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II Encontro Nacional da Rede Alfredo de CarvalhoFlorianópolis, de 15 a 17 de abril de 2004
GT História da Mídia VisualCoordenação: Prof. Sônia Luyten (Unisantos)
Título do artigo:
Histórias em Quadrinhos - Informação e comunicação
literário-imagética como necessidade original ontológica:
para uma educação universitária além dos fonemas.
Gazy Andraus*
*Doutorando em Ciências da Informação e Documentação pela ECA-USP;Bolsista do CNPq
Orientador: Waldomiro de Castro Santos Vergueiro
Resumo:
Este artigo trata de demonstrar que aliadas às palavras quase sempre fonetizadas dos textos, as
imagens também têm suas funções de estruturação educacional humana. As histórias em
quadrinhos (hq) são objetos de comunicação e informação literário-imagéticos seqüenciados
imprescindíveis ontologicamente, cuja origem vem de uma mesma matriz que originou os
ideogramas e os fonemas (o grafe) devendo figurar portanto ao lado dos livros como material
de formatação cultural e educacional, principalmente no ensino de terceiro grau, visto que a
escrita fonética racionalizada apresenta-se como insuficiente para preencher o cruzamento
heurístico informacional que se opera nos dois hemisférios cerebrais (esquerdo=lógico-racional
e direito=intuitivo imagístico). Advem daí uma necessidade de se perceber melhor a
importância funcional das hq como literatura imagética influenciadora culturalmente,
passando-se a utilizá-las com melhor proficuidade em todos os níveis de ensino, inclusive no
universitário.
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Palavras-chave: Histórias em quadrinhos – imagem - informação – educação – universidade 1-Introdução
A epopéia da vida humana tem se pautado por uma sucessão de mudanças
paradigmáticas, principalmente no que concerne à evolução mental. E este trajeto tem se
guiado pelas múltiplas variedades de expressão as quais se foram estratificando e se moldando
de acordo com diversificadas vertentes culturais. De toda maneira, nessas expressões
comunicacionais, a linguagem humana tornou-se rica e multifacetada, incluindo o gestual, o
gráfico (tanto o das imagens como o dos grafes da escrita), o sonoro e com as mudanças
paradigmáticas da evolução mental humana, as tecnologias foram amalgamando e tornando
renovadas muitas destas modalidades expressivas, plasmando o rádio, a televisão, o cinema e
agora, mais ainda com o computador funcionando como elemento contemporâneo tecnológico
no qual tudo isto se pode reverberar e ressurgir hibridamente, alcançando maiores distâncias e
povos com velocidades nunca antes imaginadas (o aspecto on line da Internet).
A construção da cultura humana se deu a partir de uma ruptura de um estado anteriormente
animalesco para outro em que uma consciência destacada principiou a direcionar os
hominídeos a uma busca gregária de inter-relações quase que extranaturais, forçando-os a criar,
numa desesperada procura a um retorno olvidado da natureza. Destarte, entre todos estes
intercursos e degraus, as formas de expressão se tornaram igualmente objetos passíveis de
estudos a partir da necessidade inerente a nosso gênero: a de inquirir e pesquisar. Logo, os
processos metodológicos, através de uma rigorosa formatação nos campos da ciência,
acabaram por abarcar todos esses veículos tidos como de comunicação. Apesar disto, as
histórias em quadrinhos (hq) aparentemente foram, de todos estes objetos, as menos
referenciadas e apreciadas (tendo sido durante certo período desprezadas e apontadas como
vilãs no processo educacional em diversos países, tais como Estados Unidos, França ou Brasil)
até ao final dos anos 60 para os 70, quando alguns intelectuais passaram a vê-las como
importantes formas comunicacionais e de bojo ideário, que poderiam estar influenciando de
alguma forma (não apenas “maléfica”) a evolução psico-cultural, tanto dos infantes e
adolescentes, como também dos adultos. A partir deste momento as universidades principiaram
a incluir em seus procedimentos e pesquisas, em suas metodologias, referenciais que
perpassassem as hq, principiando a usá-las afinal, timidamente como objetos de suas pesquisas,
ou seja, como “material” também passível de estudos, visto que são expressões também
comunicacionais, e portanto, parte do arcabouço cultural humano.
Mesmo assim, até hoje, as hq ainda não se tornaram tão conhecidas ou apreciadas como
pontos-chave de pesquisa como o são outros veículos. Os pesquisadores que abrem suas portas
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para o potencial desta arte paradoxal que integra em sua maioria das vezes a escrita com a
imagem entrelaçando ambas em uma narrativa seqüenciada, ainda são poucos, e a problemática
se torna maior no Brasil, um país de ricos aspectos culturais multifacetados, com uma
população enorme atormentada por uma grave e ineficaz distribuição de renda, com uma
formação educacional deficiente, o que, paradoxalmente ao fato de isto poder contribuir para
uma penetração mais facilitada das hq para este público (pressupondo os desenhos
seqüenciados e o aparente texto “fácil” das hq) tem trazido, contrariamente, pouca interação
entre o mesmo e as hq. O potencial informacional das hq continua igualmente sendo obliterado
pelas vias de divulgação, sejam jornais, revistas, televisão e meio acadêmico, embora o uso da
linguagem das hq já seja mais proeminente nos livros didáticos (apesar de seu uso neles ainda
ser limitado ou mal utilizado, por causa principalmente da falta de informação acerca de seu
potencial, aos professores e aos elaboradores dos respectivos tomos).
O que se pretende com este artigo, então, é colocar em pauta uma possível relevância
informacional que em sua origem é inerente às hq, pouco percebida pelo meio acadêmico,
reforçando sua importância comunicacional, como uma necessidade literária-imagética
ontológica à formação mental-cultural, e não só aos jovens infantes e adolescentes, mas
igualmente aos adultos, principalmente em formação universitária.
2-Informações e lateralizações.
Marshall McLuhan considera a luz elétrica como informação pura. Poderia então a
informação, permear tudo? “Pergunte a qualquer pessoa se ela sabe do que é feito o mundo físico, e é
bem provável que ela responda:“matéria e energia”.(...) uma tendência atual iniciada por John
A.Wheeler, da Princeton University, é olhar o mundo físico como composto de informação, onde a
energia e a matéria são incidentais.” (BEKENSTEIN, 2003, p. 43).
Por esta ótica, aventar que qualquer meio de expressão traz implicitamente graduações de
informação, está obviamente fora de contestação.
Mas o caráter da informação é que vai ser classificado de alguma forma ou maneira: ao meio
científico, que se desenvolveu por bases empíricas, chegando a conquistar uma situação
estável por meio do método, o qual produz resultados que se mostram lógicos e mantêm um
mais seguro caminho pela pesquisa, a exclusividade de uma escritura com base racional vai ser
a ideal, por denotar informes que podem ser compartilhados, melhorados e ampliados (ou até
descartados, caso provem-se ineficácias práticas).
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O homem em evolução teve seu desenvolvimento cerebral em vários estágios, do primitivo
réptil ao mamífero superior culminando no cérebro triádico descrito por MacLean1, que abarca
o reptiliano (coordenando instintos básicos, senso-motor e territorial), o complexo límbico (que
permite a conceituação metafórica) e o neocortex (responsável pelo raciocínio). Além disso,
descobertas científicas modernas vieram perfazer o conhecimento de funções um tanto distintas
dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo, que também poderiam estar relacionadas com
questões culturais.
Porém, o cérebro como mecanismo dual/holístico está apenas começando a ser destrinchado2, e
muito graças às tecnologias atuais utilizadas, como o SPECT (Single-Photon Emission
Computerized Tomography – Tomografia Computadorizada por emissão de Fóton Único3).
Através de técnicas como estas, impulsionadas em seu início por causa de estudos
referentes a epilépticos, está sendo possível averiguar a lateralidade cerebral. Cada parte do
cérebro rege o lado oposto, mas nos split brain4 (cérebros que têm seu corpo caloso cortado)
cada hemisfério registra apenas a metade do campo visual sem que se comuniquem, como seria
normal acontecer quando no estado normal. Foram estes experimentos5 que constataram que os
campos de visão influenciam cada olho, embora ao trabalharem juntos, as informações visuais
se cambiem entre os hemisférios (através do corpo caloso). Através destes elucidações
científicas (principalmente pelo SPECT), pôde-se aventar que a linguagem é uma função
predominante do hemisfério cerebral esquerdo, enquanto que a imagem é do direito, ambos
porém, intercambiando as informações.
Ainda assim,
“(...) experimentos de laboratório e estudos clínicos indicam claramente que a leitura do chinês
requer, para a identificação de seus morfemas-caracteres, uma alocação de funções cerebrais,
localizadas entre os hemisférios cerebrais direito e esquerdo, um tanto diferente daquela que os
leitores da Europa Ocidental e os leitores de alfabetos fonéticos orientais usam para a
identificação de palavras”. (Saenger, 1995).
A questão das lateralizações cerebrais continua polêmica, pois atualmente acredita-se no
cérebro “holográfico”, o qual possui em si, por completo, todas as informações distribuídas, ou
passíveis de serem “alocadas” a regiões que se necessite delas. Chegou-se a tais especulações
1 Calazans, 1992, p. 37.2 O médico francês Marc Dax, em 1836, foi o primeiro a teorizar a respeito da dualidade cerebral, sendo corroborado 50 anos depois por seu conterrâneo Paul Broca.3 In Nossos dois cérebros (Neurologia) in Globo Ciência. Outubro de 1994.4 Ibidem.5 No mesmo artigo “Nossos dois cérebros” exemplifica-se: uma imagem de uma colher foi projetada por um taquitoscópio em um ou dois décimos de segundo, à esquerda de um ponto preto projetado numa tela, e pediu-se que uma mulher focasse sua visão no ponto. Em seguida, embora ela afirmasse nada ter visto, ao lhe ser solicitado que tateasse vários objetos sem visualizá-los, escolheu a colher.
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por causa de cirurgias em que eram necessárias retiradas de grande porção de áreas cerebrais
prejudicadas. Após uma dessas operações, com certo treinamento, foi possível fazer o paciente
recuperar habilidades que se supunha terem sido removidas com a fração extirpada.
No artigo “Nossos dois cérebros”6 menciona-se o livro O Cérebro Japonês (Aliança Cultural
Brasil-Japão/Massao Ohno, 1989), escrito pelo neurocirurgião Raul Marino Jr., que tenta
explicar a criatividade e versatilidade daquela cultural oriental, visto que no Japão aprende-se
três tipos de alfabetos, onde um é inteiramente imagético (o ideogramático, oriundo do chinês),
que teoricamente, para ser decodificado, precisa da participação maior do lado direito cerebral
(é interessante observar como o mangá – história em quadrinhos de estética japonesa – é
considerado com naturalidade uma forma comunicacional e informacional no país do sol
nascente, e consumido em larga escala, por todas as idades de pessoas de ambos os sexos. Isto
talvez se deva, além de aspectos sociais, à questão da estratificação de uma escritura fonético-
ideogramática, e não estritamente fonetizada, como no ocidente).
Sabendo-se que existem pequenas diferenças na distribuição das funções cerebrais, mesmo
entre homens e mulheres, como também para povos diferentes (no quesito cultural, e não
racial), por que não se pode aventar a hipótese de a influência da escrita (e das manifestações
artísticas) terem papéis preponderantes informacionais para que estas distribuições sejam
distintas (como parecem apontar as pesquisas que evidenciam o funcionamento cerebral
japonês e a leitura dos ideogramas na china, apontada pelo hemisfério direito cerebral)?
E aqui se aproxima a questão que direciona este trabalho: poderiam as hq terem sido relegadas
pelo motivo cultural estratificado em que os processos científicos privilegiaram a palavra
fonetizada racional, em detrimento da imagem (da poiesis, enfim), por causa de um
inculcamento memetizado7 em que se privilegiou apenas a informação em instância
racionalizada?
Desde que Descartes, com base em suas especulações a respeito da “verdade primeira” (sobre a
qual a filosofia seria reconstruída), excluiu as disciplinas humanísticas da filosofia, o problema
da imagem foi, não só negligenciado, como também excluído das cogitações filosóficas. O
processo, que deriva da descoberta de uma verdade primeira, só pode mostrar caráter racional.
Assim sucedeu que, com o começo do pensamento moderno racional (isto é, científico) e
patético (isto é, retórico), iniciado por Descartes, os discursos foram separados da ciência
filosófica e a arte da oratória, ou seja, a linguagem figurada, foi excluída.8
6 Ibidem.7 Meme é um termo criado pelo biólogo Richard Dawkins, que expõe a imitação como conseqüência de um componente de atuação similar ao gene, porém de forma não física, e sim cultural. Ele conceitua assim o espalhamento de fatores culturais e mentais que “repetem” determinados padrões de pensamentos, por exemplo.8 Grassi, 1978, p. 13.
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E se a informação permeia todas as coisas, não poderiam outras instâncias de comunicação
também servirem de bojo inquiritório científico, ou que, aliado a este, ampliassem a gama de
entendimento humano, expandindo os conceitos de formas múltiplas (e ainda não muito bem
conhecidas), não se limitando apenas ao academicismo racional, que tentou em vão extirpar o
conceito da subjetividade de suas pesquisas?9
3-As hq – veículos de informação literário-imagéticos obliterados
A expressão humana remonta aos primórdios da aurora do homem, quando principiava a se
afastar do estágio animal exclusivo para o hominal racional. Desenvolvendo seu cérebro, foi
ganhando em faculdades e se aprimorando nas criações e modalidades de expressão.
Segundo Cristina Costa (2002), baseada em incursões de apontamentos de filósofos, psicólogos
e antropólogos como Merleau-Ponty, Jacques Lacan, Lévi-Strauss e outros, este caminhar do
homem significou um “afastamento” de um convívio com a natureza, tendo a conotação de
uma expulsão do “Paraíso”, rompendo o hominídeo com a natura. Esse desligamento foi como
uma perda, associada com idéias de nascimento e condenação, cuja redenção tem-se dado
através de uma construção grupal de mecanismos simbólicos, permitindo ao homem um
entendimento objetivo, através de uma percepção subjetiva, construídos a partir do
desenvolvimento de seu imaginário. Então, a vontade humana de criar se justifica pelo
pressuposto deste desligamento com a natureza, o rompimento de um padrão que, se não
tivesse ocorrido, poderia ter seguido igualmente ao dos outros animais em vez de ter eclodido
em algo inusitado10. Tal desligamento intensificou e fez evoluir a comunicação humana, que,
como já mencionado anteriormente, partindo de grunhidos e gestos, manifestou-se depois nas
garatujas e pinturas rupestres, e se desenvolveu em linguagens gráficas, desde pictogramas,
ideogramas e fonemas, estruturando-se e configurando-se em teatro, tapeçaria, escultura,
pintura, gravura, história em quadrinhos, cinema, rádio, televisão, ciência e agora em realidade
virtual pelo computador. Tudo se tornou registrável e armazenável nos jornais, livros e revistas,
e em bibliotecas reais e então virtuais (Internet).
A vontade inata e inerente de criar e trazer à luz do conhecimento suas dúvidas sempre tem
imobilizado o espírito humano, o qual encontrou maneiras de exprimir e comunicar: a escrita é
uma delas. Os ideogramas e os fonemas têm parentesco com as Histórias em Quadrinhos (HQ),
9 A física quântica só pôde apontar a posição das micropartículas atômicas com a dependência do observador. Sem este, ou seja, sem o estatuto da subjetividade momentânea de um agente – no caso, o cientista - os dados poderiam se situar diferentemente.10 Interessante ponto de ruptura pode ser visto no filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço” de Stanley Kubrick, que coloca um monólito como o marco racional – pois uma forma retangular – de rompimento da natureza animal para a hominal: o princípio da auto-consciência.
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que são narrativas imagéticas, crias das caricaturas, as quais deram origem ao cartum e às
charges, além de existirem em forma de gêneros narrativos diversos e para faixas etárias
distintas de públicos, sendo também conhecidas por denominações exclusivas ímpares11 em
vários países pelo mundo, dependendo de fatores culturais (e possivelmente meméticos, já que
um fator se relaciona causalmente com o outro).
Por questões um tanto quanto ainda não totalmente decifradas, as hq, que tiveram suas
gêneses nas pinturas rupestres, tangeciando algumas escritas (egípcia e ideogramática chinesa)
e se estruturando como pinturas seqüenciais nas “cavernas” arquitetadas das catedrais
européias góticas (narrando em geral a Paixão de Cristo), se tornando uma das mais populares
formas artísticas a se propagar graças à tecnologia (devido à prensa e os jornais e revistas, e
atualmente à Internet), foram postas na “fogueira” inquisitória no período macarthista norte-
americano, que fez resvalar tal preconceito na França e depois, na época da ditadura brasileira,
estigmatizando-as como objetos perigosos e incitadores à má formação educacional da
juventude.
Pode-se conjecturar neste caso uma reação defensiva coadjunta a um modus operandi
exclusivo de um racionalismo cartesiano reducionista12, em detrimento a uma ampliação da
função mental como um todo: tal como Grassi alertou, a imagem estava sendo espezinhada e
tida como algo menor.
Apesar disso, é interessante notar como textos de divulgação científica recorrem quase
sempre a metáforas e narrativas ficcionais, como que para corroborar a necessidade premente
do cérebro de se equilibrar: ora entre a pura racionalização, ora entre a imaginação.
Ratificando a informação de que muitos postulados da ciência se fazem através de
metáforas e exemplificações fantasiosas, por uma necessidade natural da mente e de seus
processos, tem-se com este trabalho, também a hipótese de que também outra forma de
veiculação pode se juntar a estes postulados, tanto para facilitar as comunicações científicas
oficiais, como também para que se possa ampliar o leque dos processos mentais, no que se
refere ao ato puro de criar e elucubrar (muitas teorias científicas e/ou descobertas importantes
se estratificaram ou se iniciaram devido a insights ou momentos de divagações mentais
aparentemente desconexas com os assuntos enfocados). As histórias em quadrinhos poderiam
ser uma dessas outras formas comunicacionais e artísticas plenas de potencialidades
11 HQ ou tiras no Brasil (Gibis são as revistas que trazem este tipo de arte impressa), Comics, ou strip comics nos EUA, Bandas Desenhadas (BD) em Portugal, Bandes Dessinées (BD) na França e Bélgica, Fumetti (Fumacinhas: alusão aos balões desenhados que portam as falas dos personagens) na Itália, Historieta na Argentina e Espanha, Manga (significando algo como garatuja ou desenho simplista) no Japão.Outros termos pelos quais são conhecidas as HQ são Arte-Seqüencial, Literatura da Imagem, Nona Arte (a sétima seria o cinema, e a oitava a televisão), e, quando impressos em edições melhor cuidadas (como os livros), não são gibis, mas sim Graphic Novels (Romances Gráficos).12 Segundo Prates (1997, p. 15), o Reducionismo (um dos pilares da construção do Positivismo) ganhou força disseminando no Ocidente uma “redução da complexidade fenomênica do mundo a uma logicidade formal, de caráter essencialmente empiricista”.
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imagéticas, e que aludem a uma premência natural necessária a uma boa manutenção binomial
em relação aos hemisférios cerebrais, pois que aliam à imagem, muitas vezes, à palavra escrita
(fonetizada ou ideogramática, dependendo da língua de origem). Divulgando-se a ciência
através de hq, pode-se intentar que a mente humana se dialogue em seus hemisférios cerebrais,
entre a logicidade factual racionalizada e a intuição imagética, a fim de se manter em equilíbrio
e gerenciar esta reaproximação “perdida” (a reconexão à natura): “As imagens, assim como as
histórias, nos informam. Aristóteles sugeriu que todo processo de pensamento requeria
imagens”. (MANGUEL, 2001, p. 21). O autor britânico de hq Alan Moore também discorre
acerca destas informações sobre o cérebro, tanto na graphic novel Do Inferno (From Hell),
como no livro acerca de uma exposição sua de bds13 em Portugal:
“Da forma como eu compreendo a divisão entre o lado esquerdo do cérebro, e o lado direito, e
em termos muito gerais, a metade esquerda lida com o racional, a linguagem, a articulação das
frases. A metade direita lida com o irracional, o inconsciente. Pode ser que a palavra seja a
unidade de conta da metade esquerda, e a imagem seja a unidade de conta da metade direita. E
há realmente algo de único na maneira como a banda desenhada combina palavras com a
imagem. Eu sei que foram feitos testes no Pentágono, para apurar a forma de transmitir a
informação de um modo mais directo e eficaz, de forma a que essa informação fosse retida, e
concluíram que essa forma é a banda desenhada. Não é o texto sem imagens, nem o texto
ilustrado. Penso que isso se deve ao facto de a banda desenhada apelar simultaneamente às duas
metades do cérebro. Há pessoas que não sabem ler banda desenhada. E a explicação que dão
para não saber ler banda desenhada é que não sabem por onde começar. É uma leitura
simultânea”. (MOORE, 2002, p. 8)
Informação é a chave para a elaboração e organização de tudo: o suspense, em sendo falta
dessa informação transforma a seqüencialização das hq numa gestalt em que os quadrinhos
“faltantes” entre os desenhados são também “informação”, porém oculta, que estimulam o
leitor a buscar nos quadrinhos subseqüentes as chaves da informação total, formatando-a na
mente.
Além de Moore (um dos maiores nomes da hq mundial, por inserir em seus roteiros
elementos da ciência quântica e fractal, numa fluição textual rica em informações
sistematizadas, enquanto que também poéticas), outros autores também assim procedem, como
o inglês Grant Morrison, ou ainda o brasileiro Edgar Franco, que insere em suas hq, elementos
de sua pesquisa no mestrado, pertinentes a questões relativas à transgenia e clonagem humana.
Portanto, para corroborar a hipótese deste trabalho, na qual é sustentada a hq como
potencial literário-imagético sui generis, e que deveria, devido a sua configuração de veículo
13 As hq são chamadas de bandas desenhadas (bd) em Portugal.
9
comunicacional de necessidade ontológica, configurar junto aos outros objetos de cunho
científico, quer como aliado a estes, ou simplesmente como mantenedor necessário de
intercurso educacional humano, elegeram-se alguns estudos de caso, de caráter empírico e
simplificados, como as hq listadas que se seguirão como exemplos que possam fazer a
ilustração do objetivo pretendido.
4-Estudos de caso
Tais como os livros, que existem em forma de caráter estritamente ficcional e também
científico, é possível categorizarem-se as histórias em quadrinhos igualmente em dois grupos:
1) HQ de divulgação informacional (trazem divulgação de temas científicos propostos,
como prioridade fundamental);
2) HQ de entretenimento (trazem em primeira instância, ficcionalidades autorais, do
artista para o leitor, sem a prioridade do primeiro item, porém imbuídas de caráter
informacional – desde que as próprias imagens desenhadas são também “informação”).
Embora esta classificação esteja simplificada, há enormes variáveis nestes pontos. Em alguns
momentos a informação através dos quadrinhos pode tender muitas vezes para o
entretenimento, e não para os fatos históricos propriamente (mesmo que haja pesquisa
referencial do roteirista). O prof. Waldomiro Vergueiro14 nos mostra que algumas hq podem
dar uma falsa realidade histórica, exemplificando o caso do Príncipe Valente, de Harold Foster,
em cujos roteiros existem anacronismos factuais (o fato histórico é muitas vezes utilizado apenas
como um pano de fundo para a correlação com situações do cotidiano como em Asterix de Gosciny e
Urdezo, apesar de haver uma profunda pesquisa de hábitos e costumes, bem como vestuário e
arquitetura). Mesmo assim, no primeiro grupo citado (as hq de divulgação informacional),
cartilhas são confeccionadas e encomendadas a artistas das hq, que muitas vezes se servem de
consultoria especializada, bem como livros paradidáticos e/ou didáticos (como o Matemática
em mil e uma história15s sugerido a partir da 1a. série, e que é todo em forma de quadrinhos),
ou a revista Supereco16, que trazia entremeadas às hq informações com bases nas ciências
ecológicas, além do livro em forma de hq Introdução à Lógica Paraconsistente Anotada17,
explicando fluentemente toda a evolução do processo mental lógico da raça humana, até as 14 Em artigo publicado no site omelete, em 6/10/200315 Editora FTD.16 SUPER ECO (março de 1998).17 SILVA FILHO, João Inácio da, Jair Minoro Abe (2000).
10
atuais tentativas de se construir uma inteligência artificial (um excelente objeto para graduação,
que pode figurar livremente nas bibliotecas de faculdades das áreas de ciências e tecnologias
computacionais). Outros trabalhos podem se somar a esses, como Espaço-Tempo e Além18,
acerca da física moderna (quântica) e questões filosóficas de vanguarda, atreladas à área, e
muitos mais, que, conforme se poderá perceber, seriam mais do que bem-vindos (pois
necessários então) à formação de terceiro grau dos dicentes.
No segundo caso (hq de entretenimento), todas as hq já produzidas em uma primeira
instância, como filão de divertimento, já poderiam figurar por si sós como objetos integrantes
de caráter paralelo à formação cultural humanas. Ivan Carlo de Andrade Oliveira, autor,
fanzineiro e mestre em comunicação elaborou a dissertação A divulgação científica nos
quadrinhos: análise do caso Watchmen19, na qual adverte que os quadrinhos são excelentes
veículos de divulgação de mudanças paradigmáticas científicas. Para tal hipótese, dissecou a
obra Watchmen, de Alan Moore, que faz alusão implícita à ciência fractal e quântica.
O autor Larry Gonick transita num meio termo: em trabalhos como A História do Universo em
Quadrinhos (em 5 volumes, sendo que está em análise aqui o segundo: do surgimento do
homem até a invenção da escrita), no qual parece ter se pautado por uma pesquisa minuciosa
acerca dos tópicos principais da origem do homem e seu desenvolvimento, tudo permeado com
extremado (e criativo) bom humor. Apartes teóricos menos conhecidos também são colocados
pelo cartunista, como na p. 4 (Fig.1), em que discorre acerca de uma teoria aventada pela
escritora inglesa Elaine Morgan, que pensou os seres humanos como aquáticos em determinado
momento de sua evolução (daí adviriam, segundo ela, os corpos sem pelos das mulheres e seios
“flutuantes”). Mas na mesma obra, às pp. 12 e 13, é que realmente se mostram as qualidades
das hq, em contraposição a um trabalho estritamente escrito. As imagens dos homens
18 TOBEN, Bob e WOLF, Fred Alan (1991).19OLIVEIRA, Ivan Carlo de Andrade (Gian Danton). (Novembro de 1997). http://virtualbooks.terra.com.br/livros_online/gian/01.htm
11
primitivos lutando contra o frio glacial da primeira das grandes idades do gelo, em dois
quadros maiores e de traços fluídos, com contrastes entre a tinta preta e o fundo branco do
papel, cujas figuras semi-caricaturais e semi-realistas, trazem à baila informações que só os
desenhos podem dar: aos olhos do leitor há uma espécie de compartilhar da cena, como se ele
também estivesse junto aos homens. Há sensações (subjetivas, é lógico) que provavelmente
diferem em muito de uma descrição tecnicalizada. Talvez nestas cenas estejam elementos que
façam corroborar a necessidade das imagens, enquanto os estudos analíticos são feitos sob uma
ótica racionalista e metódica: mas o espírito humano parece se deter também no outro lado, no
momento em que algo do racional permanece, mas se recolhe um tanto para que a “sensação”
ressurja. Será que isto faria com que o espírito cientificista desaparecesse? Ou, ao contrário,
alternando tal leitura imagética, com outras de puro detalhismo racional, estaria um reequilíbrio
mental que trouxesse novos modos de se “pensar” e de se estabelecer o conhecimento, a
informação? É mister lembrar que tais desenhos são engendrados por um espírito que aprendeu
determinada técnica (como o pianista, ou violinista) e que, a despeito dela, usa-a como
“método” para “criar” traços (sons) novos, inusitados, seqüenciados que, embora “artísticos”
possuem por detrás codificações elaboradas e previamente racionalizadas, após muito estudo.
Outro trabalho interessante de Gonick é NeoBabelonia: a serious study in contemporary
confusion20, que traduz em quadrinhos dinâmicos e também humorados, a evolução cerebral e
social humanas, bem como as questões da elaboração das escritas, aventando igualmente um
distanciamento das imagens, a partir das elaborações dos alfabetos fonéticos.
O professor Leopoldo De Meis e Diucênio Rangel elaboraram duas obras: A respiração e a 1a.
lei da termodinâmica ou...a alma da matéria e O Método Científico21.
Este último foi produzido sob o patrocínio do CNPq e as duas obras se configuram nas hq de
divulgação informacional. De Meis é professor do departamento de bioquímica médica do
Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade federal do Rio de Janeiro, e Diucênio, autor
de hq. O Método Científico traz em uma produção gráfica colorida e luxuosa, no formato de
álbum de capa dura, a síntese da história da evolução científica mental humana, eclodindo na
estratificação do método. São 84 pp coloridas de extremo bom gosto que perpassam em forma
de história em quadrinhos de desenhos realísticos (não cômicos) informações tanto por meio
dos textos, como das belas imagens: há uma combinação quase sempre feliz das duas
linguagens, que em determinados momentos resultam numa poeticidade plástica, não deixando
de ter cunho cientificista (Fig.2). O álbum tem catalogação bibliográfica e é encontrado nas
seções de livros de metodologia das bibliotecas.
20GONICK, Larry (1989).21 DE MEIS, Leopoldo, Diucênio Rangel. O Método Científico (2002).
12
Outro autor, o já citado Alan Moore, permeia a ciência em várias obras, situando-se á primeira
vista seus trabalhos como hq de entretenimento. Porém, em seus 4 volumes Do inferno22, ele
chegou a quase inverter a situação das duas categorias aqui feitas: sua hq, que se passa na era
vitoriana, abordando a história verídica de Jack, o estripador imiscuiu de tal forma momentos
informacionais (Fig.3), que não se sabe quais são de fonte fidedignas, ou quais são oriundas de
sua fértil imaginação. Para resolver o dilema do leitor, a obra em seus quatro tomos apresenta
apêndices com notas comentando quase que página a página, as fontes e referências pelas quais
Moore se guiou na elaboração da obra. Trata-se na verdade de uma tese, porém, valorizando
em primeira instância a imaginação inventiva, e em segunda instância (na verdade quase em
concomitância com a primeira) os fatos verídicos (pois quão verídico se pode chegar, já que os
aspectos registrados pela história também são passíveis de interpretações subjetivas?).
22 MOORE, Alan. Do Inferno (2000).?FRANCO, Edgar, Mozart Couto (2003).
13
BioCyberDrama23 de Edgar franco (roteiro) e Mozart Couto (arte) é uma obra engendrada
pelas mentes dos dois autores mineiros e, embora uma hq de entretenimento não deixa
escapar nada concernente à pesquisa e divulgação da área tecnológica da atualidade, bem como
se alicerça em referências na biologia molecular, nos mitos e crenças universais, nas
arquiteturas, e o mais interessante de tudo: na configuração de uma narrativa seqüenciada
perfeita de uma autêntica hq poética fantástico-filosófica: um tipo de literatura única ainda
longe de ser decifrada (pois igualmente híbrida e original, já que a hq mescla literatura com a
primeira das expressões gráficas: o desenho, trazendo um paradigma artístico tão simples em
essência quanto paradoxalmente complexo). Mozart Couto é um artista dos quadrinhos
nacionais, tendo já publicado em outros países, como EUA e Bélgica. Mescla seus estilos
atualmente com a base que seu traço é conhecido (oriundo da linha clara européia, misturada
com o claro-escuro do terror nacional), amalgamado com a estética dos super-heróis norte-
americanos e o sui generis mangá (que por sua vez se influenciou pelos quadrinhos ocidentais
antigos). Franco é arquiteto, autor de quadrinhos de temática reflexiva de conteúdo fantasioso,
tendo sempre participado do universo dos fanzines. Fez mestrado na Unicamp, na área de
multimeios, dissertando e criando com base nas novas tecnologias. Atualmente faz doutorado
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14
em artes pela USP, e suas hq têm uma bagagem informacional recheada de conceitos atuais da
ciência, principalmente no que concerne às novas tecnologias híbridas, como clonagem
humana e transgenia. Edgar também elabora hq hibridizadas para a Internet, tendo cunhado
provisoriamente o termo Hqtrônica (e-comics nos EUA).
Este BioCyberDrama (fig: 4) é um álbum de hq que deveria estar sendo usado em diversos
cursos universitários, desde o de filosofia e letras aos de computação, pois mescla em suas
páginas o drama existencial shakespeariano com as possibilidades de um futuro (sombrio?)
para o gênero humano, caso a tecnologia racional venha a suplantar o frágil pensamento
humano de vez (o roteiro concebe a questão em que, no futuro, seres humanos poderão ser
hibridizados devido à clonagem de órgãos, e também que suas consciências poderão ser
transmigradas a corpos artificiais cibernéticos, extirpando a morte física, bem como outras
questões de ordens filosófico-existencialistas. A história se abre com um texto explanatório
referenciado pelas pesquisas do roteirista).
Outros trabalhos podem ser mencionados, como Contos Bizarros24 (Fig.5), que também se
situa entre hq de entretenimento, mas se alterna como divulgação informacional da divisão da
revista
24 CONTOS BIZARROS (novembro de 2003).
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Superinteressante, da editora Abril. Nesta revista, o tema é serial killer, e artistas de hq
brasileiras foram convidados para, mediante pesquisa de diversas personalidades assassinas da
história, colocarem em forma de hq tais perfis, recontando suas vidas. O trabalho tem
fundamentos e é bem elaborado em sua narrativa quadrinhística. Também se situa entre hq de
entretenimento e de divulgação. Professores universitários, principalmente da área de ciências
humanas poderiam muito bem se servir da edição para que os alunos trabalhassem os
conceitos.
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The Eye25 (hq de entretenimento), do autor Dave Mckean, é a obra (Fig.6) que mais se
aproxima do objetivo deste trabalho: a hq inteira não tem um texto (excetuando-se o crédito ao
artista e os dados editoriais). Nem mesmo o título é escrito em forma de letras fonetizadas. Ao
contrário, ele aparece como um símbolo, uma representação gráfica do olho humano.
É uma obra que deve ser “lida” e relida, pois, por não conter palavras, os leitores correrão
talvez muito rápido seus olhos por ela. Em um primeiro momento suas mentes condicionadas à
grafia fonética sentir-se-ão provavelmente confusas e não totalmente esclarecidas acerca do
roteiro. Por outro lado, as imagens em seqüência podem dar ao lado direito do cérebro um tipo
de retroalimentação ao qual ele se desacostumou na leitura, devido ao condicionamento da
cultura letrada. A partir deste álbum, novos exercícios podem ser propostos: o aluno
universitário pode tentar elaborar uma escritura fonética para a hq, ou ainda reconfigurá-la. Ou
então interpretá-la através de minuciosa pesquisa, utilizando-se por exemplo, da semiótica (o
uso das hq na universidade não parece ser de fácil esgotamento).
Enfim, este trabalho não se esgota, e é só uma ponta de um iceberg a ser desvelado: podem as
hq servirem ao propósito de informar? E que tipo de informação elas trazem? Elas são mesmo
necessárias em paralelo aos livros racionais fonéticos? Haverá mudança de paradigma com a
miscigenação das duas leituras na universidade (a fonético-gráfica e a imagético-
ideogramática)?
5-Considerações Finais
Como hipótese intuída, e partindo de algumas informações apontadas por teóricos
(filósofos, antropólogos etc), propondo que o elemento humano, em face de sua desconexão
com a natureza tem evoluído culturalmente elegendo como principal um caminho altamente
racionalizado (em excelência as culturas estratificadas por uma escrita fonetizada, distinta da
ideogramática, a qual guarda lembrança com a imagem), este artigo quer discutir o resgate do
estatuto da imagem como fonte de necessidade ontológica do elemento humano, respaldando-
se principalmente em conceitos teóricos referentes à situação mental do homem, bem como de
premissas científicas aventadas que aludem às lateralidades do funcionamento dos hemisférios
cerebrais, e de seu funcionamento (inclusive através de experimentos divulgados no rol
científico e acadêmico, como os resultados aferidos com o uso do SPECT etc.).
25 MCKEAN, Dave. Eye (setembro de 2002).
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Percebe-se que, mesmo em textos de divulgação científica podem ser encontrados elementos
ficcionais, elucubrações fantasiosas, muitas vezes criadas pelo cientista como auxílio
metaforizado para facilitar o encaminhamento e entendimento de suas idéias. Isto sugere e
reforça a necessidade humana de criar, de imaginar, e, por suposto, de se utilizar da imagem.
Sugerindo-se que a imagem (a imaginação, a ficção, a ficcionalidade) volte a ser fator
valorizado e utilizado pelas esferas das culturas humanas (inclusive no meio acadêmico e nas
universidades), elege-se então as hq (histórias em quadrinhos) como objetos deste trabalho,
apesar de terem sido muito criticadas e atualmente relegadas nos cursos terciários, sendo das
mais antigas formas de comunicação e expressão humanas e detentoras de uma simbiose sui
generis: a imagem e o texto escrito (fonético ou ideogramático).
A leitura de hq é tão salutar como o é a de um livro, quer seja ficcional ou científico. Assim,
um não substitui o outro, ambos perfazendo um cruzamento heurístico na mente bi-dividida
cerebralmente, ampliando os leques de entendimento do gênero humano, não só mantendo-o
em um pensar racional, mas também emotivo.
As conclusões que daí advirão só poderão ser medidas após o estabelecimento desta concepção
em que as hq se configurem fisicamente nas bibliotecas das faculdades, bem como também
sejam utilizadas mediante prévia indicação por professores que passem a ter competências nas
leituras desta arte literário-imagético-informacional.
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7-Anexos:Como autor e pesquisador de hq, eu também elaborei um projeto, batizado de HQMente, em que após
leituras de textos de divulgação científica, recriei-os em hq, transpondo-as inicialmente para Internet, e
posteriormente em uma revista auto-editada (fanzine) de tiragem reprografada. O projeto surgiu após a
elaboração das histórias em quadrinhos a partir das leituras de textos de divulgação científica, durante o
intercurso da disciplina de pós-graduação A MENTE E A MÁQUINA—Leituras em Inteligência
Artificial e Comunicações oferecida pelo Prof. Dr. Fredric M. Litto, no primeiro semestre de 2003, na
Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).
Acesso ao site HQMENTE: http://www.geocities.com/gazyandraus
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