Post on 28-Sep-2020
FACULDADES INTEGRADAS ICESP DE BRASÍLIA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
Juliana Ferrante de Moraes e Nájela Maria D. Lourenço
Documentário: O Dia a dia de um Esquizofrênico
Brasília – 2015
Juliana Ferrante de Moraes
Nájela Maria D. Lourenço
Documentário: O Dia a dia de um Esquizofrênico
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
curso de Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo das Faculdades Integradas Icesp de
Brasília, para obtenção de Bacharel em
Comunicação Social - Jornalismo.
Orientadora: Prof.ª Esp. Ana Maria Fleury Seidl Pinheiro
Faculdades Icesp/Promove de Brasília
Avaliador: Doutor Dácio Renault
Faculdades Icesp/Promove de Brasília
Avaliador: Mestre Marta Mencarini
Faculdades Icesp/Promove de Brasília
AGRADECIMENTOS
Agradeço sempre a Deus pela conclusão desta fase tão importante para mim, e
que representa o encerramento de um ciclo e a realização de um sonho.
Ao meu marido Rafael e a minha filha Fernanda, que me deram todo o apoio
que precisei para ficar ausente durante as noites, em algumas tardes e por
nunca me deixarem desistir. Aos meus pais Valéria e Fábio pelas inúmeras
oportunidades de estudar e por me mostrarem o quanto a educação é
transformadora na vida das pessoas
Aos professores Nelson Penteado e Jorge Ulisses Jacoby por serem uma
inspiração e por me ensinarem tanto. Aos meus amigos que sempre me
motivaram.
Meu agradecimento à professora e orientadora deste projeto Ana Seidl, que foi
fundamental para a conclusão deste trabalho, pelo seu rigor, sua dedicação
para nos ajudar com a revisão madrugadas a fora e por sua competência.
Juliana Ferrante de Moraes
Agradeço primeiramente a minha mãe, Eudes, que confiou em mim, me deu
essa oportunidade. À minha parceira Juliana Moraes pelo seu esforço,
dedicação e fé que muitas vezes me falta. Ao meu pai Jovair Lourenço (in
memoriam), que infelizmente não pode estar presente, mas sei que onde ele
estiver está torcendo por mim. Pois se hoje estou aqui, devo muitas coisas a
ele e por seus ensinamentos e valores passados. Obrigada por tudo! Sempre
vou te amar! A minha filha Rani, por aguentar meu mau humor, me fazendo
esquecer um pouco das minhas ansiedades e angústias. Ao meu namorado
Rafael, por toda paciência, compreensão e otimismo. Suas ajudas desde
emprestar computador até me levar para gravar as entrevista.
Um agradecimento especial à professora Ana Seidl, que mais que nossa
orientadora foi uma amiga que não deixou que desistisse. Gostaria também de
agradecer a professora Marta Mencarini e ao professor Dácio Renault por
cederem um pouco de seu tempo contribuindo com nosso trabalho.
Nájela Maria D. Lourenço
RESUMO
Este trabalho aborda o tema da esquizofrenia. É um documentário
baseado na observação participante que mostra em 15 minutos como é o dia a
dia de um personagem social que foi diagnosticado com a doença e como a
família convive com o paciente em tratamento. O documentário começa com
uma narrativa da mãe de Caio. Os nomes dos personagens foram modificados
a pedido do médico para preservar a identidade da família e do paciente que
está em tratamento. Em seguida cenas do dia a dia mostram o comportamento
do paciente. As entrevistas com especialistas esclarecem o que é
esquizofrenia, os principais sintomas e os tipos de tratamento. A família conta
como se sente em relação à doença e as dificuldades emocionais que
enfrentam. Uma rotina desgastante que mostra a dificuldade no tratamento e a
busca de profissionais para ensinar a família como deve conviver com o
paciente e ter mais qualidade de vida.
Palavras-chave: documentário; esquizofrenia; tratamento; família.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ........................................................................................ 3
RESUMO .......................................................................................................... 5
SUMÁRIO ......................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 5
2 OBJETIVOS DA PESQUISA ......................................................................... 7
2.1 Objetivo geral ........................................................................................... 7
2.2 Objetivos específicos ............................................................................... 7
3 DOCUMENTÁRIO ......................................................................................... 8
3.1 Conceito .................................................................................................. 8
3.2 História do Documentário no Brasil .......................................................... 9
3.3 Linguagem no documentário .................................................................. 11
4 BIOGRAFIA ................................................................................................ 13
4.1 Vem para o meu mundo......................................................................... 13
4.2 Na linha do tempo. Delírios e realidade ................................................. 15
5 ESQUIZOFRENIA ........................................................................................ 19
5.1 Retrospectiva Histórica .......................................................................... 19
5.2 Visão geral ............................................................................................. 19
5.3 Principais sintomas ................................................................................ 20
5.4 A família ................................................................................................. 22
6 METODOLOGIA ......................................................................................... 24
7 PRODUTO ................................................................................................... 26
8 CRONOGRAMA........................................................................................... 27
9 considerações finais ..................................................................................... 28
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 29
11 APÊNDICE ................................................................................................. 30
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1 INTRODUÇÃO
O trabalho de conclusão de curso é um produto audiovisual baseado em um
fato real que registra, informa e sensibiliza mostrando o dia a dia de familiares
de um personagem social diagnosticado com esquizofrenia.
Ele foi desenvolvido a partir de uma experiência de um dos autores do
trabalho, que tem um familiar diagnosticado com a doença para levantar
questões pertinentes e instigar debate sobre o assunto com diferentes
perspectivas e para contextualizar a história de forma a ajudar as pessoas a
entenderem como conviver com um esquizofrênico e buscar tratamento.
A escolha de um documentário para elaboração do produto começou com
um estudo que aborda a história do documentário, baseado em Da-Rin (2004).
A metodologia aplicada, as características do documantário e sua importância
na prática acadêmica também foram descritos no relatório técnico.
Ao pequisar sobre as diversas formas de contar uma história identificou-se
que por meio de estudos, entrevistas, investigações, capturas de audiovisuais,
retratados por imagens, via curta metragem, apresentaríamos as ideias em um
tom didático e com uma narrativa que conduza as pessoas a terem consciência
da doença. Já no documentário através da exposição de um problema,
explicação sobre que o é esquizofrenia e mostrando de que forma pode-se
ajudar o espectador, poderíamos abrir novos debates de forma a causar uma
transformação social a partir do momento que retrata uma realidade única e
específica na essência de um fato ou condição, fortalecido pelos relatos vivos e
imagens profundas, o que permite ao público um conceito amplo sobre
esquizofrenia, proporcionando ao espectador, a possibilidade de identificar a
abordagem da narrativa oriunda dos próprios protagonistas dentro de uma
condição real.
A proposta é informar alunos, professores e a comunidade sobre uma
doença psiquiátrica, através de uma linguagem cinematográfica. Sabe-se que a
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televisão é um grande veículo de persuasão social e construção do senso
coletivo, e forte aliada no processo de mobilização social que a partir do
videdocumentário com uma linguagem mais aprofundada, e abordando o tema
com mais clareza, permiti-se aos telespectadores uma maior compreensão da
doença apresentada. Com base nessa afirmação acredita-se que o produto
audiovisual apresentado possibilitará avanços sociais, e uma melhor qualidade
de vida para familiares e esquizofrênicos.
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2 OBJETIVOS DA PESQUISA
2.1 OBJETIVO GERAL
Produzir o produto audiovisual, um documentário de 15 minutos para ser
veiculado no Programa Icesp TV da Rede Gênesis.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Informar aos alunos, professores e à comunidade sobre uma doença
psiquiátrica, através de uma linguagem cinematográfica;
Avançar debates sociais e melhorar a qualidade de vida para familiares e
esquizofrênicos;
Compartilhar com os estudantes do curso de jornalismo do ICESP os desafios
da produção de um documentário.
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3 DOCUMENTÁRIO
3.1 CONCEITO
No Jornalismo estudamos o processo de comunicação de um assunto
em razão de um meio como a televisão, jornais ou rádios. Entre as linguagens
jornalísticas temos Fotojornalismo, Radiojornalismo, Telejornalismo,
Webjornalismo, Cinejornalismo. O documentário é um gênero do
Cinejornalismo.
A principal característica do documentário é a exploração e registro da
realidade por meio de imagens capazes de provocar uma reflexão e
aprofundamento sobre temas cotidianos. No livro Jornalismo audiovisual, rádio,
TV e cinema de Walter Sampaio (1971) relata: “se trata de um estágio evolutivo do
telejornalismo”. (SAMPAIO, 1971, P.100)
O documentário sempre esteve associado ao cinema, mas ao mesmo
tempo se distancia quando observamos os temas que são apresentados em
cada um deles. Históricamente eram contados nos primeiro filmes histórias de
romance, ficção científica, em 28 de dezembro de 1895, em Paris, os irmãos
Lumière apresentam uma projeção chamada La sortie des ateliers Lumière
mostrando operárias de saias largas e chapéus de plumas a sair do ateliee,
operários pedalando bicicletas, seguidos por patrões numa carruagem puxada,
finalmente o porteiro fechava a porta. O livro O filme documentário de Marilia
Penafria (1999).
O objetivo incial da filmagem era apenas o de registrar diversas atividades, quer humana, quer animais. O encanto e fascínio por essa capacidade mimética condicionou o olhar dos seus autores para a mera reprodução. Nessa altura, questionar essa reprodução e definir uma prática de documentarismo era ainda prematuro. Não existe a definição de uma prática; o que existe é um contributo para a mesma. (PENAFRIA, 1971, p.38).
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Flaherty e Vertov são duas referências para definir o posicionamento do
documentário e do documentarista no panorama da produção de imagens em
movimento. Os filmes Nanuk, O Esquimó (1922) e O Homem da Câmara
(1929), marcam o início da história do cinema documental.
No documentário é absolutamente essencial que as imagens do filme digam respeito ao que tem existência fora dele. Esta é a principal e primeira carasterística do documentário. A segunda, já em estúdio, é a organização das imagens obtidas in loco, seguindo uma determinada forma; o resultado final dessa forma é um filme. A organização força o filme a não se pautar por uma mera descrição descaracterizada ou sucessão sem propósto aparente, das imagens obtidas. O documentarista, por seu lado, é cúmplice das características enunciadas. (PENAFRIA, 1971, p.39)
O documentário nasceu com o cinema e teve, com o advento da
televisão, uma grande retomada em relação à sua popularidade, principalmente
com a chegada das emissoras de TV a cabo em meados do século XX.
Atualmente, é possível assistir a filmes desse gênero transmitidos com
possibilidades técnicas bastante avançadas, por meio do computador
conectado à rede mundial de computadores. Nos dias de hoje vemos que o
documentário continua passando por um processo de transformação, e se
diferencia cada vez mais de produções cinematográficas de ficção e ainda na
atualidade busca se diferenciar das reportagens investigativas.
3.2 HISTÓRIA DO DOCUMENTÁRIO NO BRASIL
A definição de documentário sempre foi tarefa árdua no meio
cinematográfico. Esta varia de acordo com a inspiração teórica de cada
produtor. Porém, todo documentário envolve dramatização, interpretação,
invenção e desempenho. Por isso, referências bibliográficas como Espelho
Partido de Silvio Da-Rin (2004) e O filme documentário: história, identidade,
tecnologia de Marília Penafria (1999) foram usadas para produdir o relatório
técnico do documentário e ainda, usar a melhor técnica.
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No livro de Silvio Da-Rin que discute a evolução do documentário desde
os primórdios do cinema até os tempos atuais relata que em 1948 a World
Union of Documentary, uma associação de realizadores, definiu o
documentário como:
(...) todo método de registro em celulóide de qualquer aspecto da realidade interpretada tanto por filmagem factual quanto por reconstituição sincera e justificável, de modo a apelar seja para a razão ou emoção, com o objetivo de estimular o desejo e a ampliação do conhecimento e das relações humanas, como também colocar verdadeiramente problemas e suas soluções nas esferas das relações econômicas, culturais e humanas. (DA RIN, 2004, p. 5)
Ao usar um documentário para retratar a realidade de forma a entreter e
informar, o autor Silvio Da-Rin utiliza em larga escala a classificação proposta
por Bill Nichols, segundo a qual os documentários se comportam diante da
realidade de modo expositivo, observacional, interativo e/ou reflexivo, onde
todo o seu esforço de articulação e análise tem por objetivo mostrar como
essas linhas de força se combinaram e interagiram historicamente, tendo
sempre no horizonte algum método de representação.
Uma das contribuições mais significativas neste sentido é a tipologia formulada pelo teórico norte-americano Bill Nichols. Nichols analisou as principais estratégias de "argumentação cinematográfica" assumidas pelos realizadores de documentários e chegou a uma síntese de quatro modalidades de representação do mundo. (DA-RIN, 2004, p. 97).
Produzir um documentário para contar uma história de um personagem
social que convive com uma doença psiquiátrica permite ao expectador
experimentar detalhes de uma narrativa inundada de sons ambientes que
completam as cenas. Da-Rin dedica algumas de suas melhores páginas a
levantar a revolução de valores provocada pelo advento do som nos
documentários. O autor questiona com vitalidade os preceitos de observação
não-intervencionista do cinema direto, contrapondo a isso a “intervenção
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produtiva” operada pelo cinema verdade, com sua aberta incorporação do
falso. Recupera as raízes do movimento auto-reflexivo.
Em nome de um respeito absoluto à autenticidade das situações filmadas, o grupo da Drew Ass. adotava o princípio do "som sincrônico integralmente assumido": qualquer acréscimo à imagem e ao som originário da locação era considerado incompatível com a "realidade captada ao vivo”. (DA-RIN, 2004, p. 97)
3.3 LINGUAGEM NO DOCUMENTÁRIO
Ao estudar sobre as diversas argumentações cinematográficas para
produzir um documentário a fim de tratar de um tema que aborda o cotídiano
com explicações científicas e em alguns momentos, emocionais do
personagem e da família, identificamos que poderíamos usar de várias
técnicas, como os modos: poético, expositivo, observacional, participativo,
reflexivo e performático.
No livro Introdução ao documentário de Bill Nichols (2005) temos a
definição de cada um dos modos que criou para referir-se ao conjunto de
elementos que organizam a lógica de um filme.
O modo poético segue os ideais modernistas de representação da realidade através da fragmentação. Assim, não há preocupação com montagem linear, argumentação, localização no tempo e espaço ou apresentação aprofundada de atores sociais. Esta forma utiliza o mundo histórico como matéria prima para dar “[...] integridade formal e estética ao filme”. (NICHOLS, 2005, p.141).
O modo expositivo é o mais usado e que o público reconhece com mais
facilidade porque seus principais elementos como a estrutura argumentativa e
a visão do filme são feitos por uma voz na qual as imagens apenas confirmam
o que está sendo narrado. O modo observativo pelo uso de câmeras portáteis é
indispensável, uma vez que o objetivo é mostrar “a vida como ela é”, e o
cineasta capta o que acontece e não interfere no seu processo. Também não
se usa narração para que o público veja exatamente o que ocorre e não o que
uma pessoa está contando. O modo é participativo, o cinesta se coloca no
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filme e muitas vezes se torna um ator social. E seu ponto de vista fica evidente,
Além de incluir entrevistas para dar mais variedade ao assunto.
O modo reflexivo mostra os próprios meios para produção do
documentário. São mostrados, por exemplo, o processo de negociação entre
cineasta e espectador, indagando as responsabilidades e consequências da
produção do documentário para cineasta, atores sociais e público. “O lema
segundo o qual um documentário só é bom quando é convincente é o que o modo
reflexivo do documentário questiona.” (NICHOLS, 2005, p. 163).
O modo performático também levanta questões sobre o que é
conhecimento, porém a subjetividade tem peso maior do que a construção de
argumento lógico. O real e o imaginário, de acordo com a complexidade
emocional do cineasta, torna muitas vezes o documentário autobiográfico. “os
documentários recentes tentam representar uma subjetividade social que une o geral
ao particular, o individual ao coletivo e o político ao pessoal.” (NICHOLS, 2005, p.
171).
A busca pela imagem e a realidade faz do documentário uma ferramenta
para informar e ao mesmo tempo entreter. O documentário é uma ferramenta
que apresenta semelhanças com a ficção cinematográfica, mas que se
diferencia por seu extremo objetivismo, como uma tentativa idealista de
comunicar “a vida como ela é vivida”. Onde a vida é observada pela câmera e não
recriada por ela como conclui Da-rin (2004).
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4 BIOGRAFIA
4.1 VEM PARA O MEU MUNDO
Nascido em 31 de outubro de 1982, no Hospital Dom Bosco em Brasília,
depois de uma gravidez dificíl com um princípio de aborto no primeiro mês, o
primeiro filho do casal Angélica e Alberto veio ao mundo acolhido por
expectativas e emoções.
Durante o pré-natal a participação em cursos de preparação para o parto
deixavam os dias mais tranquilos e traziam o conforto necessário para que o
dia do nascimento fosse um momento ainda mais especial para a mãe
Angélica.
Desde o início da gestação, o pai não demostrava muita motivação pela
gravidez, talvez porque as mudanças no corpo e até no temperamento da
mulher são tão súbitos que a relação entre homem e mulher acaba ficando em
segundo plano. Um instinto materno florescia em cada momento e em todos os
movimentos, mas os nove meses de gravidez foram de solidão.
O pai gostava de jogar baralho, sinuca, e ficava até quinze dias sem
voltar para casa. E as semanas e meses foram se trasnformando em uma
rotina de sofrimento e abandono.
Os pais eram servidores públicos e tinham uma condição financeira
bastante confortável. Mas, por descontrole enfrentaram problemas financeiros
tão graves que por vezes a mãe deixou de comer, e as consequências
afetaram diretamente seu equilíbrio emocial e físico.
Os meses foram passando e quanto mais próximo do parto, mas a
situação da família piorava. No mês do nascimento, eles moravam no sótom de
um barraco, sem banheiro. E a única opção era usar o banheiro do bar que
ficava na parte de baixo. Mas, pouco tempo antes do nascimento, a mãe
conseguiu alugar um pequeno apartamento com quarto, sala, uma pequena
cozinha e banheiro para a chegada do Caio.
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A ida para a maternidade foi atordoada, o cunhado de Angélica que a
levou para o hospital. O trabalho de parto durou trinta e seis horas, e no
momento do nascimento, Caio ficou enrolado no cordão umbilical e precisou da
ajuda da médica para que na primeira contração sua cabeça fosse colocada
para fora, o que provocou uma dor quase que insuportável para Angélica, que
já tinha perdido o controle de suas emoções.
O pai do Caio esteve no hospital apenas para conhecer o filho e no dia
em que Angélica voltou para a casa com o bebê, ele viajou. E os dias de mãe e
filho seguiram com a solidão que era quebrada apenas pela dependência um
do outro.
Quando o Caio tinha três meses, o casal, que já não era mais casal,
acabou se separando, e Angélica se viu obrigada a voltar para a casa dos pais
dela. E lá ficaram por um ano e meio.
Às vezes o pai aparecia para visitar o filho, mas não demonstrava o
menor entusiasmo. Parecia estar apenas seguindo um protocolo. Mesmo
assim, um ano e meio depois, a mãe ainda sentia um grande amor por aquele
homem e depois de alguns encontros e namoricos e com uma nova gravidez,
voltaram a morar juntos.
O pai sempre cobrou muito o menino, e com o passar dos dias passou a
agredi-lo por qualquer motivo. Se o menino pedisse um copo de água e
derramasse uma gota o pai tratava de derramar todo o restante com tapas e
chineladas e algumas vezes até chutes.
Ele foi crescendo vítima dos maus tratos do pai. Até que quando tinha
dezenove anos o pai sofreu um infarto e acabou falecendo. Angélica olhava
para o filho tentando entender o que passava em sua cabeça, mas mesmo
vendo todo o sofrimento da mãe e dos irmãos o rapaz não chorou. Ela
percebeu apenas que ele demostrava uma grande vontade de ser
independente e ajudá-la com os irmãos.
Começou então um projeto, montou uma loja de jogos e se desdobrava
entre os estudos e o trabalho. Dois anos depois, durante uma viagem que fez
com a mãe e os dois irmãos, um comportamento estranho que o fez mudar
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repentinamente suas reações e personalidade deixou todos preocupados. E
mais tarde perceberam que aquele dia teve sua primeira crise de esquizofrenia.
4.2 NA LINHA DO TEMPO. DELÍRIOS E REALIDADE
Em setembro de 2011, quando Alberto enfartou, Caio reagiu
aparentemente com equilíbrio. Pediu para a mãe para dirigir o seu carro, e
parecia estar realmente mais fortalecido do que ela diante de toda a situação.
Parecia estar triste, mas não chorava hora nenhuma.
Meses depois escreveu uma carta no computador. Era um desabafo.
Perguntava para Deus sobre o fato do porque no momento que começou a se
entender com o seu pai ele faleceu.
Já havia conversado com a mãe sobre os planos de abrir uma loja de
jogos em uma cidade próxima. Disse também, que continuaria se esforçando
para permancer estudando em Brasília. A correria literalmente fez com que
depois de diversas multas por excesso de velocidade Caio decidisse trancar a
faculdade.
Um ano após a morte do pai, em abril de 2002, Caio já tinha aberto sua
loja de jogos com um amigo de infância e mudou-se definitivamente para a
cidade onde trabalhava dia e noite. Em maio de 2003, pouco mais de um ano
depois, descobriu que seu sócio e amigo estava sendo desonesto com o
faturamento da loja e dediciu, então, desfazer a sociedade. Naquela ocasião,
Caio já demonstrava ter algum transtorno emocional, e por duas vezes teve
algumas crises ou surtos leves enquanto dirigia. Mas, a família pensou que
fosse pela perda do pai. Que mesmo não tendo chorado, seu sofrimento era
expresso daquela forma.
Em dezembro do mesmo ano quando viajou com a mãe e os irmãos
para a Bahia, de carro, tudo estava tranquilo. Nenhum episódio de tristeza,
choro ou silêncio absoluto. Ao chegarem ao destino, durante 10 dias, se
comportou normalmente. Conversando, rindo, brincando. Mas, depois desse
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período sua expressão era de quem não havia dormido bem nas últimas noites.
Um olhar cansado revelava que a insônia era parceira daqueles dias. E a falta
do descanso o deixava irritado. Não comia, não dormia, perambulava como
quem busca refúgio. Angélica então percebeu que alguma coisa estava
estranha.
A mãe decidiu que era melhor voltar para Brasília. Mas, Caio disse que
não iria voltar ainda porque queria rersolver algumas questões espirituais e que
um índio que havia conhecido em Caraíva, uma pequena cidade de Porto
Seguro, iria ajudá-lo. Disse que iria com a família até Porto Seguro e que de lá
voltaria de ônibus e balsa e que dias depois retornaria para Porto Seguro para
reencontrar a família, e então voltarem para Brasília.
E assim fizeram. Caio dirigiu de Caraíva até Porto Seguro e durante a
viagem era nítido seu nervosismo. Hospedaram-se em uma pousada e Caio
dicidiu deixar a mãe com os irmãos em um quarto e ficar sozinho em outro. À
noite foram jantar, mas não comeu nada, e também não dormiu esta noite.
No dia seguinte Angélica percebeu que o filho estava muito diferente
daquele que costumava ver ao acordar. Ele estava tão diferente, que ao invés
do filho introvertido agora ela via uma pessoa extrovertida, que conversava
com todas as pessoas que via na rua, mas que ao mesmo tempo mostrava
uma euforia que não combinava com ele.
No final daquele dia, arrumou sua mochila e voltou sozinho para
Caraíva. O combinado era que ele encontraria a família no dia 2 de janeiro
daquele 2004. Durante a madrugada Angélica e os filhos arrumaram as coisas
para voltar, mas Caio não havia retornado de Caraíva como combiando.
A mãe que naquela altura já estava preocupada pegou os filhos e seguiu
para Caraíva para procurar o Caio. Procuraram o dia todo, mas não
conseguiram encontrá-lo, e nem conseguiram nenhuma informação que a
levasse ao filho.
Sem saber o que fazer e sem esperanças de encontrar o filho, Angélica
decide ir a uma delegacia em uma cidade próxima. Chegando lá, encontrou
Caio preso por ter aberto um portão de uma fazenda para libertar os animais.
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Ele estava visivelmente transtornado e foi liberado assim que a mãe conversou
com o delegado para procurar ajuda médica.
O caminho para Brasília ficou mais longo do que realmente era. Caio
não dormiu durante toda a viagem. Passou o tempo todo contanto histórias de
perseguição de pessoas imaginárias. Tinha delírios e dizia que escutava vozes.
Em Brasília foi internado por vinte dias, e mesmo depois deste período
não apresentou melhoras. Mesmo assim, a mãe preferiu tirá-lo da clínica e
procurar outro médico. Foi quando veio o primeiro diagnóstico de transtorno
bipolar. Caio foi medicado e seguiu para casa, mas depois de trinta dias
tomando os remédios decidiu parar porque estava tendo alguns efeitos
colaterais.
Seis meses depois daquele episódio, viajou para Ilha Grande, no Rio de
Janeiro para participar de um campeonato de xadrez. Ao chegar fez vários
amigos e decidiu que ia morar lá sozinho.
Mas, em outubro do mesmo ano, teve uma nova crise. Saiu de Ilha
Grande, foi para o Rio de Janeiro e depois seguiu para Belo Horizonte, onde foi
novamente internado com o diagnóstico de transtorno bipolar e ficou na clínica
por sete dias.
Quando teve alta voltou para Brasília e foi atendido por um médico que
deu o mesmo diagnóstico e receitou um remédio de alto custo. Caio acabou
sendo acompanhado por um médico de Goiânia por dois anos e que manteve o
mesmo tratamento, mas agora ele podia receber o remédio pelo SUS.
Cinco anos depois voltou a se tratar com um médico em Brasília e ficou
sem novos episódios de crise por mais cinco anos. Mas, durante este período
ficou sem tomar os remédios e em 2013 teve a terceira crise. Precisou ser
internado novamente, desta vez por apenas trinta e seis horas apenas para
observação.
Depois da terceira crise, Angélica conseguiu convencer o filho a procurar
tratamento no Centro de Atenção Psicosocial - CAPS, perto de sua casa no
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bairro do Guará, no DF. No entanto, ele acabou desistindo do tratamento,
mesmo antes de ser atendido pela médica do CAPS.
Em 2015, após a quinta crise e depois de ser internado no Hospital de
Base de Brasilia, finalmente foi diagnosticado com esquizofrenia. Ficou no
hospital por 48 horas e depois foi acolhido no Hospital Dia, em Brasília. Mas,
ainda não aceitava tratamento.
Hoje, Caio está com 33 anos. Ele continua não tomando os remédios
receitados pelos médicos, diz que eles foram feitos para barata e que o
prejudicam. Não aceita nenhum tipo de tratamento. Não toma banho nem
escova os dentes. Conversa e sorri sozinho. Alimenta-se apenas de iogurte,
pão, café, leite em pó e macarrão instantâneo e vive isolado com seus delírios
e breves momentos de realidade.
Angélica, a mãe, sabe que a família tem papel fundamental no
tratamento do esquizofrênico, mas uma nova internação já está prevista.
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5 ESQUIZOFRENIA
5.1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA
No final do século XIX, o psiquiatra alemão, Emil Kraepeli descreveu a
esquizofrenia como doença, mas chamou-a inicialmente de demência precoce,
porque na maioria dos casos acometia pessoas jovens, a maioria na
adolescência ou no ínico da vida adulta e evoluía cronicamente com
degeneração de comportamento.
Mas, no início do século XX outro psiquiatra, o suíço Eugen Bleuler
sugeriu o termo esquizofrenia. Ele achava que o termo demência podia se
confundido com a demência que acometia idosos e que depois foi descrita
como Doença de Alzheimer.
O termo esquizofrenia, que em grego significa “mente cindica”, foi usado
porque se acreditava que a alteração causada pela esquizofrenia era pela
incapacidade de os pacientes associarem seus pensamentos e suas emoções,
dando a impressão de uma personalidade fragmentada.
5.2 VISÃO GERAL
No livro Entendendo a esquizofrenia de Leonardo Palmeira, Maria
Thereza Geraldes e Ana Beatriz Bezerra (2013) é definida como: uma doença
mental, biológica e que envolve alterações cerebrais químicas e nas células,
acomentendo diferentes funções dos processos mentais do indivíduo. É errado,
portanto, atribuir-se à esquisofrenia causas ou explicações puramente psicológicas,
como resultado de traumas, de frustações ou de estresse.
(PALMEIRA/GERALDES/BEZZERA, 2013, p. 51)
Em entrevista ao Dr. Drauzio Varella, publicada no site
http://drauziovarella.com.br/letras/e/esquizofrenia/, em 2012, Wagner Gattaz,
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médico psiquiatra e professor de psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da
Universidade de São Paulo, definiu que:
A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário.
A esquizofrenia também é um problema social, porque na maioria dos
casos as pessoas que tem a doença são abandonadas pelas famílias ou
fugiram delas e passam a viver nas ruas. E milhares deles vivem sem
tratamento e suporte sociofamiliar ou do próprio Estado. Não terão muitas
oportunidades de vida se não forem tratadas, não só pelas condições da
doença que são o principal obstáculo para saírem da miséria que vivem, mas
também pelas dificuldades sociais e financeiras.
5.3 PRINCIPAIS SINTOMAS
Quando a família se depara com o primeiro surto e recebe o diagnóstico
da doença é comum surgirem questionamentos de como não perceberam as
mudanças no comportamento ou porque não pensaram que pudesse ser o
primeiro sinal de uma doença psquiátrica. Por isso, entender como a
esquizofrenia começa e seus principais sintomas e como eles evoluem é
fundamental para o tratamento do paciente.
O surto psicótico pode ser o primeiro sinal de que algo está errado. A psicose é um termo aplicado para o estado mental em que a pessoa perde suas conexões com a realidade do mundo exterior. Logo, o surto psicótico ocorre quando esses delírios e alucinações vêm à tona e é quando a família desperta, de fato, para o problema. (PALMEIRA/GERALDES/BEZZERA, 2013, p. 73).
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No caso da esquizofrenia a principal característica nas fases inciais da
doença é a incapacidade de transcendência ou incapacidade da transposição
de pontos de referência. Descrita por Klaus Conrad, em seu livro La
Esquisofrenia Incipiente (1958).
É dificíl até para os médicos definir um padrão nos sintomas da
esquizofrenia, pois eles variam muito de acordo com as características do
próprio paciente e do mundo que ele criou. Na tabela a seguir encontram-se a
lista dos principais sintomas da esquizofrenia de acordo com pesquisas atuais.
(PALMEIRA/GERALDES/BEZZERA, 2013, p. 76).
Tabela 1 Os principais sintomas da esquizofrenia
Pensamento Percepção Humor Comportamento
Ideias estranhas, incomuns. Ideias vagas de alguma coisa errada. Medos incomuns. Desconfiança, paranoia, ideias de autorreferência. Cíume, sentimento de culpa, grandiosidade. Pensamento mágico, pensamento obsessivo. Novos interesses como filosofia, religião, ocultismo
Dificuldade de concentração. Esquecido, confuso, atrapalhado. Desrealização, despersonalização. Distorções da percepção, ilusões.
Preocupação, ansiedade, tensão, humor instável. Sentimento de vazio, de irrealidade. Irritabilidade. Sente-se cansado, sem energia. Rompantes emocionais. Apatia. Alegre, animado. Perplexo. Hostil, agressivo.
Inquieto, agitado. Impulsivo. Agressivo. Isolamento, evita mais as pessoas. Parece preocupado e com medo. Descuido da higienie e da aparência. Argumenta e discute mais. Necessita que alguém lhe tranquilize. Prejuízos na escola ou no trabalho. Piora no sono e do apetite, perda de peso.
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Fala de maneira confusa, sem nexo. Rotina rígida ou imprevisível.
O diagnóstico mais comum no começo é o de depressão e de
ansiedade. Por isso na maioria das vezes o paciente é levado a psicológos e
psiquiatras e são tratados com foco apenas em depressão e ansiedade, logo a
família nota pouca melhora. Como quase sempre alguns sintomas como
taquicardia, dor de estômago e tontura estão presentes nas crises, os
pacientes são levados para hospitais e lá são realizados exames que não
detectam “nada”. Essa peregrinação e os tratamentos sem identificar a
verdadeira causa, tornam a vida de pacientes e familiares desgastante. E
quando finalmente recebem o diagnóstico de esquizofrenia a doença já
apresenta sintomas agudos e crônicos.
5.4 A FAMÍLIA
As relações familiares são afetadas de diversas maneiras e podem se
agravar pelas tensões e as variações de comportamento e humor provocados
pelo convívio e o cotidiano da doença. O esquizofrênico não é o responsável
pelo sofrimento de sua família, mas os seus sintomas interferem no
temperamento, nas angústias e preocupações de cada familiar.
A falta de informação também é um ingrediente que pode desencadear
sentimentos negativos e preconceituosos em relação esquisofrênico. O
histórico emocional dos familiares também pode contribuir para um cotidiano
mais ou menos favorável para um bom tratamento. E esse histórico emocional
pode muitas vezes indicar que a família precisa de orientação e tratamento
também, pois esses indícios demonstram que suas relações estão sendo
prejudiciais uns aos outros e não apenas para o paciente.
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Famílias com padrões emocionais rígidos e negativos contribuem para
aumentar o nível de sobrecarga emocional na família. E esses tipos de
emoções são:
Hipercrítica ou cobrança exaustiva do paciente ou membros da família que criticam sua ineficiência na realização de tarefas do dia a dia;
Superproteção quando ocorre preocupação excessiva em proteger os filhos;
Permissividade por medo de o paciente ter uma crise se for contrariado ou por cansaço por não ver resultados em suas investidas;
Hostilidade quando ocorrem agressões e ofensas frequentes entre os familiares e;
Superenvolvimento afetivo quando os familiares ficam com depressão e/ou ansiedade por não aceitarem o fato de seu familiar ser esquizofrênico. (PALMEIRA/GERALDES/BEZZERA, 2013, p. 176).
As estratégias utilizadas no tratamento variam de acordo com uma
tomada de decisão compartilhada entre família, paciente e médico. Mas, o
conjunto de atidudes e medicamentos serão determinantes para a qualidade de
vida de esquizofrênicos e famílias. Daí a importância do papel da família para
melhora da vida de todos e pela adesão ao tratamento que será proposto. O
estímulo da família é o ingrediente que todos precisam.
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6 METODOLOGIA
Este trabalho de conclusão de curso foi baseado no conceito de
observação participante que já foi muito prestigiada no universo acadêmico nos
anos 80 e pode ser aplicada em várias áreas do conhecimento, sobretudo na
comunicação social. A técnica de pesquisa em comunicação foi escolhida
porque uma das autoras do trabalho vivencia o tema abordado e interage com
a situação que está sendo investigada.
Cecília Maria Peruzzo(2005) define a pesquisa participante como a:
inserção do pesquisador no ambiente natural da ocorrência do fenômeno e de sua
interação com a situação investigada.
Identificou-se a posse dos componentes essenciais da observação
participante descritos por Cecília Maria (2005) que implica em:
a) A presença constante do observador no ambiente investigado, para que ele possa “ver as coisas de dentro”;
b) O compartilhamento, pelo investigador, das atividades do grupo ou do contexto que está sendo estudado, de modo consciente e sistematizado – ou seja, ele se envolve nas atividades, além de covivenciar “interesses e fatos”;
c) A necessidade, segundo autores como Mead e Kluckhohn, de o pesquisador “assumir o papel do outro” para poder atingir o “sentido de suas ações” (HAGUETE, 1990, p. 63).
Na comunicação social a observação participante possui motivações de
realizar uma pesquisa inovadora e qualitativa, para atingir um grau elevado de
profundidade do tema e da preocupação em dar um passo à frente em relação
aos estudos críticos.
Nessa perspectiva a observação participante realizada observou
fenômenos ligados a experiências populares para a realização de um estudo
que nos permitisse criar mecanismos e mensagens capazes de interferir e
beneficiar a comunidade e ajudar na melhoria das condições de vida dos
familiares.
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Foram feitas entrevistas abertas com especialista para esclarecer
dúvidas sobre a doença. Além dos entrevistados, a mãe do personagem social
fez um relato detalhado contando a história do personagem social e como
foram suas primeiras crises. Assim, pudemos estruturar as perguntas aos
especialistas não só para esclarecer as principais dúvidas sobre a
esquizofrenia, mas, para levar aos familiares de diversos pacientes
informações que contribuam para uma melhora na qualidade de vida daqueles
que convivem com a doença.
Também foi utilizada pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento do
trabalho de conclusão de curso. A pesquisa bibliográfica foi o planejamento
inicial do trabalho que começou com a identificação, localização e obtenção
das bibliografias existentes sobre o assunto, para a apresentação de um texto
organizado e estruturado.
(...) apresenta a literatura que o aluno examinou, de forma a evidenciar o entendimento do pensamento dos autores, acrescido de suas próprias idéias e opiniões. (STUMPF, 2010, p 51).
Os livros e autores utilizados foram: Espelho partido. Silvio Da-Rin,
2004, Jornalismo audiovisual, rádio, TV e cinema de Walter Sampaio, 1971, O
filme documentário, Marilia Penafria,1999, Entendendo a esquizofrenia de
Leonardo Palmeira, Maria Thereza Geraldes e Ana Beatriz Bezerra, 2013,
Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação, Cicília Maria Hrohling
Peruzzo, 2005, dentre outros.
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7 PRODUTO
O produto escolhido para este trabalho de conclusão de curso foi o
documentário. A escolha deveu-se pelo fato deste possuir uma narrativa que é
caracterizada pelo cinema, por ser uma forma de registro capaz de retratar a
realidade de forma sincera, sem interpretação, apelando para a razão ou pela
emoção para estimular o desejo de ampliar o conhecimento do expectador
sobre um tema que é um tabu, um problema social e que muitas vezes deixam
familiares e pacientes constrangidos. Um filme abordando a doença em um
cenário mais naturalista e positivista.
O documentário tem duração de 15 minutos. As entrevistas com o
médico psiquiatra Pedro Paulo Curvello, que falou sobre o que é a doença, os
primeiros sintomas e os tratamentos que são oferecidos, e com o professor de
psiquiatria da faculdade de medicina da UnB, Raphael Boechat, que destacou
o papel da família no entendimento da doença e para o tratamento do paciente,
foram feitas por Nájela Maria D. Lourenço. O roteiro foi produzido por Juliana
Ferrante de Moraes. A orientação do trabalho foi feita pela professora Ana
Seidl.
Foram gravados depoimentos dos familiares do personagem social: o
irmão Marcelo D. Lourenço, a irmã Nájela Maria D. Lourenço, a mãe Eudes
Deusdará e a sobrinha Rani Deusdará. Foram feitas ainda, imagens do
personagem Leonardo, em sua casa, em momentos de delírio. Cenas do
quarto e fotos do álbum de família também foram incluídos.
A edição foi feita pelo grupo e com o apoio do técnico da faculdade
Icesp, Guará I, Marco Antônio Borges. O programa de edição utilizado foi o
Premier. Usamos os equipamentos da faculdade ICESP para a realização do
documentário: câmera, refletor e microfone.
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8 CRONOGRAMA
Datas Horário Local Atividade
01-10-2015 19:00 Faculdade Icesp Definição do tema
26-10-2015 19:00 Faculdade Icesp Entrega do capítulo
documentário e esquizofrenia
09-11-2015 15:20 Asa Sul
Entrevista com médico
psiquiatra Pedro Paulo
Curvello
15-11-2015 17:30 Guará I Imagens com o personagem
21-11-2015 10:00 Asa Norte
Entrevista com o professor de
psiquiatria da faculdade de
medicina da UNB, Raphael
Boechat
25-11-2015 19:00 Guará I Entrevista com os familiares
04-12-2015 19:00 Faculdade Icesp Edição de imagens e
Gravação de OFFs
16-12-2015 17:00 Faculdade Icesp Edição final
18-12-2015 19:00 Faculdade Icesp Apresentação do produto
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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O documentário tem o compromisso de explorar e retratar a realidade.
Abordam, geralmente, questões que sejam de interesse social para criar um
debate sobre diversos temas, e diferente dos filmes de ficção, os locais que
poderiam ser cenários são imagens reais. Para falar de esquizofrenia, uma
doença considerada um problema social, entrevistamos dois médicos
psiquiatras para entender o que é esquizofrenia, nos relatos foram destacados
os principais sintomas e ainda o papel da família para adesão ao tratamento e
como cada membro pode contribuir para que todos tenham mais qualidade de
vida. Imagens do paciente em sua casa e do seu quarto são o ponto alto do
documentário.
Por fim, o documentário apresenta relatos de famíliares que rejeitam e
ainda não conseguem lidar com o esquizofrênico, pois, ficam com medo e se
sentem ameaçados e agustiados com a possibilidade de novos surtos. Os
relatos foram feitos pelo irmão e pela sobrinha do paciente.
O produto audiovisual apresentado teve como objetivo oferecer
informação e conteúdo para a população e para orientação de famílias que
convivem com um paciente esquizofrênico. Uma doença que ainda é um tabu e
que muitas vezes está associada ao uso de drogas ou a pessoas
marginalizadas.
Um retrato de um problema social, mostrado pela visão da família que
enfrenta dificuldades financeiras e emocionais para seguir com o tratamento do
personagem. Conclui-se que é muito importante o esclarecimento e a união da
família, sob orientação médica, para lidar da melhor forma com os desafios no
enfrentamento da doença.
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10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DA-RIN, Silvio Pirôpo. Espelho Partido: tradição e transformação do
documentário cinematográfico. Orientador: Rogério Luz.. Dissertação de
mestrado em Comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, 1995.
DORGIVAL, Caetano. Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas.
(trad.). Coord. Organiz. Mund. da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
GATTAZ, Wagner. Em entrevista ao Dr. Drauzio Varella, publicada no site
http://drauziovarella.com.br/letras/e/esquizofrenia/, em 2012.
LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceito, linguagem e
prática de produção. São Paulo: Summus, 2012. 128 p.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. MARTINS, Mônica Saddy. Mônica
Saddy Martins. 5. ed. São Paulo: Papirus, 2012. 272 p.
PAIM, Isaias. Esquizofrenia. 3. ed. atual. São Paulo: Livraria Editora Ciências
Humanas Ltda, 1978.
PALMEIRA, GERALDES E BEZERRA, Leonardo Figueiredo, Maria Thereza
de Moraes, Ana Beatriz Costa. Entendendo a esquisofrenia. Interciência, 2013.
PENAFRIA, Manuela. O filme documentário: história, identidade, tecnologia.
Lisboa: Cosmos, 1999.
PEREIRA, Osvaldo de Almeida. Manual de Psiquiatria. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1996. Capítulo 9
SAMPAIO, Walter. Jornalismo audiovisual, rádio, TV e cinema. Vozes, 1971.
STUMPF, Ida Regina C. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge; BARROS,
Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação. São Paulo:
Atlas, 2005.
PUCCINI, Sérgio. Roteiro de Documentário: Da pré-produção à pós produção.
2. ed. São Paulo: Papirus, 2009. 144 p.
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11 APÊNDICE
ROTEIRO DO DOCUMENTÁRIO
Título – O dia a dia do esquizofrênico
Produção e entrevistas: Juliana Ferrante e Nájela Lourenço
Edição de texto: Juliana Ferrante
Edição e Finalização: Juliana Ferrante e Marco Borges
Imagens: Marco Borges e Nájela Lourenço
Iluminação: Marco Borges
Trilha Sonora: Autor desconhecido e Hold on - Alabama Shakes
Fotos: Google e álbum de família
Duração: 15 minutos
Abertura
ARTE 1: Abertura: O dia a dia do esquizofrênico
SIMULAÇÃO: Cenas do personagem Salvador da novela Império apresentada
em 2014/2015
NARRADOR (JULIANA): PERDER O CONTATO COM A REALIDADE TER
DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES SÃO OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA
ESQUIZOFRENIA. UM DOS RELATOS MAIS FREQUENTES DA DOENÇA É
QUE O PACIENTE COMEÇA A OUVIR VOZES E PENSAR QUE ESTÁ
SENDO PERSEGUIDO.
CERCA DE 1% DA POPULAÇÃO MUNDIAL É ATINGIDA PELA
ESQUIZOFRENIA. QUE ACOMETE IGUALMENTE TODOS OS POVOS E
CLASSES SOCIAIS. HOJE EM DIA, COM O TRATAMENTO ADEQUADO É
POSSÍVEL DAR UMA BOA QUALIDADE DE VIDA AOS PACIENTES,
ENTRETANTO O MEDO E O PRECONCEITO DECORRENTES DA
DESINFORMAÇÃO ATRAPALHAM E MUITO A VIDA DE PACIENTES E
FAMILIARES.
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ARTE 2: O que é esquizofrenia
SIMULAÇÃO 2: animação
NARRADOR (JULIANA): PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA, QUANDO
MANIFESTAM OS SINTOMAS, APRESENTAM UM AUMENTO EXAGERADO
DA DOPAMINA. ESSE NEURO TRANSMISSOR TEM A FUNÇÃO DE
DETERMINAR A IMPORTÂNCIA QUE DAMOS AS COISAS, QUE
PERCEBEMOS E PENSAMOS. QUANDO ACONTECE UM AUMENTO DA
FUNÇÃO DA DOPAMINA, EM DETERMINADAS REGIÕES DO CÉREBRO, A
PESSOA PASSA SUPERVALORIZAR PENSAMENTOS POUCO PROVÁVEIS,
A TER DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES.
MD 1: mãe do personagem – Angélica Lourenço (duração 15”)
Início: “eu sou a mãe do Caio, ele tem 33 anos...”
fim: “transtorno bipolar depois esquizofrenia.”
MD 2 : médico psiquiatra Pedro Paulo Curvello (duração 1’21”)
Início: “esquizofrenia hoje se pensa que pode ser mais
que uma doença...”
fim: “e vive no nosso mundo.”
IMAGENS DO PERSONAGEM 1: Caio na sala de casa (duração 26”)
NARRADOR (JULIANA): SEU QUADRO CORRESPONDE AO
DIAGNÓSTICO DE ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE. DOENÇA GRAVE,
CRÔNICA, RECIDIVANTE E PROGRESSIVA, LEVANDO A GRAVES
SEQUELAS SÓCIO-AFETIVAS, LIMITANTE AO CONVÍVIO SOCIAL,
FAMILIAR E A EXECUÇÃO PROFISSIONAL, COM POSSÍVEIS
INTERNAÇÕES PISQUIÁTRICAS.
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MD 3: mãe do personagem – Angélica Lourenço (duração 1’13”)
Início: “em janeiro de 2004 ele começou...”
fim: “depois ele fez uma viagem e não voltou.”
MD 4: irmã do personagem – Catarina Lourenço (duração 37”)
Início : “quando ele tinha 19 anos...”
fim: “será que Deus é justo.”
MD 4: sobrina do personagem – Isabela Lourenço (duração 1’3”)
início: “eu tento tratar ele como uma pessoa normal...”
fim: “mais eu fico bem assutada na hora.”
IMAGENS TEMÁTICAS 1: google
BG – música instrumental duração 8”
MD 5: professor de psiquiatria da Unb – Raphael Boechat (duração 1’19”)
início: “quem tem esquizofrenia na família...”
fim: “se você tem alguém na família que tem
esquizofrenia.”
MD 6: irmão do personagem – Carlos Lourenço (duração 52”)
início: “assim, no caso que eu vi...”
IMAGENS DO PERSONAGEM 2: Caio na cozinha de casa (duração 25”)
fim: “drogas ilícitas principalmente..”
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ARTE 3: O tratametno e a família
MD 5: médico psiquiatra – Pedro Paulo Curvello (duração 43”)
início: “eu não tenho dúvida que o tratamento...”
fim: “compreenção do sofrimento do outro.”
MD 6: mãe do personagem – Angélica Lourenço (duração 2’)
início: “a família se uniu...”
fim: “e continuava sorrindo.”
MD 7: sobrinha do personagem – Isabela Lourenço (duração 1’32”)
início: “o primo da minha avó...”
fim: “ele surta aí faz alguma coisa.”
MD 8: professor de psiquiatria da Unb – Raphael Boechat (duração 40”)
início: “um dos critérios principais para a internação...”
fim: “começa a complicar.”
MD 9: médico psiquiatra – Pedro Paulo Curvello (duração 2’54”)
início: “primeiro as vezes é melhor que...”
fim: “aceite o tratamento sem brigas.”
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IMAGENS DO QUARTO DO PERSONAGEM: cenas do quarto do Caio
(duração 1’20”)
BG – música instrumental duração 1’20”
MD 10: irmão do personagem – Carlos Lourenço (duração 1’30”)
início: “eu acredito que ele seja como se fosse um
câncer...”
fim: “matando ela a cada dia.”
IMAGENS DO PERSONAGEM: fotos do Caio na infância, álbum de família
(duração 35”)
BG – música Hold on - Alabama Shakes duração 1’42”
NARRADOR (JULIANA): HOJE, CAIO ESTÁ COM 33 ANOS. ELE CONTINUA
NÃO TOMANDO OS REMÉDIOS RECEITADOS PELOS MÉDICOS, DIZ QUE
ELES FORAM FEITOS PARA BARATA E QUE O PREJUDICAM. NÃO
ACEITA NENHUM TIPO DE TRATAMENTO. NÃO TOMA BANHO NEM
ESCOVA OS DENTES. CONVERSA E SORRI SOZINHO. ALIMENTA-SE
APENAS DE IOGURTE, PÃO, CAFÉ, LEITE EM PÓ E MACARRÃO
INSTANTÂNEO E VIVE ISOLADO COM SEUS DELÍRIOS E BREVES
MOMENTOS DE REALIDADE.
Agradecimentos
A todos os entrevistados que abriram espaço em suas agendas para
colaborar com este trabalho.
A professora Ana Seidl pela orientação e por acreditar que este trabalho
seria capaz mudar a vida de diversas famílias de pacientes esquizofrênicos.
Aos nossos familiares pelo apoio e contribuições.
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Créditos
Produção: Juliana Ferrante e Nájela Lourenço
Repórter: Nájela Lourenço
Imagens: Marco Borges
Edição de texto: Juliana Ferrante
Editor de imagens: Juliana Ferrnate, Marco Borges e Nájela Lourenço
Iluminação: Marco Borges
Roteiro: Juliana Ferrante
Trilha Sonora: Autor desconhecido e Hold on - Alabama Shakes
Fotos: Google e álbum de família