Post on 12-Feb-2017
UMA ABORDAGEM À BIODIVERSIDADE ENTOMOLÓGICA NA CULTURA DA VINHA EM REGIME CONVENCIONAL E DE AGRICULTURA BIOLÓGICA EM PORTUGAL
Lúcia Porto Góis, Eduardo Marabuto, Inês Órfão, Luís Relógio & Maria Teresa Rebelo
Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Ed. C2. Campo Grande, Lisboa, Portugal.
Devido ao crescimento exponencial dos mercados, a agricultura tradicional foi suplantada por métodos mais
intensivos, recorrendo a produtos químicos de síntese contra as pragas e infestantes. A dimensão desta
prática, juntamente com o uso indiscriminado e a baixa especificidade de pesticidas e herbicidas afectou
negativamente vários níveis da cadeia trófica e desequilibrou os ecossistemas. A partir dos anos 60 do século
passado, surgiram os primeiros processos de resistência a herbicidas e fungicidas, detectando-se a perda de
eficácia dos mesmos (Amaro, 1982).
A agricultura biológica surgiu como um sistema alternativo de produção, que restabelece as boas práticas
agrícolas e assenta numa base ecológica, sustentável e socialmente responsável (in FAO/WHO, 1999).
Devido às potencialidades ecológicas, à diversidade faunística e florística e aos apoios financeiros (e.g.
PRODER 2007-2013) nos últimos 15 anos, a taxa média de crescimento anual neste sector foi de 34%,
existindo cerca de 2mil produtores em Portugal (INE, 2008).
A vinha é um dos sectores mais dinâmicos da agricultura nacional, com uma enorme importância histórica,
existindo registos da sua prática desde o século XX a.C. (www.ivv.min-agricultura.pt). O regime de aplicação
de agro-químicos na vinha é muito intenso, sendo 50% do total de produtos fitossanitários utilizados neste tipo
de exploração. Os alvos principais destas medidas são as cigarrinhas verdes (Empoasca spp. e Jacobiasca
lybica, figura 1), pragas chave em Portugal (Amaro, 1982).
Com este estudo pretendeu-se avaliar a biodiversidade entomológica em vinhas sob sistema convencional e
biológico na região Oeste de Portugal. Como indicador das práticas de gestão agro-ambiental focámo-nos na
avaliação da biodiversidade funcional e das pragas, como ferramenta de tomada de decisão para uma
agricultura de conservação.
As duas vinhas estudadas localizam-se na região Oeste de Portugal (Estremadura) e distam 5 km (SE-NO) entre elas (Figura 2a):
A Quinta da Crispina (Antas, Arruda dos Vinhos, UTM 1x1 km: 29SMD9515, 97m alt.) possui uma vinha (2ha) orientada a SSE em regime de agricultura biológica gerida em
regime de prevenção fitossanitária apenas contra míldio e oídio, não se tendo verificado tratamentos durante o estudo. Encontra-se rodeada por vinhas em regime
convencional, manchas dedicadas ao cultivo de aveia e um bosquete de Quercion broteroi (Figura 2b).
Na Quinta da Gataria (Gataria, Sobral de Monte Agraço, UTM 1x1 km: 29SMD9319, 270m alt.) a vinha (1,6ha) está orientada a NNE, gerida em regime convencional sendo
sujeita periodicamente a acções fitossanitárias contra o míldio, oídio, monda química e física e contra pragas-chave. No período de estudo foi sujeita a quatro intervenções
preventivas contra míldio e oídio. Colindante com esta área encontram-se culturas de subsistência de batata, fava e aveia, um prado terofítico de facies mediterrânico, um
pomar de Prunus spp. e uma galeria ripícola com Populus nigra, Quercus faginea, Crataegus monogyna e Rubus ulmifolius, entre outros. A sul faz fronteira directamente com
a aldeia da Gataria (Figura 2c).
Capturou-se um total de 19024 artrópodes, verificando-se um claro predomínio da ordem Diptera em ambas as
vinhas, provavelmente pelas armadilhas de Moericke se revelarem mais eficazes na amostragem deste grupo. Outros
grupos com menor mobilidade ou menor atracção a este tipo de armadilhas apresentam-se claramente em número
inferior (Figura 5).
Pela constante disponibilidade, simpatia e permissão para desenvolver o trabalho nas suas propriedades, agradece-se ao Sr. Albino e ao Sr. Marciano. Finalmente ao Marco Katzemberger e à Ana Farinha pela colaboração na triagem do material biológico.
Figura 2: Áreas de Estudo. Portugal Continental
(a), Vinha Biológica (b), Vinha Convencional (c)
0%
25%
50%
75%
100%
Vinha Convencional Vinha Biológica
Diptera
Thysanura
Psocoptera
Acari
Araneae
Dermaptera
Coleoptera
Collembola
Lepidoptera
Thysanoptera
Hemiptera
Homoptera
Hymenoptera
O protocolo experimental incluiu a captura de artrópodes por intermédio de
armadilhas de Moericke, colocadas duas por vinha. No período amostral de 6
semanas, entre 10 Abril e 17 Maio de 2006, procedeu-se à recolha semanal das
capturas nas armadilhas e à triagem em laboratório do material biológico, com
individualização ao nível das ordens (todos os grupos) com especial enfoque nos
predadores, parasitóides e pragas-chave.
Convencional Biológica
Diptera 10444 4311
Hymenoptera 434 473
Homoptera 252 238
Hemiptera 5 12
Thysanoptera 577 853
Lepidoptera 6 3
Collembola 4 13
Coleoptera 627 621
Dermaptera 1 0
Araneae 34 63
Acari 44 3
Psocoptera 2 3
Thysanura 0 1
TOTAL 12430 6591
0
50
100
150
200
I II III IV V VI
Semanas de amostragem
Nú
me
ro d
e in
div
ídu
os
Cicadellidae Predadores Parasitóides
Os dados deste estudo permitem reafirmar o importante papel das novas medidas de gestão agroambiental como a agricultura biológica na manutenção da biodiversidade, mesmo em meios semi-naturais de produção estratégicos como a cultura da vinha em Portugal. Esse efeito poderá ser maximizado se o ambiente envolvente apresentar estruturas ecológicas complexas que, contribuindo com reservatórios de biodiversidade, podem actuar como mitigadoras da actividade das pragas na vinha e noutras culturas.
Figura 1:Cigarrinha-verde, praga-chave da vinha
Segundo o Índice de Diversidade de Shannon-Weaver (Ricklefs,1990) verificou-
se que a diversidade na vinha biológica é bastante superior à da vinha
convencional (HBiológica≈1.15; HConvencional≈0.68) apesar de, contrariamente
ao expectável, não se terem registado sempre mais indivíduos na vinha
biológica (p. e. Diptera e Acari, Tabela 1). Estas diferenças entre vinhas poder-
se-ão dever a uma maior diversidade de habitats e superior riqueza botânica
nas zonas adjacentes à vinha convencional, e à complexificação das estruturas
ecológicas e refúgios de biodiversidade no seu entorno.
Em ambas as vinhas o número de cigarrinhas-verdes revelou-se reduzido,
especialmente na vinha convencional (11 indivíduos), provavelmente devido a
efeitos cumulativos de tratamentos fitossanitários contra esta praga em anos
anteriores. Concomitantemente, nunca foi atingido o Nível Económico de
Ataque.
Os efectivos populacionais da praga e os grupos de inimigos naturais (Figura 6)
não apresentam uma relação inversa, demonstrando que as variações no
efectivo de cigarrinhas-verdes resultam de factores ambientais e não do controlo
biológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E MÉTODOS
INTRODUÇÃO
Figura 3: Captura no campo Figura 4:Triagem no laboratório
Tabela 1: Total de indivíduos por vinha
Figura 5: Composição percentual das vinhas estudadas
Figura 6: Evolução temporal dos grupos focais
CONCLUSÕES •AMARO, P. 1982. A Protecção Integrada em Agricultura. Comissão Nacional do Ambiente. 165 pp.
•FAO/WHO, 1999. Organic Agriculture. Commitee On Agriculture, 15th Sesson
•INE, 2008. Estatísticas agrícolas 2007. INE, I.P., Lisboa – Portugal.
•www.ivv.min-agricultura.pt
•RICKLEFS, R. E. 1990. Ecology. W. H. Freeman and Company, New York, Third Edition. 721pp.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
1a
1b
1c