Post on 09-Nov-2018
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
1
MOVIMENTO DE LEIGOS: FORMAS DIFUSAS DE
CATOLICIZAÇÃO NA DIOCESE DE GUARAPUAVA
QUEIRÓS, Janete (UEPG)
CAMPOS, Névio de (UEPG)
Este artigo tem como objetivo principal analisar a presença dos leigos no
trabalho pastoral-educativo da Diocese de Guarapuava, no período compreendido entre
1965 a 1987. Nessa conjuntura, a Diocese de Guarapuava esteve sob os cuidados de D.
Frederico Helmel, o qual foi eleito por Paulo VI como primeiro bispo dessa diocese.
Nesse período, D. Helmel organizou a diocese articulando o laicato, a fim de promover
uma vivência católica nas unidades territoriais da diocese. Os leigos atuaram em
modalidades diferentes, na catequese, na valorização da família, nas pastorais,
desempenhando um trabalho educativo em áreas distintas e para públicos específicos.
D. Frederico Helmel (1911-1993) nasceu em Lumz am See, Áustria, foi bispo,
professor de ciências naturais, ministrando disciplinas como Química e Matemática, e
Teologia, no Seminário Maior da Congregação do Verbo Divino, em São Paulo. Em
1965, foi chamado ao Vaticano para assumir o cargo de diretor do Seminário Maior da
Congregação. No Início do ano de 1966, foi publicada sua nomeação para 1º bispo da
Diocese de Guarapuava.
À luz do conceito de campo postulado por Pierre Bourdieu, defendemos que o
trabalho educativo, realizado pelos grupos de leigos da Diocese de Guarapuava,
organizado pelo bispo, dialoga com a ideia da organização do campo religioso católico.
No campo religioso católico, houve a circulação de documentos norteadores da Igreja a
respeito do papel do leigo na organização e na tarefa de evangelização dos fiéis
católicos.
Em relação à estrutura do campo, Bourdieu (2008, p. 50, grifo do autor),
campo pode ser definido como:
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
2
Essa estrutura não é imutável e a topologia que descreve um estado de posições sociais permite fundar uma análise dinâmica da conservação e da transformação da estrutura da distribuição das propriedades ativas e, assim, do espaço social. É isso que acredito expressar quando descrevo o espaço social global como um campo, isto é, ao mesmo tempo, como um campo de forças, cuja necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos, e como um campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura.
Conforme a citação acima, o mundo social é compreendido por Bourdieu como
um espaço social global, no qual os indivíduos participam de vários campos, disputando
o controle dos capitais pertinentes a cada um deles, bem como se contrapondo a outros
espaços sociais. O mundo social é composto por inúmeros campos, sendo que em cada
um existe a disputa pelo poder, pois todos estão recortados pelo próprio poder.
O mundo social é composto por inúmeros campos, sendo que em cada um
existe a disputa pelo poder conforme o objeto em questão. No caso específico da
instituição católica, a disputa se dá no campo religioso e a conquista pelo poder procura
legitimar o agente que tem mais reconhecimento. O campo religioso refere-se como
sendo o espaço da mensagem de Deus, pois “[...] todo campo religioso é o lugar de uma
luta pela definição, isto é, a delimitação das competências [...] a cura dos corpos e das
almas [...]” (BOURDIEU, 1990, p. 120). Conforme a definição de “campo”, no caso do
campo religioso também existe a luta pela legitimidade da visão religiosa, isto ocorre
devido à concorrência dos agentes no “campo”.
O reconhecimento da visão de mundo católica é a expressão do habitus
religioso incorporado pelos indivíduos, isto é, na terminologia de Bourdieu (1989, p.
61) “[...] o habitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e também um
haver, um capital [...]; a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural”.
D. Frederico apostou no trabalho dos leigos, a fim de expandir os ensinamentos
da educação católica aos fiéis da recém criada diocese. No quadro 1 apresentamos um
breve histórico dos grupos de leigos atuantes na diocese no período em análise.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
3
Quadro 1 – Movimentos Leigos da Diocese de Guarapuava. (continua) Criação Nome Característica
1930 Apostolado da Oração Objetivo: a oração. Esse grupo está presente em
todas as paróquias sob a orientação de um
sacerdote.
Promovem cursos de costura, ensino religioso,
assistência médica, moral e religiosa.
1958 Legião de Maria Objetivo: trabalho espiritual e social. Procuram
levar a mensagem evangélica aos católicos.
1966 Pastoral Vocacional Objetivo e finalidade: coordenar e assistir os
vocacionados.
1967 Movimento Familiar Cristão Objetivo: preparação dos noivos para o
matrimônio, ministrando cursos de preparação.
Grupo constituído de casais da diocese.
1968 Cursilhos de Cristandade Objetivo: despertar lideranças cristãs, promover a
ação religiosa e comunitária.
1970 Treinamento de Líderes
Cristãos - TLC
Objetivo: influência de lideranças jovens. Curso
breve de três dias, posteriormente, com reuniões.
1973 Serra clube Objetivo: prestar auxílio financeiro aos
seminaristas no seu preparo para o sacerdócio.
1975 Curso de Evangelização,
Integração e Ação Apostólica
Objetivo e finalidade: destina-se à pessoas que
dispõe de menos tempo, é um encontro nos
mesmos moldes do cursilho. Divide-se em grupos
(CEIA) masculino, feminino e juvenil.
Sem data Conferências Vicentinas e
Damas de Caridade
Objetivo: dedicam-se ao trabalho em prol da
saúde. São grupos que nasceram do espírito de São
Vicente de Paula.
Sem data Grupo GEN Objetivo: juventude. São jovens que se reúnem
periodicamente, e procuram viver o ideal cristão
Fonte: adaptado de Boletim Diocesano (1978); Marcondes (1987).
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
4
A partir da leitura do quadro 1, os leigos constituíram grupos distintos,
dedicados a diferentes estilos de atividades, que visavam manter os valores do
catolicismo entre os católicos, em regiões distintas da diocese. Com públicos diferentes,
cada um organizou sua linha de ação, conforme as especificidades de cada grupo,
compreendendo o universo da oração, formação de líderes católicos, preparação aos
sacramentos e cuidados com a demanda de sacerdotes na própria diocese.
Antes de iniciarmos nossa discussão acerca da ação educativa do laicato, dos
grupos já supracitados, precisamos explicitar alguns pontos-chave, apontados nos
documentos eclesiais, que fizeram parte das orientações advindas dos documentos
oficiais da Igreja Católica.
Na Exortação Apostólica de João Paulo II (1920-2005) Christifideles laici, de
1988, documento este que tratou da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo,
o Papa apontou para a necessidade do trabalho pastoral executado pelos leigos na defesa
dos valores católicos diante da realidade atual mundial. Sustentou nesse documento a
importância dos leigos nas atividades formativas:
[...] é que os fiéis leigos escutem o chamamento de Cristo para trabalharem na sua vinha, para tomarem parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja, nesta hora magnífica e dramática da história, no limiar do terceiro milênio. Novas situações, tanto eclesiais como sociais, econômicas, políticas e culturais, reclamam hoje, com uma força toda particular, a ação dos fiéis leigos. Se o desinteresse foi sempre inaceitável, o tempo presente torna-o ainda mais culpável. Não é lícito a ninguém ficar inativo. (JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica, 1989, p. 11 – grifos do autor).
Essa necessidade da participação dos leigos na Igreja, já fora discutida no
Concílio Vaticano II (1962-1965). No entanto, a Exortação Apostólica foi um
documento específico, destinada as características do laicato na vinha do Senhor1. Uma
questão interessante refere-se ao papel dos jovens como protagonistas da ação
evangelizadora. O Sínodo quis prestar uma atenção especial aos jovens, pois, esses são
importantes no desenvolvimento da Igreja do futuro. Nesse sentido, são chamados para 1 O termo foi retirado do evangelho de (MT 20, 6-7). Na parábola, os trabalhadores não tinham sido contratados para o trabalho na vinha, então Deus disse-lhes: “ide vós também para minha vinha”. Na Exortação Apostólica de João Paulo II Christifideles laici, a parábola foi utilizada de forma análoga, para reforçar o aspecto da importância do leigo na Igreja, ou seja, da relevância do trabalho educativo desenvolvido pelo leigo na instituição católica.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
5
se unirem ao trabalho pastoral da Igreja, pois demonstram o espírito cristão.
(EXORTAÇÃO APOSTÓLICA, 1989, p. 129).
No Concílio Vaticano II, a discussão referente aos leigos foi exposta na
Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Ao tratar dos leigos, esses devem participar
ativamente em todas as atividades da Igreja. O documento mostra-se categórico aos
jovens, pois “[...] estão obrigados não somente a impregnar o mundo de espírito cristão,
mas também são chamados a serem testemunhos de Cristo em tudo, no meio da
comunidade humana”. (GAUDIUM ET SPES, 1970, p. 52)2.
Aguiar (1996) na sua tese A Pedagogia da formação dos Leigos Católicos,
observa que nos primórdios da experiência cristã, com o projeto de Jesus de Nazaré, não
havia distinção entre clero e leigos, todos participavam do mesmo modo na
comunidade. O termo leigo, etimologicamente, vem de “laikós”, que deriva de “Laos”,
que significa povo. O sufixo “ikós” refere-se a categoria de pessoas opostas dentro do
povo. O uso do termo pela primeira vez foi com Papa Clemente de Roma,
aproximadamente no ano 95. A distinção entre leigos e clero, foi realizada pela
primeira vez com Clemente de Alexandria, já no século II. A partir desse momento,
instauraram-se dois estilos de Igreja, com funções diferentes: a Igreja-comunidade, sem
distinção de funções, e a Igreja-sociedade, com dimensão hierárquica. Foi então, a partir
dessas duas vertentes, que no século IV, surgem conotações de sagrado e profano, clero
– sagrado, leigos – profanos.
Aguiar (1996) contextualiza como teólogos, filósofos e pensadores contribuíram
para o engajamento e discussão sobre a pertença dos leigos na Igreja do século XX.
Indica que teólogos e filósofos, como Pe. Ives Congar; Karl Rahner; Mons J. Lecercq,
Jacques Maritain; Gabriel Marcel, entre outros, fizeram explanações sobre a pertença do
leigo na Igreja. Assim, no pontificado de Pio XII (1939-1958), a Encíclica sobre o corpo
místico de Cristo, foi um marco de reflexões na eclesiologia. Posteriormente, com os
papas sucessores, novos documentos pontifícios discutiram o tema dos leigos, além da
realização de congressos, como o I e II Congresso do Apostolado dos leigos, realizado
em 1951 e 1957. Referente ao primeiro momento dos leigos vivenciado na Europa,
afirma-se que esses se organizaram e atuaram em jornais, colégios, escolas paroquiais, 2 Utilizamos a nona edição do documento, de 1970.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
6
configurando-se como organização católica. Concomitantemente, as fraternidades e
associações também dispunham de leigos. Desse modo, a Igreja Católica, procurou
nessas organizações “[...] substituir as antigas estruturas [...] as obras tinham um caráter
defensivo e a pastoral, como eixo as devoções”. (AGUIAR, 1996, p. 26).
Na Diocese de Guarapuava, alguns grupos de leigos já existiam antes do bispado
de D. Frederico como os Vicentinos e o Apostolado da oração, ambos os grupos criados
em 1930, e a Legião de Maria, de 1958.
Nas fotos abaixo, podemos ilustrar o momento histórico da atuação desses
grupos na diocese.
Figura 1 - Apostolado da Oração. Fonte: Foto nº 09 - Arquivo da Catedral Nossa Senhora de Belém.
Na foto, de 1930, podemos observar a presença do laicato na paróquia de
Guarapuava, que na conjuntura pertencia à Diocese de Ponta Grossa, com os padres
Teodoro Matessi e Paulo Tschorn.
Na próxima imagem, verificamos a presença dos homens leigos, na época,
constituído como grupo dos Vicentinos.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
7
Figura 2 - Vicentinos da Paróquia. Fonte: Foto nº 08 – Arquivo da Catedral Nossa Senhora de Belém. Nota: Foto de 1930, com os padres Teodoro e Paulo.
As fotos remetem-se ao período do século XX. Assim, indicamos que os leigos
já participavam das atividades evangelizadoras na paróquia de Guarapuava, estruturados
em grupos isolados, um compreendendo mulheres, com o grupo do Apostolado da
Oração e Legião de Maria, e o outro, homens, com os Vicentinos.
O ano de 1978 foi um marco importante na divulgação das atividades dos
grupos, pois com a criação do Boletim Diocesano, informativo da diocese, o laicato
pode divulgar suas atividades educativas de forma mais eficiente entre os católicos.
Com o reconhecimento do discurso exposto no Boletim, sendo esse legitimado pela
comunidade de fiéis, os leigos passaram a ser reconhecidos, ou seja, a sua função na
instituição passou a ser vista como parte integrante da organização da igreja,
responsável pela prática evangelizadora, que não deixa de ser uma prática educativa.
Isso fortaleceu o elo entre a comunidade e a Igreja, aproximando-os da experiência
religiosa, da visão de mundo católica, de forma informativa e formativa.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
8
Entre as atividades dos leigos, a diocese investiu na formação educativa através
dos Cursilhos de Cristandade. Gomes (2009, p. 27-28) analisa o Movimento de
Cursilhos de Cristandade no Brasil, durante o período da ditadura militar, entre 1964 a
1980. Esse movimento da Igreja Católica surgiu na Espanha, com D. Juan Hervás, em
1940, instalando-se no Brasil em 1962. Esse grupo foi contrário à Teologia da
Libertação. O método utilizado para aplicar os ideais católicos foram os cursos. A
conduta de vida dos católicos, devotos a sua crença, influenciariam os outros espaços
sociais, como escola, trabalho, família, etc. Utilizavam como recurso nos cursos a
atividade musical. As canções faziam parte desses movimentos, pois ajudavam os
católicos a memorizar a doutrina. Na Espanha, após a reflexão da doutrina, os cursos
eram finalizados por meio do canto “De colores”. Essa canção faz parte da cultura
folclórica da Espanha, datada a partir do século XVI. Mesmo De colores sendo apenas
uma canção folclórica, não tendo relação com os cursilhos, tornou-se hino dos
movimentos, principalmente na America Latina.
No Brasil, esse movimento chegou em 1962, sendo recepcionado na
Arquidiocese de São Paulo, espalhando-se por todo o país. Como os cursos tornaram-se
difusos para os católicos no Brasil, foi preciso à criação de um órgão que divulgasse e
desse respaldo a essa atividade. Nesse anseio fundou-se o periódico Alavanca, no
Estado de São Paulo. Esse periódico contou com a presidência de Carlos Maria
Montero, brasileiro, então professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), e a direção espiritual de Pe. Paulo Cañelles, um dos espanhóis responsáveis
por trazer os cursos de Hervás para o Brasil. (GOMES, 2009, p. 55). Os primeiros
cursilhos foram realizados nas Arquidioceses de Campinas e em São Paulo, sendo
organizados em parceria entre as duas arquidioceses. A partir de 1965, Campinas
organizou sua própria estrutura, montando seu próprio secretariado.
Em 1968, na Diocese de Guarapuava, D. Frederico convidou alguns
representantes da comunidade para participarem de um Cursilho de Cristandade, em São
Paulo, pois nesse Estado existia esse tipo de formação. Posteriormente, a cidade de
Telêmaco Borba – PR, pertencente à Diocese de Ponta Grossa, realizou o seu Cursilho
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
9
contando com a presença de representantes guarapuavanos3. (MARCONDES4, 1987, p.
92). No ano seguinte, em 1969, outras pessoas de Guarapuava participaram do Cursilho
promovido pela Diocese de Ponta Grossa, em Curitiba. Por meio dessas experiências, a
Diocese de Guarapuava conseguiu organizar seu primeiro Cursilho de Cristandade, o
qual ocorreu em 1969. (MARCONDES, 1987).
Sobre essa prática educativa adotada pela diocese na promoção de lideranças,
destacamos que foram convidadas pessoas com representações significativas na cidade,
como por exemplo, donos de cartórios, médicos, advogados, professores e políticos.
Com a ideia já assimilada e em processo de maturação, D. Frederico providenciou a
construção de um espaço próprio para a realização dos Cursilhos, chamado Casa de
Líderes, em dezembro de 1974 (MARCONDES, 1987).
Em maio de 1981, o Boletim Diocesano anunciou a divulgação do primeiro
cursilho em língua alemã no Brasil. (BOLETIM DIOCESANO, mai. 1981, p. 2).
Destacamos a realização desse cursilho, por ser um curso em língua alemã, sendo
idealizado pelo bispo, a fim de subsidiar suporte espiritual aos católicos residentes no
Distrito de Entre Rios, também conhecido como Colônia dos alemães, território este
pertencente à Diocese de Guarapuava. Para a realização do evento, o bispo diocesano
convidou casais cursilhistas de Viena, para a realização de dois cursilhos, um feminino
e outro masculino.
A relevância desse evento em especial, refere-se à conscientização de membros
da comunidade alemã, a qual possuiu e possui influência no desenvolvimento
econômico da região, devido à condição empreendedora da Cooperativa Agrária, no
cultivo de grãos, cevada e trigo.
Outros movimentos de leigos também promoveram eventos, dentre eles
palestras, reuniões, encontros, visitas e cursos voltados ao público de católicos. O MFC
- Movimento Familiar Cristão foi um grupo atuante na formação e preparação religiosa
da família. Esse grupo foi organizado em 1962, sob a liderança do padre Antônio
3 Citamos alguns nomes dos representantes guarapuavanos no Cursilho de Telêmaco Borba: Dr. José Canestraro; Sr. Elias Farah Neto; Sr. Hélio Dalla Vecchia e Sr. Hélio D’Oliveira. 4 Dialogamos com a autora, a fim de evidenciar aspectos relevantes na organização de D. Helmel e os leigos, pois, a obra compreende o primeiro estudo realizado sobre o Jubileu de Ouro de D. Helmel na Diocese (20 anos de ação pastoral).
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
10
Koremann. Contudo, no ano de 1967 criou-se a Equipe Diocesana do Movimento
Familiar Cristão, contando com registro no Conselho Estadual, sendo considerado como
entidade de utilidade pública, para fins educativos, conforme o decreto do Executivo
Federal nº 1400 de 25 de setembro de 1962 e publicado em Diário Oficial da União, em
03 de outubro de 1962. (MARCONDES, 1987, p. 103).
Dedicados a defesa da integridade das famílias e conservação dos lares sob a
ótica dos preceitos católicos, esse grupo realizou formações voltadas ao rito cerimonial
do casamento, atuando na preparação específica dos mecanismos referentes ao
matrimônio. Esses encontros foram chamados de Encontro de Corações e Encontro de
Alianças. Em 1967, onze casais do MFC, juntamente com o Bispo D. Frederico
seguiram a Curitiba para um encontro de formação. (LIVRO TOMBO, 1967, p. 20).
Como a Igreja já havia discutido sobre a importância da família no contexto do
mundo moderno, principalmente, o papel da família, dos pais na educação dos filhos, o
MFC agrupou membros da comunidade católica e, começou promover encontros
obrigatórios para os noivos, a fim de fornecer uma relação mais próxima entre noivos e
a vida em aliança, estruturados nos preceitos da doutrina. (LIVRO TOMBO, 1967, p
21).
Tais encontros, realizados na forma de reuniões, cujo tema central era a
formação no eixo da espiritualidade, psicologia, parte jurídica e realização espiritual,
abordavam temas relevantes à formação dos fiéis católicos. No Livro Tombo (1967, p.
21) encontramos registrado o tema das palestras e a especificidade de cada uma. No
encontro realizado em novembro de 1967, o MFC organizou o evento focando sobre os
seguintes temas: 1. Adão e Eva no século XX (Psicologia masculina e feminina), 2.
Deus ajuda ou atrapalha no amor (Espiritualidade matrimonial), 3. Dois numa só carne
(Parte médica), 4. O amor é criador (Realização espiritual e educação) e 5. Vida no lar
(Parte jurídica).
O MFC também produziu material didático para serem trabalhados nos eventos.
Em 1980, o livro chamado Casamento e família e foi destinado aos professores do 2º
grau (atualmente denominado Ensino Médio) e aos casais. No livro, foram reunidos
subsídios didáticos, como orientações e motivações para as aulas. Pode-se dizer que o
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
11
trabalho do leigo foi organizado, visando padronizar uma mesma metodologia,
linguagem, etc.
Com o objetivo de fortalecer os preceitos do catolicismo, o MFC escreveu uma
nota no Boletim Diocesano, de outubro de 1980, a respeito da experiência adquirida
pelos participantes nos encontros do MFC:
Por mais perfeito que nos julguemos, acreditamos sempre em ter algo a aprender, num dom para aprimorar e numa dificuldade a superar. Se o mundo pudesse viver o clima de amor, fraternidade, doação e humildade vivido neste encontro, certamente as distâncias entre irmãos diminuiriam, o perdão seria mais freqüente e a fidelidade cada vez maior. É só errando, perdoando, amando, participando e conhecendo, que diminuiremos a distância entre o HOMEM e DEUS. (BOLETIM DIOCESANO, out. 1980, p. 2 – grifo do autor).
Além dos casais em formação para o matrimônio, D. Frederico investiu na
evangelização dos fiéis do interior. A Criação da Equipe Diocesana levando otimismo
ao interior - EDILOI - foi organizada visando fortificar as capelas e paróquias, tendo em
vista proporcionar às comunidades do interior um envolvimento maior com a vivência
da espiritualidade católica.
A EDILOI foi fundada oficialmente em 03 de julho de 1978. Como observamos
anteriormente, o leigo é chamado a corresponder e colaborar com a Igreja, junto com a
hierarquia. Esse grupo de leigos, composto por adultos e jovens católicos que já
passaram por um curso de formação e conscientização, se propunha em realizar
encontros denominados Domingos Intensivos, sempre que solicitados pelos respectivos
vigários. Tais encontros destinavam-se para os jovens com idade mínima de quinze anos
de ambos os sexos como para os adultos. Sua organização interna era composta por um
casal de adultos e três jovens. (BOLETIM DIOCESANO, jul. 1978, p. 4). A fim de
elucidar a questão de evangelização dos fiéis interioranos, vejamos a ação educativa
desempenhada por esse grupo, em novembro de 1978, as quais foram noticiadas no
Boletim Diocesano.
Quadro 2 – Calendário de novembro de 1978 da EDILOI (continua)
DATA LOCALIDADE ESPECIFICIDADE
05/11 Cerro Verde Jovens e adultos
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
12
05/11 Jacutinga Jovens e adultos
05/11 Pinhão Adultos
12/11 Serraria Losso Jovens e adultos
12/11 Cavaco e Cerro Alto Jovens
19/11 Grongoró Adultos
19/11 Guairacá Jovens
26/11 Campina do Simão Adultos
26/11 Gleba 9 Jovens
Fonte: Boletim Diocesano (1978, p. 4).
As localidades que foram beneficiadas com ação da EDILOI nesse período
correspondem a territórios afastados da sede da diocese. Com base nesse quadro,
podemos compreender o objetivo de levar os preceitos do catolicismo aos fiéis dessas
regiões. No mês de novembro de 1978, foram realizados nove Domingos Festivos,
compreendendo uma formação para jovens e adultos, ou seja, a diocese disponibilizou
equipes para trabalhar em regiões diferentes e no mesmo dia de formação. Apenas esse
fato, nos permite afirmar a articulação dos leigos na Diocese de Guarapuava.
Para evidenciar que a EDILOI, em conjunto com o bispo, articulavam meios
precisos na atuação do laicato, em setembro de 1981, D. Frederico se reuniu com a
EDILOI a fim de repensar as estratégias, orientando sobre as metas planejadas para esse
grupo. Por meio das suas visitas pastorais, D. Frederico procurou conhecer a realidade
de seus diocesanos, sendo preciso “[...] despertar nos responsáveis pelo trabalho
pastoral, a necessidade de renovação no seu campo de agir, para melhor atender os
objetivos e as necessidades da Igreja”. (BOLETIM DIOCESANO, ago. 1981, p. 04).
Assim, pretendia oferecer algo a mais em termos de perseverança para que os
participantes dos encontros se inserissem cada vez mais no trabalho educativo da Igreja.
Tratando da organização do campo religioso católico, a Diocese de
Guarapuava dialogou com os documentos norteadores da Igreja, pois conforme citamos
a Exortação Apostólica de João Paulo II, os leigos deveriam fazer parte ativa da Igreja,
cada qual, atuando como representante do ideal católico, desempenhando funções
educativas de auxílio aos bispos na tarefa formativa dos fiéis. O engajamento dos leigos
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
13
na Igreja implicou em uma “força”, expressão essa exposta no documento a Exortação
Apostólica de João Paulo II, que visou abraçar os grupos de leigos no objetivo de
fortalecer a presença da religião católica entre os fiéis, e na própria sociedade.
Em síntese, a presença dos leigos na Diocese de Guarapuava foi um
movimento da Igreja Católica a fim de favorecer uma evangelização mais eficiente. As
ações educativas realizadas pelos leigos correspondem ao emprego de um habitus
católico, no qual, os fiéis realizam suas práticas ritualísticas enfatizando a ética católica,
práticas morais cunhadas pelos preceitos dessa doutrina. A fim de manter o prestígio da
Instituição Católica na região territorial da diocese, as ações educativas foram avaliadas
pelo bispo e seus leigos, pois o fato de repensar a ação educativa do leigo na EDILOI,
bem como das suas estratégias, sinaliza a preocupação da hierarquia em renovar as
práticas educativas, assegurando um trabalho efetivo de formação para os fiéis,
aproximando-os da Igreja.
FONTES ALBÚM DE FOTOGRAFIAS DA CATEDRAL NOSSA SENHORA DE BELÉM n. 1, foto nº 08, 09. BOLETIM DIOCESANO. Ano 1, n. 1, jul. 1978. ______. Ano 3. n. 23, out. 1980. ______. Ano 4. n. 28, mai. 1981 ______. Ano 4. n. 30, ago. 1981 LIVRO TOMBO. 1967, p. 20. ______. 1967, p. 21
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Antônio Geraldo de. A Pedagogia de formação dos leigos católicos. 1996. 404 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
14
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. ______. A dissolução do religioso. In: _____. Coisas ditas. Tradução de Cássia R. Silveira et al. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 119-125 ______. Pierre. Espaço social e campo do poder. In:_____. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. 9. ed. Campinas: Papirus, 2008. p. 48-52 CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES: a igreja no mundo de hoje. Concílio Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1970. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II CHRISTIFIDELIS LAICI. Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo. 3 ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1989.
GOMES, Sara Cristina de Souza. A Cristandade de Colores: A Igreja Católica e o Movimento de Cursilhos de Cristandade durante a ditadura militar no Brasil. 2009. 117 f. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
MARCONDES, Gracita G. A igreja em Guarapuava: antes e após a criação da diocese. Faculdade Estadual de Filosofia, Ciência e Letras de Guarapuava. Guarapuava, 1987 [datilografia: Eliane Prezepiorski encadernação: Eduardo Gravon].