Post on 13-Mar-2016
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Todas as tardes,
quando vinham da
escola, um grupo
de crianças
gostava de ir
brincar para o
jardim do Gigante.
Era um grande e
belo jardim, todo
atapetado de relva
verde e macia.
Aqui e ali, havia lindas flores, que eram como estrelas entre a
relva, e havia doze pessegueiros que, ao chegar a Primavera,
se cobriam de delicadas flores cor de rosa pérola, e no Outono
carregavam-se de deliciosos frutos. As aves pousavam nas
árvores e cantavam tão suavemente, que as crianças
interrompiam os seus jogos para as ouvir.
Um dia o Gigante voltou. Tinha ido visitar o seu amigo, o Ogre da
Cornualha, e ficara com ele sete anos. Ao fim desse tempo
dissera tudo o que tinha a dizer, porque a sua conversa era
limitada, e decidiu regressar ao seu castelo. Quando chegou viu
as crianças a brincar no seu jardim.
- Que fazeis aqui? –
gritou ele, carrancudo.
As crianças fugiram.
O jardim é meu – disse
o Gigante.
- Toda a gente tem de
compreender isto e não
permitirei que ninguém
venha para aqui brincar,
a não ser eu.
Construiu então um alto
muro a toda a roda e
afixou nele este aviso:
“É proibida a entrada.
Proceder-se-á contra
os agressores.”
Era um Gigante muito
egoísta!
Os garotos não tinham agora onde se divertir. Tentaram brincar
em vários sítios, mas nenhum resultava para eles. Então
vagueavam à volta do muro, falando do lindo jardim que eles
tão bem conheciam. Como tinham sido tão felizes lá dentro!
Chegou a Primavera e, por todos os lados havia flores e
chilreavam passarinhos. Só no jardim do Gigante Egoísta era
ainda Inverno.
As aves não queriam ir lá cantar, porque não havia crianças e
as árvores esqueceram-se de florescer. Os únicos seres
contentes eram a Neve e a Geada. A Neve cobria a relva com o
seu manto branco e a Geada prateava todas as árvores do
jardim.
Em breve convidaram o Vento Norte a viver com eles, que
pensou logo em convidar o Granizo, para fazer parte do
grupo. E ele lá veio, instalando-se no jardim, partindo
telhas todos os dias, com os seus rugidos.
O Gigante Egoísta olhava para a janela,
admirado por observar tão longo Inverno
e fazendo votos para que o tempo
melhorasse. Mas nem a Primavera,
nem o Verão chegaram.
Certo dia, estava o Gigante deitado,
ouviu uma música muito suave.
Foi à janela ver o que se tratava
e deu com um pintarroxo a cantarolar ali perto.
Há tanto tempo que não
cantavam aves no seu jardim,
que o Gigante achou aquela, a
melhor melodia do mundo. Foi
então que reparou: o Granizo
deixara de bailar sobre a sua
cabeça, o Vento Norte deixou
de rugir e um perfume
delicioso veio até ele, pela
janela aberta.
- Parece que a Primavera chegou finalmente! – exclamou o
Gigante que, rapidamente se vestiu e deu uma corrida até ao
jardim. Quando lá chegou viu um espetáculo maravilhoso: por
um buraco pequenino do muro, as crianças tinham entrado e
estavam sentadas nos ramos das árvores. Em todas elas, ele
viu uma cabecinha.
As aves voavam por todo o lado e chilreavam alegremente. As flores
espreitavam por entre a relva e riam. Era um espetáculo encantador
e só num recanto do jardim havia ainda Inverno. Era o recanto mais
afastado e via-se lá um rapazinho tão pequenino, que não conseguia
trepar aos ramos das árvores, tendo ficado no chão a chorar
amargamente.
A árvore que se encontrava
mais perto do menino estava
coberta de Neve e Geada e o
Vento Norte rugia por cima
dela. As outras crianças assim
que viram o Gigante fugiram.
Ele dirigiu-se então para o
pequeno que estava sozinho e
apanhou-o do chão.
O coração do Gigante
enterneceu-se e exclamou:
- Como tenho sido egoísta!-
disse ele.
- Agora compreendo porque
a Primavera não queria vir
para aqui. Vou pôr-te em
cima da árvore e depois
derrubar o muro. O meu
jardim será para sempre o
recreio das crianças.
Logo de seguida, a árvore
desabrochou em flores, as
aves vieram cantar sobre ela
e o rapazinho estendeu os
braços, abraçando e beijando
o Gigante.
As outras crianças, quando viram que ele já não era mau, voltaram a
correr pelo jardim e instalou-se a Primavera.
- Agora o jardim é vosso, meus meninos – disse o Gigante.
Passaram muitos anos e o Gigante
ficou muito velho e fraco. Como já não
podia brincar, sentava-se numa grande
cadeira de braços, a ver as crianças
felizes e a admirar o seu jardim.
- Tenho muitas flores bonitas, mas as
crianças são as mais bonitas de todas.
Pegou numa grande picareta e derrubou o muro.
As pessoas que passavam ficavam abismadas com o espetáculo,
pois viam o Gigante a brincar com as criancinhas no mais belo jardim
que já se tinha visto.Mas o Gigante nunca mais viu o
menino que o tinha abraçado
e todos os dias perguntava
por ele às crianças.
Os amigos não sabiam dele, achavam
que se tinha ido embora. Que triste
que ficava o Gigante! Talvez gostasse
mais dele, por lhe ter dado mimos.
Uma manhã de Inverno, olhou pela janela enquanto se vestia. Agora já
não odiava o Inverno, porque sabia que era apenas a Primavera
adormecida, deixando as flores repousar.
De repente esfregou os olhos de
espanto com o que viu. A um canto
do seu jardim, estava uma árvore
completamente coberta de belas
flores brancas. Os seus ramos
eram todos de ouro e deles,
pendiam frutos de prata. Debaixo
da árvore estava o rapazinho de
que ele tanto gostava, com uns
sinais vermelhos de feridas, nas
mãos e nos pés. O Gigante desceu
apressadamente as escadas e foi
ter com ele perguntando:
- Quem te magoou?
- Ninguém, respondeu o menino.
Estas são feridas do Amor.
- Mas afinal quem és tu? – perguntou o Gigante.
A criancinha sorriu e disse-lhe:
- Tu deixaste-me brincar uma vez no teu jardim; hoje virás comigo
para o meu, que é o Paraíso.
E, quando as crianças
vieram brincar nessa
tarde para o jardim,
encontraram o Gigante
morto, debaixo duma
árvore, todo coberto de
flores brancas.