O amor e um cao dos diabos charles bukowski

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ParaCarl Weissner

1mais uma criatura atordoada pelo

amor

Sandra

é a alta e magra donzela do quartode brincos

coberta por um longo vestido

está sempre alta em sapatos desalto espírito

boletastrago

Sandra se inclina em sua cadeirainclina-se em direção a Glendale

aguardo que sua cabeça bata na

maçaneta do guarda-roupa

enquanto ela tenta acenderum novo cigarro num outro já

quaseconsumido

aos 32 ela gosta de jovens limposimaculadoscom rostos semelhantes ao fundo

de pires recém-compradosdepois de se vangloriar a não mais

poder acabou me trazendo seusprêmios para que eu desse umaolhada: garotos nulos, loiros esilenciosos que

a) sentamb) levantamc) falam

ao seu comando

às vezes ela traz um às vezes doisàs vezes trêspara que eu osveja

Sandra fica muito bem em vestidos

longos Sandra pode partirprovavelmente o coração de umhomem

espero que ela encontre um.

você

você é uma fera, ela disse suaenorme barriga branca e seuspés cabeludos.

você jamais corta as unhas e temmãos gordas

como as patas de um gato seu narizvermelho e brilhante e osmaiores bagos que eu já vi.

você lança esperma como umabaleia lança água pelo buracodas costas.

fera, fera, fera,

ela me beijou,o que você quer para o café da

manhã?

a deusa de um metro e oitenta

sou grandesuponho que é por isso que minhas

mulheres sempre [parecempequenas

mas essa deusa de um metro eoitenta que negocia imóveis earte

e que voa do Texas para me vere eu voo ao Texaspara vê-la –bem, há nela o suficiente para ser

agarradoe eu me agarro todo nela,puxo-lhe a cabeça para trás pelos

cabelos, sou macho de verdade,

chupo-lhe o lábio superior suaxoxota

sua almamonto sobre ela e lhe digo, “vou

lançar suco quente e brancodentro de você. não voei desdeGalveston para jogar xadrez”.

depois nos deitamos enlaçadoscomo vinhas humanas meubraço esquerdo debaixo de seutravesseiro meu braço direitosobre o lado de seu corpoaferro-me às suas mãos, e meupeito

barriga

bolaspauenroscam-se nelae através de nósno escuropassam raiospra lá e pra cápra lá e pra cáaté que eu desfaleça e nós

durmamos.

ela é selvagemmas dócilminha deusa de um metro e oitenta

faz-me rira risada do mutilado que ainda

precisa de amor,

e seus olhos abençoados fluempara o fundo de sua cabeçacomo nascentes na montanha aolonge

nascentesfrescas e boas.

ela me resguardoude tudo o que não está aqui.

já vi mendigos demais com osolhos vidrados bebendo vinho

barato debaixo da ponte

você se senta comigo no sofánesta noitenova mulher.

você já viu osdocumentáriossobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

e agora me pergunto que animalentre nós dois

devoraráprimeiro o outro física epor fimespiritualmente?

nós consumimos animais e entãoum de nós consome o outro,meu amor.

enquanto issoprefiro que você vá primeiro e do

primeiro jeitose os gráficos de performance

passadas significarem algumacoisa eu certamente irei primeiroe do último jeito.

gostosa e sexy

“sabe”, ela disse, “você estava nobar e por isso não pôde ver maseu dancei com aquele cara.

nós dançamos juntos sem parar.mas não fui para casa com ele

porque ele sabia que eu estavacom você.”

“valeu mesmo,” eu disse.

ela estava sempre pensando em

sexo.levava isso sempre consigo como

algo embrulhado num saco depapel.

quanta energia.ela começava por qualquer homem

disponível nos cafés da manhãentre ovos e bacon ou maistarde entre um sanduíche noalmoço ou um bife no jantar.

“moldei meu modo de ser inspiradaem Marilyn Monroe,”

[ela me disse.

“ela está sempre fugindo paraalguma discoteca local paradançar com algum otário,” umamigo certa vez me contou,“estou surpreso que vocêcontinue com ela depois de tudoo que já aconteceu.”

ela desaparecia nas corridaspara depois surgir e dizer“três caras se ofereceram para me

pagar um drinque”.

ou então eu a perdia noestacionamento e a procurava eela

estava caminhando com umestranho.

“bem, ele veio desta direçãoeu vim daquela e nósmeio que caminhamos juntos. nãoqueria ferir os sentimentos dele.”

ela disse que eu era um homemmuito ciumento.

um dia ela apenassubmergiuem seus órgãos sexuaise desapareceu.

era como um despertadorcaindo dentro do Grand Canyon.bateu e chocalhou etocou e tocou

mas eu não pude maisvê-la nem ouvi-la.

me sinto bem melhoragora.dediquei-me ao sapateadoe agora visto um chapéu de feltro

preto levemente inclinadosobre o olhodireito.

a música suave

vence o amor porque nela não háferidas: pela manhãa mulher liga o rádio, Brahms ou

Ives ou Stravinsky ou Mozart.ferve os

ovos contando em voz alta ossegundos: 56, 57, 58... descascaos ovos, os traz para mim nacama. depois do café da manhãé a mesma cadeira e ouvir amúsica

clássica. A mulher está no seuprimeiro copo de scotch e no seuterceiro cigarro. digo-lhe quepreciso ir ao hipódromo. ela

está aqui há 2 noites e 2 dias.“quando voltarei a vê-la?”pergunto. ela

sugere que fique a meu critério.aceno com a cabeça e Mozart toca.

entorpeça seu rabo e seucérebro e seu coração...

eu estava saindo de um caso quehavia terminado mal.

francamente, eu deslizava emdireção ao fundo do poçosentindo-me realmentedesprezível e acabado quandotive sorte com essa dama emsua enorme cama coberta porum dossel enfeitado de joiasmais

vinho, champanhe, cigarros, boletase tevê a cores.

ficamos na cama e

bebemos vinho, champanhe,fumamos, detonamos as[boletas às dúzias

enquanto eu (sentindo-medesprezível e acabado) tentavasuperar o caso que haviaterminado mal.

assistia à tevê tentando embotarmeus sentidos, mas a coisa querealmente ajudou

foi esse drama muito longo(especialmente escrito para a

televisão) sobre espiões...espiões americanos e espiões

russos, e todos eram tãoespertos e

bacanas...

até mesmo seus filhos não sabiamsuas esposas não sabiam, ede certo modoeles mesmos quase não sabiam...e logo vieram os contraespiões, os

agentes duplos: caras quetrabalhavam para os dois lados,e e então um deles passou deagente duplo a agente triplo,

e tudo se tornou agradavelmenteconfuso...

acho que nem o cara que tinhaescrito o roteiro sabia o queestava acontecendo...

aquilo seguiu por horas!hidroplanos se chocando contra

icebergs, um padre em Madison,

Wisc. matou seu irmão, umbloco de gelo foi despachadonum cofre para o Peru no lugardo maior diamante do mundo, eloiras entravam e saíam dequartos comendo nozes e docesrecheados com creme; o agentetriplo passou a

agente quádruplo e todo mundoamava todo mundo

e eu segui vendo aquiloe as horas passaram ee tudo finalmente desapareceu

como um clipe de papel emmeio a uma cesta de lixo e eu

me aproximei do aparelho e odesliguei e pela primeira vez em

uma semana e meia dormi bem.

uma das mais quentes

ela usava uma peruca de um loiroplatinado e tinha a facecarregada de rouge e pó e nãoeconomizava no batom

traçando uma enorme boca pintadae seu pescoço era coberto derugas mas ainda tinha o rabo deuma garota e as pernas eramboas.

ela usava calcinhas azuis que eubaixei e ergui seu vestido, e àluz bruxuleante da TV

tomei-a de pé.enquanto nos digladiávamos ao

redor do quarto (estou fodendo

uma cova, pensei, trazendo osmortos de volta à vida,maravilhoso tão maravilhoso

como comer azeitonas geladas às 3da manhã com metade dacidade em chamas) gozei.

vocês podem ficar com suasvirgens, rapazes deem-mevelhas gostosas no alto de seussaltos com rabos queesqueceram de envelhecer.

claro, você tem que dar o fora

depois ou ficar muito bêbado

o que é a mesmacoisa.

bebemos vinho por horas e

assistimos tevê e quando fomospra cama

para dormirela não tirou os dentes da boca a

noite toda.

cinzas

peguei as cinzas dele, ela disse, eas lancei ao mar e as espalhei e

elas nem sequer pareciam cinzas eo que dava peso à urna eram os

seixos verdes e azuis...

ele não lhe deixou nem um centavode seus milhões?

nada, ela disse.

mesmo depois de todos aquelescafés da manhã e almoços ejantares ao lado dele? depois deter escutado toda a merda que

ele falava?

ele era um homem brilhante.

você sabe do que estou falando.

seja como for, eu fiquei com ascinzas. e você comeu minhasirmãs.

nunca comi suas irmãs.

comeu sim.

comi uma delas.

qual?

a lésbica, respondi, ela me pagou ojantar e as bebidas, não tivemuita escolha.

estou indo, ela disse.

não se esqueça do frasco.

ela entrou para buscá-lo.

sobra tão pouco de você, ela disse,que quando você morre e eles tequeimam precisam acrescentaruma porção de seixos verdes eazuis.

está bem, eu disse.

vejo você daqui a 6 meses! elagritou e bateu a porta.

bem, pensei, creio que para melivrar dela terei que comer aoutra irmã. caminhei até oquarto e comecei a dar umaolhada nos números de telefone.tudo o que eu [lembrava era queela vivia em San Mateo e tinhaum ótimo emprego.

foda

ela tirou o vestido por sobre acabeça

e eu vi a calcinhaum tanto enterrada em suas

carnes.

é simplesmente humano.agora teremos que fazê-lo.eu terei que fazê-lo depois de todo

esse logro.é como uma festa –dois idiotasnuma cilada.

debaixo dos lençóis depois que

apagueias luzessuas calcinhas ainda estavam ali.

ela esperava um númerointrodutório.

eu não podia culpá-la. mas sim meperguntar por que ela estava alicomigo? onde estão os outroscaras? como você pode se julgarsortudo tendo alguém queoutros abandonaram?

não precisávamos fazer aquilo

embora tivéssemos que fazê-loera algo como

renovar o créditocom o homem do imposto de renda.

tirei a calcinha.decidi não usara língua. ainda assim pensava no

momentoem que tudo estivesse terminado.

dormiremos juntosesta noitetentando nos acomodar entre os

papéis de parede.

tento, falho,reparo no cabelo em sua cabeçamais do que tudo reparo no cabelo

em sua

cabeçae de relance emsuas narinasde porquinho

tentonovamente.

eu

mulheres não sabem como amar,ela me disse.

você sabe como amar masmulheres só querem parasitar.

sei disso porque sou mulher.

hahaha, eu ri.

por isso não se preocupe por terterminado com Susan

porque ela apenas irá parasitaroutro homem.

falamos um pouco mais então eume despedi desliguei o telefonefui ao banheiro

e mandei uma boa merda decerveja basicamente pensando,bem, continuo vivo

e tenho a capacidade de expelirsobras do meu corpo.

e poemas.e enquanto isso acontecer serei

capaz de lidar com traiçãosolidãounhas encravadasgonorreiae o boletim econômico do caderno

de finanças.com issome levanteime limpeidei a descargae então pensei:é verdade:eu sei comoamar.

ergui minhas calças e caminheipara a outra peça.

outra cama

outra camaoutra mulher

mais cortinasoutro banheirooutra cozinha

outros olhosoutro cabelooutrospés e dedos.

todos à procura.a busca eterna.

você fica na camaela se veste para o trabalho e você

se pergunta o que aconteceu àúltima

e à outra antes dela...é tudo tão confortável – esse fazer

amoresse dormir juntosa suave delicadeza...

após ela partir você se levanta eusa o banheiro dela,

é tudo tão intimidante e estranho.você retorna para a cama e dorme

mais uma hora.

quando você vai embora é comtristeza mas você a veránovamente quer funcione, quernão.

você dirige até a praia e ficasentado em seu carro. é quasemeio-dia.

– outra cama, outras orelhas,outros brincos, outras bocas,outros chinelos, outros vestidos

cores, portas, números detelefone.

você foi, certa vez, suficientementeforte para viver sozinho.

para um homem beirando ossessenta você deveria ser maissensato.

você dá a partida no carro e engataa primeira, pensando, voutelefonar para Janie logo quechegar, não a vejo desde sexta-

feira.

encurralado

não dispa o meu amor você podeencontrar um manequim; nãodispa um manequim você podeencontrar o meu amor.

ela há muito tempo me esqueceu.

ela experimenta um novo chapéue parece mais coquetedo que nunca.

ela é uma

criançae um manequim eé a morte.

não tenho como odiar isso.

ela não faz nada fora do comum.

queria apenas que ela fizesse.

esta noite

“seus poemas sobre as garotasainda estarão por aí daqui a 50anos quando as garotas játiverem ido”, meu editor metelefona.

caro editor:parece que as garotas já se foram.

entendo o que o senhor dizmas me dê uma mulher

verdadeiramente viva nestanoite

cruzando o piso em minha direçãoe o senhor pode ficar com todos os

poemasos bonsos mausou qualquer outro que eu venha a

escrever depois deste.

entendo o que o senhor diz.

O senhor entende o que eu digo?

a escapada

escapar de uma viúva negra é ummilagre tão grande quanto aprópria arte.

que rede ela pode tecer enquanto oarrasta vagarosamente em suadireção ela irá abraçá-lo

depois, quando estiver satisfeita,ela o matará

ainda no mesmo abraçoe lhe sugará todo o sangue.

escapei de minha viúva negra

porque ela possuía machosdemais em sua rede

e enquanto ela abraçava um delese depois o outro e então aindaoutro

me liberteiretorneiao lugar onde estava

anteriormente.

ela sentirá minha falta – não demeu amor

mas do gosto do meu sangue, masela é boa, ela encontrará outrosangue;

ela é tão boa que quase sinto faltade minha morte, mas não osuficiente;

escapei. eu vejo as outras teias.

a furadeira

nosso livro de casamento, diz ali.dou uma olhada.eles duraram dez anos.foram jovens uma vez.agora eu durmo na cama dela.ele telefona:“quero minha furadeira de volta.deixe-a separada.pegarei as crianças às dez.”ao chegar ele espera do lado de

fora.as crianças vão comele.ela volta para a cama e eu estico

uma perna encosto-a nela.

eu também tinha sido jovem.as relações humanas simplesmente

não são duráveis.pensei nas mulheres que passaram

por minha vida.elas parecem inexistentes.

“ele levou a furadeira?” pergunto.

“sim, levou.”

me pergunto se um dia terei que

voltar para buscar minhabermuda e meu disco com agravação da Academy of St.Martin in the Fields? suponhoque sim.

texana

ela é do Texas e pesa 47 quilose para em frente ao espelho

penteando oceanos de cabelosruivos

que descem ao longo de todas suascostas até a bunda.

o cabelo é mágico e lança faíscasquando eu me deito na cama e avejo penteá-los.

ela parece uma criatura saída deum filme mas está aqui de fato.fazemos amor pelo menos umavez por dia e ela consegue mefazer rir sempre que deseja.

as mulheres do Texas são sempre

saudáveis, e além disso elalimpa meu refrigerador, minhapia, o banheiro, e faz comida e eme serve alimentos saudáveis elava os pratos

também.

“Hank”, ela me disse, segurandouma lata de suco de uva, “este éo melhor de todos”.

dizia na lata: suco natural de uvaROSA do Texas.

ela se parece com a Katherine

Hepburn na época

do ensino médio, e vejo esses 47quilos

penteando um metrode cabelo ruivodiante do espelhoe a sinto dentro de meus pulsos e

no fundo dos meus olhos, e osdedos e as pernas e a barriga asentem, assim como aquelaoutra parte, e toda Los Angelesse desfaz e chora decontentamento, as paredes dasalcovas tremem – o oceanoinvade tudo e ela se vira e mediz, “maldito cabelo!”

e eu digo,“sim”.

a aranha

então houve um tempo emNew Orleansem que eu vivia com uma gorda,

Marie, no Bairro Francêse fiquei bastante doente.enquanto ela estava no trabalho

ajoelhei-menaquela tardena cozinha erezei. não sou umhomem religiosomas era uma tarde escura demais e

eu rezei:“caro Deus: se você me poupar,

prometo-lhe nunca mais tomar

outro trago”.fiquei ali de joelhos e foi como

estar num filme – ao terminarminha oração

as nuvens se abriram e o sol rasgouas cortinas

e deitou sobre mim.então me ergui e fui dar uma

cagada.havia uma aranha enorme no

banheiro da Marie.mas caguei do mesmo jeito.uma hora depois comecei a me

sentir muito melhor. dei umavolta pelo bairro e sorri para aspessoas.

parei na mercearia e comprei uma

dúzia de cervejas para Marie.comecei a me sentir tão bem que

uma hora depois me sentei nacozinha e abri uma das cervejas.

esvaziei-a e depois outra e entãofui lá e

matei a aranha.quando Marie voltou do trabalho eu

lhe dei um beijo daqueles,depois sentei na cozinha econversamos enquanto elapreparava o jantar.

ela me perguntou o que eu tinhafeito naquele dia e eu lhe disseque tinha matado uma aranha.ela não ficou

braba. era uma boa

pessoa.

o fim de um breve caso

tentei fazer o negócio de pé dessavez.

normalmente não costumafuncionar.

dessa vez pareciaque...

ela seguia dizendo“ó, meu Deus, você tem pernas

lindas!”

tudo estava bematé que ela tirou ospés do chão

e enroscou suas pernas em voltados meus quadris.

“ó, meu Deus, você tem pernaslindas!”

ela pesava cerca de 63quilos e ficou ali presa enquanto eu

trabalhava.

foi só quando cheguei ao clímaxque senti a dor

correr espinhaacima.

deitei-a no sofáe caminhei ao redorda sala.a dor continuava.

“olha só”, eu lhe disse, “é melhorvocê ir. tenho que revelar unsfilmes na minha câmara escura.”

ela se vestiu e se foi e eu segui até

acozinha para um copod’água. peguei um copo cheio com

a mão esquerda.a dor correu para além de minhas

orelhas edeixei cair o copoque se espatifou no chão.

entrei numa banheira cheia de águaquente e sais Epsom.

recém tinha acabado de me esticarquando o telefone tocou.

ao tentar endireitarminhas costasa dor se estendeu por pescoço e

braços.caí pesadamenteme agarrei às bordas da banheira

consegui saircom raios verdes e amarelos e

luzes vermelhaslampejando em minha cabeça.

o telefone continuava tocando.atendi.“alô?”

“EU TE AMO!”, ela disse.

“obrigado”, eu disse.

“é tudo o que você tempra me dizer?”

“sim.”

“vá à merda!” ela disse edesligou.

o amor se esgota, penseiao caminhar de volta aobanheiro, mais rápidodo que um jato de esperma.

lamentando e sequeixando

ela escreve: você vai se lamentar ese queixar em seus poemas

sobre como eu trepei com 2 carasna semana passada.

eu te conheço.ela escreve para me dizer que meu

sensor estava certo – ela recémtinha trepado com um terceirocara mas ela sabe que nãoquero saber com quem, nem porque nem como. ela encerra suacarta, “com amor”.

ratos e baratastriunfaram novamente.aí vem ele correndo com uma

lesma em sua boca, entoandovelhas canções de amor.feche as janelaslamentefeche as portasqueixe-se.

um poema quase feito

eu vejo você bebendo numa fontecom suas

minúsculas mãos azuis, não, suasmãos não são minúsculas elassão pequenas e a fonte é naFrança

de onde você me escreveu aquelaúltima carta e

eu respondi e nunca mais obtiveretorno.

você costumava escrever poemasinsanos sobre

ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta,e você

conhecia artistas famosos e muitos

deleseram seus amantes, e eu escrevia

de volta, está tudo bem,vá em frente, entre na vida deles,

não sou ciumentoporque nós nem nos conhecemos.

estivemos perto uma [vez emNew Orleans, metade de uma

quadra, mas nunca nos[encontramos, nunca umcontato. assim você seguiu comos famosos, [escreveu

sobre os famosos, e, claro,descobriu que os famosos

estavam preocupados com a famadeles – não com a jovem e belagarota em suas camas, que lhes

dava aquilo, e [que acordava demanhã para escrever em caixaalta poemas sobre

ANJOS E DEUS. nós sabemos queDeus está morto, eles nos[disseram,

mas ao ouvi-la eu já não tinhacerteza. talvez

fosse a caixa alta. você era umadas melhores poetas e eu dissepara os editores, “publiquem-na,publiquem-na, [ela é louca masé mágica. não há mentira emseu fogo”. eu te amei

como um homem ama uma mulherque jamais tocou, [para

quem apenas

escreveu, de quem mantevealgumas fotografias. eu poderia[ter te

amado mais se eu tivesse sentadonuma pequena sala [enrolandoum cigarro e ouvindo você mijarno banheiro,

mas isso não aconteceu. suascartas ficaram mais tristes.

seus amantes te traíram. criança,escrevi de volta, todos osamantes traem. isso não ajudou.você disse

que tinha um banco em que iachorar e que ficava numa [ponte

e a ponte ficava sobre um rio evocê sentava no seu banco de

[chorartodas as noites e descia o pranto

pelos amantes quete machucaram e te esqueceram.

escrevi de volta mas não [obtivequalquer retorno. um amigo me

escreveu contando do seu[suicídio

3 ou 4 meses depois deconsumado. se eu tivesse te[conhecido

provavelmente teria sido injustocom você ou você comigo. foimesmo melhor assim.

blue cheese e chili

essas mulheres supostamentedeveriam aparecer e me ver

mas elas nuncavêm.há aquela com uma enorme cicatriz

ao longo da barriga.há a outra que escreve poemas e

liga às 3 da manhã, dizendo, “eute amo”.

há a que dança com uma jiboiae escreve a cada quatro semanas,

dizendo que virá.e a 4ª que alega dormir semprecom meu último livro debaixo dotravesseiro.

bato uma punheta no calor e escutoBrahms e como blue cheese comchili.

essas mulheres são boas de cabeçae de corpo, excelentes dentro oufora da cama, perigosas e fatais,é claro...

mas por que todas têm de viver láno norte?

sei que um dia elas irão chegar,mas duas ou três no mesmo dia,e vamos sentar e conversar eentão todas irão embora juntas.

um outro qualquer as terá e eucaminharei por aí em meu shortsurrado fumando cigarrosdemais e tentando extrair algumdrama

de nenhum progresso de fato.

problemasrelacionados à outramulher

eu tinha lançado todo meu charmesobre ela por algumas noites emum bar – não que nosso casofosse novo,

eu a amara por 16 mesesmas ela não queria ir até minha

casa “porque aquela outramulher tem andado por lá”, e eudisse, “tudo bem, tudo bem, oque vamos fazer?”

ela viera do norte e procurava porum lugar para ficar

enquanto estava hospedada comsua amiga, e foi até seu traileralugado e voltou com algunscobertores e disse, “vamos até oparque”.

eu lhe disse que ela estava loucaque os policiais iam nos pegar

mas ela respondeu “não, estáagradável e enevoado”, entãofomos para o parque

espalhamos o equipamento ecomeçamos a trabalhar e entãosurgiram luzes de faróis – umaradiopatrulha –

ela disse, “rápido, ponha suas

calças! eu já estou com asminhas!”

eu disse, “não posso. a minha estátoda enrolada.”

e eles vieram com lanternase perguntaram o que estávamos

fazendo e ela disse, “beijando!”um dos policiais me olhou edisse, “não posso culpá-lo”, edepois de alguma conversa fiadaeles nos deixaram em paz.

mas ainda assim ela não queria acama onde aquela mulher haviaestado,

então acabamos num quarto escurode motel suando e beijando etrabalhando

mas fazendo a coisa direitinho;depois, claro, de todo aquelesacrifício...

estávamos finalmente em minhacasa naquela tarde seguinte

fazendo a mesma coisa.

aqueles policiais não foram maus,apesar de tudo naquela noite noparque – e é a primeira vez queeu digo alguma coisa desse tiposobre policiais,

e,espero,que sejaa última.

M.T.[1]

ela morava em Galveston e faziaM.T.e eu fui visitá-la e fizemos amor

ininterruptamente ainda que otempo estivesse muito quente

e tomamos mescalinae uma balsa até a ilhae dirigimos 200 milhas até o

hipódromo mais próximo.nós dois ganhamos e fomos sentar

num bar de caipiras – odiado enão frequentado pelos nativos –e então fomos para um motelcaipira e voltamos um ou doisdias depois e fiquei por lá mais

uma semanapintei-lhe um par de quadros

decentes – um de um homemsendo enforcado

e outro de uma mulher sendofodida por um lobo.

acordei certa noite e ela não estavana cama e levantei e caminheiao redor perguntando, “Gloria,Gloria, onde você está?”

era um lugar enorme e eucaminhava a esmo abrindo portaatrás de porta,

então abri uma que parecia a deum closet e lá estava ela dejoelhos

cercada por fotografias de

7 ou 8 homensas cabeças raspadasem sua maioria usando óculos sem

armações.havia uma pequena vela acesae eu disse, “oh, me desculpe”.Gloria vestia um quimono com

águias em pleno voo na parte detrás.

fechei a porta e voltei para a cama.ela saiu 15 minutos depois.começamos a nos beijar,sua língua enorme deslizando para

dentro e para fora da [minhaboca.

ela era uma garota grande esaudável do Texas.

“escute, Gloria”, conseguifinalmente dizer, “preciso deuma noite de folga”.

no dia seguinte ela me levou até oaeroporto.

eu prometi escrever. Ela prometeuescrever.

nenhum de nós escreveu.

a 5ª do Bee

escutei-a pela primeira vezenquanto trepava com uma[loira que tinha a maior xoxotaem Scranton.

escutei-a novamente enquantoescrevia uma carta para minhamãe

pedindo US$ 5.000e ela me respondeu mandando 3

tampinhas de garrafa e osossinhos dos dedos indicadoresdo vovô.

a 5ª acabará com você na gramaou na pista do jóquei, a gatinhadisse, cruzando o tapete depapagaios estampados.

se a 5ª não te matar a décima irá,disse a prostituta Caliente.enquanto eles sobem a maravilhosa

bandeira vermelha cor deketchup 93 ladrões choram emmeio a poeira púrpura.

a 5ª é como uma

formiga numa mesa de café damanhã cheia de bengalas e

besourossugando osuco de laranja do amanhecer que

chega.

e eu peguei as 3 tampinhas queminha mãe

mandou eas devoreiembrulhadas em páginas darevistaCosmopolitan.

mas estou cansado da 5ªe eu disse isso a uma mulher emOhio, certa vez, eurecém havia carregado carvão por 3

lancesde escadaeu estava tonto ebêbado, e ela disse:

como você pode dizer que nãodá bola para algo muitomaior do que você jamaisserá?

e eu disse:

isso é fácil.

e ela se sentou em uma cadeiraverde e

e eu numa cadeira vermelhae depois dissonunca mais voltamos a fazeramor.

40 graus

ela cortou as unhas dos meus pésna noite passada, e pela manhãela disse, “acho que vou ficardeitada aqui pelo resto do dia”.

o que significava que ela não iriatrabalhar.

ela estava em meu apartamento –o que significava outro dia eoutra noite.

ela era uma pessoa legalmas recém havia me dito que

queria ter um filho, queria casar,e

fazia 40 graus lá fora.quando pensei em outra criança e

outro casamento comeceirealmente a passar mal.

havia me resignado a morrersozinho

em uma pequena peça...agora ela tentava remodelar meu

plano de mestre.além disso ela sempre batia a porta

do meu carro com [muita força ecomia com a cabeça pertodemais da mesa.

nesse dia havíamos ido ao correio,a uma loja de departamentos edepois a uma lancheria paraalmoçar.

já me sentia casado. na volta euquase entrei em um Cadillac.

“vamos encher a cara”, eu disse.“não, não”, ela respondeu, “é muito

cedo”.e então ela lacrou a porta do carro.continuava fazendo 40 graus.quando abri a caixa do correio

descobri que a companhia deseguros queria mais 76 pratas.

subitamente ela invadiu o quartocorrendo e gritou, “OLHA,ESTOU FICANDO VERMELHA!CHEIA DE MANCHAS! O QUEDEVO FAZER?”

“tome um banho”, eu lhe disse.fiz um interurbano para a

seguradora e exigi saber a razãodaquilo.

ela começou a gritar e a gemer láda banheira e eu não conseguiaouvir nada e disse, “um[momento, por favor!”

tapei o telefone com a mão e griteide volta para ela: “OLHA SÓ!ESTOU NUM INTERURBANO!SEGURE A [ONDA, PELO AMORDE DEUS!”

o pessoal da seguradora insistiaque eu lhes devia $76 e que meenviariam uma carta explicandopor quê.

desliguei e me estiquei na cama.eu já estava casado, me sentia

casado.ela saiu do banheiro e disse, “posso

me deitar ao seu lado?”e eu disse, “ok”em dez minutos sua cor tinha

voltado ao normal.tudo porque ela havia tomado um

comprimido de niacina[2].ela se lembrou de que isso

acontecia sempre.ficamos ali estirados suando:nervos. ninguém tem espírito

suficiente para superar os[nervos.

mas eu não podia dizer isso a ela.ela queria ter seu bebê.que caralho.

pacific telephone

vá atrás dessas piranhas, ela disse,vá atrás dessas putas, logoficará de saco cheio de mim.

não quero mais fazer esse tipo demerda, eu disse,

relaxe.

quando bebo, ela disse, sinto dorna minha bexiga, umaqueimação.

deixe a bebida comigo, eu disse.

você está só esperando o telefonetocar, ela disse,

você não para de olhar proaparelho.

se uma dessas piranhas ligar vocêsairá correndo porta afora.

não posso lhe prometer nada, eudisse.

então – simples assim – o telefonetocou.

aqui é a Madge, disse a voz. precisover você imediatamente.

oh, eu disse.

estou num aperto, ela continuou,preciso de dez pratas – rápido.

logo estarei aí, eu disse, edesliguei.

ela me olhou, era uma piranha,ela disse, o rosto todo em chamas.que diabos há com você?

escute, eu disse, tenho que ir.você fica aqui. já volto.

vou embora, ela disse. eu te amomas você é

louco, um caso perdido.

ela apanhou a bolsa e bateu aporta.

provavelmente é algum distúrbioprofundamente enraizado [nainfância que me faz assimvulnerável, pensei.

então saí de casa e fui até meufusca.

dirigi para o norte pela Western

com o rádio ligado.havia putas caminhando pra lá e

pra cádos dois lados da rua e Madge

pareciamais perdida do que qualquer uma

delas.

100 quilos

estávamos na cama eela começou a brigar:“seu filho da puta! espere um

minuto, vou acabar com a suaraça!”

comecei a rir:“qual é o problema? qual é o

problema?”

“seu filho da puta!” ela gritou.

segurei-lhe as mãos enquanto elase contorcia.

era um par de décadas mais jovemdo que eu uma maluca bem-alimentada.

ela era muito forte.

“seu filho da puta! vou acabar coma sua raça!”

ela gritou.

rolei por sobre ela com meus 100quilos e fiquei apenas ali.

“uugg, uuuu, meu Deus, isso não éjusto, uuuu, meu Deus!”

rolei para o lado e caminhei até aoutra peça e sentei no sofá.

“vou pegar você, cretino”, ela disse,

“você não perde por esperar!”

“só não o arranque com umamordida”, eu disse, “ou você[fará triste uma meia dúzia demulheres.”

ela subiu sobre a cabeceira daminha cama (que possuía umasuperfície plana emboraestreita) e ficou ali empoleiradaassistindo às notícias na tv.

a tv dava de frente para o quarto ea iluminava ali sentada sobre a

cabeceira.

“pensei que você fosse normal”, eudisse, “mas é tão louca quantoas outras todas.”

“fique quieto”, ela disse, “queroassistir ao noticiário!”

“olhe”, eu disse, “vou...”“SHHHH!”, ela disse.

e lá ficou sobre a cabeceira daminha cama assistindo

realmente às notícias. aceitei-adaquela maneira.

reviravolta

ela dirige para a vaga noestacionamento enquanto eu meescoro contra o para-choque demeu carro.

ela está bêbada e seus olhos estãomolhados de lágrimas: “seu filhoda puta, você trepou comigoquando não estava a fim. dissepra eu continuar ligando, dissepra eu me mudar pra perto dacidade, e então me disse pradeixar você em paz.”

tudo muito dramático e eugostando daquilo.

“claro, bem, o que você quer?”

“quero falar com você. quero ir prasua

casa e falar com você...”

“estou com alguém agora. ela foibuscar um sanduíche.”

“quero falar com você... demora umpouco pra superar as coisas.

preciso de mais tempo.”

“claro. espere até que ela saia. nãosomos desumanos. podemostomar um drinque juntos.”

“merda,” ela disse, “oh, merda!”

pulou dentro do carro e arrancou.

a outra apareceu: “quem eraaquela?”

“uma ex-amiga.”

agora ela se foi e estou aquisentado e bêbado e meus olhosparecem molhados de lágrimas.

está tudo muito silencioso e sintocomo se um arpão estivesseatravessado no meio das minhastripas.

caminho até o banheiro e vomito.

piedade, eu penso, será que a raçahumana não sabe nada sobrepiedade?

um poema para avelha dente-podre

conheço uma mulherque segue comprando quebra-

cabeças quebra-cabeçaschinesesblocosaramespeças que finalmente se encaixam

numa espécie de ordem.ela se dedica à questão de modo

matemáticoresolve todos os seus quebra-

cabeçasvive perto do mar

põe açúcar para as formigas lá forae acredita

definitivamentenum mundo melhor.seu cabelo é brancoraramente o penteiaseus dentes são podres e ela veste

macacões frouxos e amorfossobre um corpo que a maioriadas mulheres desejaria ter.

ao longo de muitos anos ela meirritou com o que eu consideravasuas excentricidades:

como mergulhar conchas na água(para que ao regar as plantaselas recebessem cálcio).

mas finalmente quando penso na

sua vidae a comparo a outras vidas mais

deslumbrantes, originais e belaspercebo que ela machucou menos

gente do que qualquer outrapessoa que conheço (e commachucar quero dizersimplesmente machucar).

ela enfrentou alguns momentosterríveis, momentos em quetalvez eu devesse tê-la ajudadomais

porque era a mãe da minha únicafilha

e uma vez fôramos grandesamantes, mas ela haviasuperado essas dificuldades

como eu dissedas pessoas que conheço ela foi a

que machucou menos gente,e se você olhar para isso pelo que

isso significa, bem,ela criou um mundo melhor.ela venceu.

Frances, este poema é pra você.

comunhão

cavalos correndo com ela a milhasde distância rindo com um

louco

Bach e a bomba de hidrogênio e elaa milhas de distância rindo comum

louco

o sistema bancário guinchos decarro gôndolas em Veneza e elaa milhas de distância rindo comum

louco

você nunca viu de fato uma escada

antes (cada degrau olhandoseparadamente para você) e dolado de fora o vendedor dejornais parecendo imortal

enquanto os carros passam debaixodo sol

como um inimigoe você se pergunta por que é tão

difícil enlouquecer – se é quevocê já não está louco

até agoravocê não tinha visto uma escada

que se parecesse com umaescada

uma maçaneta que se parecessecom uma maçaneta

e sons como esses sonse quando a aranha aparece e olha

pra vocêpor fimvocê já não a odeia por fimcom ela a milhas de distância rindo

com umlouco.

tentando acertar ascontas:

tínhamos fumado alguns baseadose tomado algumas cervejas e euestava estirado na cama e eladisse, “olha, eu fiz 3 abortos emsequência, não quero que vocêenfie essa coisa dentro de mim!”

o negócio começava a crescer e nósdois olhávamos para ele.

“ah, qual é”, eu disse, “minhanamorada trepou com 2 caras

diferentes esta semana e estoutentando acertar as contas.”

“não me envolva nessa sua merdadoméstica! o que quero quevocê faça agora é que TOQUEuma PUNHETA enquanto euASSISTO!

quero VER você bater até GOZAR!quero ver o SUCO jorrar!”

“ok aproxime seu rosto.”

ela o aproximou e dei uma cuspidana palma da mão e comecei atrabalhar.

ele cresceu. um pouco antes degozar eu parei, segurando-o pelabase puxando a pele,

a cabeça pulsandopúrpura e brilhante.

“oooh”, ela disse.lançou a boca sobre ele, chupou-o ese afastou.

“termine”, ela disse.“não!”

voltei a bater e então pareinovamente no último instante efiquei a balançá-lo ao redor doquarto.

ela o olhoucaiu outra vez sobre ele chupoue tirou da boca.

alternamos o processo

pra lá e pra cá

vez após vez.

finalmente eu a arranquei dacadeira

para a camarolei pra cima delameti pra dentrotrabalheitrabalheie gozei.

quando voltou dobanheiro ela disse,

“seu filho da puta, eu amo você,amo você há muito tempo.

quando eu voltar a Santa Barbaravou escrever pra você. Vivo comesse cara mas eu o

odeio, não faço a mais vaga ideiado que estou fazendo ao ladodele.”

“ok”, eu disse, “mas aproveitandoque você já está de pé, poderiame trazer um copo d’água?estou seco.”

ela seguiu até a cozinha ea ouvi reclamar quetodos os meus copos estavam

sujos.

disse a ela para usar umaxícara. ouvia água correndo epensei, mais uma fodae o jogo estará zeradoe poderei me apaixonar novamente

por minha namorada – isto ése ela não tiver se envolvido numafoda extrao que provavelmente elafez.

Chicago

“consegui,” ela disse, “apareci.”ela estava com botas novas, calças

e um suéter branco. “agora eusei o que eu quero.” ela era deChicago e havia se mudado parao distrito de Fairfax, L.A.

“você me prometeu champanhe,”ela disse.“eu estava bêbado quando liguei.

que tal uma cerveja?”“não, me passa seu baseado.”ela tragou, soltou:

“não é lá grande coisa”.e me devolveu.

“há uma diferença”, eu disse, “entrefazer a coisa e simplesmenteficar duro.”

“gosta das minhas botas?”“sim, bem legais.”“escuta, tenho que ir. posso usar o

banheiro?”“claro.”

quando ela voltou tinha a bocamuito pintada de batom. eu nãovia uma assim desde que eragaroto.

beijei-a a caminho da portasentindo o batom grudar emmeus lábios.

“tchau” ela disse.“tchau” eu disse.caminhou pela passagem até o

carro.eu fechei a porta.

ela sabia o que queria e não era

eu.conheço mais mulheres desse tipo

do que dequalquer outro.

garotas calmas elimpas em vestidos dealgodão

tudo o que eu sempre conhecisempre foram putas, [ex-prostitutas, loucas. vejo homenscom mulheres calmas e gentis –vejo-os nos supermercados,

caminhando juntos na rua,eu os vejo em seus apartamentos:

pessoas em paz, vivendo juntas.sei que essa paz é apenasparcial, mas

existe paz, muitas horas e dias de

paz.

tudo o que eu sempre conheciforam boleteiras, alcoólatras,putas, ex-prostitutas, loucas.

quando uma vaioutra vempior do que sua antecessora.

vejo tantos homens com garotas

calmas e limpas em vestidos dealgodão

garotas com rostos que não são depredadoras ou de feras.

“nunca traga uma puta junto comvocê,” eu digo para [meuspoucos amigos, “eu meapaixonarei por ela.”

“você não consegue suportar umaboa mulher, Bukowski.”

preciso de uma boa mulher. precisode uma boa mulher mais do queda máquina de escrever, maisdo que do meu automóvel, maisdo que de

Mozart; preciso tanto de uma boa

mulher que posso senti-la no ar,posso senti-la

na ponta dos dedos, posso vercalçadas construídas para seuspés caminharem,

posso ver travesseiros para suacabeça, posso sentir aexpectativa da minha risada,posso vê-la acariciar um gato,

posso vê-la dormir,posso ver seus chinelos no chão.

eu sei que ela existemas em que parte deste planeta

ela está enquanto as putascontinuam me encontrando?

provaremos as ilhas e o mar

sei que em alguma noiteem algum quartologomeus dedos abrirãocaminhoatravésde cabelos limpos emacios

canções como as que nenhumarádio

toca

toda a tristeza, escarnecendo

em correnteza.

2eu, e aquela velha: aflição

este poeta

estepoetaandoubebendodurante2ou3diaseeleentrounopalcoe

olhouparaaplateiaeimediatamentesoubequeiriafazeraquilo.haviaumpianodecauda

nopalcoeelefoiatélá,abriuatampaevomitoudentro.entãofechoua

tampaefezsualeitura.

elestiveramqueremoverascordasdopianoelimparo

interiorparaentãorecolocá-las.

possoentenderporquenuncavoltaramaconvidá-lo.mas

espalharparaoutrasuniversidadesqueeleeraumpoetaquegostavadevomitarempianosdecauda

nãofoijusto.

elesjamaisconsideraramaqualidadedesualeitura.conheçoessepoeta:ele

écomotodosnós:vomitaráemqualquerlugarpordinheiro.

inverno

um cachorro grande, sujo e feridoatingido por um carro ecaminhando em direção aomeio-fio emitindo enormes

sonsseu corpo curvadovermelho explodindo pelo cu e pela

boca.

olho para ele esigo em frentepois como seriapara mim segurarum cão moribundo junto a um

meio-fio em Arcadia, o sangueescorrendo por minha camisa ecalças e

cueca e meias e meussapatos? pareceria apenas uma

tolice.além disso, pus o olho no cavalo

número 2 no primeiro páreo equeria fazer uma dobradinhacom o número 9

no segundo. estudei o jornal parapagar algo em torno de $ 140

assim eu tinha que deixar aquelecachorro morrer ali sozinho bemdefronte ao

shopping center com as senhoras àprocura de pechinchas enquanto o

primeiro floco de neve caíasobre a

Sierra Madre.

o que eles querem

Vallejo escrevendo sobre solidãoenquanto morria de fome;

a orelha de Van Gogh rejeitada poruma puta;

Rimbaud correndo para a África embusca de ouro e encontrando umcaso incurável de sífilis;Beethoven ficou surdo; Pound foiarrastado pelas ruas numagaiola;

Chatterton tomou veneno pararato; o cérebro de Hemingwaypingando dentro do suco delaranja;

Pascal cortando os pulsos na

banheira; Artaud trancado comos loucos; Dostoiévski de pécontra um muro; Crane pulandona hélice de um barco; Lorcabaleado na estrada pelo exércitoespanhol;

Berryman pulando de uma ponte;Burroughs atirando na mulher;Mailer esfaqueando a sua; – éisso o que eles querem: odanado dum show uma placaluminosa

no meio do inferno.é isso o que eles querem, aquele

bando deestúpidosinarticulados

tranquilossegurosadmiradores decarnavais.

Iron Mike

falamos sobre este filme:Cagney servia uvasa uma mulhermais rápido do que ela conseguiacomer eentão ela seapaixonava por ele.

“isso nem semprefunciona”, digo a IronMike.

ele dá uma risadinha e diz,

“claro”.

então ele desceu a mãoe tocou seu cinto.32 escalpos de mulherestavam pendurados ali.

“eu e meu enorme cacetejudeu”, ele disse.

então ergue as mãospara indicar otamanho.

“opa, sim, muito bem”,

eu disse.

“elas aparecem”, eledisse, “eu as traço, elascomeçam a ficar, eu lhes digo,‘é hora de ir’.”

“você é corajoso, Mike.”

“essa aí não ia se mandar então eutive que me levantar eesbofeteá-la... ela foi embora.”

“eu não tenho sua fibra, Mike. elasficam, lavam os pratos,esfregam as manchas de merdano vaso, jogam fora os velhosprospectos do Jockey Club...”

“elas jamais vão me pegar”, eledisse.

“sou invencível.”

olhe, Mike, nenhum homem éinvencível.

algum diavão considerá-lo louco pelo olhar

como num desenho a lápis feitopor uma criança. você nãoconseguirá beber um copo

d’água ou cruzar um quarto. haveráas paredes e o som das ruas láfora, e você ouvirámetralhadoras e tiros demorteiro. isso se dará quandovocê quiser, mas não puder ter.

os dentesnunca são por fim os dentes do

amor.

guru

grande barba negra me diz que eunão sinto terror

olho pra ele minhas tripaschacoalham cascalho

vejo seus olhos voltados pra cimaele é fortetem unhas sujase penduradas nas paredes: armas

embainhadas.

ele sabe das coisas:livros as vantagens o melhor

caminho para casa

gosto dele mas creio que ele mente(não tenho certeza de que ele

mente)sua esposa se senta num canto

escuroquando a conheciera a mulhermaislindaque eu já tinhavisto

agora ela setornarasua gêmea

talvez não por culpa

dele:

talvez a coisanos faça a todosassim

no entanto, logo que deixei a casa

delessenti terror

a lua pareciadoente

minhas mãos escorregavam novolante

manobro meucarroe desço aladeira

quase batonumcarro azul-esverdeadoestacionado

enterre-me para sempre, Beatriz

poeta hesitante, hahaha

cão enjeitado do

terror.

os professores

sentado com os professoresfalamos sobre Allen Tate e JohnCrow Ransom os tapetes estãolimpos e as mesas da cafeteriabrilham e então circulamconversas sobre verbas etrabalhos em progresso

e há até umalareira.o piso da cozinha está bem

enceradoe eu recém havia jantadodepois de ter bebido até as 3 da

manhãapós a leitura

da noite passadaagora lá vou eu outra vez numa

faculdade próxima.estou em pleno Arkansas em

janeiroalguém chega a mencionar Faulknervou ao banheiro e vomito ojantarao sairlá estão eles em seus casacos e

sobretudos esperando nacozinha.

devo entrar em15 minutos.haverá um bom público eles me

dizem.

para Al…

não se preocupe com rejeições,parceiro, eu já fui rejeitadoantes.

algumas vezes você comete um

erro, pegando o poema erradoo mais comum para mim é cometer

o erro de escrevê-lo.

mas eu gosto de uma montaria emcada corrida mesmo que ohomem

que organiza a largada da manhãa coloque pagando 30 por um.

tenho que pensar na morte mais e

maissenilidade

muletas

poltronas

escrevendo poesia púrpura com a

caneta pingando

quando mocinhas com bocas depiranha

corpos como limoeiros corpos comonuvens corpos como flashes de

luz pararem de bater à minhaporta.

não se preocupe com rejeições,parceiro.

fumei 25 cigarros esta noite e vocêsabe sobre a cerveja.

o telefone tocou apenas uma vez:era engano.

como ser um grandeescritor

você tem que trepar com umgrande número de mulheresbelas mulheres

e escrever uns poucos e decentespoemas de amor.

e não se preocupe com a idadee/ou com os talentos frescos e

recém-chegados.

apenas beba mais cervejamais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma

vez por semana

e vençase possível.

aprender a vencer é difícil –qualquer frouxo pode ser um bom

perdedor.

e não se esqueça do Brahmse do Bach e também da suacerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de créditoou pagar qualquer contano prazo.

lembre-se que nenhum rabo no

mundovale mais do que 50 pratas.(em 1977).

e se você tem a capacidade deamar ame primeiro a si mesmomas esteja sempre alerta para apossibilidade de uma derrotatotal mesmo que a razão paraessa derrota pareça certa ouerrada –

um gosto precoce da morte não énecessariamente uma coisa má.

fique longe de igrejas e bares emuseus, e como a aranha sejapaciente – o tempo é a cruz de

todos, mais o exílio a derrota atraição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina deescrever e assim como os passosque sobem e descem do lado defora de sua janela

bata na máquina bata fortefaça disso um combate de pesos

pesadosfaça como o touro no momento do

primeiro ataque e lembre dosvelhos cães

que brigavam tão bem:Hemingway, Céline, Dostoiévski,

Hamsun.

se você pensa que eles não ficaramloucos em quartos apertados

assim como este em que agora

você estásem mulheressem comidasem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.há tempo.e se não háestá tudo certotambém.

o preço

bebendo um champanhe de 15dólares – Cordon Rouge – nacompanhia de putas.

uma se chama Georgia e não échegada em meia-calça: estousempre tendo que ajudá-la comsuas longas meias negras.

a outra é Pam – mais bonita porémmeio desalmada, e fumamos e

conversamos e brinco com suaspernas e enfio meu pé descalçona bolsa aberta de Georgia.

está cheia defrascos com pílulas.tomo algumas delas.

“escutem”, eu digo, “uma de vocêstem alma, a outra aparência.posso combinar vocês duas?pegar a alma e enfiar naaparência?”

“se você me quer”, diz Pam, “vai

lhe custar cem pratas.”

bebemos um pouco mais e Georgiadespenca no chão e nãoconsegue se levantar.

digo a Pam que gosto muito desuas orelhas. seu cabelo é longoe natural e ruivo.

“estava de brincadeira quando faleiem

cem”, ela diz.

“oh”, eu digo, “quanto vai mecustar?”

ela acende um cigarro commeu isqueiro e me olhaatravés da chama:

seus olhos me dizem.

“olhe”, eu digo, “acho que nãopoderei pagar aquele preço

novamente.”

ela cruza as pernasdá uma tragada em seu cigarro

sorri enquanto expele a fumaçae diz, “claro que pode”.

sozinho com todomundo

a carne cobre os ossose colocam uma menteali dentro ealgumas vezes uma alma,e as mulheres quebramvasos contra as paredese os homens bebemdemaise ninguém encontra opar idealmas seguem naprocurarastejando para dentro e para fora

dos leitos.a carne cobreos ossos e acarne buscamuito mais do que meracarne.

de fato, não há qualquerchance:estamos todos presosa um destinosingular.

ninguém nunca encontrao par ideal.

as lixeiras da cidade se completamos ferros-velhos se completamos hospícios se completam assepulturas se completam

nada maisse completa.

o segundo romance

eles apareciam eperguntavam“já terminou seusegundo romance?”

“não.”

“o que tá pegando? o que tápegando que você não

termina?”

“hemorróidas e

insônia.”

“será que você nãoperdeu?”

“perdi o quê?”

“você sabe.”

agora quando eles aparecem eulhes digo,

“sim. já terminei.

sairá em setembro.”

“você terminou o livro?”

“sim.”

“bem, escute. tenho que ir.”

nem mesmo o gatoaqui da vizinhançabate mais à minhaporta.

que beleza.

Chopin Bukowski

este é meu piano.

o telefone toca e as pessoasperguntam, o que você estáfazendo? que tal encher a caracom a gente?

e eu digo,estou ao piano.

o quê?

desligo.

as pessoas precisam de mim. eu ascompleto. se não podem me verpor um tempo ficamdesesperadas, ficam doentes.

mas se as vejo muito seguido eufico doente. é difícil alimentarsem ser alimentado.

meu piano me diz coisas em troca.

às vezes as coisas estão confusas enada boas.

outras vezesconsigo ser tão bom e sortudo

como Chopin.

às vezes me sinto enferrujadodesafinado. isso

faz parte.

posso me sentar e vomitar sobre as

teclasmas é meuvômito.

é melhor do que sentar em umasala com 3 ou 4 pessoas e seuspianos.

este é meu pianoe é melhor que os deles.

e eles gostam e desgostam dele.

dama melancólica

ela fica ali sentada bebendo vinhoenquanto seu marido está no

trabalho.ela considerade suma importância que seus

poemas sejam publicadosnas pequenasrevistas.possui doisou três de pequenos volumes de

sua poesia mimeografados.tem dois outrês filhoscom idades que vão de 6 a 15.já não é mais

a linda mulher que costumava ser.manda fotos em que aparecesentada sobre uma pedra juntoao oceano sozinha e condenada.

podia ter estado com ela uma vez.me pergunto se ela acha que eupoderia

salvá-la?

em todos os seus poemas seumarido jamais é mencionado.

mas costumafalar sobre seu jardimassim sabemos que está lá, de

alguma maneira, e que talvezela trepe com os botões de rosa

e os tentilhões antes de escreverseus poemas.

barata

a barata rastejousobre os ladrilhosenquanto eu estava mijando e ao

virar minha cabeça ela enfiou otraseiro numa fenda.

peguei o inseticida e disparei oaerossol e disparei e disparei efinalmente a barata saiu e melançou um olhar muito nojento.

então desabou dentro da banheirae fiquei assistindo à sua morte

com um prazer sutil pois eu pagavao aluguel e ela não.

recolhi-a comum tipo de papel higiênico azul-

esverdeado e joguei-a nadescarga. era tudo o que setinha a fazer, exceto que nasredondezas de Hollywood eWestern temos que seguirfazendo isso.

dizem que algum dia essa triboherdará

a terramas faremos com que esperem

maisalguns meses.

quem, diabos, é TomJones?

por duas semanasestive dormindo com uma garota de

24 anos deNova York – na épocaem que ocorria a greve dos lixeiros,

e certa noite minha antigamulher de 34 anos chegou edisse, “quero ver minha rival”.foi o que ela fez e então disse,“ó, você é a coisinha maisquerida!”

depois disso reparei que houve umagritaria de gatas selvagens –

urros e unhadas,lamentos de animal ferido, sangue

e mijo...

eu estava bêbado e só de calção.tentei

separar as duas e caí, torcendo ojoelho. então atravessaram aporta e avançaram rua

afora.

chegaram viaturas cheias depoliciais. um helicóptero dapolícia sobrevoou o local.

fiquei no banheiroe sorri para o espelho.não é comum que coisas tão

esplêndidas assimaconteçam aos 55 anos.

muito melhor do que os distúrbios

emWatts[3].

a de 34 retornoupara dentro. estava todamijada e sua roupatransformada em farrapos e eraseguida por dois policiais quequeriam saber a razão daquilo tudo.

erguendo meus calçõeseu tentava explicar.

derrota

ouvindo Bruckner no rádio meperguntando por que não estavameio louco depois do últimorompimento com minha últimanamorada.

me perguntando por que não estou

guiando pelas ruas bêbadopor que não estou no banheiro na

escuridãona escuridão atrozponderandolacerado por pensamentos

incompletos.

suponhopor fim istocomo um homem comum:conheci muitas mulherese em vez de pensarquem está trepando com ela agora?eu pensonesse instante ela está aborrecendo

terrivelmente outro desgraçado.

ouvir Bruckner no rádioparece algo tão pacífico.

muitas mulheres já passaram por

aqui.estou sozinho afinalsem estar sozinho.

pego um pincel Grumbacher e limpominhas unhas com a pontaafiada.

percebo uma tomada na parede.

veja, eu venci.

sinais de trânsito

os velhos camaradas jogam noparque olhando o mar ao longepondo marcadores ao longo dapista com gravetos de madeira.

quatro jogam, dois para cada lado e18 ou 20 se sentam ao sol eassistem

percebo isso enquanto sigo emdireção ao banheiro públicoenquanto meu carro está noconserto.

o parque abriga um velho canhão

enferrujado e inútil.seis ou sete veleiros cortam o mar

lá embaixo.

termino a tarefa saioe eles continuam jogando.

uma das mulheres usa umamaquiagem carregada brincosfalsos e fuma um cigarro.

os homens são muito magros muitopálidos

usam relógios de pulso que lhesmachucam os pulsos.

a outra mulher é muito gorda e dáuns risinhos a cada vez que umponto é marcado

alguns deles têm a minha idade.

eles me enojam

o modo como esperam pela mortecom tanta paixão

quanto um sinal de trânsito.

essas são as pessoas que acreditamem comerciais

essas são as pessoas que compramdentaduras a prazo essas são aspessoas que comemoramferiados

essas são as pessoas que têmnetos

essas são as pessoas que votamessas são as pessoas que têm

funerais

esses são os mortosneblina e fumaçao fedor no aros leprosos.

esses são afinal quase todosque existem.

gaivotas são melhoresalgas marinhas são melhoresareia suja é melhor

se pudesse posicionar aquele velho

canhãocontra elese fazê-lo funcionareu o faria.

eles me enojam.

462-0614

agora recebo muitas chamadas detelefone.

todas iguais.“é Charles Bukowski,o escritor?”“sim,” eu lhes respondo.e eles dizem que entendem minha

escrita,alguns deles são escritores ou

querem ser escritores e estãoem empregos estúpidos ehorríveis

e não conseguem nem encarar asala o apartamento

as paredes

essa noite...querem alguém com quem possam

conversar,não podem acreditarque não posso ajudá-los que não

conheço as palavras.não podem acreditarque agora mesmome dobro em meu quarto

segurando minhas entranhas edizendo

“Jesus Jesus Jesus,de novo não!”eles não podem acreditar que as

pessoas mal-amadas as ruasa solidãoas paredes

também são minhas.e quando desligo o telefone eles

acham que escondi ojogo.

não escrevo a partir da sabedoria.quando o telefone tocaeu também gostaria de ouvir

palavrasque pudessem aliviar um pouco

algumadessas coisas.

é por isso que meu nome está nalista.

fotografias

elas o fotografam em sua varanda eno seu sofá

e você de pé no quintal ouencostado em seu carro

essas fotógrafasmulheres com rabos enormes que

lhe parecem melhores que seusolhos ou suas almas

– este jogo com o autor na verdadenão passa de um número baratoà Hemingway e James Joyce

mas veja –lá estão os livros

você os escreveununca esteve em Parismas escreveu todos aqueles livros

atrás de você(e outros que não estão ali,

perdidos ou roubados)

tudo o que você tem que fazer é separecer com o Bukowski para ascâmeras

mas

você segue de olhonaquelesrabos enormes e magníficos e

pensando – outra pessoa os estáfaturando

“olhe aqui nos meus olhos”elas dizem e disparam suas

câmeras acionam o flash de suascâmeras e acariciam suascâmeras

Hemingway costumava boxear oupescar ou ir às touradas masdepois que elas se vão vocêbate uma debaixo dos lençóis etoma um banho quente

elas nunca mandam as fotos comoprometem

e seus rabos magníficos se vão parasempre

e você se comportou como umótimo literato – ainda vivo

logo em breve morto

olhando fundo para seus olhos ealmas e tudo mais.

social

o traçado azul da onda rasgos deestrada amarela

um volante uma mulher insanasentada ao seu lado

reclamando enquanto o oceano fazespuma

e pessoas em motor homesamarelas e brancas

impedem sua passagem por umtempo frenético

enquanto você escuta culpado dissoe culpado daquilo

você admite isso e aquilo masnunca é o suficiente

ela quer conquistas esplêndidas e

você está escaldado por essasconquistas esplêndidas

chegando lá ela descecaminha em direção à casa

você mija junto aopara-lamas do seu carrobêbado de cerveja

pequenas gotas de vocêpingando napoeirana poeiraseca

depois de fechar o zíper vocêse põe em marcha

para encontrar os amigosdela.

um poema para aarmadura peitoral

tenho um ditado, “os duros sempreretornam”.

mas Vera era mais doce do que a

maioria, e assim fiquei surpresoquando ela chegou naquelanoite

dizendo, “me deixe entrar”.

“não, não, estou trabalhando numsoneto.”

“ficarei só um minuto, depois mevou.”

“Vera, se eu deixar você entrar seique só sairá daqui em 3 ou 4dias.”

era noite e eu não acendera a luz

da varanda e assim não pudevê-la se aproximar

masela lançou uma direita que explodiu

bem no centro do meu peito.

“baby, esse foi um soco lindo.agora caia fora.”

então fechei a porta.

ela voltou 5 minutos depois: “Hank,não consigo achar meu carro, eujuro que não consigo achar. meajude a encontrá-lo!”

vi meu amigo Bobby-the-Riffcaminhando. “ei, Bobby ajudeessa aí a achar o carro. nosfalamos depois.”

foram juntos.

mais tarde Bobby disse queencontraram o carro na frentedo pátio de alguém, motor eluzes

ligados.

não ouvi mais falar de Vera desdeentão

a não ser que seja elaquem me ligaàs 2 e 3 e 4 da manhãe não responde quando eudigo “alô”.

mas Bobby diz quepode cuidar delaentão decidi deixá-lapara Bobby.

ela mora numa rua lateral em

algum lugar de Glendalee eu o ajudo a abrir omapa rodoviário enquanto bebemos

nossas Schlitz dietéticas.

o pior e o melhor

nos hospitais e nas cadeias está opior

nos hospíciosestá o piornas coberturasestá o piornos albergues vagabundos está o

piornas leituras de poesia nos concertos

de rock nos shows beneficentespara os inválidos está o pior

nos funeraisnos casamentosestá o piornas paradas

nos rinques de patinação nas orgiassexuais

está o piorà meia-noiteàs 3 da manhãàs 5h45 da tardeestá o pior

pelotões de fuzilamento rasgando o

céuisto é o melhor

pensar na Índiaolhando para as carrocinhas de

pipoca assistindo ao touro pegaro matador isto é o melhor

lâmpadas encaixotadas um velhocão se coçando amendoins emum saquinho isto é o melhor

jogar inseticida nas baratas um par

de meias limpas coragemnatural vencendo o talentonatural isto é o melhor

de frente para pelotões de

fuzilamento lançar pedaços depão às gaivotas fatiar tomates

isto é o melhortapetes com marcas de cigarro

fendas nas calçadasgarçonetes que mantêm a sanidade

isto é o melhor

minhas mãos mortasmeu coração mortosilêncioadágio de pedraso mundo em chamasisto é o melhorpara mim.

cupons

cigarros umedecidos por cerveja danoite passada você acende um

se engasgaabre a porta em busca de ar e junto

à entrada está um pardal mortosua cabeça e seu peitoarrancados.

pendurado à maçaneta há um

anúncio da All American Burgerque consiste de alguns cupons quedizemque na comprade um hambúrguer de 12 de fev. a

15 de fev.você ganha de graça um pacote de

batatas fritas médio e um copopequeno de coca-cola.

pego o anúncioembrulho o pardal com ele levo até

a lata de lixo e despejo ládentro.

veja:renunciando a batatas fritas e coca

para ajudar a manter minhacidade

limpa.

sorte

o que está mal a respeito dissotudo

é ver as pessoas bebendo café eesperando. gostaria de embebê-los

todos na sorte. eles precisamdisso. precisam bem mais doque eu.

sento nos cafés e os vejo aesperar. não creio que haja muito

mais a fazer. as moscas vão pralá e pra cá nos vidros dasjanelas e bebemos nosso café efingimos não olhar uns

para os outros.espero junto com eles.entre o movimento das moscasas pessoas vagueiam.

cão

um cão apenascaminhando sozinho numa calçada

quente em plenoverãoparece ter mais poderdo que dez mil deuses.

por que isso?

guerra de trincheira

abatido pela gripe bebendo cervejao rádio num volumesuficientemente alto parasuperar os sons produzidos peloestéreo das pessoas que recémse mudaram para a casa

ao lado.dormindo ou acordados eles

ajustam seu aparelho no volumemáximo deixando suas

portas e janelas abertas.

cada um deles tem 18, casados,

vestem sapatos vermelhos, sãoloiros,

magros.tocam detudo: jazz, música clássica, rock,

country, moderna contanto queesteja alta.

este é o problema de ser pobre:temos que conviver com o som dos

outros.semana passada foi minha vez:havia duas mulheres aquibrigando entre si e elascorreram pela calçada gritando.a polícia veio.

agora é a vezdeles.agora caminhopra lá e pra cá em meus calções

sujos, dois tampões de borrachaenfiados bem fundo em meusouvidos.

chego a pensar em assassinato.esses coelhospequenos e rudes!pedacinhos ambulantes de ranho!

mas na nossa terra e do nosso jeito

nunca terá havido uma chance;somente quando as coisas não

estão indo tão malpor um instante que esquecemos.

algum dia cada um deles estará

morto algum dia cada um delesterá um

caixão separado e então haverásilêncio.

mas por oraé Bob DylanBob Dylan BobDylan por aíafora.

a noite em que trepeicom meu despertador

certa vezpassando fome na Filadélfia eu

ocupava um quartinhocaía a tarde e a noite chegava e me

postei junto à janela no 3° andarno escuro e olhei para umacozinha que ficava no outro ladodo 2° andar e avistei uma belagarota loira abraçar um jovem eali beijá-lo com o que pareciaser fome e fiquei parado a olhá-los até que se separassem.

então dei meia-volta e acendi a luz

do quarto.vi minha cômoda e suas gavetas e

meu despertador sobre ela.peguei o relógioe o levei pra cama comigotrepei com ele até que os ponteiros

caíssem fora.depois saí e vaguei pelas ruas até

sentir meus pés se encherem debolhas.

quando voltei fui até a janela eolhei pra baixo e lá pro outrolado e a luz na cozinha delesestava apagada.

quando me pensomorto

penso em automóveis estacionadosnas vagas

quando me penso mortopenso em panelas de frituraquando me penso mortopenso em alguém fazendo amor

com você quando não estou porperto

quando me penso mortorespiro com dificuldade

quando me penso mortopenso em todas as pessoas que

esperam pela mortequando me penso mortopenso que nunca mais poderei

beber águaquando me penso mortoo ar fica completamente puroas baratas na minha cozinha

tremem

e alguém terá que jogarfora minhas cuecas limpas e sujas

noite de Natal, sozinho

noite de Natal, sozinho, num quartode motel

junto à costaperto do Pacífico –ouviu?

eles tentaram fazer desse lugaralgo espanhol, há

tapeçarias e lâmpadas, e obanheiro é limpo, há minibarrasde sabonete rosa.

não nos encontrarão por aqui:as piranhas ou as damas ou os

adoradoresde ídolos.

lá na cidadeeles estão bêbados e em pânico

furando sinais vermelhosarrebentando suas cabeças emhomenagem ao aniversário deCristo. isso é uma beleza.

em breve terei terminado estagarrafa de rum porto-riquenho.

pela manhã vomitarei e tomarei

banho, voltarei paracasa, comerei um sanduíche à uma

da tarde, estarei no meu quartopor volta das duas,

estirado na cama,esperando o telefone tocar, sem

responder,meu feriado é umaevasão, minha razãonão é.

certa vez houve umamulher que enfiou acabeça dentro doforno

o terror se torna por fim quasesuportável

mas nunca completamenteo terror se arrasta como um gato

rasteja como um gato por minhamente

posso ouvir a risada das massaselas são forteselas sobreviverão

como a barata

nunca tire seus olhos da baratavocê não voltará a vê-la outra vez.

as massas estão em todo lugarsabem como fazer as coisas:elas têm raivas sadias e mortaispor coisas sadias e mortais.

gostaria de estar dirigindo um Buick1952 azul ou um Buick 1942

azul-marinho ou um Buick 1932azul sobre um desfiladeiro doinferno e em direção ao mar.

camas, banheiros, vocêe eu...

pensando nas camas usadas ereutilizadas para trepar

para morrer.

nesta terraalguns de nós trepam mais do que

nós morremosmas a maioria de nós morre melhor

do quetrepamos,e morremosbocado a bocado também – em

parques

tomando sorvete, ou nos iglusda demência,ou em esteiras de palha ou sobre

amores desembarcadosouou.

:camas, camas, camas :banheiros,banheiros, banheiros

o sistema de esgoto humano é amaior invenção do mundo.

e você me inventou e eu inventei

você e é por isso que nós nãodamos

mais certonesta cama.você era a maior invenção do

mundoaté que resolveu me mandar

descarga abaixo.

agora é a sua vez de esperar quealguém aperte o botão.

alguém fará isso com você,puta,e se eles não fizerem você fará –

misturada ao seu próprio adeusverde ou amarelo ou branco ou azulou lavanda.

isso então...

é o mesmo que antes ou que daoutra vez ou da vez anterior aessa.

eis um paue eis uma bocetae eis um problema.

a cada vezvocê pensabem eu aprendi desta vez: vou

dizer a ela que faça isso e eufarei isto,

já não quero a coisa toda, só umpouco de conforto e um pouco

de sexo e apenas um mínimo deamor.

agora novamente espero e os anosvão escasseando.

tenho meu rádioe as paredes da cozinha são

amarelas.sigo esvaziando as garrafas à

esperados passos.

espero que a morte reserve menosdo que isto.

imaginação e realidade

há muitas mulheres solteiras nomundo com um ou dois ou trêsfilhos e alguém se perguntaaonde foram os maridos ouaonde foram

os amantesdeixando para trástodas essas mãos e esses olhos e

esses pés e essas vozes.ao passar por suas casasgosto de abrir armários eolhar o que há dentroou então debaixo da piaou no guarda-roupa –espero encontrar o marido

ou o amante e ele me dirá:“ei, parceiro, você não percebeu as

estrias, ela tem estriase peitos caídos e comecebolas o tempo todo e peida...

mas sou um cara habilidoso.posso consertar coisas, sei comousar um torno mecânico e trocosozinho o óleo do carro. seijogar sinuca, boliche, possochegar em 5º ou 6º em qualquermaratona por

aí. tenho um jogo de tacos de golfe,lanço a bola a longas distâncias.sei onde fica o clitóris e o quefazer com ele. tenho um chapéude caubói com as abas dobradas

para cima.sou bom com o laço e com os

punhos conheço os últimospassos de dança.”

e eu direi, “veja só, estou desaída”.

e sumirei antes que ele acabe medesafiando para uma queda debraços

ou me conte uma piada bagaceiraou me mostre a tatuagem noseu bíceps direito emmovimento.

mas de fatotudo o que encontro no armário são

xícaras de café e pratosmarrons, grandes e rachados edebaixo da pia uma pilha detrapos endurecidos, e no guarda-roupa – mais cabides do queroupas, e é só quando ela memostra o álbum e as fotos dele –tão bom quanto uma calçadeira,ou um carrinho de supermercadocujas rodas não estãoemperradas – que a dúvidaíntima se desfaz, e as páginasavançam e ali está uma criançacom um traje de banhovermelho e lá está a outra

perseguindo uma gaivota em SantaMônica.

e a vida se torna triste e nadaperigosa e, dessa maneira, boao suficiente: tê-la para lhe trazeruma xícara de café em umadaquelas xícaras sem que eleapareça.

roubada

sigo pensando que ela estará láfora agora

esperando por mimazulo para-choque frontal amassado a

cruz de Malta pendurada noretrovisor.

o tapete de borracha emboladodebaixo dos pedais.

8 km/lo bom e velho TRV 491a fiel amante de um homem, o

modo como eu lhe engatava asegunda ao dobrar uma esquinao modo como ela podia furar um

sinal quando ninguém estavapor perto.

o modo como conquistávamosenormes e pequenos espaços

chuvasolneblinahostilidadeo impacto das coisas.

saí das lutas no Olympic na última

terça-feira à noite e minhacaranga tinha sumido com outroamante

para outro lugar.

as lutas tinham sido boas.chamei um táxi numa estação e me

sentei numa cafeteria paracomer uma rosquinha comgeleia acompanhada de café eesperei,

e eu sabia que se encontrasse ohomem que a havia roubado euo mataria.

o táxi chegou. acenei para omotorista, paguei pela rosquinhae pelo café, saí noite afora,entrei no carro, e lhe disse,“Hollywood com a Western”, enaquela noite em específico

aquilo foi tudo.

o humilde herdou

se eu sofro assim diante dessamáquina de escrever pense emcomo eu me sentiria entre oscolhedores de alface em Salinas?

penso nos homens que conheci nas

fábricassem qualquer chance de escapar –

sufocados enquanto vivemsufocados enquanto riem de BobHope ou Lucille Ball enquanto

2 ou 3 crianças jogam bolas detênis contra as paredes.

alguns suicídios jamais sãoregistrados.

os insanos sempre meamaram

e os subnormais.ao longo de todo o ensino

fundamentalensino médiofaculdadeos rejeitados seuniam amim.caras com um só braço caras com

tiquescaras com problemas de fala caras

com uma película branca sobreum dos olhos, covardes

misantroposassassinostaradose ladrões.e em todasas fábricas e navagabundagemsempre atraíos rejeitados. eles me encontravam

logo de cara e se grudavam emmim. continuam

fazendo isso.aqui na vizinhança há agora um que

meencontrou.ele anda por aí empurrando um

carrinho de supermercado cheio

de lixo:bengalas partidas, cadarços sacos

vazios de batata frita, caixas deleite, jornais, canetas...

“ei, parceiro, o que tá fazendo?”eu paro e conversamos um pouco.então eu digo adeus mas ele

continua me seguindopara além dosputeiros e dosprostíbulos...“me mantenha informado, parceiro,

me mantenha informado, querosaber o que está acontecendo.”

esse é o meu insano do momento.nunca o vi falarcom mais

ninguém.o carrinho chacoalha um pouco

atrásde mimentão alguma coisa cai.ele se detém parajuntá-la.enquanto ele se ocupa disso eu

entro pela porta de um hotelverde que fica na esquina

cruzoo saguãosaio pela portados fundos eali há um gatocagandoabsolutamente deliciado, que me

arreganha os dentes.

Big Max

durante o ensino médioBig Max era um problema.ficávamos sentados na hora do

recreio comendo nossossanduíches com manteiga deamendoim e batatas fritas.

ele tinha pelos no narize sobrancelhas cerradas, seus

lábios brilhavam com saliva.já usava tênis número43. suas camisas ficavam

esturricadas em seu peitoenorme. seus pulsos pareciamduas toras. e ele cruzava assombras atrás do ginásio onde

sentávamos, meu amigo Eli eeu.

“caras”, ele ficava ali parado,“caras, vocês sentam com seusombros caídos!

vocês caminham com os ombroscaídos! como é que vão conseguir

alguma coisa?”

não respondíamos.

então Max olhava pra mim.“fique de pé!”

eu me levantava e ele ficavacaminhando às minhas costas edizia, “erga seus ombros assim!”

e ele puxava meus ombros paratrás.

“veja! não faz você se sentirmelhor?”

“claro, Max.”

logo ele se afastava e eu voltava àminha postura normal.

Big Max estava pronto para

enfrentar omundo. olhar para ele nos deixavaenojados.

aprisionado

no inverno caminhando em meuteto meus olhos do tamanho de

luzes de poste. tenho quatropatas como um rato mas lavominhas roupas íntimas –barbeado e de ressaca e de pauduro e sem advogado.

tenho cara de esfregão. cantocanções de amor e carrego aço.

preferiria morrer a chorar. nãosuporto a matilha não possoviver sem ela.

inclino minha cabeça contra orefrigerador branco e querogritar como

o último lamento de vida para todosempre mas sou maior do queas montanhas.

é o modo como vocêjoga o jogo

chame-a de amorcoloque-a de pé sob a luz

imperfeitaponha-lhe um vestido reze cante

implore chore ria apague asluzes

ligue o rádioacrescente-lhe enfeites: manteiga,

ovos crus, jornais de ontem;um cadarço novo, e então páprica,

açúcar, sal, pimenta, ligue parasua tia velha e bêbada emCalexico;

chame-a de amor, espete-a bem,adicione repolho e molho demaçã, então a esquenteprimeiro no lado esquerdo,depois no

direito,ponha-a numa caixa livre-se deladeixe-a nos degraus de uma porta

vomitando como você fará nashortênsias.

no continente

eu sou frouxo. eusonho também.me deixo sonhar. sonho em ser

famoso. sonho emcaminhar nas ruas de Londres e

Paris. sonho emsentar em cafésbebendo vinhos caros e pegando

um táxi de volta a um bomhotel.

sonho emconhecer lindas mulheres no

saguão edispensá-las porquetenho um soneto em mente que

quero escreverantes do nascer do sol. quando o

sol nascer estarei dormindo ehaverá um gato estranhoenrolado no parapeito da janela.

penso que todos nos sentimosassim de vez em quando.

eu gostaria mesmo de visitarAndernatch, na Alemanha, olugar onde comecei. depoisgostaria de voar até Moscoupara checar o sistema detransporte coletivo assim teriaalguma coisa levementeobscena para sussurrar no

ouvido do prefeito de LosAngeles quando retornasse paraeste lugar fodido.

poderia acontecer.estou pronto.

já vi lesmas escalarem paredes detrês metros de altura edesaparecerem.

você não deve confundir isto com

ambição.eu seria capaz de rir ao receber

uma mão perfeita nas cartas –e não esquecerei de você.vou lhe mandar cartões-postais e

instantâneos, e osoneto acabado.

12:18 a.m.

decapitado no meio danoitecoçando os lados do meu corpoestou coberto de mordidaslivro aos chutes minhas pernas

brancas dos lençóis enquanto assirenes soam

há um disparo de arma de fogo.

vou à cozinhaem busca de um copo d’águadestruir o devaneio de uma barata

destruir a própria barata.um vendaval vem do norte

enquanto o homem no apartamentoda frente

enfia seu pau no rabo de suafilha de 4anos.

escuto os gritosacendo um charutoenfio-o nos lábios de minhacabeça decapitada.é um coronaenvelhecidoum Medalist Naturáles, Nº 7.

retorno ao banheirocom um inseticida.aperto a válvula.

sai o spray. tenhonáuseas,penso em antigas batalhasem amores mortos.

tanta coisa acontece na escuridãoainda que amanhã o solcontinue seguindo seu rumo,você receberá uma multa seestacionar do lado sul de umarua numa quinta-feira ou do ladonorte na sexta.

a eficiência do sol e da lei protege a

sanidade.

alguma coisa me morde.disparo enlouquecidamente o spray

em meus lençóis.

volto-me vejo o espelho naescuridão – o charuto a pançaflácida meu reflexo envelhecido.

dou uma risada.

é bom que eles não saibam.

pego minha cabeçacoloco-a novamente em meu

pescoçoentro sob os lençóis enão consigo dormir.

táxi

a dançarina mexicana balançavasuas plumas e seu rabo paramim,

sem que eu lhe tivesse pedido, eminha mulher enlouqueceu e saiu

correndo do café e começou achover e dava para ouvir ospingos no telhado e eu estavasem emprego e me restavam 13dias de aluguel.

às vezes, quando uma mulher correassim de você é de se perguntarse não faz isso por questõeseconômicas, bem, não se podeculpá-las – se eu tivesse que ser

comido, preferia que fosse poralguém com grana.

estamos todos assustados, masquando você é feio e estácompletamente fodido você se

fortalece, e chamei o garçom edisse, achou que vou virar estamesa, estou de saco cheio,pirado, preciso de

ação, chame o seu leão-de-chácara,mijarei na clavícula dele.

fuiposto pra fora bruscamente.chovia. dei um jeito de me

recompor sob a chuva ecaminhei pela rua deserta

algodão-docequinquilharias à venda, todas as

lojinhas fechadas com cadeadosWoolworth de 67 centavos.

chego ao final da rua a tempode vê-la entrar num táxicom outro cara

desabo junto a uma lata de lixo, me

levanto e mijo nela, sentindo-metriste e logo nem tanto, sabendoque havia coisas demais queeles podiam [fazer

contra você, o mijo escorrendo pelalata

corrugada, os filósofos deveriam ter

algo a dizer sobreisso. mulheres. a sorte delas contra

o seudestino. o vencedor leva Barcelona.

próximobar.

como você não está fora dalista?

os homens ligam e me perguntamisto.

você é realmente Charles Bukowskio escritor?

sou escritor de vez em quando, eudigo, na maior parte do tempoeu não faço nada.

escute, eles dizem, eu gosto dassuas coisas – se importa se euaparecer aí com uma dúzia delatinhas?

você pode trazê-las, eu digo desdeque não entre...

quando as mulheres ligam, eu digo,ó, sim, escrevo, sou um escritorapenas não estou escrevendo

nada neste exato momento.

me sinto tola ligando para você,elas dizem, e fiquei surpresa deachar seu nome na listatelefônica.

tenho meus motivos, eu digo, apropósito, por que você nãoaparece pra tomar uma cerveja?

você não se importaria?

e elas chegammulheres lindasboas de corpo e mente e olho.

frequentemente não há sexomas estou acostumadoainda assim é bombom demais apenas olhar para

elas...e em alguns raros momentostenho uma maré inesperada de

sortepara variar.

para um homem de 55 que não

transou

até os 23e não muitas vezes mais até os 50creio que deva continuar listadona Pacific Telephoneaté conseguir o mesmo número de

mulheresque os homens normais

conseguiram.

claro, terei que continuarescrevendo poemas imortaismas a inspiração está lá.

boletim do tempo

suponho que esteja chovendo emalguma cidade espanhola nestemomento

enquanto me sinto mal deste jeito;gosto de pensar nisso agora.vamos a um vilarejo mexicano –

isso soa bem:um vilarejo mexicanoenquanto me sinto mal deste jeitoas paredes amareladas pelo tempo

– aquela chuvalá fora,um porco se movendo em seu

chiqueiro à noite incomodadopela chuva, os olhos diminutos

como pontas de cigarro, e seumaldito rabo:

pode vê-lo?não consigo imaginar as pessoas.talvez elas também estejam se

sentindo mal, quase tão malquanto eu.

pergunto-me o que elas fazemquando se sentem assim?

provavelmente não o mencionam.dizem apenas,“veja, está chovendo”.Assim é melhor mesmo.

velho limpo

daqui auma semana farei55.

sobre o queescrevereiquando ele nãolevantar maispela manhã?

meus críticosvão adorarquando a minha diversãopassar a ser

tartarugase estrelas-do-mar.

chegarão inclusive adizercoisas boas sobremim

como se eu tivessefinalmentealcançado arazão.

alguma coisa

estou sem fósforos.as molas de meu sofáestouraram.roubaram minha maleta.roubaram minha tela a óleo dedois olhos rosados.meu carro quebrou.lesmas escalam as paredes de meu

banheiro.meu coração está partido.mas as ações tiveram um dia de

altano mercado.

uma janela de vidrosespelhados

cães e anjos não são muitodiferentes.

frequentemente vou comer nesselugar

por volta das 2h20 da tarde porquetodas as pessoas que almoçamali estão particularmentearruinadas felizes pelo simplesfato de estarem vivas ecomendo feijão

próximas a uma janela de vidrosespelhados que impede apassagem do calor e não deixa

que os carros e as calçadascheguem ao interior.

podemos tomar quanto café de

graça quisermose nos sentamos e em silêncio

bebemos o café preto e forte.

é bom estar sentado em algumlugar neste mundo às 2h20 datarde sem sentir-se carneadoaté o branco dos ossos. mesmoestando arruinados, sabemosdisso.

ninguém nos incomoda nãoincomodamos ninguém.

anjos e cães não são muito

diferentesàs 2h20 da tarde.

tenho minha mesa favorita e depoisde terminar

empilho os pratos, pires, o copo, ostalheres com cuidado – faço àsorte minha oferenda – e lá forao sol

segue trabalhando bemdescrevendo

seu arcoenquanto aqui dentro reinaa escuridão.

junkies

“ela aplicou no pescoço”, ela medisse. eu disse que era para me

aplicar na bunda e ela tentou edisse, “oh-oh”, e eu disse, “quemerda está acontecendo?”

ela disse, “nada, este é o modoNova York de fazer a coisa”, etentou enfiar a agulha de novo edisse, “oh, merda”. Peguei onegócio e tentei me aplicar nobraço, consegui injetar umaparte.

“não sei por que as pessoasse metem com isso, não há nadade mais. acho que são todos uns

coitados e querem realmentechegar ao fundo do poço. não hásaída, é como se eles nãoconseguissem chegar ondequerem ou pretendem

e não tivessem outra saída.isso tinha que ser assim.ela aplicou no pescoço.”

“eu sei”, eu disse. “liguei pra ela,ela mal conseguia falar, disseque estava com laringite. tomeum pouco deste vinho.”

era vinho branco e 4h20 da manhãe sua filha dormia no quarto. atevê

a cabo estava ligada sem volume eum enorme pôster com um John

Wayne ainda jovem nos velava,e não nos beijamos nem sequerfizemos amor e acabei saindo delá às 6h15

depois que a cerveja e o vinhoacabaram e também para quesua filha não acordasse para irao colégio e me encontrasse alisentado na cama de sua mãe

com o John Wayne e a noiteencerrada e sem quaisqueresperanças para quem quer que

fosse...

99 para um

o tubarão resplandecentequer meus bagosenquanto atravesso a seção de

carnes em busca de salame equeijo

donas de casa púrpurasapalpando abacates de 75 centavos

sabem que meu carrinho é umpau monstruoso

sou um homem com um relógio

antigo parado em uma cabinetelefônica numa espelunca

chupando um bico vermelhocomo morango de cabeça parabaixo em meio à multidão naFiladélfia.

de repente tudo ao meu redor são

gritos de ESTUPRO ESTUPROESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO

e eu estou metendo em algumacoisa debaixo de mim cabelos deum ruivo opaco, mau hálito,dentes azuis

costumava gostar de Monetcostumava gostar muito de Monetera divertido, eu pensava, o que ele

fazia com as cores

mulheres são caras demaiscoleiras para cachorro são carasvou começar a vender ar em sacos

alaranjados com os dizeres:florescências da lua

costumava gostar de garrafascheias de sangue jovens garotasem casacos de pelo de cameloPríncipe Valente

o toque mágico do Popeye

o esforço está no esforçocomo um saca-rolhasum homem de verdade não deixa

farelos de cortiça no vinhoeste pensamento já ocorreu a

milhões de homens ao se

barbearema remoção da vida talvez fosse

preferível à remoção dos pelos

cuspa algodão e limpe seu espelhoretrovisor, corra como se tivessevontade, ex-atleta, as putasvencerão, os tolos vencerão,mas dispare como um cavalo aosinal da largada.

o estouro

demais tão poucotão gordo tão magro ou ninguém.

risos ou lágrimasodiosos amantesestranhos com faces como cabeças

de tachinhasexércitos correndo através de ruas

de sangue brandindo garrafas devinho baionetando e fodendovirgens.

ou um velho num quarto barato

com uma fotografia de M.Monroe.

há tamanha solidão no mundo quevocê pode vê-la no movimentolento dos braços de um relógio.

pessoas tão cansadas mutiladastanto pelo amor como pelodesamor.

as pessoas simplesmente não são

boas umas com as outras cara acara.

os ricos não são bons para os ricosos pobres não são bons para ospobres.

estamos com medo.

nosso sistema educacional nos dizque podemos ser todos

grandes vencedores.

eles não nos contarama respeito das misériasou dos suicídios.

ou do terror de uma pessoasofrendo sozinhanum lugar qualquer

intocadaincomunicável

regando uma planta.

as pessoas não são boas umas comas outras.

as pessoas não são boas umas comas outras.

as pessoas não são boas umas comas outras.

suponho que nunca serão.não peço para que sejam.

mas às vezes eu penso sobreisso.

as contas dos rosários balançarãoas nuvens nublarãoe o assassino degolará a criançacomo se desse uma mordida numa

casquinha de sorvete.

demaistão pouco

tão gordotão magroou ninguém

mais odiosos que amantes.

as pessoas não são boas umas comas outras.

talvez se elas fossemnossas mortes não seriam tão

tristes.

enquanto isso eu olho para asjovens garotas talos

flores do acaso.

tem que haver um caminho.

com certeza deve haver umcaminho sobre o qual ainda nãopensamos.

quem colocou este cérebro dentrode mim?

ele choraele demandaele diz que há uma chance.

ele não dirá“não”.

um cavalo de olhosazul-esverdeados

o que você vê é aquilo que vê: oshospícios raramente estãovisíveis.

que continuemos caminhando por aí

e nos coçando e acendendocigarros

é mais miraculoso

do que os banhos das beldades do

que as rosas e as mariposas.

sentar-se em um pequeno quarto e

beber uma latinha de cerveja efechar um cigarro ouvindoBrahms

em um radinho vermelhoé como ter voltado de uma dúzia de

batalhas com vida

ouvir o somda geladeira

enquanto as beldades banhadas

apodreceme as laranjas e maçãs rolam para

longe.

3Scarlet

Scarlet

fico feliz quando elas chegam e felizquando se vão

feliz quando escuto os saltos seaproximando de minha portafeliz quando esses saltos seafastam

feliz por foderfeliz por me importar feliz quando

tudo terminaedesde que as coisas ou estão

começando ou terminando ficofeliz

a maior parte do tempoe os gatos caminham pra cima e

pra baixo e a terra gira em tornodo sol e o telefone toca:

“é a Scarlet”.

“quem?”

“Scarlet.”

“certo, pinta aí.”

e desligo pensando talvez seja issoentrodou uma cagada rápida me barbeiome banho

me visto

ponho o lixoe as caixas cheias de garrafas

vazias pra fora

me sento ao som dos saltos seaproximando parecendo mais aaproximação de um exército doque o som da vitória

é Scarlete na minha cozinha a torneira

continua pingando precisando deconserto.

cuidarei disso mais tarde.

ruiva de cima a baixo

cabelos ruivoslegítimosela os põe em movimento e

pergunta“meu rabo continua gostoso?”

que comédia.

há sempre uma mulher pra salvarvocê de outra

e assim que ela o salva está pronta

paradestruí-lo.

“às vezes eu odeio você”, ela disse.

afastou-se e foi se sentar na minhavaranda para ler meu exemplardo Catulo, e ficou

por lá cerca de uma hora.

as pessoas passavam de lá para cáem frente à minha casa seperguntando como um cara tão

velho e feio podia arranjar umabeldade daquelas.

nem eu sabia.

assim que ela entrou eu a puxeipara o meu colo.

ergui meu copo e lhe disse, “bebaisso”.

“oh”, ela disse, “você misturouvinho com Jim Beam, logo vai

ficar safado”.

“você passa hena nos cabelos,não?”

“você não enxerga nada”, ela dissee se levantou e baixou suascalças e a calcinha e os pelos láembaixo tinham a mesma cordos cabelos lá em cima.

o próprio Catulo não poderia ter

desejado graça mais histórica oumagnífica;

depois ele seenamorou de

rapazolasinsuficientemente loucos para se

tornarmulheres.

como uma flor nachuva

cortei a unha do dedo médio damão

direitarealmente curtae comecei a correr o dedo ao longo

de sua boceta enquanto ela sesentava muito ereta na camaespalhando uma loção por seusbraços face

e seiosdepois do banho.então acendeu um cigarro:“não deixe que isso o desanime”, e

seguiu fumando e esfregando aloção.

continuei tocando sua boceta.“quer uma maçã?”, perguntei.“claro”, ela disse, “tem uma aí?”mas eu lhe dei outra coisa...ela começou a se contorcere depois rolou para um lado, ela

estava ficando molhada e abertacomo uma flor na chuva.

então ela se voltou sobre a barrigae seu cu maravilhoso

olhou para mime eu passei minha mão por baixo e

cheguei outra vez na boceta.ela se espichou e agarrou meu pau,

virando-se e se contorcendo

toda, penetrei-ameu rosto mergulhando na massa

de cabelos ruivos que sealastrava feito enchente de suacabeça

e meu pau intumescido adentrou omilagre.

mais tarde tiramos sarro da loção edo cigarro e da maçã.

depois eu saí para comprar umpouco de frango e camarão ebatatas fritas e pão doce e purêde batatas e molho e salada derepolho, e nós comemos. ela medisse quão bem ela se sentia eeu lhe disse o quão bem eu mesentia e nós comemos o frango

e o camarão e as batatas fritas eo pão doce e o purê de batatase o molho e também a salada derepolho.

castanho-claro

um olhar castanho-claroesse estúpido, vazio e maravilhoso

olhar castanho-claro.

darei um jeitonele.

você não precisa mais me enganarcom seus truques de Cleópatrade cinema

já se deu conta de que se eu fosse

uma calculadora eu poderiaentrar em pane registrando

as infinitas vezes que você usouesse olhar castanho-claro?

não que não seja o que há demelhor esse seu olhar castanho-claro.

algum dia um filho da puta louco irá

matá-la

e então você gritará meu nome efinalmente entenderá o que jádevia ter entendido

há muitotempo.

brincos enormes

saio para buscá-la.ela está em alguma missão.ela está sempre cheia de missões

muitas coisas pra fazer.nunca tenho nada pra fazer.

ela sai de seu apartamento vejo-ase aproximar do meu carro

ela vem descalçavestida de modo casual exceto por

enormes brincos.

acendo um cigarro

e quando ergo os olhos ela estáestirada no meio da rua

uma rua bastante movimentadatodos os seus 50 quilos tão

magníficos quanto qualquercoisa que você possa imaginar.

ligo o rádioe espero ela se levantar.

ela o faz.

abro a porta do carro.

ela entra. afasto-me do cordão dacalçada. ela gosta da cançãoque toca na rádio e aumenta ovolume.

ela parece gostar de todas ascanções ela parece conhecertodas as canções cada vez que avejo ela parece ainda melhor

200 anos atrás eles a teriam

queimado em um poste

agora ela passa seurímel enquanto nosso

carro segue adiante.

ela saiu do banheirocom sua cabeleiraruiva flamejante edisse...

os policiais querem que eu vá até láe identifique um cara que tentoume estuprar.

perdi outra vez a chave do meucarro; tenho a que abre a porta,mas não a que dá partida naignição.

essas pessoas estão tentando tirarminha filha de mim, mas eu nãovou deixar.

Rochelle quase tomou umaoverdose, então foi até o Harrycom um bagulho, e ele a pegoude jeito.

ela teve as costelas fissuradas,você sabe, e uma delas lheperfurou o pulmão. ela está nohospital conectada a umamáquina.

onde está meu pente?o seu está sempre imundo.

eu lhe disse,eu não vi o seu

pente.

uma assassina

a consistência é impressionante:boca fedorenta

podre por dentro e um corpo quaseperfeito, uma longa e luminosacabeleira loira – que confunde amim e aos outros

ela segue de homem em homemoferecendo carícias

ela fala de amor

então submete os homens à suavontade

boca fedorentapodre por dentro

vemos isso tarde demais: depois

que o pau é engolido o coraçãovai atrás

sua longa e luminosa cabeleira seucorpo quase perfeito caminhapela rua

debaixo do mesmo sol que banhaas flores.

uma aposta perdida

ela não é pra você, cara, não faz oseu tipo, ela foi maltratada foiusada

adquiriu todos os maus hábitos,ele me disseentre um páreo e outro.

vou apostar no cavalo 4, eu lhedisse.

bem, é que eu gostaria apenas detentar tirá-la da correnteza,

salvá-la, pode-se dizer.

você não conseguirá, ele disse,você tem 55, precisa degentileza.

vou apostar no cavalo 6.você não é o cara para salvá-la.

e você pode? perguntei.não acho que o 6 tenha chance,

prefiro o 4.

ela precisa de alguém que lhe

desça a mão, que a jogue naparede, ele disse, que lhe chuteo rabo, ela vai adorar.

ficará em casa e lavará a louça.o cavalo 6 vai estar na disputa.

não sou bom nesse negócio debater em mulher,

eu disse.

então tire ela da cabeça, ele disse.

não é fácil, respondi.

ele se levantou e foi no 6e eu me levantei e fui no 4.o cavalo 5 ganhoupor 3 corpospagando 15 para um.

os cabelos dela são ruivoscomo relâmpagos vindos do

paraíso,eu disse.

tire ela da cabeça, ele disse.

rasgamos nossos bilhetese olhamos para o lagono centro da pista.

aquela ia seruma longa tardepara nós dois.

a promessa

ela se inclinou sobre o lado dacama e abriu um portfolio juntoà parede.

estávamos bebendo.ela disse, “você me prometeu esses

quadros uma vez, nãolembra?”“o quê? não, não, não lembro.”“bem, você prometeu”, ela disse, “e

você sabe que promessa édívida.”

“tire a mão desses quadros”,eu disse.então fui até a cozinha buscaruma cerveja. fiz uma parada para

vomitar e quando volteipude vê-la sair pela janelaatravessando o pátioem direção à sua casa que ficava

nos fundos.ela tentava correre ao mesmo tempo equilibrar 40

pinturas sobre a cabeça:óleostelas em preto e brancoacrílicosaquarelas.ela pisou em falso e quasecaiu sentada.então subiu depressa os degraus da

varanda e sumiu porta adentroem direção ao seu apartamento

que ficava escada acimaavançando com todos aquelesquadros sobre a cabeça.

foi uma das coisas maisengraçadas que jamais vi.bem, suponho que o negócio agora

seja pintar mais 40.

acenos e mais acenosde adeus

paguei suas despesas ao longo detodo o trajeto entre [Houston

e São Franciscodepois voei pare encontrá-la na

casa do irmão dela e acabeibêbado

e falei a noite inteira sobre umaruiva, e ela disse por fim, “vocêdorme ali em cima”, e eu subi aescada

do beliche e ela dormiuna cama de baixo.

no dia seguinte eles me levaramaté o aeroporto e eu voei devolta, pensando, bem,

ainda restou a ruiva e assim quecheguei liguei para ela e disse,“voltei, baby, peguei um aviãopara ver essa mulher e faleisobre você a noite inteira, entãoaqui estou eu de volta...”

“bem, por que você não volta lá etermina o serviço?” ela disse edesligou.

então enchi a cara e o telefonetocou e elas se apresentaramcomo

duas garotas alemãs que queriamme ver.

então elas apareceram e uma delastinha 20 e a outra 22. contei-lhes que meu coração havia sidoesmigalhado pela última vez eque eu estava desistindo dessenegócio de mulher. elas riram demim e nós bebemos e fumamos

e fomos juntos para a cama.

eu tinha essa cena diante de mim eprimeiro agarrei uma e depois

agarrei a outra.

finalmente fiquei com a de 22 ea devorei.

elas ficaram 2 dias e 2 noitesmas nunca fui com a de 20,ela estava menstruada.

finalmente as levei para ShermanOaks e elas ficaram junto ao pé

de uma longa passagemacenos e mais acenos de adeus

enquanto eu dava a ré no meufusca.

quando voltei havia uma carta deuma mulher de Eureka. dizia quequeria que eu a fodesse até queela não pudesse

mais caminhar.

me deitei e puxei umapensando na garotinha que eu tinha

visto uma semana atrás em suabicicleta vermelha.

depois tomei um banho e vesti meurobe verde e felpudo bem atempo de pegar as lutas na tevêdiretamente do Olympic.

havia um negro e um chicano.isso sempre dava uma boa luta.

e era também uma boa ideia:ponha os dois no ringue e deixe quese matem.

assisti a todo o combatesem deixar de pensar na ruiva uma

vez sequer.

acho que o chicano venceumas não tenho certeza.

liberdade

ela estava sentada na janela doquarto 1010 no Chelsea emNova York,

o antigo quarto de Janis Joplin.fazia 40 grause ela estava alterada e tinha uma

perna para fora do peitoril,e se inclinava para fora e dizia,

“Deus isso é ótimo!”e então ela escorregou e quase caiu

lá embaixo, agarrando-se nomomento final.

foi por pouco.voltou para dentro e se esticou na

cama.

já perdi um bocado de mulheres de

um bocado de modos diferentesmas teria sido

a primeira vezdesse modo.

então ela rolou da cama caindo de

costase quando me aproximei ela estava

dormindo.

ela passara o dia todo querendo vera Estátua da Liberdade.

agora por um tempo ela não me

incomodaria com isso.

não toque nas garotas

ela está lá em cima vendo meumédico tentando conseguir umaspílulas para emagrecer; ela nãoé gorda, precisa do barato.

sigo até o bar mais próximo eespero.

às 3h20 da tarde de uma terça-feira.

eles têm uma dançarina.

há apenas um outro cara no bar.

ela faz seus passos

olhando-se no espelho.parece uma macacaescuracoreana.

ela não é muito boa,esquelética e previsível e ela estica

sua língua para mim e depoispara o outro cara.

os tempos devem ser bem difíceis,penso.

tomo mais algumas cervejas e melevanto para sair.

ela me acena.“já vai?”, pergunta.“sim”, eu digo, “minha esposa tem

câncer.”

dou-lhe um aperto de mão.

ela aponta para um cartaz atrás desi: NÃO TOQUE NAS GAROTAS.

ela aponta para o cartaz e diz, “ocartaz diz ‘NÃO TOQUE NASGAROTAS’.”

sigo até o estacionamento eespero.

ela aparece.“conseguiu as pílulas?” pergunto.“sim”, ela diz.“então ganhou o dia.”

penso na dançarina cruzando minha

cozinha. não consigo visualizar.morrerei sozinho

do mesmo modo que vivo.

“leve-me para casa”, ela diz, “tenhoque me preparar para o cursonoturno”.

“claro”, eu digo e a levo embora.

óculos escuros

nunca uso óculos escurosmas esta ruiva foi buscaruma receita preenchida no

Hollywood Blvd.e ela seguia discutindo comigo,

rilhando os dentes e rosnando.deixei-a junto ao balcão da

prescrição e fui dar uma volta ecomprei um enorme tubo deCrest e uma garrafa gigante deJoy.

então me aproximei de ummostruário de óculos escuros ecomprei o mais terrível par quepude encontrar.

pagamos por nossas coisasfomos até um restaurante mexicano

e ela pediu um taco do qual nãodaria conta e ficou ali sentada

rilhando os dentes e rosnando erosnando pra mim e após comerpedi 3 cervejas sequei-as

depois pus meus óculos.“ó meu Deus”, ela disse, “puta que

pariu!”e eu a acertei dos dois lados a mais

excelente das respostasrosnando fedorentas balas demarmelada rajadas de merda

peidos vindos do inferno,então me levanteipaguei

ela saindo atrás de mimnós dois de óculos escurose as calçadas se dividindo.encontramos o carro delaentramos e partimoseu ali sentadoempurrando os óculos novamente

contra meu nariz arrancando-lhea espinha

agitando-a do lado de fora dajanela como um mastro partidoda Confederação...

os óculos escuros e malévolosajudando.

“puta que pariu!” ela disse, e o solbrilhava no céu

e eu não percebia.

saíram a bagatela de US$ 4.25mesmo levando-se em

consideração que esqueci aCrest e a Joy no

mexicano do taco.

orador debaixo demau tempo

por Deus, não sei o que fazer.elas são tão legais de se ter por

perto.elas têm um jeito de tocar as bolas

e olhar para o pau muitoseriamente virando-o puxando-oexaminando cada parteenquanto seus longos cabeloscaem sobre a sua barriga.

não é apenas o foder e o chupar

que alcançam o interior dohomem e o amaciam, são osextras, está tudo nos extras.

agora é noite e está chovendo enão há ninguém estão todas emoutros lugares examinandocoisas em novos quartos comnovos humores mesmo que emvelhos quartos.

seja o que for, é noite e estáchovendo, uma chuva torrencial,maldita e pesada...

muito pouco a fazer.já li o jornal paguei a conta do gás

a conta de luza conta do telefone.

continua chovendo.

elas amaciam um homeme então o deixam a nadarem seu próprio suco.

preciso de uma vagabunda no velho

estilo batendo à porta esta noitefechando seu guarda-chuva verde,

gotas de chuva enluarada sobresua bolsa, dizendo, “merda, cara,não consegue achar uma música

melhor do que essa no seurádio?

e aumente o aquecimento...”

é sempre quando um homem estátomado

de amor e tudomaisque continua chovendoalagadouraencharcantechuvaboa para as árvores e para agrama e para o ar...

boa para coisas quevivem sozinhas.

eu daria qualquer coisapela mão de uma fêmea em mimesta noite.elas amaciam um homem edepois o deixamescutando a chuva.

melancolia

a história da melancolia inclui atodos nós.

eu, eu escrevo em folhas sujasenquanto encaro fixamente asparedes azuis e o nada.

estou tão acostumado à melancolia

quea cumprimento como a uma velha

amiga.

farei agora 15 minutos desofrimento pela ruiva perdida,digo aos deuses.

faço isso e me sinto um tanto malbastante triste,

então me levantoREVIGORADOmesmo sabendo que nada está

resolvido.

isto é o que eu ganho por chutar areligião no rabo.

deveria ter chutado o rabo da ruivaonde estão seu cérebro e seu pão

com manteigana...

mas não, eu estava me sentindotriste com tudo:

a ruiva perdida foi apenas outrogolpe numa longa vida deperdas...

escuto uns tambores no rádio agorae dou uma risada.

há alguma coisa errada comigo

além damelancolia.

um caso deestetoscópio

meu médico recém entrou em suasala vindo da cirurgia.

ele me encontra no banheiromasculino.

“puta que pariu”, ele me diz,“onde você a encontrou? oh, como

é bom olhar para garotas comoesta!”

eu lhe digo: “é minhaespecialidade: corações decimento e corpos esculturais. seconseguir ouvir um batimento,me avise.”

“vou cuidar dela direitinho”, ele diz.“sim, e por favor lembre-se de

todos os códigos de ética de suahonorável profissão”, eu lhedisse.

fechou primeiro a braguilha edepois lavou as mãos.

“como está a sua saúde?” elepergunta.

“fisicamente funciono como umrelógio. mentalmente estouperdido, condenado, carregandominha pequena [cruz, toda essamerda.”

“cuidarei bem dela.”

“sim. e me avise a respeito dosbatimentos cardíacos.”

ele saiu.terminei, fechei a braguilha e

também saí.mas não lavei minhas mãos.

estou muito à frente dessaspreocupações.

morda-se de raiva

vim até aqui, ela diz, para lhe falarque está tudo acabado. nãoestou de brincadeira, acabou.ficamos assim.

sento no sofá olhando ela ajeitarseus cabelos longos e ruivos emfrente ao espelho do meuquarto.

ela ergue os cabelos e faz umcoque no topo da cabeça – eladeixa que seus olhos encontremos meus – então ela solta os

cabelos e deixa que eles lhecubram o rosto.

vamos para a cama e eu a segurode costas sem dizer uma palavrameu braço em volta de seupescoço toco seus pulsos e mãossinto-a até chegar

aos cotovelosmas não além.

ela se levanta.

está tudo acabado, ela diz, morda-se de raiva. você tem algumaborrachinha?

não sei.

achei uma, ela diz,vai servir. bem,vou indo.

me levanto e a levoaté a portalogo ao sair

ela diz,quero que você me compreum sapato de salto altosalto agulhasapatos pretos de salto.não, quero um parvermelho.

vejo ela seguir pela passagem de

cimentodebaixo das árvoresela caminha direitinho eenquanto as poinsétias gotejam ao

soleu fecho a porta.

a retirada

desta vez o negócio acabou comigo.

me sinto como as tropas alemãsaçoitadas pela neve e peloscomunistas caminhandocurvadas

as botas gastasforradas com papel jornal.

minha condição é tão terrívelquanto.

talvez até pior.

a vitória estava tão pertoa vitória estava logo ali.

enquanto ela estava ali diante demeu espelho mais jovem e belado que

qualquer outra mulher que eu jáconhecera penteando metros emais metros de cabelo ruivoenquanto eu a observava.

e quando ela veio para a camaestava mais bela do que nunca eo amor foi muito muito bom.

onze meses.

agora ela se foicomo todas se vão.

desta vez o negócio acabou comigo.

é um longo caminho de voltamas de volta pra onde?

o cara que vai na minha frente

acaba decair.

passo por cima dele.

será que ela também o acertou?

cometi um erro

me estiquei até a última prateleirado armário e puxei de lá umacalcinha azul e mostrei a ela e

perguntei “são suas?”

e ela olhou e disse,“não, devem ser da cadela”.

depois disso ela se foi e não a videsde então. não está na suacasa.

continuo passando por lá, enfiandobilhetes debaixo da porta. voltoali e os bilhetes continuamintocados. arranco a cruz deMalta do retrovisor do meu carroe a amarro com um cadarço àsua maçaneta, deixo um livro depoemas.

ao retornar na noite seguinte tudocontinua ali.

continuo rondando as ruas embusca daquele encouraçado corde vinho que ela dirige com umabateria fraca, e as portaspendendo das dobradiças

estropiadas.

circulo pelas ruasa um passo de chorar,envergonhado de meu

sentimentalismo e possívelamor.

um homem velho e confusodirigindo na chuva perguntando-se onde a boa sorte foi parar.

4melodias populares no que restou de

sua mente

garotas de meia-calça

estudantes de meia-calça sentadasnas paradas de ônibusparecendo cansadas aos 13

com seus batons de framboesa.está quente sob o sole o dia na escola foimaçante, e ir pra casa é maçante, e

eudirijo meu carroe dou uma espiada naquelas pernas

quentes.seus olhos não estão focados em

nada – elas foram avisadassobre os veteranos tarados e

cruéis; eles não desistirão assim

tão fácil.e ainda assim é maçantepassar aqueles minutos no banco e

os anos emcasa, e os livros que elas carregam

são maçantes e aquilo de que sealimentam é maçante, e atémesmo os veteranos tarados ecruéis são maçantes.

as garotas de meia-calça esperam,esperam pelo momento e horaexatos para só então se mover ecertamente conquistar.

circulo com o meu carroespiando suas pernassatisfeito por saber que jamais farei

parte nem de seus paraísos nemde seus infernos. mas os batonsescarlates naquelas tristes bocasque esperam! seria deliciosobeijar cada uma delas, uma vezque fosse, por completo, e entãodevolvê-las.

mas o ônibus aspegará primeiro.

subindo seu rioamarelo

uma mulher contou a um homemassim que ele desceu de umavião que eu estava morto.

uma revista publicoua notícia de que eu tinha morrido e

mais alguém disseque eles ouviram sobre o meu

falecimento, e que então alguémescreveu um artigo e dissenosso Rimbaud nosso Villionestá morto. ao mesmo tempoum velho parceiro de bebidapublicou um texto afirmando que

eu já não podia mais escrever.um verdadeiro trabalho deJudas. eles não podem esperarque eu me vá, esses cretinos.bem, escuto o

concerto de piano número um deTchaikovski e

o locutor anuncia que a5ª e a 10ª sinfonias de Mahler virão

a seguir desdeAmsterdã,e as garrafas de cerveja se

espalham sobre o chão e ascinzas dos meus cigarros

cobrem minhas cuecas dealgodão e minha barriga, mandei

todas as minhas namoradas pro

inferno, e mesmo isto é umpoema muito melhor do quequalquer coisa que essescoveiros possam escrever.

artistas:

ela me escreveu por anos.“estou bebendo vinho na cozinha.chove lá fora. as crianças estão na

escola.”

ela era uma cidadã qualquerocupada com sua alma, suamáquina de escrever e sua

reputação como poetaunderground.

ela escrevia decentemente e comhonestidade mas apenas depoisque outros já haviam aberto ocaminho.

me ligava bêbada às 2 da manhã às

3enquanto o marido dormia.

“é bom ouvir a sua voz”, ela dizia.

“é bom ouvir a sua voz também”,eu dizia.

que diabo, vocêsabe.

ela finalmente apareceu. acho que

teve algo a ver comThe Chapparal Poets Society of

California.eles tinham que eleger seus

quadros. ela me ligou do hoteldeles.

“estou aqui”, ela disse, “vamoseleger os representantes.”

“ok, ótimo”, eu disse, “escolha unsrealmente bons”.

desliguei.

o telefone voltou a tocar.“ei, você não quer me ver?”

“claro”, eu disse, “qual é oendereço?”

depois que ela disse até logo eu

bati uma troquei as meiasbebi meia garrafa de vinho e segui

até lá.

estavam todos bêbados e tentavamse foder mutuamente.

levei-a para minha casa.

ela vestia uma calcinha cor-de-rosacom fitinhas.

bebemos uma pouco de cerveja efumamos e falamos sobre EzraPound, depois

dormimos.

já não tenho clarose a levei para oaeroporto ounão.

ela continua me escrevendo cartas

e eu as respondoda pior maneira possível torcendo

para que eladesista.

algum dia talvez ela alcance afama como EricaJong. (seu rosto não é lá essas

coisasmas seu corpo é legal)e eu pensarei,meu Deus, o que foi que eu fiz?estraguei tudo.ou melhor: eu não estragueinada.

enquanto isso tenho o número de

sua caixa postale é melhor eu informar a elaque meu segundo romance sairáem setembro.

isso deverá manter os seusmamilos duros

enquanto considero a possibilidadede

Francine du Plessix Gray[4].

eu também tenho acueca carimbada

escuto suas vozes do lado de fora:“ele sempre bate à máquina atétão tarde?”

“não, é bastante incomum.”“ele não deveria bater a essa hora.”“isso quase nunca acontece.”“ele bebe?”“acho que sim.”“ontem ele foi até a caixa do

correio só de cuecas.”“eu também vi.”“ele não tem amigos.”“está velho.”

“não deveria bater a esta hora.”

eles entram e começa a choverenquanto

3 disparos soam a meia quadra dedistância e

um dos arranha-céus no centro deL.A. começa a arder

em chamas de 8 metros quelambem a escuridão da noite.

Hawley está saindo dacidade

este caratem um olhar louco e é bronzeado

um bronzeado escuro de sol osol de Hollywood e do oeste osol do hipódromo ele me vê ediz, “ei, Hawley está saindo dacidade por uma semana. eledetona as minhas vantagens.agora tenho uma chance.”

ele está sorrindo, fala sério: com

Hawley fora da cidade ele semudará para aquele castelo emHollywood Hills; dançarinas seispastores alemães uma pontelevadiça, vinhos de dez anos.

Sam, o Putanheiro, se aproxima eeu lhe digo que estou faturandoUS$ 150 por dia nas corridas.

“vou direto nas totalizações”, eu lhedigo.

“preciso de uma garota”, ele mediz, “que possa prender um carasem vir com toda essa bobajadasobre moral cristã no final.

“Hawley está saindo da cidade”,

eu digo a Sam.

“onde está o Sapato?”ele pergunta.“lá pro leste”, diz um velhoque está ali parado.ele tem um pequeno protetor de

plástico branco sobre o olhoesquerdo

cravejado depequenos furos.

“isso deixa tudo nas mãos doPinky”,

diz o bronzeado.

ficamos todos ali de pé olhando unspara os

outros.entãoapós um sinal silenciosonos afastamose seguimos,cada qualem uma direção diferente:norte sul leste oeste.

nós sabemos de algo.

um poema rude

eles seguem escrevendodespejando poemas...jovens garotos e professores

universitários esposas quebebem vinho durante a tardeenquanto seus maridostrabalham, eles seguemescrevendo

os mesmos nomes nas mesmasrevistas todos escrevendo umpouco pior a cada ano, lançandouma coletânea de poesiasdespejando mais poemas

é como um concursoé um concurso

mas o prêmio é invisível.

eles não escreverão contos ouartigos ou romances

apenas seguirãodespejando poemascada um soando mais e mais como

os outros e menos e menoscomo eles mesmos, e alguns dosgarotos se cansam e desistemmas os professores nuncadesistem e as mulheres quebebem vinho durante a tardenunca nunca nunca desistem

e novos garotos chegam com novasrevistas e há algumacorrespondência entre homens e

mulheres algumas fodase tudo é exagerado e estúpido.

quando os poemas são recusados

eles os reescreveme mandam para a próxima revista

na lista, e eles fazem leiturastodas as leituras que conseguemde graça na maioria das vezesesperando que alguémfinalmente os reconheçafinalmente os aplauda

finalmente os congratule ereconheça o talento deles

estão todos tão certos de suasgenialidades há tão poucoautoquestionamento, e a

maioria deles vive em NorthBeach ou Nova York, e seusrostos são como seus poemas:iguais,

e conhecem uns aos outros ese congregam e se odeiam e se

admiram e se escolhem e sedescartam

e seguem despejando mais poemasmais poemas

mais poemaso concurso dos cretinos:tap, tap, tap, tap, tap, tap, tap, tap,

tap, tap...

uma abelha

suponho que como qualquer garototive um melhor amigo navizinhança.

o nome dele era Eugene e eramuito maior do que eu e um anomais velho.

Eugene costumava me encher deporrada.

estávamos sempre brigando.eu tentava vencê-lo mas sempre

sem muito sucesso.

uma vez pulamos juntos de cima do

telhado da garagem para provarque éramos valentes.

torci meu tornozelo e ele saiu ilesocomo manteiga recém-tirada dopapel.

acho que a única coisa boa que elefez por mim foi quando umaabelha me picou o pé descalço eassim que me sentei para tirar oferrão ele disse,

“vou pegar a filha da puta!”

e foi o que ele fezcom uma raquete de tênis

mais um martelo de borracha.

estava tudo bemdizem que de qualquer modo elas

morrem.

meu pé inchou e dobrou detamanho e eu fiquei de cama

rezando para morrer

e Eugene seguiu em frente e setornou um almirante oucomandante

de alguma coisa de vulto naMarinha dos Estados Unidos econseguiu passar por uma ouduas guerras sem se ferir.

imagino-o envelhecido agora numa

cadeira de balançocom seus dentes postiçosbebendo seu leitinho...

enquanto eu bêbadomasturbo esta tiete de 19 anos que

divide a cama comigo.

mas o pior é que(assim como naquele salto do

telhado da garagem) Eugenesegue vencendo

porque ele nem sequer estápensando em mim.

o principal

aí vem a cabeça de peixe cantanteaí vem a batata assada em suaroupa bizarra

aí vem nada para fazer o dia todoaí vem outra noite sem conciliaro sono

aí vem o telefone e sua campainhaerrada

aí vem um cupim com um banjo aívem um mastro com olhosvazios aí vem um gato e umcachorro usando meias de náilon

aí vem uma metralhadora emcantoria aí vem o bacon numafrigideira aí vem uma voz

dizendo qualquer coisa tolaaí vem um jornal recheado com

pequenos pássaros [vermelhoscom bicos marrons e retos

aí vem uma boceta carregando uma

tocha uma granadaum amor fatal

aí vem a vitória carregandoum balde de sanguee tropeçando num arbusto

e os lençóis pendurados nas janelase os bombardeiros em direção a

leste oeste norte sul se perdemse reviram como salada

enquanto todos os peixes no mar sealinham em fila

única

uma longa filamuito longa e finaa linha mais longa que você puder

imaginar

e nós nos perdemoscruzando montanhas púrpuras

caminhamos a esmopor fim nus como a faca

tendo desistido

tendo posto tudo pra fora comouma inesperada semente deazeitona enquanto a garota dacentral telefônica

grita ao telefone:“não retorne a ligação! você parece

um cretino!”

ah...

bebendo cerveja alemã e tentandoalcançar o o poema imortal às 5da tarde.

mas, ah, eu disse aos estudantesque a coisa certa a fazer é nãotentar.

mas quando as mulheres não estão

por perto e os cavalos não estãocorrendo

o que mais se pode fazer?

tive um par defantasias sexuais almocei fora

enviei três cartas fui à mercearia.nada na tv.o telefone está calado.passei fio dentalentre meus dentes.não vai chover e eu escuto os

primeiros a chegar das 8 horasde trabalho enquanto dirigem eestacionam seus carros atrás doapartamento ao lado.

me sento bebendo cerveja alemã e

tento alcançaro grande poemae não irei conseguir.apenas seguirei bebendo mais e

mais cerveja alemã e enrolando

cigarros e lá pelas 11 horasestarei deitado

na cama desfeitaolhando para cima acordado sob a

luz elétricaesperando ainda pelo poema

imortal.

a garota no banco daparada de ônibus

eu a vi quando eu estava na pistada esquerda indo a leste pelaSunset.

ela estava sentadaas pernas cruzadaslendo um livro de bolso.era italiana ou indiana ou gregae enquanto eu estava parado no

sinal vermelho vez ou outra umvento erguia sua saia,

eu tinha a visão desimpedida,revelando

pernas da mais imaculada perfeição

que eu jamais vira.sou essencialmente tímido mas

olhei e fiquei olhando até queuma pessoa no carro atrás demim começou a buzinar.

isso nunca tinha acontecido dessamaneira.

dei a volta na quadra e estacioneinuma vaga do supermercado

bem em frente ao lugar em que elaestava de óculos escuros

eu não deixava de olhar como umcolegial em sua primeiraexcitação.

memorizei seus sapatos seu vestidosuas meiasseu rosto.os carros passavam e me

bloqueavam a visão.então eu a via novamente.o vento erguia sua saia para muito

além das coxas e comecei a metocar.

um pouco antes do ônibus delaaparecer cheguei ao orgasmo.

senti o cheiro do meu esperma suaumidade em meu calção ecueca.

era um ônibus branco e feio e alevou embora.

dei a ré no estacionamentopensando, eu sou um voyeurpervertido mas ao menos nãome

expus.

sou um voyeur pervertido mas porque elas fazem isso?

por que têm essa aparência?por que deixam o vento soprar

assim?

ao chegar em casatirei a roupa e fui para o banho saí

enrolado natoalhaligueias notíciasapaguei as notíciaseescrevi este poema.

voltando para onde euestava

eu costumava retirar a parte de trásdo telefone e enchê-la comtrapos e quando batiam à porta

eu me fingia de morto e se elespersistissem mandava-os emtermos vulgares para aquelelugar.

apenas mais um velho maluco com

asas de ourouma pança branca e flácida maisum par de olhos capaz de

nocautear o sol.

um casal adorável

eu tinha que dar uma cagada masem vez disso fui até essa lojapara fazer uma chave.

a mulher usava um vestido dealgodão e cheirava a ratoalmiscarado.

“Ralph”, ela urrou e, seu marido,um porco velho numa camisa floridacalçando um sapato 39apareceu e ela disse, “esse homem

quer uma chave”.ele começou a afiá-la como se

realmente não quisesse fazeraquilo.

havia sombras

furtivas e urina no ar.segui ao longo do balcão de vidro,

apontei e chamei a mulher,“ei, eu quero este aqui”.ela me alcançou o objeto: um

canivete num estojo de umpúrpura claro.

US$ 6.50 mais as taxas.a chave custoupraticamentenada.peguei o troco e saí em direçãoà rua.algumas vezes você precisa de

gente desse tipo.

a noite mais estranhaque de fato você jáviu...

eu tinha esse quarto da frente naDeLongpre e costumava mesentar por horas durante o dia

olhando pela janelada frente.havia um número incontável de

garotas que passavamrebolando;aquilo salvava minhas tardes,

acrescentava algo à cerveja eaos cigarros.

certo dia eu vi alguma coisa a mais.escutei primeiro o som.“vamos lá, empurrem!”, ele disse.era uma enorme tábua com 1

metro de largura por 20 decomprimento;

com rodinhas atarraxadas àsextremidades e ao meio.

ele puxava pela frente usando duaslongas cordas presas à tábua eela ia atrás

controlando a direção e tambémempurrando.

todos os seus bens estavam atadosàquela tábua:

potes, panelas, colchas e tudo omais amarrado à tábua

bem preso;e as rodinhas rangiam.

ele era branco, um colono, um

sulista – magro, curvo, as calçasa ponto de cair e revelar

seu rabo –o rosto rosado pelo sol e vinho

barato,e ela negracaminhando aprumadaempurrando;ela era simplesmente maravilhosa

de turbantegrandes brincos verdes um vestido

amareloque iado pescoço aotornozelo.seu rosto estava gloriosamente

indiferente.

“não se preocupe!” ele gritou,voltando-se para ela, “alguémvai

nos alugar um quarto!”

ela não respondeu.

então eles desapareceram emboraeu ainda ouvisse as rodinhas.

eles iriam conseguir, pensei.

tenho certeza quesim.

numa vizinhança deassassinos

as baratas cospemclipes de papele o helicóptero descreve círculos e

mais círculos em busca desangue

luzes de busca deslizando furtivaspor nosso quarto

5 caras nesta área têm pistolas

outro umfacãosomos todos assassinos e

alcoólatras

mas a coisa é ainda pior no hoteldo outro lado da rua eles ficamsentados na entrada verde ebranca banais e depravadosesperando para sereminstitucionalizados

aqui cada um de nós tem umpequeno vaso na janela

e quando brigamos com nossasmulheres às 3 da manhãfalamos

baixinhoe em cada uma das varandas há

um pequeno prato de comidasempre esvaziado pela manhãpresumimos

pelos

gatos.

soldado raso

tiraram meu homem das ruas outrodia

ele usava um casaco de moletomdos L.A. Rams[5]

as mangas cortadase debaixouma camiseta do exército soldado

rasoe ele usava uma boina verde

caminhava muito ereto eranegro e vestia calções marrons ocabelo de um loiro apagadonunca incomodava ninguémroubava alguns bebês

e corria dando gargalhadas mas

sempre retornava com ascrianças ilesas

dormia atrás dobordelcom a permissão das garotas.a compaixão se revela em

estranhos lugares.

certo dia não o vi mais e depoismais outro se passou.

perguntei nas redondezas.

meus impostos voltarão a subir. oestado precisa lhe dar abrigo e

comida. os policiais o pegaram.

isso não ébom.

o amor é um cão dosdiabos

pé de queijo alma de cafeteiramãos que odeiam tacos debilhar olhos como clipes depapel eu prefiro vinho tintoentedio-me em aviões sou dócildurante terremotos sonolentoem funerais vomito nos desfilese vou para o sacrifício no xadreze nas bocetas e nos afetoscheiro urina nas igrejas já nãoconsigo mais ler já não consigomais dormir

olhos como clipes de papel meus

olhos verdes prefiro vinhobranco

minha caixa de camisinhas estápassando da validade eu as tiropra fora Trojan-Enz[6]

lubrificadas para maiorsensibilidade tiro todas pra forae ponho três ao mesmo tempo

as paredes do meu quarto são azuispara onde você foi, Linda?para onde você foi, Katherine?(e Nina partiu pra Inglaterra) tenho

cortadores de unhae limpa-vidros Windexolhos verdesquarto azulbrilhante metralhadora solar

essa coisa toda é como uma focapresa em oleosas rochase cercada pela Banda Marcial de

Long Beach às 3h26 da tarde

há um tiquetaquear atrás de mimmas nenhum relógiosinto algo rastejarao longo de minha narina esquerda:memórias de aviões

minha mãe tinha dentes postiçosmeu pai tinha dentes postiçose durante todos os sábados de suas

vidaseles recolhiam todos os tapetes de

sua casa enceravam o chão detabuões

e o cobriam novamente com ostapetes

e Nina está na Inglaterrae Irene está no abrigo municipale eu pego meus olhos verdese me deito em meu quarto azul

minha tiete

fiz uma leitura no último sábado nobosque para além de Santa Cruz

e estava a 3/4 do finalquando escutei um grito longo e

desesperado e uma jovembastante

atraente veio correndo em minhadireção vestido longo & fogodivino nos olhos e invadiu opalco

e gritou: “EU QUERO VOCÊ!EU QUERO VOCÊ! ME LEVE! MELEVE!”eu disse a ela: “olhe, fique longe de

mim”.

mas ela continuava agarrada àsminhas roupas e se esfregandoem

mim.“onde você estava”, eu lhe

perguntei, “quando eu vivia comapenas uma barra de doce pordia e mandava meus contospara a

Atlantic Monthly?”ela agarrou minhas bolas e quase

as arrancou. seus beijostinham gosto de sopa de merda.2 mulheres subiram no palcoea carregaram para dentro dobosque.

eu ainda podia ouvir seus gritosquando comecei o poemaseguinte.

talvez, pensei, eu devessetê-la possuído naquele palco na

frente de todos aqueles olhos.mas alguém nunca pode ter certeza

se isso é boa poesia ouácido de má qualidade.

agora, se você tivesseque ensinar escritacriativa, eleperguntou, o que vocêlhes diria?

eu lhes diria para terem um caso deamor fracassado, hemorróidas,dentes podres e beber vinhobarato,

para evitarem a ópera e o golfe e oxadrez, seguirem trocando aguarda de suas camas de paredeem parede

e depois eu lhes diria para teremoutro caso de amor fracassado enunca usar uma fita de seda namáquina de escrever,

evitar os piqueniques em família ouserem fotografados em umjardim coberto de rosas;

para lerem Hemingway apenas umavez, pularem Faulkner

ignorarem Gogololharem fixo para as fotos de

Gertrude Stein e ler SherwoodAnderson na cama comendobiscoitos Ritz água e sal,perceberem que as pessoas quenão param de falar sobre aliberação sexual na verdade

estão mais assustadas do quevocês.

para ouvirem E. Power Biggsdebulhar o órgão no rádioenquanto estão fumando umBull Durham no escuro numacidade estranha

restando apenas um dia pago dealuguel após terem desistido detudo amigos, parentes eempregos.

jamais se considerem superiores e/ou dentro da médianem nunca tentem sê-lo.tenham um outro caso de amor

fracassado.observem uma mosca sobre uma

cortina de verão.jamais tentem ter sucesso.não joguem sinuca.deixem que uma fúria legítima

tome conta de vocês quandoseus carros estiverem com umpneu no chão.

tomem vitaminas mas nãolevantem pesos nem corram.

então depois disso tudorevertam o processo.tenham um bom caso de amor.e a coisaque vocês talvez aprendamé que ninguém sabe nada –nem o Estado, nem os ratos

nem a mangueira no jardim nem aEstrela Polar.

e se por acaso vocês me pegaremensinando numa classe deescrita criativa e me lerem estepoema

eu lhes darei um A com louvor bemno olho

do cu.

a boa vida

uma casa com 7 ou 8 pessoasvivendo ali

rachando o aluguel.há um estéreo nunca utilizado e um

par de bongôs nunca utilizadoe há panos cobrindo as janelase você fumaenquanto baratas vivas escorregam

sobre os botões de sua camisa edespencam no chão.

está escuro e alguém vai em buscade comida. você come e dorme.

todos dormem ao mesmotempo: no chão, sobre asmesas, sofás, camas, nasbanheiras. há até mesmo umapessoa lá fora no mato.

então alguém acorda e diz, “vamoslá, vamos fechar um!”

alguns outros acordam.“opa. é isso aí.”

“beleza. vamos lá, alguém aí fechadois. vamos nos chapar!”

“isso. vamos nos chapar!”

fumamos alguns baseados e depoisvoltamos a dormirtrocando apenas de lugarda banheira para o sofá, da mesa

parao tapete, da cama para o chão, e

um novosujeito desaba no matolá fora, e eles ainda nãoencontraram Patty Hearst e Tim

não querfalar comAllan.

o grego

o cara do pátio da frente nãoconsegue falar inglês, ele égrego, um sujeito com umaspecto um tanto estúpido e feioque é o diabo.

agora meu senhorio resolveu pintarquadros, nada muito bom.

ele mostrou ao grego uma de suaspinturas.

o grego saiu e voltou compapéis, pincéis, tintas.

o grego começou a pintar no seupátio da frente. ele deixa aspinturas do lado de fora prasecar.

o grego nunca havia pintado antes– agora ali estão:um violão azul uma rua um

cavalo.

ele é bompara os seus mais de quarenta anos

ele é bom.encontrou umbrinquedo.está felizagora.

então eu penso, me pergunto se elechegará a ficar muito bom?

e me pergunto se terei que ver oresto?

a glória e as mulheres e asmulheres e as mulheres e as

mulheres e a decadência.

quase posso farejar ossanguessugas formando uma filaà esquerda.

veja bem,eu mesmo já estou ligado a ele.

meus camaradas

aquele ali ensinaaquele outro vive com a mãe.e aquele outro é sustentado por um

pai alcoólatra e [rubicundo donode um cérebro de mutuca.

aquele ali toma boletas e vemsendo sustentado pela mesmamulher há 14 anos.

aquele outro escreve um romance acada dez dias mas ao menospaga o próprio aluguel.

aquele ali vai de lugar em lugardormindo em sofás, bebendo e

proferindo seus discursos.aquele ali imprime seus próprios

livros numa máquina copiadora.aquele outro vive num vestiário

abandonado num hotel emHollywood.

aquele parece saber como arranjartostão depois de tostão, suavida é um preencher deformulários.

aquele ali simplesmente é rico evive nos melhores lugaresenquanto bate às melhoresportas.

aquele lá tomou café com WilliamCarlos Williams.

e aquele ali ensina.e aquele lá ensina.e aquele ali publica livros de

autoajuda sobre como fazer ascoisas e usa uma vozdominadora e cruel.

eles estão em todo o lugar.todos são escritores.e quase todo escritor é um poeta.poetas poetas poetas poetas

poetas poetas poetas poetaspoetas poetas poetas poetas

a próxima vez que o telefone tocarserá um poeta.

a próxima pessoa a bater à portaserá um poeta.aquele ali ensinae aquele outro vive com a mãe

e aquele lá está escrevendo ahistória de Ezra Pound.

oh, irmãos, somos as mais doentese as piores criaturas da raça.

alma

oh, como eles se preocupam comminha alma!

recebo cartaso telefone toca…“você vai ficar bem?”perguntam.“ficarei bem”, eu lhes digo.

“já vi tantos se afundarem nasarjeta”, eles me dizem.

“não se preocupem comigo”, digo.ainda assim me deixam nervoso.entro e tomo uma chuveirada saio e

espremo uma espinha do nariz.então vou até a cozinha e preparo

um sanduíche de salame epresunto.

eu costumava viver de docesbaratos.

agora tenho mostarda alemãimportada para passar nosanduíche. devo estar em perigopor causa disso.

o telefone segue tocando e ascartas seguem chegando.

se você vive dentro de um armário

na companhia de ratos e comepão velho

eles gostam de você.você passa a ser umgênio.

ou se está num manicômio oudetido numa delegacia eles ochamam de gênio.

ou se você está bêbado e não parade gritar obscenidades

vomitando as tripas no chãovocê é um gênio.

mas experimente pagar o aluguel

um mês adiantadovestir um novo par de meias ir ao

dentistafazer amor com uma garota limpa e

saudável em vez de pegar umaputa e você vendeu sua

alma.

não estou minimamenteinteressado em perguntar comovão suas almas.

suponho que era o que eu deveriafazer.

uma mudança dehábito

Shirley chegou à cidade com umaperna quebrada e conheceu ochicano que fumava longoscharutos slim e eles foram morarjuntos na Beacon Street

5º andar;a perna não atrapalhavamuito eeles assistiam televisão juntos e

Shirley cozinhava, demuletas e tudo;havia um gato, Bogey,e eles tinham alguns amigos e

falavam sobre esportes eRichard Nixon e de como eradifícil tocar as coisas.

funcionou por alguns meses, Shirleyse livrou até do gesso, e ochicano, Manuel,

conseguiu um emprego no Biltmore,Shirley costurava todos osbotões caídos das camisas deManuel, remendava eemparelhava as meias dele,então

um dia Manuel retornou para casa,e ela havia sumido – semdiscussão, sem bilhete, apenassumira, levando todas as roupase pertences, e

Manuel sentou-se junto à janela eolhou para a rua e não foi aotrabalho

na manhã seguinte nemna outra e nemna outra,sequer ligou para avisar, perdeu o

emprego,recebeu uma multa por

estacionamento proibido, fumouquatrocentos e sessentacigarros, foi preso porembriaguez, saiu por fiança, foi

a julgamento e se confessouculpado.

quando o aluguel venceu ele se

mudou da Beacon Street, deixouo gato e foi viver com seu irmãoe

os dois enchiam a caratodas as noitese falavam sobre o quãoterrívelera a vida.

Manuel jamais voltou a fumaraqueles longos charutos slimporque Shirley sempre diziacomo

ele ficava bonitocom eles na boca.

$$$$$$

sempre tive problemas comdinheiro.

num dos lugares em que trabalheitodos comiam cachorro-quente ebatatas fritas

na cantina da empresa3 dias antes de cadapagamento.eu queria uns bifes,cheguei inclusive a procurar o

gerente da cantina eexigir que ele servisseuns bifes. ele se recusou.

Eu esqueci do dia do pagamento.eu tinha um alto grau de

indiferença e o dia dopagamento chegava e todos nãofalavam em outra

coisa.“pagamento?” eu dizia, “diabo, hoje

é dia de receber? me esqueci depegar meu último cheque...”

“pare de falar merda, cara...”

“não, não, é sério...”

eu me erguia e ia até o caixa eclaro que o cheque estava lá ena volta eu o mostrava

a todos eles. “Jesus Cristo, esquecicompletamente do negócio...”

por alguma razão isso os deixava

furiosos. então o funcionário docaixa aparecia. eu tinha dois

cheques. “Jesus”, eu dizia, “doischeques”.

e eles ficavamfuriosos.alguns deles mantinhamdois empregos.

No pior dos dias

chovia pesadamenteeu não tinha uma capa de chuva

então vesti um velho casaco queeu não usava havia meses e

cheguei um pouco atrasado quandoeles já estavam no batente.

procurei por cigarros nos bolsos enum deles encontrei uma notade cinco dólares:

“ei, vejam”, eu disse, “acabo deencontrar cinco pratas que eunão sabia que tinha, quebeleza”.

“ei, cara, não venha com essamerda!”

“não, não, estou falando sério, deverdade, lembro de ter vestidoeste casaco quando estavabêbado e vagando de bar embar. já me tomaram dinheiromuitas vezes, fiqueidesconfiado... tiro o dinheiro daminha carteira e o escondo emoutras partes.”

“sente de uma vez e comece atrabalhar.”

meti a mão num bolso interno: “ei,vejam, tem um VINTÃO aqui!Deus, não sabia que tinha esteVINTÃO!

estouRICO!”

“ninguém está achando graça, seufilho da puta...”

“ei, meu Deus, aqui tem maisOUTRA de vinte! é muita, muitamuita grana... eu sabia que não

tinha gasto todo o dinheironaquela noite. pensei quetinham me levado os cobresoutra vez...”

continuei vasculhando ocasaco. “ei, aqui tem uma de dez e

aqui mais um cinquinho! meuDeus...”

“escute, já disse pra você sentar ecalar a boca...”

“meu Deus, estou RICO... nãopreciso nem mais desteemprego...”

“cara, senta aí...”

achei mais outra de dez depois queme sentei mas não disse

nada.podia sentir as ondas de ódio e

estava confuso,eles achavam que eu tinha armado

toda aquela história apenas parafazê-los se

sentirem mal. não era o que eu

queria. pessoas que tem quepassar a cachorros-quentes ebatatas fritas por

3 dias antes de sair o pagamento jáse sentem mal o

suficiente.

sentei-meinclinei-me para a frente e comecei

atrabalhar.

do lado de foracontinuavachovendo.

sentado numalancheria

minha filha é a maior das glórias.comíamos um lanche para viagem

em meu carro em Santa Mônica.eu digo, “ei, filha, minha vida tem

sido boa, tão boa”.ela me olha.baixo minha cabeça contra o

volante, tremo, depois abro aporta de supetão, finjo

vomitar.me endireito.ela rimordendo seu

sanduíche.pego quatrobatatas fritas coloco-as em minha

boca, mastigo-as.são 5h20 da tarde e os carros

passam voando por nós pra lá epra cá.

lanço um olhar furtivo: tivemostoda a sorte de que precisamos:seus olhos brilham enquanto odia cai, e ela está sorrindo.

danação e hora da sesta

meu amigo está preocupado com a morte

ele vive em Frisco eu em L.A.

ele vai à academia e puxa uns ferros e dá golpes num grande saco.

a velhice o diminui.

não pode beber por causa do fígado.

consegue fazer50 flexões.

ele me escrevecartasme dizendoque sou o único que o escuta.

claro, Hal, eu lhe respondo num cartão-postal.

mas não quero gastar toda essa grana em academia.

vou para a camacom um sanduíche de linguiça de

fígado e cebola à uma hora da tarde.

depois de comertiro um cochilo

com os heli—cópteros e os abutrescirculando sobre meu

colchão de molas deformado.

tão louco quantosempre fui

bêbado e escrevendo poemas às 3da manhã.

o que importa agora é mais umabocetaapertada

antes que a luzse apague

bêbado e escrevendo poemas às

3h15 da manhã.

algumas pessoas me dizem que soufamoso.

o que estou fazendo sozinhobêbado e escrevendo poemas às3h18 da manhã?

sou tão louco quanto sempre fuieles não entendem que nãoparei de me pendurar peloscalcanhares da janela do 4º

andar – eu ainda o façoagora mesmoaqui sentado

ao escrever estas linhas estou

pendurado pelos calcanharesvários andares acima: 68, 72,101,

a sensação é amesma:implacávelbanal enecessária

aqui sentadobêbado e escrevendo poemas às

3h24 da manhã.

sexo

vou pela avenida Wilton quandoesta garota de uns 15 anosvestida com um jeans apertadoque se cola ao seu rabo comoduas mãos pula na frente domeu carro paro e deixo elacruzar a rua e enquanto olhosuas curvas ondulantes ela meolha direto através do para-brisa

com olhos púrpurase então faz brotarpara fora da bocaa maior bola de chiclete cor-de-rosaque eu jamais vienquanto escuto Beethoven no

rádio do carro.ela entra numa mercearia e se vaie eu fico abandonado com o

Ludwig.

já morreu

sempre quis transar com HenryMiller, ela disse, mas quandocheguei lá era tarde demais.

diabos, eu disse, vocês semprechegam tarde demais, garotas.

hoje já me masturbei duas vezes.

não era esse o problema dele, eladisse. a propósito, como vocêconsegue bater tantas?

é o espaço, eu digo, todo o espaçoentre os poemas e os contos, éintolerável.

você deveria esperar, ela disse,você é impaciente.

o que você pensa de Céline?perguntei.

queria transar com ele também.

já morreu, eu disse.

já morreu, ela disse.

importa-se de ouvir umamusiquinha? perguntei.

pode ser legal, ela disse.

dei-lhe Ives.

Era tudo que me restava naquelanoite.

gêmeos

ei, disse o meu amigo, quero quevocê conheça Hangdog Harry,ele me lembra você, e eu disse,tudo bem, e fomos até essehotel ordinário.

velhos assistiam sentados umprograma de tevê no saguãoenquanto subíamos a escada atéo 209 e lá estava Hangdogsentado numa cadeira de palhauma garrafa de vinho aos seuspés o calendário do ano passadona parede, “sentem-se,rapazes”, ele disse, “este é oproblema: a desumanidade do

homem com o próprio homem”.ficamos vendo ele enrolar um

cigarro Bull Durham.“tenho um pescoço de 40 cm e

matarei todos que quiseremfoder comigo.”

deu uma lambida no cigarro edepois cuspiu no tapete.

“sintam-se em casa. fiquem àvontade.”

“como está se sentindo, Hangdog?”perguntou meu amigo.

“terrível. estou apaixonado por umaprostituta, não a vejo há 3 ou 4semanas.”

“o que você acha que ela estáfazendo, Hang?”

“bem, neste exato momento eudiria que ela está chupandoalgum caralho.”

ele apanhou a garrafa de vinho e

deu uma tremenda enxugada.

“veja”, disse meu amigo aHangdog,

“temos que ir”.

“certo, o tempo e a maré, ambosnão

esperam...”

ele me olhou:“como disse que era seu nome

mesmo?”

“Salomski.”

“prazer em conhecer você, rapaz.”

“o prazer foi meu.”

descemos a escadaeles continuavam no saguãoassistindo tevê.

“o que você achou dele?”

perguntou meu amigo.

“porra”, eu disse, “ele erarealmente

um cara legal. com certeza.”

o lugar não pareciamau

ela tinha coxas colossais e umarisada muito gostosa ria dequalquer coisa e as cortinaseram amarelas e eu gozei

e rolei para o ladoe antes que ela fosse ao banheiro

puxou um pano de baixo dacama e me jogou.

estava duroenrijecido pelo esperma de outros

homens.limpei-me no lençol.

ao retornarela se curvoue pude ver todo seu traseiro

enquanto ela colocava umMozart para tocar.

as garotinhas

lá no norte da Califórniaele estava de pé no púlpitoe estivera lendo por algum tempo

poemas sobrea natureza e a bondadedo homem.

ele sabia que tudo estavacerto e não se podia culpá-lo: ele

era um professor e nuncaestivera na cadeia ou num bordel

nunca tivera uma lata velha queenguiçou no meio de umengarrafamento; jamais

precisara de mais de3 drinques durante sua noite mais

selvagem;jamais tinha sido logrado,

espancado, assaltado,nem fora mordido por um cachorro

ele recebia cartas bacanas deGary Snyder, e seu rosto era

amável, liso emeigo.sua esposa jamais o traíra,nem tivera sua sorte.

ele disse, “vou ler apenas mais 3

poemas e entãodesço daqui e passo apalavra ao Bukowski”.

“oh, não, William”, disseram todasas garotinhas em seus vestidosrosas e azuis e brancos elaranjas e lavandas, “oh, não,William,

leia um pouco mais, leia um poucomais”!

ele leu mais um poema e entãodisse, “este será o último poemaque lerei”.

“oh, não, William”, disseram todasas garotinhas em seus vestidostransparentes vermelhos everdes, “oh, não, William”,disseram todas as garotinhas emseus jeans colados compequenos corações a elesbordados, “oh, não, William”,disseram todas as garotinhas,“leia mais poemas, leia maispoemas!”

mas ele manteve a palavra.terminou o poema e desceu do

púlpito e desapareceu. quandome levantei para ler as

garotinhas se agitaram emseus assentos e algumas delas

assobiaram e algumas fizeramcomentários a meu respeito queusarei em outra ocasião.

duas ou três semanas depoisrecebi uma carta de Williamdizendo que tinha gostado de fato

da minha leitura.um cavalheiro de verdade.eu estava na cama de cuecas e com

uma ressaca de 3 dias. perdi oenvelope mas peguei a carta efiz com ela um aviãozinho comoaqueles que aprendi a fazer naépoca do

colégio. ele cruzou o quartoantes de aterrissar entre um velho

programa de corrida e um par decuecas carimbadas.

não nos correspondemos desdeentão.

chuva ou sol

os abutres no zoo (todos os 3)sentam-se bastante tranquilos em

sua árvore enjaulada e abaixono chãohá postas de carne podre.os abutres estão empanturrados

nossos impostos os têm mantidobem alimentados.

seguimos para a próxima jaula.um homem está ali sentado no

chãocomendo

a própria merda.reconheço a figura de nosso antigo

carteiro.sua expressão favorita sempre fora:“tenha um ótimo dia”.naquele dia, foi o que me

aconteceu.

ameixas geladas

comendo ameixas geladas na camaela me contou sobre o alemão

que era dono de toda quadraexceto da loja de tecidose de como ele tentou comprara loja de tecidosmas as garotas disseram, não.o alemão tinha a melhor mercearia

em Pasadena, suas carnes eramcaras mas valiam o preço

e suas frutas e verduras eram muitobaratas e

ele também vendia flores. aspessoas vinham de todaPasadena para ir à sua loja

mas ele queria comprar a loja detecidos e as garotas seguiamdizendo, não.

certa noite alguém foi visto saindoa correr pela porta dos fundosda loja de tecidos e então o fogose ergueu

e quase tudo foi destruído –elas fizeram um tremendo

inventário tentaram salvar tudoo que tinha sobrado fizeram umaliquidação de incêndio mas nãofuncionou

elas tiveram que vender, por fim, eentão o alemão comprou a lojade tecido mas a deixou lá, vazia,

a esposa do alemão tentou

reerguer o negócio tentouvender pequenas cestas e outrasquinquilharias mas nãofuncionou.

terminamos as ameixas.“é uma história triste”, eu lhe disse.então ela se inclinou e começou a

me chupar.as janelas estavam abertas e meus

gritos podiam ser ouvidos portoda vizinhança às 5h20 de umfim de tarde.

garotas voltando paracasa

as garotas voltam para casa emseus carros e eu me sento àjanela e assisto.

há uma garota num vestidovermelho dirigindo um carrobranco há uma garota numvestido azul dirigindo um carroazul há uma garota num vestidorosa dirigindo um carrovermelho.

quando a garota no vestido

vermelho desce do carro brancoeu olho para suas pernasquando a garota no vestido azul

desce do carro azuleu olho para suas pernas quando a

garota no vestido rosa desce docarro vermelho eu olho parasuas pernas.

a garota no vestido vermelho quedesceu do carro branco tinha asmelhores pernas

a garota no vestido rosa que

desceu do carro vermelho tinhapernas razoáveis

mas sigo lembrando da garota no

vestido azul que desceu do carroazul

vi suas calcinhas

você não sabe o quão excitante avida pode ser por volta

das 5h25 da tarde.

certo piquenique

que me lembra quetrepei com Jane por 7 anos ela era

uma bêbadaeu a amava

meus pais a odiavam eu odiava

meus pais fazíamos um ótimoquarteto

certo dia fomos a um piquenique

juntoslá nas montanhase jogamos carta e bebemos cerveja

e comemos salada de batata

por fim eles a trataram como se elafosse uma pessoa de verdade

todos riameu não.

mais tarde na minha casa uísque na

cabeçaeu lhe disse,não gosto delesmas é bom que tenham tratado

você bem.

seu idiota, ela disse, será que nãopercebeu?

percebi o quê?

eles não tiravam os olhos da minhabarriga de cerveja, pensaramque eu estava grávida.

oh, eu disse, então brindemos à

nossa belacriança.

à nossa bela criança,

ela disse.

viramos os copos.

penicos

nos hospitais em que estive você vêas cruzes nas paredes com asfinas folhas de palma atrás delasamareladas e escurecidas

é o sinal para aceitar o inevitávelmas o que realmente machuca são

os penicosduros debaixo da sua bunda você

está à beira da morte e tem quedar um jeito de sentar sobreessa coisa impossível

e urinar edefecar

enquanto isso na cama ao lado dasua

uma família de 5 traz mensagensde esperança para um casoincurável de doença cardíaca

câncerou putrefação generalizada.

o penico é uma pedra impiedosauma horrorosa zombaria porqueninguém quer arrastar seu corpoagonizante até o banheiro evoltar.

você se arrasta

mas eles mantêm as barraserguidas você está no seu leitoseu minúsculo leito de morte equando a enfermeira volta umahora e meia depois e não hánada no penico ela o encara comseu mais imoderado olhar

como se à beira da morte alguémestivesse apto a fazer as coisasmais comuns vez após vez.

mas se você pensa que isso é ruim

apenas relaxee deixe a coisa vir

todanos lençóis

então você ouviránão só da enfermeira mas tambémde todos os outros pacientes...

a parte mais complicada de morreré que eles esperam que você sevá

como um disparo em direção ao céunoturno

algumas vezes isso pode ser feitomas quando você precisar da bala

na espingarda olharáe descobriráque os fios sobre sua cabeça

conectados anos atrás ao botãoforam cortadosretalhadoseliminadostransformadosem algotão inútil quantoo penico.

o bom perdedor

a face vermelha do Texasmais a idadeele está num hipódromo de L.A.falando comum grupo de pessoas.é o 4º páreoe ele está pronto pra partir:“bem, até mais, camaradas, que

Deus os abençoe, vejo vocêsamanhã...”

“um cara bacana.”“é.”

ele segue para o estacionamento

para entrar num carro de 12anos

dali ele seguirá para uma pensãoseu quarto não terá nem toalete

nem chuveiro

seu quarto terá uma janela comuma persiana de papel rasgadae do lado de fora haverá umaparede de cimento descascadagrafitada por cortesia de umagangue de jovem chicanos

ele tirará ossapatos e

deitará

estará escuromas ele não acenderá a luz

ele não tem nada a fazer.

uma arte

todo o percurso desde o Méxicodiretamente do campo

para 14 vitórias13 por nocaute.ele estava em 3º no ranking e

numa luta preliminar foinocauteado por um lutadornegro que nem estavaranqueado e que não lutava há2 anos.

todo o percurso desde o Méxicodiretamente do campo.

a bebida e as mulheres acabaramcom ele.

na revanche ele foi mais uma veznocauteado e suspenso por 6meses.

todo esse percursopelo trago e 2 casos de doença

venérea.

retornou um ano depois jurandoque estava limpo, que tinhaaprendido a lição.

e conseguiu arrancar um empatecom o 9º do ranking de sua

divisão.

retornou para a revanche e a lutafoi interrompida no 3º assaltoporque ele não conseguia mais

se proteger.

e ele refez todo o percurso de voltaaté o México

diretamente para o campo.

é preciso um poeta fodãocomo eupara conseguir lidar com as bebidas

e as mulheres

escapar das doenças venéreasescrever sobre fracassoscomo o delee manter minha posição entre os10 primeiros do ranking: todo o

percurso desde a Alemanhadiretamente das fábricasentre garrafas de cervejae a campainha dotelefone.

as garotas do hotelverde

são mais bonitas que estrelas decinema e elas se espreguiçamno gramado

tomando banho de sol e uma estásentada com um vestido curto esaltos altos, as pernas cruzadasexpondo coxas miraculosas.

ela usa uma bandana na cabeçae fuma umcigarro comprido.o tráfego fica lento quase para.

as garotas ignoram o tráfego.estão pachorrentas no meio da

tarde são putassão putas sem almae são mágicas pois mentema troco de nada.

entro no meu carro espero otráfego liberar,

cruzo a ruaem direção ao hotel verde à minha

favorita: elase bronzeia no gramado próxima ao

meio-fio.

“olá”, eu digo.ela me volta seus olhos de falsos

diamantes.seu rosto não tem expressão.

lanço meu mais recente livro depoemas pela janela do carro.

ele caiao lado dela.

engato aprimeira,me afasto.

haverá algumas risadas

esta noite.

um bom sujeito

recebo telefonemas demais.eles procurampela criatura.não deviam fazer isso.

nunca liguei para Knut Hamsun ou

Ernie ouCéline.

nunca liguei para Salingernunca liguei para Neruda.

esta noite recebi uma chamada:

“olá. você éCharles Bukowski?”

“sim.”

“bem, eu tenho uma casa.”

“e?”

“um bordel.”

“entendo.”

“li seuslivros. tenhoum puteiro num barco em

Sausalito.”

“beleza.”

“quero lhe passar o meu número detelefone. quando você vier a SanFranciso eu lhe pago umdrinque.”

“certo. me passa o número.”

anotei-o.

“mantemos um negócio decategoria. estamos em busca deadvogados e senadores,

cidadãos da elite, assaltantes,cafetões, e por aí vai.”

“eu ligo pra você quando estiver poraí.”

“boa parte das garotas lê seuslivros. elas o amam.”

“sério?”“sério.”

nos despedimos.

gostei daquela ligação.

hora da cagada

meio bêbadodeixei a casa delasuas cobertas quentes e eu estava

de ressaca não sabia sequer quecidade era aquela.

saí caminhando sem conseguirachar meu carro.

mas eu sabia que ele tinha queestar em algum lugar.

e logo eu também estava perdido.caminhei a esmo. era a manhã de

uma quarta-feira e eu podia vero oceano ao sul.

mas toda aquela bebida: a merdaestava prestes a escorrer para

fora de mim.segui em direção aomar.avistei uma estrutura de tijolos

marrons nos limitesda rebentação.entrei. havia umvelho gemendo em umdos reservados.“olá, meu chapa”, ele disse.“olá”, eu disse.“está um inferno lá fora, não?”, o

velhoperguntou.“sim”, respondi.“precisa de um trago?”“nunca bebo antes do meio-dia.”

“que horas você tem aí?”“11h58”“temos dois minutos.”me limpei, dei a descarga, subi

minhas calças e me afastei.o velho continuava no seu

reservado, gemendo.apontou para uma garrafa de vinho

junto a seus pésquase vaziae eu a apanhei e tomei cerca de

metade do que ainda restava.estiquei para ele uma nota de

dólar, velha e amassadaentão segui para o lado de fora e

vomitei num gramado.olhei para o oceano e o oceano

parecia bom, cheio de azuis everdes e tubarões.

saí dali e refiz o caminho até a ruadeterminado a encontrar meu

automóvel.custou-me uma hora e quinze

minutos e quando finalmenteconsegui encontrá-lo entrei e deia partida fingindo saber tantoquanto o homem

ao lado.

loucura

não bato com meus punhos nasparedes apenas sento

mas a loucura entra de assalto umamaré de loucura.

a mulher do quintal dos fundosurra, chora todas as noites.

às vezes a polícia chegae a leva por um ou dois dias.

eu acreditava que ela sofria com a

perda de um grande amoraté que um dia ela superou aquilo e

me contou sua história – elaperdera 8 apartamentos

para um gigolô que a havia logradoe ficado com eles.

ela urrava e chorava por causa daperda das propriedades.

começou a soluçar enquanto mecontava aquilo então com umaboca cheirando a alho e cebolasdelineada com um batomvencido ela me beijou e disse:

“Hank, ninguém te ama se vocênão tiver dinheiro”.

ela é velha, quase tão velha quantoeu.

ela se foi, ainda chorosa...

na manhã seguinte às 7h20 doisenfermeiros negros apareceramcom uma maca,

só que bateram na minha porta.

“vamos lá, cara”, disse o mais alto.“esperem”, eu disse, “isso é um

engano.”

eu estava numa terrível ressacaparado com meu roupão surrado

os cabelos caindo sobre os olhos.

“este é o endereço que nos deram,cara, aqui não é o 5437?”

“sim.”

“vamos lá, cara, não foda com agente.”

“a mulher que vocês querem moralá nos fundos.”

os dois contornaram o pátio.

“esta porta aqui?”

“não, não, esta é a minha porta dosfundos. olhem, subam essesdegraus atrás de vocês. é a porta

da direita, a que está com a caixado correio pendurada.”

eles foram até lá e bateram naporta. eu vi os dois a levaremconsigo. não usaram a maca. elaseguiu entre eles.

e me passou rapidamente aimpressão de que estavam[levando a pessoa errada, masnão tive certeza.

um poema de 56 anos

segui com duas damasaté Venicepara dar uma olhada nuns móveis

antigos.estacionei no fundo da lojae entrei com elas.US$ 125 por um relógio, US$ 700

por 6 cadeiras.parei de olhar.

as damas circulavamolhando tudo.tinham classe.me despedi de uma delas

e dei o fora.

era domingo e o barnão estava muito melhor,todos nervosos e jovense loiros e pálidos.terminei minha bebida, peguei 4

cervejas na loja deconveniências

e sentei em meu carro para bebê-las.

ao terminar a 4ª cervejaas damas apareceram.perguntaram-me se eu estava bem.eu lhes disse que toda experiência

era válida

e que elas me haviam tirado demeu habitualmente negro estado

de espírito.

a que eu conhecia melhor haviacomprado uma mesa com tampode mármore por US$ 100.

ela possuía seu próprio negócio eera uma pessoa civilizada.

civilizada o suficiente para conhecerum vizinho que tinha uma van eenquanto eu estava acomodadoem seu apartamento [bebendoum Zeller Schwarze Katz 1974

eles foram apanhar a mesa.

mais tarde ela quis saber a minhaopinião sobre a mesa e eu disseque me parecia bacana, àsvezes eu perdia cem pratas noscavalinhos. assistimos tevê nacama e mais tarde naquela noiteeu não consegui gozar. penseique era porque não conseguiadeixar de pensar na mesa de[mármore.

tinha certeza de que era isso. eunão possuía nenhuma[antiguidade em mármore naminha casa, quase nunca tiveproblemas [sexuais na minha

casa. algumas vezes, masmuito raramente.não consigo entender toda essa

função de antiguidades

tenho certeza de que é umagigantesca vigarice.

a bela jovem passandopelo cemitério –

paro meu carro no semáforo vejo-apassando pelo cemitério –

enquanto ela segue junto à gradede ferro posso ver para além dasbarras vejo as lápides

e o gramado verde.

o corpo dela se mexe em frente àgrade de ferro as lápides não semexem.

penso,será que mais alguém vê isso?

penso,será que ela vê essas lápides?

se vê,ela possuiu uma sabedoria de que

não disponho pois pareceignorá-las.

seu corpo se move commágica fluideze sua longa cabeleira é iluminada

pelo sol das 3 da tarde.

o sinal mudaela cruza a rua na direção oeste

dirijo para oeste.

sigo costeando o oceano desçoe corro pra lá e pra cá em frente ao

mar por 35 minutos vendopessoas aqui e acolá com olhose ouvidos e dedos e váriasoutras partes.

ninguém parece se importar.

cerveja

não sei quantas garrafas de cervejaconsumi esperando que ascoisas melhorassem.

não sei quanto vinho e uísque ecerveja

principalmente cerveja consumidepois

de rompimentos com mulheres –esperando o telefone tocaresperando o som dos passos, eo telefone nunca toca antes queseja tarde demais e os passosnunca chegam antes que sejatarde demais.

quando meu estômago já está

saindo pela bocaelas chegam frescas como flores de

primavera: “mas que diabosvocê está fazendo?

vai levar três dias antes que vocêpossa me comer!”

a mulher é durávelvive sete anos e meio a mais que o

homem, bebe muito poucacerveja porque sabe como ela éruim para a aparência.

enquanto enlouquecemos elas

saemdançam e riemcom caubóis cheios de tesão.

bem, há a cervejasacos e mais sacos de garrafas

vazias de cerveja e quando vocêpega uma as garrafas caematravés do fundo úmido do sacode papel

rolandotilintandocuspindo cinza molhada e cerveja

choca,ou então os sacos caem às 4 horas

da manhãproduzindo o único som em sua

vida.

cerveja

rios e mares de cerveja cervejacerveja cerveja o rádio tocacanções de amor enquanto otelefone permanece mudo e asparedes seguem

paradas e estáticase a cerveja é tudo o que há.

artista

de súbito me torno um pintor.uma garota de Galveston me dá

US$ 50 por um quadro de umhomem segurando uma bengaladoce enquanto flutua por um céuescuro.

então um jovem com uma barba

negra aparecee eu lhe vendo três por US$ 80.ele gosta de telas grosseiras nas

quais escrevo coisas como –“cague” ou “GRANDE ARTE É

BOSTA DE CAVALO, COMPRE

TACOS”.

posso fazer um quadro em 5minutos.

uso tinta acrílica, direto do tubo.pinto o lado esquerdo do quadro

primeiro com minha mãoesquerda e depois termino olado direito com minha mãodireita.

agora o jovem barbudoretorna com um amigo com um

cabelo todo espetado e elestrazem uma loirinha com eles.

o barba negra continua sendo omesmo otário: vendo-lhe umpunhado de merda – umcachorro laranja com a palavra“CACHORRO” escrita ao seulado.

o cabelos espetados quer 3 quadrospelos quais peço US$ 70.

ele não tem a grana.fico com as telas masele promete me mandar uma

garota chamada Judy

de cinta-liga e saltos altos.ele já lhe contou sobre mim: “um

escritor de fama internacional”,ele disse e ela respondeu, “oh,não!” e puxou seu vestido sobresua cabeça.

“eu quero isso”, eu lhe disse.

depois discutimos as condições euqueria comê-la primeiro e depoisreceber um boquete.

“que tal o boquete primeiro edepois a foda?”, ele perguntou.

“isso não funciona”, eu disse.

então chegamos a um acordo: Judyviria até aqui e

depoiseu alcançaria a ela as3 pinturas.e assim estamos:de volta ao escamboo único modo de vencer a inflação.

apesar dissogostaria deiniciar aqui o Movimento pela

Libertação Masculina: quero umamulher que me dê 3 de suaspinturas após fazer amor

comigo,e se ela não souber pintar pode me

deixarum par de brincos de ouro ou talvez

um pedaço de orelha emhomenagem àquele que eracapaz.

meu velho

16 anos de idadedurante a depressãocheguei em casa bêbadoe todas as minhas roupas –calções, camisas, meias –pastas, e páginas decontostinham sido jogadas forasobre o gramado da frente e na

rua.

minha mãe estava meesperando atrás de uma árvore:

“Henry, Henry, não

entre... ele vaimatar você, leusuas histórias...”

“posso chutar abunda dele...”

“Henry, pegue issopor favor... eprocure um quarto para você.”

mas o que o preocupava eraque eu talvez nãoterminasse o colegialentão eu voltariaoutra vez.

uma noite ele entroucom as páginas deum dos meus contos(que eu nunca submeti a ele)e disse, “este é um grande conto”.eu disse, “ok”e ele me alcançou e eu li.era uma história sobre um homem

rico que teve uma briga com suaesposa e se foi pela noite atrásde uma xícara de café e ficouobservando a garçonete e ascolheres e garfos e o sal e opimenteiro e o letreiro de néonna janela foi então que voltoupara seu estábulo para ver e

tocar seu cavalo favorito quedeu-lhe um coice na cabeça e omatou.

de alguma maneira a história emsuas mãos tinha um significadopara ele apesar de que quando aescrevi não tinha nenhuma ideiaa respeito do que tratava.

então eu lhe disse, “ok, velho, vocêpode ficar com ela”.

e ele a pegoue caiu fora

e fechou a porta.acho que foio mais próximoque jamais estivemos.

medo

ele se aproxima do meu Fuscadepois que já estacionei e seguepra lá

e pra cárindo ao redor de seu charuto.

“ei, Hank, tenho reparado nasmulheres que têm frequentadosua casa ultimamente... só coisafina; você está fazendo seutrabalho direitinho.”

“Sam”, eu digo, “isso não éverdade; sou um dos homensmais solitários que Deus pôsneste mundo.”

“temos umas garotas bacanas noputeiro, você devia experimentaruma delas.”

“tenho medo desses lugares, Sam,não posso nem entrar.”

“eu lhe mando uma garota então,artigo de luxo.”

“Sam, não me mande uma puta, eusempre me apaixono por elas.”

“certo, amigo”, ele diz, “me avisese mudar de ideia.”

eu o vejo se afastar.alguns homens estão sempre no

controle do seu jogo.

para mim, a maior parte do tempoé confusão.

ele pode partir um homem ao meioe não sabe quem é Mozart.

de todo modoquem quer ouvirmúsicanuma noite chuvosa de quarta-

feira?

pequenos tigres portoda parte

Sam, o putanheiro,tem sapatos que estalam e ele

caminha pra lá e pra cá peloquintal

estalando e conversando com osgatos.

pesa 140 quilos,um assassinoe conversa com os gatos.ele frequenta as mulheres na casa

de massagem e não temnamoradas ou automóvel

não bebe ou se chapa

seus maiores vícios são mastigarum charuto e

alimentar todos os gatos davizinhança.

algumas das gatas ficam prenhese depois por fim aparecem mais e

mais gatos etoda a vez que abro minha porta

um ou dois gatos entramcorrendo e algumas vezes acaboesquecendo que eles estão ali eeles cagam debaixo da cama oume desperto no meio da noitecom sons estranhos

pulo da cama com minha faca entrona cozinha e lá

está um dos gatos de Sam, o

putanheiro, circulando em voltada pia ou sentado sobre a

geladeira.Sam administra o puteiro da

esquinae suas garotas ficam paradas na

varanda ao sole o semáforo vai dovermelho ao verde e do vermelho

ao verde e todos os gatos doSam possuem parte dosignificado assim como fazem osdias e as noites.

depois da leitura:

“...já vi pessoas em frente a suasmáquinas de escrever em talaperto que faria com que seusintestinos explodissem cu aforase estivessem tentando cagar.”

“ah hahaha hahaha!”

“...é uma vergonha trabalhar assimtão pesado só para escrever.”

“ah hahaha hahaha!”

“a ambição raramente tem algumacoisa a ver com o talento. émelhor ter sorte, e deixar otalento vir manquejando logoatrás da sorte.”

“a haha.”

ele se levantou e deixou o lugarcom uma virgem de 18 anos, amais linda estudante entretodas.

fechei meu bloquinhome ergui e manquejeilogo atrás dosdois.

sobre guindastes

às vezes, após você ter recebidodas forças um belo chute norabo

você costuma desejar ser umguindaste estendido sobre umaperna

na água azulmas há sempre avelha questão que você conhece:você não quer ser um guindaste

estendido sobre uma pernana água azulo infortúnio não é suficiente

e

a vitóriaclaudica

um guindaste não pode pagar por

um raboou

vadiar às tardes em Monterey

essas são algumas das coisas

que os humanos podem fazeralém deficar sobre uma perna só

um relógio de bolsodourado

meu avô era um alemão alto comum cheiro estranho no hálito.

ele permanecia muito ereto emfrente à sua casinha

e sua esposa o odiavae seus filhos o achavam estranho.eu tinha seis anos a primeira vez

que nos vimos e ele me deutodas as suas medalhas deguerra.

na segunda vez que nos vimos eleme deu seu relógio de bolsodourado.

era muito pesado e eu o levei paracasa e dei corda bem forte

e ele parou de funcionar o que mefez sentir mal.

nunca mais voltei a vê-lo e meusparentes nunca falavam delenem mesmo minha avó

que muito tempo atrásdeixou de viver em sua companhia.uma vez perguntei por ele e me

disseramque bebia demaismas na melhor imagem que guardo

dele ele está muito eretoem frente a sua casae dizendo, “olá, Henry, você e eu,

nós nos

conhecemos”.

viagem à praia

os homens fortes os homensmusculosos lá na praia eles sesentam

bronzeados como chocolate ospesos

espalhados ao seu redor eintocados

ficam sentados enquanto as ondas

avançam e recuam

ficam sentados enquanto omercado de ações ergue edestrói homens e famílias

ficam sentados enquanto umapertar de botão poderiatransformar seus caralhos

em palitos de fósforos pretos eenrugados

ficam sentados enquanto suicidasem quartos verdes os trocam porespaço

ficam sentados enquanto antigasMiss Américas

choram diante de espelhosenrugados

ficam sentadosficam sentados com menos

vivacidade que macacos e minhamulher para e os olha:

“uuuu uuuu uuuu”, ela diz.

me afasto comminha mulher enquanto as ondas

avançam e recuam.

“há alguma coisa errada com eles”,ela diz, “o que é?”

“o amor deles só corre em umadireção.”

as gaivotas giram e o mar avança erecua

e nós os abandonamos lá atrásdesperdiçando o tempo que lhes

restao momento presente as gaivotaso mara areia.

um poema para oengraxate

o equilíbrio é preservado pelaslesmas que escalam os rochedosde Santa Mônica;

a sorte está em descer a WesternAvenue

enquanto as garotas numa casa demassagem gritam para você, “Alô,

Doçura!”o milagre é ter 5 mulheres

apaixonadaspor você aos 55 anos,e o melhor de tudo isso é que você

só é capaz de amar uma delas.

a bênção é ter uma filha maisdelicada

do que você, cuja risada é maisleve

que a sua.a paz vem de dirigir umFusca 67 azul pelas ruas como umadolescente, o rádio sintonizado em

O Seu Apresentador Preferido,sentindo o sol, sentindo o sólidoroncar do motor retificado

enquanto você costura o tráfego.a graça está na capacidade de

gostar de rock, música clássica,jazz...

tudo o que contenha a energiaoriginal do gozo.

e a probabilidade que retornaé a tristeza profundadebaixo de você estendida sobre

vocêentre as paredes de guilhotinafurioso com o som do telefoneou com os passos de alguém que

passa;mas a outra probabilidade –a cadência animada que sempre se

segue – faz com que a garota docaixa no

supermercado se pareça com aMarilyncom a Jackie antes que levassem

seu amante de Harvard com a

garota do ensino médio quesempre seguíamos até em casa.

lá está a criatura que nos ajuda aacreditar em alguma coisa alémda morte: alguém num carro quese aproxima numa rua muitoestreita, e ele ou ela se afastapara que possamos passar, ouse trate do velho lutador BeauJack[7]

engraxando sapatos após terqueimado todo seu dinheiro emfestas mulheres parasitasbufando, respirando junto aocouro, dando um trato com a

flanela os olhos erguidos paradizer: “mas que diabos, por ummomento tive tudo. issocompensa todo o resto.”

às vezes sou amargo mas no geralo sabor tem sido doce. é apenasque tenho medo de dizê-lo. écomo quando sua mulher diz,“fala que me ama”, e você nãoconsegue.

se você me vir sorridente em meuFusca azul aproveitando o sinal

amarelo dirigindo firme emdireção ao sol estareimergulhado nos braços de umavida insana

pensando em trapezistas de circoem anões com enormes charutosnum inverno na Rússia no início dos

anos 40em Chopin com seu saco de terra

polacanuma velha garçonete que me traz

uma xícara extra de café comum sorriso

nos lábios.

o melhor de você

me agrada mais do que podeimaginar.

os outros não importamexcetuado o fato de que eles têm

dedos e cabeças e alguns delesolhos

e a maioria deles pernase todos elessonhos e pesadelose uma estrada a seguir.

a justiça está em toda parte e não

descansa e as metralhadoras eos coldres e

as cercas vão lhe dar provadisso.

[1] No original, T.M., abreviatura deTranscendental Meditation, literalmenteMeditação Transcendental. (N.T.)[2] Ácido nicotínico. Um tipo de vitaminado complexo B. (N.T.)[3] Bairro negro de Los Angeles ondeocorreu um sério distúrbio de ordem racial.(N.T.)[4] Escritora famosa por sua beleza, umaespécie de celebridade-socialite de suaépoca. (N.T.)[5] Time de futebol americano da cidade.(N.T.).[6] Marca de camisinhas americanas.(N.T.)[7] Peso leve americano. Duas vezescampeão mundial. (N.T.)

Charles BukowskiCharles Bukowskinasceu a 16 de

agosto de 1920 emAndernach,

Alemanha, filho deum soldado

americano e de uma

jovem alemã. Aos trêsanos de idade, foilevado aos EstadosUnidos pelos pais.Criou-se em meio à

pobreza de LosAngeles, cidade ondemorou por cinquentaanos, escrevendo eembriagando-se.

Publicou seu primeiro

conto em 1944, aos24 anos de idade. Sóaos 35 anos é quecomeçou a publicar

poesias. Foi internadodiversas vezes com

crises de hemorragiae outras disfunçõesgeradas pelo abuso

do álcool e do cigarro.Durante a sua vida,

ganhou certanotoriedade comcontos publicados

pelos jornaisalternativos Open Citye Nola Express, mas

precisou buscaroutros meios de

sustento: trabalhoucatorze anos nos

Correios. Casou, teve

uma filha e seseparou. É

considerado o últimoescritor “maldito” da

literatura norte-americana, uma

espécie de autor beathonorário, embora

nunca tenha seassociado com outrosrepresentantes beats,

como Jack Kerouac eAllen Ginsberg.

Sua literatura é de caráterextremamente autobiográfico, enela abundam temas epersonagens marginais, comoprostitutas, sexo, alcoolismo,ressacas, corridas de cavalos,pessoas miseráveis e experiênciasescatológicas. De estiloextremamente livre e imediatista,na obra de Bukowski nãotransparecem demasiadaspreocupações estruturais. Dotadode um senso de humor ferino, auto-

irônico e cáustico, ele foicomparado a Henry Miller, Louis-Ferdinand Céline e ErnestHemingway.

Ao longo de sua vida, publicoumais de 45 livros de poesia e prosa.São seis os seus romances: Cartasna rua (1971), Factótum (1975),Mulheres (1978), Misto-quente(1982), Hollywood (1989) e Pulp(1994). Bukowski publicou em vidaoito livros de contos e histórias:Ereções, ejaculações eexibicionismos (1972), Ao sul delugar nenhum: histórias da vidasubterrânea (1973), Tales ofOrdinary Madness (1983), Hot

Water Music (1983), Bring Me YourLove (1983), Numa fria (1983),There’s No Business (1984) eSeptuagenarian Stew (1990). Seuslivros de poesias são mais de trinta,entre os quais Flower, Fist andBestial Wail (1960), You Get SoAlone at Times that It Just MakesSense (1996), sendo que a maioriapermanece inédita no Brasil. Váriasantologias, além de livros depoemas, cartas e histórias forampublicados postumamente.

Da sua vasta obra, osseguintes títulos são publicados noBrasil pela L&PM Editores: Pulp,Hollywood, A mulher mais linda da

cidade, Numa fria, Notas de umvelho safado, O capitão saiu para oalmoço e os marinheiros tomaramconta do navio (com ilustrações deRobert Crumb) e Ereções,ejaculações e exibicionismos, sobos dois volumes intituladosFabulário geral do delírio cotidianoe Crônica de um amor louco.

Bukowski morreu depneumonia, decorrente de umtratamento de leucemia, na cidadede San Pedro, Califórnia, no dia 9de março de 1994, aos 73 anos deidade, pouco depois de terminarPulp.

Texto de acordo com a nova ortografia.

Título original: Love is a Dog from Hell

Este livro foi publicado em formato 14x21cm pela L&PM Editoresem 2007

Tradução: Pedro GonzagaCapa: Ivan Pinheiro Machado sobre foto de Charles Bukowski

Preparação de original: Bianca PasqualiniRevisão: Jó Saldanha e Fernanda Cavagnoli

CIP-BRASIL. Catalogação-na-Fonte SindicatoNacional dos Editores de Livros, RJ

B949a

Bukowski, Charles, 1920-1994O amor é um cão dos diabos / Charles Bukowski; tradução PedroGonzaga. – Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2011.(Coleção L&PM POCKET, v.888)

Tradução de: Love is a Dog From HellISBN 978.85.254.2246-0

1. Poesia inglesa. I. Gonzaga, Pedro. II. Título. II. Série 07-3704.CDD: 821CDU: 821.111-1

© 1977, Charles Bukowski

Todos os direitos desta edição reservados aL&PM Editores

Rua Comendador Coruja 314, loja 9 – Floresta– 90220-180Porto Alegre – RS – Brasil / Fone:

51.3225.5777 – Fax: 51.3221-5380

Pedidos & Depto. comercial:

vendas@lpm.com.br Fale conosco:

info@lpm.com.br www.lpm.com.br

Sumário1. mais uma criaturaatordoada pelo amor 5

Sandra 6você 9a deusa de um metro e oitenta 11já vi mendigos demais com osolhos vidrados bebendo vinhobarato debaixo da ponte

15

gostosa e sexy 18a música suave 23entorpeça seu rabo e seucérebro e seu coração... 25

uma das mais quentes 30

cinzas 33foda 37eu 41outra cama 44encurralado 49esta noite 51a escapada 53a furadeira 55texana 58a aranha 61o fim de um breve caso 65lamentando e se queixando 71um poema quase feito 73blue cheese e chili 78problemas relacionados à outramulher 81

M.T. 85

a 5ª do Bee 8940 graus 94pacific telephone 99100 quilos 105reviravolta 111um poema para a velha dente-podre 116

comunhão 120tentando acertar as contas: 123Chicago 130garotas calmas e limpas emvestidos de algodão 134

provaremos as ilhas e o mar 1382. eu, e aquela velha: aflição 140

este poeta 141inverno 149o que eles querem 152Iron Mike 155guru 160os professores 165para Al… 167como ser um grande escritor 170o preço 177sozinho com todo mundo 182o segundo romance 185Chopin Bukowski 189dama melancólica 193barata 196quem, diabos, é Tom Jones? 198derrota 202

sinais de trânsito 205462-0614 210fotografias 213social 217um poema para a armadurapeitoral 220

o pior e o melhor 225cupons 229sorte 231cão 233guerra de trincheira 234a noite em que trepei com meudespertador 238

quando me penso morto 240noite de Natal, sozinho 242certa vez houve uma mulher que

enfiou a cabeça dentro do forno 245

camas, banheiros, você e eu... 248isso então... 251imaginação e realidade 253roubada 258o humilde herdou 262os insanos sempre me amaram 264Big Max 269aprisionado 273é o modo como você joga o jogo 275no continente 27712:18 a.m. 281táxi 286como você não está fora dalista? 290

boletim do tempo 295velho limpo 297alguma coisa 299uma janela de vidros espelhados 300junkies 30499 para um 308o estouro 312um cavalo de olhos azul-esverdeados 320

3. Scarlet 322Scarlet 323ruiva de cima a baixo 327como uma flor na chuva 332castanho-claro 336brincos enormes 338ela saiu do banheiro com sua

cabeleira ruiva flamejante edisse...

342

uma assassina 345uma aposta perdida 347a promessa 352acenos e mais acenos de adeus 355liberdade 362não toque nas garotas 365óculos escuros 370orador debaixo de mau tempo 374melancolia 379um caso de estetoscópio 383morda-se de raiva 387a retirada 391cometi um erro 395

4. melodias populares no

que restou de sua mente 398garotas de meia-calça 399subindo seu rio amarelo 402artistas: 405eu também tenho a cuecacarimbada 413

Hawley está saindo da cidade 415um poema rude 419uma abelha 423o principal 427ah... 431a garota no banco da parada deônibus 434

voltando para onde eu estava 439um casal adorável 440

a noite mais estranha que de fatovocê já viu...

442

numa vizinhança de assassinos 447soldado raso 450o amor é um cão dos diabos 453minha tiete 457agora, se você tivesse queensinar escrita criativa, eleperguntou, o que você lhesdiria?

460

a boa vida 465o grego 469meus camaradas 473alma 477uma mudança de hábito 481$$$$$$ 485sentado numa lancheria 494

danação e hora da sesta 496tão louco quanto sempre fui 500sexo 503já morreu 505gêmeos 509o lugar não parecia mau 515as garotinhas 517chuva ou sol 523ameixas geladas 525garotas voltando para casa 528certo piquenique 531penicos 535o bom perdedor 540uma arte 543as garotas do hotel verde 547um bom sujeito 551

hora da cagada 557loucura 561um poema de 56 anos 567a bela jovem passando pelocemitério – 572

cerveja 576artista 580meu velho 586medo 591pequenos tigres por toda parte 595depois da leitura: 598sobre guindastes 601um relógio de bolso dourado 603viagem à praia 606um poema para o engraxate 610

Notas 617