Post on 09-Nov-2018
Introdução à Economia do Trabalho II
Solange Ledi GonçalvesDoutoranda Teoria Econômica
Universidade de São Paulo
XLII Encontro Nacional dos Estudantes de Economia
Tópicos
1. Introdução
2. Demanda e oferta de trabalho
3. Modelos de busca por emprego
Demanda e oferta de trabalho
Oferta de trabalho
• Modelo básico: , em que:
• Restrição orçamentária:
• Tempo disponível (24 horas):
• Maximização da função utilidade, sujeito à restrição orçamentária: consumo ótimo e lazer ótimo;
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Oferta de trabalho
• Inclinação da oferta de trabalho individual depende da magnitude relativa dos efeitos
substituição (afeta positivamente a oferta de trabalho) e renda (se lazer é um bem normal, afeta
negativamente a oferta de trabalho);
• O efeito que predomina pode depender do nível de renda do trabalhador: predomínio do efeito
substituição entre os trabalhadores com renda mais baixa;
Fonte: Boeri e van Ours (2013).
• Conceito de salário de reserva: mais baixo salário que um trabalhador aceita; é crescente com a
renda do não-trabalho (exige mais para trabalhar se pode contar com outras fontes de renda);
• A oferta de trabalho agregada é crescente com os salários;)(wLs
Oferta de trabalho
• Algumas extensões:
Heterogeneidade do trabalhador: diferentes rendas do não-trabalho (que impactam o salário de reserva) ou diferentes
preferências;
Produção doméstica: indivíduos dedicam parte de seu tempo para a produção de bens no domicílio, que podem ser
para venda no mercado ou consumo próprio; na restrição orçamentária, as horas dedicadas à produção doméstica
devem ser descontadas; com produção doméstica, oferta de trabalho fica mais elástica (reage mais a alterações nos
salários); exemplo: oferta de trabalho feminina;
Modelos coletivos de oferta de trabalho: os vários diferentes indivíduos em uma família podem ter diferentes
preferências e um processo de barganha intrafamiliar pode ocorrer na decisão de oferta de trabalho; a utilidade de um
membro da família depende do consumo e lazer dos outros membros da família.
Oferta de trabalho
Demanda por trabalho
• Firmas individualmente maximizam lucros e, nesse processo, escolhem nível ótimo do produto e nível
ótimo dos insumos (exemplo com dois insumos: trabalho, capital);
• Modelo básico: nível de emprego ótimo (demanda por trabalho) é dado pelo ponto em que o valor do
produto marginal do trabalho se iguala ao salário (preço do insumo trabalho);
• Inclinação da demanda por trabalho é afetada pelo grau de substitutabilidade entre os insumos
(exemplo com dois insumos: capital e trabalho);
• Demanda agregada por trabalho é decrescente nos salários;)(wLd
Demanda por trabalho
• Algumas extensões:
Heterogeneidade das firmas: tamanho, produtividade;
Firmas com poder de mercado no mercado do produto (monopólio, oligopólio): a produtividade marginal se iguala
ao salário multiplicado por um “mark-up”, que é crescente no poder de mercado da firma;
Firmas com poder de monopsônio (apenas um comprador ou poucos compradores de um bem) no mercado de
trabalho (exemplo: firma de mineração em uma área remota); casos modernos de monopsônio: muitos empregadores,
mas poucas vagas disponíveis para as quais os trabalhadores possam se candidatar.
Equilíbrio em um mercado de
trabalho perfeito
Fonte: Boeri e van Ours (2013).
• Mercado de trabalho competitivo não existe: políticas públicas ou outras instituições podem agir de
maneira a reestabelecer a eficiência ou a equidade ou podem criar distorções ainda maiores;
• Algumas políticas e instituições:
Salário mínimo;
Seguro-desemprego;
Taxação sobre rendimentos;
Regulação de horas trabalhadas (legislação trabalhista);
Sindicatos (barganha coletiva).
Políticas públicas e instituições
O salário mínimo
• O primeiro salário mínimo foi introduzido nos EUA em 1938 (Boeri e van Ours (2013));
• O salário mínimo e a oferta e demanda por trabalho em um mercado de trabalho competitivo:
Fonte: Boeri e van Ours (2013).
O salário mínimo
• Os trabalhadores que ganham salário mínimo e continuam empregados ganham, mas alguns são
demitidos (aumento do custo das empresas) e perdem. Qual é o efeito agregado?
• É possível estudar os efeitos do salário mínimo do lado da oferta e do lado da demanda;
• Literatura nacional e internacional: consenso sobre efeitos na desigualdade dos salários, mas não há
consenso sobre efeitos na pobreza e no emprego (predominância de efeitos negativos no emprego);
• Card e Krueger (1994): Pensilvânia (grupo de controle) e New Jersey (grupo de tratamento);
“experimento natural”; empresas de fast-food e efeito sobre o emprego de trabalhadores jovens;
O salário mínimo
• Algumas questões:
Salário mínimo pode afetar a produtividade: trabalhadores buscam aumentar a sua qualificação para
não serem demitidos e empregadores passam a exigir mais alta qualificação, já que terão custos
maiores;
Setor formal e setor informal: com a demissão de alguns trabalhadores do setor formal, aumenta a
oferta de trabalhadores no setor informal e os salários podem cair;
Salário mínimo para jovens;
Salário mínimo pode reestabelecer a eficiência em mercados de trabalho em que há monopsônio;
Análises de decisão intrafamiliar: o salário mínimo que afeta a renda do chefe/cônjuge pode
determinar que os adolescentes possam se dedicar integralmente ou parcialmente aos estudos.
O salário mínimo no Brasil
• Evolução do salário mínimo real no Brasil entre 1995 e 2015:
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Ministério do Trabalho (MTE).
• Densidade dos rendimentos do trabalho e efetividade do SM por setor de atividade:
Fonte: Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNADC 2012-2015 (IBGE).
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.0005
.001
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Densid
ade
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000Renda do trabalho individual
Formal Informal
O salário mínimo no Brasil
• Distribuição percentual dos trabalhadores com renda igual a 1 SM, por décimos da renda familiar per
capita (com imputação dos benefícios do Programa Bolsa Família):
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNADC 2012-2015 (IBGE).
0,02%
2,16%
10,70%
16,14%
17,94%
13,82% 14,03%14,96%
7,34%
2,87%
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2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
1o. 2o. 3o. 4o. 5o. 6o. 7o. 8o. 9o. 10o.
O salário mínimo no Brasil
Modelos de busca por emprego
Modelos de busca por emprego
• Fricções: qualquer aspecto que interfere na transição instantânea de bens e serviços (McCall (1970));
imperfeição no mercado de trabalho;
• Fonte importante de fricções de busca: informação imperfeita;
• Trabalhadores realizam transições no mercado de trabalho (entre empregos, do emprego para o
desemprego (inatividade), e vice-versa);
• Busca por emprego apresenta custos;
Modelos de busca por emprego
• Transições podem ser voluntárias (com aumento salarial ou amenidades) ou involuntárias (com
diminuição salarial ou do benefício total do trabalhador);
• Mobilidade e rotatividade dos trabalhadores varia com: renda, educação, idade, sexo, experiência,
tempo no emprego, entre outros fatores;
Modelo básico de equilíbrio parcial
• Modelo de Burdett e Mortensen (1998);
• Massa unitária contínua de trabalhadores homogêneos; tempo contínuo;
• Choques de destruição do emprego e chegada de vagas para empregados e desempregados;
Modelo básico de equilíbrio parcial
• Função-valor do desemprego:
• Função-valor do emprego:
em que:
• Parâmetros determinam a frequência e a natureza das transições individuais no mercado
de trabalho;
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: Taxa de desconto
: Valor de estar empregado
: Valor de estar desempregado
: Valor do lazer
: Taxa de chegada de vagas quando está desempregado
: Taxa de chegada de vagas quando está empregado
: Salário que já está ganhando no emprego corrente
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• Mercado em steady state: equações de equilíbrio de fluxo de trabalhadores para fora e para dentro do
desemprego se igualam:
• Identificação se baseia em algumas fontes de informação: transições individuais e distribuição dos
salários entre empregados;
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DentroFora
Modelo básico de equilíbrio parcial
Transições no mercado de trabalho
brasileiro• Porcentagens de indivíduos que realizam cada uma das transições no mercado de trabalho:
TransiçõesPorcentagem dos
indivíduos
Emprego para desemprego 4.6%
Desemprego para emprego 4.7%
Emprego para emprego com: 2.2%
Aumento salarial 0.9%
Diminuição salarial 1.3%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PME 2014 (IBGE).
• Relação entre as transições no mercado de trabalho e a situação de pobreza das famílias dos
trabalhadores:
% de Transições PobresExtremamente
pobres
Não-pobres e
não-ext. pobres
Emprego para desemprego 6.0% 11.4% 2.6%
Desemprego para emprego 8.4% 0.5% 4.1%
Emprego para emprego com: 2.7% 0.1% 2.0%
Aumento salarial 0.6% 0.0% 0.8%
Diminuição salarial2.1% 0.1%
1.2%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PME 2014 (IBGE).
Transições no mercado de trabalho
brasileiro
• Evolução das transições dos filhos entre 14 e 24 anos (2002-2015):
Transições no mercado de trabalho
brasileiro
0,0%
1,0%
2,0%
3,0%
4,0%
5,0%
6,0%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
e-d e-i e-e' d-e d-i i-e i-d
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) 2002-2015.
• Transições para os recortes amostrais dos filhos entre 14 e 24 anos:
em que “e” denota empregado, “d” denota desempregado, “i” denota inativo e “e’” denota empregado
em um emprego diferente.
Transições no mercado de trabalho
brasileiro
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) 2002-2015.
Fluxos e-d e-i d-e d-i i-e i-d e-e'
Presença do cônjuge
Sim 1,61% 3,48% 2,28% 3,37% 4,49% 3,71% 3,22%
Não 0,74% 1,54% 1,05% 1,55% 1,81% 1,76% 3,88%
Faixa etária
14-18 0,93% 3,31% 1,35% 3,30% 4,47% 3,82% 2,07%
19-21 2,60% 4,01% 3,60% 3,89% 4,75% 4,23% 5,17%
22-24 2,36% 3,32% 3,41% 3,13% 3,50% 3,03% 4,58%
Sexo
Homem 1,85% 3,92% 2,52% 2,98% 4,83% 3,48% 3,92%
Mulher 1,44% 3,11% 2,15% 4,08% 3,99% 4,33% 2,81%
Obrigada!
Solange Ledi Gonçalves
solange.goncalves@usp.br