revista que se propõe
ao debate de idéias e divulgação de infor-
mações políticas, económicas etc.
Maria do Socorro Lucas Bandeira
Belém/PA
AlegriaA Rádio Jornal de Assis Chateaubriand
Lida. comunica que recebeu com grande
alegria a revista FENAE AGORA e afirma
que gostaria de continuar recebendo a pu-
blicação. Acreditamos ser uma boa idéia,
pois se trata de um bom veículo de comuni-
cação. Enaltecemos e valorizamos a inicia-
tiva. Desejamos que tenha sucesso.
Ditto Silva - Assis Chateaubriand/PR
EncaminhamentoA Reitoria da Universidade Federal de
Santa Catarina comunica o recebimento do
primeiro número da FENAE AGORA e
informa que a ela está promovendo o devi-
do e mais proveitoso encaminhamento. De-
sejamos agradecer pela cortesia do envio e
expressar nossos cordiais cumprimentos.
Raimundo ZumblickFlorianópolis/SC
UtilidadeO Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Óbidos agradece o envio de dois exem-
plares da revista FENAE AGORA. Essa
importante obra será de grande utilidade
para a formação e informação dos cam-
poneses do Pará sobre o que vem ocorrendo
em nosso país. Gostaríamos que os próximos
números da revista abordassem assuntos co-
mo dívidas interna e externa e patrimônios
do povo brasileiro.
Basílio dos Santos Oliveira-Óbidos/PA
FA 6 mar/98
A r t i g o
Os verdadeiros adversáriosJanio de Freitas
As aparências dão plena
razão aos que consideram
já assegurada a reeleição de
Fernando Henrique
Cardoso, mas as pesquisas,
todas, recomendam alguma cautela nesse as-
sunto.
Em números arredondados, Fernando
Henrique foi eleito por 35% do eleitorado to-
tal. Nas pesquisas atuais, que têm a intenção
de refletir todo o eleitorado, Fernando
Henrique fica, também, em torno dos 35%.
Em quase quatro anos de governo, não
mostrou qualidades pessoais, administrativas
ou políticas que o tornassem merecedor da
confiança ou da simpatia de novos adeptos.
O eleitorado disponível contra a per-
manência de Fernando Henrique é, um
pouco mais ou um pouco menos, o dobro do
eleitorado que o apoia. E isso está muito
longe de configurar, aritmeticamente, a si-
tuação de vitória antecipada que as aparên-
cias lhe conferem.
Embora tão reais quanto a realidade
aparente, os números e as aparências se con-
tradizem. Mas não por animosidade de qual-
quer das partes. A animosidade está na
oposição. A qual nem sempre é oposição, co-
mo demonstraram tantos votos mal-explica-
dos do PPS, entre os quais os votos a favor da
quebra da estabilidade dos servidores públi-
cos.
A maior quantidade de eleitores con-
trários a Fernando Henrique não conflita
com o seu adversário, mas com seus aliados.
A falta de sentido político nas disputas
mesquinhas entre PT, PPS, PSB, PC do Be
PDT é que monta e mantém as aparências de
vitória previamente assegurada para
Fernando Henrique. E, se continuar havendo
mais disputas do que convergência, as atuais
aparências logo se transformarão em reali-
dade indiscutível.
Neste caso, acontecerá apenas o seguinte:
Fernando Henrique reeleito, não pelos seus
minoritários eleitores, mas pela divisão dos
seus adversários majoritários. E, depois, qua-
tro anos de indignação, lamúrias e mais der-
rotas políticas dos oposicionistas. Que conti-
nuarão brigando uns com os outros.
FA 7 abr/98
Janio de Freitas,
jornalista
O empregado que aderiu ao
mente as mais diversificai
or onde andam nossoscolegas, aqueles milharesque saíram da Caixa como plano de demissões vo-luntárias? Que destino
tomaram na vida? Que tipo de desafiosnovos passaram a enfrentar depois deanos a fio dedicados a uma mesma em-presa?
Estas são perguntas que frequente-mente rondam conversas e pensamentosdos bancários da Caixa, quando põem-sea lembrar dos amigos que viram partir.Não se trata de curiosidade - aquela quematou o gato - mas de sentimentos quevão da sensação de perda à solidariedade,à torcida para que tenham êxito em suasnovas atividades e continuem sendo fe-lizes.
A reportagem da FENAE AGORA foiatrás de alguns desses desgarrados, emvários pontos do país, na tentativa de res-
FA 8 abr/98
Waldir Pires Está aposentado e curte a vida. Ele ainda tornou-se síndico do prédio onde mora
lano de demissões voluntárias, vive atual-
as experiências. Uns se deram bem e outros•
ponder, a partir de uma amostra com suasdistintas experiências, um pouco das tan-tas interrogações que ficaram.
"Vou bem, muito bem, obrigado /Estou na luta, mas está tudo sob controle,apesar da saudade dos amigos e até mes-mo do trabalho na Caixa/ Tô mal, com-panheiro, a coisa desandou..."
Estas frases delimitam, resumida-mente, três situações em que poderíamosenquadrar os nossos vários entrevistados.Felizmente, na última (de quem está napior) foi encontrado um único caso.
Em setembro de 1996, José RibamarAlvino Lima deixou a Caixa após 18 anosde trabalho naempresa. Endividado, o a-certo do PADV mal deu para compraruma casa de R$ 4 mil em Piquet Carneiro,a 450 km de Fortaleza (CE), que acabouperdendo pouco tempo depois. Ele era lo-tado na capital cearense.
José Ribamar voltou para Fortaleza
com a mulher e duas fil-has - uma de cinco anose outra de quatro meses -e, com o apoio de colegas,conseguiu um emprego na empresa quepresta serviços de limpeza à Caixa, naagência onde trabalhava. Vive hoje comum salário de R$ 128,00 (leia entrevista aolado).
Empreendimentos Gisa Manade Sousa, 20 anos e três meses de CaixaEconômica Federal, conta que tinha ape-nas uma vaga idéia do que poderia fazerfora da empresa, em Porto Alegre-RS.
Depois de seu desligamento, em junhode 96, comprou uma floricultura, que am-pliou para loja de flores, decorações e paisa-gismo. Mais adiante, passou a ter como sóciano negócio a colega Margarida Guimarães,que deixou a Caixa em julho de 97.
Gisa lembra que ouviu inúmeras opi-
FA 9 abr/98
Aderiu para
pagar dívidas
e perdeu a
casa própria
Ao deixar a Caixa em 25 de setem-bro de 96, para resolver seus proble-
mas financeiros, José Ribamar Alvinode Lima não podia imaginar asagruras que passaria a sofrer comaquela decisão. Para a FENAEAGORA, ele fala sobre o dramaque está vivendo.
FA - Por que você saiu da Caixa?Ribamar - Saí por desespero. Estava en-dividado e acreditei que poderia re-solver o problema com o dinheiro darescisão, mas acabei numa situação ain-da mais crítica. Não tenho nada, vivocom minha mulher e minhas duas fi-lhas pequenas em um barraco, pagandoaluguel de R$ 130,00 com o salário deR$ 128,00 que ganho na Mil Mercantil.
A casa onde moro tem dois cômodos eos móveis são caixas que vieram
com material para umaconstrução.
FA - E a alimen-tação...
Ribamar - Tem o vale-refeição econto com a ajuda dos colegas.Ganho R$ 5,00 de um, R$ 3,00 deoutro... São pessoas com quem tra-balhava quando estava na Caixa, nes-ta mesma agência em que estou pres-tando serviço. Esse emprego forameles que conseguiram.
FA - Você montou algum negócio?Ribamar - Em Piquet Carneiro, tenteium bar. Não deu certo e tive que voltarpara Fortaleza. Meu dinheiro, que jáera pouco, acabou. Agora estou nessasituação difícil.
P A D V
Governo FHCdispensoudez milempregados
De acordo com levantamento doDieese, a Caixa cortou 4.985 empre-gos entre dezembro de 94 e dezembrode 96, ficando em sétimo lugar entreos bancos que mais destruíram postosde trabalho naquele período.
Apuração feita pelo DIREP/CEF,José Carlos Alonso, revela que a em-presa terminou o ano de 1996 com 59mil empregados e chegou ao final de1997 com apenas 55 mil.
Resumindo: a Caixa dispensouquase dez mil profissionais durante ogoverno FHC, na gestão de SérgioCutolo.
Já o número de estagiários subiude 12.992 para 14.877, apenas entredezembro de 96 a março de 97. Atual-mente, mais de 40% do pessoal quetrabalha na empresa não pertencemao seu quadro de pessoal. Estagiários,menores e prestadores de serviços es-tão cumprindo funções de bancários,muitas vezes de forma irregular.
A direção da Caixa está fazendoagora uma tímida "mea-culpa" aoconvocar concurso para suprir acarência de pessoal no Rio deJaneiro e São Paulo. O mo-vimento dos emprega-dos cobra a rea-lização de umconcurso paraas vagasexisten-
tes emtodo opaís.
no negócio a colega Margarida Guimarães,que deixou a Caixa em julho de 97.
Gisa lembra que ouviu inúmeras opi-niões contrárias quando manifestou a in-tenção de deixar a Caixa depois de tantotempo de trabalho, mas preferiu acreditarnela mesma e foi atrás daquilo que acre-ditava ser uma oportu-nidade de mudar os rumosde sua vida. Vinha sesentindo desmotivada etriste por conta do trata-mento dispensado aos ban-cários da Caixa, que pas-saram a ver a empresa serdesfigurada e suas perspec-tivas profissionais destruí-das. "Saí por descontenta-mento", enfatiza. As dúvi-das do início já não existem mais.
Ainda no Sul do país, em Santa Maria(RS), outro ex-empregado, Luís CarlosCamargo, conta que saiu da Caixa "depeito aberto", sem nada definido. Acaboumontando um restaurante em que produzviandas (marmitas, no linguajar gaúcho).
O ex-caixa executivo fez apenas umcurso de um mês pelo Senac (ServiçoNacional de Aprendizagem Comercial.
Mas já acha que foium pouco
precipita-do, quedeveriater seprepara-
do mais eestrutura-
do melhor onegócio. LuísCarlos saiu da
Caixae m
julho de 97 e abriu sua cozinha em novembro
do mesmo ano. Seu objetivo imediato é pro-
duzir 40 viandas por dia, o que lhe daria cerca
de R$ 3 mil por mês.
Aos 46 anos, sendo 21 deles dedicados à
Caixa, ele diz ter conquistado a liberdade de
decisão. "O emprego da Caixa já foi melhor e
ainda é muito bom. Só que,
agora, estou indo atrás de
meu sonho, que é o de fazer
por mim mesmo"
Já o mineiro Aroudo Re-
zende Bastos, depois de 31
anos na Caixa, entendeu que
estava pronto para partir para
outra, mas sem fugir daquilo
que aprendera a fazer como
bancário. Sua empresa de
consultoria em administração
financeira nasceu para o mercado oferecen-
do serviços como análise de projetos, con-
fecção de contratos, planejamento finan-
ceiro, fluxo de caixa, relações com o sistema
bancário (empréstimos, aplicações etc).
A bagagem que adquiriu na Caixa foi
fundamental. Para Aroudo, "as agências
da Caixa oferecem experiência como
uma empresa".
O caso de Waldir Pires, de Brasí-
lia (DF), é diferente. O PADV veio para
antecipar sua aposentadoria. Aos 52 anos,
23 de Caixa, ele optou por sair porque vi-
nha percebendo que a empresa tomara
outros rumos, procurando adequar-se à
globalização e à competitividade do mer-
cado como um banco comercial qualquer,
em que os empregados são descartáveis.
Waldir conta que já se encontrava
com a situação econômica estabilizada,
de forma que não teve urgência em bus-
car outra atividade. Tornou-se recente-
mente síndico do prédio onde mora e
procura aproveitar o seu tempo com a
família e em benefício da saúde. Adora
caminhadas e hidroginástica.
Outro que antecipou a aposentadoria
foi o cearense Eduardo Gadelha, de 51
anos. A grana da rescisão ele aplicou em
uma casa de praia e emprestou a parentes
que necessitavam de capital de giro em
seus empreendimentos. Os juros que co-
bra são "mais amenos" que os do sistema
financeiro.
Com os rendimentos, Gadelha vai
levando a vida, na flauta.
FA 10 abr/98
da Caixa por se
sentirem
Concurso premiaempregado do CE
om a frase "seis horas: e-xercite esta conquista",Marcos Paiva Neto ga-nhou o concurso "slogandas seis horas", promovi-
do pela FENAE. O vencedor foi escolhi-do entre 1.093 cupons enviados por ern-pregados da Caixa de todo o país, convi-dados pela FENAE a dar sua contri-buição para a campanha que exige daempresa o respeito à jornada de trabalho.Ao lado de outros representantes do mo-vimento dos empregados, a FENAE pre-para novas etapas da campanha.
Marcos ganhou uma passagem, comdireito a acompanhante, para qualquerponto do paísi Ele pode usar O direito atéfevereiro de 1999. Para entregar o prémio,a FENAE preparou uma surpresa. Dia 13de março, sexta-feira, uma grande festa foirealizada na agência Conjunto Ceará, emFortaleza. Marcos recebeu a passagem de
João Alberto Moschkovich, diretor da FE-
NAE, e falou da importância da pro-
moção para a imobilização dos empre-
gados,
O trabalho de escolha da frase
foi minucioso. João Alberto, que
coordenou a comissão julgadora
da promoção, explica: "Os mem-
bros da comissão receberam todas
as mais de mil frases, sem identifi-
cação. Cada um deles escolheu as 20
mais significativas em sua opinião". As
pré-classificadas foram novamente avali-
adas, até se chegar ao vencedor. A comissão
foi composta) ainda pelo publicitário Edson
Campos, assessor da CUT; por Ricardo
Menezes, da Universidade de Brasília
(UnB); pelo DIRER/CEF, José Carlos
Alonso; e pela presidente do Sindicato dos
Bancários de- Brasília, Erika Kokay, também
representante da Confederação Nacional
dos Bancários da CUT (CNB/CUT).
FA11 abr/98
Sorteio do
ET saiu para
uma mineira
de Ituiutaba
Achar o ET na página 12 da pri-meira edição desta FENAE AGO-RA, até que foi fácil. Difícil foi sersorteado entre os 3.512 cupons de-volvidos para a federação. A sortegrande acabou saindo para SandraTavares de Faria Sales, empregadada Caixa em Ituiutaba (MG). Ela re-cebeu uma passagem para Salvador,com direito a acompanhante, alémde hospedagem por um final de se-mana. O prêmio é intransferível.
Para o presidente da FENAE,Carlos Caser, "o retorno obtido coma promoção demonstra que um nú-mero significativo de empregados daCaixa viu a revista, um projeto emque a FENAE tem investido boaparte de seus esforços e recursos".Caser, indica a revista como "um es-paço para discutir ideias, informa-
ções e cidadania, alémde mais um ins-
trumento deluta e partici-
pação"..-Es-te retornoé aindam a i ss i gn i-fi cativo
pelo atra-so na dis-
tribuição darevista, que in-
felizmente impe-diu muitos empre-
gados de enviar seuscupons. A FENAE
busca a solução destesproblemas de distribuição paraque, a partir das próximas pro-moções, todos possam participar.
A agência do ganhador fez uma festa para comemorar a vitória e a futura viagem
S e i s h o r a s
Quem exerce
Jud i ci a rioEvandro Peixoto
o Poder
no Brasil?
C a p a
A indisposição doPoder Judic iár io
Concentração de força no Executivo agride a Constituição e inibe a Justiça
Poder Judiciário vive umacrise de credibilidade quese aprofunda a cada diaque passa, a cada novo jul-gamento envolvendo jo-vens bem nascidos que
ateiam fogo em índio que dorme ao relen-to, sem-terra que lutam por um pedaço dechão e são assassinados por pistoleiros epoliciais a serviço do latifúndio, traba-lhadores que têm seus direitos subtraídospor governantes de plantão, presidente
FA14 abr/98
que a todo momento rasga uma páginada Constituição para levar adiante seu pro-jeto político pessoal... O mau exemplo vemde cima, da própria Corte Suprema.
O Supremo Tribunal Federal(STF) tem dado seguidas demons-trações de indisposição para ocumprimento de seu papel pre-cípuo, o de guardião do "Es-tado democrático de Direito".Para ilustrar essa incapaci-dade ou falta deinteresse em seinsurgir contra aconcentração de poder eos arroubos autoritáriosdo Executivo, duas desuas recentes decisões jáseriam suficientes: a quetratou da desincompatibi-lização de candidatos paraas eleições deste ano e a dalei 9.464, de 10 de setembrode 97, criada a partir de Me-dida Provisória, que proíbejuizes e tribunais de con-ceder medida liminarcontra atos do gover-no relacionadoscom finanças pú-blicas, mesmoque esses atos
Agnaldo Azevedo
sejam clara-mente ilegais ou in-
constitucionais.O Supremo posi-
cionou-se favorável àdefesa feita pelos articu-ladores políticos doPalácio do Planalto dadesincompatibilizaçãoapenas para o candidatoa cargo diferente daquelepara o qual foi eleito no
último pleito. Essa es-catologia política foi
inserida na emen-da da reeleição
aprovada peloCongresso,
to rnan-
do-se objeto de uma ação direta de in-sconstitucionalidade encaminhada pelospartidos de oposição.
Assim, o presidente da Republicapode recandidatar-se ao cargo que ocupasem se desincompatibilzar, mas se pre-tendesse concorrer a uma vaga de verea-dor em Campo Alegre de Goiás, porexemplo, teria que deixar a Presidênciada República.
Em participação no programa "FogoCruzado" apresentado por Paulo Hen-rique Amorin, na TV Bandeirantes, o ju-rista e professor Fábio Konder Com-parato classificou a desincompatilizaçãoreferendada pelo Supremo como uma"patifaria", condenável sobretudo peloaspecto ético.
O presidente da República ingressou
FA 15 abr/98
Estrutura
mantém os
privilégios
da elite
A Justiça brasileira mantém-sealheia à realidade, muito distante dopovo que por ela paga, na espera dacontrapartida que um Estado demo-crático deveria oferecer.
Para o jurista e deputado federal,Hélio Bicudo (PT-SP), se formosbuscar as raízes do sistema atual, ire-mos verificar que o Poder Judiciáriobrasileiro foi organizado para manteros privilégios da elite e conter as clas-ses dominadas.
Já o presidente da Associação dosMagistrados Brasileiros (AMB), LuísFernando de Carvalho, vê uma "crisede demanda". Segundo ele, o Judi-ciário recebe entre cinco e meio e seismilhões de novos processos ao ano,sem contar os cerca de dois milhõesque entram na Justiça do Trabalho.
Hélio Bicudo defende a descen-tralização do Judiciário, o que impli-caria em tirar os juizes dos palácios eaproximá-los da periferia. E autor doprojeto de reforma do Judiciário, queestabelece formas de controle externoatravés de conselhos.
Para o presidente da AMB, o con-trole externo é uma "falácia". Ele de-fende, em caso de criação dos conse-lhos, que eles sejam integrados uni-camente por magistrados.
Outra idéia que tem gerado po-lêmica no debate acerca da reformado Judiciário é a de se instituir a"sumula vinculante", que atrela de-cisões de instâncias inferiores a jul-gamentos do Supremo. Um de seus
mais duros críticos é o ministroaposentado do STF, Evandro Lins eSilva, para quem os juizes não de-vem se submeter às decisões dos tri-bunais superiores.
O jurista e deputado Hélio Bicudo (PT-SP) defende a descentralização do Judiciário
Composição
do Supremo
explica a
subserviência
O Supremo Tribunal Federal(STF) compõe-se de 11 ministrosnomeados pelo presidente daRepública, após aprovada a escol-ha pelo Senado. Preside o órgão oministro José Celso de MelloFilho.
O modelo adotado é umacópia do norte-americano, com oregistro de uma pequena difer-ença: nos EUA, diferentementedo que ocorre por aqui, três indi-cações presidenciais já foram re-jeitadas pelos senadores.
Historicamente, as indicaçõesde ministros do STF tem-se pau-tado por critérios técnicos. Essatradição foi respeitada até mesmopelos militares. No entanto, o co-mum se transformou em ex-traordinário a partir dos dois maisrecentes governos do país: ItamarFranco e Fernando HenriqueCardoso (notadamente este últi-mo), que passaram a adotar a"novidade" do critério político.
Do regime militar a FHC, acaneta do Palácio do Planalto foiresponsável pela atual compo-sição dos 11 ministros do STF, asaber: José Carlos Moreira Alves(Geisel), Sidney Sanches(Figueiredo), Luiz Octávio Pirese Albuquerque Gallotti (Figuei-redo), Neri da Silveira (Figuei-redo), Sepúlveda Pertence (Sar-ney), José Celso de Mello Filho(Sarney), Carlos Velloso (Collor),Marco Aurélio Mendes de FariasMello (Collor), Iimar Galvão(Collor), Maurício Corrêa (Ita-mar Franco) e Nelson Jobim(Fernando Henrique Cardoso).
no Supremo com a ação declaratória deconstitucionalidade da lei 9.464 e recebeudaquela Corte o referendo à proibição aque juizes e tribunais dêem proteção aosdireitos. E mais, a ação declaratória nãosó revoga as decisões já proferidas contraatos governamentais ligados a finançaspúblicas como dá por sustadas todas asações em andamento.
A decisão do STF, na prática, introduzum "efeito vinculante" - subordinação dasdecisões em instâncias inferiores à posiçãoda Corte Suprema - que não é previstopela legislação.
A figura da açãodeclaratória foiinstituídaatravés dee m e n d aconstitucio-nal, em mar-ço/93, restau-rando a "voca-tória", que foicriada pelos mili-tares em 69 - paraconcentrar poderesno STF - e deixoude existir durante o gover-no Geisel.
liminares travada no Superior TribunalJustiça (STJ), envolvendo o escandalosoleilão da Companhia Vale do RioDoce.
Em relação ao Programa deEstímulo à Reestruturação e For-talecimento do Sistema Finan-ceiro (Proer), no qual aUnião injetou cerca de20 bilhões para' " s a n e a r "
Faz-de-conta Por essas e outras éque se consolida
na sociedade e, inclusive, entre especialis-tas em direito, segmentos da magistraturae intelectuais, a convicção deque o Judiciário vem sendoexercido, em grande parte,pelo presidente da Repú-blica. Em artigo recente, na"Folha de São Paulo", o ju-rista Dalmo de Abreu Dalla-ri diz ser "necessário e ur-gente denunciar essa farsaconstitucional, esse 'faz-de-conta jurídico', que signifi-ca, em essência, uma tentativa de impor aoBrasil o absurdo de uma ditadura consti-tucional".
A Suprema Corte esquivou-se dequestionamentos acerca da legitimidadedo direito à reeleição obtido por FernandoHenrique Cardoso à custa de malas dedinheiro no Congresso Nacional, tergi-versou e acabou se omitindo na guerra de
FA 16 abr/98
titui-ções fa-
lidas pelasfalcatruas dos
banqueiros, o STF interpretou as açõesque questionavam a medida como ca-rentes de "plausibilidade", negando li-minares a todas elas.
Subserviência O Judiciário mal
esperou o país sairdas trevas do regime militar para começar
a delinear a sua trajetóriade subserviência ao Execu-tivo, frustrando com isso asexpectativas de avançosmais significativos rumo àdemocracia. A ampliaçãopara cinco anos do manda-to de José Sarney - um vicealçado ao cargo de presi-dente pelo acaso, ainda naressaca da campanha por
eleições diretas - foi um golpe que caloufundo a Nação. A cúpula do Judiciáriotirou o corpo fora, deixando os emer-gentes cidadãos em meio k um jogo po-lítico que passou ao largo do texto consti-tucional.
No governo de Fernando Collor deMello, de saída, a poupança dos brasilei-ros foi confiscada sem a menor cerimô-
nia. E não houve justiça que pudesse serfeita, porque a magistratura encontrava-se inebriada com o moderno produto daelite econômica e política do país.
O comprometimento da independên-cia do Judiciário em relação ao Executivocristaliza-se na falta de escrúpulo nasindicações de ministros para o
Supremo. FernandoHenrique, por
peitados juristas do país, entre eles Godo-fredo da Silva Telles e Evandro Lins e Sil-va manifestaram preocupação face à me-tódica e crescente concentração de poderpelo Executivo, que "se agiganta em re-lação ao Legislativo e desborda do princí-pio constitucional que estabelece inde-pendência entre os Poderes".
O manifesto alerta para o fato de opaís estar sendo di-
MPs, alcançando média de 2,84 por mês.
Collor editou 84, numa média de 2,75 por mês.
Em 1990, quando era senador, FHC
publicou artigo atacando o excesso de MPs
do governo Collor como "abuso da paciên-
cia e da inteligência do país". Dizia ainda o
seu texto: "...ou o Congresso põe ponto final
no reiterado desrespeito a si próprio e à
Constituição, ou então é melhor reconhecer
que no país só existe um 'poder de verdade',
o do presidente".
exemplo, indicou um de seus ministros deEstado.
O STF é composto por onze ministrosvitalícios, aos quais é atribuída a guardada Constituição, que estabelece a inde-pendência entre os três poderes. Porém, namedida que vão ocorrendo aposentadoriasno Supremo, as indicações para as vagassão feitas pelo presidente. A nomeação dá-se após aprovação pelo Senado. Não háregistro de indicação que tenha sido re-provado pelos senadores.
(A reportagem da FENAE AGORAtentou entrevista com o presidente do STF,José Celso de Mello Filho, inclusive comperguntas encaminhadas por escrito enfo-cando, entre outras coisas, a questionada in-dependêcia do Supremo em relação aoExecutivo, e não obteve retorno).
O professor da Faculdade de Direito daUNB, Ronaldo Poletti, não localiza o pro-blema na "funcionalidade", ou seja, no fatode a indicação ser feita pelo presidente. Aseu ver, o que houve foi uma "perda daconsciência" do significado do Supremo."Os governos - exceção feita aos da ditadu-ra militar - tinham preocupação em nomearos melhores", afirma o professor.
A nomeação feita pelo sociólogo etambém catedrático Fernando HenriqueCardoso provia que ele realmente esque-ceu (ou abandonou) o que escrevia e ensi-nava na universidade, inclusive as liçõessobre ética. Não guardou sequer os prin-cípios de integridade intelectual.
Em manifesto à Nação, divulgado emsete de março último, 15 dos mais res-
rigido, predominan-temente, por meio demedidas provisórias, "quese vão tornando definitivas".
FHC ultrapassou Collor deMello no uso de medidas provisórias.Em fevereiro deste ano, já havia editado 108
Juizes devem ter fortes laços
nas comunidades em que atuam
O Judiciário brasileiro está falido. Eo principal responsável por isso é o cor-porativismo.
A opinião é do advogado e deputa-do federal pelo PT, Luís EduardoGreenhalgh.
Em entrevista à FENAE AGORA,ele fala de nepotismo e da engrenagemque envolve juizes com os interesses daelite.
FA - Como se manifesta o corporativis-mo no Judiciário?Greenhalgh - A coisa é tão exacerbadaque mais parece uma Maçonaria. É omaior lobby por salário aqui no Con-gresso e 50% dos juizes empregam pes-soas da família - estão realizando a pri-vatização ou "familiarização".
FA - E quanto ao papel que oJudiciário desempenha...Greenhalgh - A estrutura errada com-promete a sua independência. O juizquando está iniciando é nomeado parauma cidade do interior onde não co-nhece ninguém. E recebido pelo pre-feito e por pessoas influentes. Desseenvolvimento com a elite local, decorrea submissão. Em função das pro-moções que almeja, essa relação vai serepetindo por onde ele passa, até quechegue à capital. Acho que o juiz deve-ria ser nomeado para sua cidade deorigem, ele precisa ser um homem en-tranhado na comunidade, conhecedorda realidade em que atua. Da formaque as coisas acontecem hoje, quemnão tem dinheiro não tem justiça.
FA17 abr/98
Caixa chega ao topo do rankingo ampliar as atribuições da
Caixa Econômica Federal,
o governo transformou a
Caixa no terceiro maior
banco do país. Matéria do.
jornal "O Globo", reproduzida pelo FENAE
Notícias, de fevereiro de 1973, mostra que
"os volumes de seus depósitos é de Cr$ 4,3
bilhões e o de aplicações, de Cr$ 5,7 bilhões".
Maiores que a Caixa, naquele ano, apenas o
Banco do Brasil e o Banespa. "Como o decre-
to-lei presidencial possibilita à Caixa operar
como um banco comercial, ou mesmo como
instituição de crédito habitacional, a Caixa se
coloca de maneira especial na hierarquia das
instituições financeiras brasileiras", diz o jor-
nal carioca. Na área de investimen-
to, a Caixa, em primeiro lugar, tinha
larga vantagem sobre o Bradesco,
em segundo. No crédito imobiliário,
apenas o Banco Nacional de Habi-
tação superava a Caixa.
Devido a estes resultados, a FE-
NAE defendia ser "perfeitamente
válida a reivindicação dos econo-
miários com relação à jornada de
trabalho de seis horas". Naquele
ano, a tese das seis horas estava sen-
do analisada pelo então ministro da
Fazenda, Delfim Netto, "em cuja
decisão os economiários confiam",
de acordo com o FENAE Notícias.
de Boaventura oumonge José Maria.Do gaúcho mestiçode índio ao lídermessiânico do con-flito de terra quesacudiu o Sul dopaís: a Guerra doContestado. Namesma trilha de An-tônio Conselheiro, oauto-denominadoJosé Maria foi, no in-ício do século XX, o
afinador da re-volta de camponeses sem-terra, refugia-dos e caboclos semi-escravos. O conflito
ocorreu entre osudoeste do Pa-raná e o noroestede Santa Catari-na. A área de 48mil m2 reivindi-cada pelos dois es-tados também es-tava na mira doslatifundiários.
Munido deuma bíblia e deuma pregaçãoapocal íp t ica ,José Maria con-duziu a ocupa-
ção de terra mais significativa de-pois do trágico episódio de Canu-
dos, em 1897. Assustada com a formade organização igualitária por parte dos"fanáticos", a elite acionou o Exércitopara expulsar os invasores. De um lado,armamentos pesados e av juerra^Do outro, facões, berrantes e fé nomonge José Maria.
Imbuídos de sentido místico, os in-vasores enfrentaram c venceram váriasinvestidas dos soldados. Parte das armasdo governo foi parar na mão dosseguidores de José Maria. Ao fim, elesconseguiram ocupar 25mil km2 de ter-ra, próximo a Curitibanos (SÇ). Mortono início do confronto, em 1912, JoséMaria continuou a inspirar a "guerrasanta", que acabou em 1916 com 20 milmortos e a vitória do Exército.
FA 18 abr/98
Miguel Lucena
Ele ições v i c i adasDalmo de Abreu Dallari
as modernas democracias
representativas, o momen-
to eleitoral é considerado
um dos pontos mais altos
de afirmação do caráter
democrático da sociedade. Entretanto, a sim-
ples realização de eleições não é suficiente
para caracterizar um sistema eleitoral como
democrático. Com efeito, existe apenas uma
ilusão de democracia quando as eleições não
respeitam as exigências constitucionais ou
quando a disputa eleitoral é viciada pela ile-
galidade e ela corrupção. Ocorrendo isso, as
eleições não expressam verdadeiramente a
vontade do povo. Em tais condições, as
eleições podem ser úteis para que se mante-
nha aberto o caminho para a democracia,
mas são insuficientes para que se possa afir-
mar que o sistema político existente já é
democrático.
Vários fatos de grande importância ocor-
ridos no Brasil ultimamente deixam sérias
dúvidas quanto ao caráter democrático das
eleições deste ano e são motivo de justificado
temor quanto ao futuro próximo da demo-
cracia em nosso país. Como se sabe, pela
primeira vez na história constitucional
brasileira o Presidente da República pretende
ser reeleito para período imediato. A possibi-
lidade de uma reeleição do chefe do
Executivo nacional não é totalmente incom-
patível com os princípios republicanos e
poderia ser aceita como democrática se não
ocorressem várias irregularidades graves, de
amplo conhecimento público.
Em primeiro lugar, a emenda constitu-
cional que permitiu a reeleição do chefe do
Executivo foi patrocinada por ele mesmo e
não nasceu de uma aspiração popular, o que
já compromete seu caráter democrático.
Depois disso, a Constituição foi emendada de
forma irregular, não tendo sido obedecida a
exigência constitucional, expressa e clara, de
que a proposta de emenda seja aprovada duas
vezes em cada casa do Congresso Nacional. A
proposta aprovada na primeira votação é
diferente, em ponto substancial, da que foi
aprovada na quarta votação. Isso quer dizer
que a aprovação dessa emenda contém uma
inconstitucionalidade e o Presidente da
República continua proibido de se candi-
datar à reeleição para período imediato, o
que, certamente, será arguido perante o
Supremo Tribunal Federal (STF), oportuna-
mente.
A par disso tudo, é público e notório que
a aprovação dessa emenda no Congresso
Nacional foi obtida mediante a compra dos
votos de parlamentares. Deputados foram
punidos por isso e o jornal "Folha de S.
Paulo" apresentou prova de que o ministro
Sérgio Motta, que há muitos anos é amigo
íntimo do Presidente da República, foi o
comprador. O governo impediu que uma
Comissão Parlamentar de Inquérito investi-
gasse o assunto e o ministro acusado não to-
mou qualque providência para responsabi-
lizar os denunciantes, o que certamente faria
se a acusação fosse mentirosa. Essa omissão
permite a conclusão de que a denúncia era
verdadeira.
Fatos mais recentes, de amplo conheci-
mento público, demonstram que se tornou
praxe no Congresso Nacional a aprovação de
propostas do chefe do Executivo à custa de
concessões que facilitem a reeleição de parla-
mentares. Assim, essa reeleição para o
Congresso Nacional também está sendo bus-
cada por métodos contrários aos padrões
democráticos. Por todos esses motivos, as
eleições de 1998, tanto para o Executivo
quanto para o Legislativo, são úteis para
manter ativo um instrumento da democra-
cia, mas estão contaminadas por vícios muito
graves, tendo, por isso, valor bastante reduzi-
do como prova de que no Brasil se pratica a
democracia.
Dalmo de Abreu Dallari,
jurista
FA 19 abr/98
T e 1 e v i s ã o
O lado oculto dTemas e roteiros da TV Globo fazem propaganda subliminar dos projetos da elite, levam.
Pouca gente percebeu, mas
a criação do real, na me-
tade de 1994, coincidiu
com a estréia de uma nova
atração na Rede Globo.
"Pátria minha", novela das oito, consolidava
no horário o otimismo que sua antecessora,
"Fera ferida", já apresentava em seus últimos
capítulos. Coincidência? Talvez não. "Fer-
nando Henrique é o candidato que melhor
se adapta às representações das novelas", ar-
risca o professor Mauro Porto, da Uni-
versidade de Brasília. Junto com outros pro-
fessores e profissionais de várias áreas, Porto
faz parte do Núcleo de Estudos de Mídia e
Política (Nemp) da UnB.
Para comprovar o que disse sobre FHC,
Porto aborda o tom destilado por três novelas
em sequência. "Renascer", analisada entre
junho e novembro de 93, foi de pessimismo
inigualável. "Fera ferida", sua substituta, co-
meçou da mesma forma mas, aos poucos, ad-
quiriu porte ufanista. Terminou às vésperas
da conquista da Copa do Mundo pela seleção
brasileira de futebol, nos EUA O terreno esta-
va preparado para a estréia de "Pátria minha",
FA 20 abr/98
na qual o otimismo exalava em cada capítulo.
Ao analisar a eleição de 94, realizada sob
o domínio de "Pátria minha", Porto observa
que "no Brasil, poucos fenômenos sociais se
caracterizam por um êxito tão marcante jun-
to à população e simultâneo descaso junto
aos cientistas políticos como as telenovelas".
Para ele, nossos analistas falham por não
perceber que "a televisão está mudando a
política".
O coordenador do Nemp, Venício Lima,
acrescenta que "o núcleo identificou nas
novelas espaços de discussão política com
muito mais informações do que os debates
tradicionais". Ou seja, a teledramaturgia des-
tina mais espaço ao tema que meios tradi-
cionais, programas de análise e entrevistas.
A pessimista "Renascer" foi emblemáti-
ca ao destinar, em cena que durou seis minu-
tos e 20 segundos, diálogo ácido dos princi-
pais personagens contra instituições políti-
cas. Antônio Fagundes, num de seus tantos
papéis como coronel, diz que é preciso "fe-
char o Congresso". Aparteado por outro per-
sonagem, que relembra "os 20 anos de silên-
cio" decorrentes da ditadura, o rei da novela
reformula sua idéia: "O certo não é fechar,
não é? É limpar de lá todos esses desonestos,
botar essa raça na cadeia". Foi a deixa Para
que Álvaro Dias (PSDB/PR), então presidente
do extinto Partido Progressista, r e p e l e o dia
logo em um programa político gratuimria te
visão para dizer que comungava da mesma
dignação.Os autores alegam que a preserva de
política nas novelas reflete a opinião pública.
Mas, de acordo com a jornalista Liziane
Guazina, pesquisadora do Nemp, "a ten
dência dos espectadores é interpretar a reali
Influência
o o telespectadora confundir realidade e ficção
dade de acordo com a visão veiculada na tele-
visão". Liziane entrevistou telespectadores a
partir da gravação de "Explode coração", que
mesclou, aos temas políticos, questões soci-
ais, como crianças desaparecidas, Internet e
preconceitos.
Esta novela repetiu a desqualificação da
política já presente na trilogia pesquisada por
Mauro Porto. De origem pobre, o perso-
nagem central militou na esquerda em sua
juventude, mas atinge o sucesso e é candidato
ao Senado. A partir deste perfil, a novela in-
duz confusões entre esquerda e direita. Os
pesquisados de Liziane, por exemplo, não
identificam diferenças ideológicas entre am-
bos. Quem é de esquerda está preso ao passa-
do. Revolução? Utopia. Ser de esquerda,
para a novelista, é "ser adolescente a vida in-
teira". Apesar de ligar a esquerda a valores
humanitários, justiça social e honestidade, a
novela aponta que a direita é moderna.
comunicação, história e educação - gravaram
todos os capítulos para avaliar se a novela
provocou aumento da receptividade em favor
da reforma agrária. "Somente um estudo
pode responder esta pergunta", diz Liziane.
O projeto não foi colocado em prática
porque o Nemp padece dos mesmos pro-
blemas de toda universidade pública: falta
de recursos. O dinheiro anda tão curto que
até a televisão e o vídeo usados pelo Nemp
foram comprados pelos pesquisadores.
Parte das fitas gravadas, que somam quatro
mil horas, também é doação de membros
do Nemp, assim como a secretária eletrôni-
ca que socorre o Nemp quando nenhum
dos pesquisadores, todos voluntários, pode
dar plantão onde o núcleo funciona.
A UnB faz o que pode. Cede a sala, pa-
ga luz, telefone e IPTU. "Até o fim do ano,
precisamos de 200 fitas de vídeo ape-
nas para não parar o tra-
balho e ti-
Um dos próximos projetos
do Nemp vai analisar
a novela "Rei do gado",
que roman-
ceou a
luta dos sem-terra. Os
pesquisadores do Nemp - profissio-
nais de relações internacionais, ciência política,
que pedir dinheiro
à universidade para isso", infor-
ma Venício Lima. Desolado com a situação
do Nemp e de outros núcleos semelhantes
no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, Lima
constata: "Fazer pesquisa no Brasil é um
ato de heroísmo".
FA21 abr/98
nem sempre
é detectada
pelo público
As opiniões são semelhantes: as
novelas influenciam o comportamento
e levam o telespectador a modismos. A
rnaioria das pessoas acha as críticas
construtivas, mas sempre há aqueles
que percebem tentativas de indução.
A comerciaria Débora Cristina
Gouveia vê "algumas críticas inteli-
gentes" à política nas novelas que as-
siste. Para ela, "tem novela que traz
mensagens bem diretas para a popu-
lação, e até mesmo para os políticos
abrirem os olhos ao que está aconte-
cendo". Débora cita a saga glamou-
rizada dos sem-terra, na novela "Rei do
gado", para afirmar que "existem te-
mas polêmicos e de discussão neces-
sária, porque muita gente não está
ciente do que acontece e fica sabendo
dos problemas sociais e reais do país".
Telespectadora apenas quando o tra-
balho não a prende por mais tempo,
Débora acredita que "as novelas
influenciam o comportamento
das pessoas, mas tem muita
coisa passageira".
O comerciante Anselmo
Almeida também vê muita in-
fluência das novelas no com-
portamento. "Na maioria
das vezes, as mensagens
políticas esclarecem o te-
lespectador. Outras ve-
zes, não. Mas a novela sempre des-
perta o interesse para discussão". Para Ga-
brielle Guimarães da Silva, "as novelas ten-
tam influenciar os telespectadores na
política, mas as opiniões não são muito
boas". A estudante acha que "os diálogos
são muito vazios, não falam nada que pos-
sa ajudar muito". Para ela, "os autores colo-
cam o senso comum, e isso a gente ouve
em qualquer boteco de esquina".
as novelas
Sem-terra
Alternativa
social ao
crescente
desemprego
A Unipol significa o estabeleci-mento de um projeto além do trabalhopara o sindicalismo italiano. Em 1963,"o mundo cooperativo e o mundo dotrabalho uniam seus recursos numaempresa que realizava concretamenteo conceito de economia social", expli-ca Enea Mazzoli, diretor da Unipol. Aseguradora, na verdade, já existia.Apenas foi encampada pelos trabalha-dores, única alternativa permitida paraparticipar do mercado segurador.
Criar uma empresa cujo marke-ting é estar "ao lado do segurado" foipossível graças à força do movimentocooperativo. Existente há 120 anos,em áreas como habitação, agriculturae consumo, o cooperativismo foi a al-ternativa da sociedade italiana ao de-semprego crescente.
Hoje, as cooperativas respondempelo trabalho de 800 mil pessoas, 5%dos trabalhadores do país. O mercadopotencial da Unipol são os mais dequatro milhões de filiados a uma dastrês centrais sindicais que formam aempresa - CGIL (Central Geral Ita-liana de Trabalhadores), CISL (Cen-tral Italiana de Sindicatos de Tra-balhadores) e UIL (União Italiana deTrabalhadores). O sindicalismo ita-liano ganhou impulso a partir de1948.
Desta união nasceu a oitava maiorseguradora italiana, que se diferenciadas demais até na destinação de seusresultados. "Do lucro total, 3% são re-vertidos para o desenvolvimento deoutras sociedades cooperativas e 14%,no máximo, são distribuídos entre ossócios", informa o diretor financeiroda FENAE, Carlos Borges, que estevepresente ao seminário.
Um mercadoque cresceno mundo
m breve, um novo per-sonagem poderá fazerparte do mercado de se-guros no Brasil. Trata-sedo cooperativismo, que
responde por 10% do total de US$ 1,967trilhão movimentados pelos seguros nomundo. A participação de cooperativasno mercado segurador, segundo explica odiretor de marketing da FENAE Corre -tora, Sérgio Almeida, será possível após ofim do monopólio do IRB (Instituto deResseguros do Brasil) sobre esta área - ade resseguro.
"No Brasil, só quem pode bancar os
prêmios são os seguradores ou entidadesabertas de previdência privada", explicaele. No resto do mundo, já não é mais as-sim. Reunidas na Federação Internacio-nal de Cooperativas e Mútuas de Seguro(ICMIF), 200 empresas de 61 países jádistribuem USf 90 bilhões por ano emprémios, com aproximadamente US$ 400bilhões em reservas. O capital dos mem-bros da ICMIF é formado, em sua maio-ria, por cooperativas múltiplas, agrícolasou de crédito popular, centrais sindicais esindicatos. Ou seja, o cooperativismo re-presenta a participação dos trabalhadoresnuma área até agora proibida no Brasil. A
Chega a 10% do total de US$ 1,967 de trilhão o volume
de recursos movimentados pelo ramo de seguros
FA22abr/98
G o o p e r a l i v i s m o
Diligentes da CUT, da FENAE e de entidades sindicais participaram de seminário internacional sobre o mercado cooperativo de seguros
federação internacional tem por objetivomostrar que as cooperativas no mercadode seguros representam uma alternativasocial aos grandes grupos capitalistas dosetor.
A diferença entre cooperativas e em-presas privadas, que visam exclusiva-mente o lucro, é óbvia. "As cooperativasbaseiam-se na propriedade democráticae no controle democrático da empresa,com partilha equitativa de ganhos e per-das", explica Zaidh Quereshi, vice-presi-dente da ICMIF. Segundo ele, "a expe-riência cooperativa na área de segurostem sido experimentada com sucesso emmuitos países". E isto vem de longa data.A própria federação tem projetos desde1960.
No entanto, o movimento coopera-tivista no Brasil precisa vencer resistên-cias para obter o mesmo sucesso experi-mentado em outros países. Por existiremmuitas entidades de "fachada", sem outrafinalidade a não ser a exploração de mão-de-obra do trabalhador, a figura da coope-rativa tem sido desacreditada.
Caso vença estas barreiras ao se ar-
riscar no ramo segurador, o movimentocooperativista entrará num mercado emfranca expansão. Com faturamento de R$15 bilhões em 93, o mercado atinge 2% doProduto Interno Bruto (PIB) nacional, odobro de três anos antes. Especialistas daárea prevêem que esta participação podeaumentar para até 5% do PIB. Isto por-que, ainda hoje, 35% dos brasileiros nãoconfiam nas seguradores e 67% da popu-lação economicamente ati-va não têm qualquer espé-cie de seguro, de acordocom pesquisa recente.
Por ge-rir uma
empresa do ramo segurador,a FENAE é uma interlocu-tora natural em projetosque reunam trabalhadores,como o cooperativismo. Tanto que aCentral Única dos Trabalhadores (CUT)tem na federação uma parceira privilegia-da em suas discussões sobre seguros.
A central realizou, em 1996, semináriopara debater o tema. Dele, participaram
representantes da ICMIF, das grandes se-guradoras mundiais formadas por coope-rativas e do movimento sindical e associa-tivo brasileiro - incluindo a FENAE.
Ao lado da CUT, a FENAE foi convi-dada a participar de seminário promovidopela Unipol, empresa seguradora forma-da pelas três maiores centrais sindicaisitalianas e por cooperativas diversas. Oseminário aconteceu em Bolonha e serviu,
segundo o presidente daFENAE, Carlos Caser, para"aprimorar a integraçãocom o movimento italiano,que já tem muita experiên-cia neste ramo". Para o DI-REP/ SASSE, Jair PedroFerreira, o seminário "apre-sentou os benefícios para ostrabalhadores da existênciade uma cooperativa como a
Unipol". O DIREP/SASSE esteve emBolonha, ao lado do presidente da FE-NAE, Carlos Caser, do diretor financeiro,Carlos Borges, do tesoureiro nacional daCUT, Remígio Todeschini e de sindica-listas de diversas categorias.
FA 23 abr/98
Experiência
Desemprego,esse grande equívoco
Aloysio Biondi
dos, impedindo que a sociedade encontre
soluções. Afirma-se que "o desemprego é ine-
vitável, diante da modernização da economia
e consequente avanço no uso da tecnologia ". E
proclama-se ainda, como fez o presidente
Fernando Herinque Cardoso, que a criação de
empregos "depende de investimentos", isto é,
de gastos com a construção de fábricas, usinas,
rodovias, abertura de minas etc. Em resumo:
adia-se uma possível solução para o dia-de-
são-nunca, fortalece-se a sensação de impotên-
cia dos brasileiros diante de um "problema
mundial". A realidade é bem outra. O diag-
nóstico foi feito às avessas. As taxas de desem-
prego no Brasil poderiam recuar, e recuar ra-
pidamente, com políticas sensatas.
Investimento, equívoco - O presidente
FHC aponta a necessidade de investimentos,
recursos. No entanto, esse diagnóstico - co-
mo aconteceu na recessão do começo dos
anos 80 - ignora um dado fundamental: em
épocas normais, para criar vagas no merca-
do de trabalho, realmente ê necessário cons-
truir novas fábricas, usinas etc. No Brasil de
hoje, porém, o problema é inverso: as fábri-
cas, usinas etc. já existem, as máquinas já
existem - o que falta, exatamente, são en-
comendas, vendas, consumo. Isto ê, as em-
presas já fizeram os investimentos, estão com
capacidade, equipamentos ociosos e desem-
pregaram centenas de milhares de pessoas
(400 mil demissões somente na indústria,
desde o Real). Para reduzir, e reduzir
imediatamente, o desemprego no Brasil,
portanto, basta atacar a real origem dos
problemas, a saber: criar consumo para a
produção local. Aqui, desemboca-se mais
uma vez nas verdadeiras raízes da crise na-
cional: a economia segue rolando ladeira
abaixo porque o poder aquisitivo do povo
brasileiro está sendo destruído, há três anos,
por uma política suicida.
Escancaramento às importações, conse-
quente desemprego, "achatamento de
salários", congelamento dos ganhos do fun-
cionalismo, abandono da agricultura (na
hora da comercialização, sobretudo) são
fenômenos que se realimentam, derrubam o
consumo e a produção, montando um
quadro recessivo. Tudo, reforçado ainda
pela manutenção de taxas de juros abusivas
para o consumidor e clientes dos bancos
(cheques especiais, cartões de crédito etc),
verdadeiro "confisco" da renda das famílias.
Traçado esse diagnóstico, fica claro que
a questão do desemprego poderia ser atacada
de imediato, com a reversão das diretrizes
que o governo tem adotado. Aumentar as
tarifas de importação de alguns produtos,
que foram exageradamente rebaixadas pelo
governo, estimularia a indústria local e
reabriria vagas no setor. Garantir preços
adequados ao agricultor, na comercializa-
ção da atual safra, tirando-os das mãos dos
intermediários, aumentaria a renda no inte-
rior do país, criando mercado também para
os produtos industriais. Mais vendas, mais
FA 24 abr/98
empregos, rnais salários em determinados se-
tores significariam efeitos multiplicadores
sobre toda a economia, reativando-se a pro-
dução e os negócios.
É óbvio que, paralelamente, novos in-
vestimentos também teriam efeitos sobre a
economia. Teriam, entenda-se bem, se o
governo não cometesse novos erros.
Desgraçadamente, eles são a constante. Nos
últimos dois anos, o país faz gastas- e não
"investimentos" - maciços no setor de ener-
gia e telecomunicações. Mas, como já se
apontou aqui nesta coluna, os projetos e
obras nesses setores estão sendo tocados tam-
bém com equipamentos, peças, componentes
e até matérias-primas importados. Não re-
presentam "investimentos" impulsionadores
da economia, porque não estão criando en-
comendas, produção, salários, dentro do
Brasil. No caso das telecomunicações, a en-
tidade que representa a indústria de peças e
componentes pediu ao governo que haja o
uso obrigatório de um volume mínimo de
produtos nacionais.
No começo do mês de março, surgiu o
anteprojeto do governo atendendo aparente-
mente essa reivindicação. Porque
"aparentemente"? O índice de obrigato-
riedade sugerido está entre míseros 5%e lO% de peças nacionais. Ridículo. A indús-
tria nacional continuará a ser massacrada-
Os empregos continuarão a ser criados lá fo-
ra, no país-matriz.
Aloysio Biondi,
jornalista
este país de modismos
chamado Brasil, o debate
sobre o desemprego não está
conseguindo escapar da re-
gra geral: ele também está
tomando rumos equivoca-
Jjaime D eco ri to
Seis horas da manhã. 0 sol dissipa
a bruma que envolve a cidade e
descortina 300 anos de história.
Ouro Preto surge diante dos olhos.
A arquitetura se revela. É o primei-
ro diálogo que o olhar estibelece
com a antiga. capital mineira. A
cidade pulsa entre vielas, ruas de
pedras, casarios, igrejas e as
montanhas que a circundam. Aqui,
as vozes do passado parecem sus-
surar inconfidências. Barroca, líri-
ca e liberaria. Assim é Ouro Preto.
A arte de
Aleijadinho
embeleza as
ruas históricas
Antônio Francisco Lisboa, o Alei-jadinho, é o maior artista brasileiro doséculo XVIII. Conhecida mundial-mente, a obra do escultor mineiro sedivide entre imagens sacras, retábulos,altares e frontispícios de igrejas.
O trabalho de Aleijadinho impres-siona tanto pelo domínio técnicoquanto pela enorme carga de emoçãoque emana de cada peça. O rigor es-tético foi atingido a despeito das muti-lações que o mestre do barroco sofreupor causa da hanseníase.
Relatos dão conta de que oAleijadinho tinha que atar ao braço asferramentas com as quais esculpiaparte da história da arte brasileira.Neste momento, pesquisadores se; de-bruçam sobre os restos mortais do ar-tista, na tentativa de comprovar umatese levantada ainda no século passa-do: ã de que Aleijadinho tambémsofria de uma rara doença de pele, aporfiria.
Caracterizada por lesões na peleprovocadas pela luz do sol, a porfiriapode explicar os hábitos de Aleija-dinho que trabalhava exclusivamenteà noite, protegido da claridade.
Cultura
O barrococomemora300 anos
uma galeria de personagens que fun-daram parte expressiva da identidade na-cional. Aleijadinho, Tiradentes e SinháOlympia. Arte, política ou a mais puraexpressão popular. Por onde quer que seolhe, é o Brasil que se expressa atravésdessa janela que une passado e futuro.
Patrimônio de toda a humanidade,
Ouro Preto enfrenta desafios para ir alémdos seus 300 anos. A cidade sofre comonenhuma outra a falta de cuidados. O trân-sito pesado na praça Tiradentes, no centroda cidade, abala as estruturas do Museu daInconfidência. Marco da arquitetura colo-
nial civil, o museu abriga omais valioso acervo do pe-ríodo barroco. Imagens
FA 26 abr/98
uro Preto chega ao tri-centenário carregada deprofundo sentido históri-co, um patrimônio artís-tico sem precedentes e
sacras, mobília e relíquias preciosíssimas fi-cam guardadas no museu. Ali estão osrestos mortais dos inconfidentes. Apesardisso, o prédio do museu afunda um cen-tímetro a cada ano. Causa do estrago: omovimento de ônibus e carros que enfeiama praça ao torná-la um estacionamento.Nos finais de semana, a cidade costuma serinvadida por estudantes que desprezam ahistória e desrespeitam os museus, igrejas emonumentos ao confundir Ouro Pretocom a Disneylândia. Na tarefa de reeducara sensibilidade dos pupilos, as escolas têmmuito o que colaborar. O Ministério daCultura parece ter se esquecido que se nãohouver investimentos maciços na recupe-ração e conservação da arquitetura secular,Ouro Preto pode perder parte do pa-trimônio. Títulos da Unesco ou do Patri-mônio Histórico Nacional sozinhos nãopagam contas de restauro.
A antiga capital mineira sentiu diver-sos baques ao longo da história. O fim dociclo do ouro empobreceu a cidade. O ci-clo do alumínio, que começou com a ex-ploração em grande escala da bauxita, já
se despede e deixa uma cidade cada vezmais descaracterizada. A vocação de Ou-ro Preto é o turismo cultural. Para o ex-prefeito Angelo Oswaldo,"Ouro Preto pode sediarcentros de excelência emeducação e arte. O municí-pio tem a primeira escolade farmácia da América doSul, criada em 1839, umcurso de gemologia e umauniversidade." Ao lado doturismo cultural, a produ-ção de conhecimento cien-tífico e artístico é a saida para o cresci-mento de Ouro Preto sem que a cidadeseja agredida".
0 Ministério
da Cultura
esqueceu a
cidade
problema é que o Rio de Janeiro, nossaporta de entrada de estrangeiros, ficoumuito violento e o turista sumiu." Na
verdade, o que falta é mar-keting. Afinal, Ouro Pretotem uma ampla rede hotelei-ra. Hotéis e pousadas funcio-nam com acomodações paratodos os gostos e bolsos. Osrestaurantes abrem, em suamaioria, de terça a domingo,com cardápios variados. Dotradicionalíssimo tutu à mi-neira ao requinte da cozinha
francesa. Tudo ao alcance do visitante. Issosem falar no pão-de-queijo com café, osdoces e licores produzidos na própriacidade. Cafés, tavernas e bares completama diversão, com o charme que só OuroPreto oferece. O artesanato é rico em obje-tos em pedra-sabão e jóias em prata e pe-dras brasileiras. O sistema de transporte atéOuro Preto é bem servido. Vários eventostêm lugar garantido no calendário local,entre eles a Semana Santa e os festivaisde inverno.
FA 27 abr/98
A antiga capital mineira foi palco de importantes eventos da nossa história e até hoje guarda as características de um passado ainda presente
Prejuízos Com uma crescente que-da no número de turistas,
alguns setores de Ouro Preto se ressen-tem. Vicente Trópia, dono de restau-rante, contabiliza que nos últimos anos oturismo caiu pela metade. O secretário deTurismo, Robson Aquino, prefere culparo vizinho pela decadência do setor. " O
Os saudáveisloucos mesclamnas ruas ficçãoe realidade
Em cima de muros , no meio darua ou parados na esquina com o ou-vido ligado em um rádio à pilha quenão funciona. São os loucos de OuroPreto. Eles já viajaram o mundo nosrelatos dos turistas que encontram ne-les mais um aspecto da singularidadede um lugar encantado.
A cidade é rica desses perso-nagens. A mais popular foi SinháOlympia, nascida Olympia Cotta emuma rica família em 1945. Jovem ebonita, Olympia passou a viver emoutra realidade depois de uma de-cepção amorosa, diz a lenda. Enlou-quecida, ela percorria as ruas de OuroPreto contando casos que misturam amais exata precisão histórica comlances surreais. Inteligente e vaidosa,Olympia usava roupas coloridas e es-travagantes.
Na década de 70, Sinhá Olympia,que sonhava ser a rainha de OuroPreto, já estava integrada ao patri-mônio da cidade. Morreu eml996, aos90 anos. Hoje, ela dá nome a uma es-cola de samba de Ouro Preto. A gale-ria dos delirantes inclui ainda GhicoBento, Monsueto, Só Sapo, Pane-leiro, Maria Pé de Anjo, Canelinha,
Alcides Feijoada, Fu-teco e Valdir do Ra-dinho, que aindaestá aí para quemquiser conhecer.
Dia e noite, éele quem estágrudado a umrádio quebra-do que sinto-
niza músicas doalém.
Vila Rica comgosto de culturaA exuberante estética barroca ganha novo sotaque,
sendo redescoberta pelos modernistas em 1922
uro Preto nasce da sede de ri-queza dos lendários viajantes doséculo XVII. Antônio Dias deOliveira, líder bandeirante, sou-
be da ocorrência de ouro próximo ao picode Itacolomi. Começa a corrida. Já em1708, a Guerra dos Emboabas faz corrersangue entre as minas, numa disputa queenvolve paulistas, pernambucanos, baia-nos e portugueses. No fim do séculoXVII, Vila Rica ferve. A Coroa Portugue-sa é ávida. Portugal institui a cobrança do"quinto" de tudo o que for retirado do so-lo. Criam-se as casas de fundição, que con-trolavam a extração de ouro. Um grupo serevolta e tenta dar o primeiro grito contra aopressão. Felipe dos Santos, um dos líderesdo movimento, é preso e esquartejado.Parte de Vila Rica é incendiada.
Civilização Entre 1730 e 1760 OuroPreto vive o auge. São
cerca de cem mil habitantes, entre eles in-tectuais e artistas. Funda-se uma estética
barroca com sotaque brasileiro.Diversos movimentos filo-
sóficos ganhamalen to .
Arquitetura, mobília, vestuário e comporta-
mento. A cidade produz um dos momentos
mais ricos da nossa cultura. A exuberância,
porém, começa a minguar em fins do século
XVIII. As minas dão sinais de exaustão.
Como se não bastasse, Portugal institui a der-
rama, uma cobrança dos impostos atrasados.
Inspirado nos ideis iluministas, um
grupo de filhos de famílias ricas conspira. O
que se quer é a independência do Brasil. A
Inconfidência Mineira foi o mais forte
movimento politico de caráter libertário
que até então havia surgido em solo tupini-
quim. Tiradentes, o único a assumir toda a
responsabilidade pelo movimento, acaba
por sofrer a mais cruel retaliação por parte
lusitana. Ele é preso, enforcado e tem seu
corpo fragmentado em pedaços que são es-
palhados entre o Rio de Janeiro e a praça
central de Ouro Preto. Thomaz Antônio
Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e ou-
tros inconfidentes são exilados.
Ouro Preto recebe esse nome em
1823, quando é elevada à categoria de
capital, título que perde 74 anos depois
com a transferência da capital para Belo
Horizonte.
Com o movimento modernista de
1922, Ouro Preto é redescoberta como
um dos mais importantes cen-
tros turísticos e culturais do
Brasil.
FA 28 Abr/98
A r t i ff o
A bossa nabalança (comercial)
Tárik de Souza
orno todo movimento cul-
tural, a bossa nova não se
fez em um dia. Mas seu
marco inaugural pode ser
atribuído ao lançamento
em agosto de 1958 do 78 rotações "Chega de
saudade", de Tom jobim e Vinícius de Morais
por João Gilberto. Na voz microfônica, colo-
quial, do cantor e na mensagem intimista da
letra & música aistalizavam-se inovações
que transformariam a MPB para sempre. No
mesmo ano tinha saído o LP "Canção do
amor demais", com Elizeth Cardoso inter-
pretando os mesmos Tom e Vinícius, com a
participação do violão harmónico do próprio
João Gilberto. Anos antes, músicos como
Dic^ Farney, Johnny Alf, Lúcio Alves, Tito
Madi, Luís Bonfá e Carlos Lyra, cantoras co-
mo Nora Nei, Dons Monteiro e Silvia Telles
anteciparam mudanças, subvertendo a estéti-
ca dolorida do samba-canção aparentado ao
bolero cubano. A própria fase de ouro da era
do rádio, em que imperava o dó de peito
originário da ópera, tinha seus dissidentes, co-
mo o cantor Mário Reis e modernistas anteci-
padores como Noel Rosa, Custódio Mesquita,
Garoto, Valzinho, Radamés Gnattali, Vadico.
Foi o casamento da voz de João Gilberto
com célebre batida de violão que acabaria re-
produzido pelos bateristas de todo o mundo (e
teria também influência das sincopas de piano
de outro precursor, João Donato) quem daria
a fase musical definitiva à bossa nova. Como
toda transformação radical, a bossa criou
polêmica eplantou desafetos. Acusaram-na de
elitista, de mero arremedo dojazz. E verdade
que a bossa teve berços de classe média alta, co-
mo o apartamento da família da cantora Nara
Leão, mas vários de seus integrantes, como o
pai da matéria Johnny Alf (Alfredo José da
Silva, carioca, filho de um cabo do Exército e
uma empregada doméstica), Alaíde Costa e o
próprio João Gilberto, um baiano da cidade
de Juazeiro, enfrentaram duras batalhas por
um lugar ao som. Mesmo Tom jobim gramou
como pianista anônimo em muito infeminho
de Copacabana nos anos 50 até conseguirpro-
jetar-se.
Quanto à influencia dojazz, auto-
ironizadapor um dos integrantes da bossa,
Carlos Lyra, da ala do Centro Popular de
Cultura da UNE ("pobre samba meu/foi se
misturando/ se modernizando e se perdeu"),
ela acabou devolvida em dobro através de
gravações de clássicos do estilo por gente co-
mo Miles Davis, Dizzy Gillespie, Ella
Fitzgerald, Sarah Vaughan, Stan Getz,
Wayne Shorter, Herbie Hancock além do
célebre Frank Sinatra, que dividiu um disco
com Tomjobim - caso único em sua carreira.
Recentemente, nos anos 80, na Inglaterra
surgiu a "new bossa", moldada na matriz
brasileira, praticada por grupos como Matt
Bianco, Everything But the Girl, Style
Council etc. Como o Brasil vivia uma fase
dedicada ao rock anglo / americano, ocorreu o
paradoxo das novas bandas e cantores (como
Lobão, Cazuza, Paralamas) receberem uma
influência da bossa nova por tabela.
A bossa nova projetou aqui uma ampla
geração de músicos, que acabou exilando-se
quando o golpe de 64 mudou bruscamente os
rumos do mercado de trabalho. De Sérgio
Mendes e Eumir Deodato a Dom Um
Romão, Edilson Machado, Moacyr Santos,
Luís Bonfá, Oscar Castro Neves, Airto
Moreira, Flora Purim, muitos foram os que
fizeram carreira no exterior. E com a atual
redescoberta do sincopado da bossa pela tribo
londrina do acidjazz, de novo artistas
brasileiros como Marcos Valle, João Donato,
Joyce passam a ter seus discos disputados a pe-
so de ouro no mercado internacional. Há até
um selo pirata inglês especializado neste tipo
de música, aqui só encontrável no sebos.
Nos 40 anos da bossa, um estilo de músi-
ca nascido no Brasil que espontaneamente es-
palhou-se pelo planeta, seria importante que
a política cultural do pais reavaliasse suas
próprias forças. Não foi por acaso que a rai-
nha da Inglaterra condecorou os Beatles e o
príncipe Charles deixou-se apalpar pelas
Spice Girls. Disco é cultura. E também di-
visas tão necessárias a uma balança eterna-
mente deficitáría.
Tárik de Souza,
jornalista
FA29 abr/98
Um precursor
da genuína
música
brasileira
Jacó do Bandolim representa,para a música popular brasileira, omesmo que o barroco Johann Se-bastian Bach representa para a mú-sica erudita. Ambos, guardadas asdevidas proporções, fizeram do atomusical a profusão de sons simultâ-neos como meio de se alcançar o be-lo. Coube ao instrumentista brasi-leiro compor canções como "Treme-treme", "Doce de coco" e "Noitescariocas" que, de tão importantes einovadoras, marcaram em definitivoa história do choro moderno no
0 bandolimi luminado
m dos mais respeitados
nomes da música instru-
mental brasileira, Jacó do
Bandolim foi um músico
excepcional, pesquisador
exigente e soube unir simplicidade e re-
quinte, dando brilho especial a cada nota,
cada acorde, cada contraponto. Nascido
Jacob Pick Bittencourt, em 14 de fevereiro
de 1918, o carioca Jacó do
Bandolim foi contem-
porâneo de Pixingui-
nha e Noel Rosa e -
tal como ambos - foi
um músico decisi-
vo para a formação
da MPB.
Filho
ú n i c o
d e
Francisco Gomes Bittencourt e de Raquel
Pick, Jacó teve com a música instrumental
uma relação de amor intenso. Aos doze
anos, ganhou da mãe um violino (instru-
mento com o qual não se adaptou). Seu
primeiro contato com o bandolim veio logo
em seguida, um presente dado por uma
vizinha.
Nunca viveu só da música. Em 1940,
nomeado por concurso, tornou-se escrivão-
titular do juízo da 11a Vara Criminal do RJ,
cargo que ocupou até a sua morte, em 13
de agosto de 1968. Faleceu meses depois
do show antológico que fez com
Elisabedi Cardoso e Zimbo Trio, no Teatro
João Caetano.
O choro "Treme-treme"(de sua autoria)
e a valsa "Glória" (de Bonfiglio de Oliveira),
de 1947, foram dois de seus primeiros grandes
sucessos. Gravou "Flamengo", choro de
Bonfiglio de Oliveira, que alguns vascaínos
insistem em dizer que é uma hom-
enagem ao bairro, não ao clube.
Lançou em outubro de 47, se-
lo Continental, o disco de 78
rotações 'Vibrações" - bási-
co para a história do
choro no Brasil.
Jacó do Ban-
dolim foi casa-
do com Adylia
Freitas Bit-
tencourt, com
quem teve
dois filhos: Sérgio
e Elena. Ambos seguiram
o caminho do pai e se tornaram
compositores,
FA 30 abr/98
A história do choro em nossopaís, um gênero surgido no Rio deJaneiro no início do século passado,se confunde com a trajetória musi-cal de Jacó do Bandolim. Tanto éassim que em 1966 organizou oconjunto regional Época de Ouro(que existe ainda hoje), com o qualgravou os LPs "Chorinhos e cho-rões" e "Vibrações". Ele semprepreferiu o choro, a valsa e a polca,mesmo durante a fase áurea da bos-sa nova. Isso mostra que Jacó doBandolim foi um músico por ex-
Brasil.Foi decisiva a sua contribuição
para firmar um estilo de músicagenuinamente nacional. Segundo obandolinista brasiliense Hamiltonde Holanda, do grupo Dois deOuro, Jacó do Bandolin foi um ilu-minado durante o período em queesteve no batente. "Uma de suasprincipais características foi a. cla-reza e a sensibilidade, pois ele fezmuito com pouco e, de maneira ge-nial, sempre usou pouca nota emsuas composição''.
M ús i c a
A Hollywood
esde 1959 que a ilha co-
mandada por Fidel Cas-
tro desperta interesse do
mundo, dos que gostam
ou a odeiam. Mas mesmo
antes disso, quando os guerrilheiros ainda
estavam em Sierra Maestra, já havia intelec-
tuais que acompanhavam com interesse o
processo pré-revolucionário. Entre eles, di-
versos cineastas.
''Até por isso o cinema cubano passou a
ser um dos principais meios da diplomacia
para divulgar a Revolução. Logo depois de
assumir o poder, os revolucionários criaram
um modelo estatal de produção cine-
matográfica, mas como se fosse um grande
estúdio, uma Hollywood", afirma o cineas-
ta Leopoldo Nunes, que foi aluno da se-
gunda turma da Escola
Internacional de Cine e
TV de San António de
los Banos, em 1988.
É desde 1959 tam-
bém
que o cinema brasileiro mantém uma re-lação amistosa com os profissionais da il-ha. Glauber Rocha era muito amigo deAlfredo Guevara Valdés, diretor do InstitutoCubano de Arte e IndústriaCinematográfica (Icaic). Es-sa amizade se justificavaporque Guevara era umareferência para os cineastascríticos do mundo inteiro.''O cinema cubano e ocinema novo brasileiro ti-nham muita semelhança. Oslogan "Uma câmera namão e uma idéia na cabeça"era aplicado lá. A diferença é que em Cuba,além da câmera e da idéia, havia uma mul-tidão de trabalhadores ajudando a realizaras produções".
Durante esse período de "ouro" docine cubano destacou-se, entre outros,
Tomaz Gutierres Alea- recentemen-
te falecido e considerado um dos maiorescineastas do país. Ele filmou "Memóriasdo subdesenvolvimento" e "Histórias darevolução", ambos clássicos. Sua última
película foi "Morango echocolate'' dirigida jun-tamente com Juan CarlosTabio, que ganhou oprêmio de melhor filme doFestival de Gramado: (Bra-sil), em 1994. A obramostra uma visão de Aleacompletamente diferente arespeito do sistema cubano.O filme faz uma crítica su-
til, porém cortante, da forma como vemsendo conduzido o regime. Os diálogosentre David, um estudante que defendea Revolução, e Diego, um artista dissi-dente que luta contra o preconceito,mostram claramente os dois lados de umamesma moeda chamada Cuba.Conseguiram-se avanços em várias áreas soci-
ais, mas exis-
tem restrições fortes à liberdade de ex-pressão. Antes de morrer, Alea declarou arespeito de Morango e Chocolate que,"acima das questões políticas suscitadaspelo governo de Fidel Castro, há um paíschamado Cuba e uma forte cultura na-cional".
Para o cineasta Leo-
Policiamentopoldo Nunes, Mo-
rango e chocolate" é um marco porqueconseguiu fugir do "policiamento" do sis-tema. "Nos últimos tempos o cinemacubano tornou-se muito oficial, porque aatual geração está sendo muito policiada".Um fato recente chocou a intelectualidade
. internacional. O filme 'Alice no paísdas maravilhas", de Pastor
Vega, um cineastaque cresceu naRevolução, foi
proibido. Só depois demuita mobilizaçãodos principais intelec-tuais cubanos é quefoi liberado, mas mes-mo assim o PC orien-tou a Juventude Co-munista a intimidaraqueles que rissemdurante sua apresen-tação. Detalhe: ofilme era uma comé-dia que, às vezes,ironizava exageros do
sistema.O atual momento do cinema cubano
é de certa forma uma expressão de comose vive no país: em meio a uma grandecrise, sufocado pelos EUA e calado peloregime. Esse é um dos motivos que levaJuandre Perdemo, 12 anos, que está na7a série e estava visitando a Escola deCine e TV, a "sonhar" em seguir os pas-sos do irmão mais velho: "Quandocrescer vou morar em Miami e trabalharcom turismo."
O cinema nacional deu a voltapor cima e se fortaleceu nos últimosanos. Além de estar conquistando opúblico interno, também tem se des-tacado no exterior. Prova disso é a in-dicação do filme "O que é isso, com-panheiro?", Bruno Barreto, para con-correr ao Oscar na categoria de pro-duções estrangeiras, assim como aconte-ceu com "O quatrilho", Fábio Barreto,em 1996. Sem falar no Urso de Ourode melhor filme do Festival de Berlimconquistado por "Central do Brasil",Walter Salles, e o prêmio de melhoratriz para a veterana Fernanda Mon-tenegro no mesmo festival.
Nessa trajetória de retomada,muitas foram responsáveis, como aatriz Carla Camurati, que estreoucomo diretora no filme "Carlota Joa-quina, a princesa do Brasil", marcodessa nova fase e que levou 1,2 mi-lhão de pessoas às salas de exibição.Ela diz que utilizou a Lei Rouanetpara conseguir patrocinadores e quetambém realizou permutas paracompletar o orçamento.
Sérgio Rezende, diretor de "La-marca, o capitão da guerrilha" e"Guerra de Canudos", o segundoum dos recordistas de bilheteria docinema nacional, afirma que "a si-tuação se transformou devido à Leido Audiovisual, que permite às em-presas destinar parte do imposto derenda para financiamentos de proje-tos audiovisuais".
O grande problema apontado pe-los dois diretores é a falta de salas deexibição para a quantidade de obrasque estão sendo produzidas, o quepode levar muito filme nacional boma nem entrar no circuito comercial.
O cinema
nacional
volta a
emocionar
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Cresce a ameaçaDiversas áreas do país são suscetíveis de transformarem-se em regiõe
o Brasil, cercade 15 milhõesde pessoas es-tão ameaçadasde viver em
regiões desérticas ou sofreras consequências da
desertificação. O fe-nômeno, que já viti-mou milhares dehabitantes do norte
da África e abalou aeconomia do meio-
oeste dos Estados Uni-dos na década de 30,
avança rapidamente sobreregiões inteiras do Nordeste
brasileiro e norte de Minas Gerais.Hoje, a desertificação é enten-
dida como perda da capacidadeprodutiva das terras em zonas ári-
das, semi-áridas e sub-úmidas secas.Entre os fatores que levam uma
região a se tornar um verdadeiro desertoestão as variações climáticas e a ação des-trutiva do homem sobre o ambiente."Quando se faz uma queimada ou sepratica a agropecuária com técnicasrudimentares, o solo sofre as conse-quências e abre brechas para que o pro-cesso de desertificação se instale", ex-plica a pesquisadora Marta Celina, doNúcleo de Estudos sobre Desertifi-cação da Universidade Federal doPiauí. No Nordeste, a associação detécnicas agropecuárias atrasadas e umclima extremamente seco faz daquelaregião o maior pólo de desertificaçãodo país.
Isso, porém, não quer dizer queoutras regiões brasileiras não estejamsusceptíveis a sofrer o mesmo proble-ma. No Rio Grande do Sul e emTocantins, por exemplo, já começam asurgir áreas que preocupam os espe-cialistas no assunto. "O que ocorre no
pampa gaúcho, perto de Ale-
Microrregiõeshomogêneas
afetadas peladesertificação
Muito grave
Grave
Moderado
Núcleos de desertificação
Áreas de atenção especial
do desertodesérticas, prejudicando a população
grete, é o afloramento de rochas basál-ticas do subsolo. Não é um caso clássi-co de desertificação, mas ele está ma-peado como área de atenção especial",revela Heitor Matallo Filho, do Minis-tério do Meio Ambiente.
Atraso Com um atraso de quasetrinta anos, desde que o as-
sunto começou a ser debatido em fórunsinternacionais, só agora o Brasil dispõede dados, mapas e pesquisas que vão darsuporte ao Plano Nacional de Combateà Desertificação. O trabalho é coordena-do por Heitor Matallo. "Precisamosganhar a opinião pública para essaquestão, já que a desertificação está naagenda ecológica mundial ao lado detemas como a mudança de clima noplaneta, a destruição da camada deozônio e a biodiversidade", alerta Ma-tallo. Recente pesquisa revelou que só1% da população do Brasil acompanhacom algum interesse o problema da de-
sertificação.
A verba federal para combater a for-mação de desertos no território nacionalé tímida. Para este ano serão gastos ape-nas US$ 1 milhão em cursos de capaci-tação e investimentos básicos nas áreasatingidas (veja mapa). O restante dosrecursos deve vir de bancos interna-cionais e organizações não-governa-mentais como a Fundação Grupo Es-quel, que há anos se dedica ao pro-blema da desertificação.
Enquanto o governo traça planos,o inimigo avança silencioso. EmSeridó, no Rio Grande do Norte, adesertificação dá prejuízos de cercade US$ 800 milhões por ano, derre-tendo a economia da região. "Quemmais sofre é a população. A terraperde condições de produzir alimen-tos, o sistema hídrico fica compro-metido e a erosão toma conta", cons-tata, assustado, o secretário de Recur-sos Hídricos do Rio Grande do Nor-te, Rômulo Vieira. .
Áreas de riscoafetam cercade 900 milhõesde pessoas
O problema da desertificação ho-je é tratado em escala global e está as-sociado a vários desequilíbrios ambi-entais. Nas áreas de risco vivem a-tualmente 900 milhões de pessoas.De acordo com o International Cen-tre for Arid and Semi-Arid LandStudies (Icasals), do Texas (EUA), ototal de terras degradadas sujeitas aprocessos de desertificação corres-ponde a 69% de todas as terras áridasdo mundo. É nessas áreas que se con-centram os maiores bolsões de po-breza do Terceiro Mundo. Segundo aONU, a desertificação deixa anual-mente 6 milhões de hectares de terrafora de condições de produzir ali-mentos. O prejuízo anual é de US$ 4bilhões em todo o planeta.
A dimensão do problema levou aConferência sobre Desenvolvimen-to e Meio Ambiente da ONU, aECO-92, a aprovar um documentoque definiu uma convenção para ocombate à desertificação. Os paísesque assinaram a convenção, entreeles o Brasil, ficam obrigados a de-senvolver planos para reverter osefeitos da desertificação, bem comoatacar as causas que muitas vezestêm origem na pecuária extensiva eno processo de exploração tradi-cional do solo.
Há quem garanta, no entanto,que o governo brasileiro não vemagindo conforme deveria para com-bater o fenómeno da desertificação.Prova disso, segundo ativistas doGreenpeace, é o caso da lei ambientalsancionada recentemente pelo presi-dente Fernando Henrique Cardoso,que retirou as punições previstas paracertos tipos de queimadas
E s p o r l e s
cara que gera
cinco bilhões
de dólares
Empresários que levam a sérioesta brincadeira da juventude fazemparte de um mercado que movimen-tou, somente em 1996, mais de R$ 5bilhões no mundo todo. Nada, nada,mas é quase 1% do Produto InternoBruto (PIB) nacional.
Os chamados esportes "outdoor"vão desde o "mountain bike", maisconhecido, até a descida de cachoeirase rios acidentados, passando pela es-calada na pedra e até mesmo pela es-peleologia - a exploração de cavernase grutas, que pode ser encarada tantocomo esporte quanto como ciência.No Brasil, os maiores mercados parao esporte em contato com a naturezasão Rio de Janeiro, São Paulo eDistrito Federal.
O preço do equipamento trans-forma os esportes "outdoor" em aven-tura para poucos. Quem quiser pra-ticar espeleologia ou escalada com se-gurança absoluta não desembolsamenos de R$ 500. Os equipamentosobrigatórios são cordas, botas, mos-quetões e cadeirinhas. Mosquetõessão os ganchos para firmar as cordasna rocha. A cadeirinha é uma espéciede cinto de segurança. Barato mes-mo, só impermeabilizante para rou-pas e sapatos.
Constantes vistorias no material eatualizações de equipamentos for-çam novos desembolsos, o que enca-rece ainda mais a prática do esporte.Ou seja, o que começou como umabrincadeira de jovens - rebeldes ou"zen", dependendo da interpretação- e já começou a ser tratada seria-mente até pela psicologia, tem todosos requisitos para virar tema de aná-lises económicas.
A coragem que ajuda a pensar e a manter o e
uem pratica algum esporte
radical vive gritando gírias,
é agressivo e rebelde, ar-
risca sua pele em ma-
nobrasimpossíveis e não se
importa com os perigos.
Certo? Nada disso. A mí-
dia constrói para a juventude uma imagem
que, em geral, não corresponde exatamente à
realidade. "Os mais radicais são exibicio-
nistas, ainda não perceberam que isso não é o
que conta", diz Marcelo Sartório, que passa
longe dos "bad boys" da escalada, canoagem
e outros esportes "outdoor" - nome dado às
modalidades praticadas em contato com a
natureza.
Uivos ou maluquices excessivas não
atraem Sartório, que considera a prática de es-
porte uma Verdadeira "meditação ativa". Para
ele, escalar é fazer "ioga na pedra". Já a estu-
dante Cynthia Hirata de Carvalho, menos
ortodoxa que Sartório, até faz escalada
"indoor" e outros esportes mais
agressivos, como caiaque-pólo.
Mas é da mesma opinião: "O
mais interessante de qual-
quer esporte e
ajudar a
pensar", acredita ela.
Haja pensamento! Cyn-
thia não se contenta com
pouco: faz caiaque-pólo,
"canyoning", "bungie-
jumping" e desce cor-
redeiras. Além de tu-
do, ainda encontra
tempo para estudai,
tanto que está no
Japão durante
todo este ano.
Sobre a
femaderadi-
calerebéídè
queacom-
panha
todo
jovem que pratica
Palgò menos tradicional, Cynthia
embra que so se mete em perigos quem
não segue as regras."Na escalada, por e-
xemplo, os equipamentos são altamente se-
guros, aprovados internacionalmente, e pos-
suem avisos de que só podem ser usados com
uilíbrio emocional
conhecimento", diz a estudante. Para Cynthia,
"o esporte coloca limites a superar, mas
ninguém precisa se expor a grandes riscos para
isso".
Os perigos comuns no esporte são muito
mais prosaicos do que, por exemplo, cair de
uma rocha. Segundo Sartório, o risco está
muito mais presente em práticas que liberam
mais agressividade, como "skate" ou "bici-
cross". Fã incondicional da escalada, ele de-
fende a prática do esporte como a busca de
"movimentos harmoniosos e interação com a
natureza".
Porém, mesmo esportistas "zen" como
Sartório têm seus momentos de "bad boys".
Ele, por exemplo, inaugurou em Brasília,
cidade onde mora, a prática do "bridge-jum-
ping". Preso a uma corda, pulou de uma das
pontes que cruzam o lago Paranoá. Á façanha
mereceu reportagens na imprensa local e
provocou congestio-
namento de cinco
quilómetros. Sartório
e Javier Solsona, esca-
vador argentino que pu-
lou com ele, não foram presos apenas pela pre-
sença de jornalistas.
Há notícias de que o "bridge-jumping" é
praticado também em
Minas Gerais e São Paulo.
"O salto é um momento de dis-
tração, relaxamento. Não é uma
grande aventura ou desafio, apesar de
exigir muita técnica e equipamentos apropri-
ados", alega Sartório.
De acordo com psicólogos, são muito
variados os motivos que levam os jovens a
praticar esportes cada vez mais performáti-
cos e, à primeira vista, extremamente
perigosos. A psicologia começa a fazer parte
do assunto, geralmente, quando a procura
pelo esporte radical vira patologia, mas "não
se pode prender apenas aos aspectos nega-
tivos, porque o esporte representa a vida das
pessoas, a superação dos limites", diz a
psicóloga Jane Vasconcelos Viana.
Jane elenca várias possibilidades para
que esportes mais agressivos
tenham a preferência dos
jovens: "Necessidade de gru-
po, de chamar a atenção e de
competir, sensação de liber-
dade, garra pela vida." A psi-
cóloga resume a contradição
que pode ser observada nas
modalidades mais violentas,
dizendo que "o esporte pode
ajudar a pessoa a sair de pro-
blemas, em que pese, algumas vezes, ser
uma prática perigosa".
Para tentar encontrar as moti-
vações que levam jovens a pra-
ticar esportes de risco, existe a psicologia do
esporte. Experiências isoladas no Brasil ten-
tam compreender melhor as motivações e
particularidades do esportista. Entre elas, es-
tá o Grupo de Estudos e Pesquisa em Psi-
ísses esportes
ajudam a
superar
limitações
cologia do
E s p o r t e
(Geppe), da Uni-
versidade de São Pau-
lo, e o Laboratório de
Psicologia do Esporte (Lapes), da
Universidade Federal de Minas Gerais.
A psicologia esportiva auxilia atletas
- não somente quem pratica esportes
radicais - a superar limitações, entender
barreiras psicológicas. Mas
é reconhecida apenas na
Europa e Estados Unidos.
• Formada em educação
física e mestre em psicolo-
gia, Adriana Giavoni vai
recorrer a universidades
norte-americanas para
"estudar a contribuição do
esporte na personalidade
das pessoas". Adriana já
mandou seu currículo para várias esco-
las e só pensa em terminar o doutoradp
em psicologia social para investir na
área. Depois, ela pretende incentivar o
desenvolvimento da psicologia esporfi-
va no Brasil. De qualquer forma, ainda
vai demorar para que este ramo da psi-
cologia seja tão comum como os gritos
de "radical", tão comuns nos jovens es-
portistas.
FA 37 abr/98
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