Post on 19-Jan-2019
Fernando Lang da Silveira
lang@if.ufrgs.br
Esta apresentação refere-se ao artigo “Determinando a
aceleração gravitacional”, encontrado em
http://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/GRAVIDADE.pdf
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A GRAVIMETRIA faz uma justa
homenagem a Galileu
denominando de “galileu” (Gal) a
unidade de medida da aceleração
gravitacional no sistema CGS.
1 Gal = 1 cm/s2
Galileu (1564 1642) afirmou que o movimento de queda dos corpos "num
meio cuja resistência fosse nula", ou seja, "em um espaço totalmente vazio de ar e de
qualquer outro corpo" é um movimento uniformemente variado, com A MESMA
ACELERAÇÃO PARA TODOS OS CORPOS.
Esta afirmação admite a priori corpos caindo no vácuo!
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Na época de Galileu havia, por parte dos aristotélicos, sérias objeções à possibilidade de
se produzir uma região na qual não existisse matéria; o ônus da prova recaia sobre os não-plenistas. Portanto, a afirmação galileana era
sem sentido para os aristotélicos.
Somente algumas décadas após a morte de Galileu foram construídas as primeiras bombas
de vácuo.
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Qual é o movimento que"a natureza se serve na queda dos graves“?
"O que acreditamos ter FINALMENTE DESCOBERTO DEPOIS DE LONGAS REFLEXÕES; principalmente se levarmos em conta que as propriedades por nós demonstradas parecem
corresponder e coincidir com os resultados da experiência. Finalmente, no estudo do movimento naturalmente acelerado, fomos, por assim dizer,
conduzidos pela mão graças à observação das regras seguidas habitualmente pela própria natureza em todas
as suas outras manifestações nas quais ela faz uso de meios mais imediatos, mais simples e mais fáceis".
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"Quando, portanto, observo uma pedra que cai a partir do repouso de uma certa altura e que adquire pouco a pouco novos acréscimos de velocidade, POR QUE NÃO POSSO ACREDITAR QUE TAIS ACRÉSCIMOS OCORREM
SEGUNDO A PROPORÇÃO MAIS SIMPLES E ÓBVIA?
Se considerarmos atentamente o problema, não encontraremos NENHUM ACRÉSCIMO MAIS SIMPLES QUE
AQUELE QUE SEMPRE SE REPETE DA MESMA MANEIRA. Concebemos no espírito que um movimento é
continuamente acelerado, quando, em tempos iguais quaisquer, adquire aumentos iguais de velocidade."
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Em nenhum texto de Galileu há uma definição de aceleração como entendemos hoje. Galileu não
conceitua explicitamente tal grandeza. O mesmo vale para o conceito de aceleração de queda livre,
inexistente (de maneira explícita) na obra de Galileu.
Como se pode tratar do movimento acelerado de queda dos corpos sem conceptualizar, definir
aceleração?
Como fez Galileu?
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Qual seria então a
“constante galileana” já que
ele não tinha explicitamente
o conceito de aceleração de
queda livre?
Teorema II
Se um móvel, partindo do repouso, cai com um
movimento uniformemente acelerado, os
espaços por ele percorridos em qualquer tempo
estão entre si na razão dupla dos tempos, a
saber, como os quadrados desses mesmos
tempos.
(Galileu, 1638 Duas Novas Ciências)
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Se um corpo em queda livre cair por uma altura H1 no
primeiro segundo, em dois segundos cairá 22 H1 = 4 H1,
em três segundos cairá 32 H1 = 9 H1, em cinco
segundos cairá 52 H1 = 25 H1 e assim por diante.
Tempo (s) Queda
1 12.H1
2 22.H1
3 32.H1
5 52.H1
10 102.H1
t t2.H1 lang@if.ufrgs.br
Se Galileu conhecesse A ALTURA DE
QUEDA NO PRIMEIRO SEGUNDO,
poderia calcular a altura de queda em
qualquer tempo.
A “CONSTANTE DE GALILEU” não é o que
hoje denominamos de aceleração de queda
livre mas é a “ALTURA DA QUEDA NO
PRIMEIRO SEGUNDO”.
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Galileu nunca fez uma medida do valor da altura queda no primeiro segundo pois não dispunha de um
cronômetro. Em uma passagem dos Dois máximos sistemas do mundo estimou que o corpo descesse no
primeiro segundo cerca de quatro braças (aproximadamente 2 m).
Esta altura leva a uma aceleração de
aproximadamente 4 M/S2. Na verdade o corpo em queda livre cai aproximadamente 5 m no primeiro segundo, ou seja, mais do dobro da estimativa de
Galileu. www.if.ufrgs.br/~lang/
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Na obra derradeira de Galileu, Duas Novas Ciências (publicada
quase ao final de sua vida na Holanda), não há qualquer
referência ao valor da altura de queda no primeiro segundo!
Esta omissão é consequente da impossibilidade de uma medida
minimamente confiável para os tempos de queda em um
experimento de queda livre.
Mesmo tendo realizado experiências no plano inclinado, onde a
teoria do movimento naturalmente acelerado foi testada, Galileu
não extrapola tais resultados para uma medida de queda livre
pois os intervalos de tempo medidos eram arbitrários,
proporcionais à massa de água que fluia de uma reservatório.
Galileu não pode determinar o valor da aceleração de corpos em queda pois NÃO TINHA CONDIÇÕES DE MEDIR INTERVALOS DE TEMPO DE SEGUNDOS COM PRECISÃO.
Não existiam relógios precisos, capazes de medir pequenos intervalos de tempo. As
melhores medidas de tempo eram realizadas a partir dos movimentos dos
astros.
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Por volta de 1640 já se sabe que o
pêndulo de 3 pés de comprimento
oscila com um período de
aproximadamente 2 s.
A metade da oscilação deste pêndulo
dura aproximadamente 1 s e um quarto
de oscilação aproximadamente 0,5 s.
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Experimentos de Riccioli (auxiliado por nove jesuítas)
2 de abril de 1642 - 87.998 (meias) oscilações
em 24 h com um pêndulo de 3 pés e 4
polegadas.
12 de maio de 1642 - 86.999 (meias) oscilações
em 24 h com um pêndulo de 3 pés e 4,2
polegadas.
O experimento do padre Mersenne (1647)
Enquanto o pêndulo com aproximadamente 3 pés de comprimento descreve 1/4 de oscilação (0,5 s), um corpo cai por aproximadamente 3 pés.
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Huygens (1629-1695) refez, em 1659, o experimento do padre Mersenne diversas vezes, encontrando
valores entre 9 e 10 m/s2. Percebeu que enquanto não dispusesse de um cronômetro confiável, não poderia ter boas medidas dos tempos de queda.
Com o objetivo de construir tal cronômetro,
determinou, teoricamente, a forma da curva isócrona (a ciclóide), a qual possibilitaria a construção de um
pêndulo realmente isocrônico.
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Huygens também demonstrou que, para as pequenas amplitudes, um pêndulo circular é isócrono, obtendo,
como conseqüência não intencionada, a famosa relação entre o período do pêndulo simples, seu
comprimento e a aceleração gravitacional :
Conhecida essa relação, não mais necessitou medir tempos de queda, pois era possível a obtenção da
aceleração gravitacional a partir da medida do período e do comprimento do pêndulo.
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Utilizando-se de um pêndulo com cerca de 15,7 cm, que realizava 4464 oscilações de
pequena amplitude em 1 hora , fez a primeira determinação precisa de "g",
encontrando o valor de 9,5 m/s2.
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Utilizando-se de um pêndulo com cerca de 15,7 cm, que realizava 4464 oscilações de
pequena amplitude em 1 hora , fez a primeira determinação precisa de "g",
encontrando o valor de 9,5 m/s2.
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Uma das objeções ao movimento diurno da Terra acreditava que a "força centrífuga", atuando sobre os
corpos, os lançaria para longe.
Galileu, em 1632 no livro Diálogos sobre os dois máximos sistemas do mundo, se empenhara em
refutar tal objeção afirmando, erradamente, que não importando qual fosse a velocidade de rotação da
Terra, os corpos não se afastariam dela.
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Newton em 1666 necessitava comparar a
aceleração centrípeta de um corpo em rotação
junto com a Terra com a aceleração gravitacional.
Se a aceleração centrípeta fosse menor do que a
gravitacional, os corpos não seriam centrifugados
do planeta.
Não satisfeito com a estimativa de Galileu (4
m/s2), e talvez (?) desconhecendo o resultado de
Huygens (a obra de Huygens somente foi
publicada em 1673), realizou um experimento
para determinar "g".
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A máxima aceleração centrífuga sofrida por um corpo na superfície da Terra ocorre no equador, valendo
aproximadamente 3,4 cm/s2. Este valor é cerca de 300 vezes menor do que a aceleração gravitacional. Desta forma, Newton conclui que a objeção ao movimento
diurno da Terra, baseada na possibilidade de extrusão dos corpos terrestres, é falsa.
Posteriormente, a medida de "g" na superfície da Terra foi utilizada por Newton, juntamente com a Lei da Gravitação
Universal, para estimar a aceleração que a Lua sofria e compará-la à aceleração centrípeta da Lua.
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T1 = 1,057 s
u1 = 0,003 s
T2 = 1,058 s
u2 = 0,006 s
L = 27,69 cm
uL = 0,01 cm
g = 978 Gal
ug = 7 Gal
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A história das determinações da aceleração gravitacional nos
esclarece que, contrariamente à epistemologia empirista, o
conhecimento científico não começa com medidas. Galileu
nunca teve condições de medir com razoável grau de precisão a
aceleração de um corpo em queda e, entretanto, afirmou que ela
era a mesma para todos os corpos.
Esta história também nos mostra que o aumento na precisão das
determinações da aceleração gravitacional sempre foi antecedido
de importante avanços teóricos. Sem uma "boa" teoria não é
possível a realização de medidas sofisticadas, ou, como tantos
epistemólogos já insistiram, "todo o nosso conhecimento é
impregnado de teoria, inclusive nossas observações" (Popper,
1975; p. 75).