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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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Rede de Escolas Criativas: contribuições na formação continuada de professores
Fabiana Fachini
Universidade Regional de Blumenau - FURB - Bolsista da FAPESC/SC – Brasil - fabefachini@yahoo.com.br
Vera Lúcia de Souza e Silva
Universidade Regional de Blumenau - FURB - PPGECIM - verass@furb.br
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
1. Introdução
Educar para a criatividade requer uma reforma paradigmática nos processos de construção e
reorganização do conhecimento, uma reforma de pensamento (MORIN, 2000) e uma profunda
transformação na educação (D’AMBROSIO, 2002; MARIOTTI, 2000; MORAES; TORRE, 2004;
MORAES, 2008; SILVA, 2004; TORRE, 2008, 2009, 2011).
Uma transformação na educação requer que se reflita a respeito da formação continuada de
professores. Uma das possibilidades que pode favorecer esta transformação reside na abordagem da
ecoformação e da transdisciplinaridade.
A ecoformação busca focar as relações do ser humano entre as pessoas, o mundo, a natureza e o
mundo em geral, e procura estabelecer uma formação de consciência ambiental abrangendo para um olhar
investigativo e formador. É estar ampliando o processo de construção para entender o mundo e ainda
contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Portanto, podemos dizer que a ecoformação promove a
aprendizagem ao caminhar no contexto de uma preocupação com o sentido da vida cotidiana, e o desejo de
concretizar relações saudáveis entre o ser humano e outros seres humanos e o meio ambiente. Ou seja, para
Navarra (2008), a ecoformação está vinculada ao fato de atender a uma educação que esteja vinculada aos
entornos sociais, físicos e naturais e a própria natureza pessoal. A ecoformação busca focar as relações do
ser humano com ele mesmo, com a natureza e o mundo em geral.
Com vistas ao desenvolvimento de uma cidadania planetária, Torre et. al. (2008) descrevem a
importância da ecoformação, com sua ampla visão sobre o mundo em que vivemos, e que pode contribuir de
maneira significativa para a formação de nossos estudantes. Isso fica claro em sua concepção de
ecoformação a seguir:
Entendemos a ecoformação como uma maneira sistêmica, integradora e sustentável de atender a ação
formativa, sempre na relação com o sujeito, a sociedade e a natureza [...] A ecoformação é uma
maneira de buscar o crescimento interior a partir da interação multissensorial com o meio humano e
natural, de forma harmônica, integradora e axiológica. Buscando ir além do individualismo, do
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cognitivismo e utilitarismo do conhecimento. Partindo do respeito à natureza (ecologia), levando os
outros em consideração (alteridade) e transcendendo a realidade sensível (TORRE et. al., 2008, p. 43).
Portanto, a Ecoformação norteia-se na busca de um conjunto de valores, numa perspectiva
transdisciplinar, desde a formação dos professores até a formação dos estudantes. É na transformação da
realidade educativa, baseada no trabalho com valores e atitudes, que a sociedade poderá alcançar mudanças
necessárias para uma melhor qualidade de vida. Ou seja, é na transformação de processos educativos em sala
de aula, na direção de escolhas saudáveis e no exercício de um pensamento mais crítico e participativo que
nosso estudante desenvolverá a cidadania.
Neste sentido, a transdisciplinaridade se coloca como referência para um trabalho que busca o
diálogo dos saberes, de forma a contemplar temas atuais da comunidade escolar. Apresenta-se, assim, o
desafio de uma abordagem que reconhece a importância de se abrir para a individualidade de cada estudante,
de cada cidadão. Um dos objetivos da transdisciplinaridade é a fundamentação de novos princípios para
ressignificar a educação. A transdisciplinaridade busca alternativas para representar caminhos significativos
que possam auxiliar na mudança através da educação.
Uma das características da transdisciplinaridade é a busca de conhecimentos que harmonizem a
relação do ser humano com a tecnologia, com outros seres e com o mundo; conforme Guevara et al. (1998,
p. 13) “o ser humano procura se entender não só como uma realidade em si, como um indivíduo, mas
igualmente no seu relacionamento com outros, como uma realidade social”.
Ou seja, os aspectos educacionais, segundo Antônio (2002) motivam a educação segundo a
transdisciplinaridade para a busca de um novo olhar, resgatando a história de uma nova forma de aprender
para uma nova sociedade, levando-nos a questionar o modo como se processa o ensinar e o aprender. A
transdisciplinaridade é uma postura que visa a articulação para a compreensão da realidade, respeitando e
integrando as diferentes áreas do conhecimento.
A transdisciplinaridade se apresenta como uma nova forma de relação com o mundo, pois de acordo
com Antônio (2002, p. 27)
A transdisciplinaridade é um novo modo de pensar e de produzir conhecimento. Um novo modo de
conceber e de praticar o ensino e a aprendizagem. Nova concepção epistêmica e educacional. Mais ainda: é um novo modo de compreender a realidade, a natureza e o homem. Um novo olhar, uma nova
escuta.
Muitos são os elementos que destacam a transdisciplinaridade, dentre eles, podemos citar os
conhecimentos de cada indivíduo para se adequar na sociedade em que vive; o conhecimento para resolver
os problemas que encontramos no cotidiano; o conhecimento que vise na profissão tornar um cidadão
competente de acordo com o conhecimento aprendido em sala de aula.
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Desse modo, na abordagem da transdisciplinaridade e da ecoformação, podemos perceber que muitos
são os desafios que o professor irá encontrar na sua prática pedagógica, entre eles: Como nortear o processo
de aprender e ensinar nesta abordagem? O que ensinar nesta perspectiva? Que conteúdos/conceitos podem
favorecer o ensino-aprendizagem nesta abordagem?
A formação continuada de professores pode colaborar nos avanços esperados na direção de
qualificação de processos e práticas pedagógicas inovadoras. Formação continuada, segundo Benincá (2004,
p. 99) “decorre da compreensão de ser humano que embasa o pensamento pedagógico freireano, entendido
como finito e inconcluso”. Ou seja, a formação passa a ser um processo de vida, de aprender sempre, sem
fim.
A experiência apresentada na sequência, concebida como uma possibilidade de ação em rede para
promoção de pesquisa, reflexão, troca de experiências e formação inicial e continuada de docentes é reflexo
de intenções e implementações de propósitos dos membros da Red Internacional de Escuelas Creativas -
RIEC, a partir de um convênio firmado entre a Universidade Regional de Blumenau e RIEC, com ações em
nove países. Estas ações estão baseadas no intercâmbio e na colaboração de seus membros no que se refere à
pesquisa colaborativa, à formação transdisciplinar e ecoformadora, como impulsores de mudanças
sustentáveis, no que concerne aos aspectos profissionais, institucionais e sociais na sociedade do
conhecimento.
Através da RIEC, desenvolveu-se o projeto Ciclo de Formação Continuada para a Ecoformação e
Biodiversidade, do Programa Novos Talentos, coordenado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), que acontece na FURB desde julho/2013. O principal objetivo desta
pesquisa é colaborar com o processo de avaliação e reflexão do Ciclo de Formação Continuada para a
Ecoformação e Biodiversidade, que acontece com 25 professores da Rede Municipal de Ensino da cidade de
Blumenau-SC. Esta pesquisa tem como foco de estudo as contribuições da ecoformação e da
transdisciplinaridade na formação continuada dos professores participantes.
2. Procedimentos Metodológicos
Investigar o desenvolvimento de um processo pedagógico exige a utilização de uma metodologia que
seja capaz de investigar, perceber e compreender a ideia principal dessa prática educativa. Analisar a
complexidade da formação docente requer uma postura que exige que o pesquisador ultrapasse os limites de
observador e seja criativo para interagir com o outro, conhecer melhor suas expectativas e auxiliar no
andamento de uma nova proposta.
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Este trabalho se consolida como um processo de pesquisa de abordagem qualitativa, com caráter de
pesquisa-ação. Na pesquisa qualitativa, para Bogdan e Biklen (1994, p. 47) “a fonte directa de dados é o
ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”. Segundo os autores, os problemas
são estudados no ambiente e o pesquisador procura ter um contato direto com as situações que ocorrem no
contexto da pesquisa. E ainda, todo material obtido durante a pesquisa, sejam eles entrevistas, depoimentos,
desenhos, imagens, são relevantes e consequentemente utilizados para subsidiar a investigação.
É possível caracterizar esta pesquisa como pesquisa-ação por ter como ponto de partida e de chegada
a construção do conhecimento cooperativamente entre sujeitos e pesquisador, pois como define Thiollent
(2000) a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com que é realizada em estreita associação com uma
ação e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo.
Este trabalho está sendo realizado no Programa de Extensão Rede de Escolas Criativas da FURB
(RIEC FURB) que se baseia na interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, complexidade e na ecoformação
como princípios investigativos e formativos. A RIEC, entre várias ações, promove a formação continuada de
professores e está implantando o projeto “Ciclo de Formação para Ecoformação e Biodiversidade”,
vinculado ao Programa Novos Talentos, da CAPES.
O Ciclo de Formação objetiva qualificar a prática docente nos pressupostos teórico-metodológicos
sobre a temática ecoformação e biodiversidade, e disseminar nas unidades escolares esse ciclo de
qualificação. Desta forma, apresenta como questão de pesquisa: “Quais as contribuições de uma prática
pedagógica baseada na abordagem da ecoformação e transdisciplinaridade para a formação continuada de
professores da educação básica?”.
A coleta de dados foi feita por meio de registro das produções dos cursistas, concretizadas na forma
de textos, cartazes, portfólios, modelos; além do registro das observações participantes escritas em um diário
de bordo, fotos e a gravações em vídeo; dos depoimentos durante o processo de formação, grupo focal e
entrevista semiestruturada com os cursistas ao final do ciclo. Segundo Backes et al. (2011, p. 438) “o grupo
focal representa uma técnica de coleta de dados que, a partir da interação grupal, promove uma ampla
problematização sobre um tema ou foco específico”. Para Gomes (2005, p. 41) “o grupo focal é constituído
por um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema,
que é objeto de pesquisa, a partir de suas experiências pessoais”. Para Barbour (2009, p. 21) “o estímulo
ativo à interação do grupo está relacionado, obviamente, a conduzir a discussão do grupo focal e garantir
que os participantes conversem entre si em vez de somente interagir com o pesquisador ou “moderador””. O
campo da pesquisa qualitativa possibilita análise de dados que dão acesso às informações acerca de um tema
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com mais ênfase. Por isso, um de seus objetivos é identificar as atitudes, ideias e percepções dos
participantes, no caso, os professores envolvidos.
A partir do grupo focal, cuja coleta de dados baseia-se nas opiniões através de um roteiro de
discussão fundamentada nas declarações de cada professor, os grupos foram filmados e gravados com a
permissão dos participantes. Os dados foram posteriormente transcritos, permitindo a avaliação qualitativa
dos dados e o surgimento das categorias de análise da pesquisa.
2.1. O Ciclo de Formação Continuada: caraterísticas
O Ciclo de Formação para Ecoformação e Biodiversidade tem como objetivo a formação
continuada de professores na direção de qualificar a prática docente segundo os pressupostos teórico-
metodológicos da ecoformação e da biodiversidade, numa abordagem transdisciplinar.
O Ciclo foi organizado em 120 horas, distribuídas em três etapas, de 40h cada, no período de 2013 a
2015, interrelacionadas, integrando aspectos teóricos e práticos, objetivando a formação de cidadãos
ecologicamente responsáveis, com foco no desenvolvimento de atitudes como cooperação, responsabilidade,
participação, autonomia e respeito. A primeira etapa do Ciclo está acontecendo desde julho/2013, na FURB.
Por determinação da CAPES as aulas devem ser oferecidas em períodos que não coincidam com o
calendário escolar, portanto estão acontecendo em períodos de recesso escolar e um sábado por mês. Os 25
professores participantes são os disseminadores dos princípios de ecoformação e transdisciplinaridade em
suas unidades escolares. A SEMED – Secretaria Municipal de Educação da cidade de Blumenau, juntamente
com cada escola, realizou a seleção dos professores das diferentes áreas do conhecimento, com o perfil de
disseminador em sua unidade escolar dos saberes compartilhados e aprendidos no ciclo de formação
continuada.
2.2. Organização da pesquisa
A presente pesquisa está sendo desenvolvida em uma das três etapas programadas do Ciclo:
Ecoformação e Biodiversidade para a Educação Básica - princípios teórico-conceituais, num total de 40
horas de acompanhamento, observações e análises. Trata-se de uma pesquisa em andamento, pois seus
resultados estarão sendo coletados até dezembro/2013. Os dados coletados e avaliados visam contribuir para
a qualificação e melhoria do processo de formação, que se estenderá até 2015.
Na etapa 1 do Ciclo, realizada nos dias 29 e 30/julho/2013, foram realizadas várias atividades com o
objetivo de fundamentar a formação segundo os princípios teórico-metodológicos da ecoformação e
biodiversidade. Entre elas, a construção de um mapa conceitual elaborado pelos cursistas explicitando os
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conhecimentos prévios relacionados à ecoformação, biodiversidade, transdisciplinaridade, criatividade e
complexidade na sala de aula.
Assim como uma apresentação relativa aos princípios teórico-metodológicos e conceituais abordados
na formação, que posteriormente serão utilizados no processo de construção de projetos criativos
ecoformadores (TORRE e ZWIEREWICZ, 2009) e sua disseminação nas unidades escolares.
2.3. Caracterização dos participantes no Ciclo de Formação Continuada de Professores
Ter um espaço para a formação dos professores é cada vez mais importante para a educação.
Observamos que a maioria das práticas formativas tem como pauta o fornecimento de recursos teóricos e
técnicos aos professores, que, por sua vez, tem como necessidade também enfatizar uma formação que
privilegie um processo de formação em que haja uma reflexão sobre o papel e a importância do professor
para a vida escolar dos estudantes.
Zabala (2010) apresenta-se como outro importante autor para compreender as maneiras como a
formação continuada de professores vem se configurando. Ele pressupõe uma aprendizagem que promova o
ensino como uma intervenção de investigação baseada no processo de ensino que facilite as interações
educativas na sala de aula.
A partir da coleta de dados realizada com os 25 professores cursistas, constataram-se algumas
informações relevantes da pesquisa, tais como: formação acadêmica, tempo de magistério, carga horária de
trabalho semanal, nível em que atuam e a disciplina que lecionam atualmente.
Dos 25 professores, a maioria (Gráfico 1) tem como formação acadêmica Pedagogia, e entre as
demais áreas encontram-se as graduações de Ciências Biológicas, Artes Visuais, Matemática, Educação
Física, Letras e Ciências da Religião. Quanto ao tempo de magistério, o grupo tem como a maioria
professores que atuam há mais de 20 anos, e, os demais com um tempo de magistério que varia entre 5 a 15
anos. No grupo encontra-se uma professora que leciona há 18 meses.
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Fonte: Elaboração da pesquisadora.
Em relação à carga horária (Gráfico 2), a maioria tem em média 40 h/a semanais, atuando
principalmente no Ensino Fundamental, tanto em séries inicias como em séries finais.
Fonte: Elaboração da pesquisadora.
Quanto ao nível e a série no qual os professores investigados atuam, pode-se verificar que a maioria
dos mesmos atua no Ensino Fundamental das Séries Inicias (1º ao 5º ano) e, um pequeno grupo dos
professores atua tanto no Ensino Fundamental das Séries Inicias como das Séries Finais (6º ao 9º ano). A
minoria dos professores atua na Educação Infantil e/ou no Ensino Médio. Algo relevante quanto ao nível em
que atuam, é o fato de que, entre o grupo dos professores, termos três deles que atuam na área de Contadores
de Histórias, através de projetos de leitura e pesquisa desenvolvidos na biblioteca da própria unidade escolar
em que trabalham. Outro fato relevante é no grupo, termos também cinco assessoras de direção (diretoras
12%
20%
4%
4%
4% 4%
52%
Gráfico 1 - Formação dos Professores
Artes Visuais Ciências Biológicas Ciências da Religião
Educação Física Letras Matemática
Pedagogia
12% 4%
64%
20%
Gráfico 2 - Carga Horária dos Professores
20 h/a 35 h/a 40 h/a 45 h/a
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escolares) das unidades escolares onde trabalham até mesmo alguns dos professores do Ciclo de Formação,
e uma atua também como Contadora de Histórias. Isso é importante pelo fato de ser um grupo heterogêneo,
em que a diversidade de opiniões e de experiências se dá pela troca mútua de informações de forma coletiva,
ou seja, pela riqueza de conhecimentos e aprendizado que um professor pode oferecer para o outro.
Vejamos os níveis de atuação dos professores do grupo, no Gráfico 3:
Fonte: Elaboração da pesquisadora.
2.4. Interpretação dos resultados do processo de ecoformação
Inicialmente é necessário salientar que as transformações percebidas pelo/no professor, tornam-se
mais evidentes quando ele tem o desejo de transformação que pode acontecer nele mesmo. Concebemos
uma formação de professor com ações pedagógicas que não buscam apenas um aprendizado teórico, mas
que também valoriza as experiências culturais e desenvolva o poder de decisão por escolhas saudáveis. Pois,
de acordo com Moraes (2008, p. 212), necessitamos de “um professor capaz de tomar decisões adequadas,
oportunas e criativas, que saiba pesquisar e encontrar, em sua prática, as soluções para os vários problemas
emergentes”. Com esse pressuposto, abrimos novos horizontes que nos desafiam e nos estimulam a
continuar pela busca incessante de um professor atuante. Transformar-se, nesta perspectiva, é estar
caminhando na direção de uma abordagem epistemológica que assuma como referência a construção de um
professor sensível e investigador, para que a sua atuação seja reflexiva e efetiva na sociedade.
8%
31%
11% 15%
4%
19%
12%
Gráfico 3 - Nível/Função de atuação dos Professores
Educação InfantilEnsino Fundamental - Séries IniciaisEnsino Fundamental - Séries FinaisEnsino Fundamental - Séries Inicias e FinaisEnsino Fundamental - Séries Finais e Ensino MédioAssessoras de DireçãoContadores de História
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A partir destes pressupostos, descrevemos no texto a seguir as atividades de cada encontro, bem como
os objetivos que buscamos alcançar ao longo do processo de formação continuada.
O conjunto de atividades apresentadas a seguir foram planejadas para serem desenvolvidas na Etapa 1
do Ciclo de formação (Ecoformação e Biodiversidade para a Educação Básica - princípios teórico-
conceituais) de 40 horas, no período de julho a novembro de 2013.
Investigar a evolução de conceitos é uma das maneiras de verificar o processo de aprendizagem e
construção de conceitos. Na atividade que realizamos no 1º encontro, buscou-se diagnosticar as concepções
dos professores sobre Formação docente e Prática Pedagógica, a partir do questionário descrito abaixo:
Questões da pesquisa Tema Objetivo
1. Como você define um professor criativo? Criatividade Investigar as concepções de criatividade dos
cursistas
2. O que você espera de contribuições desta
formação para a sua prática pedagógica?
Formação Continuada Diagnosticar as expectativas dos cursistas em
relação ao Ciclo de formação Continuada.
3. Pensar a formação implica pensar também na
aprendizagem docente. Que relação existe entre a
sua experiência enquanto cursista e sua prática
pedagógica?
Contribuições da
formação na prática
pedagógica
Investigar as contribuições e relações entre a
formação e a prática pedagógica.
Quadro 1: Questionário para professores do Ciclo de Formação Continuada para a Ecoformação e Biodiversidade .
Caracterizando o objetivo desta atividade, o estudo é demonstrar as dimensões e categorias de análise
discutidas e a perspectiva de estudo pela visão de cada professor a partir do quadro abaixo. Com esta
atividade, na sequência, descrevemos os depoimentos dos professores, em que se utilizou o símbolo P para
professor, enumerando-os de 1 a 25. O processo de análise das descrições ocorreu pela interpretação de
forma individual de cada professor para a descrição de acordo com os teóricos da decorrente pesquisa e das
autoras.
Questão da pesquisa
Descrições dos professores
Categorias
identificadas
1. Como você define um
professor criativo?
P2 – É aquele que sabe inovar suas aulas;
que utiliza de novas estratégias para ensinar.
P4 – O professor criativo é aquele que tem
sensibilidade para conduzir a aula, de
acordo com as necessidades emergentes do
Inovação e
sensibilidade na
formação de cidadãos
participativos.
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dia a dia. Não fica preso a conteúdos, mas é
capaz de parar, ouvir, redirecionar, de acordo
om as prioridades.
P9 – Um professor criativo está ligado às
transformações do mundo e trazendo estas
questões para a escola, com a intenção de
formar cidadãos participativos.
2. O que você espera de
contribuições desta
formação para a sua prática
pedagógica?
P4 – Visualizar novas possibilidades de
“casamento” entre as diversas áreas do saber.
Arte + ecologia + música + matemática + ... =
conhecimento.
P5 – Eu espero que nos encontros possamos
fazer as devidas trocas de conheciemnto, que
as informações não aconteçam num único
sentido, mas que possamos fazer redes e
dessa forma fortalecermos “nossa” prática
pedagógica.
P21 – Todo conhecimento, práticas, meios de
formas para desenvolver um bom trabalho
na escola e também para a minha vida.
Novas possibilidades
para fortalecer a
prática pedagógica.
3. Pensar a formação implica
pensar também na
aprendizagem docente. Que
relação existe entre a sua
experiência enquanto
cursista e sua prática
pedagógica?
P2 – Pensar em aprendizagem sempre nos
faz acreditar em mudanças de atitudes e
evolução. [...]. Enquanto cursista, estamos no
processo de trocas e visões de mudanças apra
a nossa prática no cotidiano escolar.
P21 – Há uma relação muito íntima entre
estes dois tópicos, pois tanto como cursista
ou professora, o fio que conduz é a
aprendizagem e a forma de tornar os
conhecimentos verdadeiramente
significativos. [...].
P23 – Minha prática pedagógica bem como o
meu eu estão interligados. No momento em
que interiorizo o saber ele reflete nas minhas
Mudanças de atitude
e aberto ao novo.
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ações, no meu dia a dia. [...]. No momento
em que estamos abertos ao novo a mudança
reflete no ambiente em que estramos
inseridos.
Quadro 2: Diagnóstico das concepções dos professores sobre Formação docente e prática pedagógica
Na primeira questão da pesquisa, salientamos o que cada professor definiria como professor criativo.
Segundo Torre (2012, p. 95) a criatividade “tiene un sentido personal y vital, de autorrealización, y en ese
sentido decimos que ayuda a vivir”. Ou seja, para ser um professor criativo, é preciso aproximar o viver da
palavra falada. A criatividade se completa na comunicação. Uma escola criativa implica em professores
criativos que começam pela busca da formação continuada. Percebemos de forma evidente na fala do P4,
que comenta: “O professor criativo é aquele que tem sensibilidade para conduzir a aula, de acordo com as
necessidades emergentes do dia a dia. Não fica preso a conteúdos, mas é capaz de parar, ouvir,
redirecionar, de acordo om as prioridades”. Podemos analisar como categoria descrita a Inovação e
sensibilidade na formação de cidadãos participativos. Um professor criativo, na fala inclusive dos demais
professores, é quando o professor se inova frente a toda a diversidade que está ao seu entorno. Afinal, a
profissão professor é dinâmica, e a busca da transformação é contínua. Assim, definir-se ou buscar ser
criativo é um desafio. Para os professores em questão, um professor criativo não encontra obstáculos para
transformar seu espaço em ensino e aprendizagem. Transmitir conhecimentos é ser um mediador que busca
a criatividade constantemente.
Na segunda questão da pesquisa, perguntou-se aos professores o que ele espera de contribuições
desta formação para a sua prática pedagógica. Entende-se que o conhecimento é uma busca constante de
todo educador. Ele é construído ao longo de um processo, por isso, não é dado como acabado. Aprofundar-se
é essencial para que a prática pedagógica tenha sentido para os estudantes. De acordo com Costa (2012) a
formação continuada é uma necessidade para potencializar e refletir a convivência na prática educativa. Para
a autora, “a vida do professor não pode ser separada de sua prática profissional, é fundamental analisar a
prática docente não somente a partir do que ele faz na sala de aula, mas a partir de suas percepções,
perspectivas e sentidos como pessoa e profissional [...]” (COSTA, 2012, p. 135). As práticas de formação
direcionam-se a um processo no qual os professores exercem o papel de atores. Assume-se a necessidade de
preparar os professores para compreender as necessidades de uma educação que busque a mudança para um
processo formativo. Dessa forma, (MORAES, 2008; TARDIF, 2002; ZABALA, 2010) investigam a
formação continuada de professores como um processo de reflexão crítica para compreender subsídios que a
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envolve. Os professores, em sua prática pedagógica, buscam ampliar os horizontes, como podemos analisar
na fala do P5: “Eu espero que nos encontros possamos fazer as devidas trocas de conheciemnto, que as
informações não aconteçam num único sentido, mas que possamos fazer redes e dessa forma fortalecermos
“nossa” prática pedagógica”. Aqui, a categoria descrita requer Novas possibilidades para fortalecer a
prática pedagógica. O professor sabe e precisa tomar consciência de que o processo de formação para
contribuir na prática pedagógica é ao longo da vida profissional, somente dessa forma, haverá mudanças para
enriquecer a sua prática enquanto professor, ou seja, pela busca de um professor criativo. De acordo com as
descrições dos professores, muitas possiblidades e novos desafios surgem, e ter a oportunidade de uma
formação contínua é estar compartilhando os conhecimentos e aprendizados, contribuindo significativamente
para a melhoria na qualidade da educação.
Já na terceira questão da pesquisa, os professores relacionaram a experiência enquanto cursista e a
sua prática pedagógica, pensando na formação como aprendizagem docente. É importante avaliar e
investigar as novas concepções do processo inicial de um curso de formação para professores. A formação
do professor, nesta perspectiva tende a se organizar em torno dos conteúdos disciplinares e do desejo de
superar a relação mecânica entre o conhecimento do cotidiano e do conhecimento científico e a própria
prática de sala de aula. Desse modo, busca-se desenvolver uma análise que relacione um repensar de uma
formação a partir da ecoformação para que o conhecimento não seja algo simplesmente de transmissão, mas
sim de construção e de transformação (TORRE, 2008; MORAES, 2008). Essa questão da pesquisa teve
como fala evidente o P21, que comenta: “Há uma relação muito íntima entre estes dois tópicos, pois tanto
como cursista ou professora, o fio que conduz é a aprendizagem e a forma de tornar os conhecimentos
verdadeiramente significativos. [...]”. Como categoria salientamos as Mudanças de atitude e aberto ao
novo. Ou seja, nas falas deste professor e assim como dos demais, o olhar sobre a educação tem como
exigência uma formação mais sólida e representada por profissionais que realmente tornem o conhecimento
do estudante um conhecimento para a vida, com um olhar crítico sobre a realidade. Conceber o papel social
da escola ao considerar o contexto cultural e histórico dos estudantes é assumir a função de professor com
mudanças de atitude e estar aberto ao novo.
Diante dessas análises percebe-se que a criatividade, inovação e a busca pela transformação são
depoimentos evidentes em muitos dos professores pesquisados. A função de transformar e construir o
conhecimento é de formar para a cidadania, formar cidadãos críticos de seu papel na sociedade. Para Torre
(2008, p. 129) “a atitude transdisciplinar busca a transformação do ser humano em sua totalidade, ao se
relacionar com os outros e com o “outro””.
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Outra atividade aplicada no 2º encontro teve como objetivo investigar a autopercepção de cada
professor como docente criativo, proposta pelo VADECRIE, elaborado pela RIEC. O VADECRIE –
Instrumento para valorar el desarrolho creativo de las Instituciones Educativas, é um instrumento que tem
por objetivo orientar e apoiar as escolas e instituições educativas que desejam conhecer o grau de
desenvolvimento criativo dos docentes. Os indicadores estão organizados em torno de parâmetros e
categorias constituídas de uma instituição educativa. Os indicadores são os seguintes: (1) Líder estimulador e
criativo; (2) Professor criativo; (3) Cultura inovadora; (4) Criatividade como um valor; (5) Espírito
empreendedor; (6) Visão transdisciplinar e transformadora; (7) Currículo polivalente; (8) Metodologia
inovadora; (9) Evolução formadora e transformadora; (10) valores humanos, sociais e ambientais.
Para essa pesquisa, adotamos o indicador que avalia e analisa o Professor criativo (2). Este parâmetro
tem como potencial desenvolver a consciência criativa centrada nas pessoas. Segundo Torre (2012, p. 115)
“saber y saber hacer se imbrican en ser y saber estar. Son los cuatro pilares del docente creativo y
transdisciplinar”. Priorizar o conhecimento pela crítica, pela capacidade de inovar, de ajudar e outras tantas
estratégias pedagógicas transmitem valores e cativam o estudante para que o aprendizado seja mais
construtivo.
A atividade proposta que verifica e analisa o Professor criativo pretende facilitar a tomada de
consciência e a autoavaliação da criatividade docente (Quadro 3). Para tanto, solicitou-se que o professor
registrasse a percepção sobre sua própria atuação e suas crenças por meio da seguinte escala:
Habitualmente (A)
Frequentemente (B)
Ocasionalmente (C)
Nunca ou quase nunca (D)
Quadro 3: Escala de percepção.
1. Convicções. Acredito no poder de transformar a educação e em seu papel como formador de pessoas. Tento
desenvolver capacidades e atitudes, acreditando no que faço para isso.
2. Reconhecimento. Utilizo o reconhecimento como estímulo para a autoaprendizagem dos estudantes.
Reconheço o seu potencial, acreditando neles e estimulando-os. Procuro saber o que pensam, que sentem, suas
preocupações, gostos, aspirações e valores.
3. Entusiasmo. Tenho capacidade de dialogar e entusiasmar os estudantes, implicando-os nas atividades. Vivo
o ensino com entusiasmo e contagio os que se encontram em minha volta. Consigo entusiasmar os estudantes
em projetos que vão mais adiante das atividades da sala de aula.
4. Amplitude da consciência. Sou consciente de que meu papel como educador vai além do currículo. Essa
visão ou amplitude a transmito, dando sentido ao que ocorre na realidade e a conecto com a disciplina
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Quadro 4: Questionário de autopercepção como professor criativo - (VADECRIE) - Saturnino de la Torre (2012).
Foram considerados nesta atividade os 10 indicadores do professor criativo. Para termos uma análise
comparativa a partir da autopercepção da criatividade dos cursistas e possíveis contribuições desta formação
a sua criatividade, a mesma será aplicada também ao final do Ciclo de Formação Continuada para a
Ecoformação e Biodiversidade. Portanto, nesta etapa da pesquisa, apresentamos os resultados iniciais. As
informações foram coletadas no primeiro encontro do Ciclo de Formação, após os professores conhecerem
quais os objetivos, as propostas e as atividades a serem realizadas durante todo o processo de formação
continuada.
De acordo com a escala de percepção (Gráfico 4) obtivemos os seguintes resultados da primeira
etapa:
lecionada. Amplio a autoconsciência, a consciência com os outros, com a natureza, com o planetário e
transcendente. Considero a diversidade uma fonte de riqueza.
5. Transformação. Acredito que todo ato criativo é transformador e que a educação é transformadora. Conecto
facilmente o conhecido com o desconhecido. Transcendo o cotidiano, reflito e tiro conclusões acerca do que
passa. Transformo os problemas em oportunidades e busco sempre melhorar.
6. Impacto. Utilizo habitualmente o impacto, a surpresa, a engenharia, as perguntas estimulantes que
despertam curiosidade e o interesse dos estudantes. Sei comunicar e consigo que o estudante tenha a impressão
que o tempo passa rapidamente. Deixo marca nos meus alunos.
7. Vitalismo e resiliência. Conecto o ensino com a vida, a prática, os problemas, a realidade. Uso exemplos da
vida e, por isso, os estudantes o percebem como algo útil. Transmito vitalidade e otimismo e se algo não sai
bem, busco o seu lado positivo. Sou resiliente à adversidade e tento transmitir essa característica aos demais
como um valor.
8. Originalidade. Considero-me uma pessoa original e criativa. Busco e valorizo o novo, o diferente, o
engenhoso, o divergente. Invento, construo, indago com atitude inovadora. Promovo a aprendizagem
autônoma, significativa, por descoberta.
9. Sentipensamento. Nas minhas aulas têm a mesma importância os conhecimentos, as emoções, a prática.
Promovo a aprendizagem integrada com os sentidos, hemisférios e diferentes linguagens. Faço pensar, sentir,
atuar e transcender em busca de uma formação mais integral.
10. Valores. Nas minhas aulas atribuo importância às crenças, atitudes e valores. Desperto a consciência dos
valores humanos, sociais e ambientais, em particular a colaboração, respeito, esforço, amor-amizade,
tolerância, igualdade, valores éticos, integração, diálogo, autonomia, diversidade, entre outros.
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Fonte: Elaboração da pesquisadora.
Os resultados indicam que os professores, no geral, se percebem habitualmente (A) ou
frequentemente (B) tendo ações que correspondem a ações indicadoras de Professor criativo. Para Torre
(2012) um bom professor é flexível e se adapta com as mais variadas estratégias para cativar o estudante,
fazendo com que o mesmo aprenda em uma aula significativa. A caracterização de um professor criativo
parte de como ele age na sala de aula. A partir da compreensão da realidade dos estudantes, da escola em que
atua e da comunidade escolar, o professor se depara com as necessidades desse contexto, e, dessa maneira,
surgem as ideias de como transformar suas aulas.
Torre (2012, p. 103) acrescenta que “enseñar no es trasmitir un contenido aprendido sino ayudar a
descubrir y encontrar nuevo sentido a cuanto teje la mente o nos muestran los sentidos”. Ou seja, ser um
professor criativo exige também a sensibilidade para verificar o que realmente faz sentido aos seus
estudantes. O trabalho de um professor é desafiador, e isso é um dos motivos para que a criatividade do
professor qualifique o processo de ensino e de aprendizagem. A importância de um professor desenvolver sua
criatividade, construindo um ambiente escolar favorável ao processo de ensino com seus estudantes, é
consequentemente desenvolver o potencial criativo de seus estudantes.
Além desse instrumento de coleta de dados, coletaram-se depoimentos dos professores a respeito do
seu conceito de Professor criativo. Os depoimentos apontam um professor criativo quando ele percebe que
sua aula fez o estudante compreender o que foi proposto. Além disso, apontam que o professor criativo
prepara-se com interesse, entusiasmo, consciência e originalidade, e desperta a vontade de descobrir e de
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
1. Convicções
2. Reconhecimento
3. Entusiasmo
4. Amplitude da consciência
5. Transformação
6. Impacto
7. Vitalismo e resiliência
8. Originalidade
9. Sentipensamento
10. Valores
Gráfico 4 - Questionário de Autopercepção como Professor Criativo - (VADECRIE)
C B A
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aprender o novo em seus estudantes. A aula preparada por um professor criativo tem a motivação do
estudante como um de seus objetivos alcançados, segundo os depoimentos dos professores pesquisados.
Dessa forma, verificaremos os depoimentos que correspondem aos trechos que foram descritos no
próprio questionário de autopercepção. Assim, utilizaremos o símbolo P para professor, enumerando-os de 1
a 25, para identificar seus depoimentos abaixo.
P2 – Procuro dentro das minhas aulas, valorizar o conhecimento que o aluno já possui e o estimulo ao
compartilhamento de ideias e atitudes. Procuro passar valores mais humanitários, como solidariedade
e companheirismo, da mesma forma como respeto os valores individuais. Transmito palavras de
incentivo e positivas que devem a estima e promovem o respeito pelas diversas crenças.
P4 – [...] Sei que às vezes o coroo físico reluta em seguir minha mente, porém, posso afirmar que,
faltando apenas cinco anos para minha aposentadoria “formal” confesso que ainda tenho o brilho nos
olhos de quem gosta do que faz e a presença de crianças é meu alimento diário.
P5 – Acredito que estes itens alterem-se intermitentemente, sempre buscando um equilíbrio interno
(pessoal) ao ambiente/situação em que me encontro. Estamos em movimento, vivos, portanto, temos
como característica evoluirmos!
P9 – Realmente, preciso utilizar mais o fator surpresa, o desafio, assim como deixar fluir mais a
emoção nas aulas. Trabalho muito os valores, a diversidade e, principalmente, a tolerância e o respeito
para com os demais. Também reconheço quando o aluno é aplicado e estimulo-o, aproveitando as
preocupações e conhecimentos para futuras ponderações.
P21 – Sobre o item 8 - gosto de buscar coisas originais e criativas, valorizo o novo, tento inventar,
construir algo com os alunos, mas às vezes a falta de tempo e a falta de materiais e de apoio nas
escolas é muito deficiente.
P23 – Acredito que dificuldades e desafios nos fazem crescer, pois nos obrigam a buscar estratégias,
caminhos para resolvê-los. Sempre temos que melhorar, afinal, as situações vivenciadas e as pessoas
envolvidas são sempre diferentes.
É possível verificar a relação entre os depoimentos acima e os parâmetros dos indicadores do
VADECRIE (TORRE, 2012) que a contribuição para criar um clima de troca, de transformação, de inovação
e criatividade é um dos fundamentais e relevantes objetivos das escolas criativas. Ser um professor aberto e
em busca da transformação pode contribuir para práticas pedagógicas qualificadas e transformadoras.
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Ainda pelas descrições dos professores, percebe-se que os mesmos procuram usar as vivências de
seus estudantes e da realidade de suas escolas. Isso evidencia um professor criativo, dando identidade e
personalidade às turmas, ao valorizar os estudantes no individual e no coletivo. Também, em seus
depoimentos, percebeu-se que os professores reconhecem que se o estudante for motivado a pensar e a ser
crítico, ele pode abrir-se a novos conhecimentos com muito mais facilidade, desenvolvendo assim, valores
pessoais e sociais. O indicador da transformação e da resiliência mostram que o professor que busca ser
criativo, também possibilita uma capacidade maior de trabalhar em grupo, de fazer inovações, de buscar
novos caminhos para antigos problemas.
Os parâmetros convicções, amplitude da consciência e valores foram descritos como presentes
habitualmente (A) pela maioria dos professores, ou seja, é preciso adaptar-se e transformar-se de forma
construtiva de acordo com a realidade presente para poder ser criativo e ampliar as possibilidades de nossos
estudantes. Pois, para Torre (2012, p. 92) “no hay sociedad sin individuos ni personas sin sociedad. Lo social
carece de sentido sin la estructura mental”.
Tardif (2002, p. 125) enfatiza que “ensinar é perseguir fins, finalidades.” Ou seja, na medida em que
temos algumas compreensões do verdadeiro papel do professor, da sala de aula, da escola e da comunidade,
teremos uma educação baseada em princípios de transformação. Pois, como cita Nóvoa (2009, p. 17) “não
haverá nenhuma mudança significativa se a “comunidade dos formadores de professores” e a “comunidade
dos professores” não se tornarem mais permeáveis e imbricadas”.
3. Justificativa do eixo escolhido
A construção de conhecimentos e de estratégias inovadoras para lidar com os desafios advindos da
sociedade do século XXI é objetivo da ecoformação, que se utiliza de uma visão transdisciplinar, ou seja,
dinâmica e interativa, para abranger o tema da sustentabilidade.
A atitude transdisciplinar busca a transformação do ser humano na sua totalidade e adota como ponto
de referência os valores humanos, o desenvolvimento da consciência, da criatividade, a defesa do meio
natural, a solidariedade e o desenvolvimento sustentável e a convivência em harmonia (D’AMBROSIO,
2002; MORAES e TORRE, 2004; MORAES, 2008; SILVA, 2004; TORRE, 2011; TORRE, PUJOL e
SILVA, 2013).
A mudança na educação é relevante quando ela começa pela busca de uma formação continuada, e,
dos professores. Estar numa plena busca de formação é preparar-se para as mudanças, sejam elas referentes
ao conhecimento ou pelas atitudes. Carvalho e Gil-Pérez (2001) reconhecem que o professor necessita de
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uma formação que (re)construa os conhecimentos como uma necessidade de compreender a sua tarefa
enquanto educador. Dessa forma, apresentar uma reflexão que contribua para a formação continuada de
professores baseada na ecoformação e na transdisciplinaridade é de extrema importância para o processo de
ensino e de aprendizagem.
Em busca de um novo olhar para a educação é que propomos alternativas diferenciadas, com o
objetivo de auxiliar no cotidiano dos professores e, consequentemente, dos estudantes. Para tanto, é preciso
ir além para uma educação transformadora. A utilização de disciplinas fragmentadas torna difícil associar a
teoria à prática. Por isso, há a necessidade de uma prática transdisciplinar, de uma caminhada entre as
disciplinas, que busca ir além, para trabalhar os diferentes níveis de realidade.
A questão educacional é hoje, inquestionavelmente, um dos temas que mais se tem discutido,
levantando profundos debates na busca por um ensino transformador, capaz de tornar os estudantes cidadãos
de pleno conhecimento científico e consciente de suas atitudes para com o meio ambiente. Por isso, nesta
pesquisa, nosso foco é uma abordagem transdisciplinar, que busca os limites entre as diferentes áreas do
conhecimento, ultrapassando os limites da informação e das possibilidades a serem exploradas.
4. Considerações Finais
As considerações da pesquisa não são definitivas, pois a pesquisa está em andamento. Então,
diversas possibilidades de ações, análises e interpretações ainda serão realizadas, onde certamente, haverá
novas reflexões dos caminhos trilhados nesta pesquisa.
Os resultados das ações do Ciclo de formação, embora iniciais, apontam que estamos colaborando
institucionalmente para a formação continuada de professores numa abordagem da ecoformação,
criatividade e transdisciplinaridade. Isto, por sua vez pode contribuir para a implementação de práticas
pedagógicas inovadoras e criativas, focadas na sustentabilidade, na sociedade do conhecimento.
Diante disso, compreendemos que é fundamental pensar alternativas que busquem a formação
continuada de professores articulada no âmbito do trabalho que o professor tem com a sua escola. É
necessário que o professor vivencie a teoria com a prática nos encontros que ainda terão continuidade no
Ciclo de Formação, e, que estes sejam subsidiados por uma metodologia crítica, de modo que priorize o
aprendizado do estudante.
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