Foto: Gerry Huberty - casarealportuguesa.org files... · O príncipe Guillaume e Eduardo da Costa...

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CONTACTO \\24 DE OUTUBRO DE 2012 em foco 3

O príncipe Guillaume e Eduardo daCosta (à dta.) foram colegas no LiceuRobert Schuman. O português reencon-trou-se com o príncipe na recepção queo Governo luxemburguês ofereceu aosnoivos

No liceu, Guillaume era "uma pessoaacessível", garantem os seus antigoscolegas Foto: Arquivos Wort/Jochen Herling

Vera Vasconcelos e o marido, Michael Eichmüller, foram dois dos 270 popularesque estiveram na catedral para assistir à cerimónia a convite dos noivos Fotos: P.T.A

Três gerações de portuguesas assistem ao casamento na rue Chimay, com abandeira portuguesa e a luxemburguesa

Casamento de Guil laume do Luxemburgo e Stéphanie de Lannoy foi uma festa popular a lembrar os dias de Festa Nacional

Um grande dia para um pequeno país

Stéphanie e Guillaume durante o primeiro "banho de multidão", na sexta-feira

O último príncipe herdeiroda Europa casou-se debaixode um sol generoso e daatenção mediática de maisde 700 jornalistas. Poucohabituado a tantas atenções,o país – "um dos mais pe-quenos do mundo", frisa arevista Forbes – saiu-sebem. E sobreviveu mesmoàs comparações com o casa-mento de Kate e Williamde Inglaterra, mais mediá-tico mas menos autêntico,garantem os analistas.

"N ão é o casamento de Kate eWilliam, mas o Luxemburgoatraiu milhares de pessoas

para o casamento do príncipeGuillaume com a condessa Stéphaniede Lannoy”. A cábula que a jornalistainglesa segura na mão, escrita emletras garrafais num cartão que lhehá-de servir pouco depois para abrir areportagem televisiva sobre o casa-mento de Guillaume e Stéphanie,quando o casal sair da catedral, éprovavelmente a frase mais repetidapor estes dias na imprensa estrangeira.Isso e alguns lugares-comuns sobre oLuxemburgo. "Um país minúsculo”,"pouco habituado a estar debaixo dosholofotes”, diz o tablóide inglês DailyMail.

Por uma vez, o Luxemburgo estevemesmo debaixo dos holofotes, e o paísteve consciência da atenção mediáti-ca. "O estrangeiro olha-nos", avisara oprimeiro-ministro luxemburguês nodiscurso que fez um dia antes dascerimónias. "Não vamos ficar incha-dos de orgulho, mas também nãodevemos fazer-nos mais pequenos doque aquilo que somos", instouJuncker.

A boda real no Grão-Ducado atraiumenos atenção mediática que o casa-mento de Kate e William, mas acomparação é injusta, denuncia ojornalista francês Stéphane Bern. Es-pecialista na realeza europeia, o apre-sentador do canal de televisão France2, próximo da família grã-ducal egrande amigo do Luxemburgo (a mãeera luxemburguesa) não esconde airritação com a comparação.

"É estranho que comparem os doiscasamentos, porque aqui, por causade 350 mil euros, as pessoas puse-ram-se aos gritos”, diz ao CONTACTOo apresentador televisivo, referin-do-se à polémica com o dinheirogasto pelo Governo luxemburguês nacerimónia. "Não se pode ter tudo. Sequeremos um casamento como o deKate e William, é preciso gastar muitomais do que 350 mil euros”.

Mas as diferenças não se ficam poraqui. Apesar de ter custado cem vezesmenos que a boda real inglesa, or-çada em 40 milhões de euros, ocasamento de Guillaume e Stéphanieteve "muito mais charme”, defendeBern.

"Foi mais autêntico, mais cúmplicecom o povo, menos protocolar, e tevemuito mais calor popular. Em Ingla-terra há muitas barreiras que separamo povo da família real. Aqui não éassim”, garante Bern, autor de umlivro sobre o casamento de Guillaumee Stéphanie que vai ser lançado naslivrarias luxemburguesas já no pró-ximo sábado.

"A família grã-ducal é muito sim-ples, muito sóbria, muito discreta ereservada. Isto também está no ADNdo povo luxemburguês, que nãogosta de 'bling-bling', e não suporta-

ria uma família real arrogante, faus-tosa e protocolar”, diz.

"ALTEZA REAL? PARA NÓSELE É O GUILLAUME"

Casamento low cost ou não, o Luxem-burgo vestiu-se de gala para o evento.Na place de la Constitution, a bandeirado país foi substituída por um estan-darte com o monograma do casal. Namaioria das lojas, a fotografia dosnoivos decora as montras. Numa lojade decoração na avenue de la Liberté,gerida por ingleses, brinca-se com oevento. Um cartaz parodia a propa-ganda inglesa da Segunda GuerraMundial, os famosos cartazes com afrase "Keep calm and Carry on"("Mantenha-se calmo e continue"). Aversão luxemburguesa diz "Keep calm:We got our own royal wedding"("Mantenha-se calmo: Temos o nossopróprio casamento real").

E a calma marcou as comemoraçõespopulares, que arrancaram logo nasexta-feira. O primeiro evento oficialem que o casal pôde ser visto foi umarecepção oferecida pelo Governo lu-xemburguês aos noivos e aos jovensdo país, na manhã de sexta-feira.Entre os convidados, estavam repre-sentantes de associações juvenis, ca-sais que se casavam no mesmo dia queo príncipe e também antigos colegasdo liceu de Guillaume. Incluindo umportuguês que chegou a sentar-se namesma carteira do futuro Grão-Du-que, durante as aulas no Liceu RobertSchuman, um estabelecimento de en-sino público da capital.

Eduardo Gonçalves da Costa tem aidade de Guillaume, 30 anos, e ga-rante que o príncipe "é uma pessoasimples".

"Antes de a recepção começar, vie-ram-nos dizer para lhe chamarmos'Sua Alteza Real'. Mas nenhum de nóslhe chama isso. A gente conhece-o, epara nós ele é o Guillaume!".

O príncipe cumprimentou calorosa-mente o antigo colega (ver foto napág. ao lado), apresentou-lhe Stépha-nie (que é "muito simpática", elogiaEduardo), e perguntou-lhe pela mu-lher. Os dois já não se viam há doisanos, quando se cumprimentaram naFesta Nacional, mas Eduardo garanteque Guillaume continua a mesma pes-soa "simples e acessível" que conhe-ceu na escola.

O português foi estudar para oLiceu Robert Schuman quando ti-nha 12 anos, e ignorava que ocolega de turma com quem passariaos três anos seguintes era príncipedo Luxemburgo. "Quando vim daescola primária para o liceu, eu nãosabia que havia um príncipe noLuxemburgo – nem sequer que ha-via grão-duques", recorda. "E na-quela altura ele não tinha os fotó-grafos todos atrás dele", brinca.

Foi só uns meses depois queEduardo descobriu que o colega quechegava todos os dias à escola commotorista era afinal o herdeiro da

casa real luxemburguesa, mas arelação entre os dois não se alterou.

"Eu era o único português no clás-sico, e ele é mais francófono, e por issodevíamos ser os piores alunos daturma em Alemão", brinca este funci-onário do sindicato Aleba. "Íamosjuntos almoçar à 'vila' [cidade], ele eramuito acessível".

Eduardo da Costa garante queGuillaume tem um grande apreço pelacomunidade portuguesa e é mesmoum fã da selecção das Quinas. "Du-rante o Euro 96, fomos os dois a umalivraria portuguesa na place de Parisque vendia T-shirts de futebol portu-guesas. Ele comprou uma, eu compreioutra. Ele gostava muito da equipa dePortugal, e como a família dele tam-bém descende de portugueses, apoi-ava muito a selecção".

A proximidade de Guillaume com apopulação luxemburguesa não é deagora, garante Eduardo, que esteve noaniversário dos 18 anos do príncipe nocastelo de Vianden. "Ele convidou oscolegas da escola todos. Estavam asprincesas do Lichtenstein, as primasdele, e nós. Era uma mistura!".

Os noivos demoram hora e meia acumprimentar toda a gente, incluindoos jovens do Comité Spencer, a associ-ação de jovens cabo-verdianos noLuxemburgo, com quem o casal sedemora alguns minutos. Guillaume eStéphanie só deixam o Grand Théâtreao meio-dia e meia, quando faltamapenas três horas para o casamentocivil. Três horas para almoçar e mudarde roupa para a ocasião, histórica nopaís. Esta é a primeira vez que umcasal real se casa na comuna doLuxemburgo, e Xavier Bettel garanteque está tudo a postos.

"As flores já chegaram, só faltaaspirar os tapetes, mas vai estar tudopronto a horas", garante aos jornalis-tas o burgomestre da capital, durantea recepção no Grand Théâtre.

UM CASAL MODERNOPhilo Ney tem 79 anos, idade para játer assistido a três casamentos reais noLuxemburgo: o do Grão-Duque Henrie da Grã-Duquesa Maria Teresa, em1981, o do pai do actual Grão-Duquecom a grã-duquesa Josephine-Char-lotte, nos anos 1950, e agora o deGuillaume e Stéphanie. Mas esta é aprimeira vez que vai poder ver ocasamento real ao vivo.

"É a primeira vez que fazem isto,virem casar ao civil, como as outraspessoas. Antes casavam-se no palácioe ninguém os via", diz a octogenárialuxemburguesa. "Eles são bastantemais modernos", elogia, enquantomostra postais do casal à jornalista doCONTACTO. "Já enviei muitos aosmeus amigos, quer um? Estou muitocontente. É o último príncipe herdeiroda Europa que se casa. Felizmenteencontrou uma jovem simpática quefica muito bem com ele".

Tal como Philo Ney, milhares depessoas vieram ver o casamento civil àplace Guillaume. É hora de trabalho,mas quem pode pára para ver o casalque um dia sucederá aos actuais grão-duques. Num prédio coberto de an-daimes, ao lado do edifício da autar-quia, os trabalhadores interrompem asobras para virem espreitar a chegada apé do casal.

À cerimónia, íntima, assistem ape-nas a família e alguns convidados docasal. Mas Guillaume e Stéphanie te-rão ali o seu primeiro banho de multi-dão. Aplaudidos efusivamente à saídada comuna, o jovem casal passará os45 minutos seguintes a cumprimentaras milhares de pessoas que os esperampor detrás das barreiras que ladeiam opercurso entre a Comuna e o Palácio.

Para Stéphane Bern, o banho demultidão confirma a poderosa ligaçãoda família grã-ducal com a população

luxemburguesa. "Estão em conivênciacom o povo, de quem são muitopróximos. Em que outro casamentoreal é que foram convidadas 300pessoas do povo para assistir à cerimó-nia religiosa?".

A FESTA DO POVOVera Vasconcelos e Michael Ei-chmüller foram dois dos 270 popula-res que estiveram na catedral de No-tre-Dame no sábado. Vera viu o anún-cio nos jornais, a avisar que os interes-sados se podiam inscrever para partici-par na cerimónia religiosa, e passouduas horas ao telefone para conseguirlugares para ela e o marido.

A manhã foi longa para o casal, masestão os dois radiantes, vestidos arigor para a cerimónia. A tradutoraportuguesa no Parlamento Europeu eo inglês de origem alemã tiveram dechegar às 8h da manhã à catedral,depois de serem submetidos a umcontrolo de segurança rigoroso. "Atéàs 10h, podíamos ir à casa-de-banho,depois já não. E íamos sempre escolta-dos”, conta a funcionária europeia.

Quando Stéphanie de Lannoy entrafinalmente na catedral, às 11h, o casal

está há três horas à espera nos bancosde madeira da igreja, mas nem assimesmoreceu o entusiasmo. "Foi maravi-lhoso”, garante a tradutora portugue-sa, para quem o casamento foi "umaocasião histórica". "Tínhamos óptimoslugares lá dentro e estávamos a vertudo! Os duques de Bragança passa-ram mesmo ao nosso lado...”.

No sábado, o Luxemburgo en-cheu-se de gente para assistir ao casa-

mento real. Uns preferiram o ecrãgigante na place Guillaume, que seencheu para ver o casamento. Desdeas 10 da manhã que se vêem popula-res de copo de espumante na mão.Três mulheres vestidas a rigor, inclu-indo chapéu de cerimónia, assistem atudo na praça que tem o nome dopríncipe herdeiro. "Viemos de Saar-burg, na Alemanha, e chegámos às8h30 para ver o casamento", contaElfriede Arends, que veio com a mãe ea irmã.

Perto, um grupo de jovens espa-nholas faz a festa com as bandeiras doLuxemburgo e de Espanha. "Estouapaixonada pelo príncipe, é tão gua-po!", diz Carlota, há oito meses noLuxemburgo. Comentam-se os trajesdas famosas. "A mais bonita é aLetizia. Ela e a Carolina do Mónaco". Eelogia-se o vestido da noiva, "magní-fico!".

Os populares concentram-se noslocais estratégicos para ver os noivospassar. Ermelinda Carvalho chegoupor volta das 10h para conseguir lugarperto da catedral, o local ideal para veras personalidades convidadas para ocasamento real.

"O Durão Barroso e os duques deBragança passaram mesmo à minhabeira, eu bati-lhes palmas", diz Erme-linda. "Mas como fui a única, até mecalei. Havia muito poucos portugue-ses", lamenta. "Perto de mim só seouvia falar espanhol. Portugueses,nada. Acho que os portugueses foramtodos para a 'bricola'", brinca estaimigrante portuguesa, há 25 anos noLuxemburgo.

Ainda assim, há portugueses emtodos os pontos do percurso. Na rueChimay, três gerações de portuguesasassistem a tudo pelo ecrã de televisãode uma loja de telecomunicações. Avó,nora e neta não perdem pitada dacerimónia, com a bandeira portuguesae a luxemburguesa a postos paraquando o casal passar por ali, no finalda cerimónia.

"Fiz questão de vir pela minha filha,e consegui arranjar a coisa para terfolga hoje", conta Olinda Novais, em-pregada num restaurante português."Ela há uma semana que anda a falarnisto e a contar histórias de princesase reis". A menina, de cinco anos,mostra à jornalista do CONTACTO osdesenhos que fez na escola com o"príncipe azul" (príncipe encantado,em francês) e a princesa.

"Eu adoro ver isto", diz a avó,Lucinda. "Eu já cá estava quando o paidele casou, mas na altura vi na televi-são, porque vivia em Ettelbruck",conta a imigrante de 66 anos.

Fora da catedral, ouvem-se aplau-sos no momento em que o casal diz"sim". Ou melhor, "Jo". A tensãocresce. Atrás das barreiras, concen-tram-se populares à espera de verpassar Stéphanie e Guillaume. Depois,mal o carro do casal passa, corrempara o Palácio, para assistir à tradicio-nal saudação da varanda. É o mo-mento mais aguardado, e Stéphanie eGuillaume não desiludem: beijam-setrês vezes, para alegria da população,que explode em aplausos.

"Houve um verdadeiro movimentode amor da população do Luxem-burgo em relação a este casamento,que foi muito criticado na imprensa",analisa Stéphane Bern. "Mas os lu-xemburgueses deram uma bela res-posta aos críticos", defende o apresen-tador francês. "E o casal, que é adorá-vel, conquistou completamente a opi-nião pública luxemburguesa. Eles de-ram a volta à opinião pública com asua simpatia".

Para trás ficam as polémicas querodearam o casamento, incluindo anaturalização da condessa belga diasantes do casamento, defende. Para ojornalista francês, a boda foi "umevento federador" a nível nacional eum evento marcante para a imagemdo Luxemburgo no estrangeiro. "Oprimeiro-ministro Juncker resumiumuito bem a situação, quando disseque é um acontecimento que permiteaos luxemburgueses sentirem-se or-gulhosos do seu país. O Luxemburgonunca tinha sido falado de uma formatão positiva. Até aqui, sempre que sefalava do país, era para dizer que é umparaíso fiscal, um país de bancos, debranqueamento de dinheiro. É a pri-meira vez que ouço coisas inteligentessobre este país, um país de cultura etradição".

A festa terminou com fogo de arti-fício e concertos. Depois, Guillaume eStéphanie partiram em lua de mel.Destino: desconhecido. Nem Stépha-nie de Lannoy sabia para onde iam.

Stéphane Bern, o jornalista francêsamigo da família grã-ducal, garanteque também não sabe onde está ocasal. "Foram os amigos de Stéphanieque lhe fizeram a mala, para ela nãodescobrir pela roupa para onde ia.Ninguém sabe onde estão. No Luxem-burgo, as pessoas sabem guardar umsegredo". ■ Paula Telo AlvesFoto: Gerry Huberty

Casamento real Casamento real24 DE OUTUBRO DE 2012\\CONTACTO CONTACTO\\24 DE OUTUBRO DE 20124 5

"Olé!". Um grupo de amigas espanholas festeja efusivamente o casamento real,entre a place Guilaume e o palácio Foto: Claude Piscitelli