Post on 27-Mar-2016
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TítuloO Corpo e o NadaMini-ensaios teofilosóficos
AutorLuís Coelho
Director EditorialEduardo Amarante
RevisãoIsabel Nunes
Grafismo, Paginação e Arte finalDivalmeida Atelier Gráficowww.divalmeida.com
CapaFoto cedida pelo autor
Técnica da capaDivalmeida Atelier Gráfico
Impressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.pt
DistribuiçãoBucelas - LisboaProjecto Apeiron, Lda.apeiron.edicoes@gmail.com
1ª edição – Maio 2013
ISBN 978-989-8447-30-2Depósito Legal nº 357884/13
© Luís Coelho & Apeiron Edições
Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor.
O ProjectoApeiron-Apeiron Edições não segue o Novo Acordo Ortográfico,pelo que a grafia desta obra é da vontade do autor.
Projecto Apeiron, Lda.www.edicoes-apeiron.blogspot.comprojecto.apeiron@gmail.comapeiron.edicoes@gmail.comPortimão – Algarve
O Corpo e o Nada
Introdução
Pós-modernidade e Espiritualidade1. A Pós-modernidade ou o regresso ao Espírito2. Deus/homem, Holismo/Reducionismo e Determinismo/Livre-arbítrio: improviso dialético
Crítica do Corpo Hegemónico3. O lugar do “Corpo vs. Espírito” na eterna dialética “Emoção vs. Razão”4. Esoterismo e Psicanálise I: O homem espiritual face à angústia (liberdade e moralidade)5. Esoterismo e Psicanálise II: Encontros e oposição6. Esoterismo e Psicanálise III: Conclusão (do “eterno retorno” à “fuga para a frente”)
Crítica do Corpo Ausente7. Crítica do Corpo Ausente8. Psicanálise vs. Meditação: Corpo e Transcendência9. O corpo da esfinge: O argumento materialista perante o Espiritualismo
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ÍNDICE
Luís Coelho
Desabafos em tons de ceticismoIlusõesDeterminismo vs. Libertarismo e SubjetividadeSobre a EducaçãoSabedoria antiga e RenascimentoCiênciasO Bem e o MalArchéQuase-pensamentos e outras serpentias
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Introdução
“A vida não é na realidade uma dinâmica do prazer,
mas um dom da frustração.”
Agustina Bessa-Luís, O Mosteiro
A aceitação da realidade pós-moderna enquanto pa-
radigma filosófico derradeiro (será?) da minha vida,
processo que terá sido preludiado pelo encontro com
uma epistemologia questionadora das certezas positivis-
tas – que terá tido o seu “manifesto formal” no meu re-
centemente publicado «Corpo e Pós-modernidade»
(2012) – levou ao encontro inexorável com a Espiritua-
lidade dita “racional” ou “esotérica”, o que, não obstan-
te, não implicou o esquecimento da temática, para mim
sempre cara, da corporeidade.
Se em «Corpo e Pós-modernidade» esteve sempre
presente a questão da relação que a corporeidade estabe-
lece (ou não) com a Racionalidade, neste novo cômputo
de ensaios, o tema sofre uma evolução, com a “corporei-
dade” a ser representada fortemente pelo objeto psicana-
lítico (que só os olhares mais incautos poderão julgar
como matriz que desprezo… quando, na realidade, a Psi-
canálise teve e continua a ter uma importância decisiva
na construção da minha noção do Homem/homem e das
espiritualidades) e a Racionalidade a ser representada
pela realidade Espiritual do tipo de uma Noésis platónica
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(que, como poderá vir a ser entendido, corresponde ao
que, no já citado livro, apelidei de «racionalidade estéti-
ca/ética» e/ou «racionalidade pós-moderna»). Evolução
que justifica uma nova publicação, e que, bem vendo,
vem sublinhar decisivamente a similitude flagrante entre
o objeto pós-moderno e aquilo que já era proposto há
milénios pela grande sabedoria Universal e perene.
Tal similitude demonstra, em última análise, mais
uma vez, que as grandes questões filosóficas já estavam
bem presentes na Sabedoria antiga, e que a filosofia
ocidental somente contribuiu para elevar o grau de abs-
tração de temas que possuíam um nível de maior signi-
ficância pessoal; o que é o mesmo que dizer que a Filo-
sofia ocidental acabou – ela mesma – por fazer o que a
Ciência e a Religião também fizeram: contribuir para
fracionar saberes que, na verdade, são ontologicamente
indivisíveis.
Infelizmente a cultura moderna, possuída pela obses-
são analítica, persiste em afirmar a divisão dos saberes,
esquecendo e fazendo por esquecer que a antiga Sabedoria
não divisava religião e filosofia ou que a Ciência do tipo
moderno não constitui o nível maior de Racionalidade.
Por outro lado, a tentativa de criar uma certa luz nes-
tes factos esbarra com uma resistência que se faz consti-
tuir pela noção da totipotência da Ciência face à reli-
gião, pela noção de que a Filosofia é inútil, e de que o
Esoterismo ou o Ocultismo é sempre coisa de aldrabões.
E muito me entristece que se pretenda que a Verdade
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Histórica para que muitas vezes pretendo remeter não
existe, porque “Verdades, cada um tem a sua” (o que, no mínimo, depreende uma muito má compreensão do
relativismo), quando, na realidade, é precisamente essa
vontade de “relativizar” o que parece não relativizável que demonstra que esses “resistentes” é que parecem padecer do mal de “para cada um sua verdade” (para citar o título da peça de Pirandello, que vem, já agora,
lembrar mais uma vez que a antiga sabedoria também
tinha em conta a questão do relativismo, por exemplo no
aspeto do “teatro das máscaras” ou “personas”)… no fim, lá voltamos a afirmar que “tudo é relativo” e que a Subjetividade enforma a escolha de uma cientificidade
soberana, o que, a bem ver, é o desiderato de uma forte
doutrinação sociocultural.
Também esta questão do Absoluto/Relativo transpa-
rece nos textos que ora se apresentam, se bem que re-
forço, mais do que nunca, a minha noção de uma asso-
ciação entre a determinação de um corpus material e
subjetivo e a relatividade do mundo das relações (dialé-
ticas) entre os homens, para que, somente ao nível do
Espírito/Deus possamos encontrar o verdadeiro Absolu-
to. De qualquer modo, bem veremos, pelos textos apre-
sentados, que esta questão está longe de se resolver bem
dentro de mim, e que, em última análise, obriga à (apa-
rente) contradição: o binómio «Determinismo vs. Livre-
-arbítrio» faz-se complexificar logo nos primeiros tex-
tos, com esta dualidade a depender de uma visão do
Luís Coelho
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homem como sendo ou não capaz de poder alcançar o
estado de Demiurgo criador ou mesmo de Deus incau-
sado (e já aqui se sublinha a importância de uma psica-
nálise preocupada com a analogia entre o pequeno ho-
mem e o grande Homem).
As analogias que se arrolam não são inocentes e, por
vezes, não são simples… Por exemplo, a psicanálise vem muitas vezes em abono de uma visão mecanicista e
materialista – pelo menos em comparação com a perspe-
tiva Espiritual/Esotérica – em que o homem se admite
como sendo um “corpo” egóico, mas a mesma psicaná-
lise também vem funcionar como corpus de uma analo-
gia do homem com um ser Livre e Incausado.
Por outro lado, as dualidades «Espiritualismo vs.
Materialismo», «Corpo vs. Espírito», «Reducionismo vs.
Holismo/Absoluto» vão estando sempre presentes nestes
textos, se bem que a maior prevalência de uma determi-
nada perspetiva relativamente a outra levou a que, a de-
terminada altura, distinguíssemos neste livro uma «Críti-
ca do corpo hegemónico» – com maior pendor Espiritua-
lista – de uma «Crítica do corpo ausente» – com maior
pendor materialista e até possível defesa do paradigma
elementarista e cientificista. Não obstante, não deverá ser
vista tal divisão em ensaios que pretendem veicular uma
dualidade, que, como sabemos, é indubitavelmente a base
primacial explicativa deste nosso mundo que se faz lade-
ar de binómios (e também de dialéticas geradoras do ter-
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ceiro elemento, da tríade ou trindade implicativa do
“simbólico” e portanto do “não diabólico”). E é sempre nessa base dinâmica, analógica e não
conclusiva que convido os leitores a visitarem estes tex-
tos (alguns já publicados e outros em vias de publica-
ção), podendo obviamente escolher entre aquilo que
existe e não podemos aceitar e aquilo que queremos que
exista – isto na perspetiva de um materialista – ou entre
aquilo que existe na aparência e aquilo que existe no
seio da realidade desvelada ou consciência pura – isto
na perspetiva de um espiritualista.
Estes temas fundamentais, estes conceitos aparente-
mente frugais, aparecem jogados e reunidos nesta obra,
cujo título rememora obviamente Sartre, e que pretendo
dedicar aos esforços daqueles que, em Portugal e no
Mundo, se dedicam a lutar pela conservação da Sabedo-
ria perene, aquela que promete uma Nova Era, e que, nos
dias mais negros, temo não vir a conhecer o seu momen-
to neste nosso mundo tão desapegado dos Valores que
importam e nesta Sociedade em que os grandes Mestres e
os grandes Saberes parecem reduzidos a uma mera ideo-
logia, a qualquer coisa que já não conta ou importa.
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PÓS MODERNIDADE E ESPIRITUALIDADE
“Os ramos da árvore são sacudidos pelo vento;
o tronco permanece imóvel.” Helena Blavatsky
Luís Coelho
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1. A pós-modernidade ou o regresso ao Espírito1
Mesmo concebendo que o Universal e a Estrutura
denunciam o que do Homem há, em primeira e imatura
análise, de mais ontologicamente verosímil, não pode-
mos simplesmente ignorar essa fenomenologia das con-
tingências, esse historicismo a que nos obriga qualquer
pretensão de redução fenoménica escalar, e que, de uma
forma quase intuitiva, parece revelar a nossa evolução
enquanto processo dialético, de natureza essencialmente
cíclica e circular, de um todo triárquico que se divide
nas três idades que identifiquei em «Corpo e pós-
-modernidade» (2012) enquanto idade do sagrado, idade
científico-positivista e idade pós-moderna.
Com a pós-modernidade a resultar enquanto síntese
de um processo dialético que inclui necessariamente as
duas idades anteriores, ainda assim não podemos deixar
de notar a semelhança que a idade pós-moderna tem
com a idade do sagrado, com estas duas fases da evolu-
ção a reportarem uma fenomenologia da continuidade e
uma perspetiva panteísta de Deus, e a deixarem a idade
positiva a morigerar nessa grande insignificância pater-
nalista de uma realidade que persiste em ser fragmenta-
da por uma necessidade própria de uma modernidade
obsessivamente categorizadora e inadvertidamente fala-
1 Publicado originalmente, numa versão ligeiramente simplificada, em
Biosofia, 2012.