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FORMAÇÃO PERMANENTE – LESTE II
Belo Horizonte – MG - 25 -28 de Agosto de 2014
O Concílio Vaticano II e o papa Francisco
Pe. Jésus Benedito dos Santos (pejesusbs@yahoo.com.br)
1
“Queridos irmãos, se não formamos
ministros capazes de aquecer o
coração das pessoas, de caminhar na
noite com elas, de dialogarem com as
suas ilusões e desilusões, de
recompor as suas desintegrações, o
que poderemos esperar para o
caminho presente e futuro” - Papa
Francisco, encontro com o
episcopado brasileiro – JMJ).
“Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho
lhe dou: Jesus Cristo! Levanta-te e anda!” (At
3,7). Este foi um gesto petrino, este foi o
gesto do Papa Francisco ao chegar ao Brasil.
Este é um gesto cristológico, antropológico e
e eclesiológico. O papa Francisco traz uma
nova perspectiva eclesiológica. Sua
eclesiologia passa pelas palavras: pobre,
serviço, alegria, ecumenismo, esperança,
diálogo, oração, rua, solidariedade. Sua
eclesiologia está fundada na opção
preferencial pelos pobres
“Os preceitos que a Igreja acrescentou posteriormente devem ser
exigidos com moderação para não tornar pesada a vida dos fieis e
transformar nossa religião em uma escravidão, quando a misericórdia
quis que fosse livre” (Summa Theologie, I-II, q 107, art. 4). E o papa
Francisco acrescenta: “ Esta advertência, feita vários séculos atrás,
possuiu uma tremenda atualidade. Deveria ser um dos critérios a se
considerar na hora de pensar uma reforma da Igreja e de sua
pregação que permita realmente chegar a todos” (EG 43). “Não se
deve pensar que o anúncio do evangelho tenha de ser transmitido
sempre com determinadas fórmulas preestabelecidas” (EG 129). “A
realidade é superior à ideia” (EG 231).
É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar (EG 95).
O Papa Francisco catalisa um sonho de
renovação da Igreja: Profeticamente ele
aponta para a miséria de uma Igreja fechada
sobre si mesma, “autorreferencial”, e a
necessidade de “sair para as ruas”. Acena
para um perfil de um novo papa: “um homem
que, desde a contemplação e a adoração de
Jesus Cristo, ajude a Igreja a sair de si em
direção às periferias existenciais; que ajude a
Igreja ser fecunda, que vive a doce e
confortadora alegria de evangelizar” (EG 9-10)
O papa Francisco catalisa um
sonho que vem sendo trilhado
pelo povo de Deus. Mas que
decisões, o papa Francisco está
continuamente sinalizado com
gestos, atitudes e palavras o
teor das mudanças e criando as
condições para que as reformas
aconteçam na
corresponsabilidade do Colégio
Episcopal e de todo o povo de
Os pronunciamentos,
neste primeiro ano de seu
pontificado, são muitos:
homilias, discursos,
entrevistas e,
recentemente, a
publicação da Evangelii
Gaudium, numa mescla de
Lumen Gentium, Gaudium
et Spes e Evangelho
Coração – 70 vezes
Amor – 61 Vezes
Esperança – 60 vezes
Encontro – 52 vezes
Alegria – 38 vezes
Misericórdia – 13 vezes
Graça – 9 vezes
Abraçar – 8 vezes
Perdão – 5 vezes
Acredito que o grande acerto
do novo estilo papal, com sua
clara opção de orientar a
Igreja por estes caminhos,
reside justamente em ter
assumido a evidência
eclesiológica de que seu
ofício é pastoral. Ao pastor
cabe organizar a Igreja,
fomentar a prática e procurar
orientá-la para o serviço da
“Eu sou uma missão nesta
terra, e para isso estou
neste mundo. É preciso
considerarmo-nos como
que marcados a fogo por
esta missão de iluminar,
abençoar, vivificar,
levantar, curar, libertar”
(EG 273).
Existe maior encíclica do que a do
Papa Francisco com um báculo de
madeira de uma embarcação
naufragada na Ilha de Lampedusa?
Existe maior encíclica do que um papa
em seu pequeno veículo percorrendo
as ruas do RJ com a janela aberta,
visitando favelas?
Em tão pouco tempo, o papa Francisco
devolveu aos católicos o orgulho de
ser católico, reorientou o leme da
barca de Pedro e está fazendo a Igreja
passar da condenação à ternura, da
pompa à pobreza.
Para o papa Francisco “a
posição do discípulo
missionário não é uma
posição de centro, mas
periferia. Ainda como bispo de
Buenos Aires, criticava “as
pastorais distantes”, pastorais
disciplinares que privilegiam
os princípios, as condutas, os
procedimentos
organizacionais, sem
proximidade, sem ternura, nem
carinho” – superar o
Uma Igreja autorreferencial é uma Igreja que se adoece:
“Não se fechem, por favor! Isso é um perigo: fechamo-nos
na paróquia, com os amigos, no movimento, com aqueles
que pensam como nós (...) porém, sabem o que
acontece? Quando a Igreja se fecha, adoece, fica doente.
Pense em uma moradia fechada durante um ano. Quando
se entra nela cheira mofo, muitas coisas não estão bem.
Uma Igreja fechada é a mesma coisa: é uma Igreja
adoecida. A Igreja deve sair de si mesma. Por onde? Para
as periferias existenciais, quaisquer que sejam” (Vigília
de pentecostes – maio de 2013)
“Sonho com uma opção
missionária capaz de
transformar tudo, para
que os costumes, os
estilos, os horários, a
linguagem e toda a
estrutura eclesial se
tornem um canal
proporcionado mais à
evangelização do mundo
atual que à
O papa Francisco vem demonstrando
com gestos e palavras a “revolução da
ternura”: “precisamos todos aprender a
abraçar, como fez São Francisco”. Em
entrevista à Revista Civiltà Cattolica,
advoga por uma “Igreja Samaritana”:
“Vejo com clareza que aquilo de que a
Igreja mais precisa hoje é a capacidade
de curar as feridas e de aquecer o
coração dos fieis, a proximidade. Vejo a
Igreja como um hospital de campanha
depois de uma batalha. É inútil perguntar
a um ferido grave se tem o colesterol ou o
nível de açúcar altos. Primeiro, deve-se
cura as feridas. Depois podemos no
O tempo do papa Francisco não é para a cúria nem
sequer para a Igreja entendida como instituição
hierárquica. E muito menos para o Vaticano. Seu tempo é
para os fieis, os quais ele acaricia, deseja, abraça, com
os quais se mistura e compartilha e aos quais fala, não a
partir da cátedra nem a partir do púlpito, mas a partir da
vida e colocando-se no nível deles, a seu lado. Com uma
comunicação de massas e, ao mesmo tempo,
individualizada. Relação direta e acolhedora de um papa
que encarna como ninguém a Igreja “Mãe”.
“A mãe (...) dá carinho, toca, beija, ama.
Quando a Igreja, ocupa com mil coisas,
se descuida dessa proximidade, se
descuida disso e só se comunica por
documentos, é como uma mãe que se
comunica com seus filho por carta”
(Entrevista ao Jornalista Gerson
Camrotti - JMJ)
Em EG, o papa Francisco afirma que sair
de si mesma significa, antes de tudo,
“uma Igreja com portas abertas. Sair em
direção dos outros para chegar às
periferias humanas não significa correr
para o mundo, sem rumo e sem sentido.
Muitas vezes, implica antes deter os
passos, deixar de lado a ansiedade para
olhar e escutar, ou renunciar as urgências
para acompanhar quem ficou à beira da
estrada. Às vezes é como o pai do filho
pródigo que fica com as portas abertas
para que, quanto regresse, possa entrar
sem dificuldades” (EG 46) – Isto acena
para uma pastoral da acolhida
Na inauguração de seu pontificado, o papa
Francisco expressou seu sonho incômodo: “Como
eu gostaria de um Igreja pobre, para os pobres”
(EG 198). E começou por ele mesmo, pagando suas
contas, simplificando trajes, trocando trono por
cadeira, conservando a cruz peitoral e seus
sapatos pretos, utilizando um carro modesto e
morando num apartamento de 70 metros. Em
entrevista a um jornalista italiano, disse: “os chefes
da Igreja, geralmente, têm sido narcisistas,
adulados e exaltados pelo seus cortesãos. A corte
é a lepra do papado”. “Uma Igreja pobre para os
pobres começa indo até a carne de Cristo. Quando
vamos até a carne de Cristo, começamos a
entender alguma coisa, o que é esta pobreza, a
pobreza do Senhor. Isso não é fácil” (Vigília de
pentecostes – maio de 2013). “Hoje e sempre os
pobres são os destinatários privilegiados do
Evangelho” (EG 48). Todos devem ter essa
Igreja pobre para os pobres, esta é uma das atitudes e
pronunciamentos mais impactantes do Papa Francisco. O papa
mostrou, assim, que está em continuidade com o Fundamento e
Mestre do Cristianismo, Jesus Cristo: Ele mesmo feito pobre
com os pobres. O Concílio Vaticano II está em continuidade
com esse posicionamento. A eclesiologia do Papa Francisco é
uma continuidade com o compromisso da Igreja com os pobres
– como o Papa João XXIII, que pronunciou às vésperas do
Concílio: “A Igreja se apresenta tal como é e quer ser: Igreja de
todos e, particularmente, a ‘Igreja dos Pobres’” (AAS, 54)
Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma «forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja». Como ensinava Bento XVI, esta opção «está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza». Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar (EG 198).
No final da quarta e última sessão do Conc. Vat II, os bispos seguidores
da “Igreja dos Pobres” assinaram o que ficou conhecido como “Pacto das
Catacumbas”: 40 bispos comprometeram-se a viver na pobreza, e rejeitar
todos os símbolos e os privilégios do poder e a colocar os pobres no
centro do seu ministério pastoral; posteriormente, esse compromisso
recolheu a assinatura de mais de 500 padres conciliares – Esse pacto foi
o precursor da Teologia da Libertação na AL. Outro documento conciliar
que nos recorda a opção pelos pobres e PO, 17: “São convidados a
abraçar a pobreza voluntária, pela qual mais claramente se configuram
com Cristo e ser tornam mais aptos para o sagrado ministério (...) evitem
tudo o que possa afastar os pobres...”
Nos quatros períodos de duração do Vat.II, foram realizadas 168 congregações gerais e pronunciados 2.217 discursos, tendo sido elaborados e aprovados 16 documentos (4 constituições, 9 decretos e 3 declarações). Na história da Igreja, tivemos 21 concílios ecumênicos. O Vat . II realizou-se de 1962-1965 e reuniu em torno de 2.200 bispos com o papa João XXIII e, depois com o papa Paulo VI
No Brasil, o papa Francisco repetiu diversas
vezes: “A Igreja deve sempre lembrar que não
pode afastar-se da simplicidade”. Prestígio e
poder são classificados por ele de
“mundanidade”, pois afasta a Igreja da
proposta evangélica do Reino de Deus. Em
EG, afirma que “esta escura mundanidade se
manifesta em muitas atitudes aparentemente
opostas, mas com a mesma pretensão de
‘dominar o espaço da Igreja’. Em alguns, há
um cuidado ostentoso da liturgia, da doutrina
e do prestígio da Igreja, mas sem preocupá-
los que o Evangelho tenha uma real inserção
no povo de Deus e nas necessidades
concretas da história. Assim, a vida da Igreja
converte em peça de museu ou em uma
posse de poucos” (EG 95)
“Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis
cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa
evangelizadora marcada por esta alegria e indicar
caminhos para o percurso da Igreja nos próximos
anos” (EG 1). “A nossa alegria cristã brota da fonte
do seu coração transbordante. Ele promete aos
seus discípulos: «Vós haveis de estar tristes, mas
a vossa tristeza há-de converter-se em alegria»
(Jo 16, 20). E insiste: «Eu hei-de ver-vos de novo!
Então, o vosso coração há-de alegrar-se e
ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16,
22)” (EG 50). “Consequentemente, um
evangelizador não deveria ter constantemente
uma cara de funeral. Recuperemos e aumentemos
o fervor de espírito, «a suave e reconfortante
alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso
No Brasil, o papa Francisco disse:
“ninguém pode permanecer insensível às
desigualdades que ainda existem no
mundo”; “quero que a Igreja saia às ruas,
defendendo-se de tudo o que seja
mundanismo, instalação, comodidade,
clericalismo, estar fechada em si mesma”;
o grande desafio para os cristãos é “não
deixar entrar em nosso coração a cultura
do descartável. Ninguém é descartável”
(EG 53). “A dignidade da pessoa humana
e o bem comum estão por cima da
tranquilidade de alguns que não querem
renunciar aos seus privilégios. Quando
estes valores são afetados, é necessária
uma voz profética” (EG 218) – embora o
De uma igreja fechada na sacristia a uma
Igreja acidentada por sair às ruas (EG 49).
O papa Francisco desafia a Igreja a sair de
si mesma, do centro, e ir para as ruas, às
fronteiras: “Se a Igreja inteira assume
este dinamismo missionário, deve chegar
a todos, sem exceções. Porém, a quem
privilegiar? Quando lemos o Evangelho,
nos encontramos com uma orientação
contundente: não tanto aos amigos e
vizinhos, mas, sobretudo, aos pobres e
enfermos, aos costumeiramente
desprezados e esquecidos, àqueles que
‘não têm com que recompensar-te’” (EG
48) – É uma Igreja missionária, capaz de
chegar a todos (EG 27)
O papa Francisco tem consciência de que o
modelo romanocêntrico e eurocêntrico está
“sem saída”; não apresenta mais condições
de resgatar o frescor do Evangelho e a
alegria que a mensagem cristã produz.
Gerou-se o que se chama de “desertificação
espiritual” (86).
“A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração” (EG 14)
A palavra “saída” é uma categoria que
atravessa toda a exortação da Evangelli
Guadium. Mostra uma Igreja que deixa
para trás a saudade de seu castelo
medieval e “sai” para mergulhar no
mundo moderno, complexo e
contraditório, mas sedento de sentido e
da Palavra de Deus( EG 49).
“Não creio que se deve esperar do
magistério papal um palavra definitiva ou
completa a respeito de todas as questões
que afetam a Igreja a o mundo. Não é
conveniente que o papa substitua os
episcopado locais no discernimento de
todas as problemáticas que se
apresentem em seus territórios. Neste
sentido, percebo a necessidade de
avançar em uma saudável
‘descentralização’” (EG 16).
No Celam o papa disse: “a Igreja quando
se erige em centro, deixa de ser Esposa,
para acabar sendo administradora.
Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe,
servidora. Facilitadora e não controladora
A maior tentação dos padres é de serem
“administradores” e não pastores. O papa Francisco nos
lembra que a Igreja não é uma ONG ou organização
burocrática: a Igreja é uma história de amor. A Igreja é
missionária: o povo de Deus não pode ser tratado como
uma ‘clientela’, e a Igreja não é uma ‘empresa’ que fica,
passivamente, à espera que o freguês venha procurá-la!
“Prefiro uma Igreja acidentada do que doente por fechar-
se” (Vigília de Pentecoste – 2013)
Neste momento, não nos serve uma «simples administração». Constituamo-nos em «estado permanente de missão», em todas as regiões da terra (EG 25). Em muitas partes, predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral, bem como uma sacramentalização sem outras formas de evangelização (EG 63)
“Sejam em todos os lugares portadores da
palavra de vida, em seus bairros, onde as
pessoas estiverem. Temos uma ovelha e noventa
e nove estão desaparecidas: vão buscá-las,
pecamos a graça de sair para anunciar o
Evangelho, porque é mais fácil ficar em casa com
uma ovelha, escová-la, acariciá-la. Mas o Senhor
nos quer sacerdotes, e também vocês, cristãos,
pastores e não escovadores de ovelhas”
(Abertura do Congresso da Diocese de Roma –
17/06/2013)
Em entrevista a um jornalista italiano o papa afirma: “o
clericalismo não tem nada a ver com o cristianismo.
Quando tenho na minha frente um clericalista,
institivamente me transformo num anticlerical”. No
Celam, o papa Francisco pergunta: “Nós, pastores,
bispos e presbíteros, temos consciência e convicção da
missão dos fieis leigos e lhes damos a liberdade para
irem discernindo, de acordo com o seu caminho de
discípulos, a missão que o Senhor lhes confia?
Apoiamo-los e acompanhamos, superando qualquer
tentação de manipulação ou indevida submissão?
Estamos sempre abertos para nos deixamos interpelar
pela busca do bem da Igreja e pela sua missão no
mundo? (...) os conselhos paroquiais de pastoral e de
assuntos econômicos são espaços reais para a
participação laical na consulta, organização e
planejamento pastoral?”
O sacerdócio ministerial é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do Baptismo, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais (EG 104).
O papa Francisco resgata a imagem “Povo de
Deus”, fortemente sublinhada no Vat. II, e nesta
destaca não só a dimensão da Igualdade
fundamental dos batizados, como também a
missionariedade de toda a Igreja: “A imagem da
Igreja de que gosto é a do povo santo e fiel de
Deus. A pertença a um povo tem um forte valor
teológico: Deus na história da salvação salvou um
povo. Não existe plena identidade sem pertença a
um povo” (Civiltà Cattolica, 20-09-2013)
“Os evangelizadores
contraem assim o ‘cheiro
de ovelha’, e estas escutam
a sua voz. Em seguida, a
comunidade evangelizadora
dispõe-se a ‘acompanhar’.
Acompanha a humanidade
em todos os seus
processos, por mais duros
e demorados que sejam”
(EG 24)
São Francisco de Assis já
imaginava que restaurar a
Igreja do seu tempo não era
fácil. O caminho seria longo e
as dificuldades enormes. O
papa Francisco sabe das
dificuldades e complexidades
que significa renovar a Igreja
em nossos tempos.
Três pontos ajudam
a compreender as
dificuldades e o
empenho do Papa
Francisco em
renovar a Igreja.
Primeiro: Ser Igreja não só para si, mas o mundo.
Este desafio não aparece de saída. Mas é a
missão fundamental deixada por Jesus (Mt 28, 16-
20) e que traz muitas consequências. O papa
precisa falar para dentro e para fora da igreja; e
claro, com o mesmo Espírito, mas por linguagens
diferentes. O papa acompanha o que se passa no
mundo. Mostra solidariedade com os que sofrem,
sem olhar suas crenças; dialoga com governantes;
interage na mídia ate com pessoas críticas e
descrentes. Para dentro diz que a igreja não pode
ser uma ONG fechada, mas ser comunidade que
vive em missão e contribuir com a dignidade e
justiça solidária no mundo.
Segundo: Ser Igreja com o poder de
Jesus. Mas o poder de Jesus não é
impor nem acumular prestígio para
dominar (Mc 10 35-45), mas serviço
para o bem da humanidade. O papa
mostrou isto com a cerimônia do lava-
pés fora do Vaticano, com presidiário em
2013.Para se reunir com o presidente
da Itália, foi com seu carro simples, se
escolta; não se mostrou como chefe de
Estado. Dentro da Igreja nem todos
gostam disto, muitos gostam dos
privilégios.
Terceiro: Ser Igreja participativa. Este é
outro desafio enorme, de solução difícil,
mas que toca nas estruturas das
organização da Igreja. A necessidade de
diferentes serviços na Igreja acabou
gerando privilégios que dificultam a
participação. Jesus alertou: “Um só e
vosso mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt
23, 1-12). O papa Francisco renova com
formas mais participativas em suas
próprias decisões. Criou o conselho de
cardeais, convocou o sínodo da Família
para 2014, escreveu a primeira exortação
apostólica “A alegria do Evangelho”.
Com o papa Francisco, trata-se de assumir
o Concílio Vaticano II atualizando,
superando de uma vez por todas a tentação
de cristandade, vivendo numa Igreja plural
e pobre, de opção pelos pobres, uma
eclesiologia de participação, de libertação,
de diaconia, de profecia, de martírio. É uma
Igreja Povo de Deus
39
O estilo do papa Francisco serve de exemplo
para muitos párocos. Os mais velhos, que
entregaram sua vida a uma Igreja pós-
conciliar, ele os devolve ao encanto dos anos
de juventude. Os mais jovens, educados para
ser párocos-funcionários, ele os questiona e
os faz mudar de “chip”, mesmo que a alguns
lhes custe e resistam.
40
a) O perfil de Igreja que o papa Francisco sonha
para a Igreja é possível?
b) Como vamos de Igreja do Concílio Vaticano II?
c) Parafraseando Dom Helder Câmara podemos
dizer que, se a Igreja que o Papa Francisco
sonha for um ideal só dele, será apenas um
sonho; mas se seu sonho for também nosso
sonho, é o começo da realidade - Dialogar
sobre isso.
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