Post on 09-Sep-2018
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SOBRE O AUTOR
João Fernando Custodio da Silva, Engenheiro Cartógrafo graduado pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1979; mestre (1983) e doutor
(1987) em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná; pós-
doutorado na Ohio State University, EUA, de 1992 a 1994 (fotogrametria e
sistemas de mapeamento móvel); livre-docente (1997) e professor titular (2007)
em Fotogrametria do departamento de Cartografia, da Faculdade de Ciências e
Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de
Presidente Prudente, onde ingressou, em 1982, para lecionar Fotogrametria no
curso de Engenharia Cartográfica e posteriormente Cartografia e Trabalho de
Síntese, tendo colaborado nas disciplinas de Desenho Geométrico e Introdução
ao Conhecimento Científico. No Programa de Pós-graduação em Ciências
Cartográficas lecionou Fotogrametria Analítica e atualmente leciona
Organização do Trabalho Científico, e Orientação de Sensores e Imagens.
Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos (1988-1992),
Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de
São Paulo (2004-2009), Vice-diretor (2002-2006) e Diretor da FCT/Unesp (2006-
2010). Estágio de pesquisa no Instituto de Geomática da Universidade
Politécnica da Catalunha e Generalitàt Cataluña, Espanha, de outubro de 2011 a
fevereiro de 2012 (estudo sobre a integração de sensores de posicionamento e
navegação para o mapeamento móvel).
NOTA AO LEITOR
Material em edição. Agradecemos a comunicação de falhas e omissões. JFCS
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Siglas
ABEC/Associação Brasileira dos Engenheiros Cartógrafos. ACI/Associação
Cartográfica Internacional. ART/Anotação de Responsabilidade Técnica.
BCG/Boletim de Ciências Geodésicas. CAD/computer aided design. CCD/charge
coupled device. CIM/Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo. CNPq/Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. CONFEA/Conselho Federal
de Engenharia e Agronomia. CREA/Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
CTI/Ciência, tecnologia e inovação tecnológica. CVL/Curriculum vitae Lattes.
DC/documento cartográfico. ECA/erro cartográfico admissível. FAPESP/Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. FIG/Féderation Internationale de
Géomètres. GIS/geographic(al) information system (ver SIG). GLONASS/(ver
GNSS). GNSS/Global Navigation Satellite System. GPS/Global Positioning System.
IAG/International Association of Geodesy. IBGE/(Fundação) Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. IES/instituições de ensino superior. IMU/inertial measurement
unit. INPE/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. INS/inertial navigation system.
ISPRS/International Society for Photogrammetry and Remote Sensing. LASER
(laser)/light amplified by stimulated emission radiation. LIDAR (lidar)/laser detection
and ranging. LTM/Local Tranversa (de) Mercator. MCF/meridiano central do fuso.
MDE/modelo digital de elevação. MDS/modelo digital de superfície. MDT/modelo
digital do terreno. MEC/Ministério da Educação. MLE/meridiano limite do fuso a
leste. MLW/meridiano limite do fuso a oeste. MMQ/método dos mínimos quadrados.
NMM/nível médio dos mares. NTCN/Normas Técnicas da Cartografia Nacional.
ONU/Organização das Nações Unidas. PEC/padrão de exatidão cartográfica.
PLC/Plataforma Lattes CNPq. RADAM/radar da Amazônia. RADAR (radar)/radio
detection and ranging. RBC/Revista Brasileira de Cartografia. RBMC/Rede Brasileira
de Monitoramento Contínuo. RN/RRNN/referência(s) de nível. RTM/Regional
Tranversa (de) Mercator. SBC/Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia,
Fotogrametria e Sensoriamento Remoto. SCN/Sistema Cartográfico Nacional.
SFT/superfície física da Terra. SGB/Sistema Geodésico Brasileiro. SIG/sistema de
informação geográfica (ver GIS). SIRGAS2000/Sistema de Referência Geocêntrico
para as Américas (realização ano 2000). SMR/superfície do modelo de referência.
SPR/superfície do plano de representação. SSP/superfície do sólido de projeção.
TIN/triangular irregular network. UGGI/União Geodésica e Geofísica Internacional.
UNESCO/United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
UFPE/Universidade Federal de Pernambuco. UFPR/Universidade Federal do Paraná.
UNESP/Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. USP/Universidade
de São Paulo. UTM/Universal Transversa (de) Mercator. VFT/verdadeira forma da
Terra.
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CONTEÚDO (provisório)
3 O Profissional Engenheiro Cartógrafo: Sei onde estou. Olhos de pássaro. E vejo atrás
e adiante.
Legislação profissional. O perfil da profissão e do profissional. A caracterização do
mercado de trabalho. As amostras. A utilidade das disciplinas. A distribuição
geográfica do mercado de trabalho. As organizações empregadoras e os vínculos
empregatícios. Atividades rotineiras e campo de atuação profissional: administrativa,
técnicas, de produção, VCDM, acadêmicas e científicas. Os rendimentos. O
aperfeiçoamento profissional e as expectativas. A pós-graduação e a extensão de
atribuição profissional. Síntese. 6 de maio: dia do Cartógrafo. 11 de dezembro: dia do
Engenheiro.
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CAPÍTULO 3
O Profissional Engenheiro Cartógrafo
Sei onde estou.
Olhos de pássaro.
E vejo atrás e adiante.
Legislação profissional
No Brasil, como também em muitos países, há profissões cujo exercício é
regulamentado pelo Estado. A engenharia é uma delas. O decreto número 23.569, de 11
de dezembro de 1933, promulgou a regulamentação das profissões de engenheiro,
arquiteto e agrimensor. Esta é a data – 11 de dezembro – em que se comemora o Dia do
Engenheiro. Três décadas mais tarde, em 1966, a lei número 5.194 (doravante Lei) foi
promulgada para regular o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e
engenheiro-agrônomo. Esta lei está em vigor para engenheiros e agrônomos apenas,
porque o exercício profissional do arquiteto passou a ser regulado por outra lei que
criou o sistema próprio.
A resolução número 218 do CONFEA foi editada em 1973 para discriminar as
atividades das diferentes modalidades profissionais da engenharia (arquitetura) e
agronomia. O Conselho Federal, na década de 90, acelerou estudos para a atualização
da legislação face às exigências das atuais feições e característica do exercício
profissional no mercado de trabalho das profissões tecnológicas. Aprovou a polêmica
resolução 1.010, em 22/08/2005, que revogou a 218 e está regulamentando esta nova
sistemática de atribuição profissional. No momento em que escrevemos, a chamada
1.010 está suspensa aguardando as reformulações dos seus anexos.
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Vimos que o CONFEA é o órgão normalizador ou normatizador e o Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) é o órgão de fiscalização do exercício de
profissões de engenharia e agronomia, em suas respectivas regiões, no caso as
unidades federativas (estados e Distrito Federal). Em conjunto formam o Sistema
CONFEA/CREA, ao qual vamos nos referir pela sigla SCC.
É oportuno e necessário esclarecermos que todo profissional deve conhecer a
legislação que sustenta a sua atividade profissional, seja ela de alcance nacional,
estadual ou municipal. Trataremos nesta seção de compor uma ilustração básica e
trazer informações gerais acerca do exercício profissional do engenheiro e
particularmente do engenheiro cartógrafo. Qualquer decisão deve ser amparada no
estudo e na análise da legislação que está disponível em www.confea.org.br.
Cada engenheiro, agrônomo, geógrafo, geólogo, meteorologista, técnico e
tecnólogo que tenha colado grau em uma instituição de ensino credenciada no MEC
receberá a carteira profissional que o habilita a exercer legalmente a profissão no País,
se atender aos requisitos da Lei. Destacaremos a seguir alguns artigos desta Lei para
ilustrar e chamar a atenção para alguns direitos e deveres dos engenheiros em geral e
do engenheiro cartógrafo em particular.
Já no primeiro artigo são caracterizadas as profissões de engenheiro e
engenheiro-agrônomo pelas realizações de interesse social e humano que importem na
realização dos empreendimentos: aproveitamento e utilização de recursos naturais;
meios de locomoção e comunicações; edificações, serviços e equipamentos urbanos,
rurais e regionais, nos seus aspectos técnicos e artísticos; instalações e meios de acesso
a costas, cursos, e massas de água e extensões terrestres; desenvolvimento industrial e
agropecuário.
Observamos que o artigo da Lei não faz menção explícita a obras e serviços de
mapeamento e cartografia. Entretanto, todos os projetos para a realização dos
mencionados tipos de empreendimentos requerem conhecimento preliminar ou
posterior do espaço geográfico e territorial em que são inseridos. Daí a necessidade do
mapeamento cartográfico, da informação geográfica e consequentemente do
profissional responsável por sua produção.
O artigo 2º assegura o exercício, no País, da profissão de engenheiro ou
engenheiro-agrônomo, observadas as condições de capacidade e demais exigências
legais, aos que possuam devidamente registrado diploma de faculdade ou escola
superior de engenharia ou agronomia, oficiais ou reconhecidas, existentes no País.
Compreende-se aqui que os CREA são obrigados a registrar qualquer indivíduo que
comprove atender às exigências, não importando a tão almejada qualidade do curso
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objeto do diploma; bastando tão somente que o curso seja reconhecido pelo MEC. Por
oportuno, não há na Lei nada em que o CONFEA possa tomar por base legal e instituir
o chamado “exame de ordem”, que seria uma prova aplicada ou exigida dos
portadores de diploma para avaliar um patamar mínimo de competências e
habilidades para, a partir dos resultados, atribuir o direito ao exercício profissional. O
problema da qualidade do ensino e por extensão das IES ainda é apenas do MEC.
O uso do título profissional com as denominações de engenheiro ou engenheiro-
agrônomo, acrescidas, obrigatoriamente, das características de sua formação básica, é
reservado exclusivamente aos profissionais referidos nesta Lei. Portanto, engenheiro
cartógrafo para os graduados nos cursos de engenharia cartográfica e, em breve,
engenheiro cartógrafo e agrimensor para os egressos dos cursos de engenharia
cartográfica e agrimensura.
Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro ou engenheiro-agrônomo a pessoa
física ou jurídica que realiza atos ou presta serviços, públicos ou privados, reservados
aos profissionais de que trata esta Lei, e que não possua registro nos conselhos
regionais. E também o profissional que se incumbir de atividades estranhas às
atribuições discriminadas em seu registro.
As atividades e atribuições profissionais dos engenheiros consistem em:
desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais, paraestatais,
autárquicas e de economia mista e privada; planejamento ou projeto, em geral, de
regiões, zonas, cidades, obras, estruturas, transportes, explorações de recursos naturais
e desenvolvimento da produção industrial e agropecuária; estudos, projetos, análises,
avaliações, vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica; ensino, pesquisa,
experimentação e ensaios; fiscalização de obras e serviços técnicos; direção de obras e
serviços técnicos; execução de obras e serviços técnicos; produção técnica
especializada, industrial ou agropecuária. Observamos que são atividades comuns a
todas as modalidades e especialidades das engenharias.
Para efeito de fiscalização do exercício profissional dos diplomados no âmbito
das profissões inseridas no SCC, são designadas as atividades abaixo e que podem ser
atribuídas de forma integral ou parcial, em seu conjunto ou separadamente:
01 – Gestão, supervisão, coordenação, orientação técnica;
02 – Coleta de dados, estudo, planejamento, projeto, especificação;
03 – Estudo de viabilidade técnico-econômica e ambiental;
04 – Assistência, assessoria, consultoria;
05 – Direção de obra ou serviço técnico;
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06 – Vistoria, perícia, avaliação, monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria,
arbitragem;
07 – Desempenho de cargo ou função técnica;
08 – Treinamento, ensino, pesquisa, desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio,
divulgação técnica, extensão;
09 – Elaboração de orçamento;
10 – Padronização, mensuração, controle de qualidade;
11 – Execução de obra ou serviço técnico;
12 – Fiscalização de obra ou serviço técnico;
13 – Produção técnica e especializada;
14 – Condução de serviço técnico;
15 – Condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;
16 – Execução de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;
17 – Operação, manutenção de equipamento ou instalação; e
18 – Execução de desenho técnico.
As características profissionais dos diplomados devem ser indicadas ao Conselho
Federal pelas congregações das escolas e faculdades de engenharia. Em função das
características de sua formação, o engenheiro cartógrafo não habilita a atividade 13,
cuja exclusão não interfere ou prejudica o exercício profissional porque tal atribuição
relaciona-se aos processos industriais de fabricação de máquinas e equipamentos.
Habilita, contudo, todas as demais atividades.
Os estudos, plantas, projetos, laudos e quaisquer outros trabalhos de engenharia,
quer público, quer particular, somente poderão ser submetidos ao julgamento das
autoridades competentes e só terão valor jurídico quando seus autores forem
profissionais habilitados de acordo com esta Lei. Em consequência, são nulos de pleno
direito os contratos referentes a qualquer ramo da engenharia, inclusive a cartográfica,
quando firmados por entidade pública ou particular com pessoa física ou jurídica não
legalmente habilitada a praticar a atividade nos termos desta Lei.
Os direitos de autoria de um plano ou projeto de engenharia, respeitadas as
relações contratuais expressas entre o autor e outros interessados, são do profissional
que os elaborar. Cabem, portanto, ao profissional que os tenha elaborado os prêmios
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ou distinções honoríficas concedidas a projetos, planos, obras ou serviços técnicos. Por
óbvio, as responsabilidades acompanham as honrarias e os méritos.
Os profissionais habilitados na forma estabelecida na Lei só poderão exercer a
profissão após o registro no CREA sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade.
Os profissionais e pessoas jurídicas, registrados de conformidade com o que preceitua
a presente Lei, são obrigados ao pagamento de uma anuidade ao conselho regional a
cuja jurisdição pertencerem. Constituem rendas dos conselhos regionais: anuidades
cobradas de profissionais e pessoas jurídicas; taxas de expedição de carteiras
profissionais e documentos diversos; emolumentos sobre registros, vistos e outros
procedimentos; multas aplicadas a profissionais e pessoas jurídicas. Assim, devemos
entender que, embora o Conselho Regional seja uma autarquia pública federal, sua
receita é totalmente auferida de profissionais e empresas, o que não onera os recursos
tributários da União a cargo do Governo Federal.
As remunerações iniciais dos engenheiros, quaisquer que sejam as fontes
pagadoras, não poderão ser inferiores a seis vezes o salário mínimo da respectiva
região. Esta regra não é observada pelo setor público que segue seus planos de carreira.
Vimos observando uma prática no setor privado em curso no País de se empregar
engenheiros titulados como tal, porém especificados nos contratos de trabalho como
analistas ou especialistas. Claramente, é uma maneira evidente de se contornar a
exigência legal, o que resulta em remuneração inicial inferior ao estipulado pela lei
(4950A/1966).
As penalidades aplicáveis por infração a esta Lei, de acordo com a gravidade da
falta, são as seguintes: advertência reservada, censura pública, multa, suspensão
temporária do exercício profissional ou cancelamento definitivo do registro. As penas
de advertência reservada e de censura pública são aplicáveis aos profissionais que
deixarem de cumprir disposições do Código de Ética, tendo em vista a gravidade da
falta e os casos de reincidência.
Ética é uma disciplina da Filosofia que é responsável pela investigação racional
dos princípios que motivam, orientam e delimitam o comportamento humano.
Influencia especialmente o âmago das normas e valores presentes em toda e
qualquer realidade social. A Ética requer livre arbítrio, pois se não houver
liberdade de escolha não se estará sob a sua égide, como quando uma lei ou uma
ordem determina e exige o cumprimento de uma ação. A ética profissional
resulta de um pacto entre os profissionais que necessariamente deve estar
assentado nos princípios e valores maiores de modo que a prática profissional em
10
nada agrida os valores e costumes da sociedade na qual os profissionais estão
inseridos.
A prática da profissão é fundamentada nos seguintes princípios éticos:
A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de
exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico
do ser humano, de seu ambiente e de seus valores;
A profissão é bem cultural da humanidade construído permanentemente pelos
conhecimentos técnicos e científicos e pela criação artística, manifestando-se pela
prática tecnológica, colocada a serviço da melhoria da qualidade de vida do homem;
A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e
cidadã;
A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente dos
compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os
resultados propostos e a qualidade satisfatória nos serviços e produtos e observando a
segurança nos seus procedimentos;
A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com espírito
progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatários,
beneficiários e colaboradores de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os
profissionais e com lealdade na competição;
A profissão é exercida com base nos preceitos do desenvolvimento sustentável na
intervenção sobre os ambientes natural e construído e da incolumidade das pessoas, de
seus bens e de seus valores;
A profissão é de livre exercício aos qualificados, sendo a segurança de sua prática
de interesse coletivo.
Algumas vezes ética rima com patética de tão absurda resulta uma ação
descabida. Felizmente, a grande maioria dos engenheiros pratica os bons valores, tal
como proferidos no Juramento. Contudo, é preciso estar sempre atentos e vigilantes
para coibir e evitar qualquer conduta aviltante. O exercício da profissão em alto
conceito é de responsabilidade de cada profissional e também das organizações de
engenharia. Ao leitor interessado, particularmente estudantes e profissionais,
recomendamos a leitura do código de ética profissional (CONFEA, 2008), no qual
11
baseamos uma boa parte do conteúdo aqui apresentado referente a esta matéria
filosófica cuja necessidade é compartilhada por quase todas as corporações de ofício.
Os integrantes dos conselhos regionais são profissionais indicados por IES,
associações profissionais e sindicatos. As escolas de engenharia cartográfica, a
Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos (ABEC, www.abecsp.org.br) e os
sindicatos de engenheiros, que estejam devidamente registrados nos CREA de suas
respectivas jurisdições estaduais, podem indicar engenheiros cartógrafos para atuar
como conselheiros por um triênio, renovado por mais um.
A ABEC é uma associação que visa principalmente a integração e a valorização
dos profissionais e a promoção da engenharia cartográfica. Organizam-se por estados e
atualmente estão ativas as regionais em São Paulo (ABEC/SP), Paraná (ABEC/PR) e Rio
Grande do Sul (ABEC/RS).
O perfil da profissão e do profissional
As descobertas científicas, aliadas às inovações tecnológicas, ao longo do tempo,
vêm alterando alguns perfis profissionais e as suas relações no mercado de trabalho.
Percebe-se a criação ou a recriação e até mesmo a extinção de algumas profissões, em
consequência da mudança nos métodos de solucionar os problemas práticos e
cotidianos que proporcionam oportunidades para as profissões.
Há muito os mapas fazem parte da nossa vida como indivíduos e cidadãos. Estão
presentes até com mais intensidade nas organizações que tomam suas decisões,
quando necessário, debruçadas sobre os mapas ou bancos de dados geográficos. Tais
organizações devem ter engenheiros cartógrafos em suas divisões para prover infogeo
e orientar sobre o seu uso. Quando não têm, em geral, contratam serviços de assessoria
ou consultoria de organizações ou profissionais especializados para subsidiar o
processo de tomada de decisão.
No caso da informação geográfica, da cartografia e da engenharia cartográfica, o
avanço do conhecimento científico e tecnológico vem reforçando e também redefinindo
o perfil da profissão e do profissional. Há algumas poucas décadas, a mecânica e a
eletrônica propiciaram o início do aumento da presença cartográfica nas decisões dos
órgãos governamentais e das grandes corporações empresariais com um nível mínimo
de automação de pequenas tarefas. Em seguida, a tecnologia digital, hoje presente em
muitos setores da atividade econômica, multiplicou a produção e a consequente
participação dos produtos cartográficos nos processos de tomada de decisão, mediante
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a possibilidade tecnológica de atualizar e analisar os dados com maior resolução e
rapidez.
Filósofos, sociólogos, cientistas e engenheiros da computação, entre outros,
tendem a convergir, ou pouco divergem, sobre o impacto da tecnologia digital em
nossas vidas pessoais e atividades profissionais. Eles propõem que tal influência
cresceu conforme os microprocessadores evoluíram de 8 a 32 bits, sem falar dos atuais
64 bits. Esta evolução proporcionou maior capacidade das memórias para
armazenamento de dados, ampliou o alcance de endereçamento de memória e
aumentou a velocidade de processamento de dados.
As profissões que usam imagens passaram a receber novos produtos e processos
automatizados a partir do processador de 32 bits, que foi lançado em meados de 1992.
Particularmente a engenharia cartográfica, que usa intensivamente imagens aéreas e de
satélites e demanda algoritmos computacionais complexos para o processamento
digital das imagens e resolução de grandes sistemas de equações, foi positivamente
afetada. Os processos manuais ou semiautomáticos que vigoravam na produção de
documentos cartográficos foram e estão sendo alterados com tendência à automação
plena.
Houve um benefício generalizado para a sociedade e para os indivíduos. Os
custos de produção diminuíram à medida que novos produtos e serviços tecnológicos
foram introduzidos no mercado especializado e geral. Consequentemente, o número
de usuários beneficiados cresceu significativamente e passamos a observar um estágio
mais avançado da automação do processo cartográfico.
Atualmente, a comunicação eletrônica e digital, com fio ou sem fio, possibilita o
acesso a diversos tipos de mapas para várias finalidades úteis às necessidades mais
gerais e, portanto, menos exigentes, em termos do rigor cartográfico. Fazer cartografia
antes da tecnologia eletrônica-digital era caro, penoso, difícil, restrito, um trabalho de
Sísifo a passo de tartaruga, se se comparar com a velocidade felina dos tempos atuais.
Fazer e refazer é uma constante no mapeamento cartográfico e na produção da
informação geográfica. Podemos visualizar Sísifo carregando a pedra morro acima, que
lá chegando torna a rolar montanha abaixo. Podemos também ilustrar uma sucessão de
morros. Sísifo carrega a pedra até o alto do morro (o trabalho de mapear uma região), a
pedra rola morro abaixo, porém na outra vertente, até repousar no vale (mapa pronto e
acabado, a vida continuando e o mapa se desatualizando). Novo esforço de
remapeamento, ou de atualização cartográfica, então Sísifo carrega novamente a pedra
para o alto de outro morro (passou o tempo, novo mapeamento com novas técnicas de
mapeamento) e assim sucessivamente. A mitologia omite se Minerva, a deusa romana
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das artes da guerra e da ciência – a mesma deusa grega Atena –, poderia ajudar Sísifo
criando-lhe condições tecnológicas mais favoráveis para cumprir o seu castigo perene.
Figura 2 – O eterno fazer e refazer cartográfico.
Aprisionado no Tártaro, Sísifo recebeu por castigo dos deuses gregos a infindável
tarefa de rolar morro acima uma pedra que lá chegando deslizava morro abaixo, e
assim eternamente. Minerva é filha de Júpiter, o deus dos deuses, não teve mãe e
permaneceu virgem por toda a vida lendária. Nasceu adulta e completamente
vestida e armada com uma égide e uma lança. Deusa da astúcia e da prudência
ostenta feições femininas e masculinas. Senhora da guerra e das estratégias,
engenhos, planos e métodos de ação para a concretização de seus objetivos, Minerva
não vence os seus inimigos pela força bruta, mas sim pelos ardis que engendra pela
inteligência e sabedoria. Mens (mente) e memini (recordar) são as raízes da
lendária e mitológica representante das artes, das técnicas, das ciências que criam
os engenhos que vencem as adversidades. Eis porque Minerva simboliza as
profissões técnicas e científicas!
A partir das máquinas eletrônicas e mais recentemente dos equipamentos
digitais, ficou mais ágil e menos caro produzir material cartográfico. Desta nova
situação surgiram mais usuários e também mais produtores; passamos a contar com
mais gente empregada ou prestando serviços técnicos profissionais, como cooperados
ou autônomos, e ainda com mais empreendedores, embora o número destes ainda seja
pequeno. Tudo isso junto tornou a cartografia mais popular do que outrora.
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Dispositivos navegadores equipados com bases cartográficas digitais, receptores
GNSS e unidades inerciais nos veículos aéreos e terrestres, os celulares e dispositivos
móveis que acessam as bases de mapas na internet, e os grandes provedores de
imagens aéreas e orbitais e mapas, são exemplos de produtos tecnológicos que
demandam a contratação de pessoal técnico especializado para as fases de produção e
de organização da informação cartográfica e geográfica para os usuários. Se em alguns
setores da economia, a inovação tecnológica provoca desemprego, em outras, como a
cartografia e a engenharia cartográfica, há crescente busca de recursos humanos com
nível médio e superior de formação educacional técnico-científica para prover dados e
informações georreferenciados. O certo é que este mercado requer alto nível de
tecnologia eletrônica, digital e computacional nas três principais fases do processo
esquematizado na figura 1.
Dentre os profissionais que atuam no mercado de trabalho e se ocupam das
demandas postas por estes desafios, o engenheiro cartógrafo é um especialista em
planejamento, organização, especificação, projeto, orientação, direção e fiscalização dos
diversos métodos de levantamento de dados e informações; em processamento, análise
e interpretação de dados, bem como pela visualização e reprodução de informações
geográficas e de documentos cartográficos.
Durante o planejamento, o engenheiro cartógrafo define os recursos humanos e
técnicos e os métodos necessários para o processo de construção dos mapas impressos
e de outros produtos de registros das informações geográficas. No plano
administrativo, ele é chamado a coordenar, chefiar, gerenciar, dirigir, presidir, enfim,
administrar a organização ou fração dela sob sua responsabilidade. No plano técnico, o
engenheiro cartógrafo é o responsável pelas atividades técnicas, científicas e
operacionais prescritas no projeto. Atua direta ou indiretamente em trabalhos de
campo (levantamento de dados geodésicos e topográficos) e em escritório
(processamento, análise e representação de dados e informações). No plano comercial,
o engenheiro cartógrafo provê consultoria especializada e suporte técnico às vendas –
muito comum em empresas de hardware e software especializados para obter, analisar
e visualizar os dados e as informações geográficas.
Trabalha-se em geral em instituições públicas e privadas com significativo
número de pessoal. Até a década dos anos 80 do século passado, as grandes
organizações de mapeamento atuavam com algumas centenas de funcionários.
Atualmente, o contingente de pessoal foi reduzido para cerca de cem a duzentos no
máximo. O setor público (federal, estadual e municipal) ainda é um destacado
empregador. Em geral, o setor privado (empresas contratadas) presta serviços ao setor
público (instituições contratantes). Vimos observando nas últimas décadas uma
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tendência de crescimento do número de pequenas empresas, com poucas dezenas de
funcionários, serem subcontratadas e também contratadas diretamente.
No setor público, o cartógrafo está presente nos departamentos de estradas de
rodagem, nos institutos de terras e assentamentos fundiários, em institutos de
pesquisa, em grandes empresas estatais, na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE, em prefeituras municipais e nas Forças Armadas (Exército,
Marinha e Aeronáutica).
Dentre as importantes áreas e atividades de sua incumbência, os engenheiros
cartógrafos são os responsáveis primeiros pelo Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e
pelo Sistema Cartográfico Nacional (SCN). Eles, ou nós, planejam, projetam, executam
e mantêm esses sistemas que são úteis e necessários a todos os ramos de atividade
científica, tecnológica, social e econômica que demandam a informação
georreferenciada. Esta, por sua vez, é produzida com os métodos, técnicas e materiais
atualizados com o estado da arte cartográfica mundial.
O SGB é o conjunto de pontos geodésicos implantados na porção da superfície
terrestre delimitada pelas fronteiras do país. Estes pontos são determinados e
demarcados por procedimentos operacionais sujeitos a métodos e técnicas de precisão
e são individualizados por um conjunto único de coordenadas geodésicas. Estas
coordenadas são estimadas por modelos matemáticos e estocásticos adequadamente
formulados tal que resultam ajustadas de modo que os erros ou imperfeições inerentes
ao processo são minimizados. Dizia um colega de estudos: “a gente estuda tanto para
acertar nas provas, questões que tratam unicamente de erros. Nunca havia imaginado
isso”!
Este sistema geodésico é composto pelas redes de referência altimétrica,
planimétrica e gravimétrica e seu desenvolvimento pode ser dividido em duas fases
distintas: uma anterior e outra posterior ao advento da tecnologia de observação de
satélites artificiais com fins de posicionamento. No Brasil, essa tecnologia possibilitou a
expansão do SGB a todas as regiões brasileiras, permitindo o estabelecimento do
arcabouço de apoio ao mapeamento sistemático de todas as áreas geográficas,
superando obstáculos físicos naturais e facilitando a logística para as operações
secundárias.
Um sistema cartográfico, por sua vez, é um conjunto de normas técnicas e
especificações que normalizam a organização de um grupo coerente de cartas de um
país ou região. O SCN é constituído por entidades nacionais, públicas e privadas, e
compreende as atividades cartográficas em todo o território nacional.
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A caracterização do mercado de trabalho
Tem sido relativamente comum professores e profissionais atuantes nos campos
da engenharia cartográfica serem indagados por estudantes e outros indivíduos acerca
da identidade profissional, utilidade social e aplicabilidade do acervo técnico e
científico desta área do conhecimento. As respostas objetivas a essas indagações foram
buscadas sistematicamente e resultaram na construção do perfil do engenheiro
cartógrafo e a delineação das características dominantes do mercado de trabalho.
Com o propósito de subsidiar com informações objetivas os estudantes e demais
interessados, iniciamos em 1995 um programa de acompanhamento do mercado de
trabalho da engenharia cartográfica. Foram feitos seis levantamentos trienais
sucessivos tendo por base um questionário de perguntas e respostas abertas e fechadas
cujos resultados foram divulgados periodicamente, tendo recebido a atenção de
estudantes e profissionais. Além destes, as organizações que empregam os engenheiros
cartógrafos também se valem das informações objetivas divulgadas. Os últimos
questionários foram enviados em 2010 e os dados foram compilados em 2011. Os
resultados são apresentados nesta seção, juntamente com os dos levantamentos
anteriores.
As questões relativas à identidade profissional, utilidade social e aplicação da
engenharia cartográfica interessam aos profissionais porque os auxiliam a tomar
decisões acerca do planejamento da sua carreira. No passado recente, quando houve a
nefasta combinação da pouca difusão deste profissional na sociedade com ciclo
econômico deprimido, a situação era perversa: pouquíssimas oportunidades de
trabalho, baixos rendimentos financeiros e diminuto interesse dos estudantes pré-
universitários nesta profissão. Este foi o cenário nos anos 80 e primeira metade da
década de 90 do século passado. As dificuldades de então motivaram o estudo do
mercado de trabalho com o intuito de caracterizá-lo e prover informações objetivas
para estudantes e profissionais.
Assumimos a hipótese de que a tendência será a prevalência dos cursos de
engenharia cartográfica e de agrimensura, de modo que esta nova situação sugere um
novo tipo de abordagem do mercado de trabalho. É preciso atentar à continuidade
deste trabalho porque a valorização profissional deve ser periodicamente
acompanhada e avaliada sob as influências das mudanças dos paradigmas econômico,
tecnológico e científico, os quais influenciam o comportamento da sociedade em geral,
do mundo dos negócios e particularmente do mercado de trabalho.
17
Esta medição pode ser feita pela associação profissional e também pelas IES,
porque o sistema educacional brasileiro passou a exigir o acompanhamento dos
egressos, e isto ainda não tem sido feito com rigor. Vários processos de avaliação
educacional vêm capturando impressões e opiniões acerca dos egressos das IES. A
sociedade em geral, os gestores públicos e privados, e os profissionais e estudantes –
estes, aliás, foram a maior inspiração do ciclo de levantamentos –, todos querem ou
precisam conhecer estes dados e informações para tomar decisões. Ao final do período
de estudo de aproximadamente quinze anos, é possível afirmar que há um
conhecimento objetivo, substancial e confiável, acerca do mercado de trabalho do
engenheiro cartógrafo.
A metodologia foi aplicada ao conjunto dos seis levantamentos distribuídos ao
longo de quinze anos. Os três primeiros, com formato similar, abordaram os
profissionais relacionados com a engenharia cartográfica, mediante cartas enviadas por
correio que continham um formulário para ser respondido e remetido de volta.
Eventos e congressos da área de cartografia igualmente serviram para a distribuição
dos questionários.
Do quarto levantamento em diante, a abordagem tornou-se unicamente pela
internet. No quarto, utilizou-se correio eletrônico cujos e-mails foram disponibilizados
pelos CREA; lista da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos – Regional São
Paulo (ABEC/SP); portal MundoGeo; Engemap Geoinformação e endereços fornecidos
nos questionários anteriores.
O quinto e o sexto levantamentos foram realizados por intermédio de
formulários hospedados em provedores da Unesp e distribuídos aos profissionais
credenciados na lista de discussão da ABEC/SP, da qual participam profissionais de
todo o País. Estes formulários tiveram a composição de perguntas diretas e respostas
alternativas, considerando-se ainda a possibilidade de respostas abertas. Como
resultado, adquiriu-se um banco de dados a respeito do mercado de trabalho para o
engenheiro cartógrafo com informações que abordam, desde um mínimo sobre os
dados pessoais, com preservação da identidade, como também informações sobre a
formação acadêmica; exercício profissional; área de atuação; função desempenhada;
remuneração salarial; disciplinas acadêmicas relacionadas à atividade prática e
perspectivas futuras.
As respostas aos questionamentos feitos foram classificadas, tabuladas e
ilustradas em tabelas e gráficos que seguem. Tal qual nos levantamentos anteriores,
procurou-se manter a mesma estrutura de apresentação dos resultados para haver
coerência entre as comparações e análises. Assim, oferece-se aos interessados a
possibilidade de vislumbrar um panorama da realidade do mercado de trabalho que se
18
vai atualizando juntamente com sua evolução recente, como é mostrado pelas seções
subsequentes.
As amostras
Os dados obtidos das cinco regiões brasileiras representam o conjunto em âmbito
nacional. A tabela 1 mostra os tamanhos das amostras em cada levantamento, cujo total
de profissionais ativos não é conhecido, apesar de algumas tentativas que já fizemos
(Silva; Spinelli, 2000), como também Mendonça e Sluter (2011). As duas últimas
amostras foram as maiores em presença absoluta. Todas as IES foram representadas
em todas as amostras.
Tabela 1 – Tamanho da amostra em cada levantamento.
1995/96 1998/99 2001/02 2004/05 2007/08 2010/11
152 131 109 141 223 212
Para que se tenha uma estimativa do tamanho do conjunto amostrado, segundo
os CREA, os 131 engenheiros da tabela 1 (coluna 2) expressavam 9,8% dos 1.341
engenheiros cartógrafos registrados em 1998. Dez anos mais tarde, em 2008, os 223
(coluna 5, mesma tabela) representaram 9,6% dos 2.329 registrados em todo o País.
Sabe-se que há um contingente de profissionais não registrados no SCC. Isto nos
permite especular que talvez haja um número superior a 2.500 profissionais atuando
no Brasil ou como engenheiros cartógrafos ou como especialistas. É uma quantidade
pequena em relação ao território brasileiro.
Brandenberger e Ghosh, em 1985, publicaram o resultado de um levantamento
feito por solicitação da ONU. Dados compilados de vários países indicaram que havia
um empregado em Cartografia e Cadastro (CC) para cada 88 km2 no ano de 1980 para
um total de 400.000 trabalhadores estimados na área CC e 35,2 milhões de km2.
Aguçada a nossa curiosidade, acrescentamos alguns dados:
Tomando-se a média de 1:88 por referência, o Brasil deveria ter, naquele tempo,
96.726 pessoas envolvidas com trabalhos cartográficos e de cadastro. Arredondemos
para cem mil trabalhadores CC. Demasiado, cremos, porque tínhamos e ainda temos
território a ocupar, mas os critérios de ocupação mudaram radicalmente, de modo que
atualmente a componente ambiental é fortíssima, apesar do muito que há de discussão
a respeito. Basta acompanhar as pautas da mídia nacional.
19
A população mundial em 1980 era de 4,4 bilhões de habitantes. Estimamos
então, por esse critério, que deveria haver no mundo um profissional CC para cada dez
a onze mil habitantes no mundo. A população brasileira em 1980 era de pouco menos
de 120.000.000, e isto indicaria que deveríamos ter de onze a doze mil pessoas
trabalhando em CC no Brasil. Não temos os dados, pelo menos, eles não estão
explicitados, mas mesmo assim entendemos também que o número está um pouco alto
para o que imaginamos acerca do nosso passado.
Resta-nos tentar com parâmetros econômicos: o PIB mundial em 1980 era de
onze trilhões de dólares americanos, o que dava a estimativa de um posto CC para
cada US$ 27,5 milhões de média mundial. O PIB brasileiro da mesma época era de 0,15
US$ trilhões, número que, mantida a proporção, indicaria seis mil postos de CC.
Cuidemos para não inferir que deveríamos ter cem mil, ou dez mil, ou seis mil
engenheiros cartógrafos atuando no Brasil, mas sim trabalhadores de nível médio e
superior de diversas profissões vinculadas a Cartografia e Cadastro, o nome da área
levantada na década de oitenta.
Em princípio, dos três (superfície, população e PIB), o critério econômico parece
ser o que proporciona a estimativa mais próxima da realidade brasileira. O leitor pode
conferir a tabela 13 (capítulo 3). É interessante notar que os dados econômicos têm de
fato influência maior nos humores da engenharia brasileira. Quando a economia está
em alta, dizemos que faltam engenheiros no Brasil; quando em baixa, o assunto some
da mídia e vemos engenheiros desempregados migrando para outras áreas de trabalho
para se protegerem das frequentes e mais ou menos periódicas crises econômicas.
Os números e estimativas recentes ou atuais estão em preparo, segundo
informe do Professor Konecny (REF.), que, dando continuidade à consultoria
requisitada pela ONU, coordena o levantamento entre as suas nações membro, muito
provavelmente com alguma alteração de terminologia, dado que a tecnologia daquela
época não está mais em uso, ou se estiver deve ser o caso de uma pequena minoria de
casos. Aguardemos, portanto, os novos parâmetros que não devem demorar a ser
publicados.
De volta ao tema principal, a tabela 2 apresenta a composição da amostra do
levantamento de 2010/11 (Silva; Berveglieri, 2012), conforme as seis instituições de
ensino superior (IES) de origem, desde a mais antiga – IME –, até a do curso mais
recente – UFRGS –, que graduou os seus primeiros engenheiros cartógrafos em 2002
(Silva; Santos, 2008).
Tabela 2 – IES de origem dos engenheiros cartógrafos da amostra 2010/11.
20
IME UFRGS UFPE UERJ UFPR UNESP TOTAL
7 10 16 18 30 131 212
3,3% 4,7% 7,5% 8,5% 14,2% 61,8% 100%
A amostra mais recente indica 79,2% de presença masculina, dado concordante
com as demais amostras, de modo que se pode assumir que a participação feminina na
profissão é da ordem de 20% apenas. Na tabela 3, nota-se que a idade média do
profissional em atividade está em 33,5 anos e que o tempo médio de pós-formatura
diminuiu para 10,1 anos. A idade em que o estudante se forma também diminuiu (em
torno de 23,4 anos), sendo esta última amostra a mais jovem.
Tabela 3 – Idade e tempo de formatura (em anos).
Ano 1995/96 98/99 01/02 04/05 07/08 2010/11 Média
IMA 36,1 40,4 36,4 34,3 35,2 33,5 36,0
TMF 11,9 14,4 12,9 10,8 11,1 10,1 11,9
IMF 24,2 26,0 23,5 23,5 24,1 23,4 24,1
IMA: idade média da amostra; TMF: tempo médio de formado; IMF: idade média de
formatura.
O gráfico 1 expõe a relação entre graduados e pós-graduados (especialistas,
mestres e doutores) dos seis levantamentos. Percebe-se, na última amostra, uma
proporção quase parelha, embora haja razões para acreditar que há mais graduados do
que pós-graduados nesse mercado, pois a quantidade de egressos dos cursos de
engenharia cartográfica é maior do que a de egressos de pós-graduação.
0%
50%
100%
Graduado Pós-graduado
21
Gráfico 1 – Proporção entre graduados e pós-graduados nos levantamentos.
A utilidade das disciplinas
Em se tratando de um mercado de trabalho que exige técnica e ciência, é de se
esperar que o profissional – engenheiro cartógrafo – use cotidianamente os seus
conhecimentos técnicos e científicos. Devido às competências e habilidades adquiridas
na academia, esses profissionais foram indagados sobre a aplicabilidade das
disciplinas, tratadas durante o curso de graduação. Como aparece na tabela 4, oito
disciplinas alternaram-se entre as mais citadas. Cartografia lidera, seguida de
Topografia, Geodésia, Global Positioning System (GPS), Computação, Fotogrametria,
Sistemas de Informações Geográficas e Interpretação de Imagens. Por si só é uma boa
aproximação do perfil do profissional em termos dos conhecimentos técnico-científicos
usuais para o exercício. Mas há outras disciplinas importantes e necessárias para uma
boa performance profissional, e todas elas foram citadas espontaneamente pelos
profissionais pesquisados.
Quadro 1 – As cinco disciplinas de graduação mais citadas em cada levantamento.
1995/96 1998/99 2001/02 2004/05 2007/08 2010/11
Cartografia Computação Cartografia Cartografi
a
Cartografi
a
Cartografi
a
Geodésia Topografia Topografia Geodésia Topografia Geodésia
Topografia Int. Imagens Computação GPS Geodésia GPS
Fotogrametri
a
Fotogrametri
a
Fotogrametri
a Topografia GPS Topografia
SIG GPS GPS SIG SIG SIG
Considerando as doze disciplinas mais citadas, seguindo o critério de uso para o
desempenho das funções profissionais (tabela 5), Cartografia com 172 e SIG com 43
lideram as menções respectivamente às disciplinas de graduação e de pós-graduação.
Quadro 2 – Disciplinas de graduação e pós-graduação.
Disciplinas de graduação Disciplinas de pós-graduação
22
Cartografia 172 SIG 43
Geodésia 141 PDI 37
Geodésia por Satélite 137 Sensoriamento Remoto 36
Topografia 134 Ajustamento de Observações 31
SIG 114 Computação 30
Sensoriamento Remoto 101 Estatística 30
Fotogrametria 96 Geodésia por Satélite 29
Computação 95 Geodésia 27
Fotointerpretação 88 Fotogrametria 23
Estatística 88 Computação Gráfica 22
Ajustamento de Observações 88 Cartografia 18
PDI 77 Matemática 18
É importante observar que o único intuito dessa tabela é apenas auxiliar a
compreender como acontece a aplicação dos conhecimentos no mercado de trabalho,
não estabelecendo sob qualquer aspecto nenhuma competição entre as disciplinas.
Ressalve-se, ainda, que estão apresentadas somente 12 de um total de 26 apontadas;
todas receberam pelo menos um voto, o que reflete que as disciplinas mais citadas
remetem diretamente a um determinado conjunto de funções, não minimizando a
importância das outras, pois compõem o espectro geral do conhecimento técnico-
científico da profissão.
Ao todo, foram mencionadas as seguintes disciplinas do curso de engenharia
cartográfica e de pós-graduação de maior utilidade para o desempenho das funções
profissionais: Administração, Ajustamento de Observações, Astronomia de Posição,
Cadastro Técnico, Computação, Computação Gráfica, Cartografia, Desenho, Economia,
Estatística, Física Aplicada, Fotogrametria, Fotointerpretação e Interpretação de
Imagens, Geodésia Clássica, Geodésia por Satélites, Geografia, Geologia,
Hidrologia/Hidrografia, Matemática Aplicada, Meio-ambiente, Planejamento,
Processamento Digital de Imagens (PDI), Saneamento Básico, Sensoriamento Remoto,
Sistema de Informações Geográficas e Topografia. Combinando-se as tabelas 4 e 5,
obtemos uma boa aproximação do perfil da formação educacional do profissional.
23
A distribuição geográfica do mercado de trabalho
Na figura 3, a região Sudeste, como em todos os levantamentos, tem apresentado
a maior concentração de engenheiros cartógrafos (59,1%), seguida da região Sul (20,2%)
e Nordeste (13,8%). O Norte e Centro-Oeste correspondem juntos a 6,9%. O total
representado soma 203. A distribuição geográfica dos profissionais tem expressiva
concentração nas regiões Sudeste e Sul, que representam cerca de 79% do total da
amostra, o que segue aproximadamente os parâmetros econômicos e populacionais
dessas regiões.
Figura 3 – Distribuição dos engenheiros cartógrafos por região geográfica.
A figura 3 é de uma imagem (mapa) que foi proposital e exageradamente
deformada pelo método da anamorfose. O resultado é o de uma imagem diferente da
forma real do objeto, mas mantém com ele uma relação tal que é perceptível a sua
identificação pelo contexto e conjunto. O intuito maior foi o de despertar a atenção
para a concentração na região Sudeste. Observamos que a região Norte – a maior em
extensão territorial – é a que ocupa menor área na figura, proporcionalmente à baixa
concentração de engenheiros cartógrafos. A dispersão dos engenheiros cartógrafos no
território brasileiro reflete o que ocorre nas grandes regiões com a população e a
economia brasileiras.
24
Como se vê na tabela 6, as capitais brasileiras comparecem com grande destaque
no mercado de trabalho para o engenheiro cartógrafo, sendo as cidades de São Paulo e
Rio de Janeiro os grandes centros; Recife, por sua vez, expoente no Nordeste; Curitiba e
Porto Alegre, como referências no Sul.
Tabela 4 – As cidades que apresentam maior participação de cartógrafos.
Cidade UF Quantidade %
São Paulo SP 40 19,6
Rio de Janeiro RJ 25 12,2
Recife PE 17 8,3
Curitiba PR 16 7,8
Porto Alegre RS 13 6,4
Presidente Prudente SP 9 4,4
Assis SP 8 3,9
Brasília DF 8 3,9
São José dos Campos SP 6 2,9
Campinas SP 4 2,0
6 cidades Diversas 3 8,8
5 cidades Diversas 2 4,9
30 cidades Diversas 1 14,7
Total 204 100
Entretanto, várias cidades do interior também oferecem oportunidades
profissionais e aumentam as suas participações no exercício da engenharia cartográfica
(figura 4) para além das capitais. Possivelmente, a disponibilidade da tecnologia da
informação tem contribuído para o processo de interiorização, que já foi detectado no
primeiro levantamento em 1996, e confirmado nos seguintes.
25
Figura 4 – Distribuição dos engenheiros cartógrafos nas cidades brasileiras.
A tabela 7 indica os percentuais de engenheiros cartógrafos nas cidades com
maior concentração durante os seis levantamentos. A ordenação obedece aos
resultados da última amostra. Destacam-se o crescimento para a cidade de São Paulo e
o surgimento de Recife como um novo polo regional no contexto cartográfico. As
figuras 2 e 3 e as tabelas 6 e 7 informam com clareza sobre os locais mais prováveis
para o desempenho da profissão.
Tabela 5 – Cidades com maior participação dos cartógrafos.
Cidade 1995/96 1998/99 2001/02 2004/05 2007/08 2010/11
São Paulo (SP) 7,2% 13,6% 12,5% 15,9% 13,2% 19,7%
Rio de Janeiro (RJ) 32,2% 29,7% 17,3% 15,8% 18,3% 12,3%
Recife (PE) - - - - - 8,4%
Curitiba (PR) 14,5% 2,5% 19,5% 11,1% 12,2% 7,4%
Porto Alegre (RS) 3,9% 0,0% 1,9% 4,8% 5,1% 6,4%
Pres. Prudente (SP) 14,5% 11,0% 11,5% 4,7% 5,6% 4,4%
Brasília (DF) 2,0% 3,4% 5,8% 6,3% 5,1% 3,9%
26
As organizações empregadoras e os vínculos empregatícios
A cartografia no Brasil tem expressiva participação no setor público. Nos
primeiros levantamentos, o setor privado compareceu em franca desvantagem. No
entanto, as empresas privadas aumentaram as suas presenças percentuais nas
oportunidades de trabalho na área cartográfica. Desde os anos 1995 e 1998, mudanças
vêm ocorrendo nesse cenário. As organizações públicas, que antes figuravam com
cerca de 77% da empregabilidade, diminuíram a percentuais próximos a 52%. Por
outro lado, as empresas privadas elevaram seus índices de absorção do profissional
cartógrafo para mais de 43%, como apontado pela última pesquisa realizada. Efeitos
consequentes de privatizações, avanços tecnológicos e diminuição relativa dos custos
de aquisição e manutenção da tecnologia, o que torna as oportunidades de empregos
quase similares entre os setores público e privado (Silva; Guilherme, 1998).
Dividindo-se o mercado brasileiro, segundo os tipos de organizações mais
relevantes (gráfico2), o setor público federal ainda detém a maior parcela (33%) como o
que mais emprega ao longo de toda a carreira do profissional. Em seguida, as
organizações do tipo limitada (Ltda.) e sociedades anônimas (S/A) vêm com as
respectivas porcentagens, 25% e 19%, respectivamente. Estes três setores juntos
correspondem a mais de três quartos do mercado de trabalho cartográfico.
Gráfico 2 – Divisão do mercado de trabalho para o engenheiro cartógrafo.
Tão importante quanto ter um emprego é manter-se nele. Por isso, o profissional
que procura por estabilidade passa a aspirar a uma carreira no setor público. O gráfico
3 indica maior vínculo empregatício no setor privado para o início da carreira (menos
de dois anos) e, com o decorrer dos anos, parte dos profissionais tende a se fixar no
setor público (seis anos ou mais).
27
Gráfico 3 – Durabilidade do emprego quanto ao tipo de organização.
Atividades rotineiras e campo de atuação profissional
O engenheiro cartógrafo é um profissional que deve ter como característica a
versatilidade, não sendo muito comum o exercício de uma única atividade no seu local
de trabalho. A maior parte dos profissionais desempenha duas ou mais tarefas
comumente relacionadas às atividades das áreas administrativa e financeira (Adm/Fin)
e técnica e produção (Tec/Prod), que significam, respectivamente, 26,0% e 36,7% do
último levantamento apurado (gráfico 4).
Gráfico 4 – Área de atuação do engenheiro cartógrafo, segundo os levantamentos.
Outras atividades, do mesmo modo, realizadas no cotidiano de uma organização
são aquelas relacionadas com vendas, consultoria, divulgação e marketing (VCDM), e
acadêmica e científica (Acad/Cien), cujos valores equivalem a 20,9% e 16,5%,
respectivamente. Percebe-se que estas duas áreas de atuação, embora de menor
0%
10%
20%
2 a 5 6 a15
16 a25
26 a35
Anos
Púb…
28
expressão, estão presentes em todos os levantamentos com um envolvimento
significativo dos profissionais.
A fim de conhecer as atividades cotidianas e o campo de atuação da organização,
a partir de 2001/02, foram introduzidas questões com esses propósitos nos formulários.
As cinco principais respostas de cada pesquisa estão expostas na tabela 8. Notam-se
alternâncias na ordem das atividades ao longo das pesquisas e o aumento da
necessidade para outras, como os levantamentos geodésico e topográfico, que antes
não encabeçavam a lista e, agora, despontam.
Quadro 3 – Principais atividades cotidianas desenvolvidas pelos cartógrafos.
2001/02 2004/05 2007/08 2010/11
Coordenação Produção
Cartográfica Planejamento
Levantamento
geodésico
Produção
Cartográfica Coordenação Coordenação
Levantamento
topográfico
Planejamento Planejamento Produção
Cartográfica Coordenação
Manuseio de
Cartas Treinamento
Levantamento
Topográfico Planejamento
Administração Consultoria Banco de Dados Produção
Cartográfica
Considerando todos os levantamentos e ponderando as atividades conforme a
ordem quantitativa, observamos que coordenação e planejamento, que são da área
administrativa, lideram as citações. Seguem as atividades de produção cartográfica e
levantamentos topográficos e geodésicos, que pertençam à área técnica e de produção.
Desde a aprovação da Lei 10.267 (Brasil, 2001), a engenharia cartográfica vem
contribuindo com a questão do georreferenciamento de imóveis rurais e isto está
presente no crescimento dos levantamentos geodésicos e topográficos como uma das
atividades rotineiras do profissional.
Para completar a informação, todas as tarefas rotineiras dos profissionais que
foram mencionadas nos seis levantamentos, em ordem alfabética, são as seguintes:
administração, aerotriangulação, análise de imagens, análise geodésica, assessoria,
atualização tecnológica, banco de dados, cálculos de ajustamento, cálculos de redes,
consultoria, coordenação, digitalização, docência, extensão, fiscalização, homologação,
levantamento geodésico, levantamento topográfico, manuseio de cartas, modelo digital
29
terreno, orientação acadêmica, ortofoto, pesquisa tecnológica, planejamento
urbano/rural, planejamento, prestação de serviços, produção cartográfica, restituição
fotogramétrica, treinamento, vendas.
Vimos que os tipos de tarefas técnicas e de produção e as administrativas e
financeiras formam os dois grupos mais citados. Esboçamos uma tentativa de
relacionar as tarefas rotineiras (cotidianas) dos profissionais com as etapas do processo
de mapeamento cartográfico. Vejamos:
Tarefas administrativas
Administração. Tipo de atividade que é caracterizada por dirigir, gerir e
supervisionar instâncias dentro de empresas privadas e órgãos públicos e também por
coordenar equipes formadas de pessoal técnico, inclusive engenheiros, nas fases de
elaboração e execução de projetos de mapeamento cartográfico;
Fiscalização. No setor público, alguns órgãos têm essa missão, que é
caracterizada por inspeções feitas por profissionais credenciados para averiguar se os
procedimentos postos em prática estão condizentes com os termos da legislação, no
âmbito da engenharia cartográfica;
Homologação. Um tipo de autorização por meio de credenciamento outorgada
por autoridade competente com base em análise de documentação técnica
acompanhada geralmente de um laudo ou de um parecer técnico, que é uma opinião
com base em fatos e argumentos.
Tarefas técnicas e de produção
Aerotriangulação. Etapa de um projeto fotogramétrico em que as imagens
(fotografias) são relacionadas matematicamente entre si e aos dados de campo
(levantamento geodésico). Com o tempo tende a desaparecer porque os sistemas de
aquisição de dados (aéreos e terrestres) já estão equipados com sensores de imagem
(câmaras fotogramétricas, sensor varredor laser) que operam em conjunto com os
receptores GNSS e os sensores de atitude (tecnologia inercial). Deste modo cada
imagem já vem com a sua certidão de nascimento, isto é, com data, hora, local e
orientação de tomada, tornando, em tese, desnecessária a triangulação para se conhecer
a sua orientação. O seu fim está declarado há anos, mas como a inserção das novas
tecnologias é custosa cultural e financeiramente para as organizações, isso vem
ocorrendo paulatinamente dando tempo de adaptar orçamento e cultura ao novo
estágio tecnológico.
30
Análise de imagens. Etapa do processo em que as imagens (terrestres, aéreas ou
orbitais) são submetidas a um processamento digital (algoritmos) de modo que
resultam em imagens segmentadas e interpretadas de objetos da SFT; requer software
dedicado, isto é, especializado, e computadores de alto desempenho dado o volume de
operações matemáticas.
Análise geodésica. Etapa de apreciação dos resultados do processamento dos
dados de uma rede geodésica, sobretudo se a precisão estimada insere-se nos padrões e
normas para fins de mapeamento cartográfico. O responsável deve aceitar, e daí o
processo avança para a próxima fase, ou rejeitar os resultados, que nesta hipótese
obriga na prática ao refazimento parcial ou total do levantamento geodésico. As
aproximações (imperfeições) desta etapa propagam-se para a das imagens e destas
para a de representação. Nossa responsabilidade, entre tantas outras, é de manter os
erros (aproximações, imperfeições) inerentes a cada fase dentro dos patamares
aceitáveis para que o produto final assim o seja.
Atualização tecnológica. Genericamente, exige do profissional o
acompanhamento do estado da arte de um método ou processo para ser capaz de
indicar o melhor momento para inserir um novo produto tecnológico no processo de
produção. Requer muito estudo, leitura, participação em eventos tecnológicos e
científicos da área para acompanhar de perto o estágio de desenvolvimento da
tecnologia geomática. Não raro, são profissionais que detêm títulos de especialização e
pós-graduação.
Banco de dados. Genericamente, o profissional especialista em banco de dados
deve apontar os equipamentos (hardware) e soluções (software) adequados para o
processo cartográfico, notadamente, o banco de dados geográficos.
Cálculos de ajustamento. Refere-se às fases do processamento dos dados de
campo (processamento e análise de redes), (aero)(foto)triangulação e análise de
imagens que demandam intensos e rigorosos cálculos matemáticos para estimar os
resultados de suas respectivas fases, os quais resultam em posição de pontos e feições
da e na SFT.
Digitalização. Passar para dígitos dados e informações da forma analógica
(papel, filme etc.) para arquivos digitais, anteriormente por métodos semiautomáticos e
atualmente por métodos automatizados.
Levantamento geodésico. Operação em campo; coordenação de equipe;
planejamento e projeto do levantamento, responsabilidade sobre os resultados.
Levantamento topográfico. Idem anterior com a particularidade que a porção da
SFT em estudo não leva em consideração a curvatura da Terra, porque é de menor
31
extensão, portanto, a porção de terreno objeto desta atividade é tratada como um
plano.
Manuseio de cartas. Depreende-se a cartometria, isto é, medidas efetuadas sobre
uma carta ou mapa, e também a sua leitura, análise e interpretação para a tomada de
decisões.
Modelo digital terreno. Um método de representar o terreno por pontos tal que
cada um é identificado ou acessado por um terno de coordenadas (as XY dão a posição
em um plano, as Z dão as cotas em relação ao plano XY). A maioria dos métodos de
produção está automatizada, dada a elevada quantidade de pontos a determinar.
Especificação do projeto e responsabilidade sobre os resultados.
Ortofoto. É uma fotografia geralmente vertical corrigida dos efeitos do
deslocamento devido à variação do relevo e das inclinações do eixo óptico quando da
tomada da imagem aérea. Sua produção exige um par de fotos sendo que uma delas
será usada com a de referência para a produção da terceira imagem, a ortofoto. Pode
também ser produzida a partir de uma foto e um MDT. MDT e ortofoto geralmente
estão quase sempre juntos em um processo de produção automatizado.
Planejamento urbano/rural. Área das engenharias e de outras profissões que
usam intensivamente dados e informações geográficas e, portanto, mapas, cartas,
plantas, fotos aéreas, ortofotos, imagens de satélite (orbitais), além de relatórios
textuais. Nesta atividade, o engenheiro cartógrafo atua em equipe multidisciplinar.
Planejamento estratégico. Uso de documentos cartográficos para tomar decisões
de alcance sobre uma parte do território, seja municipal, regional ou nacional.
Conforme o anterior, o profissional geralmente atua em equipe multidisciplinar.
Produção cartográfica. Etapa do projeto e elaboração do documento cartográfico
(DC), como mapas e cartas; quando se trata do processo geral, de largo espectro, leva
em consideração todas as fases (campo, imagem, representação), e, quando se toma
apenas em específico, restringe-se ao projeto do documento cartográfico e dá especial
importância à comunicação da representação cartográfica.
Restituição fotogramétrica. Etapa que extrai das fotos trianguladas e orientadas
os elementos planimétricos e de relevo que vão figurar no mapa ou carta. Como se as
fotografias tivessem tomado do objeto uma aparência, um retrato, e agora estão a
devolver, a restituir tais aparências do objeto, a sua imagem, no caso, o mapa. Pode ser
feita “manualmente” com apoio de CAD ou automaticamente com uso de software
específico. Os técnicos são treinados especialmente para restituir e quanto mais
experientes, mais valorados são, porque é uma especialidade que requer excelente
acuidade visual, raciocínio espacial e coordenação motora. Contudo, esta é uma tarefa
32
que tende à plena automação nos próximos anos, posto que já há passos adiantados
nesse sentido. O engenheiro é responsável pelo projeto de simbologia e convenções
cartográficas e pela qualidade (geo)métrica do original de restituição fotogramétrica.
Tarefas VCDM
Treinamento. Engenheiros são também responsáveis pelo ensino e aprendizagem
de técnicos operadores, mediante o treinamento em equipamentos e softwares
específicos para a montagem e execução dos projetos.
Vendas. Profissionais que participam das vendas de máquinas, software e
serviços, mas que não fazem a parte comercial, e sim a demonstração e treinamento
técnico.
Assessoria. Atividade profissional que promove e facilita o intercâmbio entre
produtor e usuário, entre fornecedor de tecnologia e usuário da mesma, e também a
comunicação e o entendimento entre terceiros.
Consultoria. Atividade profissional do engenheiro que estuda um problema sob
contrato e recomenda uma solução; geralmente é um especialista em itens das etapas
do processo.
Consultores e assessores podem participar de um projeto desde o início até o
final ou serem contratados para etapas específicas do processo.
Tarefas acadêmicas e científicas
Docência. Ensino superior e técnico (graduação e pós-graduação com mestrado e
doutorado); atividade que requer constante aprimoramento do saber tecnológico e
científico.
Extensão. Atendimento a demandas da sociedade a partir de uma posição
universitária ou de um órgão público.
Orientação acadêmica. Discussão e aconselhamento a alunos de graduação e de
pós-graduação para fins de obtenção dos graus formais (engenheiro, especialista,
mestre, doutor), mediante a apresentação e defesa de suas monografias (trabalho de
graduação, monografia de especialização, dissertação de mestrado ou tese de
doutorado).
Pesquisa científica. Atividade de busca de novas conhecimentos com base no
método científico (observação, hipótese, experimentação, análise).
33
Pesquisa e inovação tecnológica. Atividade de busca de novas soluções tais que
assentadas no conhecimento científico e na tecnologia produzam inovações. Por
inovação tecnológica, no contexto deste livro, consideramos a participação do
profissional em projetos de conteúdo científico e tecnológico que acarretem o
desenvolvimento de produtos, serviços e soluções tecnológicas, seja como investidor,
consultor, projetista, desenvolvedor ou montador (Silva, 2006).
E todas essas tarefas são rotineiramente praticadas nos seguintes 33 campos de
atuação das organizações que produzem ou utilizam documentos cartográficos e
informações geográficas, conforme informado pelos engenheiros cartógrafos
pesquisados:
Aero/Espacial. Empresas que produzem e comercializam dados do tipo imagens
(fotos aéreas e terrestres, imagens orbitais);
Agricultura, Agronomia, Assuntos Fundiários, Reflorestamento. Agronegócios:
identificação de culturas, bacias hidrográficas, zoneamento rural e florestal, barreiras
sanitárias e desenvolvimento rural. Reforma agrária: Elaboração do cadastro técnico
rural, identificação de áreas não aproveitadas para manejo agrícola, avaliação e
identificação de áreas propícias para reforma agrária e tributação e avaliação de
imóveis rurais;
Águas, Saneamento e Meio-ambiente. Saneamento: Estudos, identificação e
representação das formas de esgotamento sanitário, objetivando sua detecção,
avaliação de impactos ao meio ambiente e a melhoria e adequações para preservar
principalmente a saúde das aglomerações humanas. Monitoramento e abastecimento
de água: identificação e representação das bacias hidrográficas, estudos para seu
gerenciamento, bem como do potencial hídrico, da potabilidade das águas, de projetos
com riscos de poluição; subsídio a ações reguladoras e de provimento de água. Meio
ambiente: controle e fiscalização de parques, reservas, recursos naturais e áreas
degradadas; identificação de fontes poluidoras; zoneamento ecológico econômico;
planos de gestão ambiental; controle e fiscalização de áreas com reflorestamento;
acompanhamento de desmatamentos e queimadas;
Computação, Informática. Projeto, desenvolvimento de soluções info-
computacionais para as áreas das ciências geomáticas; banco de dados, sobretudo,
geográficos.
Construção Civil, Arqueologia, Arquitetura, Urbanismo. Levantamento
topográfico e mapeamento cartográfico.
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Transportes. Elaboração de projetos, fiscalização e manutenção de rodovias,
ferrovias, pistas de aeroportos, portos e obras;
Recursos Naturais, Energia Elétrica, Mineração, Petróleo, Gás. Petróleo e gás:
exploração de bacias petrolíferas, oleodutos e análise de projetos. Energia elétrica:
identificação de pontos estratégicos para geração de energia elétrica, projetos de usinas
hidrelétricas, controle das linhas de transmissão e das redes de distribuição; controle,
fiscalização e projetos de subestação e linhas de transmissão. Mineração: estudo,
controle, fiscalização, licenciamento de áreas para exploração de minerais, de garimpos
e monitoramento de resíduos;
Geofísica. Quase uma cartografia especial por causa da simbologia própria e
geralmente abrange grandes extensões territoriais;
Geologia. Mapa geológico tem por base um mapa topográfico e usa simbologia e
convenções cartográficas próprias.
Geografia. Usa documentos cartográficos como atlas e mapas, de escalas
menores, com função educativa; e de escalas maiores com função analítica e educativa;
Meteorologia. Mapas em escala pequena, grandes territórios, que dão suporte à
análise dos fenômenos meteorológicos;
Gestão Territorial, Limites Territoriais, Mapeamento Fundamental. Elaboração de
mapas e cartas territoriais de unidades político-administrativas (municípios, distritos,
cidades, bairros, por exemplo) e dos seus respectivos setores censitários. Visam
representar o ordenamento geográfico municipal e viabilizar o planejamento da
logística e o controle das operações censitárias, como também a espacialização
(cartografia) de informações estatísticas (demográficas, econômicas, ambientais e
outras de cunho social);
Planejamento, Tributação, Educação, Pesquisa Tecnológica, Saúde Pública,
Segurança Pública. Segurança institucional, pública, náutica, aeronáutica, defesa
militar, inteligência. Administração pública. Planejamento e desenvolvimento
territorial, ambiental, social e econômico de regiões, estados e municípios; elaboração
de bases cartográficas plano-altimétricas estruturadas, mapas regionais, estaduais e
municipais. Áreas indígenas. Identificação, demarcação e controle das áreas indígenas.
Monitoramento do uso e exploração de terras indígenas.
Telecomunicações. Identificação de locais estratégicos para instalar antenas
captadoras ou repetidoras; estudos para cumprimento de metas reguladoras da
concessão; novas áreas para atendimento a novos clientes e áreas geográficas diversas;
35
O quadro 4 resume os campos de atuação mais citados nos levantamentos junto
aos engenheiros cartógrafos. Mapeamentos fundamental e temático comparecem como
os principais campos de trabalho. Meio ambiente também merece destaque por ter
presença constante em todos os levantamentos efetuados, certamente por razões de
preservação da natureza disseminadas pelo mundo, o que leva as agências de
fiscalização a utilizar recursos cartográficos para monitoramento ambiental.
Ponderando conforme a ordem em que aparecem, mapeamento fundamental e
temático dividem a liderança, seguidos de meio-ambiente e planejamento.
Quadro 4 – Campo de atuação das organizações.
2001/02 2004/05 2007/08 2010/11
Mapeamento
Fundamental
Mapeamento
Temático
Mapeamento
Temático
Mapeamento
Fundamental
Meio Ambiente Planejamento Meio Ambiente Mapeamento
Temático
Planejamento Meio Ambiente Mapeamento
Fundamental Planejamento
Computação e
Informática
Mapeamento
Fundamental Planejamento Meio Ambiente
Pesquisa
Tecnológica Limites Territoriais Gestão Territorial Gestão Territorial
Os rendimentos
Em relação aos rendimentos financeiros iniciais, os números são dados pela
tabela 10 e se referem aos ganhos mensais dos engenheiros cartógrafos para os dois
primeiros anos de trabalho, considerando tanto a empresa pública quanto a privada.
Inclui recém-formados e pós-graduados (especialistas, mestres e doutores), estes com
mais de dois anos de formatura, porém com menos de dois anos na organização. O
valor de R$ 4.875,00 foi calculado com base nos pontos médios dos intervalos dos
rendimentos e respectivas frequências. Este valor atípico pode ser explicado pela
demanda por profissionais e vagas no serviço público (universidades e outros). Isto
representa a valorização do profissional seja em remuneração seja pela rápida inserção
no mercado, possivelmente um reflexo da demanda crescente por dados geoespaciais
resultante do crescimento da economia brasileira na última década.
36
Tabela 6 – Rendimentos iniciais médios apurados em cada levantamento.
Época 1995/95 98/99 01/02 04/05 07/08 2010/11
Salário Médio (R$) 1.240 1.440 1.950 2.050 1.750 4.875
Quanto à diferença de ganho entre os setores público e privado nos anos iniciais,
constata-se que o emprego público tem média de R$5.265,63, enquanto o privado,
R$4.527,78. Os concursos públicos para os profissionais dessa área específica têm
possibilitado aos iniciantes na carreira uma ascensão mais rápida a salários maiores.
No caso geral de rendimentos, considerando-se qualquer tempo de vínculo
empregatício, a pesquisa aponta salário médio de R$ 7.082,42 nas organizações
públicas e R$ 5.415,66 nas particulares.
Outra informação importante é acerca da diminuição da renda média, quando
comparada ao salário mínimo. Em aproximadamente quinze anos, como se vê na
tabela 11, o rendimento caiu sequencialmente de 19,6 para 11,4 salários mínimos. Mas
há que se levar em conta o aumento do poder aquisitivo desse mínimo, pois, durante
tal período, o valor mínimo de R$ 100,00 foi quintuplicado, ao passo que a média da
renda do engenheiro cartógrafo apenas triplicou. Houve ganho em relação ao dólar
americano, haja vista que em 1995/96 o provento médio mensal era de U$ 2,177.78 e, no
último levantamento, foi de U$ 3,523.86.
Tabela 7 – Rendimentos médios em reais (R$), salários mínimos (SM) e dólares (U$).
Época Média (R$) Valor SM (R$) SM Média (U$) Câmbio (U$)
1995/96 1.960,00 100,00 19,6 2.177,78 0,90
1998/99 2.480,00 130,00 19,1 2.175,44 1,14
2001/02 3.600,00 180,00 19,8 1.621,62 2,22
2004/05 3.840,00 260,00 14,8 1.306,12 2,94
2007/08 4.900,00 350,00 14,0 2.227,27 2,20
2010/11 6.202,00 545,00 11,4 3.523,86 1,76
(Câmbio médio e aproximado: dados do Banco Central do Brasil)
O aperfeiçoamento profissional e as expectativas
37
Os profissionais ainda foram indagados sobre qual maneira as instituições de
ensino poderiam contribuir para o aperfeiçoamento da profissão. Sempre apregoado,
desde os bancos escolares, e corroborado pela realidade do mercado de trabalho, o
aperfeiçoamento profissional é buscado, ou pelo menos intencionado, por um número
expressivo de engenheiros cartógrafos. As respostas dos 212 engenheiros cartógrafos
estão expostas na tabela 12.
Tabela 8 – Formas acadêmicas para o aperfeiçoamento profissional.
Sugestões Citações
Cursos on-line EaD 100
Palestras e conferências 90
Cursos de extensão universitária 90
Cursos de especialização 88
Cursos de mestrado em tempo parcial 79
Cursos de aperfeiçoamento 77
Cursos de mestrado integral 23
O profissional vê principalmente como alternativa para o aprimoramento pessoal
os cursos de educação a distância (EaD), que são acessíveis na internet. Palestras e
conferências e os cursos de extensão universitária igualmente são indicados para esse
intuito. Evidentemente os itens mais citados são aqueles cujos prazos não são de longa
duração, visto que competem com os horários de trabalho. Logo, nota-se que o
engenheiro cartógrafo tem interesse na continuidade da aprendizagem, porém não está
disposto ou não tem condições de se dedicar a estudos mais prolongados.
Finalmente, quando questionados sobre a expectativa das condições de trabalho
para os próximos cinco anos, 76,9% da amostra revelam-se bastante otimistas; 20,1%
pensam em estar nas mesmas circunstâncias atuais e apenas 3,0% expressam
pessimismo. Em se tratando da expectativa de renda para os próximos cinco anos,
81,1% acreditam em um ganho maior do que o atual; 16,5%, em situação semelhante e
2,4%, com renda menor. Em todos os levantamentos, o otimismo em relação ao futuro
profissional prevaleceu, seja em termos de rendimentos, quanto em condições de
trabalho.
A pós-graduação e a extensão de atribuição profissional
38
Vimos que muitos engenheiros cartógrafos − e de outras modalidades também −,
pretendem continuar os estudos e muitos já o fizeram. No meio acadêmico, as
titulações de mestre e doutor são estimuladas e valoradas ao longo da carreira, porque
são a base para a pesquisa científica e tecnológica. Entretanto, na seara dos negócios,
comércio, indústria e prestação de serviços cartográficos os títulos de plena formação
de pós-graduação – mestrado e doutorado – são vistos segundo a cultura empresarial e
dos negócios que é naturalmente distinta da academia.
Os cursos de especialização de sentido geral – lato sensu – e particularmente os
MBA (master business administration) têm tido boa aceitação e contribuem positivamente
tanto para o sucesso do profissional quanto para a eficiência da empresa comercial. O
doutorado, por sua vez, fora da academia, tem espaço crescente nas empresas de base
tecnológica, que são empresas consolidadas ou em processo de inserção comercial
cujos produtos dependem de insumos tecnológicos e principalmente de recursos
humanos com boa formação científica.
O Sistema CONFEA-CREA vem tentando responder à crescente demanda do
setor profissional tecnológico quanto à extensão das atribuições profissionais
decorrentes da titulação de pós-graduação. Os engenheiros que lograrem êxito nos
programas de pós-graduação, isto é, obtiverem titulação de especialistas (lato sensu) ou
de mestres e doutores (stricto sensu), poderão requerer ao CREA de sua jurisdição a
extensão das atribuições profissionais inicialmente concedidas mediante o registro do
diploma de graduação. A resolução própria disporá sobre a regulamentação da
atribuição de títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito
de atuação dos profissionais, para efeito de fiscalização do exercício profissional. Esta
tentativa de resolução vem colhendo dos profissionais distintas e até antagônicas
interpretações, tal que tem sido aceita pela maioria por causa de seu princípio, porém
com dificuldades quanto à operacionalização para aplicá-la.
O princípio ao qual aludimos refere-se a que no mundo atual qualquer
profissional acumula conhecimentos ao longo de sua carreira. Ao concluir cursos de
pós-graduação é justo que o profissional reivindique ao CREA a extensão de
atribuições profissionais com base nos títulos obtidos, posto que aceitamos e
compreendemos que os títulos significam mais e novos conhecimentos. Assim, um
engenheiro de minas que venha a obter um título de pós-graduação em área das
ciências cartográficas teria o direito de pleitear a extensão de atribuição profissional
para esta área, além das atribuições iniciais que são mantidas. Analogamente, um
engenheiro cartógrafo que venha a se titular em uma das áreas da engenharia civil, da
mesma forma, poderá requerer ao CREA a extensão de suas atribuições profissionais,
39
com base no título e nos conteúdos estudados em nível de pós-graduação. Estas
extensões seriam atribuídas após análise detalhada da documentação submetida e
dependeria do conteúdo adquirido após a graduação.
O maior objetivo da alteração da legislação, mediante a edição de resolução
própria, visaria atenuar o chamado problema do sombreamento. É um termo que alude
às consequências da Resolução 218, de 1973. Esta resolução defina explicitamente as
atribuições dos engenheiros, de tal modo que cada modalidade tem previamente
estabelecido o rol de atividades legalmente permitidas. Na prática, a atuação dos
engenheiros, conforme a sua modalidade, pode trespassar a fronteira da legalidade,
estipulada na 218. Isto gera frequentes queixas, reclames e interpelações dos colegas
das áreas “invadidas”, que se manifestam individualmente ou por meio de suas
respectivas associações profissionais.
O CONFEA visando então mitigar este problema vem tentando estabelecer
normas para a atribuição de títulos profissionais, atividades e competências no âmbito
da atuação profissional, para efeito de fiscalização do exercício profissional. As
profissões inseridas no Sistema CONFEA-CREA são as de engenheiro (todas as
modalidades), de engenheiro agrônomo, de geólogo, de geógrafo, de meteorologista,
de tecnólogo e de técnico. Consideram-se os seguintes níveis de formação profissional:
técnico, graduação superior tecnológica, graduação superior plena, pós-graduação no
senso lato (especialização) e pós-graduação no senso estrito (mestrado ou doutorado).
A atribuição inicial de títulos profissionais, atividades e competências para os
diplomados nos respectivos níveis de formação, nos campos de atuação profissional,
será efetuada mediante registro e expedição de carteira de identidade profissional no
CREA, e a respectiva anotação no Sistema de Informações CONFEA/CREA. A
atribuição inicial de título e correspondentes atividades e competências profissionais
decorrerão, rigorosamente, da análise do perfil profissional do diplomado, de seu
currículo integralizado e do projeto pedagógico do curso regular, em consonância com
as respectivas diretrizes curriculares nacionais.
A extensão da atribuição inicial fica restrita ao âmbito da mesma categoria
profissional. As categorias são: engenharia, agronomia, geologia, geografia e
meteorologia. Devemos entender que todo engenheiro que venha a ter qualquer título
de pós-graduação em outra categoria não terá a extensão das atribuições profissionais e
vice-versa. A extensão da atribuição inicial de título profissional, atividades e
competências na categoria profissional Engenharia, em qualquer dos respectivos níveis
de formação profissional, será concedida pelo CREA em que o profissional requereu a
extensão. A extensão da atribuição inicial decorrerá da análise dos perfis da formação
40
profissional adicional obtida formalmente, mediante cursos comprovadamente
regulares, cursados após o curso de graduação.
Os profissionais já diplomados e registrados no sistema que tenham obtido um
ou mais títulos em nível de pós-graduação devem procurar o CREA para obter a
correta orientação sobre os procedimentos que devem seguir a fim de requerer a
extensão das atribuições iniciais. Àqueles que ainda não se registraram, ao fazê-lo será
concedida a atribuição inicial de título profissional, atividades e competências, em
conformidade com os critérios em vigor.
Temos vivido aqui um problema. A operacionalização do princípio de estender a
atribuição mediante diplomas e certificados de pós-graduação está sob intenso crivo
dos profissionais das áreas tecnológicas, de modo que o CONFEA promove idas e
vindas nesta matéria. Cremos, portanto, que o melhor a fazer é sugerir aos interessados
o contato direto com o CREA para obter a informação e orientação atualizadas.
Síntese
A profissão e consequentemente o profissional convivem com um alto nível de
dependência institucional e, portanto, baixo nível de individualização, isto é, de
independência individual. Raramente, observamos engenheiros cartógrafos atuando
isoladamente, embora isto seja possível, como autônomos ou consultores
independentes. Esta é uma condição que se distancia da característica do engenheiro
como um profissional liberal (autônomo, patrão e empregado de si mesmo), que
trabalha diretamente para as necessidades do cliente. Os engenheiros cartógrafos são
menos liberais, com menor autonomia e dentre eles pouquíssimos são empresários.
Há um predomínio de atuação nas capitais das unidades federativas brasileiras.
Contudo, a tendência de interiorização vem crescendo. O trabalho e a prática
profissional se desenvolvem em dois ambientes: o interno (escritórios e laboratórios) e
o externo (excursões ou trabalhos de campo para coleta ou levantamento de dados).
Em ambos, as competências e o conhecimento são exigidos para resolver problemas
técnicos e gerenciais. Isto porque é preciso saber liderar pessoas e equipes que usam
intensivamente vários recursos tecnológicos para gerar um mapa ou uma infogeo, que
em si é um tipo de produto tecnológico.
Após quinze anos, seis amostras, todas com cerca de 10% de profissionais
atuantes no mercado de trabalho, é possível dizer que há um conhecimento objetivo,
substancial e confiável, acerca das condições do mercado de trabalho do engenheiro
41
cartógrafo. Mais e melhor conhecimento seriam apreciados se as IES conseguissem em
definitivo levantar as informações de seus egressos. Isto é possível com um pequeno
esforço conjunto coordenado e articulado das IES, com apoio das regionais da ABEC,
que podem conclamar os seus afiliados a cooperarem com as IES que os graduaram.
Temos certeza de que o resultado será benéfico para a sociedade em geral, para as
associações e sociedades científicas e profissionais.
Este tipo de levantamento e consequente conhecimento não têm apenas o caráter
de um exercício numérico e estatístico. Seus dados resultam em informações essenciais
para a tomada de decisões por parte dos gestores públicos e privados, como também
para profissionais e estudantes apreciarem o estágio da valorização da profissão que
abraçaram ou abraçarão.
Em um futuro não muito distante, haverá no mercado de trabalho da área
cartográfica e de agrimensura os engenheiros cartógrafos, os agrimensores e os
cartógrafos-agrimensores. Pode ser que algumas IES optem por manter os cursos de
engenharia cartográfica e de engenharia de agrimensura como estão atualmente.
Contudo, parece forte a tendência de uni-los em um único curso de engenharia
cartográfica e de agrimensura. Daí, três perfis próximos podem coexistir ou apenas um
único perfil compreensivo e integrador das artes, técnicas e ciências que fundamentam
esta profissão que é tão antiga quanto nova.
Antiga porque nasceu com a Humanidade e nova porque se revigora ao
incorporar à sua estrutura teórica os novos conhecimentos científicos revelados a cada
novo paradigma tecnológico. Sempre atenta para reforçar a sua identidade, às vezes
encoberta por outras profissões de contingentes maiores de praticantes e usuários. De
tempos em tempos é desafiada a interpretar e assumir uma neoterminologia para
assuntos já consagrados por uma rica história, porém construída por uma categoria
pouco numerosa de profissionais que conhece as ciências dos levantamentos
geodésicos e topográficos, dos processamentos de imagens e das representações
cartográficas.
Vimos também que a engenharia cartográfica é uma modalidade de engenharia,
cuja matéria prima é a informação geográfica sobre a ocorrência de fatos e fenômenos
ou de coisas e objetos que existem na SFT e arredores; que a infogeo é construída e
atualizada com os ganhos do avanço científico e tecnológico; que este produziu meios
computacionais e tecnologia digital, com os quais os dados geográficos são
apresentados com maiores rapidez e versatilidade, e custos menores. O que antes era
feito só em papel, em processos intensos e caros de impressão gráfica, atualmente, é
produzido em múltiplos meios, reais e virtuais, bi e tridimensionais, relativamente
menos dispendiosos e mais reaproveitáveis.
42
O engenheiro, qualquer que seja sua especialidade, participa do processo de
gestão de ativos, que responde pela eficiência de organizações e de sistemas
econômicos. Assim vemos a engenharia cartográfica inserida na economia, com papel
importante, sobretudo, nas organizações cujos ativos estão distribuídos no território,
como os de infra e superestrutura, energia, transporte, agronegócios, mineração,
segurança e outros.
6 de maio: dia do Cartógrafo
Ao se levar em conta a importância desta matéria e a responsabilidade do
cartógrafo para com o País e a sociedade em geral, a Sociedade Brasileira de
Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto instituiu o dia 6 de
maio como o Dia do Cartógrafo. Por que Dia do Cartógrafo e não do Engenheiro
Cartógrafo? Porque a SBC associa não só os engenheiros cartógrafos, mas também
outros profissionais que lidam com as diversas cartografias, isto é, com as várias
instâncias e dimensões do trabalho cartográfico, particularmente as suas aplicações nas
áreas que demandam infogeo.
Mas há uma curiosidade muito interessante na escolha do dia 6 de maio (SBC,
1973). Ao procurar o dia do cartógrafo no Dicionário Cartográfico (Oliveira, 1993), o
leitor encontrará: "o dia 27 de abril. Ver Mestre João Emenelaus e o Apêndice 2". Mestre
João Emenelaus: "Físico e cirurgião da frota de Pedro Álvares Cabral, encarregado
também de determinar latitudes. Foi, portanto, quem primeiro realizou uma
observação dessa natureza no Brasil, quando, no dia 27 de abril de 1500, determinou a
latitude (aproximada) do Ilhéu da Coroa Vermelha. O dia 27 de abril é, pois, com
justiça, o dia do cartógrafo.
Entretanto, o dia 6 de maio foi escolhido “Dia do Cartógrafo” por ter ocorrido
nesta data, em 1500, a primeira determinação de latitude feita no Brasil, a primeira
determinação de latitude feita no Brasil, pelo Mestre João Emenelaus (ou João Farras,
conforme Miceli, 2012), navegador oficial da frota de Pedro Alvarez Cabral, que se
refere a essa medição em um carta ao Rei D. Manuel de Portugal. Essa determinação de
latitude foi feita na Baia de Cabrália, em Porto Seguro – BA, onde a frota de Cabral
estava aportada desde o dia 24 daquele mês. Na realidade esse acontecimento se deu
no dia 27 de abril de 1500. A data foi adiantada para 6 de maio, pelo fato de que na
época vigorava o calendário Juliano, adotado no ano 46 a.C. em que um ano durava
365,25 dias, quando na verdade o período em que a Terra completa uma volta em torno
do sol (em números melhor aproximados) é de 365,242199 dias. Por isso, em fins do
43
século XVI havia 10 dias a mais. Para corrigir este “erro”, foi implantado pelo papa
Gregório, em 1582, o calendário Gregoriano que constituiu na retirada dos 10 dias
excedentes em 1584 e assim, este ano teve apenas 355 dias. Também se mexeu no ano
bissexto, que passou a ocorrer a cada 4 anos, com exceção dos centenais, terminados
em 00, e que não fossem múltiplos de 400. Assim, 1700, 1800, 1900 não são bissextos, ao
contrario de 1600 e 2000 (UNESP, 1999).
Se prevalecesse esta linha de raciocínio, o dia do descobrimento do Brasil, por
exemplo, hoje celebrado em 22 de abril, deveria sê-lo no dia 1º de maio de cada ano.
Interpretamos que esta mudança de 27 de abril para 6 de maio foi uma maneira de
homenagear a extinta Cosmografia e os antigos cosmógrafos, termos primitivos que
encerravam os estudiosos e os práticos em astronomia e cartografia, antes da invenção
desta palavra, em 1839.
No Dia do Cartógrafo, em 6 de maio, a SBC tem o costume de conceder insígnias
e medalhas da Ordem do Mérito Cartográfico, àqueles que no seu entender sejam
cartógrafos que tenham prestado notáveis serviços à Cartografia, ao País, ou se hajam
distinguido no exercício de sua profissão; aos cidadãos civis e militares estrangeiros,
que se tenham tornado credores de homenagem da nação brasileira e, particularmente,
de sua cartografia; e a cidadãos nacionais ou estrangeiros que hajam prestados
relevantes serviços à cartografia brasileira em geral, ou à SBC em particular. E podem
também ser agraciadas com as insígnias da Ordem as entidades ou as suas bandeiras,
nacionais ou estrangeiras, pela prática de ações que as credenciam ao reconhecimento
da cartografia brasileira.
11 de dezembro: dia do Engenheiro
A data foi escolhida para anualmente homenagear os engenheiros em
reconhecimento ao marco legal – Decreto Federal 23.569, de 11 de dezembro de 1933 –
que iniciava a regulamentação do exercício profissional do engenheiro, do arquiteto e
do agrimensor no Brasil. Entretanto, os engenheiros agrimensores comemoram o seu
dia festivo em 4 de junho.
Referências (abreviadas) para o capítulo 3
TELLES, M. FINEP... dados sobre engenheiros
44
BAZZO, W.A.; PEREIRA, L.T.V. Introdução à engenharia.
BRASIL. Lei 10267, de 28 de agosto de 2001.
CASTILHO, J.R.F. Coletânea de legislação de interesse cartográfico.
CASTILHO, J.R.F. O direito na cartografia.
COHEN, S. Consulting Engineering Practice Manual.
CONFEA. Normativos. <www.confea.org.br>.
CONFEA. O código de ética começa por você profissional.
FAPESP. A trajetória dos engenheiros.
FAPESP. Formação de engenheiros no Brasil.
MENDONÇA, A.L.A.; SLUTER, C.R. Análise da relação entre ensino e pesquisa...
SILVA, J.F.C. Caracterização do mercado de trabalho do engenheiro cartógrafo.
SILVA, J.F.C. Os egressos da Unesp no mercado de trabalho...
SILVA, J.F.C.; GUILHERME, A.D. Percepção do mercado de trabalho da Cartografia...
SILVA, J.F.C.; SANTOS, I.R.O. O mercado de trabalho do engenheiro cartógrafo....
SILVA, J.F.C.; SANTOS, I.R.O. O panorama da profissão...
SILVA, J.F.C.; SPINELLI NETO, A. O mercado de trabalho da Engenharia...
SILVA, J.F.C.; SPINELLI NETO, A. Situação do engenheiro cartógrafo...
SILVA, JFC. Inovação tecnológica e o mercado de trabalho do engenheiro cartógrafo.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARTOGRAFIA. Dia do Cartógrafo.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARTOGRAFIA. Nossa capa. Rev Bras Carto.
UNESP. Jornal da Unesp, n°142. 1999.