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O CONCEITO DE POBREZA A PARTIR DA PERCEPÇÃO DE BENEFICIÁRIOS
DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ATENDIDOS NO CRAS-GUANANDI
Vanderlei Braulino Queiroz1
Ana Carolina da Silva Monteiro2
RESUMO
O presente estudo, de base empírica, teve por objetivo investigar a percepção do conceito de pobreza e sua relação com beneficiários do Programa Bolsa Família atendidos no CRAS-Guanandi, região do Anhanduizinho, em Campo Grande (MS). Para responder à hipótese desta investigação, foram buscados conceitos presentes na literatura científica específica, feitas entrevistas com beneficiários do programa, para então proceder à análise dos dados encontrados. O tema levou a investigar as origens da pobreza, o que a sustenta e as soluções pensadas até o momento para enfrentá-la. Pelo presente estudo sabe-se que a pobreza pode ser combatida e debelada por meio de esforços políticos e sociais, verdadeiramente interessados em solucionar o problema. Não se pode ignorar a necessidade e a força, da mobilização de organizações e grupos sociais capazes de incentivar a aplicação das soluções para o enfrentamento da questão.
Palavras-chave: Pobreza; Consciência; Bolsa Família.
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por objetivo investigar o conceito de pobreza percebido por
beneficiários do Programa Bolsa Família, atendidos no CRAS-Guanandi, região do
Anhanduizinho, em Campo Grande (MS).
Tentar-se-á problematizar o conceito de pobreza presente na literatura específica; o
conceito de pobreza presente no material do Programa Bolsa Família; e finalmente, a
implicação prática do conceito de pobreza para os usuários do Programa Bolsa Família.
1 Psicólogo formado pela Universidade Católica Dom Bosco, em 2010. Especialista em Avaliação Psicológica. Atua como psicólogo no CRAS-Guanandi. E-mail: vanderpsico@outlook.com Artigo do Eixo 1. 2 Servidora Técnico-administrativa em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo (UFMS), Mestre em Comunicação (UFMS). Tutora e orientadora da Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. E-mail: anacarolinajor@hotmail.com.
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A discussão origina-se da hipótese central deste estudo: Qual percepção/apreensão os
beneficiários do PBF possuem do conceito de pobreza?
O ser humano procura tornar-se consciente para melhor agir sobre a realidade. Esse não
é um processo que se dá por simples esforço pessoal, mas por meio da cultura interiorizada pelo
sujeito; o que ocorre no processo educacional. O processo educativo se dá nas relações sociais
e pode ser formal ou informal (LEITE, 2014). O presente estudo sobre a pobreza se encontra
nesse processo educativo. O tema como será desenvolvido, também é relevante para a área dos
estudos em educação.
Concordamos com Arroyo (2014), quando afirma: a pobreza existe! O referido autor
afirma que não só a pobreza, mas também a pobreza extrema afetam milhões de pessoas no
planeta e no Brasil. Bem como, afirma ainda que a pobreza está chegando ao ensino formal.
Segundo Arroyo (2014), o pobre tem o direito de saber-se pobre.
Frente ao exposto, é fundamental problematizar as diferentes concepções de pobreza
(MONTANO, 2012), e levantar algumas questões, quais sejam: qual consciência de pobreza
tem os pobres? Para finalmente construir estratégias que promovam uma consciência crítica
sobre a realidade da pobreza e se garanta aos pobres o direito de saberem-se pobres, como
condição necessária para que também possam interferir de alguma maneira para modificar essa
aviltante realidade.
Este artigo está estruturado em cinco partes que se complementam. Esta Introdução que
dentre outros aspectos, delimitou o assunto pesquisado. O Desenvolvimento que está dividido
em três seções e apresenta: o universo da pesquisa; a caracterização dos indivíduos avaliados;
revela, analisa e discute os dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e pela
observação participante. Na última parte, antes das Referências Bibliográficas, nas
Considerações Finais. Este pesquisador encerra o presente artigo com suas observações,
ponderações e sugestões de intervenção.
2 UNIVERSO E CARACTERIZAÇÕES DA PESQUISA
2.1 CONCEITOS DE POBREZA
3
Desde a antiguidade até o período da chamada Idade Média, prevaleceram as
explicações fundadas no pensamento religioso. Na era moderna, a humanidade se emancipa de
Deus e busca explicar a realidade não como ação divina, mas como resultado de leis imanentes
à natureza do mundo físico e da condição humana.
O pesquisador e Assistente Social Carlos Montano no seu artigo publicado em 2012,
explica que a sociedade capitalista é extremamente individualista e competitiva. No mundo
natural, os não aptos fracassam em perpetuar a espécie. Pela ideologia capitalista, o indivíduo
que não obtém sucesso econômico é porque não é apto.
Para a sociedade capitalista, e vale dizer que é nessa sociedade que vivem os brasileiros,
o trabalho está vinculado à renda, mas não necessariamente é verdade que quem mais trabalha,
recebe mais por seu trabalho. Assim, a causa da pobreza não está relacionada ao pecado, mas
está relacionada à ineficiência do indivíduo frente às relações de mercado. Como não se admite
mais a concepção da divina providência para amenizar as misérias humanas, a ideologia
capitalista, na pessoa de Adam Smith, defende que é o próprio mercado, com interferência
mínima do Estado, que com sua “mão invisível” deve providenciar o cuidado aos pobres.
Ao analisar a sociedade capitalista, Montano (2012), a partir de pressupostos marxistas,
faz uma crítica contumaz a respeito de como foi produzida a pobreza ao longo da história. No
artigo de Montano (20012) existem duas situações de causa da pobreza. Uma é a das sociedades
em escassez na qual os bens de consumo voltados à subsistência se distribuídos de maneira
equânime não resultam em excedente para proporcionar o desenvolvimento das forças
produtivas. Na concepção do pensamento econômico liberal, o acúmulo de bens por uns e a
consequente pobreza de outros se faz necessário para haver a possibilidade de se desenvolver
as forças produtivas (MONTANO, 2012). Assim Netto apud Montano (2012) afirma que nas
sociedades pré-capitalistas, a pobreza ocorre não só por causa da distribuição desigual dos bens
de consumo, a pobreza é resultado também da falta de condições para produzir bens de consumo
para todos. O que torna diferentes as causas da pobreza nessas sociedades das causas da pobreza
nas sociedades capitalistas da atualidade, onde a escassez é superada.
Para Montano (2012), nas sociedades de abundância, onde a escassez foi superada pelo
desenvolvimento dos meios de produção, ou seja, com capacidade de atender a todos
equanimemente em suas necessidades básicas, a pobreza se mantém não em razão da escassez,
4
mas em função do próprio processo de desenvolvimento dos meios de produção, quais sejam:
empobrecimento e acúmulo.
Essa visão macroscópica permite uma explicação razoável das causas da pobreza na
sociedade de escassez e nas sociedades em que a escassez é superada.
O importante neste momento é frisar o essencial; que a pobreza é produzida pelo ser
humano, pela maneira como se organiza socialmente e que, portanto, o mesmo ser humano
pode não produzir a pobreza se adotar outras formas de organização social, claro, nas
sociedades em que já houve a superação da escassez.
2.1.2 UMA MICRO VISÃO DA POBREZA
No Brasil, a pobreza é uma realidade visível. Ela está nas ruas e nas habitações precárias.
Na dificuldade de acesso à saúde, com filas intermináveis em hospitais, e Postos de Saúde. A
pobreza é visível nos pontos de ônibus, onde a espera pode durar mais de duas horas
(ARROYO, 2014). A pobreza está chegando dentro da escola, dentre outros motivos por causa
da condicionalidade do Programa Bolsa Família. Segundo o senso escolar de 2013, são mais de
17 milhões de estudantes que estão nesse perfil.
Consultando um infográfico construído pelo IBGE (2012), pode-se perceber que a
distribuição da riqueza no mundo e no Brasil é muito desigual. No Mato Grosso do Sul, os
dados apontam uma renda média domiciliar de 338,72 reais no ano de 2002 e 982,12 no ano de
2012. Mesmo que não esteja entre os estados mais pobres do Brasil, a renda é pouco acima do
atual salário mínimo que é de 880,00 reais.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA
A presente pesquisa foi, portanto, realizada no âmbito do SUAS – Sistema Único da
Assistência Social que é administrado pelo atual MDSA - Ministério do Desenvolvimento
Social e Agrário, com a colaboração de estados e municípios, compondo assim uma Comissão
Intergestora Tripartite.
Segundo a NOB-RH, a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS, o
CRAS é composto por equipes de referência “responsáveis pela organização e oferta de
5
serviços, programas, projetos e benefícios de Proteção Social Básica” (NOB-RH, 2012 p.25).
O CRAS possui no seu quadro funcional um coordenador, técnicos de nível superior e técnicos
de nível médio.
Geralmente se encontram nos CRAS profissionais como o Assistente Social e o
Psicólogo. Contudo a Resolução nº 17/2011, do Conselho Nacional de Assistência Social,
ampliou a possibilidade de composição da equipe técnica de nível superior, agregando outras
profissões e habilidades (NOB-RH, 2012).
2.2.1 O CRAS GUANANDI
O CRAS no qual foi realizada a presente pesquisa é conhecido como CRAS Guanandi,
seu nome oficial é CRAS Profa. Mida Barbosa Marques e está localizado no Bairro Guanandi,
na cidade de Campo Grande – MS.
No CRAS Guanandi são desenvolvidas diversas atividades como preconiza a tipificação
nacional dos serviços socioassistenciais, a NOB/SUAS e outros mecanismos legais pertinentes.
Um dos grupos acompanhados pela equipe técnica de nível superior do CRAS Guanandi
é o dos beneficiários do Programa Bolsa Família, com o qual foi realizada a presente pesquisa.
2.2.2 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Segundo Weissheimer (2006), o Programa Bolsa Família (PBF) surgiu seguindo uma
evolução histórica no Brasil no sentido de construir um Estado de bem-estar social. O PBF foi
instituído pela Medida Provisória nº 132, em outubro de 2003 e foi convertida em lei em 2004,
sob o nº 10.834. Tornou-se modelo para outros países.
Para poder participar do Programa Bolsa Família, o indivíduo deve preencher o Cadastro
Único – CadÚnico. A inscrição no CadÚnico gera o NIS – Número de Inscrição Social que
possibilita o acesso a diversos programas sociais. As famílias selecionadas para o programa
recebem um cartão para realização do saque em bancos, agências eletrônicas e casas lotéricas
conveniadas à Caixa Econômica Federal.
6
No site da Caixa Econômica Federal são fornecidos diversos esclarecimentos em relação
ao programa. Um deles é que o critério para concessão do benefício é a renda per capita.
Basicamente, são atendidas famílias cuja renda per capita estiver entre 0 e 170,00 reais; e renda
per capita de 0 a 85,00 reais, esta configura situação de pobreza extrema, de maneira que mesmo
adultos recebem o Bolsa Família.
O benefício sofre variação conforme a composição e a renda familiar. Em certos casos
de atualização ainda que a renda declarada seja um pouco acima do estipulado como critério, a
família continua recebendo o benefício por um período, por causa da variação de permanência.
Para receber o benefício, a família deve cumprir com as condicionalidades de saúde e
educação. Ou seja, deve estar em dia com a vacinação das crianças e as crianças em idade
escolar, frequentar a escola com um mínimo de faltas.
O Programa Bolsa Família também conta com a reunião mensal dos beneficiários. Trata-
se de um espaço de informação, troca de experiências e estratégias para superação da situação
de pobreza. O Programa Bolsa Família é um programa que se pretende transitório, capaz de
ajudar as famílias a superar o ciclo da situação de pobreza.
2.2.3 AS REUNIÕES DE BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CRAS
GUANANDI
No território de atendimento do CRAS Guanandi, com base nos dados referentes ao mês
de julho de 2016, existem aproximadamente 2.118 famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família. Contudo, ao observar a lista de frequência, referente aos meses de janeiro a outubro de
2016, se percebe que o número de participantes nas reuniões mensais oscila apenas entre 8 e 24
pessoas.
É grande a diferença do número de beneficiários em comparação ao número daqueles
que frequentam as reuniões a eles destinadas. A explicação para essa discrepância envolve
muitos fatores, quais sejam: a reunião não faz parte das condicionalidades, não é obrigatória. A
distância e a localização onde as reuniões ocorrem dificultam a participação. O horário em que
são realizadas as reuniões também conflita com atividades desenvolvidas por alguns dos
potenciais participantes. Também é necessário notar que grande maioria dos beneficiários de
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fato desconhece a existência da realização das reuniões. A divulgação é feita por meio de
cartazes afixados em pontos estratégicos da comunidade, mas não atinge com grande eficiência
o público-alvo.
A reunião costuma ser realizada a partir das 14h, na última sexta-feira de cada mês, e
dura aproximadamente uma hora. Do público participante das reuniões mensais do Programa
Bolsa Família, foram escolhidos cinco representantes para responder a um questionário de sete
perguntas relacionadas à questão da pobreza.
2.3 OS BENEFICIÁRIOS ENTREVISTADOS E SUAS FAMÍLIAS
A entrevistada nº 1, com 24 anos de idade, reside no bairro Parati e está desempregada.
São três filhos pequenos que com a mãe contam quatro pessoas na família. Juntando o valor do
Programa Bolsa Família e a pensão dos filhos, a família tem rendimento bruto mensal de R$
415,00 reais. A mãe e as crianças recebem atendimento de saúde na Unidade Básica de Saúde
da Família no bairro Nova Esperança.
A entrevistada nº 2 tem 62 anos de idade, reside no Bairro Guanandi, e é dona de casa.
Frequenta a Unidade Básica de Saúde Dona Neta, no bairro Guanandi. Vive com o filho e o
companheiro, portanto são três pessoas na família. A renda do programa Bolsa Família somada
aos “bicos” realizados pelo companheiro faz com que a renda familiar, ás vezes chegue a R$
880,00 reais.
A entrevistada nº 3 possui 38 anos de idade e reside no Bairro Guanandi. Possui uma
família com quatro membros. A renda familiar por vezes, somada ao benefício do programa
Bolsa Família, chega a R$ 880,00 reais. A família frequenta a Unidade Básica do Bairro
Guanandi.
A entrevistada nº 4 reside no bairro Taquarussu, é do lar e a família frequenta a Unidade
de Saúde do bairro Guanandi. São cinco filhos e um sobrinho que com ela somam sete pessoas
na família. A renda familiar é aproximadamente de R$ 692,00, somando o benefício do
programa Bolsa Família e os “bicos” feitos por ela.
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A entrevistada nº 5 reside no bairro Guanandi, a família frequenta a UBS do bairro
Guanandi. São cinco pessoas na família cuja renda mensal bruta fica em torno de R$ 2.000,00
reais, incluindo o benefício do Bolsa Família.
2.4 EXPLICAÇÃO DO MÉTODO DE ENTREVISTAS
Decidiu-se pela entrevista semiestruturada realizada com 05 beneficiários do Programa
Bolsa Família. Para tanto, o instrumento foi previamente elaborado, dados de composição e
renda familiar foram levantados para que em seguida fossem realizadas sete perguntas a
respeito do conceito de pobreza e pobreza extrema aos entrevistados.
A coleta de dados também se deu por meio da observação participante, a qual possibilita
anotar dados significativos que emergiram durante a entrevista. Foram escolhidos
05beneficiários que frequentam as reuniões do Programa Bolsa Família que ocorrem
mensalmente. As entrevistas foram previamente agendadas.
Os entrevistados foram esclarecidos a respeito dos objetivos da entrevista, bem como
lhes foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi devidamente
lido e assinado. Os entrevistados consentiram ainda, que parte das entrevistas fosse gravada e
transcrita. Na exposição dos resultados, e com a finalidade de preservar a identidade dos
beneficiários, os entrevistados estão identificados pelos números 1, 2, 3, 4, e 5.
Segue tabela com o resultado da coleta de dados, na página de formato horizontal, de
modo que fique melhor a visualização das respostas de cada pessoa entrevistada em paralelo,
de acordo com as questões propostas. As respostas colocadas na tabela foram selecionadas e
resumidas de maneira a expressarem fielmente a opinião de cada entrevistado, mas
economizando espaço na folha. Pois, de outra maneira a tabela ficaria muito extensa, cansativa
e confusa.
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2.5 A TABELA COM RESUMO DAS ENTREVISTAS
Tabela 1 – Perguntas e respostas
Questão Resposta
da entrevistada 1
Resposta
da entrevistada 2
Resposta
da entrevistada 3
Resposta
da entrevistada 4
Resposta
da entrevistada 5
O que é ser
pobre?
Objetiva: É “estar nos
limites do viver”
Dissertativa: “não pode
comprar nada, não pode
ter nada, não pode levar
ninguém a lugar algum
e pra mim isso é muito
triste, ser pobre... eu
acho que é a última (é
não poder ter acesso a
bens e serviços
suficientes que tornem
Dissertativa: “Isso aí
tudo se encaixa, de tudo
o que a gente passa isso
aí tem, nas perguntas”.
Objetiva: “(É não
poder ter acesso a
bens e serviços
suficientes que tornem
possível viver com
dignidade) Isso”.
Objetiva: “(É não
poder ter acesso a
bens e serviços
suficientes que
tornem possível
viver com
dignidade) Isso”.
Se a gente quer
trabalhar e
ninguém der
oportunidade pra
10
possível viver com
dignidade)”
gente trabalhar, eu
acho isso né?”
O que é ser
extrema-
mente
pobre?
Dissertativa: “No meu
pensar extremamente
pobre é quando você, a
pessoa está passando
necessidade de muitas
coisas... fome, o que
for, não dar conta de
pagar as coisas”.
Dissertativa: “Pra mim
ser extremamente pobre
é... não ter renda
nenhuma, não tem pra
quem pedir, e viver
assim: sempre
mendigando”
Dissertativa: “Ser
extremamente pobre...?
essa pergunta eu não
vou saber te responder,
porque acho que eu não
cheguei até esse ponto”.
Dissertativa:
“extremamente pobre
é um alguém que não
tem um arroz pra
comer, um feijão pra
colocar na panela, não
tem um pão pra
comer”.
Dissertativa: “É
difícil falar, né?
Extremamente
pobre eu acho que
é aquela pessoa
que não tem nem
o que comer, né?”
11
Em sua
opinião,
por que
existem
pessoas
pobres ou
extrema-
mente
pobres?
Dissertativa:“...porque
não caçam serviço, de
verdade... serviço
adequado registrado.
Porque a gente tendo
um serviço registrado a
gente pode se basear
em tudo. A base é seu
limite, o que a gente
pode gastar o que você
não pode gastar”.
Dissertativa: “eu acho
que não tem
oportunidades, os ricos
não dão oportunidade
pros pobres. Porque não
teve oportunidade de
saber, de ter uma
escolaridade melhor.
Então, hoje em dia,
pobre e velho, vamos
assim dizer: não é
ninguém, não é nada na
vida”.
Dissertativa: “...todas
as perguntas se
encaixam bem, mas as
duas ultimas perguntas
dá... mais ou menos
assim, né?(porque há
um problema de
distribuição dos bens
produzidos e porque as
pessoas não querem ou
não se prepararam para
o trabalho)”.
Dissertativa: “Essa
ultima... A pessoa não
quer trabalhar, é
preguiçosa”
Dissertativa: “Às
vezes é um pouco
falta de interesse
da pessoa ou
também de uma
oportunidade...
Pra você trabalhar
tem que ter um
estudo ou uma
profissão”.
O que é
que resolve
o problema
da pobreza
Dissertativa: “Ah! eu
acho que esses
políticos, né?
corruptos, né? Pelo
amor de Deus, né? Não
Dissertativa: “Eu acho
que... tinha que ter
alguém para ensinar...
as pessoas a ter seu
próprio dinheiro. Nem
Dissertativa: “Um
pouco é os políticos que
também de em vez de
fazer o melhor pro povo
e o que tem que fazer
Dissertativa: “Ó,
quem quer fazer
artesanato? Aprender
alguma coisa. Eu acho
isso mais importante
Dissertativa: “Ai,
É difícil de falar.
Um pouco os
políticos também
olhar, dar um
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ou da
pobreza
extrema?
sei... extrema pobreza é
eles que faz a gente
viver assim... Os
políticos, a gente tem
que saber escolher a
pessoa certa... vai
mudar, vai, mas cada
um muda do seu jeito.
Tem tanto político aí
que fala, prometo isso e
não faz. Cadê a creche
noturna? ...Para as
mães que precisam
trabalhar, precisam
estudar, cadê?”
que seja o mínimo, mas
com dignidade de
trabalhar”.
eles não fazem, deixam
a desejar e; A gente
aqui fora não tem muito
valor não, só na hora de
votar”.
de colocar para as
crianças. Tipo assim,
tem criança hoje, o
que ela aprende hoje
ela leva para a vida
inteira”.
pouco de
oportunidade, as
pessoas também
ter força de
vontade, ir atrás
de serviço”.
Dissertativa: “Tem
Bolsa Família? Tem
Benefício? Tem, mas
Dissertativa: “Eu acho
que é falta de
oportunidade e falta de
Dissertativa: “...Falta
de interesse da parte das
pessoas e também do
Dissertativa: “É,
como estou te
falando.... às vezes
Dissertativa:
“...não vou me
acomodar por
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Porque os
pobres têm
dificulda-
des para
sair da
situação de
pobreza?
tem que arrumar
serviço, para sair da
pobreza se não, não dá
certo... se procurar
encontra emprego, até
de catador de papelão
serve”.
esclarecimento das
pessoas envolvidas
sobre trabalho; porque
se tivesse uma pessoa
para instruir e levá as
pessoas a ter um
trabalho... eu acho que
todo mundo gostaria de
ter seu dinheiro e sua
vida própria. E não
viver mendigando. Eu
acho assim”.
governo que não tem
emprego para todo
mundo, não tem um
lugar certo pra se
qualificar... as vagas,
não tem muitas vagas.
...São passados na
peneira os que têm os
estudos e os que não
têm”.
essa pessoa tem a
mente tão
pequenininha e não
tem o incentivo, se
tiver o incentivo, tipo:
ó vamos anuncia na
televisão, põe no
rádio: curso de
mecânica, curso de
jardineiro, de gesseiro,
de eletricista.
Qualquer um, que ver
uma coisa daquelas
vai se interessar,
sabe?”
causa do Bolsa,
porque o Bolsa
não vai pagar
tudo. Mas acho
que um pouco de
interesse e um
pouco de
oportunidade,
como eu já falei...
Sempre repito, um
pouco de
oportunidade.
Para quem não
tem estudo, para
quem não tem um
nível, sabe?
Melhor”.
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Você se
considera
pobre?
Dissertativa: “Assim é
uma pobreza... mais
adequada. Simples, que
você consegue manter.
Você consegue...
Porque a gente vai
apertando aqui, aperta
ali e compra as coisas...
assim que eu penso...
pobre-pobre não”.
Dissertativa: “Eu me
considero pobre porque
eu não posso realizar o
meu sonho... não vou
conseguir realizar, que
é de ter pra mim e
ajudar as pessoas
também”.
Dissertativa:
“Primeiro, o que será
que significa essa
pobreza, né? “Qual
será o significado dessa
palavra, pobreza, né? A
gente é pobre de muita
coisa né? Não é só de
comida, de casa, que a
gente não consegue, a
gente é muito assim,
pobre de assim, de
palavra amiga, de
pessoas amigas, porque
hoje as pessoas não são
suas amigas, então a
gente é pobre eu acho
que de muita coisa. Não
Dissertativa: “Eu não
sou pobre. Eu não sou
pobre porque Deus me
fez com muita saúde e
disposição; Graças a
Deus! sou saudável,
posso andar, posso
sair na rua e vender os
meus produtos. Sou
vendedora ambulante.
Posso sair da minha
casa e fazer uma
faxina. Tipo a pessoa
que é pobre, ela passa
fome e eu não (risos)”.
Dissertativa:
“Bom eu não vou
dizer que sou
pobre, pobre
assim, né? Não
tenho uma
situação boa, mas
dá para a gente
sobreviver. Não
sou pobre assim
de não ter nada o
que comer. Com o
que tem a gente
sobrevive. A
gente se vira. Faz
um biquinho aqui
e outro ali, a gente
sobrevive. Mas eu
15
só de financeiramente
mas a gente é pobre de
muita coisa. Então...
Nós somos pobres”.
não me considero
pobre-pobre não”.
Explique
como seria
não ser
pobre?
Dissertativa: “Não ser
pobre... não tem como
explicar... só a gente
vivendo para a gente
saber o que é não ser
pobre... se eu não fosse
pobre.... guardaria
dinheiro para eles (os
filhos)... futuramente se
formar, ser alguém na
vida...”
Dissertativa: “Eu acho
que não ser pobre é ter
uma vida digna, um bom
trabalho, um bom
emprego, um bom
estudo”.
Dissertativa: “Você
tinha que ter tudo de
bom, né? Uma vida boa,
uma casa boa, uma
alimentação boa, uns
amigos bons,
principalmente porque a
gente não vive só do
pão, né? mas vive sim
da palavra de uma
pessoa, de uma
conversa...”.
Dissertativa: “Tipo eu
tenho minha casa,
minha bicicleta, que eu
posso andar, ir e voltar.
Posso também arrumar
um dinheiro uma hora,
pegar minhas crianças
e ir na feira. Brincar
nos brinquedos da
feira. Isso para mim é
não ser pobre”.
Dissertativa: “É
difícil, né? Não
sei. Como vou
saber? Sempre fui
pobre. Não sei.
Não tem
explicação. Sei
lá... não sei...”.
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS
Ao fazer a leitura das respostas obtidas a partir da primeira questão, chamam a atenção
dois aspectos: um é o de que a pobreza está ligada à falta de acesso aos bens de consumo
necessários e o outro aponta para a questão do desemprego. Tal percepção da realidade não
está muito distante do que se encontra na literatura específica sobre o assunto. Se tratada pela
literatura como uma questão teórica, para as pessoas que responderam ao questionamento,
trata-se de algo muito prático.
Na segunda questão, a qual trata do conceito de pobreza extrema, as respostas são
praticamente unânimes e apontam para a insegurança alimentar, o nível mais básico de
necessidade para a sobrevivência humana. Nota-se aqui que a Organização das Nações Unidas,
por meio do seu organismo institucional, a FAO, constata que o problema do enfrentamento da
fome e da pobreza extrema não está na escassez de alimentos ou na falta de propostas para o
enfrentamento do problema, mas está sobretudo na aplicação de tais soluções, trata-se mais de
uma questão política, no adequado sentido da palavra.
Na terceira questão os entrevistados apontam a causa da pobreza como fracasso do
indivíduo. Segundo as respostas obtidas, é o indivíduo que não possui iniciativa, não se
qualifica, não aproveita as oportunidades que lhe são oferecidas. Também se percebe nas
respostas a relação de vinculação entre trabalho e renda bem como a dependência das pessoas
a mercê da escassa oferta de emprego ou do trabalho informal e subvalorizado. Para Montano
(2012), faz parte da ideologia capitalista dominante a culpabilização do indivíduo pelo seu
fracasso, pois assim alimenta-se uma força de reserva de trabalhadores e esconde-se o
mecanismo de exploração engendrado no próprio sistema capitalista, de empobrecimento e
acúmulo. O próprio desenvolvimento tecnológico tem tornado desnecessário o trabalho
humano. O fato é que quanto mais a sociedade se desenvolve tecnologicamente menos pessoas
ou desnecessário é o trabalho de pessoas humanas.
A crise do desemprego não está simplesmente nos elevados custos de impostos
aplicados aos grandes empresários pelas leis trabalhistas, mas vai além; a mecanização e o
desenvolvimento tecnológico tornam desnecessário certo número de trabalhadores humanos.
Essa não é uma realidade distante, em Mato Grosso do Sul, a atividade agropecuária
ainda é muito forte. Com a chegada das máquinas, muitos trabalhadores perderam seu emprego
porque elas fazem com que um único motorista realize o trabalho de dezenas de pessoas.
Também há exemplo na área do transporte público. Na cidade de Campo Grande (MS), por
Trabalho de Conclusão de Curso 17
exemplo, centenas de cobradores de ônibus perderam seu emprego porque o sistema de
cobrança se modificou. Com o uso do cartão eletrônico e da leitora nas catracas de acesso ao
transporte, cobradores humanos não são mais necessários.
Recentemente, foi noticiado que o Banco do Brasil, em todo o território nacional, vai
fechar muitas agências e “realocar funcionários ou incentivar a aposentadoria antecipada” deles
por um motivo muito simples: por meio de caixas eletrônicos ou aplicativos na internet é
possível fazer quase tudo que se espera de um banco. Muitos trabalhadores humanos são
desnecessários. O avanço tecnológico é uma conquista da humanidade, que deve ser
aprimorada. Cada vez mais, parece necessário desvincular trabalho e renda, pelo simples fato
de que a cada ano se produz mais e com menos pessoas envolvidas, deixando um grande
número de desempregados.
Perguntadas sobre o que resolve o problema da pobreza e da pobreza extrema, as
pessoas entrevistadas responderam que a saída está na política. Embora a figura do político
representada pelos entrevistados pareça ser a do líder carismático, poderoso e nem sempre
interessado em resolver os problemas da comunidade. A opinião dos entrevistados não diverge
da dos organismos internacionais, como a FAO. A política é o espaço propício de diálogo e
articulação de forças necessárias para resolver os problemas da sociedade. Por isso é importante
escolher bem os representantes, mas também não menosprezar a força das organizações sociais
e manifestações coletivas para pressionar por soluções adequadas.
Na resposta à quinta questão, as entrevistadas apontam que como a renda está em grande
parte vinculada ao emprego e como o emprego demanda profissionalização, é necessário buscar
alguma formação para disputar um mercado de trabalho escasso, pois os programas sociais são
insuficientes para manter as famílias. Aqui, podemos destacar a importância dos programas de
transferência de renda como o Bolsa Família e outros similares. O programa Bolsa Família,
como descrito anteriormente, se pretende provisório. Mas a realidade aponta que os problemas
de desemprego e consequente perda de renda estão cada vez mais afligindo diversos países,
inclusive o Brasil. Assim, a população atendida pelo programa Bolsa Família necessita do
Benefício por mais tempo do que o esperado. Pelo quadro apontado, não será a precarização
das relações de trabalho que solucionará o problema do desemprego, pelo simples fato de que
a força de trabalho de um grande número de pessoas já não é necessária, dado o
desenvolvimento tecnológico.
Trabalho de Conclusão de Curso 18
Esta racionalidade impulsiona cada vez mais para a proposta de uma renda mínima
cidadã para todos os cidadãos brasileiros, sem condicionalidade. A proposta é antiga, dealizada
por Thomas Moro (1478-1535), Thomas Paine, em 1776, e já defendida no Brasil por
economistas como Antonio Maria da Silveira, Paul Singer e por Eduardo Suplicy. O Brasil
como é um dos oito países mais ricos do mundo e com profundas desigualdades sociais, poderia
implementar facilmente a renda mínima cidadã, já aprovada pela Lei 10.835, de 8 de janeiro
de 2004. Aprimorando a experiência obtida com o programa Bolsa Família e a de outros países
nos quais isso já é uma realidade. Uma renda mínima para cada brasileiro, capaz de promover
melhor distribuição da riqueza do país e acabar com a situação de pobreza e pobreza extrema.
Assim, a renda estaria desvinculada do trabalho.
Na sexta pergunta, as pessoas entrevistadas tiveram dificuldade de se considerar pobres,
mesmo apresentando precariedades no seu dia a dia. Alargaram o conceito de pobreza para
além de questões econômicas. A atitude de negar a situação pode ser uma maneira de preservar
a autoimagem em razão de a palavra “pobre” para essas pessoas carregar a imagem de fracasso
econômico e social.
O vídeo “Caminhos da reportagem - retratos da pobreza no Brasil” mostra que o
conceito de pobreza tem um caráter político, subjetivo, mas no Brasil, o recorte de renda
ganhou um consenso inequívoco de que a família com renda para o programa Bolsa Família,
por exemplo, seja considerada pobre. Por outro lado aponta que se forem adotados outro
índices, a população de pobres no país deve ser bem maior.
Para as pessoas entrevistadas, não ser pobre parece significar ter acesso a bens e
serviços, usufruir da vida sem precariedades, ter os seus direitos humanos garantidos e saber-
se tranquilo quanto ao bom futuro dos filhos e entes queridos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalho de Conclusão de Curso 19
Ao finalizar este estudo, foi possível perceber como pensa a respeito do tema pobreza,
um grupo de pessoas que frequenta as reuniões do programa Bolsa Família no CRAS Guanandi,
na Cidade de Campo Grande – MS.
O tema levou a investigar as origens da pobreza, o que a sustenta e as soluções pensadas
até o momento para enfrentá-la. Por meio do presente estudo sabe-se que a pobreza pode ser
combatida e debelada por meio de esforços políticos e sociais verdadeiramente interessados
em solucionar o problema.
Não se pode ignorar a necessidade e a força da mobilização de organizações e grupos
sociais capazes de incentivar a aplicação das soluções para o enfrentamento da questão. Nesse
sentido, o presente artigo contribui para desde uma realidade concreta, a de pessoas
beneficiárias do programa Bolsa Família, debater algumas questões sobre sua realidade
cotidiana e a de milhões de brasileiros.
Certamente, muito mais poderia ser dito, outras questões e autores poderiam ser mais
explorados, mas para o momento se considera atingido o objetivo proposto dentro do limitado
espaço para essa discussão.
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Trabalho de Conclusão de Curso 20
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