Post on 16-Oct-2021
1
ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO
Prof. Mestra em Educação e Psicóloga- CRP 0687- 20ª região.
TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO – TCC
CURSO: DOCENCIA DO ENSINO SUPERIOR
ALUNO: SUANNY MARTINS DE LIMA
TURMA:DC74A
ANO: 2018
TEMA: PLANO DE ENSINO E APOSTILA TEMATICA
2
COORDENAÇAO DE EDUCAÇÃO. PROJETO BÁSICO PARA TCC.
ALUNO: SUANNY MARTINS DE LIMA TURMA: DC74A ANO: 2018
SUMÁRIO PAG
INTRODUÇÃO...................................................................................................................01
1. O QUE É PLANO DE ENSINO.....................................................................................02
2. A IMPORÂNCIA DO PLANO DE ENSINO...................................................................03
3. PLANO DE ENSINO.....................................................................................................04
4. APOSTILA
4.1. MÓDULO I - COMUNIDADES TRIBAIS: A EDUCAÇÃO DIFUSA..........................09
4.2. MÓDULO II - ANTIGUIDADE ORIENTAL: A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA..23
4.3. MÓDULO III - ANTIGUIDADE GREGA: A PAIDEIA..............................................40
4.4. MÓDULO IV - ANTIGUIDADE ROMANA: A HUMANITAS...................................54
5. BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS....................................................................................70
5.1. TERRA, Márcia de Lima Elias. História da Educação/Biblioteca Universitária
Pearson. - São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2014
5.2. ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da Pedagogia Geral e
Brasil. 3 Ed. São Paulo: Moderna, 2006.
6. CONCLUSÃO................................................................................................................74
3
INTRODUÇÃO Quando falamos em passos fundamentais da Pedagogia Tradicional,
estamos nos referindo principalmente à ideia de se dar uma ordem ao processo de ensino, dando uma cronologia de passos didáticos. Neste processo o professor ocupava o centro das atenções e dele saíam os conteúdos, incluindo o modo pelo qual o aluno seria avaliado. Além disso, esperava-se que a escola fornecesse, de série a série, em conteúdos organizados por disciplinas, os assuntos que pudessem ser úteis à pessoa, ao longo de sua vida. Já no tocante as matérias, a escola foi organizada por disciplinas estanques e cada professor cuidava de uma matéria, sem se preocupar com o trabalho dos professores que lecionavam outras matérias.
Em forte oposição ao modelo de educação patrocinado pela Pedagogia Tradicional, surgia a pedagogia da nova Escola, que pregava 5 passos fundamentais: (1) atividade; (2) problema; (3) dados; (4) hipótese; (5) experimentação. A metodologia e motivação eram as principais. Assim o papel de professor deixaria de ser centralizador, agora seriam os alunos, fatalmente deveriam surgir as dúvidas, as questões, as curiosidades (problema). Para resolver os problemas surgidos, alunos e professor deveriam recorrer à pesquisa (coleta de dados), procurando material nas bibliotecas etc. Por fim, alunos e professor formulariam possíveis soluções para o problema (hipótese). O último passo consistiria na comprovação das hipóteses através da experimentação.
Vivemos em tempos de profundas mudanças na nossa sociedade, onde os desafios de ser educador são cada vez maiores. O papel do educador necessariamente tem que se adequar à nova realidade, o professor/ educador, tem de ir além de apenas e tão somente transmitir conteúdo.
No atual contexto, não existe uma única forma estabelecida, um padrão pré-determinado. O êxito do educador moderno está amarrado muito à personalidade, competência, facilidade de aproximar e gerenciar pessoas e situações cada vez mais diversificadas. Um dos pontos que determinam o sucesso profissional maior ou menor do educador é a capacidade principalmente de: Se relacionar, se comunicar e se motivar
A prática de educar moderna vai aos poucos assumindo novas configurações, o professor assume multe-papéis, além de transmitir conhecimento, cabe ao novo educador formar o cidadão, ser psicólogo, conselheiro, amigo, parceiro, orientador.
Principalmente ser educador é saber se reinventar, cultivar o interesse dos alunos. Para isso a formação precisa ser continua, o educador moderno precisa ter um perfil de inquietação, interação e constante renovação da prática docente.
4
O QUE É O PLANO DE ENSINO? É o instrumento de organização das disciplinas de graduação constantes na
estrutura curricular de cada curso. O Plano de Ensino deve ser elaborado em
consonância com a ementa da disciplina e o perfil do profissional definido no
Projeto Pedagógico do Curso. É elaborado pelo docente responsável pela
disciplina, apresentado em formulário próprio.
Contém os seguintes dados: 1. IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA: código, nome, número de créditos e
carga horária.
2. CURSO: curso (s) para o (s) qual (is) a disciplina é oferecida.
3. PROFESSOR responsável pela disciplina.
4. OBJETIVO: descrição da contribuição da disciplina para a formação do
discente.
5. Ementa: descrição sumária do conteúdo a ser desenvolvido na disciplina
a qual consta no Projeto Político Pedagógico do Curso.
6. Conteúdo Programático e Avaliações: consiste na relação dos
conhecimentos selecionados para serem trabalhados na disciplina. Estes
conhecimentos deverão ser apresentados sob forma de tópicos com a
respectiva carga horária e, na medida do possível, em itens e respectivos
subitens, e outras subdivisões porventura existentes, de modo que
definam, necessariamente, o grau de aprofundamento levado a efeito na
disciplina. O conteúdo programático da disciplina deve guardar
necessariamente relação com sua ementa, pois esta representa uma
visão global do programa. Devem ser incluídas nesse item as visitas
técnicas, atividades de campo e as formas de avaliação da disciplina.
7. Bibliografia: deve ser indicada a bibliografia necessária para a
disciplina.
5
A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE ENSINO O que é importante no plano de ensino são resultados que se obtém,
orientam o aluno e ótima ferramenta para se alcançar metas e valores mais
amplos que a escola procura atingir, definida a partir de uma fundamentação
teórica, logo a elaboração de um plano exige tomada de decisão, postura, com
isso um plano não é neutro.
A base para a aquisição de informações, conceitos, princípios e
desenvolvimento de habilidades e atitudes nos alunos, por meio dos conteúdos,
são adquiridos. A seleção de conteúdos deve basear-se nos critérios de
validade, utilidade, significação, adequação a determinado tempo histórico,
considerando o desenvolvimento do aluno. Deve ser dada ao aluno, a
possibilidade de elaboração pessoal dos conteúdos trabalhados, permitindo-lhe
comparar, organizar, aplicar e avaliar as informações, conceitos e princípios em
um processo constante de elaboração e reelaboração do conhecimento.
O plano utilizado pelo professor é para facilitar o processo de
conhecimento do aluno. A metodologia de ensino é o conjunto de procedimentos
didáticos organizados para mediar à aprendizagem dos alunos, visando à
consecução de objetivos propostos. Então, não são apenas uma coletânea de
técnicas isoladas, envolvem o desenvolvimento de uma atividade.
Vale ressaltar que o plano de ensino se identifica com o plano de unidade
que representa as partes da totalidade mantendo a coerência da proposta e o
plano de aula que especifica a prática do cotidiano, a dinâmica da sala de aula
e da interação e articulação entre professor e aluno. O professor tem a liberdade
de trabalhar com plano de aula ou unidade desde que mantenha coerência com
o plano de ensino.
Entende-se que a organização do trabalho do professor é extremamente
necessária para que ele articule as ideias e estabeleça mecanismos
relacionando o conteúdo da disciplina ao contexto do mundo do trabalho, a partir
da leitura do contexto sócio, político e econômico.
O planejamento é muito importante para o professor dialogar com a
coordenação pedagógica do curso, para efetivar os momentos de reflexão,
selecionar os conteúdos que melhor atendam às necessidades e interesses dos
alunos, incrementando seu plano e consequentemente sua aula.
6
PLANO DE ENSINO
CURSO PEDAGOGIA
DISCIPLINA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA SUANNY MARTINS DE L. CARDOSO
Nº DE CRÉDITOS 04
CARGA HORÁRIA 80 HORAS
MARCO PRESENCIAL
PERFIL DO EGRESSO
Refletir sobre a origem da educação e a construção dos saberes, nas suas dimensões históricas e pedagógicas, visando à compreensão desde o surgimento da escrita até o desenvolvimento de processos pedagógicos.
Formular hipóteses e realizar pesquisas relacionadas as habilidades de selecionar, organizar, comparar, analisar, correlacionar dados e informações historiográficas, bem como comunicar dados e conclusões com clareza, ordem e precisão cientifica, oralmente e/ ou por escrito.
Estabelecer relações, em diferentes períodos históricos, entre os fundamentos da educação com ferramenta para a dominação de povos e culturas.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DISCIPLINA
A Disciplina de História da Educação tem por finalidade proporcionara compreensão investigativa de como a construção dos saberes surgiu e mostra a evidências de fundamentos que pode ser usada para a manutenção do poder e das relações de dominação social.
Sendo de vital importância que o universitário rompa paradigma (modelo de dominação social), e promova em sua prática docente uma investigação que liga os tempos e proporcionando na vida de seus alunos uma construção de novos saberes, formando assim cidadãos críticos e conscientes de seu papel social.
EMENTA
I. As características das comunidades “primitivas” e a formação dos primeiros tipos de modelo educacionais, surgidos na humanidade e a educação difusa;
II. O sistema educacional nas primeiras sociedades letradas e os povos que a constituíram;
III. Início da magnífica civilização da Grécia Clássica e sua influência nas sociedades ocidentais até hoje e o porquê o pensamento de filósofos moldou a cultura, a começar pelos romanos;
IV. A expansão do Império Romano, a difusão da língua latina e seus costumes que influenciou toda a civilização.
MARCO OPERACIONAL OBJETIVO GERAL
DA DISCIPLINA Conhecer a história da educação como papel
fundamental e construir interpretações sobre as formas como
7
os povos transmitem sua cultura, criam instituições escolares e teorias que as orientam.
Conduzindo o educador consciente a compreender as ideias e os modos de aprender e ensinar da humanidade e dessa forma compreender sua história e transformar a educação em democrática e de qualidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA
DISCIPLINA
Apontar elementos para a compreensão do processo de formação da educação nas sociedades sem escrita;
Identificar o processo de formação do sistema ocidental cristão de educação;
Analisar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação ocidental;
Avaliar diferentes formas de educação antes da invenção da imprensa.
MÉTODOS
Busca-se atuar de forma a oportunizar a expressão individual e coletiva nos diversos momentos de desenvolvimento da disciplina. Serão realizadas atividades variadas, como: aula expositiva e dialogada, com efetiva participação da turma; pesquisa bibliográfica e de campo, individual e/ou em grupo; exposição de conteúdo ou resultado de pesquisa pelo discente e/ou grupo, com discussão ao final; leituras precedentes às exposições do conteúdo a ser trabalhado, para fundamentação nas intervenções; apresentação de documentário pertinente à matéria e indicado pelo professor ou pela própria turma, seguido de levantamento de pontos relevantes para o entendimento e esclarecimento do conteúdo; avaliação do processo; confecção de materiais didáticos objetivando adequar e facilitar o entendimento do conteúdo trabalhado.
RECURSOS Bibliografia específica, quadro de escrever, apagador, pincel, retroprojetor, projetor multimídia, DVD, TV, cartazes, textos complementares.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
UNID. ASSUNTO
I
UNIDADE I: Comunidades Tribais: A Educação Difusa
1. As Sociedades Ágrafas 2. A Educação Difusa 3. Os Papeis Educacionais 4. Resumo da Unidade
Autoatividade
II
UNIDADE II: Antiguidade Oriental: A Educação Tradicionalista
1. As Sociedades do Antigo Oriente 2. A Educação Tradicionalista 3. A Invenção da Escrita 4. Resumo da Unidade
Autoatividade
III UNIDADE III: Antiguidade Grega: A Paideia 1. Contexto Histórico
8
2. A Formação Integral: A Paideia 3. A Educação Grega 4. Resumo da Unidade
Autoatividade
IV
UNIDADE IV: Antiguidade Romana: A Humanitas 1. Primeiros Tempos 2. O Que é Humanitas 3. Características Gerais 4. Resumo da Unidade
Autoatividade
AVALIAÇÃO a) PARCIAL 1- b) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 1 – c) PARCIAL 2 – d) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 2 –
REFERÊNCIAS BÁSICAS
• TERRA, Márcia de Lima Elias. História da Educação/Biblioteca Universitária Pearson. - São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2014.
• ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da Pedagogia Geral e Brasil. 3 Ed. São Paulo: Moderna, 2006.
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
• CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. de Álvaro Lorencini. São Paulo: Ed. da UNESP, 1999.
• MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 3 ed. São Paulo. Cortez. 2010.
FONTES DA INTERNET
• http://he-linhadotempo.blogspot.com • http://he-linhadotempo.blogspot.com • https://cpantiguidade.wordpress.com • http://www.pedagogia.com.br • http://www.pedagogia.com.br • http://www.educ.fc.ul.pt • https://www.megacurioso.com.br
9
INTRODUÇÃO
Nesta apostila, entraremos em contato com a formação dos primeiros
tipos de modelos educacionais surgidos na humanidade. A educação tribal pode
ser denominada também como educação difusa, pois nela não está presente a
figurada instituição escolar.
Também analisaremos a presença da educação e o seu
desenvolvimento nas primeiras sociedades letradas da história humana, como
os mesopotâmicos, egípcios, hebreus, fenícios e persas. Seguindo a cronologia,
iniciaremos nossa narrativa contemplando a presença da educação nas
sociedades ágrafas.
Contemplaremos algumas das principais questões sobre a formação
da sociedade grega e romana. Vamos compreender a influência cultural que a
antiga Grécia exerceu sobre o Império Romano, assim como as especificidades
culturais destas duas distintas civilizações.
Estas questões são importantes para a compreensão da educação na
sociedade ocidental. O importante historiador francês Fernand Braudel afirmava
que o Ocidente possui uma dupla raiz cultural: judaico-cristã e greco-romana.
Deste modo, entendendo a importância do tema, abordaremos um
breve resumo histórico do mundo greco-romano, as questões da filosofia grega
e as instituições sociais responsáveis pela educação no universo cultural greco-
romano.
Bom estudo!
10
Comunidades Tribais: A Educação Difusa
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:
• A formação dos primeiros tipos de modelos educacionais surgidos na
humanidade;
• Educação difusa, pois nela não está presente a figurada instituição
escolar;
• Presença da educação e o seu desenvolvimento nas primeiras
sociedades letradas da história humana;
PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos, para facilitar a
compreensão das temáticas abordadas. Ao final da unidade existe atividade que
facilitará a compreensão dos temas históricos abordados.
TÓPICO 1 –AS SOCIEDADES ÁGRAFAS
TÓPICO 2 –A EDUCAÇÃO DIFUSA
TÓPICO 3 –OS PAPEIS EDUCACINAIS
TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE
UNIDADE 01
11
1. AS SOCIEDADES ÁGRAFAS Podemos compreender por sociedades ágrafas as comunidades
humanas que não possuem formas de escrita. Em geral, uma visão linear da
história classifica que o homem “entra na história” deixando a pré-história após
o desenvolvimento da capacidade de escrita. Porém, não temos como, em pleno
século XXI, continuará reproduzir uma visão tão estreita das sociedades
humanas, pois até na atualidade existem grupos humanos, com formas de
organização social complexas, que não possuem a escrita como forma de
mediação de conhecimento e memória.
Assim, vamos contemplar um pouco das sociedades ágrafas. Não é
pela ausência da escrita que as sociedades teriam uma ausência de funções
sociais, além de uma preocupação educacional constante por parte das
lideranças grupais. Em geral, as sociedades ágrafas são estudadas por
diferentes profissionais das ciências humanas e naturais. Quando se trata do
estudo das sociedades sem escrita que já desapareceram há milhares de anos,
seu estudo fica a cargo de arqueólogos. Quando se trata do estudo de
sociedades contemporâneas, seu estudo fica a cargo dos antropólogos e, por
vezes, sociólogos e historiadores.
Os arqueólogos são profissionais que estudam os vestígios fósseis de
civilizações pré-históricas, ou de civilizações perdidas há milhares de anos.
Portanto, seu trabalho se realiza nos denominados sítios arqueológicos, nos
quais são encontrados os restos de cultura material de alguma civilização
pretérita (BRAIDWOOD, 1988). Os paleontólogos estudam os fósseis da vida na
Terra, não obrigatoriamente vinculados aos seres humanos. O seu método
analítico é plural, devido aos diferentes tipos de fósseis que o paleontólogo
analisa: de animais invertebrados, de vertebrados, de plantas, entre outras
possibilidades de vida humana fossilizada.
Os antropólogos, por sua vez, utilizam uma metodologia de trabalho
completamente diferente dos arqueólogos e paleontólogos. Os antropólogos em
geral realizam o denominado trabalho de campo. Isto é, passam meses em uma
tribo, buscando compreender sua língua e seu modo de funcionamento,
anotando suas observações em um diário de campo. Posteriormente, realizam
12
o relato etnográfico, no qual apontam as características da população por eles
analisada.
Em grande parte, são com base nos diferentes dados disponibilizados
pelos antropólogos, arqueólogos, paleontólogos e demais profissionais das
ciências humanas, que iremos realizar a caracterização das sociedades ágrafas
na presente unidade deste caderno de estudos. Um primeiro e importante dado
a pensa ré que, mesmo estando vivendo em um período da história do mundo
no qual temos acesso a diversos mecanismos tecnológicos para a comunicação
entre as pessoas, passando pela televisão e o rádio, chegando aos
computadores e telefones celulares, hoje, no momento em que estamos lendo
este texto, existem milhares de pessoas vivendo em formas de organização
social na qual não existem estas mediações tecnológicas, e a vida segue em um
contato direto com a natureza. Estas populações, em geral, não possuem escrita
formal. Assim, contemplaremos algumas destas sociedades. FONTE: Disponível em: <https://umaincertaantropologia.org/tag/indios/> Acesso em 11
jul. 18
As sociedades ágrafas mais próximas aos brasileiros são as
comunidades indígenas. O termo índio provém do euro centrismo dos primeiros
navegadores europeus que atingiram as costas litorâneas do continente
americano e denominaram os nativos índios por acreditarem estar pisando nas
Índias, isto é, na Ásia. As sociedades indígenas têm uma tradição secular na
13
América. Em geral, se acredita terem os nativos americanos migrado da Ásia,
atravessando o Estreito de Bering, no extremo norte do continente. Assim como
entre os europeus ocidentais, que têm sua divisão cultural marcada pela origem
dos idiomas (latino, eslavo, saxão, escandinavos), os indígenas da América
também são classificados conforme sua diferente forma de fala. Quatro são os
principais troncos linguísticos dos indígenas americanos: Tupi-guarani,
Arauaque, Jê e Caribe. Isto é, estes quatro troncos linguísticos apontam que
vários grupos têm uma matriz cultural comum, que ganhou maior variedade
devido ao processo de migração pelo continente (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
Uma visão estereotipada dos indígenas aponta como menos
desenvolvidos, andando nus pelas matas, realizando o canibalismo e vivendo
em poligamia, isto é, um homem tendo várias esposas. Tal visão estereotipada
é reforçada pelos manuais didáticos de história, pois estes apresentam apenas
os indígenas de 500 anos passados, quando da vinda dos europeus para a
América. Todavia, deveríamos ter uma relação e visão completamente diferentes
das tribos existentes na atualidade. Se nos últimos 500 anos o homem branco
mudou de forma radical, os indígenas também mudaram.
Até mesmo considerar as tribos indígenas como pertencentes a
sociedades sem escrita pode ser considerado uma visão estereotipada. Desde
o século XVI, parte das línguas nativas passou a ter alguma forma de escrita. No
atual momento da história brasileira, temos alguns indígenas alcançando os
graus universitários, sendo também comum a presença de alfabetizadores
dentre as principais tribos brasileiras. Todavia, apenas por força da tradição,
mantivemos os indígenas brasileiros como exemplos de sociedades ágrafas.
Não apenas as tribos indígenas presentes no Brasil e nos demais
países americanos são exemplos de sociedades sem escrita (com as ressalvas
realizadas no parágrafo anterior). Na África e na Ásia ainda encontramos
algumas formações culturais que não precisaram do desenvolvimento da escrita.
Um dos principais estudiosos da presença indígena na sociedade brasileira foi antropólogo Darcy Ribeiro. Em relação às suas obras, é interessante ler alguns de seus livros, como Os Índios e a Civilização, assim como O Povo Brasileiro e O Processo Civilizatório.
14
Podemos citar os aborígines australianos, as populações isoladas das ilhas do
Oceano Pacífico, assim como algumas tribos africanas, com destaque para os
povos pigmeus.
Em geral, denominam-se aborígines os nativos da Austrália, local em
que grande parte das tribos sofreu com o processo de colonização empreendido
pelos ingleses, assim como o preconceito racial marcou a vida de muitos destes
nativos da Oceania durante grande parte da presença europeia na Austrália. Na
atualidade, o governo australiano buscou formas de integrar os aborígines, sem
utilizar da violência como a principal forma de linguagem. Também em pequenas
ilhas do Oceano Pacífico, outras comunidades existem e são formadas por
sociedades sem escrita. Como já afirmado, na África, dentre as populações sem
escrita, uma das mais tradicionais são os pigmeus. Caracterizados pela baixa
estatura, possuem uma forma peculiar de vida.
As sociedades sem escrita possuem algumas características comuns.
Em geral, as trocas econômicas são naturais, isto é, não possui as moedas como
símbolo econômico. Outro importante característica das sociedades ágrafas é a
ausência de uma divisão de classes. Grande parte da divisão do trabalho é
sexual.
Figura 1 FONTE: Disponível em: < http://axa.org.br/o-desafio-do-acesso-de-indigenas-ao-ensino-superior/> Acesso em 11 jul. 18
15
Determinadas tarefas cotidianas são destinadas aos homens, e outras
destinadas às mulheres. Questões ligadas à caça e pesca de animais para a
alimentação, assim como a guerra, em geral, são atividades masculinas. Por sua
vez, o preparo do alimento, assim como a coleta de frutos e grãos, são atividades
majoritariamente femininas.
Uma das classificações gerais das sociedades ágrafas é a divisão
entre nômades e sedentários. Não é ausência de casa, mas sim de agricultura,
a principal característica a diferenciar os dois grupos humanos. As sociedades
nômades se caracterizam pala ausência de agricultura, sobrevivendo da coleta
de frutos e raízes. Por sua vez, as comunidades sedentárias são aquelas que
possuem grande produção agrícola e a existência de excedente, o que permite
como consequência, a fixação de residência em um local determinado, por não
existir a necessidade diz migrar para a busca de alimentação (BRAIDWOOD,
1988).
Podemos compreender, a partir desta explicação, que os indígenas
brasileiros têm como principal característica o seminomadismo. Isto porque as
comunidades possuem agricultura, porém, não possuem a figura do excedente.
Com isto, essas comunidades possuem processos migratórios.
Devido a isto, podemos compreender como é complexa a solução encontrada
pelo Estado brasileiro ao longo do século XX, que é a da criação de reservas
indígenas.
A grande pergunta a se responder com relação às sociedades tribais
é a seguinte: por que, mesmo com o grande desenvolvimento tecnológico da
sociedade ocidental, as sociedades tribais continuam a existir em pleno século
XXI?
A principal resposta é a eficiência econômica. Para compreendermos
esta eficiência, devemos analisar a formação das sociedades ágrafas desde o
período pré-histórico. Pois, partindo do pressuposto de que a necessidade
Um dos mais destacados pesquisadores da Pré-história foi o australianoGordon Childe. Suas pesquisas relativas ao período neolítico foram revolucionárias para acompreensão que temos sobre a vida humana, em especial pelos termos criados por ele,como Revolução Neolítica e Revolução Urbana.
16
básica da manutenção da vida humana é a alimentação, nós podemos
compreender que a denominada Revolução Agrícola, ocorrida há mais ou menos
10 mil anos, teve como legado uma eficiência na produção de alimentos que se
manteve até o presente.
Por pré-história se compreende o estudo do passado da humanidade,
do surgimento dos homens na Terra até a invenção da escrita. Portanto,
podemos compreender a pré-história como um dos principais períodos da
história humana, porque ele é o mais longo. Todavia, não devemos afirmar, por
exemplo, que os indígenas brasileiros vivem na pré-história, mas sim que
possuem um modo tribal de organização econômica que surgiu na pré-história.
Uma das principais classificações sobre a pré-história é a divisão
tripartite do período em paleolítico, mesolítico e neolítico. O paleolítico, período
mais antigo, se caracteriza pelo período no qual os homens eram nômades. Por
sua vez, o mesolítico é um período intermediário, que desemboca no neolítico,
que tem como principal característica o processo de sedentarização. De modo
esquemático, podemos compreender estes três períodos como:
Paleolítico: Período anterior ao domínio do fogo.
Mesolítico: Período no qual o homem conseguiu dominar o fogo.
Neolítico: Período da Revolução Agrícola.
A principal revolução tecnológica vivida durante o período da pré-
história foi o desenvolvimento da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos.
Pois, tivemos um início da possibilidade de se utilizar o reino vegetal a favor dos
seres humanos. Por isso, este processo, um dos mais importantes para a história
humana, é denominado de Revolução Agrícola. Esta possibilitou aos seres
humanos uma melhor utilização do meio ambiente. Pois, além de se utilizar a
força dos animais para o desenvolvimento humano, também se passou a utilizar
das sementes, plantas, flores e frutos, para a alimentação, cura de doenças,
além de perfume embelezamento estético nas diferentes sociedades humanas.
Uma das principais transformações sociais que a sedentarização
(possibilitada pela revolução agrícola) vivenciou foi o surgimento do excedente.
Isto é, o surgimento de uma produção de alimentos maior que a necessidade de
consumo do grupo. Assim, surge uma das primeiras preocupações sociais, o diz
ter a capacidade de guardar o excedente de modo a possibilitar a alimentação
da tribo em momentos de intempéries climáticas, como secas. Em função da
17
agricultura, sistemas irrigados tiveram de ser criados, visando à utilização
devastas áreas para a produção de alimentos.
Também o excedente gerado pela agricultura teve como um dos
efeitos o aumento da rivalidade entre as tribos, pois uma disputa pelas terras que
apresentavam melhores condições de plantio se tornou uma das principais
ambições dos grupos humanos. O excedente estimulou, nas diferentes
sociedades, uma incipiente divisão do trabalho. Todavia, a divisão era regida
pela forma de organização social, em que se pesava a faixa etária, a
hereditariedade e o gênero. Como já afirmamos, em geral, o papel de caça e
pesca era masculino, assim como a ação de guerreiros nas violentas disputas
tribais. Para as mulheres eram reservadas as funções ligadas à agricultura. As
crianças, por sua vez, eram estimuladas a auxiliar os adultos nas tarefas da tribo
que eram, em geral, divididas conforme o sexo. No entanto, é importante
salientar que existiam funções especiais, como a do líder político (entre os
indígenas comumente denominamos cacique) e os xamãs, os chefes espirituais
das tribos (entre os indígenas, denominados pajés).
Este sistema socioeconômico demonstrou grande eficiência, ao
possibilitara manutenção da vida nos mais diferentes locais do mundo. Dois
pontos são importantes para a compreensão da educação nas sociedades
ágrafas. Um primeiro o da ausência de instituições. Uma segunda questão é a
compreensão mítica do universo. Estes dois elementos explicam o modo difuso
de educação praticado nestas sociedades.
2. A EDUCAÇÃO DIFUSA Uma das principais características das sociedades ágrafas é a
ausência de instituições formais. Esta ausência de instituições pode ser
compreendida segundo a teoria de um importante antropólogo francês da
segunda metade do século XX, Pierre Clastres, autor da relevante tese A
Sociedade Contra o Estado (CLASTRES, 2003).
Segundo a observação deste antropólogo, a figura do chefe
político das tribos indígenas da América do Sul não é tão relevante quanto à
dos chefes de Estado da atualidade. O chefe possuía algumas regalias, como
18
a possibilidade da poligamia, porém, as obrigações do chefe guerreiro são
maiores que seus privilégios. Assim, deve o chefe ter grande capacidade
oratória, ao mesmo tempo em que deve demonstrar generosidade com
relação aos demais membros da tribo. O poder é mais aparente do que
eficaz, pois não consegue o chefe impor aos demais membros da tribo
obrigações, como impostos, privação de liberdade ou recrutamento militar
compulsório. Este fato demonstra um maior controle da sociedade sobre os
seus chefes. No Ocidente, por conseguinte, ocorre o contrário, sendo a
principal característica o controle do Estado sobre a sociedade, tendo os
chefes políticos um efetivo controle e poder sobre a população por eles
dominada.
Clastres aponta que o Estado existe nas sociedades ágrafas em
sua forma latente, porém, as formas de controle da sociedade contra o poder
instituído são melhores que as apresentadas pelo Ocidente, no qual o Estado
possuiu um poder maior sobre os indivíduos que nas sociedades tribais.
Deste modo, o poder nas sociedades ágrafas é difuso. Isto é, ele
não se apresentada forma racional e hierarquizada como na sociedade
ocidental. Por isso, o poder permanece difuso. Neste caso, podemos
compreender que em uma sociedade na qual o poder permanece difuso, a
educação é igualmente difusa. Um dos dados importantes para a
compreensão das sociedades ágrafas é a ausência de instituições. Isto é,
não existe nela marinha, exército, igreja, congresso nacional ou poder
judiciário. No que tange às instituições educacionais, estão ausentes
creches, escolas, colégios, universidades e faculdades, porém, podemos
compreender a ausência destas instituições educacionais ela ausência das
primeiras instituições citadas, pois, em grande parte, a educação tem como
principal meta adequar os indivíduos ao meio social. Em um meio social no
qual o poder é difuso, os processos educativos por eles realizados também
são difusos. Em locais nos quais a relação de poder não é institucionalizada,
não existe a necessidade de se institucionalizar o processo educativo.
Mesmo com o pouco grau de institucionalização do processo
educacional nas sociedades analisadas, podemos compreender que não
eram grandes as liberdades dos indivíduos nas sociedades tribais. Isto
porque, em grande parte, podemos observar que as funções sociais são
19
muito rígidas, marcadas pela idade e sexo do indivíduo. No entanto, a
ausência de liberdade, em geral, se relaciona também à compreensão do
universo, que é de base mítica. Assim, a relação do indivíduo com o seu meio
se caracteriza por uma mentalidade marcadamente vinculada aos mitos
fundadores das tribos.
Os mitos possuem uma função pedagógica fundamental para a
compreensão das sociedades tribais. Eles são uma forma de se passar o
conhecimento dos antepassados, dos ancestrais, para as populações
contemporâneas. Assim, a mitologia tinha uma relação clara com o processo
educacional. Contudo, como podemos relacionar os mitos e suas implicações
educacionais?
Primeiramente, temos que compreender os mitos, e suas diversas
funções: a de estabelecer uma explicação sobre o surgimento dos seres
humanos, sobre a natureza, a contagem do tempo e as condutas individuais.
Com relação ao surgimento do universo, a função dos mitos
possuiu uma clara e fundamental função explicativa. Muitos mitos existem ao
redor do mundo, relacionando o surgimento do planeta a elementos da
natureza, como a água, aterra, ou então, com fábulas relacionadas a
demiurgos, isto é, a deuses criadores.
Assim como para explicar o mundo, os mitos também são
importantes para a compreensão do surgimento dos seres humanos sobre a
Terra. Temos, assim, uma grande quantidade de mitos que apontam a
presença dos seres humanos vinculados à natureza, ou como descendentes
de antigos deuses.
Como principal efeito dos mitos, temos uma visão sacralizada da
natureza. Deste modo, os seres humanos têm uma visão de que a natureza
deve ser preservada em seus principais aspectos, para que se possa ter um
melhor aproveitamento do que ela oferta para o homem. Isto é, a visão
principal das comunidades tribais é ada natureza como uma mãe, que com o
seu seio possibilita a saciedade da fome de seus filhos.
Assim, podemos compreender que a mitologia tem um papel
fundamental no estabelecimento das condutas individuais das pessoas que
vivem nas sociedades tribais, pois o mito, além de impulsionar algumas
20
ações, também tem a capacidade de limitar as ações individuais e coletivas
que causariam a ruína da coletividade.
O papel de educador cabe a qual indivíduo nas sociedades
ágrafas? O papel de professor é difuso, diluído entre os diversos
personagens sociais que compõem a tribo. Deste modo, podemos pensar no
papel educacional exercido pelos vários membros das comunidades tribais
(ARANHA, 1996).
Podemos afirmar que o
homem primitivo vivenciou
uma educação prática,
levando em consideração
suas necessidades de
sobrevivência (alimentação,
vestuário e abrigo).
Nas sociedades primitivas
não havia uma escola ou
espaço formal de ensino, mas
podemos dizer que já havia a
figura do professor e do aluno
num processo educativo informal.
3. O PAPEL EDUCACIONAL a) Do chefe tribal
Podemos compreender que o chefe tribal possui alguma função
educacional com os mais jovens. Sendo o líder, deveria ser ele um
exemplo de coragem, carisma e astúcia com relação à superação das
dificuldades cotidianas, que poderiam ser causadas tanto pela ação
da natureza, como secas e estiagens, assim como cheias dos rios ou
excesso de chuva, ao mesmo tempo que poderiam ser ocasionadas
pelas ações belicosas de tribos rivais. Assim, ao observar a postura
do chefe tribal, que liderava as ações de caça e guerra, os meninos
21
iam aprendendo sobrea importância das habilidades com arco, flechas
e pedras para a manutenção da tribo enquanto organização social.
b) Das mães e dos pais
Uma figura que possuiu uma posição social diferente com relação à
sociedade judaico-cristã ocidental no tocante ao papel de educar está
na figurados pais e das mães. Em nossa sociedade, cabe a estas
figuras o papel de primeiro educador, porém, nas sociedades tribais, o
principal papel da mãe, o de amamentar, poderia ser compartilhado
com outras mulheres em processo de lactação. Por vezes, o papel que
caberia ao pai, de ser um exemplo de masculinidade para a prole, era
desempenhado pelo líder tribal, que possui, neste tipo de organização
social, em geral, um papel de maior prestígio que o do progenitor.
c) Do xamã
Uma das principais figuras educacionais era desempenhada pelo líder
religioso. Isto porque os líderes religiosos tinham função de grande
destaque nas tribos. Em especial, por serem os principais guardiões
do conhecimento tribal com relação ao universo mítico, como também
com relação à utilização medicinal dos elementos da natureza. Os
xamãs, por sua vez, educavam seu sucessor, escolhido em geral
dentre os meninos mais habilidosos da tribo.
d) Dos homens mais velhos
No lugar do pai, um dos principais vetores de educação entre as
sociedades ágrafas eram os anciãos e as anciãs. As mulheres e os
homens mais velhos possuem uma grande importância para a tribo,
pois a experiência no contato com a natureza permitia a eles uma
grande vantagem na luta cotidiana pela sobrevivência.
Nas sociedades tribais, as crianças tinham uma posição diferente em
comparação com nossa sociedade. Sobre isto, podemos pensar em duas
possibilidades de compreensão. A compreensão utópica e a compreensão
funcionalista. A compreensão utópica aponta que as crianças gozavam de
grande liberdade em sociedades como as tribais ou ágrafas. Isto porque a
ausência de uma instituição disciplinadora, como a escola, garantiria às crianças
um espaço de liberdade que elas não teriam em uma sociedade como a
22
ocidental, na qual grande parte da vida infantil é regrada e disciplinada pela
uniformização de condutas e castração de impulsos com os quais as sociedades
ocidentalizadas tratam a infância.
Tal visão é, em grande parte, uma utopia, uma visão sonhadora da
vida nas comunidades tribais. Os funcionalistas nos lembram que em grande
parte, assim como no Ocidente, as crianças observam uma rígida disciplina,
porém, vinculadas não a trabalhar em indústrias ou repartições governamentais,
mas, sim, em atividades ao ar livre. Muitos rituais que envolvem violência, como
torturas físicas, fazem parte do universo indígena, em especial nos rituais de
passagem que simbolizam o fim da vida infantil e o início da idade adulta. Com
isto, podemos considerar que mais importante que julgar ser boa ou má a forma
como as sociedades ágrafas educam suas crianças, é buscar compreender
como estas sociedades lidam com a infância.
23
RESUMO Nesta unidade você viu que:
A educação nas sociedades ágrafas é difusa. Isto é, não existe uma instituição
formal que se responsabiliza pela educação, sendo ela responsabilidade de
toda a tribo.
Não podemos ter uma visão evolucionista, desconsiderando a presença de
comunidades culturalmente ágrafas ainda no presente, em várias partes do
mundo.
Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos
adultos nas atividades diárias e nos rituais.
1) Quais as características das sociedades tribais?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2) Explique a natureza da educação tribal?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3) Embora a educação dos povos tribais fosse estritamente difusa, ainda hoje ocorre
esse fenômeno, pela educação informal na família, na sociedade e até na escola.
Dê exemplos:
______________________________________________________________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
24
Antiguidade Oriental: A Educação Tradicionalista
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:
• Apontar alguns dos inúmeros povos que constituíram a chamada
Antiguidade Oriental;
• Descrever que devido às transações comerciais a invenção do alfabeto
facilitava esse processo;
• Compreender que a invenção da escrita representou um grande avanço
na evolução intelectual do homem e da humanidade;
PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em tópicos, descrevendo como as
sociedades antigas eram ensinadas e de que maneira surgiu a tão importante
escrita. Ao chegar no término desta unidade haverá um exercício que ajudará a
compreensão dos temas abordados.
TÓPICO 1 –AS SOCIEDADES NO ANTIGO ORIENTE
TÓPICO 2 –A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA
TÓPICO 3 –A INVENÇÃO DA ESCRITA
TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE
UNIDADE 02
25
1. AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE Por sociedades do antigo Oriente Próximo são denominadas algumas
das civilizações que existiram no denominado Crescente Fértil, terras que hoje
são nomeadas como Oriente Médio e parte do norte da África. Dentre elas,
podemos elencar algumas civilizações, como o antigo Egito, a Mesopotâmia, os
hebreus, os fenícios, além dos persas, que formaram posteriormente aos
babilônicos um dos primeiros impérios da história do mundo. O sistema produtivo
destas sociedades era baseado em uma servidão coletiva, na qual o Estado era
o principal gestor e proprietário das terras. Vamos conhecer um pouco sobre
estas civilizações?
SOCIEDADE EGÍPCIA: a sociedade egípcia é comumente lembrada
como a terradas pirâmides, construídas ao longo dos séculos. Também fazem
parte da memória social do antigo Egito as múmias. Em geral, se tratava dos
corpos dos antigos membros da nobreza, que passavam por este tipo de
processo de manutenção física.
Este se relacionava à religião, que tinha como uma das principais
características a ideia de reencarnação. Assim, os corpos eram mumificados
para novamente retornar à vida. Como se tratava de uma sociedade politeísta,
tinham os egípcios uma organização teocrática, na qual o faraó, líder político
daquela civilização, tinha também responsabilidades religiosas, sendo adorado
como um deus (CARDOSO, 1990).
A base da pirâmide social era composta pelos servos, que
trabalhavam na produção agrícola, bem como nas grandes obras de irrigação,
fundamentais para a manutenção da vida, pois eram as cheias e os vazantes do
rio Nilo que garantiam a fertilidade do solo, fundamental para a produção de
alimentos. Também existia uma camada de burocratas (funcionários públicos),
bem como de militares, escribas e sacerdotes; no topo da pirâmide, a nobreza,
composta pelo faraó e suas famílias. Dentre o principal mito egípcio temos a
contenda entre Set e Horos, bem como a presença de Ísis e Osíris. Os deuses
do panteão egípcio tinham características antropomórficas (humanas),
zoomórficas (culto aos animais), antropozoomórficas (deuses metade humanos
e metade animais).
26
SOCIEDADE MESOPOTÂMICA: o termo Mesopotâmia quer dizer
“Terra entre Rios”. Tal nome se deve à importante presença dos rios Tigre e
Eufrates na constituição desta sociedade, marcada pela presença de alguns
povos, como os sumérios, os babilônicos e os caldeus. Os povos que habitavam
a Mesopotâmia possuíam uma religião politeísta, marcada também pela
compreensão mítica das cheias dos rios e do poder civil. A sociedade, assim
como a egípcia, era marcada pela desigualdade social, sendo as relações de
trabalho vinculadas pela servidão (REDE, 2007). Apesar de menos famosa que
o Egito, no tocante à religião, alguns dos mitos e práticas surgidas na
Mesopotâmia deixaram um legado na sociedade ocidental. O horóscopo, prática
até hoje presente, surgiu entre os mesopotâmicos.
Tinham como uma de suas principais características a ideia de poder
adivinhar futuro dos indivíduos com a observação das estrelas. Visando à
observação astronômica, os povos mesopotâmicos criaram enormes torres, que
se chamavam zigurates. Ainda com relação à religião mesopotâmica, podemos
nos lembrar de alguns mitos e deuses. Um dos principais era o deus Marduk.
Entre os mitos, o principal era o mito do dilúvio, uma grande inundação de água,
capaz de destruir a maior parte dos seres humanos.
SOCIEDADE ISRAELITA: outra importante sociedade existente no
antigo Oriente Próximo eram os israelitas. Grupo fundado pelo patriarca Abraão,
que fora chamada por Deus, na cidade mesopotâmica de Ur, habitada pelo povo
caldeu, para formar um povo escolhido. Os israelitas tinham como principal
diferença com relação às demais sociedades do antigo Oriente o monoteísmo,
isto é, a crença em um único Deus.
A história política do povo israelita possuiu várias fases. Uma primeira,
na qual o povo era organizado em tribos. Posteriormente, com Saul, formou-se
uma monarquia, que contou com os famosos reis Davi e Salomão, responsável
pela criação do templo de Deus, denominado pelos israelitas como Jeová
(YAWEH).
Uma divisão política fez com que o povo fosse dividido em dois reinos,
Israel, ao norte, que teve como capital Samaria, e Judá, ao sul, que tinha como
capital Jerusalém. Um dado marcante da história do povo de Israel foi o momento
27
em que foram escravizados pelos egípcios, dos quais foram libertos com a
liderança de Moisés, que guiou o povo pelo deserto até Canaã, a terra prometida.
Posteriormente, um segundo período foi caracterizado pelo denominado
Cativeiro Babilônico, no qual Israel foi dizimado, sendo Judá, ao sul, preservada,
mas teve parte de sua população cativa na Babilônia (CARDOSO, 1990).
Posteriormente, também dominados pelo Império Romano, os judeus foram
dispersos pelo mundo em 70D.C., com a denominada Diáspora, na qual a região
de Jerusalém deixou de ser uma área de posse exclusiva dos judeus, tendo
retornado a Jerusalém apenas no século XX, após a Segunda Guerra Mundial.
SOCIEDADE FENÍCIA: dentre os grupos humanos importantes para
a compreensão da dinâmica socioeconômica do mundo da antiguidade, um
destaque foram os fenícios. Grupo humano que se caracterizou pelo comércio
marítimo, tanto ao longo do Mediterrâneo, quanto ao longo do Mar Vermelho. Os
fenícios possuíam uma forma de organização política na qual a presença forte
das cidades, com autonomia, era a principal característica. Assim, algumas das
cidade-estado fenícias tiveram grande destaque, como Sídon, Tiro, Biblos e
Cartago, no norte da África.
Com relação à religião, os fenícios possuíam uma religião politeísta,
na qual alguns deuses possuíam grande destaque no panteão, como Baal, além
de Yam, o deus do mar, de grande destaque em uma sociedade marcada
pelagra de presença de marinheiros. A estrutura social era semelhante às das
demais sociedades asiáticas. Todavia, possuía uma diferença fundamental: a
presença do comércio de longa cabotagem, isto é, de longas distâncias através
da costa, o que permitiu o enriquecimento das principais cidade-estado
vinculadas ao povo fenício. Uma das cidades fenícias, Cartago, chegou a
rivalizar com Roma o domínio do Mediterrâneo. No entanto, com a derrota do
general Aníbal, Cartago acabou sendo dominada pelo Império Romano.
IMPÉRIO PERSA: um dos primeiros impérios surgidos no mundo foi
o Império Persa. Teve como seus mais célebres líderes Sargão e Ciro, o Grande,
conquistador de grande faixa de terra ao longo do Mar Mediterrâneo. Uma das
principais conquistas do Império Persa foi o domínio sobre o antigo Império
Babilônico. A sociedade persa viveu grande apogeu cultural, sendo desenvolvida
28
pelo povo persa uma das primeiras religiões monoteístas do mundo, o
zoroastrismo. O modelo de sociedade persa entrou em rivalidade com o mundo
grego, sendo um dos mais importantes eventos da história grega as
denominadas Guerras Médicas, nas quais os gregos venceram os persas na
Batalha de Salamina, garantindo o domínio dos gregos no Mar Mediterrâneo
(CARDOSO, 1990).
As sociedades do antigo Oriente Próximo deixaram um grande legado
cultural a todo o mundo. Grande parte das populações, atualmente, segue
religiões como a cristã ou muçulmana, que tiveram como uma das suas
principais bases judaísmo, uma das religiões criadas por um dos povos do antigo
Oriente Próximo, porém, como podemos observar no texto já descrito, ocorreu
um domínio da sociedade greco-romana sobre as civilizações do antigo Oriente
Próximo.
2. A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA Nas sociedades orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a
população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos
políticos nem acesso ao saber da classe dominante. A princípio o conhecimento
da escrita é bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e esotérico. Tem
início, então, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e
outro para os filhos dos funcionários. A grande massa é excluída da escola e
restringida à educação familiar informal.
Nas civilizações orientais não havia propostas propriamente
pedagógicas. As preocupações com educação apareceram nos livros sagrados,
que ofereceram regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos
rígidos sistemas religiosos e morais.
"(...) As sociedades tradicionalistas, por serem conservadoras,
pretendem perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas (...)".
(ARANHA, 2006, p. 33).
"Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível a
qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem segmentos
privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos,
29
não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante". (ARANHA,
2006, p.33).
O conhecimento da escrita era restrito devido ao seu caráter sagrado
e esotérico; cresceu a procura pela instrução, mas apenas os filhos dos
privilegiados atingiam os graus superiores.
Assim, surgiu o dualismo escolar; um tipo de ensino para o povo e
outro para os filhos dos funcionários. A grande massa foi excluída da escola e
restringida à educação familiar informal.
EGITO: As escolas atuavam nos templos e em algumas casas e foram
frequentadas por pouco mais de 20 alunos cada uma; predomínio do processo
de memorização; uso constante de castigos.
Escolas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas – formaram escribas de
categoria elevada: funcionários administrativos e legais, médicos, engenheiros e
arquitetos.
Conteúdos ensinados eram: Informações práticas, cálculo da ração
das tropas em campanha, número de tijolos necessários para uma construção,
complicados problemas de geometria associados, agrimensura, grande
conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.
30
"(...) esse volume de informação geralmente não vem acompanhado de questões
teóricas de demonstração, nem de princípios ou leis científicas, o que, diga-se
de passagem, será a grande contribuição do pensamento grego (...)". (ARANHA,
2006, p.46).
Exemplo: os egípcios conheciam as relações entre a hipotenusa e os
catetos de um triângulo retângulo, mas foi o Grego Pitágoras que procedeu à
demonstração desse teorema, no século VI a.C.
MESOPOTÂMIA: O ponto forte da educação na Mesopotâmica era a escrita cuneiforme.
Como em praticamente todas as nações da Antiguidade, a tradição oral existiu
e foi a base da transmissão de todo o conhecimento. Entretanto foi o
desenvolvimento do primeiro sistema prático de escrita nas primeiras cidades
que alavancou a civilização daquela época, refletindo no progresso econômico,
intelectual e cultural do homem.
Destaca-se a cultura da poderosa classe sacerdotal, bem como a
extrema dificuldade que a escrita cuneiforme oferece aos escribas, incumbidos
de ler e copiar os textos religiosos. Por isso o aprendizado é longo, minucioso e
voltado para a preservação dessa língua, que sofreu apenas alterações
insignificantes durante três milênios.
31
Placa com assentamentos de contabilidade em cuneiforme, 1980 a.C.
O escriba em formação frequentava a escola desde o início da
juventude até a idade adulta. Outro estudo de grande interesse na Mesopotâmia
era o da adivinhação, que consistia em ler a vontade dos deuses e predizer o
futuro, interpretando os augúrios.
Um dos alicerces do ensino na Mesopotâmia era a literatura. Poemas
e um vasto conjunto de obras literárias eram compostos, e recebiam dos escribas
especial atenção. Havia também, um segmento da literatura pautado em
provérbios e ditos populares, além de sua significativa contribuição para o direito:
vários códigos visando ordem e conduta foram criados. O Código de Hammurabi
é um dos conhecidos exemplos.
32
Não se pode negar a imensa contribuição que a Mesopotâmia, dentre
as várias civilizações antigas, prestou com a invenção da escrita, satisfazendo
uma necessidade de registros já solicitada pelo povo da época. Um caminho
necessário e inevitável. Construíram bibliotecas; tinham amplo conhecimento de
astrologia; não descuidavam das aplicações do conhecimento, assim como os
egípcios; os estudos científicos babilônicos vinham sempre mesclados com
magia e adivinhação.
HEBREUS:
O principal legado que os hebreus deixaram foi no âmbito religioso.
Eles foram os primeiros povos a adotar o monoteísmo, ou seja, a crença em um
único Deus. Também se destacam na literatura, destacando o Antigo
Testamento, que é a primeira parte da Bíblia.
Quanto aos profetas, eles eram os educadores de Israel, inspirados
por Deus e continuadores do espírito de sua mensagem ao “povo eleito”: devem
educar com dureza, castigar e repreender também com violência, já que sua
denúncia é em razão de um retorno ao papel atribuído por Deus a Israel.
A escola em Israel organizava-se em torno da interpretação da Lei dentro da
sinagoga; à qual “era anexa uma escola exegese” que, no período helenístico,
se envolveu em sérios contrastes em torno, justamente, da helenizarão da
cultura hebraica. Aos saduceus (helenizantes) opuseram-se os fariseus
33
(antigregos) que remetiam à letra das Escrituras e à tradição interpretativa,
salvaguardada de modo formalista. Assim, além de centro de oração e de vida
religiosa e civil, a sinagoga se torna também lugar de instrução. A instrução que
se professava era religiosa, voltada tanto para a “palavra” quanto para os
“costumes”. O conteúdo da instrução eram “trechos escolhidos da Torá”, a partir
daqueles usados nos ofícios religiosos cotidianos. Só mais tarde (no século I
d.C.) foi acrescentado o estudo da escrita e da aritmética. Nos séculos
sucessivos, os hebreus da diáspora fixaram-se, em geral, sobre este modelo de
formação (instrução religiosa), atribuindo também a esta o papel de salvar sua
identidade cultural e sua tradição histórica.
FENÍCIOS: A astronomia e a matemática foram áreas nas quais os fenícios
também produziram importantes conhecimentos, principalmente em decorrência
das necessidades da navegação.
Porém, o maior legado fenício foi, sem dúvida, a criação de um
sistema de escrita, formado por 22 letras, que ficou conhecido como alfabeto. Os
fenícios não foram os criadores da escrita, já que antes deles houve os sumérios,
com a escrita cuneiforme, e os egípcios, com os hieróglifos. A especificidade da
escrita fenícia foi a simplificação dos caracteres. Possivelmente o motivo para
adotar o alfabeto estava ligado à organização das atividades comerciais. O
alfabeto fenício foi adotado pelos gregos e pelos romanos, que o aprimoraram,
tornando-se ainda a matriz da nossa escrita atual.
A primeira produção do alfabeto ocorreu em Biblos (um dos centros
da Fenícia), que deu, aliás, nome ao livro (Biblos em grego), pelas indústrias de
papiro que ali se encontravam. Quanto aos processos educativos, são aqueles
típicos das sociedades pré-gregas, influenciados pelos modelos dos grandes
impérios e pelas sociedades sem escrita em que predomina a sacralização dos
saberes e a organização pragmática das técnicas, e tais processos se
desenvolvem, sobretudo na família, no santuário ou nas oficinas artesanais. Os
processos de formação coletiva são confiados ao “bardo”, ao “profeta”, ao
“sábio”, três figuras-guias das comunidades pré-literárias e que desenvolvem
uma ação de transmissão de saberes, de memória histórica e de “educadores
de massa”.
34
PERSAS: A educação persa, pela sua organização e pelo seu espírito, constituiu
um meio termo entre a educação teocrática e tradicionalista do Antigo Oriente e
a educação nacional e humanista dos gregos e romanos.
A educação e a cultura dos persas se basearam num livro sagrado,
semelhante ao dos hindus, o Zend-Avesta, considerado como fundamento de
toda a sabedoria. Há neste livro um alento de moralidade e uma preocupação de
glorificar o trabalho humano que o colocam num plano de espiritualidade superior
ao dos livros sagrados da Índia e do Egito. Talvez seja por isso que a educação
persa se avantajou sobre os demais sistemas educativos orientais.
A sociedade persa sofreu influência dos costumes dos povos
conquistados pelos seus soldados, tais como: assírios, caldeus, lídios, egípcios
e gregos das colônias. Todavia, os costumes dos persas eram simples e sóbrios.
O pai era o chefe absoluto da família; todos deviam prestar-lhe obediência. A
criança era educada no lar dentro de preceitos rígidos e severos. O ideal dessa
educação familiar era a prática da virtude, a saúde do corpo e a preparação para
o serviço do Estado. Heródoto dizia que os persas ensinavam às crianças, três
coisas; "montar a cavalo, atirar ao arco e dizer a verdade". As virtudes cardeais
35
dos persas eram a obediência, o amor aos pais, a justiça, a coragem, a
temperança, o sentimento de honra e o desejo de ser agradável a Ormuzd.
É provável que a educação tenha sido reservada às classes
superiores. As crianças pobres recebiam uma instrução muito sumária.
Até 7 anos, a criança era educada no seio da família onde aprendia a
praticar as virtudes domésticas: a veracidade, o pudor, o amor e a obediência
aos pais. Aos 7 anos entrava para a escola oficial, cujo regime era de internato.
Aí aprendia a cavalgar, correr, atirar ao arco e outros exercícios guerreiros. A
educação intelectual era constituída apenas da leitura do Zend-Avesta e da
aprendizagem da escrita cuneiforme. O ensino da religião completava essa
instrução rudimentar.
Dos 15 aos 25 anos, a educação se limitava à formação militar. O
jovem recebia o cinto da virilidade e fazia um juramento de seguir a lei de
Zoroastro e de servir o Estado com fidelidade.
Dos 25 aos 50 anos, os persas eram soldados e tomavam parte nas
guerras e expedições.
Aos 50 anos, os mais instruídos se tornavam mestres da juventude.
Eram escolhidos os mais dignos e mais puros, para servirem de exemplo. Estes
mestres eram venerados pelos alunos e considerados Santos após a morte.
36
Os cursos superiores eram monopolizados pelos magos ou
sacerdotes e versavam sobre os livros sagrados e as ciências auxiliares, isto é,
a história, a matemática, a astronomia, a astrologia, a alquimia. Havia um ensino
especial para os filhos dos príncipes, visando prepará-los para o desempenho
de altos cargos da administração.
O aspecto elogiável da educação persa foi a sua preocupação pela
formação moral das novas gerações.
3. A INVENÇÃO DA ESCRITA O desenvolvimento da escrita, como sendo uma representação
simbólica da linguagem falada foi um processo, que foi sendo feito de uma forma
gradual, não era mais que um aglomerado de imagens que ajudavam a criar os
registos visuais das transações comerciais da altura.
Mas, com o passar do tempo, essas imagens foram sendo
simplificadas para a forma de símbolos.
"(...) Costuma-se chamar de pictográfica a escrita que representa
figuras, enquanto em um nível maior de abstração, a escrita ideográfica
representa objetos e ideias. Escritas como os hieróglifos egípcios, os caracteres
cuneiformes da Mesopotâmia e os ideogramas chineses são ideográficas, ainda
quando passaram por etapas anteriores de registros pictográfico, mais presas à
imagem. Já as escritas fonéticas decompõem as palavras em unidades
37
sonoras... A escrita fonética ainda pode ser silábica ou alfabética (...)".
(ARANHA, 2006, p.43).
De acordo com alguns historiadores, a escrita é o que distingue a
sociedade pré-histórica das sociedades históricas. Acredita-se que a escrita
tenha sido inventada na região da Antiga Mesopotâmia, por volta de 3.000 a. C.,
embora outras formas de escrita tenham sido criadas de modo independente em
diferentes regiões do mundo.
Há diversos mitos em relação à criação da escrita. Os povos antigos
deram tanta importância à escrita que chegaram a atribuir sua invenção a um ser
divino ou mítico, o que era muito comum à época. Para os egípcios, por exemplo,
ela teria sido criada pelo deus Thot, enquanto para os chineses o responsável
por sua criação teria sido um funcionário do lendário Imperador Amarelo.
De uma maneira ou de outra, no tempo em que o homem vivia em
pequenas aldeias, ele conseguia guardar na memória o nome de pessoas que
faziam parte de seu grupo, a quem pertenciam cada rebanho, bem como a
quantidade de grãos colhidos por cada família. No entanto, quando os grandes
impérios se formaram, tornou-se muito necessário que houvesse um sistema que
não dependesse propriamente da memória. Além disso, um novo sistema que
preservasse o maior número de informações que interessavam não somente ao
rei, mas também aos súditos. Impostos valores e transações comerciais
passaram a ser registrados. Por isso é que a escrita surgiu, para atender às
novas necessidades desse novo homem.
Tão logo um sistema de escrita tenha surgido, outros assuntos
também começaram a ser registrados, por escrito. Apareceram, assim, os
primeiros livros sagrados, os códigos com as leis, os livros das várias áreas do
conhecimento e as obras literárias. A descoberta da escrita foi tão importante
que os historiadores situam o nascimento da História, tal como se conhece hoje,
a partir desse evento.
A escrita cuneiforme foi muito usada pelos sumérios, um dos povos
da Mesopotâmia. Ela consistia em linhas curvas e retas entalhadas em uma
placa de argila. Alguns signos representavam palavras e outros eram prefixos,
totalizando cerca de 2 mil signos.
Já o ideograma dos chineses formava palavras a partir de
combinações de 10 mil signos.
38
A hieroglífica egípcia eram sinais pictóricos que reproduziam objetos,
alguns deles representando palavras e outros, sons concretos. Os egípcios
utilizavam cerca de 700 signos diferentes.
"(...) A escrita, no entanto, difundiu-se muito mais no segundo milênio,
por volta de 1500 a.C. (data incerta), quando os fenícios inventaram a escrita
fonética alfabética, ou a aperfeiçoaram, não se sabe bem. O termo alfabeto,
inicialmente formado pelas primeiras letras fenícias Aleph e bet, é composto das
letras gregas alpha (α) e beta (β). Os 22 sinais permitem as mais diferentes
combinações, tornando bem mais práticos o uso e a aprendizagem da
escrita(...)". (ARANHA, 2006, p.43).
A invenção da escrita na Roma Antiga, em particular o alfabeto
romano, havia somente letras maiúsculas. Mas, na época em que começaram a
ser escritas em pergaminhos, com a ajuda de hastes de bambu ou de penas de
pato, ou até de outras aves, aconteceu uma modificação da sua forma original
e, posteriormente, acabou-se por criar um estilo de escrita chamada de uncial.
Este novo estilo, que durou até ao século VII, foi usado nas escrituras da Bíblia,
que ainda hoje se diz que foram lindamente escritas.
Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, criou
um estilo de alfabeto, atendendo ao pedido do imperador de então, Carlos
Magno. Mas, este novo estilo continha letras maiúsculas e minúsculas.
Assim, há medida que o tempo foi passando, esta forma de escrita,
passou por várias modificações, tornando-se mais complexa para a leitura. Mas,
chegados ao século VIIII, alguns dos eruditos italianos de então, que se sentiram
incomodados com este novo estilo, resolveram criar um estilo de escrita.
39
RESUMO
Nesta unidade você viu que:
A educação tradicionalista e conservadora tinha um cunho religioso e
sagrado, onde era ensinado nos lares, templos e espaços de ensino.
A primeira possibilidade de expressão escrita da humidade foi inventada na
Mesopotâmia, e tem o nome de escrita cuneiforme.
As principais sociedades da antiguidade oriental, que já possuíam uma cultura
letrada, foram os egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e persas.
1. Fale um pouco sobre cada sociedade citada do antigo oriente? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Relacione caráter religioso das primeiras sociedades e o tradicionalismo? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Podemos dizer que a invenção da escrita foi uma grande conquista da humanidade. Por que?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
40
Antiguidade Grega: A Paideia
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:
• Identificar a influência cultural que antiga Grécia exerceu sobre o
ocidente;
• Distinguir as especificações culturais e sociais dessa distinta civilização;
• Compreender a importância das instituições sociais responsáveis pela
educação na Grécia;
PLANO DE ESTUDOS A unidade 3 deste caderno está dividida em três tópicos de conteúdo.
Ao longo de cada um você encontrará resumos e atividades de fixação dos
conteúdos estudados.
TÓPICO 1 –CONTEXTO HISTÓRICO
TÓPICO 2 –A PAIDEIA
TÓPICO 3 –A PEDAGOGIA GREGA E SEUS PENSADORES
TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE
UNIDADE 03
41
1. CONTEXTO HISTÓRICO A Grécia antiga foi uma civilização surgida na denominada Península
do Peloponeso, que possui o istmo de Corinto, banhada pelo Mar Egeu, que
compõe o Mar Mediterrâneo. Sua história é didaticamente dividida em cinco
grandes períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico Clássico e Helenístico. Os
períodos têm grande relação com os escritos de Homero, autor de obras
clássicas da antiguidade, como a Ilíada e a Odisseia, em que são relatadas
histórias fabulosas, como a do cavalo de Troia.
A Península no Peloponeso foi habitada por populações denominadas
aqueus, jônios, dórios e eólios. Populações estas que estão na origem do povo
grego, que na antiguidade se organizava em cidade-estado, isto é, cidades que
possuíam autonomia administrativa. Dentre estas unidades político-
administrativas, duas se destacaram e organizaram dois tipos antagônicos de
sociedade: Atenas e Esparta.
A sociedade ateniense tinha como principal característica o
desenvolvimento cultural. Era formada por três classes sociais. Os escravos, os
cidadãos atenienses, além de um grupo de homens livres, mas sem direito à
cidadania, os metecos. Uma das principais questões que envolvem a sociedade
ateniense foi o desenvolvimento da democracia. Isto é, de uma forma de
organização política na qual os cidadãos possuem direitos iguais, a denominada
isonomia legal. O local no qual ocorriam os debates políticos em Atenas era
denominado Ágora. Nela, os denominados demagogos, isto é, os políticos
daquele período, utilizavam-se do talento retórico para poder defender suas
ideias e interesses. A palavra democracia é uma justaposição de duas palavras
gregas: demos, que quer dizer povo, e cracia, que significa governo (FUNARI,
2000).
A cultura clássica grega, que floresceu durante os séculos 5 e 4 a.C., exerceu uma tremenda influência sobre o Império Romano e estabeleceu a base para a cultura ocidental moderna.
42
Uma das principais formas de conseguir ter direitos políticos na
sociedade ateniense era a participação no exército. Este era organizado em
unidades militares que eram denominadas de falanges. Os guerreiros gregos
utilizavam um tipo de escudo chamado hoplom. Aqueles que detinham
condições financeiras para comprar este escudo poderiam ingressar nas fileiras
militares. Este ingresso possibilitava participar ativamente dos debates da Ágora,
ingressando assim no mundo da política ateniense. Todavia, a democracia na
Grécia possuía uma grande limitação, pois as mulheres eram excluídas do
debate político. O machismo era legitimado pelo fato de as mulheres não
ingressarem nas fileiras militares.
Enquanto Atenas seguia o modelo democrático de gestão do poder
político, sua vizinha Esparta seguia um modelo autocrático de relações sociais,
pois em Esparta tínhamos um exemplo de sociedade militarizada e
profundamente hierarquizada. Ela era formada por três categorias sociais: os
espartanos, que compunham o topo da pirâmide social, os periecos e hilotas,
duas outras classes sociais que compunham Esparta. A principal lei a reger a
vida em Esparta foi a constituição de Licurgo, que segundo alguns estudiosos,
teria durado seis séculos (FUNARI, 2000).
43
Duas guerras marcaram a história grega. As Guerras Médicas e a
Guerra do Peloponeso. Por Guerras Médicas ficaram conhecidas as disputas
entre os gregos e os persas pelo domínio da navegação em partes do Mar
Mediterrâneo.
Ela terminou com uma vitória grega, na Batalha Naval de Salamina,
que decretou uma hegemonia ateniense, o que possibilitou um imperialismo
grego em algumas regiões mediterrânicas. Por sua vez, a Guerra do Peloponeso
foi travada entre Esparta e Atenas. A guerra acabou por enfraquecer os dois
principais modelos de cidade-estado da antiguidade. Com um enfraquecimento
militar causado pela guerra interna, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a
península grega. Seu filho, Alexandre “O Grande”, que fora aluno do filósofo
Aristóteles, foi um dos principais líderes a expandir a cultura grega por diversos
locais em que Alexandre liderou a conquista militar. Assim, tivemos, com o
império de Alexandre, o denominado Período Helenístico.
A mitologia é um dos importantes elementos culturais para a
compreensão da mentalidade dos antigos habitantes da Grécia. Os gregos eram
politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. Estes, em geral, tinham
características antropomórficas, isto é, tinham os antigos deuses formas
humanas. Também eram os mesmos dotados dos mesmos sentimentos que os
homens possuem, como amor, ciúmes, inveja, raiva. Todavia, a grande diferença
é que os deuses gregos eram imortais. O local de morada era o Monte Olimpo,
no qual esses deuses eram cultuados. As cidades possuíam seus deuses
fundadores, como é o caso de Palas Atena, a fundadora de Atenas.
Os gregos se diziam descendentes do deus Heleno. Com relação à
vida após a morte, os gregos acreditavam que deveriam ter uma moeda após
morto para pagar o barqueiro Caronte, responsável pelo trajeto da alma morta
até o paraíso. Deste modo, colocavam nos olhos dos cadáveres duas moedas.
Assim, tinham os gregos uma relação diferente com a morte dos demais povos
que até aqui estudamos. Em especial, por separarem o corpo do espírito,
separação não presente entre os povos da antiguidade oriental (FUNARI, 2000).
Os principais deuses do panteão grego tinham características
específicas. Zeus era o deus dos deuses e Hera, a sua esposa, juntos moravam
44
no Olimpo com as demais divindades. Ares era o deus da guerra, que protegia
nas batalhas; Poseidon, o deus do mar; Hades, deus dos mortos e cemitérios;
Afrodite, a deusa da beleza, entre outros exemplos de deuses que poderiam ser
citados.
Além dos deuses, o imaginário da Grécia antiga era povoado pelas
musas: Calíope, da poesia; Clio, da História; Érato, do casamento; Euterpe, das
festividades; Melpômene, do canto e teatro; Polímnia, da retórica; Talia, da
comédia; Terpsícore, da dança; Urânia, da astronomia. Estas musas se
relacionavam a diferentes atividades, consideradas artes pelos antigos gregos.
Um dos principais festivais realizados pelos gregos eram as
Olimpíadas, quando eram cultuados os deuses em competições esportivas.
Também faziam parte do universo cultural grego algumas belas artes, com
destaque para o teatro e as esculturas. O Teatro de Dionísio (cultuado como o
deus do vinho) foi uma das principais casas de espetáculo, na qual se
destacavam as tragédias e comédias. Por sua vez, as esculturas gregas
possuíam características de grande beleza, ao buscar retratar o corpo humano
em toda a sua potencialidade estética. Como se poderá observar, a cultura grega
influenciou sobremaneira a sociedade romana.
45
2. A PAIDEIA É na Grécia que começa a "História da Educação" com sentido na
nossa realidade educativa atual. De facto, são os Gregos quem, pela primeira
vez, coloca a educação como problema. Já na literatura grega se vêm sinais de
questionamento do conceito, seja na poesia, seja na tragédia ou na comédia.
Mas é no século V a. C., com os Sofistas e depois com Sócrates, Platão,
Isócrates e Aristóteles que o conceito de educação alcança o estatuto de uma
questão filosófica. Exige-se algo mais da educação. Para além de formar o
homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada
na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente.
Surge então o modelo ideal de educação grega, que aparece como
Paidéia (nas suas origens e na sua acepção comum, indica o tipo de formação
da criança (pais), mais idôneo a fazê-lo crescer e tornar-se homem, assume
pouco a pouco nos filósofos o significado de formação, de perfeição espiritual,
ou seja, de formação do homem no seu mais alto valor. Portanto, podemos dizer
que a Paidéia, entendida ao modo grego, é a formação da perfeição humana.),
que tem como objetivo geral construir o homem como homem e cidadão. Platão
define Paidéia da seguinte maneira “(...) a essência de toda a verdadeira
educação ou Paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um
cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como
fundamento”.
É claro que os ideais educativos da Paideia que vão ser desenvolvidos
no século V a. C. se baseiam em práticas educativas muito anteriores. Como
sublinha Werner Jaeger, grande estudioso da cultura grega, num célebre estudo
46
justamente intitulado Paideia
"Não se pode utilizar a história da palavra Paideia como fio condutor
para estudar a origem da educação grega, porque esta palavra só aparece no
século V" (Jaeger, 1995: 25).
Inicialmente, a palavra Paideia (π α ι δ ε ι α), (de paidos - π α ι δ ο σ -
criança) significava simplesmente "criação dos meninos". Mas, como veremos,
este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais
tarde adquiriu.
ARETE: O conceito que originalmente exprime o ideal educativo grego é o de
arete (αρετε). Originalmente formulado e explicitado nos poemas homéricos, a
Os gregos antigos adoravam praticar atividades físicas — e costumavam fazer exercícios completamente nus.
47
arete é aí entendida como um atributo próprio da nobreza, um conjunto de
qualidades físicas, espirituais e morais tais como a bravura, a coragem, a força,
a destreza, a eloquência, a capacidade de persuasão, numa palavra, a
heroicidade.
KALOSKAGATHIA: O alargamento do ideal educativo de arete surgiu nos fins
da época arcaica, exprimindo-se então pela palavra kaloskagathia
(καλοσκαγατηια). Mas que honra e glória pretende-se então alcançar a
excelência física e moral. Os atributos que o homem deve procurar realizar são
a beleza (kalos - καλοσ) e a bondade (kagatos - καγατοσ).
Para alcançar este ideal é proposto um programa educativo que implica
dois elementos fundamentais: a ginástica para o desenvolvimento do corpo, e a
música (aliada à leitura e ao canto) para o desenvolvimento da alma. No fim da
época arcaica, este programa educativo completava-se com a gramática.
PAIDEIA: Mas, se até então o objetivo fundamental da educação era a
formação do homem individual como kaloskagathos, a partir do século V a. C.,
exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação
deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na
música e na gramática deixa de ser suficiente.
É então que o ideal educativo grego aparece como Paideia, formação
geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão. Platão
define Paideia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação
ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão
perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento"
(cit. in Jaeger, 1995: 147).
Do significado original da palavra Paideia como criação dos meninos, o
conceito alarga-se para, no século IV. a.C., adquirir a forma cristalizada e
definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grécia clássica.
Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de Paideia a "todas as
formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como
nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Daí que, para
traduzir o termo Paideia "não se possa evitar o emprego de expressões
48
modernas como civilização, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas
coincidindo, porém, com o que os Gregos entendiam por Paideia. Cada um
daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para
abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de
uma só vez." (Jaeger, 1995: 1).
Na sua abrangência, o conceito de Paideia não designa unicamente a
técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A
ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado
do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos
escolares. A Paideia vem por isso a significar "cultura entendida no sentido
perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente
desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem
tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).
3. A EDUCAÇÃO GREGA A educação na antiguidade clássica grega possuiu modelos
diferentes, e até contraditórios no tocante aos modelos educacionais elaborados
pelos membros deste mundo cultural greco-romano que estamos contemplando
nesta unidade. Assim, uma das principais diferenciações possíveis são os
modelos educacionais formulados em Atenas, em Esparta.
O modelo de educação espartana está em grande parte vinculado à
possibilidade do Estado em reger a vida dos indivíduos. Assim, uma inculcação
ideológica de grande monta era necessária para convencer os indivíduos de que
era a função de sua vida matar e morrer por Esparta. Tal possibilidade de forma
de organização da educação só é possível de ser compreendida se tivermos em
mente rígida e hierárquica a estrutura social que os espartanos vivenciaram
(JAEGER,1995).
Na Grécia Antiga, uma parte crucial da educação dos jovens abastados consistia em receber os ensinamentos de um mentor mais velho, o que, em determinados lugares e épocas, poderia envolver o relacionamento amoroso entre aluno e professor.
49
Por volta dos seis anos de idade, o menino espartano era retirado de
sua família, para que pudesse se transformar, na vida adulta, em um soldado
que servisse aos interesses do Estado espartano. Portanto, uma das primeiras
características que a educação forjava na mentalidade do futuro homem
espartano era a que o Estado como entidade é mais importante que a família,
pois não tínhamos meninos espartanos um contato prolongado com os seus
pais, mas, sim, com os instrutores militares, que buscavam transformar os
meninos em guerreiros.
A função de soldado era uma das principais a ser desenvolvida.
Assim, desde a infância, os meninos eram designados a atividades como longas
marchas, acampamentos, além de obviamente serem incentivados a atitudes
violentas, comas quais eram testados em suas capacidades belicosas. Um dos
principais ritos de passagem de um menino espartano, quando então ele
passava a ser considerado um homem, e não mais um menino, era assassinar
50
um hilotas, que era um habitante de Esparta, mas considerado de uma classe
social inferior.
As mulheres também recebiam uma educação em Esparta. No
entanto, o poder político e o maior investimento eram realizados em função dos
rapazes, pois os futuros homens teriam destaque social, ao liderar a polis
espartana. Todavia, no caso espartano, havia certa valorização da figura
feminina, pois como poderiam dar à luz a novos guerreiros, as mulheres eram
valorizadas pelo corpo social. Todavia, na vizinha Atenas, a mulher não recebia
nenhum tipo de valorização no corpo social.
A educação ateniense possuía como principal objetivo algo muito
distinto da educação espartana. Ela tinha a principal função de educar o membro
da polis, que vivia em um regime democrático. Assim, se pode compreender que
a educação entre os atenienses tinha a função de capacitar os indivíduos a
assumir funções públicas, desenvolvidas na praça pública, na Ágora, o local das
principais disputas políticas.
Dois filósofos gregos fundaram duas das instituições que nomeiam,
até o presente, instituições de ensino: O Liceu e a Academia. Platão está
relacionado à fundação da academia. Seu aluno e discípulo, Aristóteles, foi o
Na Antiga Grécia, a palavra “idiota” era utilizada em referência a qualquer indivíduo que não fosse político.
51
criador do Liceu. Mais que isto, Aristóteles fundou uma metodologia de ensino
denominada Peripatética. O termo provém da palavra peripatus, que em grego
quer dizer passeio. Deste modo, ao invés de manter os alunos trancados em
uma sala fechada, Aristóteles ensinava aos seus discípulos passeando pela
cidade, observando as diferenças e semelhanças entre os homens, como
também contemplando a natureza observando a multiplicidade da vida animal e
vegetal.
A educação antiga não era um sistema desenvolvido nem rigidamente
definido. Em geral, até aos sete anos, as crianças eram educadas no gineceu,
na companhia da mãe e das outras mulheres da casa. Depois dessa idade, as
moças continuavam em casa, onde aprendiam os trabalhos domésticos e
música.
Para os rapazes, entre os 07 e os 14 anos, embora não houvesse um
programa obrigatório, o ideal era que fossem ocupadas na prática da Ginástica
(γψµναστικ) e da Música (µουσικ).
Para além dos professores de ginástica ou paidotribés (παιδοτριβεσ)
e dos de música ou kitharistés (κιτηαριστεσ), no final do século V a.C. surge a
figura dos grammatistés (γραµµατιστεσ) para ensinar as crianças a escrever e a
ler. Todos estes professores eram contratados diretamente pela família o que
faz com que a educação que cada criança recebia dependesse diretamente da
vontade e da capacidade financeira da família. Nas palestras, os rapazes
aprendiam a ler, a escrever, a contar e a recitar de cor os poemas antigos
(principalmente Homero e Hesíodo), cuja tradição heroica encerrava um elevado
conteúdo moral. Estudavam música, aprendendo a tocar pelo menos a lira e
iniciavam-se nos exercícios atléticos. Os mais ricos tinham um escravo ao seu
serviço – pedagogo - que os acompanhava e, certamente paidós (criança) e
agodé (condução). A palavra grega Paidagogos é formada pela palavra paidós
(criança) e agogos (condutor). Portanto, pedagogo significa condutor de
crianças, aquele que ajuda a conduzir o ensino; os ajudava ou mesmo obrigava
a repetir as lições. Aproximadamente com 16 anos de idade, os rapazes ficavam
livres dos cuidados do pedagogo e interrompiam os estudos literários e musicais.
A educação da palestra era então substituída pela do ginásio. Aí
continuavam a cultivar a harmonia do corpo e do espírito. Diariamente, depois
52
da educação física, passeavam nos jardins do ginásio, dialogando com os mais
velhos e com eles aprendendo a sabedoria e a arte de discutir as ideias. Depois
dos 20 anos, o jovem tinha dois anos de preparação militar, finda a qual se
tornava cidadão. A educação moral do jovem grego resultava do contato direto
da criança com o pedagogo, do jovem com o ancião, do menino com o adulto.
Todos os mestres se uniam para dar à criança exemplo de dignidade de gestos
e de maneiras, de polidez e elegância na conduta, de respeito pelas leis da
cidade e pelos mais velhos. Eles ofereciam-se como modelos vivos dos quais as
crianças se deviam aproximar através da imitação consciente e inconsciente,
favorecida pela convivência constante.
O ideal da educação na Grécia pode ser resumido em uma máxima
denominada Mens sana in corpore sano, no qual se pode concluir que os
cuidados com a saúde e o bem-estar físico são tão importantes quanto o
desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Tal perspectiva foi também
importante para a educação romana.
Diversas descobertas realizadas por antigos matemáticos gregos, entre eles Pitágoras, Arquimedes e Euclides, continuam sendo ensinadas e em uso até hoje.
53
RESUMO Nesta unidade você viu que:
A sociedade grega era dividida em cidade-estado, sendo as duas mais
importantes Atenas e Esparta.
Atenas possuiu uma vida cultural intensa, enquanto Esparta era vinculada ao
militarismo.
A educação espartana tinha como função formar um soldado.
A educação ateniense tinha como função formar um cidadão.
1. Como podemos compreender as diferenças existentes entre os modelos educacionais espartano, ateniense e romano?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Disserte sobre PAIDEIA: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Com base na unidade, explique sobre a Grécia antiga: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
54
Antiguidade Romana: A Humanitas
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:
• Relacionar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação
ocidental;
• Apontar a principal característica da vida romana era a ampliação militar;
• Classificar a educação de Roma em três grandes períodos: Educação
latina, influência Grega e por fim greco-romana;
PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dos estudos
encontrará resumos e atividades de fixação dos conteúdos estudados, para que
você enriqueça seus conhecimentos, aprofunde e contextualize de forma mais
ampla seus estudos.
TÓPICO 1 –PRIMEIROS TEMPOS
TÓPICO 2 –O QUE É HUMANITAS
TÓPICO 3 –CARACRESTICAS GERAIS E LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE
UNIDADE 04
55
1. PRIMEIROS TEMPOS Roma foi fundada por algumas tribos latinas e sabinas, que foram
dominadas pelos invasores etruscos. Roma, em sua história, teve três grandes
períodos marcados por diferentes formas de legitimação das relações de poder.
Monarquia, a República e o Império. A monarquia foi substituída por uma forma
menos autoritária de poder, a Rex Publica (isto é, a “coisa pública”). No entanto,
o expansionismo militar gerou dificuldades administrativas, e uma das soluções
foi instituição do Império.
Uma das principais características da vida romana foi o
expansionismo militar. Este se iniciou como uma forma de aumentar a produção
agrícola, graças à ampliação das terras destinadas ao cultivo do trigo, das
oliveiras e das parreiras de uva, bases da produção de três dos principais
produtos da dieta romana: pão, azeite e vinho. Para tanto, se escravizavam as
populações dominadas pelos romanos através da guerra. O exército romano, um
implacável empreendimento militar, tinha como uma de suas principais
características a rígida disciplina. Ao contrário de Atenas, não necessariamente
a presença no exército garantiria direitos políticos, pois em 111 A.C., Mário
institui o soldo, isto é, o pagamento de salário aos militares.
Assim, o exército romano era organizado em legiões, que eram
organizadas em centúrias e decúrias, contando com um inovador sistema de
estradas que ligava a capital ao interior das possessões coloniais,
proporcionando uma contínua expansão de seus domínios, pela rápida
mobilidade de soldados que o sistema de estradas possibilitava. Uma máxima
afirmava que “todos os caminhos levam para Roma”.
As legiões romanas possibilitavam um aumento produtivo, ao ampliar
o número de escravos em Roma, que eram capturados dentre os prisioneiros de
guerra. Com uma grande quantidade de escravos, Roma chegou a ter centenas
de milhares de pessoas desocupadas, que eram entretidas com a denominada
Um dos principais clássicos da história do cinema de Hollywood foi o filme Spartacus. Dirigido por Stanley Kubrick, retrata a vida de um escravo romano, que se revoltaem relação à sua condição social, buscando a liberdade.
56
Política do Pão e Circo, em que a maior parte da população ociosa se dirigia ao
Coliseu, um grande estádio romano, no qual lutavam os gladiadores.
Aos poucos, os bárbaros foram invadindo as fronteiras do Império
Romano. Os principais grupos bárbaros, como os ostrogodos, visigodos e
vândalos, foram conquistando antigas possessões coloniais romanas. No século
IV, Roma foi conquistada completamente pelos bárbaros, sendo este um dos
fatos que marcaram o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média.
Assim como os gregos, os romanos também possuíam sua mitologia,
sendo ela muito próxima da mitologia dos gregos. O principal mito romano é o
da fundação da cidade imperial. Segundo uma antiga lenda, dois irmãos, Rômulo
e Remo, eram ainda bebês e foram criados por uma loba, que os amamentou.
Posteriormente, os dois foram os fundadores da principal cidade do mundo. Com
relação à proximidade com os gregos, a mitologia romana também possuía seus
deuses específicos para as distintas atividades humanas, em grande parte,
versão latinizada dos antigos deuses gregos. Vejamos alguns exemplos: Baco
(versão latina de Dionísio) era o deus do vinho; Marte (versão latina de Ares) era
o deus da guerra.
57
Apesar da presença destes deuses da mitologia, popularizados pelos
romances, pelo cinema e pela psicanálise, o principal culto cotidiano dos gregos
e romanos não era sobre estes “afamados” deuses da mitologia. A principal
forma de culto entre os gregos e romanos era o culto aos fogos nos lares. Para
ser considerada uma família e ter o status e prestígio social, advindo de ser
membro deum clã, deveria a casa ter um fogo que sempre era mantido aceso e
nunca deveria se apagar. Era o fogo que tinha como nome lar, responsável pelo
aquecimento da casa, como também estava presente nos rituais de casamento,
que simbolizava a continuidade do mesmo fogo em outro domicílio.
A sociedade greco-romana também teve em comum um mesmo
sistema produtivo, marcado pelo expansionismo militar e pela escravidão. Um
dado interessante é que em determinadas regiões do Império Romano não se
falava o latim, mas sim o grego, em especial na Ásia Menor. Isto explica por que
grande parte da Bíblia, em especial o Novo Testamento, foi escrito em grego,
mesmo fazendo parte do Império Romano. Com a cristianização do Império, em
395, quando o cristianismo deixou de ser perseguido, grandes alterações na
mentalidade ocidental ocorreram. Posteriormente, o Império Romano se dividiu
em duas partes. A região que falava latim viveu um processo de ruralização, e
Roma acabou se tornando a sede da Igreja Católica Apostólica Romana. Por sua
vez, Constantinopla se tornou a sede do Império Bizantino, sendo sede da Igreja
Católica Cristã Ortodoxa.
58
2. O QUE É HUMANITAS Nas sociedades escravistas de Roma e Grécia o trabalho manual é
desvalorizado, enquanto o intelectual constitui privilégio da aristocracia. Assim:
os educadores buscam formar o homem racional, capaz de pensar corretamente
e se expressar de forma convincente. (Modelo adequado à elite dirigente).
Enquanto na pedagogia grega há uma valorização da visão filosófica
sistematizada ou o predomínio da retórica, em Roma, a reflexão filosófica não
merece atenção de maneira sistemática, onde os romanos adotam uma postura
mais pragmática, voltada para o cotidiano, para a ação política e não para a
contemplação e teorização do mundo (Domínio da retórica sobre a filosofia).
O QUE É HUMANITAS Roma desenvolve a concepção de império formado de vários povos.
Não discrimina o vencido e ainda lhe confere o direito da cidadania romana, em
troca do pagamento de impostos.
Humanitas: cultura universalizada. Equivale à Paidéia, distingue-se
dela por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo
cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o homem, em todos os
tempos e lugares. Concepção que não se restringe ao ideal de homem sábio,
mas se estende à formação do homem virtuoso, como ser moral, político e
literário.
Degeneração do termo humanista = acontece com o tempo e
restringe-se ao estudo das letras e descuido das ciências.
PRINCIPAIS REPRESENTANTES A pedagogia em Roma está voltada para questões práticas. Surge por
volta do século I l.c. com Cícero, Sêneca e Quintiliano.
Catão, o antigo (234-149 a.C.): defende a tradição contra o início da
influência helênica e o retorno às raízes romanas.
Varrão (116-27 a.C.): representa a transição pela qual os romanos
terminam por aceitar a contribuição grega. Seu trabalho é prático. Escreveu uma
enciclopédia didática, em que discute o ensino de gramática e que serve de base
59
para trabalhos posteriores. Compôs sátiras, que orientam o jovem na virtude,
com máximas edificantes.
Cícero (106-43 a.C.): ampliou o vocabulário latino, apoiado na
experiência com o grego e na erudição. Valorizou a fundamentação filosófica do
discurso, o que o diferencia de seus conterrâneos, tornando-o um dos mais
claros representantes da Humanitas romana. Compreendia que a educação
integral do orador requer cultura geral, formação jurídica, aprendizagem da
argumentação filosófica, bem como o desenvolvimento de habilidades literárias
e até teatrais, igualmente importante para o exercício da persuasão. Cícero
chegou a ser um dos principais modelos dos pedagogos renascentistas.
Sêneca (4 a.C.–65): Vê a filosofia como um instrumento capaz de
orientar o homem para o bem viver. A filosofia teria a função de ensinar a
verdadeira vida humana, que não se confunde com o gozo dos prazeres, voltada
que está para o domínio das paixões, já que a felicidade consiste na
tranquilidade da alma. Por isso a educação deve ser prática e vivificada pelo
exemplo. Sêneca compreende que a educação prepara o homem para o ideal
de vida estoico: o domínio dos apetites pessoais. Enfatiza a formação moral e
dá menos importância à retórica. Ocupa-se da psicologia como instrumento para
a preservação da individualidade.
Plutarco (45 – 125): Reconhece a importância da música e da beleza
na educação, bem como a formação do caráter.
Quintiliano (35-95): Foi um dos mais respeitados pedagogos
romanos. Lecionou durante 20 anos na escola de retórica, fundada em Roma.
Distancia-se da filosofia, preferindo os aspectos técnicos da educação,
sobretudo da formação do orador. Valoriza a psicologia como instrumento para
conhecer a individualidade do aluno. Não se prende a discussões teóricas, mas
procura fazer observações técnicas i indicações práticas. Sugere, para iniciação
às letras, o ensino simultâneo da leitura e da escrita, criticando as formas
vigentes por dificultar a aprendizagem.
Recomenda alternar trabalho e recreação para que a atividade
escolar seja menos árdua e mais proveitosa.
Considera importante que a criança aprenda em grupo, por favorecer
a competição, de natureza altamente saudável e estimulante.
Recomenda a prática dos exercícios físicos, realizada sem exageros.
60
Valoriza a busca da clareza, a correção, a elegância e os clássicos
como Homero e Virgílio no estudo de gramática, reconhecendo os aspectos
estético, espiritual e ético.
Destaca a importância da instrução geral e dos exercícios que
tornarão a aprendizagem uma segunda natureza.
OUTRAS TENDÊNCIAS Com a desagregação do império romano:
O império do Oriente começa intensa vida cultural e religiosa, durante
todo o período subsequente. Constantinopla será o local da efervescência
intelectual, em que inúmeros copistas aperfeiçoam cuidadosas técnicas de
reprodução de obras clássicas.
Cresce a importância da educação cristã. Inicialmente restrito ao
âmbito doméstico, o cristianismo se expande e se torna religião oficial. Surgem
os teólogos, que adaptam os textos clássicos pagãos à verdade revelada.
EDUCAÇÃO Fases da educação romana:
1. Latina original, de natureza patriarcal;
2. Influência do helenismo criticada pelos defensores da tradição;
3. Fusão entre a cultura romana e a helenística.
A fusão das culturas romana e helenista estimulam o bilinguismo: as
crianças passam a aprender grego e latim.
Em todas as épocas permanecem alguns aspectos da antiga
educação: o papel da família, representado pela onipotência paterna (não
destituída de afeto); a ação efetiva da mulher (célebre tipo da “mãe romana”).
EDUCAÇÃO HERÓICO-PATRÍCIA Os aristocratas patrícios (proprietários e guerreiros) recebem uma
educação que visa perpetuar os valores da nobreza de sangue e cultuar os
ancestrais.
61
Na Antiguidade, a família não era nuclear como a nossa, mas extensa
(composta por pais, filhos solteiros e casados, escravos e clientes dos quais o
pater famílias é proprietário, juiz e chefe religioso).
Até os sete anos as crianças permanecem sob os cuidados da mãe
ou de outra matrona, “mulher especial”.
Depois dos sete anos, as meninas continuam no lar aprendendo os
serviços domésticos, enquanto o pai se encarrega pessoalmente do filho.
O menino acompanha o pai às festas e aos acontecimentos mais
importantes, ouve o relato das histórias dos heróis e dos antepassados, decora
a Lei das Doze Tábuas, desenvolvendo a sua consciência histórica e o
patriotismo.
O menino aprende a cuidar da terra, trabalho que coloca lado a lado
o senhor e o escravo. Aprende a ler, escrever e contar. Torna-se hábil no manejo
das armas, na natação, na luta e na equitação.
Aos 15 anos, o menino acompanha o pai ao foro, praça central onde
se faz o comércio e são tratados os assuntos públicos e privados, e em torno do
qual se erguem os principais monumentos da cidade, inclusive o tribunal, onde
aprende o civismo.
Aos 16 anos, o jovem é encaminhado para a função militar ou política.
(Educação voltado mais para a formação moral, que intelectual) à Aprendizagem
baseada na vivência cotidiana, entremeada de exemplos que reforçam a
importância da imitação de modelos representados pelo pai e pelos
antepassados.
EDUCAÇÃO COSMOPOLITA Roma republicana: desenvolvimento do comércio, enriquecimento de
uma camada de plebeus e início da expansão romana tornam mais complexa a
sociedade romana, exigindo outro modo de educar.
Século IV a.C: criação de escolas elementares particulares – escolas
do ludi (jogo, divertimento) magister (mestre), nas quais aprende-se
demoradamente a ler, escrever e contar, dos sete aos doze anos. Os mestres
eram pessoas simples e mal remuneradas. Para desempenhar seu ofício,
ajeitavam-se em qualquer espaço. As crianças escreviam com estiletes em
tabuinhas enceradas, aprendendo tudo de cor, ameaçados por castigos.
62
Com o contato com os povos helênicos, inúmeros professores gregos
ensinam a sua língua, dando início à formação bilíngue dos romanos.
Surgiram as escolas dos gramáticos, em que os jovens de 12 a 16
anos conheciam os clássicos gregos, ampliando seus conhecimentos literários.
Ao mesmo tempo estudavam geografia, aritmética, geometria e astronomia
(disciplinas reais). Iniciavam-se na arte de bem escrever e bem falar.
Surge um terceiro grau de educação (escola do retor = professor de
retórica), pois a retórica exigia o aprofundamento do conteúdo e da forma do
discurso. Diferentemente dos ludi magister e dos gramáticos, os retores eram
professores mais respeitados e bem remunerados.
AS ESCOLAS SUPERIORES: Desenvolveram-se no decorrer do século I a.C e cresceram durante o
Império.
Eram frequentadas pelos jovens da elite, que se destacavam na vida
pública e que, por isso, deveriam se preparar para as assembleias e tribunas.
Estudavam política, direito e filosofia, sem esquecer as disciplinas reais, próprios
de um saber enciclopédico.
A educação física mereceu a atenção dos romanos, mas com
características mais voltadas para as artes marciais.
EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO Aumenta a intervenção do Estado nos assuntos educacionais: uma
bem montada máquina burocrática para a administração do império requeria
funcionários com instrução elementar, pelo menos.
Notável procura por cursos de estenografia (taquigrafia) – sistema de
notação rápida. Recurso exigido cada vez mais na atividade dos notários (hoje
conhecidos como tabeliões, mas inicialmente eram apenas secretários
incumbidos de fazer anotações, ao acompanhar os magistrados e altos
funcionários).
Século I a.C: o Estado estimulou a criação de escolas municipais em
todo o Império. O próprio César concedeu o direito de cidadania aos mestres de
arte liberais.
63
Século I d.C.: Vespasiano libera de impostos os professores de ensino
médio e superior e institui o pagamento a alguns cursos de retórica, de que
beneficia o mestre Quintiliano. Trajano manda alimentar os estudantes pobres.
Outros importantes imperadores legislam sobre a exigência de as escolas
particulares pagarem com pontualidade os professores, definindo o montante a
lhes ser pago.
Juliano, no ano 362, oficializou toda a nomeação de professor pelo
Estado. Opunha-se à expansão do cristianismo e pretendia impedir a
contratação de professores cristãos, com essa medida. Outro destaque da época
do Império é o desenvolvimento do ensino terciário, com os cursos de filosofia e
retórica e a criação de cátedras de medicina, matemática, mecânica e escolas
de direito.
O papel histórico de Roma não foi criar uma nova civilização, mas
implantar e radicar solidamente no mundo mediterrâneo a civilização helenística,
pela qual ela mesma fora conquistada’. (MARROU apud ARANHA, 1996, p. 66).
Em todo o processo da evolução da História da Educação romana
esteve presente certa lentidão no processo de aprendizagem, levado a efeito
com métodos penosos de memorização, intercalados com castigos.
Na educação romana desvaloriza-se o trabalho manual, dando
continuidade à valorização da formação intelectual da elite dominante.
A pedagogia romana baseou-se na tendência essencialista: a função
da educação é realizar o que o “homem deve ser”. (Os modelos são importantes
para os antigos).
64
3. CARACRESTICAS GERAIS A educação em Roma é didaticamente definida em três grandes
períodos. A educação latina, termo pelo qual se designa a educação em um
período anterior à influência grega. Um segundo momento, no qual tivemos a
influência dos educadores trazidos da Grécia. E, por fim, o terceiro período, no
qual se denomina educação greco-romana, pois ocorreu uma síntese entre a
educação latina, já realizada, e a educação grega. Ao pensarmos a formação de
instituições na Roma antiga, podemos lembrar que existiram Escolas de
Retórica. Isto porque a formação de um tribuno, de um homem capaz de bem
falar no Senado, era uma das principais funções educacionais.
À guisa de conclusão, podemos pensar que a educação greco-
romana teve aspectos distintos, extremamente evoluídos, ao possibilitar o
desenvolvimento intelectual da humanidade, e ao mesmo tempo restritos, ao
excluir a maior parte da população, que era composta por escravos, assim como
as mulheres que também não eram educadas em sua maioria. A educação do
mundo greco-romano sofreu profundas alterações quando a sociedade ocidental
foi influenciada pela cultura judaico-cristã, com o período denominado Idade
Média.
LEITURA COMPLEMENTAR
Apesar da grande popularidade e da presença da mitologia, a Grécia
foi um dos primeiros locais do mundo no qual se desenvolveu um modo não
mitológico de estruturar o pensamento sobre a natureza e a sociedade. Por isso,
o destaque que devemos dar à presença da filosofia grega. A palavra filosofia
tem sua raiz etimológica (isto é, sua origem) em duas palavras gregas, Filos e
Sofia, que juntas podem ser traduzidas como “amante da sabedoria”. A ideia de
se cultuar o pensamento humano na busca de se tentar compreender a natureza
e a sociedade não apenas através dos mitos, como também através da
especulação, foi uma verdadeira revolução na forma de o ser humano conceber
a vida na Terra (JAEGER, 1995). Podemos citar vários nomes do pensamento
grego. Em geral, a filosofia grega antiga é dividida em dois períodos: socrático e
65
pré-socrático. Isto devido à importância da figura de Sócrates para o
desenvolvimento do pensamento grego.
Sócrates foi um cidadão ateniense amante do saber, e dono de uma
profunda capacidade de compreender a natureza humana e suas contradições.
Filho de uma parteira desenvolveu um método denominado maiêutica, cujo
principal intento é possibilitar aos seres humanos “dar luz a novas ideias!”.
Todavia, mesmo com a presença de vários personagens intelectuais,
os principais nomes da filosofia grega clássica são os de Sócrates (já citado),
Platão e Aristóteles. Platão foi discípulo de Sócrates, tendo sido o principal
divulgador das ideias de seu mestre. Suas ideias são consideradas relevantes
para o desenvolvimento da filosofia até o tempo presente. Seus principais livros
são A República e O Banquete. O livro A República é uma crítica à ação dos
demagogos, na Ágora.
Por demagogos podem ser considerados os políticos que possuem
bela retórica, porém, são construtores de um discurso vazio, sem ação prática
nas palavras que dizem. Por isso, Platão defendia a ideia de que apenas os
sábios deveriam ter cargos políticos. Uma de suas principais formulações é o
denominado mito da caverna (CHAUÍ, 1993).
O mito afirma que existia uma comunidade formada por pessoas que
viviam acorrentadas no interior de uma caverna e que enxergavam a realidade
66
através das sombras que uma parca iluminação projetava sobre uma parede da
caverna.
Próximo à caverna existiam algumas estátuas, que formavam as
principais sombras. Assim, as pessoas acorrentadas foram nomeando as
sombras observadas. Todavia, caso alguém conseguisse se desamarrar e sair
do interior da caverna veria que a realidade não era aquela que havia sido
ensinada. No entanto, ao voltar para a caverna, a probabilidade de as pessoas
acreditarem no que foi dito pelo homem que saiu da caverna era muito pequena,
sendo mais provável que os colegas ridicularizassem as afirmações do primeiro
homem a sair da caverna. Neste sentido, podemos pensar que estamos por
vezes acorrentados em uma caverna marcada pelas convenções que
aprendemos. Uma tarefa importante é tentarmos sair da caverna e nos libertar
das amarras que prendem nosso intelecto.
Além de Platão, Aristóteles também é rememorado como importante
filósofo. Ele foi o mestre de um dos principais líderes da história da antiguidade,
Alexandre “O Grande”. Suas capacidades intelectuais elevadas o fizeram ser
pioneiro em várias áreas do conhecimento humano. Uma delas foi a taxodermia,
isto é, a classificação dos diferentes seres vivos. Uma de suas principais obras
foi. A Política, na qual apontou uma polêmica ideia na qual existiam almas que
nasceram para serem livres, e outras que nasceram para a escravidão. Outros
livros nos quais apontou questões importantes foi em um conjunto de obras
denominado Metafísica, em que aponta questões sobre o estudo do ser.
67
Dentre as escolas filosóficas desenvolvidas na Grécia antiga, se
destacaram o estoicismo e o epicurismo. Por estoicismo se considera uma
escola filosófica fundada por Zenão de Cítio, e que teve em Sêneca um de seus
principais elaboradores. Em geral, afirmava que a resignação era uma das
principais características do sábio.
Os estoicos pregavam um controle das emoções. Por sua vez, o
epicurismo foi uma doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro. Em
geral, apontava a busca moderada pelos prazeres como um caminho para a paz
(CHAUÍ, 1993). Um dos nomes lembrados por ser um personagem especial no
interior da vida grega antiga é o de Diógenes. Teve como principal propósito viver
da forma mais simples possível. Morava nas ruas, tendo como único objeto uma
caneca. No entanto, ao ver uma criança bebendo água com auxílio direto das
mãos, resolveu jogar fora sua caneca. Outra feita ele foi observado pelas
pessoas andando à noite, com uma lanterna acesa na mão. Perguntado sobre o
que fazia, respondeu que estava à procura de um justo. Quando Alexandre “O
Grande” foi falar com Diógenes, lhe perguntou o que poderia fazer por ele. A
resposta de Diógenes foi simples e sincera, pedindo que ele saísse da frente de
seu banho de sol. A escola filosófica que Diógenes fundou ganhou o nome de
Escola Cínica.
Houve uma grande influência do pensamento grego na cultura
romana. Alguns dos professores gregos foram trazidos para Roma, com o intuito
de educar os filhos das famílias abastadas. Alguns destes mestres tiveram a
condição de escravos, porém, eram reconhecidos como importantes para as
famílias em que trabalhavam.
Dentre os educadores romanos, um teve grande destaque na história
da pedagogia; Quintiliano. Ele foi professor durante mais de 20 anos na escola
de retórica em Roma, como também defendeu princípios importantes para o
desenvolvimento dos seus educandos. Em especial, por defender que leitura e
escrita deveriam ser aprendidas de maneira conjunta, além de defender a
presença de exercícios físicos para os educandos.
Com relação à vida intelectual romana, uma das funções mais
valorizadas era a capacidade de oratória. Isto porque a maior parcela dos
patrícios e demais homens de poder eram membros do Senado, importante
instituição que tinha poder de comando nas questões políticas. Dentre os
68
oradores romanos, um dos mais destacados foi Cícero, um nome
constantemente lembrado no que tange à capacidade oratória. Outros
intelectuais romanos importantes foram Ovídio e Plotino. Ovídio foi autor de um
livro sobre o amor romântico entre homens e mulheres, denominado A Arte de
Amar. Outro intelectual importante para o desenvolvimento da filosofia ocidental
foi Plotino, ao recuperar as ideias de Platão.
Tanto na Grécia quanto em Roma, se desenvolveu a História
enquanto disciplina do conhecimento humano. Heródoto de Halicarnasso foi o
primeiro a utilizar o conceito, em um livro de título História. Plutarco, por sua vez,
foi autor de um dos mais importantes textos históricos da Antiguidade, o livro
História da Guerra do Peloponeso. Em Roma, foi destaque Caio Suetônio, autor
do livro “A Vida dos Doze Césares”.
69
RESUMO Nesta unidade você viu que:
Roma formou um dos principais impérios da antiguidade.
A educação em Roma tinha como uma das principais funções formar um bom
orador.
A filosofia se desenvolveu na Grécia antiga, cujos principais destaques foram
Sócrates, Platão e Aristóteles.
A educação romana tem destaques inicialmente rural, militar e rude.
1. Comente sobre a fusão entre a cultura romana e a helenística? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. O que é Humanitas? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Conforme a leitura complementar explique sobre o mito da caverna? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
70
CONCLUSÃO
A educação é um processo inerente a todas as sociedades humanas.
Poderíamos até discutir se entre os animais, ou alguns deles, não existem
procedimentos semelhantes que impliquem o desenvolvimento de
potencialidades, em interação com outros indivíduos da espécie — uma espécie
de aprendizagem. Durante muito tempo postulou-se uma diferença radical entre
o homem e o animal, mas hoje todas as evidências apontam para um
“continuumenvolvendo” todas as formas de vida. É isso que me leva a pensar
que provavelmente é possível encontrar em algumas espécies animais formas
de adaptação ao meio que resultam mais de algum tipo de aprendizagem do que
da hereditariedade.
Mas se, em relação aos animais, a educação é uma mera hipótese, em
relação ao homem é um facto incontestável e incontestado. Em qualquer tempo
e lugar, onde quer que haja um grupo humano, encontramos procedimentos de
formação tendentes a transmitir às jovens gerações valores, saberes, aptidões,
testados e aprovados. Esses valores, saberes e aptidões caracterizam e,
portanto, distinguem essas diferentes culturas.
Durante muito tempo a integração dos jovens no modo de ser e estar da
sua sociedade fez-se por "impregnação": era nos contatos diários no âmbito da
família — família alargada, naturalmente — e de grupos sociais mais vastos que
a criança ia absorvendo os elementos da cultura do seu grupo. É de crer que
não houvesse nesse processo uma intencionalidade consciente, como não a há
ainda hoje na maioria desses contatos sociais: isto é, cada um de nós, nas
interações quotidianas, está a fazer educação, sem que disso se aperceba. O
mesmo acontecia nessas sociedades ditas primitivas. Isso não impedia que
houvesse uma rígida demarcação entre o estatuto de adulto e o de criança. A
passagem de um a outro estatuto era determinada pelo ritmo da maturação
biológica, ou seja, pelo aparecimento dos caracteres sexuais externos e a
capacidade de reprodução. Essa transição era marcada por ritos de iniciação,
geralmente precedidos ou acompanhados por um processo educativo especial
71
— formal, portanto — tendente a apetrechar o jovem com os saberes
necessários à vida adulta e à total integração na sociedade.
Essa educação "primitiva" incidia sobre o saber (conhecimentos), o fazer
(aptidões técnicas), o ser (valores) e o estar (reconhecer a sua posição na
sociedade e agir em conformidade com ela). Tudo isso, como disse, como que
absorvido naturalmente por impregnação. Naturalmente também, uma educação
deste tipo era essencialmente conservadora: por mais informal e não intencional
que fosse, visava transmitir aos novos o modo de ser e estar, a visão do mundo,
dos mais velhos; não havia aí espaço para a inovação, a originalidade, a
criatividade pessoal, embora ela se manifestasse, apesar disso. Estou
convencido que é isso que explica, em grande parte, o ritmo extraordinariamente
lento, se comparado com o atual, das transformações culturais e sociais.
Essa educação informal por impregnação exercia-se de igual modo em
todos os estratos sociais: o que variava eram os conteúdos, não os métodos. No
entanto, a complexidade crescente das sociedades impôs a certa altura a
necessidade de uma educação formal para a aquisição de aptidões de natureza
intelectual (leitura e escrita, por exemplo, ou a arte de argumentar nas
sociedades em que o discurso passou a ser importante na conquista do poder)
ou saberes especializados (de natureza mágica, religiosa ou outra). Surge então
aquilo a que podemos chamar as primeiras escolas. Encontramos então os
sofistas exercendo o magistério na Grécia e os círculos de estudos em torno de
filósofos como Platão e Aristóteles. Essa tradição "escolar" tem continuidade no
império romano e organiza-se de forma mais sistemática durante a Idade Média.
Obviamente essa educação formal restringia-se aos membros das
classes elevadas, a quem o estatuto social permitia, por um lado, o ócio
intelectual e os recursos necessários (Quem disse que a educação era barata?)
e, por outro lado, exigia uma formação diferenciada e adequada ao exercício das
funções de mando.
Na idade média a nobreza dispensa durante muito tempo uma formação
intelectual cuidada: basta-lhe o adestramento militar e o saber estar de quem
está no topo da pirâmide social. Essa formação intelectual passa a ser apanágio
do clero. É a eles que compete a direção espiritual da Cristandade, o que exige
72
alguma preparação de natureza teológica, bem precária por vezes; por outro
lado, torna-se cada vez mais necessária a aprendizagem do latim, a língua do
culto, dado que as línguas vulgares se vão progressivamente afastando da
matriz latina. E com a língua, sabemo-lo bem, vem a cultura, no caso a cultura
greco-romana, profundamente cristianizada é certo, mas mesmo assim uma
cultura "superior", que mais não seja porque apanágio de uma minoria.
Alguns saberes especializados, a medicina sobretudo, ter-se-ão
transmitido durante séculos de forma menos institucional, certamente pelo
processo de transferência de mestre a discípulo. Essa arte de combater os males
do corpo não se distinguia, para o homem vulgar, das práticas mágicas; a
distinção entre médicos e feiticeiros deveria ser muito difícil de estabelecer
nesses tempos pré-científicos. Daí que a prática da medicina estivesse
sobretudo entregue a judeus e árabes, a quem os constrangimentos da teologia
cristã não afetavam. Só por volta do século XII, com a criação das universidades,
esse saber se institucionalizou.
Depois foi aquilo que sabemos: o desenvolvimento contínuo, sistemático,
abrangente da educação formal. Quase exclusiva dos clérigos na Idade Média,
estendeu-se aos filhos da burguesia e à aristocracia, logo a seguir. Durante
alguns séculos mais permaneceu um exclusivo das classes privilegiadas. Só na
segunda metade do século XIX a ideia da escolaridade universal começou a
vingar, primeiro em França, e depois nos restantes países desenvolvidos. No
entanto, foi preciso chegar à segunda metade do nosso século para que a
escolaridade obrigatória se generalizasse.
Paralelamente a essa generalização, verificou-se uma progressiva
absorção de saberes, de tal modo que hoje, teoricamente, é praticamente
impossível saber seja o que for sem passar pelos bancos da escola. Quer se
trate de uma formação geral necessária à compreensão do mundo envolvente,
quer de uma mais especializada para o exercício de múltiplas atividades
profissionais, a aprendizagem escolar é imprescindível. E não podia ser de outro
modo. Em 25 séculos que tem provavelmente a instituição escolar, os saberes
especializados desenvolveram-se de tal modo que é praticamente impossível
construir uma imagem atualizada do mundo sem a intervenção da escola. E é
discutível que a própria escola o consiga.
73
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo:
Moderna,1996.
• ARANHA, M. L. História da educação e da pedagogia. 3. ed. São Paulo:
Moderna,2006.
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São Paulo:
Moderna, 1996.
• ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda história: história
geral e do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 13. ed. 2007.
• ASSUNÇÃO, Paulo; PAIVA, José Maria; BITTAR Marisa (Orgs.).
Educação, história e cultura no Brasil Colônia. São Paulo: Arké, 2007.
• BRAIDWOOD, Robert John. Homens Pré-Históricos. Brasília: UNB,
1988.
• CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.
• CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o estado. São Paulo: Cosac-
Nayf, 2003.
• COHN, Gabriel (Org.). Max Weber. 7. ed. São Paulo, Ática, 2008.
• JAEGER, Werner. PAIDEIA. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
• MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 3 ed. São Paulo. Cortez. 2010.
• TERRA, Márcia de Lima Elias. História da Educação/Biblioteca Universitária Pearson. - São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2014.
74
CONCLUSÃO Para a elaboração do Plano de Ensino todos os professores precisam ter
conhecimento sobre os métodos, principalmente o da concepção. Nenhum
método é cem por cento eficaz, no entanto, o desconhecimento dos mesmos
deixa o professor desorientado para a realização de seu trabalho. Após a
elaboração deste trabalho conclui-se a necessidade de que o
educador/professor, elabore o Plano de Ensino, faça uso como uma ferramenta
de apoio e como um instrumento para seu trabalho.