Post on 10-Jul-2020
O EXTERMINADOR DE SONETOS
Eder Ferreira
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Eder Ferreira
O EXTERMINADOR DE SONETOS
2º Edição
2011
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Editora: Clube de Autores
Edição, diagramação e revisão final: Eder Ferreira
Capa: Eder Ferreira
Eder Ferreira. 2011. Todos os direitos reservados
Contato: ederliterato@gmail.com
Ferreira, Eder O Exterminador de Sonetos – 2ª Edição: Eder Ferreira; Siqueira Campos – 2011
1. Literatura. 2. Literatura nacional. 3. Poesias. 4. Sonetos
5
APRESENTAÇÃO
Foi-se o tempo em que o soneto desfrutava de uma fama
incomensurável. Não que nos dias de hoje ele esteja em
extinção, mas seu legado é, de certa forma, mais pobre do que
em outras eras.
Nessa época, onde a própria poesia perdeu força, o soneto
tenta, com todas as suas forças, se manter vivo, e os sonetistas,
afoitos defensores e entusiastas, se desdobram para manter o
soneto no panteão poético.
Esta obra não pode ser vista apenas como mais um livro
de sonetos, já que nem isso ela é. Não sigo regras, não sigo
convenções, não sigo fórmulas. Sigo, sim, meu coração. Talvez
seja disso que o soneto esteja precisando.
Eder Ferreira
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SOBRE O AUTOR
Nascido em 27 de dezembro de
1980, na cidade de Siqueira Campos,
no estado do Paraná, Éder Carlos
Ferreira sempre se interessou pelo
universo dos livros. Desde muito cedo,
demonstrou interesse em áreas tão
diversas como romance, ficção
científica, poesia, filosofia, contos, dentre vários outros temas
recorrentes na literatura. Apesar de ter se formado em
licenciatura na disciplina de matemática, de ser funcionário
público municipal em sua cidade natal, e de exercer a função
de professor de informática e secretariado, nunca se desviou da
paixão pelos livros. Tem dois livros publicados, "Uma
Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos" e "Palavras Vazias",
além de dois livretos (com menos de 50 páginas), "Crônicas de
um Cronista Crônico" e "Além do que os olhos podem ver".
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SUMÁRIO
Soneto de Introdução I .................... 15
Soneto de Introdução II .................... 16
Dedicatória .................... 17
Aventura poética .................... 18
O Exterminador de Sonetos ....................19
O poema perfeito .................... 20
A nuvem .................... 21
Sinestesia .................... 22
Sonetóide trovadoristico-
poetrixzado-haikaidológico .................... 23
Cosmos .................... 24
Invencionice .................... 25
Como escrever um Soneto .................... 26
Acidez .................... 27
Contemplação .................... 28
A rosa assassina .................... 29
Altar .................... 30
Copo de cerveja .................... 31
Soneto com uma só rima .................... 32
Ego perverso .................... 33
Microsoneto .................... 34
10
Coma .................... 35
Soneto de desorganização .................... 36
Máscara negra .................... 37
Ciclo infinito .................... 38
Musicalidade .................... 39
Releitura .................... 40
Diálogo gramatical .................... 41
As dores do mundo .................... 42
Soneto de Ruptura .................... 43
Tempo esgotado .................... 44
Poesia eterna .................... 45
Inverso .................... 46
Soneto de falta de inspiração .................... 47
A Árvore da Vida .................... 48
Heroísmo .................... 49
Nas Trevas .................... 50
Eterno .................... 51
Uma palavra .................... 52
A Máquina .................... 53
Soneto modernista .................... 54
Sanguinolência .................... 55
Enterro de mágoas .................... 56
Mitologia .................... 57
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Pedagogia Selvagem .................... 58
Espectros carentes .................... 59
Vida eterna .................... 60
Correntes da miséria .................... 61
Musa .................... 62
Sonetificação .......... 63
Sexologia .......... 64
Face oculta .......... 65
Ao amor ou ao ódio .......... 66
Pecados mortais .......... 67
Vozes humanas .......... 68
Chacais .......... 69
A última noite de um poeta .......... 70
Sombras na parede .......... 71
Sintético .......... 72
Mãos do destino .......... 73
Alienígena .......... 74
Artista do céu .......... 75
Almas explosivas .......... 76
Nostalgia .......... 77
Tributo I .................... 78
Tributo II .................... 79
Tributo II .................... 80
12
O último soneto.................... 81
...o fim! .................... 82
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SONETOS
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Soneto de Introdução I
Eis que esse livro tem seu inicio E para introduzi-lo, venho agora Em versos (nada mais propício...)
Espalha-los pelo mundo afora
E nessa introdução, irei ressaltar Da forma mais simples e sintética
Minha maneira de escrever e recitar Essa obra tão literária e poética
Portanto, leitor, preste muita atenção
Nas palavras que vem do coração Mesmo que pareçam meio melosas
Poesia á assim mesmo, rasa, abstrata
E com sua loucura a vida retrata Usando as palavras mais honrosas
16
Soneto de Introdução II
Continuando, pois, essa introdução
Venho, nessas frases poderosíssimas Escrever sobre a majestosa inspiração
A mãe de todas as artes belíssimas
Ela, que magnífica sempre aparece Seja em um soneto, trova ou proesia E em suas estrofes e rimas agradece
Seus admiradores, com muita cortesia
Mesmo quando a arte não lhe convém, Com seu lirismo puro, com seu talento, Com todo seu poético ardor, ela vem
Cantarolando, declamando, recitando... Aos ouvidos ávidos, a noite, ao relento
Matar a dor de quem está amando...
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Dedicatória
Dedico esses versos, primeiramente À consciência primordial, o tal Deus Que mesmo sem saber os planos seus Exalto em dedicar-me inteiramente
Dedico, também, o verso mais puro
A todos àqueles que vivem ao meu lado E que no presente momento, e no futuro
Me desviam de tudo o que é errado
E nessa minha dedicatória poetizada Não poderia me esquecer dos poetas Que, como eu, declamam a revoada
Revoada do tempo, que não há de parar Até que um dia, nas palavras corretas
Alguém, os seus versos, a mim dedicar
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Aventura poética
O que é a tal linguagem poética
Senão um emaranhado de emoções? Tentando imitar a afamada fonética E a voz suave das vãs tentações...
Com suas hipérboles quase irônicas Devaneios, loucuras e inverdades
Que se misturam, frágeis e atônitas Às mentiras da falsa realidade...
É essa linguagem que a todos comove
E talvez, com ela, alguém renove As bases fracas da tímida literatura
Imortalizando em versos finos Volúpias, mágoas e desatinos
Siga poeticamente esta aventura
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O Exterminador de Sonetos
Nestes dias tão aguados
De arte simples, sem encanto Me coloco aqui, no entanto A citar versos deliberados
Esqueço as regras de antemão
Más deixo as rimas bem cunhadas Palavreando as alvoradas
Com ódio, sangue e paixão
E estas rimas sorridentes Alvos pasmos, sem correntes
Que ecoam por entre os guetos
Sentimentos precoces, fingindo Correm, para sempre, fugindo Do Exterminador de Sonetos
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O poema perfeito
Quero, nessa página, algo supremo Um poema mais que perfeito, irreal Só não posso cometer o erro fatal
De ser mal visto; é só o que temo...
Sou um poeta como outro qualquer Apenas acredito em minha literatura E, para qualquer verso que eu fizer Sei os limites da poética conjectura
Escrever um poema exato... será?
Se ninguém ainda o fez, quem o fará? D'onde posso tirar versos tão perfeitos?
Talvez esse poema apareça um dia
E o poeta genial cegamente ria Sem perceber os inerentes defeitos...
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A nuvem
Nuvens de poeira, de cinzas; nuvens rasas
Esvoaçadas nuvens, como a aura de inimigos Que dos pássaros e morcegos, agora amigos
Atrapalham o vôo, no bater de suas asas
Confundem a visão, na fétida e vil cortina Delineadas na escuridão; nas sombras desenhadas
Das asas dos condores, ruflantes, esvoaçadas Consomem as penas, o bico, a língua e a retina
Não há visão, não há vôo, não há mais nada
Só um pedaço de asa, solta, na revoada Pérfida nuvem, maldita, a confundir e a cegar
Na visão humana, também há uma nuvem assim
Que surge a qualquer um; a tu, a nós e a mim Ofuscando os olhos de quem ainda quer amar
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Sinestesia
Vejo o que meus olhos não conseguem ver
Sinto meus dedos tocarem o inexistente Escuto o som de um brilho reluzente
Posso, então, pegar o que nunca pude ter
Coloco-me a sentir o cheiro de minh'alma E o gosto suavizante do ar suavizado
Meus sentidos afoitos, agora unificados Capazes de curar qualquer dor ou trauma
Libero todo o meu ser em puro sentimento
Para experimentar essências ao relento Mesmo que meu corpo ainda seja contido
Imagens, sons, cheiros, gostos e texturas
Voando bem longe, elevando-se às alturas Mostrando a mim mesmo, um novo sentido
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Sonetóide trovadoristico-
poetrixzado-haikaidológico
Mato meus momentos sem sentido Num soneto que de mim agora sai Mescla de trova, poetrix e haikai
Intitulado: “Nas letras estou perdido”
[Trova] Contar sílabas, ninguém merece
Foram nove, das tais poéticas Pelo menos acho (vis heréticas)
Em mim tais coisas não apetecem
[Poetrix] De que vale rimar em concordância
Se nem há regras que me forcem Mas vou forçar, com discordância
[Haikai]
No jardim das letras As sílabas são como flores
Um dia elas murcham
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Cosmos
Átomo; nano-existência complexa Milionésima parte da menor parte Que se renova toda manhã e tarde Nos corpos dessa gente perplexa
Mistério universal, pleno, imenso
Números que mandam e desmandam Leis cosmológicas que comandam
Energia residual; cataclismo intenso
Químico-fisicamente, tão poderosa Peça fundamental de toda existência Com sua força extrema e cautelosa
Onipresente ordenamento elementar (Do Big-Bang, à total convergência) Que faz de mim um “ser molecular”
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Invencionice
Estou sonetificante por escrever Tantos versos e tantas poetilezas
Quiçá as riméticas não sejam coezas Libertináveis, sim, é certo de saber
Invento palavriações inexoráveis
Vocábulos eternófilos, demasiados E, nesses vérsicos tão desolados
Redesposeciono as frases amáveis
Ao reinventar todas essas coisélas Talvez sobre uma inspiracinalização
Que eu consiga furtificar delas
Transpalavriando, na volta ou na ida No caminho da febril inventalização Quem sabe, eu reinvento minha vida
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Como escrever um Soneto
Não escrevo Sonetinhos métricos
Para quê; as letras se desfazem "Cheios de vida..."; prefiro os tétricos
Os poemas (como nós) se refazem
Parnasiano ou (pós-) modernista De versos em versos, uma obra
Experimental, como um Alquimista Mortífero, como veneno de cobra
Poucas páginas, muitas formas Assassinando as belas normas
O bom poema é o que vem de cima
Do céu, d'um plano, do universo afora No mundo da lua; o que vem agora? Sem inspiração! (completo a rima...)
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Acidez
Na cáustica vivência do poderoso ácido Ninguém mergulha em sua vil corrosão
Num toque único, acelera a reação Da efervescência, surge o plácido
O básico silêncio, a alquímica paz
Sulfúrico, Iodídrico, bórico Em qualquer melodrama teórico
Na alcalina terra, fúnebre, jaz
Meu corpo esfria, perante o mistério Depósito radioativo, (vão) cemitério
Derreto, só, sob o olhar estático
Será esse ácido poderoso o bastante Para queimar o ódio deteriorante
Que reage em meu peito pragmático?
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Contemplação
Sou um visionário; vigia, vigilante... Um contemplador, observador nato
Sigo vendo, com minha visão delirante Cada evento, cada cena e cada fato
Olho para a terra e para o céu
Tentando ver algo mais vistoso À noite, observo o enegrecido véu De dia, vislumbro o chão terroso
E, quando me pego a contemplar
Vejo os amantes que não puderam se amar Que nunca se entregaram aos carinhos
Acima, o céu chora... suavemente
Abaixo, a terra grita... austeramente Contemplando-se, um ao outro, sozinhos
29
A rosa assassina
Novamente, o cravo brigou com a rosa
E mais uma vez a espancou, covardemente Da forma mais violenta e desonrosa
Destruiu suas pétalas... cravo indolente
Isso aconteceu por que o cravo a traiu Com a linda tulipa, atrás duma moita
O relacionamento tão bonito ruiu Quando a rosa descobriu afoita
Mas, ela tomou uma drástica atitude
E, à noite, no total silêncio e quietude Com um espinho, o cravo ela matou
Agora, a rosa é a flor mais temida
Com sua face desolada e carcomida Tudo graças a um amor que a magoou
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Altar
Prostrado de joelhos em meu altar pessoal
Me vejo orando, em lamúrias pobres De certa forma, uma oração nobre
Relatando meus erros, em toque divinal
De pecados em pecados, monto meu retrato Relutante em me declarar com ardor Visto que sou um mórbido pecador
Sujeito-me ao martírio de meu contrato
Pacto selado! Acorrentado e desolado Enxugo meu rosto cheio de lágrimas Sigo o sonho, de um dia ser exaltado
E, fugindo da vil maldade humana
Ouvindo minha voz e minhas lastimas Mergulho na luz que meu altar emana
31
Copo de cerveja
Transparência cheia de conteúdo
Olho pelo vidro amarelado Na cevada líquida, extasiado Tomo um gole, sempre mudo
O álcool que se adentra em mim Já esteve em algum belo campo Colhido, transformou-se tanto
Agora sou eu seu triste fim
Dentro de um mero copo Fixo minha mente, em foco
Vidro frágil, como minh'alma
Sempre e agora, bebo esse karma Esta delícia em forma de sarna
Que me estressa e também acalma
32
Soneto com uma só rima
Da forma mais resplandecente
Escrevo esse poema tão envolvente Dando-me o direito, deliberadamente
De rimar, cada verso, igualmente
Sei que parece meio indecente Liberar-me da rima inerente
E redigir um poema, solenemente Criando palavras, desajustadamente
Eis que, nesse poema, profundamente Me entrego de corpo, alma e mente
No caminho árduo, displicente
Nesses poucos versos, sobriamente Mostro meu dom, poeticamente
Como a luz duma estrela cadente
33
Ego perverso
Meu ego se faz de vítima, e somente Ás vezes se coloca a me contemplar
E não casualmente, a me torturar Deleitando sobre meu corpo doente
Meu cérebro, cansado de pensar E de buscar soluções inexistentes Olhando essas tristezas aparentes
Não mais tolera; flui lento e devagar
Minha sorte, já sem fôlego de seguir Adiante, em frente, em sentido reto
Não me faz valente na hora de ir
Minhas dúvidas, insolentes questões Prendem-se, ao subirem, lá no teto Para precipitarem em vis emoções
34
Microsoneto
Ao olhar no microscópio Aparece-me uma bactéria
Que se alimenta só de ópio Desvairada viva matéria!
E, como um ser unicelular
Da maneira mais etérea Escrevo um soneto similar!
35
Coma
Na longínqua distância entre a mente
E a contemplação da epífise materialista Surge um tempo e um espaço inerente A tudo o que a inteligência conquista
Intelectual processo bem organizável Que a existência projetada nos mostra Da imagem, da ilusão mais confiável
Contemplativamente a quem se prostra
Cerebral, neural, astral, quase desumano O tempo se esconde em um mês, ou ano No epicentro da Hipófise descontrolada
E nesses espaços atemporais relapsos Surgida entre explosões e colapsos
Encontra-se essa mente despedaçada
36
Soneto de desorganização
Que poema é esse, sem nenhuma estética?
É um soneto, ou uma loucura sem fim?
Talvez seja fruto de uma louca dialética Mas, não é nada de mais, não para mim... É apenas um soneto, como outro qualquer
Com versos normais, só meio elitista Apenas diferente; ou para quem quiser,
Um poema ultra-mega-hiper-modernista!
Sei que pode até parecer um insulto Contra todas as regras tão valorizadas
Digam de tudo! (Exceto que é inculto...)
São só algumas palavras irracionais
Meio esquisitas, mas bem intencionadas
Confrontando essas leis convencionais...
37
Máscara negra
Escondo todos meus medos sob ela A máscara negra, pronta a me salvar Em sua escuridão, no frio que gela Deleito-me em sua sombra circular
Máscara escura... profundamente... Onde qualquer brilho é ofuscado
Na noite mágica, estática e envolvente Finjo também ser um mascarado
Óh, máscara! Máscara afagável...
Faça de ti a pele de meu rosto E oculte esta minha face inconsolável
Mas, ao ocultar-me, virá o ardor Sentirá o eterno e amargo gosto
Que consome a boca dum pecador
38
Ciclo infinito
...e na imensidão, permaneço viajando! Deleitando-me pelo universo grandioso Descobrindo o vão mistério miraculoso
O tempo e o espaço desarranjando!
Infinitamente, no ciclo envolvente Na Via Látea percorro as vielas
Com as nebulosas danço, e com elas Me completo sempiternamente
No ciclo perfeito, do fim ao começo Pela eterna via, sem nenhum tropeço Sigo, no caminho da universalização
Na circunferência circunscrita circular Metafisicamente, na geometria linear Retorno ao início; e na imensidão...
39
Musicalidade
Simples sonata, simbólica, musical D'onde vem o som tão envolvente? Vem de um instrumento reluzente Ou de um canto celeste-angelical?
Eleva-se o volume, a nota, o tom... Da lira bem feita, que enfeita o ar
Que nos ouvidos ávidos, põe-se a soar Um maestro, um talento, um dom...
Vem, esse som, d'uma nuvem, vem
Encantar-me, agora, nesses instantes Fazer-me ouvir os cânticos do além
Canta o instrumentista, toca o cantor Tocando os sentimentos angustiantes Cantando as angustias do lírico amor
40
Releitura
Leio o soneto, o soneto releio
Relendo o soneto, o soneto eu leio Releio e leio, leio e releio
Lendo o soneto, o soneto que veio
E relendo o soneto, aquele mesmo Que li e reli, o soneto que lia
Leio o soneto, mesmo que a esmo Vi o soneto, o soneto que eu via
Veio o soneto, o que li a esmo
Que mesmo lendo, voltei a reler Vi, reli, li, lendo assim mesmo
E ao ler tanto esse soneto (o que li!) Retomei a leitura... recomecei a ler
O mesmo soneto que eu li, (vi!) e reli...
41
Diálogo gramatical
A virgula olhou para o ponto e falou: - Porque és mais poderoso que eu?
O ponto, com outra pergunta, respondeu: - Quem te disse que mais forte eu sou?
A virgula, triste, falou novamente:
- Foi a exclamação, com aquela afobação. - Não acredite! - respondeu ele então.
E o ponto foi resolver isso, rapidamente:
- Tu disseste que sou mais forte que a pobre virgula - disse o ponto - e agora, a coitada, só deseja a morte!
- Tu não gosta de ser mais forte, então? -
Disse a exclamação - não seja tonto! E o ponto virou uma interrogação.
42
As dores do mundo
Pobre mundo, sofrido; gemendo... Com a boca seca, mundo desolado Para sempre, agora e no passado Segue a sina; as dores contendo...
Alegrias, emoções; desgraças, aflições... Perversos sinais, reles vícios culposos
Falsos contentamentos, sempre amorosos Que se entregam a todas as tentações
Miseráveis sentimentalismos capitais... Moedas que compram a vida e a morte
Orações fervorosas, pecados carnais
Nesse pedaço de mundo, e em cada parte No prazer, na dor, no azar e na sorte
Vive o evoluído, o sapiente, o covarde...
43
Soneto de Ruptura
Não obstante, mais uma vez cá estou Nas entrelinhas dum mero poemeto
Execrando as juras que enfim prometo Exagerando no que digo e no que sou
Alimentando a descrença nesta febre Que regurgita cada boca poetizada Tais logros que na poesia execrada Me fazem como uma fugitiva lebre
Não rio desses infortúnios regrados
Onde sílabas são medidas ao extremo Já que meus sonhos são bem fixados
Somente observo, como um ser alado
Nada me afugentará, nada temo Pois as letras me querem ao seu lado
44
Tempo esgotado
O tempo não para, só passa devagar
Arrastando-se perene, pela eternidade Ocultando a mentira, enganando a verdade Na montaria temporal, sempre a galopar
Tão solene, só, em recato, desolado
Um relógio quebrado, tênue, perpétuo Desfragmentado no silêncio, quieto
Seu advento já foi cronometrado
Os ponteiros, inertes, logo paralisam Segundos, minutos, horas, enfim
As cicatrizes óbvias não cauterizam
Ser atemporal, desses tempos devassos Já sinto pulsar aqui dentro de mim
Como o relógio, meu coração em pedaços
45
Poesia eterna
Meu lápis quebrou, não posso escrever Sou um poeta morto-vivo, sem sossego
Vivo eternamente, em meu solene apego Relutante em viajar, nego em perecer
Assoviando, pleno, entre erros e acertos Uso meu talento em forma de sinfonia Cantarolando alto, em minha poesia
Os alentos serenos em breves concertos
Livre de qualquer tênue reticência Ressuscito páginas, mortas, na ausência
Das frases rústicas, faço as modernas
Cintilando meu lápis; brilho letrado O pobre lápis, que agora quebrado
Se faz meu amigo, nessas noites eternas
46
Inverso
Olho no espelho e lhe pergunto
De onde vem meu reflexo pálido? Sem resposta, mudo de assunto
Vejo, então, minha sombra torta
Contra a luz, no chão árido E lhe pergunto se é viva ou morta
Pensamentos sórdidos, perplexos
Que loucura é essa, afinal? Conversa enlouquecida, banal
Entre um Homem e seus reflexos?
Se em seus sonhos o Homem está perdido Na maldade, no caos e na destruição
Olhando no espelho do coração Que sonhos terá o Homem invertido?
47
Soneto de falta de inspiração
Sem saber o porquê, escrevo esse poema Sem direção; sem começo, meio e fim E, talvez, não por orgulho, é para mim
O que melhor se apega a esse tema
Que tema, se ainda não foi esclarecida Para tu, leitor, a temática desse soneto? Pois bem, eu sei, é um erro que cometo
Mas, até o final, não será esquecida
Leia com atenção essas linhas estranhas Que tirei lá de minhas internas entranhas
Forçando (eu sei) a rima de vez em quando
Recito versos, glorificando a gramática... Ops! Me lembrei daquela maldita temática Logo agora que o poema esta acabando...
48
A Árvore da Vida
Cresce, aceleradamente, a ávida semente
Transforma-se, logo, em uma grande planta Cheia de espinhos; mas que logo encanta Aqueles, que a árvore olham, fixamente
Com seus frutos coloridos e suculentos Folhagens verdes, vermelhas e amarelas As fortes raízes, donde apegam-se a elas As raízes d'outros troncos tão opulentos
Cresce, cresce... mais, mais, e muito mais... A arvore, em sua ganância, nunca, jamais Deixará que algo lhe interrompa em vão
Alcança, então, o tamanho máximo possível E, como nunca poderá chegar ao inatingível Desaba, tão rápido quanto cresceu, ao chão
49
Heroísmo
Que dirá o que sou, senão um louco Por transgredir regras sem sentido
Dirá me vendo fraco, abatido Definhando, lento, pouco a pouco
Heroicamente, ergo a espada Solto um brado, ordeiro sinal
No alto de minha coragem fatal Aerofóbico, desço a escada
Más não é o medo que me derrota
Nem mesmo as pedras em minha rota Guerreiro que sou, sigo o caminho
São as vítimas desse mundo fútil
Que atrapalham meu destino inútil Salvo a todos, más pereço sozinho
50
Nas Trevas
Estou eu, preso, louco, relutante Neste veio de mortandade fria
Sujando os pesadelos de quem me cria Entre cegos, tetro, delirante
Na eminência lisa, a pensar forte Descubro mistérios eloqüentes
Acreditando em sonhos ardentes Versos proclamados, cheiro de morte
E, certo, como se fosse de contra-senso Me desespero em falso, sempre tenso Nos semblantes, me deleito, esvaído
Em plena loucura, um pueril torto
Inerente, dilacero meu corpo Escaveirado, me sinto traído
51
Eterno
Oriundo de antigas eras, aqui estou eu Viajante da longínqua linha temporal Inebriado por terem me dado o aval
Para observar o cosmos em seu apogeu
Vi perplexo cada transformação astral Melancólico pelas insanidades soltas Por esse mar onde a Terra é envolta
Girando em falso entre o bem e o mal
Nasci numa época de pouquíssima luz E pude perceber claramente que faz jus Essa escuridão que segue a humanidade
Sou eterno em minha louca existência Mas, como eu, também faz resistência Esse vicio tão humano pela maldade
52
Uma palavra
Mundo
Destrutível Incompatível
Imundo
Sonho Indecente Decadente Enfadonho
Liberdade Falsidade
Mídia
Compaixão Enganação
Perfídia
53
A Máquina
O cheiro metálico se espalhando No ar inebriante; puro, amargo O som latente; infinito, largo
Eterna moda, vai girando
Energia pura, magnética Inconseqüente movimentação
Age, ao pressionar de um botão Dinâmica, ágil, cinética
Engrenada, a máquina vivente
Moderna, velada amargura Em concreta arte, de alma ausente
Parafusos frouxos, deturpação
Na existência elétrica, não se cura Condenada a auto-destruição
54
Soneto modernista
Vangloriando o legado Andradino
Nas austeras poetizações... Sigo o formado Petrarquiano
Sem nenhum lampejo rimático
Invento palavras absurdas Machadinamente, converso contigo
O leitor iliterário... Canibal devorador de versos
Se Camões, Bocage e tantos outros
Fizeram dessas rimas suas vidas Quem sou eu para irrompê-los?
Visto a camisa modernista
Para (nesta rima intrometida!) Escrever um poema maniqueísta...
55
Sanguinolência
Sangue escuro; plasmática sangria
Que sangra agora este plasma grudento A grudar os pecados do advento
Ser corporal, cadavérico, que esfria
O sangue antigo, novo, velho, eterno Afagável, o fluxo sanguinolento, mágico Correndo, pelo venoso aurículo trágico Sedento, vampírico, sugante, materno...
Espectral, sanguíneo, o pulso latente Do corpo e da alma, da vida corrente Cortante, a navalha... o mal, o trauma
Ao entrar a lâmina da covardia plena
Encontra este sangue a dor mais serena Escorre, no sangue, um pouco da alma
56
Enterro de mágoas
Pobre homem, o insípido coveiro A enterrar corpos, no chão mortal
Destino cruel, fatídico, fatal Muito diferente do seresteiro
Esse sim, dança, canta e declama
Poesias, anedotas, cantigas ao luar Pelas ruas, emoções ávidas a recitar
As mágoas, dos ouvintes, ele derrama
Vidas opostas, que assim se fazem Sentimentos ambíguos, a si, trazem
Ambos na vida, sem rumo, sem norte
Não tão diferentes esses homens são Se um enterra as mágoas do coração O outro enterra as mágoas da morte
57
Mitologia
Brilha o olhar claro da pérfida Sereia A fitar o Minotauro, preso, temerário No labirinto, guardando o relicário
Do semideus decaído, que ali vagueia
Realçada a beleza do eterno grego O súbito grito das sonatas Harpias Sob o eclipse, no clamor dos dias A relíquia perdida; o fogo negro
E Ícaro voando, no ruflar das asas
A Atena plena, protegendo as casas Assessorada pelo Hades benigno
Essa relíquia é a liberdade humana
Concedida pelo grande deus da gana Pisoteada pelo Hércules maligno
58
Pedagogia Selvagem
Discípulos Ferais! Brutais ativistas...
Defendam sua caça e seu legado Na pele escamosa impregnado
O selvagem discurso construtivista
Evolutivos Sapiens devoradores... Com cérebros e presas; À Guerra! Arranhando os sentidos da Terra
As formas, as superfícies, os odores...
O Leviatã poderoso, no mar atroz Nada forte (ferozmente!) e veloz Na sapiência rígida da calmaria
E neste meio aquoso, irregular
Surge sempre um monstro a nadar No oceano plausível da sabedoria
59
Espectros carentes
Nas lembranças mórbidas, aluadas Sombrias, mortíferas, recorrentes Momentâneos espectros carentes Atormentando vidas desalmadas
No sistema lúdico, destrutivo
Conectado ao meu ego perverso Encontro minha alma ao reverso
Presa em meu corpo introspectivo
Lamentando esse devaneio sagaz Na lápide estagnada onde jaz
O fantasma de minha consciência
Me destruo aos poucos e eternamente Semelhante ao descaso de tanta gente
Fingindo um momento de carência
60
Vida eterna
Que homem, insolente, e tão ousado Saberá, no futuro, a grande sepultura
Que se eleva, e o eleva, solene, a altura Dos céus, a subir alto, glorioso, alado?
Nem os anjos, com seus corpos ínfimos
Ou os demônios, escravos insolentes Recebem de seus mestres, quando doentes
Alívio aos seus desejos mais íntimos
Donde vêm, então, este sonho louco De alçar-se, de subir mais um pouco
E alcançar, sublime, as hastes do céu?
O Homem, em sua cega ancia de poder Engolirá seco, nesta ancia, ao morrer
Sentirá, na cova, o gosto amargo do fel
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Correntes da miséria
Quantas almas estão ainda presas
No calabouço angustiante, sofrível? Sentindo este cheiro tão horrível
De lágrimas, lamentos e tristezas...
Escravidão, servidão, enganação... Momentos de prazer e liberdade Enforcados pela insana maldade
Como um réu em sua condenação
Sem mais pecados, sem mais culpa Servas da boca suja que as insulta
Aos grilhões, abandonadas as traças
A ferros, escravas dessa vã miséria Tendo que se sujeitar a face séria
De quem só se liberou por trapaças
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Musa
Como já dizia o grande Modernista
Amar não passa de um simples verbo E, na idealização que ainda conservo
Sobra uma idéia Clássica ou Humanista
Se os Realistas só pisaram no sentimento E os Parnasianos só pensaram na arte
Talvez ainda não seja muito tarde Para um novo e triunfal renascimento
Mas, as musas já não existem mais
E a inspiração perdeu-se, para jamais Voltar a brilhar, reluzente, douradora
Se não há nenhuma musa esperançosa
Escrevo eu, uma poesia amorosa Pois tenho minha musa inspiradora
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Sonetificação
Entre palavras soltas e inacabadas
Formam-se, aos poucos, alguns versos Meio clássicos, modernos, simbólicos...
Ou um soneto, daqueles, bem feitos!
Cheios de riminhas, regrinhas, coisinhas... “Poema romântico, coisa de mulher...” Uma trova consignada, pura estética...
Bem escrita, declamada... O que quiser...
Mas logo esses versos se transformam E viram pérolas literárias deslumbrantes Com o tempo, obras de arte de tornam...
Não importando a temática, sempre serão (Apaixonados, tristonhos ou angustiantes)
Filhos de um inspiradíssimo coração...
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Sexologia
No fluxo esgotante da perfeita simetria
Dos corpos semicarnais, paralisados No tempo, na alcova, seres endeusados
A breve tempestade flui a calmaria
Mentes ligadas em sanguínea perfeição Ardentes sonhos louvados, pecaminosos
Sentidos confusos, arrepios porosos De Adão e Eva, à mera fornicação
O súbito, o púlpito, a mescla de dor Com o prazer latente, alimentado Da beleza honrosa, à morte da flor
Algemas; cárcere; símbolo retido
O chicote letal, o sentimento açoitado No tronco ruge o amor pervertido
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Face oculta
Lua branca, de prata, iluminada Que faz toda noite sua viagem Livre, a contemplar a paisagem
Brilhante, mágica, quão afamada
Ao redor de tudo para sempre gira No vazio longínquo, exorbitante Aparece sempre, a todo estante
mostrando uma face; nunca de vira
Talvez por isso seja tão majestosa Em sua viagem, tão bela, formosa Sem nunca se mostrar inteiramente
Invejo-te muito, senhora enluarada
Pois gostaria de ocultar na madrugada meus erros, como fazes eternamente
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Ao amor ou ao ódio
Ecoou o grito desesperado da esperança
E, ao soar, suas ondas curtas de alongaram Imitando os gritos dos que não amaram Mas, no ódio, encontraram a vingança
Retaliação essa que se fez merecida
Quando a voz da loucura pairou no ar E, todo aquele que não pôde amar Viu perplexo o reflexo de sua vida
Que entre lágrimas alguém ouça meu canto
Pois nem o amor e o ódio podem resistir Ao sentimento que nasce de um pranto
E que, ao chorar à vida, eu possa dizer,
Ao amor ou ao ódio, ou a quem me ouvir: - Amando ou odiando, ainda posso viver...
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Pecados mortais
No cemitério que habita em meu coração
A vida e a morte se fazem vis crianças Pendendo uma noutra, como uma balança Sobre o peso de um pecado sem perdão
Nesta terra sempre fria, deito em minha cova Na escura e inerte noite que se refaz em mim Procurando um inicio mais próximo do fim
Recitando uma necromantica e vil trova
A loucura que me abrasa, no túmulo atroz Vem como uma seta, pungente, mortal, veloz
Libertando meus devaneios sepultados
Já morto, meio vivo, metade semi-humano Canto um lamento singelo, porém profano
Na esperança amarga de esquecer meus pecados
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Vozes humanas
Somente um barulho... nítidas vozes
me cercam, em eco, em sons triunfais. Convergem em mim, como setas velozes só ouço um som; sonatas descomunais
São gritos da noite, percalços sonoros Fragmentos audíveis em êxtase puro
que se adentram em meus eloquentes poros e me fazem um vil ouvidor obscuro
Estas vozes, estes sons, são mágoas que viajam pelos ares, pelas águas
e acabam se voltando sempre em mim
Vozes que escapam de malditas bocas Surgindo de becos, mórbidas, loucas
Tortura audível, meu sangue, meu fim
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Chacais
Derrubei meus muros de concreto tosco
E despi-me de infortúnios desejáveis Para entregar-me a pecados amáveis
E a algum sentimentalismo fosco
Suprimi meus desejos mais que reais Na bravura dum horror mais corrompido
Dum medo vão, detestável, reprimido Para fugir de humanizados chacais
Na verdade, tirei minha carapuça
Olhei para minh’alma sempre convulsa E vi-me num espelho; um pobre plebeu
E o que nunca veria, então percebi
Com os olhos da alma, finalmente vi O pior dentre todos os chacais era eu
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A última noite de um poeta
Sob o sol da noite quente, que queima
Sob a lua de prata pura, sem valor Sobe uma angústia, sem sentir dor Desce uma tristeza que ainda teima
São madrugadas, escuras e silenciosas Onde minha pena se faz solene escrava
E na frieza da letárgica e vil palavra Sou um autor sem letras pretensiosas
A solidão, descrevo em um vil soneto
Em minha pele, grudado, um manto preto Se misturando à sombra que me domina
E nesta noite, na qual me peguei a ler Os últimos escritos, filhos de meu ser O conto de minha vida enfim termina
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Sombras na parede
Na fria e inerte parede branca Onde a escuridão gélida fica
A brisa sórdida e mórbida brinca Um riso rijo, da parede arranca
E nesta lisa e patética muralha
Onde lágrimas jorram na fria noite A solidão se faz como um açoite
A penumbra se torna uma mortalha
Movo minhas mãos, olho na parede Vejo sombras se movendo, numa rede
Entrelaçadas, emoções e tristezas
Crio figuras, seres solitários Vis, sombrios, escuros, arbitrários
Reflexos de minhas vãs estranhezas
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Sintético
Roboticamente falando, eu
em minha mecânica existência Apaziguo minha vil paciência
sonhando em ter o que não é meu
A cinza visão de meus olhos de vidro e minha voz tão áspera e tremida
Fazem de mim uma máquina ferida Um ser de lata, frio e denegrido
A estranheza dessa minha imagem
(Um LED, um botão, uma engrenagem) me faz sentir um elétrico trauma
Nenhuma das três leis podem fazer
com que eu tenha o que não posso ter Meu lado humano, meu ego, minh’alma
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Mãos do destino
Nos calos de minhas mãos tão servis O frio cai como se fosse pura neve Calejando, gélida, assim, de leve
Desgastando-as como um pó de giz
Mãos sujas, ásperas, de tanta surra Esperançosas em descansar um dia De tanto encararem a vil noite fria Que, eterna, me cai como uma luva
Mãos que apalparam belíssimos corpos
Agora só levantam vazios copos Cheios de uma aleivosa vaidade
Embriagado, de mãos tão vazias
Tento agarrar o que me sobra de dias Socando o que me resta de sanidade
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Alienígena
Voo, por este universo afora, vou Em busca de um sinal inteligente De uma prova óbvia, contundente
Para explicar o que vejo e o que sou
Mando um sinal ao céu, a procura Não sei do que, nem importa o que seja
Num alento qualquer talvez eu veja Uma saída para essa infinita tortura
Quem sou eu? Filho da Terra, da lua...
Estou perdido, como uma fera nua Longe de seu ambiente campestre
E ao procurar uma razão para viver
Confronto a verdade, de só poder ser Um Alien humano, um Extraterrestre
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Artista do céu
Risco o grande céu com meu dedo Desenho belas e cintilantes estrelas
Sem culpa alguma, sem nenhum medo Na esperança de, talvez, um dia tê-las
Apago os quasares, crio nebulosas Pinto de vermelho os aglomerados Desviando as distâncias numerosas Dos tempos e espaços acelerados
A aquarela celeste, a azulada pintura Plagiando e recriando as constelações Do leste ao oeste, a galáctica moldura
Misturando as tintas nesse negro gel
Retas, sentimentos, curvas e emoções Torno-me o astronômico artista do céu
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Almas explosivas
A quimera em teu olhar me fez assim
Um louco a sonhar em falso e em pranto Calejado e castigado, mas que no entanto
Despede-se a cada madrugada do fim
Imortal, em minha caminhada sangrenta Na escuridão que perpetuou em meu ser Olho para teus olhos, e posso então ver
O brilho refletido, que sempre te afugenta
Esta luz que sai de tua branca retina Surge de uma misteriosa e vil sina
De não podermos nos tocar na eternidade
Como um grande sol, irradio minha loucura E, como uma eterna e irresistível fagulha
Queimo esse amor, em forma de insanidade
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Nostalgia
Tempos velhos... momentos eternos D’onde surgem as letras garrafais
Que centram-se, e fixam-se aos anais Do passado ao futuro... tempos modernos
Vem daí a ideia, no tempo infindável
A dialética da poesia desgarrada Da nostálgica inércia sempre atada
À liberdade mais amável e detestável
Volta a rima, o soneto, a poesia... A brancura dos versos e dos temas
Sem qualquer santificação ou heresia
Em toda obra, todo sinal, todo lugar Muito além de quaisquer lemas
Sempre haverá um louco a rimar
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Tributo I
No trêmulo rio do tempo incansável Surge o mestre das letras, o senhor
O parnasiano perfeito, o insuperável Declarando à poesia todo seu amor
O ouvinte das estrelas e do impossível Debruçava-se na janela para vivenciar
Toda noite, sua obra intransponível Que nunca, em seus versos, a de acabar
O poeta erudito, de febril literatura Amante fiel da sublime conjectura
E das pérolas poéticas que construía
Através dos tempos, e sempre mais Não a de se apagar, nunca, jamais O brilho estrelado de sua maestria
A Olavo Bilac
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Tributo II
Talvez os violões chorem eternamente Ou, talvez, enlouqueçam de uma vez Como a Monja, em sua negra avidez
Pervertida pela Múmia... solenemente
Se o poeta enlouquecer, maldita sorte Terá que satisfazer seu sonho amável
Para ser, como nos versos, Invulnerável Cantando, bem alto, a Música da Morte
Na liberdade negra de sua inteligência Confundida, muitas vezes, com destino Resta uma dose de talento e opulência
Se a loucura espreitou-lhe no derradeiro
Terá a sorte de no eterno confino Ser afagado pelo Cristo verdadeiro
A Cruz e Souza
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Tributo III
Assisti, agora, o formidável, o enterro Não da quimera, mas daquele verme
Aquele, que nos versos, no cerne Vangloria-se, feroz, no funesto aterro
E, agonizante, o filósofo me contou
Que morcegos não mais lhe incomodam Só voam, voam... giram, giram e rodam
E, que apenas um (o do tempo) lhe atacou...
Mas, mesmo que seja velha a sua obra Algum verso perdido, sei que sobra
No caos, nos descontroles e desarranjos
Seu lirismo necrófilo ninguém esqueceu Apenas, talvez, alguém não o entendeu
Pois a de enlouquecer até mesmo os anjos
A Augusto dos Anjos
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O último soneto
Soneto branco... soneto feio... soneto vil... Dentre as páginas acaloradas, a epopéia
De sinopses americanas e formas européias Da rima portuguesa ao poético Brasil...
Um soneto, uma poesia, uma trova...
Mesmices rimadas, com sentido duvidoso Das mãos do insano escritor ocioso
Surge uma imprudente lira nova
Leia e desfrute. Veja que "cousa" linda O último soneto que vem agora
A rimar em falso, na ida e na vinda
Forçando essas rimas sem luxúrias Na bravura poética, logo aflora
O temerário Soneto das injúrias...
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...o fim!
Caro leitor, esse é o último poema
Nessa obra lírica, tão literária Letras soltas; forma arbitrária
Uma rima, um verso, um dilema
Lembranças, amores e devaneios Saltitando pelas páginas afora
Vivendo o ontem, o amanhã e o agora Libertando, de súbito, seus anseios
Más, não tardio, o tempo se vai
Como a alma de um corpo se esvai - “Fazer o que, a vida é assim...”
Numa mescla de alegria e tristeza
Fecho os trabalhos dessa obra coeza Decretando, determinantemente, o fim!
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OUTRAS OBRAS DO AUTOR
UMA VERDADEIRA PROSA – CONTOS & MINICONTOS
Humor, emoção, suspense. Esses são apenas alguns dos ingredientes que formam esse livro. São 15 contos e 40 minicontos, que farão você viajar por mundos inimagináveis. Fantasia, ficção científica, histórias cotidianas e surreais. Um prato cheio para os amantes de uma boa leitura.
PALAVRAS VAZIAS Palavras Vazias é uma coletânea de poemas escritos ao longo de 3 anos. Com temáticas fortes e metafísicas, o livro é um verdadeiro passeio pelas várias formas que a poesia pode ter. O livro é formado por poesias de estilos variados, alguns rimados, outros não. Para terminar, um anexo sobre o nano-soneto, uma criação estilística do autor.
ALÉM DO QUE OS OLHOS PODEM VER Coletânea de mensagens inspiradoras, esse livro é mais que uma obra de auto-ajuda, é uma verdadeira viagem pela natureza humana. A cada texto, o leitor poderá refletir sobre sua vida e sua convivência com as demais pessoas. Um livro instigante, que fará você repensar sobre muitos aspectos da vida, como as desilusões que o mundo nos impõe.
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