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31 de julho 2015
Índice
Sumário Índice ....................................................................................................................................................................... 1
Diálogo inviável ......................................................................................................................................................... 4
Há uma diferença tão abissal entre o que os ex-presidentes FHC e Lula pensam hoje para o País que uma conversa
entre os dois tornou-se impossível ........................................................................................................................ 4
A turma de Dilma no eletrolão .................................................................................................................................. 9
Investigação do esquema de propinas chega às elétricas e se aproxima personagens muito próximos da
presidente, como o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice Guerra e o diretor da Eletrobras, Valter
Cardeal .................................................................................................................................................................. 9
O almirante põe a Marinha na Lava Jato .................................................................................................................. 12
Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon Pinheiro, preso na última
semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a força naval ao epicentro do Petrolão.................. 12
Os fantasmas de agosto .......................................................................................................................................... 14
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Mês trágico para a política brasileira pode selar o destino da presidente Dilma, que enfrentará a abertura de CPIs
no Congresso, o julgamento de suas contas no TCU e uma manifestação recorde em favor do impeachment ..... 14
O apagão das pesquisas científicas .......................................................................................................................... 16
Governo corta 75% das verbas para a pós-graduação, ameaça o trabalho de pesquisadores e coloca em risco a
evolução acadêmica do País ................................................................................................................................ 16
O matador americano ............................................................................................................................................. 18
Ao executar o leão símbolo nacional do Zimbábue após pagar US$ 55 mil, dentista dos EUA se torna o inimigo
público número um ............................................................................................................................................. 18
Uma medida que para São Paulo ............................................................................................................................. 20
Por que a polêmica redução das velocidades nas marginais não irá melhorar o trânsito nem reduzir os acidentes
na maior cidade do país. Apenas atrapalhará ainda mais a vida do paulistano ..................................................... 20
A degradação de Roma............................................................................................................................................ 23
Uma das cidades mais visitadas do mundo sofre com a decadência dos serviços públicos, escândalos de corrupção
e até uma infestação de ratos na lendária Fontana di Trevi ................................................................................. 23
Sorte nos negócios e no amor ................................................................................................................................. 25
O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais focado do que nunca. É que
ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária ............................................................................ 25
Olimpíada 'tipo' Lego ............................................................................................................................................... 25
O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da Olimpíada sigam o modelo de
"Arquitetura Nômade", aplicado no Rio, palco do evento no ano que vem .......................................................... 25
arem as máquinas ................................................................................................................................................... 26
Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de Cambridge, Kate
Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke .... 26
POW! BANG! SOC!................................................................................................................................................... 26
As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe "Pitbull" Correia e a americana Ronda Rousey se enfrentam
também fora do octógono ................................................................................................................................... 26
"A paisagem do Brasil é essa" .................................................................................................................................. 27
A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: "Para mim, Dona Ivone é como Nelson Cavaquinho, como Cartola
............................................................................................................................................................................ 27
Meditação para aplacar o vício do fumo .................................................................................................................. 27
Pesquisas - entre elas uma brasileira - comprovam que a terapia é capaz de fortalecer o autocontrole e impedir a
volta da dependência .......................................................................................................................................... 28
A vacina que o mundo esperava .............................................................................................................................. 30
O anúncio do primeiro imunizante 100% eficaz contra o Ebola renova a esperança de que não haja mais
epidemias ............................................................................................................................................................ 30
O risco chinês .......................................................................................................................................................... 31
Tombo na bolsa de valores de Xangai acende o alerta para a desaceleração da maior economia do mundo ........ 31
Crianças e adolescentes viajando sozinhos .............................................................................................................. 34
Eles podem, sim, voar desacompanhados. Mas os pais precisam ficar atentos à documentação necessária e aos
serviços de acompanhamento das companhias aéreas para evitar frustrações na hora do embarque.................. 34
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Obama cutuca a África ............................................................................................................................................ 35
Em viagem de cinco dias ao continente, o presidente americano critica a corrupção, a falta de democracia e o
tratamento dado às mulheres ............................................................................................................................. 35
Arte nos celulares .................................................................................................................................................... 36
Museus dos EUA se valem de aplicativos e memes para despertar o interesse dos jovens pelos mestres da pintura
............................................................................................................................................................................ 36
Os pais da Guerra Fria ............................................................................................................................................. 37
Livro de historiador americano analisa os seis meses de 1945 que redesenharam a geopolítica mundial e
conduziram Estados Unidos e União Soviética a protagonizar um tenso e longo conflito ..................................... 37
Nas letras da fé ....................................................................................................................................................... 39
Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a opção pelos mais
pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a espiritualidade como eixo em ambos .......... 39
Atormentado garoto da praia .................................................................................................................................. 41
Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme "Love & Mercy" conta a turbulenta história de Brian Wilson,
líder do grupo californiano Beach Boys ................................................................................................................ 41
Meu nome é Cait ..................................................................................................................................................... 42
Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes chamada de Bruce,
estreia "I am Cait", série de oito episódios no canal E! que acompanha os passos da sua transformação, no dia 2
de agosto ............................................................................................................................................................ 42
Batuque pernambucano .......................................................................................................................................... 42
"De Baile Solto", lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e vem para torcer a língua
de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma criatividade ................................................................. 42
Ela estará entre nós ................................................................................................................................................. 43
Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua carreira, "Little French
Songs", em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$ 480 . 43
Leonardo/Chagall/Cartas ......................................................................................................................................... 44
Confira os destaques da semana ......................................................................................................................... 44
Gênios da lâmpada .................................................................................................................................................. 45
Exposição faz um panorama da arte contemporânea mundial a partir de um passeio pela história da ciência nos
últimos 150 anos ................................................................................................................................................. 45
Novos navios negreiros ........................................................................................................................................... 47
Africa Africans/ Museu Afro Brasil, SP/ até 30/8 .................................................................................................. 47
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Diálogo inviável Há uma diferença tão abissal entre o que os ex-presidentes FHC e Lula pensam hoje para o
País que uma conversa entre os dois tornou-se impossível Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br)
No final da década de 70, FHC e Lula eram tão afinados que pareciam
tocar de ouvido. Mas a radicalização do comportamento do petista, nos
últimos tempos, aprofundou as divergências entre eles tornando-as
inconciliáveis
Forjados no mesmo berço político, a esquerda paulista, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz
Inácio Lula da Silva são uma espécie de irmãos Karamázov da política brasileira. Como os personagens do
romance de Dostoiévski, FHC e Lula reuniram predicados e exibiram visões de mundo que os aproximaram
no passado. Em 1978, primeiro ano das greves do ABC, Lula chegou a participar da campanha de FHC ao
Senado. O então líder sindical foi quem apresentou o acadêmico às portas de fábrica. Juntos, panfletaram
pelas ruas de São Paulo. Embora estivessem unidos no começo de suas vidas públicas, os dois, como os
irmãos Karamázov, nunca mais convergiram na forma de pensar política. Há pelo menos duas décadas, FHC e
Lula trilham caminhos opostos e defendem idéias e projetos completamente distintos para o País. Nos últimos
tempos, distanciaram-se de tal maneira que inviabilizou qualquer diálogo entre os dois sobre o futuro do
Brasil, como o imaginado e proposto há duas semanas por Lula.
Os reais propósitos do petista, ao planejar o encontro, ilustram bem o abismo existente hoje entre os dois
principais líderes do País. Atualmente, enquanto Fernando Henrique apresenta alternativas para livrar o Brasil
da crise política e econômica e demonstra preocupação com a manutenção do equilíbrio entre os poderes e
com a saúde das instituições, Lula manda às favas as boas práticas republicanas. O petista articula nos
bastidores toda a sorte de pressões sobre órgãos do Legislativo e Judiciário, como o TCU e o STF, onde o
destino da presidente Dilma Rousseff será jogado no próximo mês. No Instituto Lula, transformado em
bunker desde sua saída do poder, o ex-presidente orienta correligionários a trabalhar no Parlamento contra a
rejeição das contas de 2014 do governo, caso o TCU as reprove e o assunto ganhe o rumo do Congresso, foro
capaz de propor o impeachment de Dilma. A reunião com FHC faz parte deste contexto. Hoje, o pretenso
diálogo buscado por ele com a oposição tem como único e real objetivo a tentativa de salvar a pele de Dilma,
às voltas com a ameaça de afastamento, e a de si próprio. Diante de um erro tão surpreendente quanto
primário do petista, qual seja, o de apresentar uma proposta com evidentes traços oportunistas num momento
de fragilidade de uma presidente que ele próprio legou ao País, coube a FHC elevar o patamar do debate. “O
momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não
pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”, afirmou o tucano.
Curiosamente, as trajetórias de Lula e FHC contrastam na imagem apresentada e deixada por eles durante a
chegada ao Planalto e o desembarque do poder. O ex-presidente Lula saiu da Presidência muito maior do que
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entrou. Depois de vencer as desconfianças iniciais, recuperou a credibilidade do País, consolidou os pilares
macroeconômicos e aprofundou o processo de inclusão social, saindo do Planalto com uma popularidade
colossal – a maior registrada entre os presidentes no pós-redemocratização. O apoio da população à sua gestão
se traduziria nas urnas com a eleição da escolhida por ele para ser a sua sucessora, a presidente Dilma
Rousseff. Com FHC deu-se o inverso. Sociólogo respeitado e eficiente ministro da Fazenda de Itamar Franco,
o tucano elegeu-se sem necessidade de segundo turno na esteira do retumbante sucesso do Plano Real,
responsável pelo fim da inflação e estabilização da economia. O conturbado processo de aprovação da emenda
à reeleição, com fortes indícios de compra de votos, somado às controversas medidas adotadas pela área
econômica para manter a paridade entre o real e o dólar até a nova eleição foi proporcional à crise provocada
pela consequente brusca desvalorização da moeda. Resultado: em 2002, FHC deixou o País à beira de uma
crise. Portanto, menor do que entrou. Na campanha, o designado para sucedê-lo, então ministro da Saúde, José
Serra, temendo perder votos, não se constrangeu em escondê-lo do programa eleitoral na TV. O resto da
história todos sabem. Na eleição, o sucessor de FHC foi derrotado por Lula.
Em 1978, o líder sindical participou ativamente da campanha do acadêmico para
o Senado. Os dois panfletaram juntos pelas ruas de São Paulo Hoje, aos 84 anos, FHC se redime de equívocos passados. Distinguindo-se de Lula no modo de pensar e agir,
como também nos projetos desenhados para o País, o presidente de honra tucano comporta-se como estadista
que, até pouco tempo, o petista parecia ser. Mesmo sem exercer cargo público há 12 anos, Fernando Henrique
tornou-se uma das vozes mais equilibradas e lúcidas da atualidade. Desde 2007, integra a The Elders,
colegiado idealizado por Nelson Mandela e composto por figuras de renome internacional como o ex-
presidente dos EUA, Jimmy Carter, o ex-secretário da ONU, Kofi Annan e o bispo anglicano Desmond Tutu.
O grupo destina-se a promover a defesa dos direitos humanos e buscar caminhos para a paz mundial. No
Brasil, FHC ministra palestras e, em seu Instituto, comanda debates onde busca alternativas para o País e a
América Latina. Em artigo publicado no último mês, conclamou o PSDB a se aprumar à esquerda, ao
condenar a aproximação do partido com as forças conservadoras do Congresso. Ao analisar um possível
pedido de impeachment contra a presidente Dilma, ponderou. “Em sã consciência, nenhum líder político
responsável deve propor como objetivo um impeachment. Por outro lado, também serão inconseqüentes se,
diante do aumento do protesto e do aparecimento de uma base jurídica, os líderes não assumirem a
responsabilidade de encaminhá-lo”, disse em recente entrevista. A oposição, para FHC, precisar ser
propositiva e apontar direções para o Brasil. “A oposição deve apoiar medidas do ajuste fiscal que lhe
parecerem necessárias. Ao mesmo tempo construir caminhos para a política econômica e para o jogo do
poder”. Do outro lado da trincheira, Lula, vidrado no objetivo de perpetuar no poder ele e sua obra, apequena-
se a cada átimo de tempo. Na eleição do ano passado, Lula manchou sua biografia ao endossar uma campanha
de baixíssimo nível baseada em mentiras e difamações. Num dado momento da refrega política, chegou ao
ponto de subir num palanque para insinuar que o adversário de Dilma tinha o costume de bater em mulher.
Na última semana, Lula ocupou as páginas do noticiário nacional e internacional emoldurando a notícia de
que passou a ser investigado pelo Ministério Público por tráfico de influência, depois de deixar a Presidência.
“Há sempre um problema no fato de um ex-presidente usar seus contatos, seu poder, para ajudar determinados
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interesses. Isso em si já traz implicações éticas”, diz Alejandro Salas, diretor de Américas da Transparência
Internacional. A interlocutores, recentemente, o petista admitiu temer ser preso em meio às investigações da
Lava Jato. Pessoas próximas a Lula já se encontram atrás das grades. De tão surrados, seus discursos já não
emocionam como em outros tempos. Pelo contrário. São recebidos com indignação por parcela expressiva da
população, tamanha a desfaçatez com que é pronunciado. As recentes pesquisas de intenção de voto mostram
a deterioração de sua imagem pública. Antes favoritíssimo para 2018, Lula figura a dez pontos percentuais
atrás do senador tucano, Aécio Neves – algo impensável até pouco tempo atrás. Para protegê-lo, o PT
prometeu repetir o tom belicista da campanha de 2014 no retorno do recesso do Congresso esta semana.
Atribuem as investigações do MP a uma ação orquestrada para atingir Lula. Das tribunas da Câmara e Senado,
os petistas planejam atacar governadores de oposição e cobrar que a Lava Jato também aprofunde
investigações sobre a relação das empreiteiras com governos do PSDB.
O comportamento mostra como o diálogo apregoado por Lula é implausível na atual circunstância política do
País. Mesmo assim, manifestações dos ministros Jaques Wagner, da Defesa, Edinho Silva, da Comunicação
Social, e Pepe Vargas, de Direitos Humanos, transmitiram a impressão de que o Palácio do Planalto avalizava
o movimento. “Sou plenamente favorável (ao encontro) e acho que isso deveria acontecer mais no Brasil. Nos
Estados Unidos, é a coisa mais normal do mundo ex-presidentes se reunirem, inclusive, a convite do
presidente em exercício”, disse Edinho. “Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na
alma brasileira, e na política brasileira, uma dicotomia que não se conversa. Países que seguiram esse rumo
não tiveram grande destino”, fez coro Wagner. Como, na sequência, FHC colocou uma pá de cal no assunto,
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Dilma, em reunião no Planalto, classificou as articulações para o encontro com o tucano de “absurda”, numa
tentativa de demonstrar que nunca trabalhou por ele ou sequer almejou uma aproximação. A ser verídica esta
versão, trata-se de mais uma trombada entre Dilma e Lula, entre tantas colecionadas este ano.
A linha que hoje separa FHC e Lula e os acomodam em campos diametralmente opostos já foi tênue. Quando
debutaram na política, os dois pareciam tocar de ouvido, de tão afinados. Além de integrarem a mesma
campanha, no fim da década de 70, FHC e Lula dividiram mesas de bar e, entre risadas e perorações sobre o
futuro do País, até desfrutaram de um fim de semana numa casa de praia em Picinguaba, Ubatuba, litoral norte
de São Paulo, ao lado de suas respectivas mulheres. Antes de fundar o PT, em 1980, Lula discutiu com FHC a
criação de um partido socialista. A ideia não frutificou e cada um foi para um lado. Mesmo com o
recrudescimento dos discursos, e o antagonismo que marcou as disputas entre o PSDB e o PT nas últimas
quatro eleições, houve quem defendesse a união das duas legendas. Em 2005, o filósofo Renato Janine
Ribeiro, atual ministro da Educação, evocou a “grande coalizão” na Alemanha Ocidental de 1966, quando a
direita se aliou ao SPD (Partido Social-Demorata), para aventar a possibilidade de uma aliança entre PT e
PSDB – FHC e Lula. Em 2011, o embaixador Rubens Barbosa propôs a união entre tucanos e petistas durante
os cem primeiros dias de governo, para a aprovação de uma agenda mínima na qual os demais partidos
agregariam os votos para a formação de maioria qualificada de modo a aprovar reformas essenciais ao País
como a política, tributária, trabalhista e da previdência social. Mal sabia o embaixador, na ocasião, que quem
desceria ao nível mais rasteiro do debate, três anos depois, tornando inviável qualquer forma de entendimento
futuro, seria o ex-presidente petista, no vale-tudo pela reeleição de Dilma. Para o cientista político, Gaudêncio
Torquato, é por essas e outras que Lula revela incoerência ao propor um diálogo com os tucanos. “Durante
anos e anos, os petistas execraram o governo Fernando Henrique. Agora que o governo do PT se encontra
num ringue e a imagem da Dilma se deteriora cada vez mais, o Lula sugere um encontro com FHC?”,
questionou.
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A sórdida campanha de 2014 não seria o primeiro episódio em que Lula e o PT colocariam seus projetos
pessoais e de poder acima de interesses nacionais e do bom e salutar debate republicano. Em 1984, quando
percebeu que a emenda Dante de Oliveira, que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para
presidente da República no Brasil após 20 anos de regime militar, não seria aprovada no Congresso, as
principais lideranças política se aliaram em torno de Tancredo Neves, a quem coube liderar uma transição. O
PT preferiu ficar de fora.
A cena se repetiu na Constituinte de 1988, em 1993, quando os partidos se uniram em torno do vice Itamar
Franco, após o impeachment de Collor, e durante a concepção do Plano Real, quando petistas não só
opuseram resistência à nova moeda como ingressaram com ações na Justiça para inviabilizá-la. “Não é
possível que os brasileiros se deixem enganar por esse golpe que as elites aplicam na forma de um novo plano
econômico”, afirmou o ex-ministro Gilberto Carvalho na ocasião. Apostando no quanto pior melhor e
preocupado com as eleições seguintes, Lula seguiu na mesma toada. “Esse plano não tem nenhuma novidade.
Suas medidas refletem as orientações do FMI. Os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%.
Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo
com o plano, haverá condições”. A história mostrou quem estava ao lado do País e quem defendia interesses
mais mesquinhos. Não à toa, as divergências, hoje, entre FHC e Lula são inconciliáveis. Como aquelas
nutridas pelos Karamázov.
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Colaborou Ludimilla Amaral
Fotos: Frederic Jean, Adriano Machado - Ag. Istoé, Nacho Doce/REUTERS; Wellington Pedro/Imprensa MG
A turma de Dilma no eletrolão Investigação do esquema de propinas chega às elétricas e se aproxima personagens muito
próximos da presidente, como o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice
Guerra e o diretor da Eletrobras, Valter Cardeal Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Em julho de 2007, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reuniu alguns ministros num comitê que
tinha como missão fixar novas metas para o programa nuclear brasileiro. Aficionada às questões do setor
elétrico, Dilma puxou para si o papel de coordenadora do grupo. O trabalho resultou num plano que previa,
dentre tantas metas ambiciosas, a conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3, paralisadas nos anos 80.
No comando operacional da empreitada estava o presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro da
Silva, que se tornou na semana passada o principal alvo da 16ª fase da Operação Lava Jato. Othon, que estava
licenciado do cargo desde abril, quando surgiram os primeiros indícios de irregularidades, foi preso pela
Polícia Federal sob acusação de receber R$ 4,5 milhões em propinas pagas por empreiteiras integrantes do
consórcio responsável pela obra. Embora o militar tenha surgido como a face mais visível do esquema, a PF
tem elementos que podem fazer com que as investigações atinja outras personagens muito próximos da
presidente Dilma. “É possível que a gente chegue aos políticos”, disse o delegado Igor Romario de Paula.
NA ANTE-SALA DO PLANALTO
Aloizio Mercadante, Erenice Guerra e Valter Cardeal (da esq. para dir.)
deverão estar entre os investigados no Eletrolão Chegar aos políticos é quase um eufemismo. Ao mergulhar no setor elétrico, a PF vai bater na porta do
Palácio do Planalto. Não há um só projeto no setor elétrico que Dilma não tenha acompanhado de perto. Se
como presidente do Conselho da Petrobras a presidente alega que não tinha informações completas sobre o
que acontecia na estatal, dificilmente poderá dizer que desconhecia os rolos em Angra 3 ou na usina de Belo
Monte, os dois maiores investimentos do governo em geração de energia. Em ambos os casos, os
investigadores já têm indícios de envolvimento de gente de confiança da petista. Há informações, por
exemplo, de que boa parte dos contratos de equipamentos da mega hidrelétrica que está sendo construída na
bacia do rio Xingu era antes negociada num escritório de advocacia – ou lobby – abrigado num imponente
edifício de linhas modernistas e fachada de concreto na quadra 8 do Lago Sul, bairro nobre de Brasília.
O imóvel está situado a apenas uma quadra do escritório de advocacia de Erenice Guerra. E não é mero acaso.
Além da ex-ministra de Dilma, segundo investigadores, também frequenta o local o advogado Joaquim
Guilherme Pessoa e o empresário Marco Antonio Puig, ligado à empresa LWS envolvida numa investigação
de fraudes em contratos de informática nos Correios. Puig teria relação com o diretor da Eletrobras Valter
Cardeal, outro apadrinhado de Dilma.
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O consórcio construtor de Belo Monte é liderado pela Andrade Gutierrez em parceria com Odebrecht,
Camargo Correa, Queiroz Galvão e OAS, as mesmas do clube do bilhão, além de outras cinco menores. A PF
sabe que no mesmo local também eram negociados projetos para captação de investimento de fundos de
pensão e acertos para a anulação de multas fiscais no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que
já é alvo de outra operação. Erenice, dizem os investigadores, também atuou na comercialização de energia.
Ela chegou a se associar informalmente ao ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau e ao lobista
Alexandre Paes dos Santos no Instituto de Desenvolvimento de Estudos e Projetos Econômicos.
O caso da usina de Belo Monte, orçada em R$ 30 bilhões, segundo um procurador da Lava Jato, se relaciona
diretamente com o de Angra 3. A força-tarefa obteve os primeiros indícios de que o esquema do Petrolão se
alastrara para o setor elétrico quando apreendeu com o doleiro Alberto Youssef a planilha de 750 obras
federais. Mais recentemente, em delação premiada, o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini
revelou detalhes sobre o superfaturamento das obras e pagamento de R$ 20 milhões em propinas a políticos,
por meio de empresas de fachada. Avancini citou como um dos beneficiários do esquema o diretor da
Eletronorte Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci, que já é investigado em outro
procedimento da Lava Lato e foi um dos coordenadores da campanha de Dilma em 2010 – além de sministro
da Casa Civil. Adhemar era considerado intocável. Seu nome surgiu em 2009 na Operação Castelo de Areia.
Avancini também envolveu o nome de Flávio David Barra, presidente global da Andrade Gutierrez Energia,
que era seu interlocutor nas obras de Belo Monte. Barra foi preso com Othon na semana passada. A PF
cumpriu ainda 30 mandados de busca e apreensão na sede da Eletronuclear e outros imóveis residenciais e
comerciais em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri. As prisões se basearam em
movimentações bancárias de empresas envolvidas no esquema e no depoimento de Avancini, que revelou a
existência de um acerto para pagamento de propinas ao PMDB e a funcionários da Eletronuclear em relação
às obras de Angra 3. Ele contou detalhes de uma reunião feita em agosto de 2014 e apontou Flávio Barra
como “o representante da Andrade Gutierrez que discutia valores a respeito da propina de Angra 3”, segundo
o procurador Athayde Ribeiro Costa.
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As obras civis de Angra 3 começaram em 1984, mas ficaram paralisadas por 25 anos. Foram retomadas em
2009 com previsão de aportes de R$ 7 bilhões. Nessa época, o presidente da Eletronuclear – que segundo a
Lava Jato já recebia propinas – defendia a retomada do contrato com a Andrade Gutierrez, mas o projeto
antigo não considerava uma série de parâmetros de segurança adotados mundialmente após o acidente nuclear
de Three Mile Island, na Pensilvânia (EUA), em 1979. As falhas de projeto foram denunciadas por ISTOÉ e
levaram os órgãos de controle a pressionarem o governo por uma reformulação do projeto.
Em última análise, foi necessário o lançamento de uma nova licitação. A concorrência foi vista pelas
empreiteiras do clube do bilhão como uma oportunidade para acertarem um novo negócio, elevando o custo
da obra de R$ 7 bilhões para R$ 15 bilhões. Segundo o MPF, a propina alcançaria o valor de 1% dos
contratos. No despacho que determinou as prisões, o juiz Sérgio Moro ressaltou que Othon Pinheiro da Silva
era ao mesmo tempo presidente da Eletronuclear e proprietário da Aratec Consultoria e Representações,
configurando um conflito de interesses.
Outro provável foco de irregularidades na área sob controle de Othon é o projeto do submarino nuclear, o
Prosub. Coube ao presidente da Eletronuclear a elaboração do projeto de aquisição de submarinos franceses.
O pacote orçado em R$ 28 bilhões inclui a compra de quatro Scorpéne de propulsão a diesel e o
desenvolvimento conjunto com a estatal DCNS de um modelo de propulsão nuclear, que será montado num
estaleiro em Itaguaí, no Rio. A Odebrecht foi escolhida pela Marinha para construir o estaleiro, mas não
houve licitação. Esse negócio foi conduzido por outro militar, o coronel Oswaldo Oliva Neto, irmão do
ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
A investigação do MPF reúne indícios de que Oliva Neto possa ter atuado como operador de Mercadante, que
ao assumir a pasta de Ciência e Tecnologia pressionou para a realização de uma nova licitação para Angra 3.
Coronel reformado, Oliva Neto ocupou até 2007 o cargo de chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE)
da Presidência. Desde então, ele reativou a Penta Prospectiva Estratégica e passou a prestar consultoria em
todos os grandes projetos do governo do PT na área de defesa, não só na compra dos submarinos, mas dos
helicópteros franceses EC-725 e em projetos da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Em 2010, Penta se
uniu à Odebrecht Defesa e Tecnologia, criando a Copa Gestão em Defesa. Depois foi adquirida a Mectron,
que igualmente firmou sem concorrência contrato com a Amazul Tecnologias de Defesa, estatal de projetos
criada por Dilma para atuar no Prosub. A Lava Jato puxará agora o fio desse novelo que pode levar a
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identificar possível tráfico de influência de Mercadante e eventual uso da empresa de consultoria de seu irmão
para recebimento de propina.
Foto: Regina Santos/Norte Energia
O almirante põe a Marinha na Lava Jato Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon
Pinheiro, preso na última semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a
força naval ao epicentro do Petrolão Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Nova personagem da investigação da Lava Jato, a Marinha havia sido mencionada pela primeira vez no
esquema numa negociata articulada pelo doleiro Alberto Youssef com o ex-deputado petista André Vargas. O
projeto de sociedade entre a Labogen, a EMS e o Laboratório da Marinha, para a produção de um “viagra
genérico”, previa investimento total de R$ 150 milhões. Renderia a ambos dinheiro suficiente para alcançar a
“independência financeira”, conforme revelou o doleiro numa mensagem de celular ao então parlamentar.
Descoberto, o plano fez água. Na época, a força-tarefa da Lava Jato debruçava-se sobre a atuação do petista e
do doleiro sem se preocupar com os motivos que levaram a Marinha a entrar naquele barco. Meses depois, a
Polícia Federal descobriu que o irmão de Vargas era sócio oculto de uma empresa que fechou mais de R$ 87
milhões em contratos com órgãos públicos, como Serpro, Caixa e o Ministério da Saúde, a IT7 Sistemas. Ante
estas constatações, procuradores e delegados passaram a se questionar quem estaria por trás da participação
militar no Petrolão. A prisão, na terça-feira 28, do almirante Othon Pinheiro da Silva ajuda a responder essa
pergunta. Mas também fazem surgir outras questões. Por que um militar de alta patente, aposentado, com uma
longa folha de importantes serviços prestados ao País, se envolveria nessa complexa rede de corrupção
revelada pela Lava-Jato?
OUTRA VERSÃO
Fontes da Marinha dizem que os R$ 4,5 milhões em propina
para Othon Pinheiro podem ser recursos destinados a ações
secretas de inteligência naval no exterior
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Na Marinha, segundo apurou ISTOÉ, fala-se que Othon delinqüiu para conseguir a tão sonhada tecnologia de
navegação do submarino nuclear para embutir o reator brasileiro. “Para fazer uma omelete é preciso quebrar
alguns ovos”, disse à reportagem um militar próximo ao programa nuclear. Ainda corre a versão, de acordo
com fontes da Marinha, de que os R$ 4,5 milhões pagos à Aratec, empresa em nome de Othon cujo nome é
inspirado no centro de pesquisas de Aramar, não foram propina provenientes de contratos de obras da Usina
Angra 3, no Rio de Janeiro., como afirmou a Polícia Federal ao prendê-lo na última semana. Os recursos
teriam sido destinados ações secretas de inteligência naval no exterior. Basicamente, dinheiro usado para
pagar informantes.
Se isso for verdade, a questão extrapolaria o âmbito do crime de corrupção para ganhar feições de um
escândalo envolvendo a segurança nacional. Claro que isso precisa ser bem investigado, pois pode apenas
tratar-se de uma estratégia de defesa do almirante. Seria uma espécie de releitura do que ocorreu no fim da
década de 70 e início dos anos 80 com o chamado programa nuclear paralelo, que tinha como objetivo a
construção de uma bomba atômica. Othon, que concebeu o projeto das ultracentrífugas de enriquecimento de
urânio, pertencia ao seleto grupo do programa, coordenado pelo cientista Rex Nazareth, o “pai da bomba”,
que no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ocupar uma cadeira no
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Para financiar o programa nuclear paralelo, a Marinha
desviou recursos para contas bancárias secretas, as chamadas “contas Delta”, e realizou atividades de
espionagem no exterior – que incluíram EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Holanda.
Formado em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), Othon chefiou a
Coordenadoria para Projetos Especial da Marinha (Copesp) por 15 anos. Como se sabe, o Brasil não chegou a
desenvolver a “bomba”, mas conseguiu dominar o ciclo de produção do combustível atômico para uso
pacífico. No governo do ex-presidente Itamar Franco, surgiram novos indícios de problemas na administração
de verbas públicas. Não houve acusações. Em 1994, o almirante completou seu tempo de serviço militar e
entrou para a reserva. Voltou em 2005, pelas mãos de Lula, para presidir a Eletronuclear. Era intocável. Othon
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promoveu o plano de aquisição do Scorpéne, pois considerava como a última oportunidade para concluir seu
antigo projeto. A posição favorável ao submarino francês, porém, tinha forte oposição dentro da própria
Marinha. Um dos críticos, curiosamente, também foi preso anos atrás por suposto envolvimento em notório
caso de corrupção. O almirante Euclides Duncan Janot de Matos caiu na Operação Luxo da Polícia Federal,
acusado de usar sua influência para fraudar licitações na Marinha e na Petrobras, em prol do grupo Inace e
empresas coligadas. O esquema envolveria o uso de empresas laranjas sediadas nos EUA. Janot Matos chefiou
o Estado Maior da Marinha e foi cotado para comandante, mas acabou transferido para a reserva por Lula,
sendo substituído por Julio Soares de Moura Neto, que chegou ao comando em 2007 e lá ficou até 2015.
Enquanto Moura Neto e Othon preferiam a compra dos submarinos do estaleiro francês DCNS, Janot de
Matos liderava o grupo que defendia a compra de submarinos alemães. O Brasil chegou a contratar projetos
alemães, mas a experiência foi malsucedida. Se condenado, Othon pode ser julgado novamente pelo Superior
Tribunal Militar, correndo o risco de perder a patente e os benefícios salariais. Segundo o STM, Othon
responderá pelo procedimento administrativo conhecido como “Representação para declaração de indignidade
ou incompatibilidade para o oficialato”.
Colaborou Josie Jeronimo
Fotos: Fernando Frazão/Agencia Brasil; JOÃO LAET/AG. O DIA /ESTADÃO CONTEÚDO
Os fantasmas de agosto Mês trágico para a política brasileira pode selar o destino da presidente Dilma, que
enfrentará a abertura de CPIs no Congresso, o julgamento de suas contas no TCU e uma
manifestação recorde em favor do impeachment Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
No que dependesse dos políticos brasileiros, o mês de agosto poderia ser eliminado do calendário nacional.
Ao longo da história, nos 31 dias do oitavo mês do ano, o País viveu grandes infortúnios na seara política. Em
24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Sete anos e um dia
depois, foi a vez de o presidente Jânio Quadros renunciar ao cargo. Em 1976, o dia 9 de agosto ficou marcado
pelo trágico acidente de carro, na rodovia Presidente Dutra, que ceifou a vida do ex-presidente Juscelino
Kubitschek. Os desgostos de agosto não cessaram com redemocratização do País. Em 16 de agosto de 1992,
os caras-pintadas foram às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor, numa mobilização
decisiva para sua saída do poder. E, no dia 13 de agosto do ano passado, o ex-governador de Pernambuco e
então presidenciável Eduardo Campos morreu aos 49 anos, vítima de um acidente aéreo em Santos (SP).
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MÊS DO DESGOSTO
Pode estar em jogo, nas próximas semanas, o mandato de Dilma Rousseff
Este ano, o mês do mau agouro pode complicar ainda mais a situação da presidente Dilma Rousseff. Às voltas
com uma crise político-econômica interminável, Dilma enfrentará uma quadra decisiva para sua permanência
na Presidência. Na próxima semana, ela terá de encarar um Congresso conflagrado. O presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, sedento de vingança após ter sido alvejado pelas investigações da Lava Jato, marcou para 6
de agosto a instalação da CPI do BNDES e ofereceu amplo apoio à criação da CPI dos Fundos de Pensão.
Ambas as investigações tiram o sono do governo. Na volta do recesso, Cunha vai analisar, ainda, 11 pedidos
de impeachment que mandou desarquivar. Entre eles, o documento assinado por Carla Zambelli, fundadora e
Porta Voz do Movimento Nas Ruas. O pedido de afastamento redigido pelo movimento se apoiará nas
irregularidades da prestação de contas do governo, em análise no TCU. As armadilhas contra o governo
passam por uma sabotagem ao pacote de ajuste fiscal. Entre os projetos estão a correção do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) e modificações no projeto que reduz as desonerações na folha de pagamento.
Antes da segunda quinzena, o TCU vai julgar as contas do governo de 2014. O tribunal já deu todos os sinais
de que pretende rejeitar os argumentos do Planalto sobre as manobras fiscais utilizadas no exercício anterior
para maquiar o mau desempenho da economia. Na terça-feira 28, Eduardo Cunha anunciou que vai tirar da
frente a lista de projetos pendentes e votar as contas dos governos de 1992, 2002, 2006 e 2008 que ainda não
foram analisadas. O objetivo é limpar a pauta para a apreciação das contas de Dilma de 2014. Caso o TCU as
reprove, o destino é o Congresso. Para piorar o quadro para Dilma, a análise das contas públicas e a instalação
de CPIs coincidirão com a grande manifestação agendada para o dia 16 de agosto cujo mote é o impeachment
da presidente, mesma data em que estudantes foram às ruas pedir a saída de Collor em 1992. O protesto
promete ser o maior desde a reeleição da petista.
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A previsão de dias turbulentos fez Dilma mobilizar sua tropa de choque. Na segunda-feira 27, ela reuniu 12
ministros e o vice-presidente Michel Temer para discutir estratégia de diálogo direto com o Congresso. A
intenção do Planalto é evitar intermediários nas conversas com a base aliada para reduzir a influência de
Cunha enquanto o presidente da Câmara estiver em clima de guerra com o governo. “Os parlamentares são
capazes de verificar o que pode prejudicar e ajudar o País”, afirmou Michel Temer. Dentro dessa estratégia
para amansar o Congresso, Dilma liberou R$ 1 bilhão em emendas e distribuiu mais de 500 cargos nos
Estados. Na quinta-feira 30, a presidente reuniu os governadores no Planalto. Era a última cartada de Dilma na
tentativa de escapar ilesa pelas próximas semanas. Mas seus objetivos não foram alcançados. Além de não
conseguir o apoio dos chefes dos Executivos estaduais para barrar possíveis pedidos de impeachment, Dilma
conseguiu desagradá-los ainda mais ao falar o que eles não queriam ouvir. Em seu pronunciamento, disse que
a situação vivida pelo País era responsabilidade de todos. Ou seja, tentou associá-los à crise criada e agravada
pelo governo de Dilma. O único consenso do encontro foi o apoio do governadores às medidas do ajuste
fiscal, que ainda precisam passar pelo Congresso. Muito pouco para o que almejava Dilma.
Fotos: Alan Marques/Folhapress; Agência ISTOÉ; Antonio Lucio/AE
O apagão das pesquisas científicas Governo corta 75% das verbas para a pós-graduação, ameaça o trabalho de pesquisadores e
coloca em risco a evolução acadêmica do País Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
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Até 2014, o Brasil vivia um salto científico. Em 20 anos, passou do 24º para o 13º lugar entre os países com
maior número de pesquisas produzidas, tendo passado à frente de nações como Suíça, Suécia e Holanda.
Alcançou visibilidade no meio acadêmico internacional e pavimentava um futuro ainda mais animador. Um
ano depois, essa perspectiva está abalada. No âmbito do contingenciamento financeiro na pasta da educação,
universidades brasileiras têm sofrido com um corte de 75% na verba federal destinada ao custeio das
pesquisas em cursos de mestrado e doutorado, chegando ao cúmulo de os próprios pesquisadores precisarem
comprar material de laboratório, como luvas e reagentes químicos. Além disso, a diminuição do repasse
compromete outras necessidades na formação de mestres e doutores, como subsídio ao trabalho de campo e
participação em congressos e verba de convites para formação de bancas. “Os últimos anos foram de
incentivos. Mas, hoje, vivemos uma turbulência”, afirma Isac Almeida de Medeiros, presidente do Fórum de
Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (Foprop). A perspectiva é que as consequências sejam sentidas em
dois ou três anos, tempo médio de produção de uma pesquisa. “Se o corte persistir, vamos ficar para trás.”
PANE
Alan Ambrosi, doutorando em Engenharia Química: "É triste ver que a
pós-graduação brasileira tenha entrado nesse colapso" O corte no repasse atinge diretamente o Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), administrado via
universidade e subsidiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A
diminuição de 75% anunciada pela Capes em julho pegou as administrações das federais de surpresa, uma vez
que as instituições trabalham com um planejamento financeiro para o ano com base nos gastos e na previsão
de repasse do governo. Há, inclusive, casos extremos, como a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Lá, o
repasse diminuiu de R$ 4,27 milhões para R$ 1,07 milhão. Somente os gastos já empenhados somam R$ 2,02
milhões, o que deixa a instituição no vermelho. Sem encontrar outra saída, a decisão foi paralisar as pesquisas.
Em outras universidades, o dinheiro, que normalmente era enviado no mês de fevereiro ou março, nem
chegou. “Os programas que obtiveram nota 6 da Capes ainda não receberam recurso algum neste ano”, afirma
Edilson Silveira, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a contenção é tamanha que as defesas de tese e
dissertação não têm mais verba para pagar diárias de professores de fora da instituição para participação em
banca, sendo que ter pelo menos um discente externo é item obrigatório na maioria dos cursos. A solução tem
sido realizar conferências via Skype. Aluno de doutorado em engenharia química na mesma universidade,
Alan Ambrosi, 30 anos, viajou para Boston, nos Estados Unidos, para apresentar um trabalho em um
congresso. O auxílio financeiro no valor de R$ 3.822,67 havia sido aprovado para ele e outra colega, mas seria
repassado somente após a viagem. “Tivemos a infelicidade de retornar e ouvir que não havia sinais de
ressarcimento do valor aprovado. As contas de inscrição, passagens, diárias chegam e nos desdobramos para
poder pagá-las”, afirma. A bolsa para um doutorando é de R$ 2,2 mil e, para mestrando, é de R$ 1,5 mil. Mas
esses valores são destinados a gastos pessoais básicos, como moradia, alimentação e transporte. Para
Guilherme Rollim, coordenador geral da associação de pós-graduandos da UFRGS, uma vez que existe a
exigência de apresentar trabalhos em eventos para concluir a formação, o corte de verbas para viagens
comprometerá a conclusão de trabalhos, além de impedir pesquisas de campo. “Pagaremos para trabalhar.”
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Em nota, a Capes assegura o repasse de R$ 2,52 bilhões para o fomento do sistema nacional de pós-graduação
em 2015. Cerca de R$ 2 bilhões serão destinados às bolsas, que não sofrerão nenhum arrocho. Os 8% a menos
no repasse da Capes são referentes justamente ao corte nas verbas de custeio, os 75% a menos que têm tirado
o sono de mestrandos e doutorandos, segundo o Foprop. “Entendemos que o governo preferiu manter as
bolsas em detrimento do custeio da pós-graduação, mas esses gastos são imprescindíveis”, afirma Gustavo
Henrique Rigo Canevazzi, 27 anos, aluno de doutorado em ciências fisiológicas da Universidade Federal de
São Carlos (Ufscar) e diretor da Associação Nacional de Pós-Graduandos. �
Foto: Marcos Nagelstein/Ag. Istoé
O matador americano Ao executar o leão símbolo nacional do Zimbábue após pagar US$ 55 mil, dentista dos EUA
se torna o inimigo público número um Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Em uma só ação de barbárie, o americano Walter Palmer eliminou um símbolo nacional, prejudicou a ciência
e provocou uma imensa onda de indignação contra ele, que se tornou o inimigo público número um. Dentista,
Palmer teve que fechar seu consultório no Minnesota, Estados Unidos, por causa das ameaças de morte, e
poderá ser extraditado para a África. O americano matou o leão Cecil, símbolo nacional no Zimbábue, depois
de pagar US$ 55 mil (R$ 185 mil) ao fazendeiro Honest Ndlovuum para atirar no animal com uma besta
(arma com um arco de flechas acoplado), rastreá-lo por 40 horas, acertá-lo com uma pistola, remover sua pele
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e guardar a cabeça como troféu. As investigações apontam que os caçadores usaram carne fresca para atrair
Cecil para fora do perímetro do parque nacional onde vivia. O leão, de 13 anos, usava um colar com GPS
porque era parte importante de uma pesquisa científica da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Foi criada
uma petição nos EUA, onde as regras da Casa Branca determinam que os pedidos que atingem cem mil
assinaturas em menos de um mês requerem uma resposta oficial do governo. O da extradição de Palmer
contabilizou 150 mil assinaturas em apenas dois dias.
O leão Cecil deixou seis leoas viúvas e 24 filhotes. Segundo David Macdonald, diretor da Unidade de
Conservação de Vida Selvagem da Universidade de Oxford, que monitorava os movimentos do animal, na
estrutura social dos leões a morte de um macho desencadeia uma guerra entre os outros bichos que querem
tomar o seu lugar e isso pode levar à extinção dos seus filhotes. Países da África e dos Estados Unidos
regulamentaram a caça a partir de um código de ética, que delimita as áreas, os períodos e os animais que
podem ser abatidos. O americano não cumpriu nenhum requisito. Em sua defesa, disse: “Não fazia ideia de
que o leão que abati era um favorito local e parte de um estudo. No meu conhecimento, tudo sobre essa
viagem era legal.” Diante do fato irreversível, a questão que aflora é a legitimidade ou não de se matar bichos
por divertimento. No Brasil, o esporte é proibido.
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Uma medida que para São Paulo Por que a polêmica redução das velocidades nas marginais não irá melhorar o trânsito nem
reduzir os acidentes na maior cidade do país. Apenas atrapalhará ainda mais a vida do
paulistano Mais do que a linha dos prédios espelhados da avenida Paulista, a imagem que os visitantes têm de São Paulo
é a de duas vias castigadas com congestionamentos diários, seguindo o curso de rios infestados de poluição e
emparedados pelo concreto. Não é de se estranhar, portanto, que o prefeito da capital, Fernando Haddad, tenha
criado uma celeuma quando resolveu diminuir o limite de velocidade das marginais Tietê e Pinheiros, as mais
importantes da cidade. A prefeitura diz que baixou a máxima em até 20 km/h para fazer cair o número de
acidentes. Além do benefício em vidas, as autoridades justificam que batidas, despesas médicas e perda de
produtividade jogaram fora R$ 189 milhões nos últimos três anos. A população, porém, está longe de se
convencer com os argumentos. A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com ação
civil pública na Justiça e o Ministério Público abriu inquérito contra a mudança. Qualquer que seja o resultado
das iniciativas, de acordo com especialistas de trânsito ouvidos pela ISTOÉ, a redução não é a melhor maneira
de alcançar os efeitos desejados. “Entendo que essa medida foi tecnicamente incorreta”, afirma o engenheiro
Decio Assaf, membro da comissão de segurança veicular da SAE Brasil, associação especializada em
mobilidade no País. O fato é que, diante de um sistema de transporte público falho e uma política de
mobilidade equivocada, muitos paulistanos usam carros, mas têm sido penalizados pela administração
municipal.
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As marginais já são vias seguras em comparação com o restante da cidade. Campeãs de movimento e de
acidentes fatais no município, em termos proporcionais, no entanto, a figura é diferente. Estima-se que 1
milhão de veículos passem por lá diariamente. Todos os dias, 13% da frota paulistana viaja pelas duas
avenidas expressas, mas só 5% dos acidentes com morte aconteceram ali em 2013. Velocidades menores
fazem a gravidade dos choques diminuir, mas a experiência com ruas que sofreram redução durante a
administração de Gilberto Kassab, o prefeito anterior, mostra que as mortes apenas crescem menos nesses
casos. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), das 50 avenidas que mais matam na cidade, os
acidentes fatais em vias que tiveram limite reduzido aumentaram 7% de 2010 a 2014. Nas demais, a subida foi
de 15%. O número de problemas não caiu, apenas cresceu um pouco menos. “Se quisermos acabar com todos
os mortos é só tornar a velocidade zero. Temos que pensar é nos motivos que aumentam o numero de
fatalidades”, diz Assaf.
Em 2010, foi proibida a entrada de motos na pista expressa da Marginal Tietê – apesar de muitos motociclistas
desobedecerem essa regra. Desde então, as batidas com mortes diminuíram de 56 para 39 em 2014, uma
queda de 30% (nas outras vias houve aumento médio de 10%). Na Marginal Pinheiros, a proibição não existe
e o número de mortos subiu de 23 para 33 (mais 43%). Ou seja, ampliar determinações existentes melhora
mais a situação do que implementar novas mudanças. Motociclistas costumam, ainda, desrespeitar os limites,
já que muitos radares não os multam. Nas marginais, só 8 de 65 deles flagram motos entre faixas. “Eles
ficaram com sensação de impunidade”, afirma Geraldo Simões, diretor da escola de pilotagem Academia
Brasileira de Trânsito (Abtrans).
SINAL VERMELHO
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Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad: decisão de reduzir a velocidade
nas vias expressas está contrariando a população
Um estudo conduzido pelo Hospital das Clínicas em 2013 concluiu que, em 23% dos casos de batidas de
motos, os condutores não têm sequer habilitação. Em 71%, eles estão acima da velocidade. A prefeitura
justificou a redução das marginais como uma forma de proteger os mais vulneráveis, que além das motos
incluía pedestres. As vítimas seriam os ambulantes que vendem produtos em congestionamentos. “Faltou
pesquisar os locais de maior atuação e bloquear o acesso”, afirma Assaf. De que adianta alterar as leis se quem
provoca boa parte dos acidentes já desrespeita as regras sem medo da fiscalização?
Para reduzir o número de batidas em São Paulo, é preciso estimular a educação através de incentivos, não de
punições, afirmam os especialistas em trânsito. Um exemplo seria dar descontos nos impostos veiculares aos
condutores que não levassem multas nem se envolvessem em choques. Habilitação, fiscalização e bons
exemplos precedem a penalidade, mas nada disso parece ser prioridade para as autoridades municipais,
estaduais e federais. “A educação de uma cidade é mostrada pelo número de semáforos e lombadas. Você
precisa forçar o cidadão a se comportar. Tem lugares em que praticamente não há farol. Já o número de sinais
em São Paulo não é normal”, afirma Simões, da Abtrans.
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A degradação de Roma Uma das cidades mais visitadas do mundo sofre com a decadência dos serviços públicos,
escândalos de corrupção e até uma infestação de ratos na lendária Fontana di Trevi Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br)
Uma das sequências mais famosas da história do cinema, o banho da atriz sueca Anita Ekberg (1931-2015) na
Fontana di Trevi, no filme “La Dolce Vita” (1960), de Federico Fellini (1920-1993), ajudou a cristalizar na
imaginação de muita gente uma imagem romântica da capital italiana, Roma. O belo cenário onde a loura se
banhou, enquanto chamava o galã Marcello Mastroianni (1924-1996), no entanto, atrai hoje visitantes bem
menos nobres. No auge do verão europeu, a fonte, um dos principais pontos turísticos da cidade, foi invadida
por ratos, que assustam os milhares de turistas que a visitam diariamente. À infestação de roedores somam-se
outros problemas romanos, como o excesso de lixo nas ruas, por conta da ineficiência dos serviços públicos,
os atrasos no transporte coletivo e os inúmeros escândalos de corrupção na administração da capital, que
parece viver um dos piores momentos de sua história recente.
Em julho, quem passeasse pelos parques da cidade ficaria surpreso com o estado de desleixo desses locais.
Uma denúncia de corrupção na licitação responsável pela contratação de empresas para a manutenção de
parques levou o prefeito Ignazio Marino a suspender o serviço. No mesmo mês, milhares de turistas e
cidadãos romanos foram prejudicados por uma ação do sindicato de metroviários, que atrasou o intervalo
entre os trens para protestar contra uma possível privatização. Em maio, um incêndio no aeroporto
internacional Fiumicino, principal porta de entrada da Itália, fechou alas, que continuam inativas até hoje. Os
três episódios são sintomas da degradação recente de Roma. Uma pesquisa da Comissão Europeia de 2013
aponta que a cidade figura em último lugar entre as 28 capitais europeias no quesito de eficiência dos serviços
públicos. Já no aspecto qualidade de vida, alcança o 27º lugar, à frente apenas de Atenas, na Grécia.
“Roma está à beira do colapso”, diz Giancarlo Cremonesi, presidente da câmara de comércio da capital. “É
inaceitável que uma grande cidade que se auto-intitula desenvolvida se encontre em tal estado de
deterioração.” A mesma opinião parece ser partilhada por parte da população. No blog “Roma Fa Schifo”
(“Roma é uma merda”, em tradução), cidadãos denunciam o excesso de lixo, obras malfeitas e outras mazelas
da cidade. “Roma está a quilômetros de distância dos padrões de civilidade e decoro do Oeste”, diz
Massimiliano Tonelli, fundador do site. “Vivemos em uma combinação de má administração, corrupção e
burocracia.”
A corrupção, aliás, paralisou boa parte da administração pública. No início deste ano, um escândalo tornou
público o fato de que vários contratos de licitação de serviços municipais teriam sido manipulados por
membros da máfia, que desviaram milhões de euros do orçamento da capital. Até agora, trinta contratos, que
abrangem desde a limpeza pública até a construção de abrigos para refugiados, estão sob investigação e
devem ser cancelados e colocados novamente para licitação. Em 2014, em parte por causa dos desvios da
máfia, Roma registrou um déficit orçamentário de 14 bilhões de euros (R$ 51 bi) e foi salva da falência graças
a um fundo emergencial do estado. Muitas das denúncias de corrupção datam do mandato do prefeito anterior,
Gianni Alemanno, que está sendo investigado. O atual prefeito Marino, no entanto, reconheceu em uma carta
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enviada ao jornal italiano “Corriere della Sera” que uma parcela da administração pública está
“substancialmente contaminada”.
A situação, que já não é a ideal, pode piorar no próximo ano. Em 2016, a cidade espera receber 25 milhões de
peregrinos em resposta ao chamado do papa Francisco para o Ano Sagrado, um dos eventos mais importantes
do calendário da Igreja Católica. Em 2014, Roma foi visitada por 10,6 milhões de turistas estrangeiros, menos
do que os 11 milhões de 2013, e nem sempre esses visitantes saem de lá com uma boa impressão. Apesar de
ser uma das cidades mais procuradas da Europa, a capital italiana apresenta um dos menores índices de visitas
repetidas.
Sobre a invasão de ratos na fonte mais famosa da cidade, o município garantiu que está adotando medidas
para minimizar a infestação, e culpou a chegada dos desagradáveis visitantes ao calor extremo que o país
enfrentou em julho, quando os termômetros chegaram a marcar 37 graus Celsius, e às obras de revitalização,
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bancadas pela grife de luxo italiana Fendi, que devem durar até outubro deste ano. Até lá, turistas e moradores
esperam que a opulência dos monumentos, igrejas e fontes romanos não tenha mais de conviver lado a lado
com os problemas que enfeiam uma das cidades mais belas do mundo. “Roma hoje é bem parecida com a
Nova York dos anos 1990, suja e corrupta”, diz Massimiliano Tonelli. “Mas é possível mudar. Essa situação
não é irreversível.”
Fotos: ANDREAS SOLARO/AFP
Sorte nos negócios e no amor O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais
focado do que nunca. É que ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária Gisele Vitória
O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais focado do que nunca. É
que ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária. A modelo se debruçou sobre suas
memórias para narrar em um blog, que estreia essa semana, suas experiências em 18 anos de profissão.
“Sempre tive vontade de escrever e contar meu dia a dia.” Nos negócios, vai abrir a própria marca - até aqui,
emprestava seu nome a coleções de grifes como a Morena Rosa, da qual é uma das estrelas da campanha
“Verão 16”. “Por termos contratuais, ainda não posso dar detalhes, mas vamos desenvolver produtos que eu
uso e gosto”, conta. Para coroar o momento onírico, ela faz uma declaração definitiva ao noivo, o músico Di
Ferrero: “Eu estou apaixonada como nunca estive antes.”
Olimpíada 'tipo' Lego O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da
Olimpíada sigam o modelo de "Arquitetura Nômade", aplicado no Rio, palco do evento no
ano que vem Gisele Vitória
O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da Olimpíada sigam o
modelo de “Arquitetura Nômade”, aplicado no Rio, palco do evento no ano que vem. Isso, porque as
estruturas utilizadas são concebidas como as peças do jogo Lego, em que se desmonta e remonta tudo em
novos formatos. Exemplo? As duas piscinas do Estádio Aquático poderão ser levadas para outras cidades e
servir a outros eventos. A ideia do prefeito carioca Eduardo Paes nasceu ao observar os filhos brincando com
os clássicos bloquinhos plásticos.
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arem as máquinas Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de
Cambridge, Kate Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo
cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke Gisele Vitória
Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de Cambridge, Kate
Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke,
que odiou a falta de retoque de tintura na raiz das madeixas da inglesa. “Kate precisa se livrar de seus cabelos
grisalhos. Até a mulher ser realmente velha, não pode ser vista com nenhum cabelo branco”, disparou o expert
das tesouras. O debate segue com muitas divergências.
POW! BANG! SOC! As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe "Pitbull" Correia e a americana
Ronda Rousey se enfrentam também fora do octógono Gisele Vitória
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As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe “Pitbull” Correia e a americana Ronda Rousey se
enfrentam também fora do octógono. Bethe provocou, no Instagram, dizendo que a concorrente treinava
muito, mas para ser atriz (referindo-se às participações dela em filmes como “Velozes e Furiosos”). Em
entrevista à GENTE, a americana rebateu: “Eu vivo de treinamento em treinamento, sempre na academia. O
cinema me ajuda a relaxar.” A brasileira também falou à coluna: “Ela é uma iludida pela mídia à sua volta. A
arrogância é sua característica.”
"A paisagem do Brasil é essa" A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: "Para mim, Dona Ivone é como Nelson
Cavaquinho, como Cartola Gisele Vitória
A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: “Para mim, Dona Ivone é como Nelson Cavaquinho, como
Cartola. É importante que fique claro, definitivamente, que a paisagem do Brasil é essa!” Foi assim o
emocionante encontro entre as duas divas na Cidade das Artes, no Rio, em novembro, durante a gravação do
Sambabook de Dona Ivone Lara, que a Musickeria lança agora. Aos 94 anos, a sambista canta lindamente
“Sonho Meu” e sua voz vai, aos poucos, se misturando à de seus mais de 30 convidados, como Zeca
Pagodinho, Caetano Veloso, Martinho da Vila e Elba Ramalho. Coisa de gente nobre, mesmo.
Meditação para aplacar o vício do fumo
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Pesquisas - entre elas uma brasileira - comprovam que a terapia é capaz de fortalecer o
autocontrole e impedir a volta da dependência Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Apenas 7% das pessoas que se dispõem a parar de fumar conseguem ficar longe do cigarro por mais de um
ano. Por esta razão, multiplicam-se os esforços para encontrar meios eficientes de cortar a dependência. Na
última semana, pesquisadores da Texas Tech University e University of Oregon, nos Estados Unidos,
relataram os benefícios da meditação para aplacar os vícios do fumo. O método mostrou-se eficaz
principalmente para fortalecer o autocontrole, fator fundamental na luta contra a compulsão.
Estudos recentes já demonstraram que os fumantes apresentam atividade reduzida em áreas cerebrais
associadas ao autocontrole. “Estamos começando a aprofundar nossas pesquisas para entender como o uso
repetido de substâncias que levam à dependência afeta estas regiões”, explicou a cientista Nora Volkow,
diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos e coordenadora do trabalho. “O
objetivo é criar opções que atuem nesses mecanismos.”
Há várias técnicas de meditação. Durante a prática, o que se quer é aquietar a mente, cessando o fluxo de
pensamentos, o que ajuda o indivíduo a pensar no momento presente. Seus benefícios para a saúde física e
mental têm sido cada vez mais constatados pela ciência. O método vem sendo usado como terapia
complementar em tratamentos de câncer, estresse pós-traumático e doenças psiquiátricas como ansiedade e
depressão.
O time de pesquisadores das instituições americanas decidiu testar o poder do mindfulness – uma das técnicas
de meditação. Foram selecionados sessenta estudantes (27 fumantes e 33 não fumantes). Eles foram divididos
em dois grupos. O primeiro submeteu-se a sessões de relaxamento, enquanto o restante participou de sessões
de meditação.
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O experimento foi feito ao longo de duas semanas, em dez sessões de cerca de trinta minutos cada. Antes de
seu início e também após o seu final, os voluntários foram submetidos a exames de imagem cerebral,
registraram seus hábitos em relação ao cigarro e tiveram medido o nível de dióxido de carbono em seus
pulmões. O resultado mostrou que entre aqueles que fizeram as sessões de meditação houve redução de 60%
no consumo de cigarros. “Os estudantes modificaram seus hábitos sem se darem conta”, contou à ISTOÉ o
professor Yi-Yuan, da Texas Tech University e co-autor da pesquisa. “A meditação pode melhorar o déficit de
autocontrole presente nos fumantes.”
No Brasil, a psicóloga Isabel Weiss conduz um trabalho com resultados igualmente positivos. O uso da
meditação para ajudar contra o cigarro é tema de sua tese de doutorado, em desenvolvimento na Universidade
Federal de São Paulo. Mais de oitenta pessoas passaram pelo tratamento. Elas fizeram oito sessões, de duas
horas cada, e foram orientadas a praticar em casa. Ainda não há números finais, mas os dados colhidos até
agora revelam a eficácia do método. “A maioria está conseguindo se manter sem fumar por mais de um ano”,
informa Isabel.
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O trabalho da psicóloga é o primeiro do gênero no Brasil. Ela começa a difundir o método pelo País com base
em sua experiência e em evidências obtidas em trabalhos como o de Nora Volkow e Yi-Yuan. Em uma
revisão da literatura a respeito do tema publicada recentemente, Isabel e outros especialistas verificaram que,
de modo geral, a meditação contribui para a saúde mental, o que ajuda a se livrar da dependência.
Na opinião do americano Yi-Yuan, é difícil estabelecer quantas sessões são necessárias para o sucesso do
tratamento. “Quanto mais longo o período de prática, melhores os efeitos”, afirmou. “Mas é preciso lembrar
que a reação de cada fumante é diferente. Por isso, deve-se avaliar as pessoas individualmente.” �
Colaborou Fabíola Perez
A vacina que o mundo esperava O anúncio do primeiro imunizante 100% eficaz contra o Ebola renova a esperança de que
não haja mais epidemias Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
O mundo finalmente comemorou, na semana passada uma boa notícia contra o Ebola, responsável por matar
mais de 11 mil pessoas e infectar outras 28 mil desde 2014 na África. Uma vacina contra o vírus mostrou
eficácia de 75% a 100%, resultado considerado um divisor de águas na história contra a doença. Até hoje, não
havia se chegado a nada igual. “É uma descoberta extremamente promissora”, disse Margaret Chan, diretora
da Organização Mundial da Saúde.
PROTEÇÃO
Os testes foram feitos na Guiné, um dos países mais atingidos pela epidemia de 2014
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Os detalhes do experimento com a vacina foram divulgados na última edição da revista The Lancet, uma das
mais respeitadas publicações científicas do mundo. O produto, feito com um fragmento do ebola e um outro
vírus inofensivo, o imunizante foi aplicado em cem pacientes e em pessoas próximas. Os cientistas queriam
formar o “anel protetor” (tentativa de impedir que o vírus se espalhe para além dos círculos de pessoas nos
quais está presente).
Cem pacientes foram vacinados. Os indivíduos mais próximos foram imunizados imediatamente após o
diagnóstico ou três semanas depois. Entre as mais de duas mil pessoas que receberam a vacina em seguida,
não houve casos. Entre as imunizadas mais tarde, foram registrados 16 casos.
O outro grupo que está sendo vacinado é o de profissionais da organização humanitária Médicos Sem
Fronteiras. Seu diretor médico, Bertrand Draguez, afirmou que, diante dos resultados, a vacina deveria ser
levada a outros países em risco. “Os anéis de proteção seriam multiplicados”, disse. Por enquanto, porém, o
plano é estender a vacinação a adolescentes de treze a dezessete anos e provavelmente a crianças de seis a
doze anos.
Foto: AFP PHOTO / CELLOU BINANI
O risco chinês Tombo na bolsa de valores de Xangai acende o alerta para a desaceleração da maior
economia do mundo Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)
Faz um ano que o mercado financeiro começou a viver seu momento de ouro e se tornar mais atraente para a
nova classe média chinesa concentrada nos centros urbanos. Nesse período, as corretoras se multiplicaram e
dobraram o volume de ativos que negociam. Apesar da desaceleração da economia, os juros baixos, a fraca
remuneração das aplicações tradicionais e a ampla propaganda estatal estimularam tanto a entrada de novos
investidores que, nos 12 meses até junho, a bolsa de Xangai acumulou alta de 150%. Desde então, porém, ela
já perdeu um terço de seu valor, puxando a desvalorização das empresas listadas em mais de US$ 3 trilhões. O
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baque piorou na segunda-feira 27, quando o principal índice da bolsa de Xangai caiu 8,5%, o maior recuo
diário desde 2007. Naquele dia, o centro nacional de estatísticas havia anunciado que o lucro da indústria, que
subiu em abril e maio, havia caído em junho. Os sinais confusos enviados pela maior economia do mundo
colocaram os analistas em alerta para o estouro de uma bolha.
DESPESPERO
Investidores lamentam a queda das ações: perdas de US$ 3 trilhões
O governo chinês, como fez com a recente ameaça de bolsa imobiliária, tentou intervir. Comprou mais ações,
suspendeu temporariamente novas aberturas de capital (IPOs na sigla em inglês), criou um fundo bilionário de
estabilização do mercado e proibiu alguns acionistas de vender seus papéis nos próximos seis meses. “A
regulação permite ao Estado fazer intervenções que consideraríamos inaceitáveis no Brasil”, afirma o
economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas. “As bolsas ocidentais refletem muito mais
as expectativas dos agentes econômicos do que a vontade política de um governo. Na China, acontece o
oposto.” Um relatório do Banco Mundial, divulgado no começo de julho, concluiu que o Estado foi além de
seu papel como regulador e apontou a necessidade urgente de reformas. “O sistema financeiro não tem mais
contribuído efetivamente para o crescimento da economia”, diz o diagnóstico. Na terça-feira 28, a Comissão
Reguladora de Valores Mobiliários do país abriu uma investigação para apurar se o tombo foi coordenado de
forma “maliciosa” por um grupo de grandes investidores individuais. Na quinta-feira 30, porém, as ações
continuaram em baixa em Xangai e Shenzen.
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Na China, dois terços dos novos investidores não têm o Ensino Médio completo. Ann Lee, especialista em
economia chinesa e professora da Universidade de Nova York, os compara com frequentadores de cassinos
em busca de ganhos de curto prazo. “A elite investe no mercado imobiliário e em private equity e venture
capital”, disse à ISTOÉ. “Os acionistas da bolsa são, em geral, menos sofisticados e pouco versados em
demonstrações e modelos financeiros.” Por isso, Ann acredita que as oscilações do mercado de agora podem
ter consequências mais duradouras. Sem experiência nem capital para resistir a grandes desvalorizações, é
provável que os chineses vendam suas ações na baixa e nunca mais retornem ao mercado. Mesmo assim, isso
corresponde a uma pequena parcela da população, o que limita também o possível impacto que o colapso da
bolsa teria no consumo das famílias. Além disso, o setor financeiro não chega a um terço do Produto Interno
Bruto (PIB), uma fração muito menor que em países desenvolvidos.
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Como a participação de estrangeiros nas bolsas chinesas é limitada – só 1,5% das ações estão nas mãos deles
–, o risco de contágio para outros países ainda é pequeno. Para alguns economistas, porém, há o que temer.
Qualquer crise na China, maior importadora de commodities do Brasil e do resto do mundo, pode afetar o
preço de produtos vitais para balança comercial brasileira, como soja e minério de ferro. Isso já está
acontecendo. A sensação de que a economia chinesa está menos aquecida (o PIB deve avançar 6,8% em 2015,
segundo o Fundo Monetário Internacional) ajudou a desvalorizar as moedas emergentes, incluindo o real, e a
encarecer o dólar. Para piorar, a receita das exportações à China tem caído. No acumulado até junho, ela foi
22,6% enor do que no mesmo período do ano passado. Esse pode ser só o início do risco chinês.
Foto: AP Photo/Mark Schiefelbein
Crianças e adolescentes viajando sozinhos Eles podem, sim, voar desacompanhados. Mas os pais precisam ficar atentos à
documentação necessária e aos serviços de acompanhamento das companhias aéreas para
evitar frustrações na hora do embarque por Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br)
A rotina agitada dos adultos faz com que, muitas vezes, os filhos viajem de avião desacompanhados para
aproveitar as férias. Normalmente tudo transcorre muito bem, mas um incidente no domingo 19, em São
Paulo, aterrorizou os pais que relutam em soltar seus pequenos sozinhos numa aeronave. Por uma falha de
uma companhia aérea nacional, uma criança de 7 anos foi deixada no portão de embarque errado e perdeu o
voo. “Esse foi um caso à parte”, afirma a advogada Lourdes Balsamão Esteves Almeida, do Nogueira, Elias,
Laskowski e Matias – Nelm Advogados. “Mas é importante os pais ficarem atentos e conversarem com o
funcionário que fará o encaminhamento da criança.” No Brasil, as empresas ainda não oferecem um
funcionário para ficar com o menor durante o voo, mas disponibilizam uma pessoa que o acompanha até o
embarque e após o desembarque. Apesar de a legislação não exigir uma idade mínima para viajar
desacompanhado, as empresas aéreas só liberam voos para passageiros acima de 5 anos. Confira o que é
necessário para menores de idade viajarem sem um adulto e algumas dicas para que casos como esse não se
repitam e a criançada viaje em segurança.
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Obama cutuca a África Em viagem de cinco dias ao continente, o presidente americano critica a corrupção, a falta
de democracia e o tratamento dado às mulheres Filho de queniano, Barack Obama fez na semana passada sua terceira e provavelmente última viagem pelo
continente africano enquanto presidente dos Estados Unidos. Se, em 2009, ele prometeu uma virada (nunca
cumprida) nas relações entre EUA e África, e, em 2013, levou um pacote para o setor elétrico, desta vez
Obama se dedicou às críticas. Num discurso histórico na sede da União Africana em Adis Abeba, capital da
Etiópia, o democrata reconheceu os recentes avanços econômicos dos países do continente, mas enfatizou que
eles poderiam ser maiores se não fosse pelo “câncer da corrupção”. “Isso não é algo único da África. A
corrupção existe no mundo todo, inclusive nos EUA”, disse. “Mas aqui a corrupção suga bilhões de dólares de
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economias que não podem se dar ao luxo de perder bilhões de dólares que poderiam ser usados para criar
empregos, construir hospitais e escolas.” Obama saiu do local ovacionado.
PROVOCADOR
Obama questionou líderes do continente em discurso
na sede da União Africana, na Etiópia As provocações do presidente americano tiveram alvo certo em alguns momentos, como quando declarou: “O
progresso democrático da África também está em risco quando líderes se recusam a se afastar quando seus
mandatos acabam.” Há duas semanas, o presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, conquistou seu terceiro
mandato no primeiro turno de eleições contestadas por observadores internacionais. Considerada
anticonstitucional, sua candidatura provocou uma série de manifestações duramente reprimidas pelo governo.
O mesmo senso crítico faltou quando Obama se referiu ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam
Desalegn, como democraticamente eleito. Em maio, sua coalizão, que está no poder desde 1991, recebeu
100% dos votos.
Nos cinco dias que passou entre o Quênia e a Etiópia, Obama colocou na agenda a defesa dos direitos
humanos. Citando as filhas, Sasha e Malia, o americano reafirmou que as garotas têm que ser tratadas com
igualdade e que as tradições nem sempre são boas. Obama disse isso porque, em diversos países africanos, as
mulheres passam por mutilação genital, são forçadas a se casar ainda crianças e são impedidas de frequentar a
escola. A mensagem talvez não tivesse a mesma força se tivesse sido transmitida por algum de seus
antecessores. Obama tem o mérito, afinal, de ser visto como um deles.
Foto: AFP PHOTO / SAUL LOEB
Arte nos celulares Museus dos EUA se valem de aplicativos e memes para despertar o interesse dos jovens
pelos mestres da pintura Se a maioria dos jovens não descola os olhos da tela do celular, a direção do Museu de Arte Blanton, na
Universidade do Texas, nos EUA, encontrou um método capaz de fazer com que essa parcela da juventude
passe a conhecer as obras clássicas das artes plásticas sem que precise desviar a atenção do mundo digital que
tanto a apaixona. Em outras palavras: por que enfrentar tais jovens se é possível aliar-se a eles e transmitir-
lhes cultura na linguagem e no código que mais os atiça no campo cognitivo? A dona da ideia chama-se Alie
Cline, tem 24 anos e adora redes sociais – claro, nada melhor que uma “igual” para falar com sucesso a seus
“iguais”. Ela disse “sim”, sem titubear, quando foi convidada a ser a primeira funcionária contratada pelo
museu para cuidar de sua imagem e de sua programação na internet. Nesse momento, na cabeça de Alie já se
desenhara a vontade de enviar fotos das obras aos celulares, todas elas com frases engraçadas sobrepostas e
dotadas da característica de se autodestruírem após um dia. Alie se vale para isso do aplicativo de celular
Snapchat. “Como os snaps desaparecem logo, podemos ser mais alegres e utilizar na rede referências à cultura
pop”, diz ela. “O importante é que o público jovem se interesse e compreenda a arte”.
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SEM PURISMO
Obras clássicas se unem ao mundo digital: boa cultura híbrida
Esse mesmo caminho de se aproveitar de uma ferramenta que não sai das mãos da juventude, justamente para
levá-la a se interessar pelo nada tecnológico mundo dos quadros, também está sendo trilhado pelo Museu de
Arte Contemporânea de Los Angeles (LACMA). Seja por meio do aplicativo Snapchat, seja pelo Instagram, o
museu espalha seus memes com as obras que compõem o acervo. Na verdade, o que está em jogo são dois
mundos culturais completamente distintos, mas que não têm necessariamente de se chocarem – ao contrário,
podem até se complementarem se partirmos do princípio que ambos estão na realidade sem hierarquia de “o
melhor” ou “o pior”. Foi assim que a direção do Museu Blanton radicalizou, e com sucesso: por meio da redes
sociais pediu para que os internautas lhe enviassem fotos, posando eles como os personagens de quadros.
Foram tantas as imagens, que a brincadeira se tornou concurso que deve agora se repetir anualmente. Mais: os
museus em todo o mundo se queixam do baixo número de visitantes. Nesses tempos de cultura digital, o certo
é que eles só vão lotar se também se conectarem, valendo-se das novas ferramentas. E isso é possível sem que
signifique um ultraje aos clássicos.
Os pais da Guerra Fria Livro de historiador americano analisa os seis meses de 1945 que redesenharam a
geopolítica mundial e conduziram Estados Unidos e União Soviética a protagonizar um
tenso e longo conflito Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)
Em fevereiro de 1945, poucos meses antes do fim da 2ª Guerra Mundial, uma conferência juntou Josef Stálin,
Franklin Roosevelt e Winston Churchill, os líderes de União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido. Ali, os
“Três Grandes” decidiram os caminhos do mundo depois do conflito e iniciaram os tensos anos da Guerra
Fria. Os novos alicerces da comunidade internacional foram fundados no meio ano que se seguiu àquela
reunião, a fase explorada pelo historiador e jornalista americano Michael Dobbs em seu livro “Seis Meses em
1945 – Roosevelt, Stálin, Churchill e Truman da Segunda Guerra à Guerra Fria” (Companhia das Letras), que
acaba de chegar às livrarias do País. Durante esse curto período, houve o suicídio de Adolf Hitler, explodiu a
bomba atômica e o planeta foi redividido. Com a derrota do fascismo, comunismo e liberalismo disputaram
para se tornar a ideologia dominante. Após aqueles dias a humanidade deixou para trás a idade da catástrofe e
experimentou uma era de ouro de conquistas tecnológicas e pujança econômica, ainda que temperada com as
tensões da Guerra Fria e o receio de uma hecatombe nuclear. As mudanças abriram a brecha para a falência do
velho colonialismo e o deslocamento dos homens rurais rumo à cidade.
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ENCONTRO
Churchill, Roosevelt e Stalin na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945
Apesar de abrir foco sobre o meio ano que se seguiu à Conferência de Yalta, na Crimeia, à beira do Mar
Negro, em fevereiro, onde Stálin, Roosevelt e Churchill se sentaram à mesa de negociações, Dobbs centra a
obra nas discussões palacianas que redesenharam o mapa-múndi. Ganham destaque as maquinações do
ditador soviético, que buscava manter a zona de influência do regime comunista. Era um embate que ele não
poderia perder, já que dominava militarmente o Leste Europeu após ter feito recuar as tropas alemãs. Em boa
parte das questões abordadas em Yalta, foi Moscou que ditou os termos.
Um exemplo se deu com a Polônia. Foi a invasão do país pelo exército nazista que desencadeou a 2ª Guerra.
Churchill considerava o abandono do país pela União Soviética moralmente condenável, mas pouco pôde
fazer ante o acordo entre o presidente americano e Stálin, que, segundo Dobbs, a via como um inimigo
perpetuamente tramando contra a Rússia, um corredor para invasões estrangeiras e conduíte da ideologia
ocidental. Não que o primeiro-ministro britânico fosse refratário à crua política do período. Em troca dos 90%
de influência sobre a Grécia concedidos à Grã-Bretanha, Churchill concordou com uma participação só de
10% nos assuntos da Romênia.
TRAMA
O livro do historiador e jornalista americano Michael Dobbs mostra
os bastidores das ações dos grandes líderes daquela época
Enquanto Stálin expandia seu poderio, os líderes ocidentais enfrentavam problemas caseiros. Roosevelt era
um homem doente, afetado pela poliomielite que o prendia à cadeira de rodas. Já Churchill preocupava-se
com a sucessão, que de fato perdeu para o trabalhista Clement Attlee. O resultado da eleição saiu durante a
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conferência de Potsdam, realizada entre julho e agosto de 1945. A reunião selou o acordo final entre os
vencedores do conflito, mas antes de seu fim o primeiro-ministro conservador foi substituído por Attlee. Harry
Truman entrou no posto de Roosevelt, que morrera em abril daquele ano.
O autor finaliza o livro com os ataques atômicos dos EUA contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em
agosto, o derradeiro ponto final da 2ª Guerra. Como muitas das variadas mudanças que se seguiram à era da
catástrofe, o balanço de poderes após o conflito foi definido pelo avanço da ciência. Com a conclusão, Dobbs
mostra que apesar de construir a obra em torno de figuras proeminentes, não considera que a Guerra Fria só
tenha existido por obra de Stálin, Churchill, Roosevelt e Truman. Segundo o historiador americano, todos
estavam atados pela realidade de seus países e, mais do que isso, pela roda dos acontecimentos. De acordo
com o autor, a história às vezes possui uma mente própria que se move contrariamente à decisão das
personalidades mais carismáticas.
Nas letras da fé Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a
opção pelos mais pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a
espiritualidade como eixo em ambos Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
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Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a opção pelos mais
pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a espiritualidade como eixo em ambos. Na
edição ampliada de “Paraíso Perdido - Viagens ao Mundo Socialista” (ed. Rocco, 528 páginas), relata
andanças por países socialistas como China, Rússia e Cuba, entre outros, de 1979 a 2012, quando atuava
assessorando governos na tentativa de reaproximar Estado e Igreja. Também dá seu testemunho sobre a
participação em eventos históricos, como a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. Já em “Um Deus
Muito Humano - Um Novo Olhar Sobre Jesus” (ed. Fontanar, 136 páginas), fala sobre Jesus Cristo e seus
ensinamentos. Profícuo escritor, aos 70 anos Frei Betto já tem 60 livros publicados.
+5 livros de Frei Betto
Diário de Fernando (2009)
Anotações do frade dominicano Fernando de Brito, preso no período da ditadura
Cartas da Prisão (2008) Reúne mensagens escritas por Frei Betto na época em que foi preso político do regime militar
A Mosca Azul (2006) Em primeira pessoa, traça o panorama social do País que levou à eleição de Lula em 2002
Alucinado Som de Tuba (1993) Ficção, conta a história de Nemo, um jovem negro que perde a família e passa a viver nas ruas
Batismo de Sangue (1982) Aborda a morte de Carlos Marighella e denuncia métodos de tortura da ditadura. Virou filme em 2006 (foto)
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Atormentado garoto da praia Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme "Love & Mercy" conta a turbulenta
história de Brian Wilson, líder do grupo californiano Beach Boys Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
Assista ao trailer
Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme “Love & Mercy” conta a turbulenta história de Brian
Wilson, líder do grupo californiano Beach Boys. Na montagem, Paul Dano e John Cusack vivem Brian na
juventude e na vida adulta, respectivamente. Das brilhantes criações da década de 1960 ao tratamento para
problemas mentais e para vícios em drogas relatados 20 anos depois, a história revela um lado pouco
conhecido de um dos grandes nomes da música pop mundial. Mostra ainda a produção do clássico álbum “Pet
Sounds”.
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Meu nome é Cait Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes
chamada de Bruce, estreia "I am Cait", série de oito episódios no canal E! que acompanha
os passos da sua transformação, no dia 2 de agosto Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes chamada de Bruce,
estreia “I am Cait”, série de oito episódios no canal E! que acompanha os passos da sua transformação, no dia
2 de agosto. Na décima temporada do reality “Keeping Up With the Kardashians”, do qual também participa
por ter sido casada com a matriarca Kris, Cait já adiantou uma parte da sua história. Capa da revista “Vanity
Fair”, tem chamado a atenção pela militância a favor da visibilidade trans.
Batuque pernambucano "De Baile Solto", lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e
vem para torcer a língua de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma
criatividade Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
“De Baile Solto”, lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e vem para torcer a
língua de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma criatividade. Apesar de usar ritmos de rua de
seu Estado natal, faz letras em um contexto mais amplo, universal e, por vezes, político. Guitarra e maracatu
de baque solto - ritmo regional vindo do interior de Pernambuco - se misturam ao sotaque cadencioso. Na
primeira música, “Marcha Macia”, junta ironia à letra e mostra a receita de como fazer um trabalho original.
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Ela estará entre nós Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua
carreira, "Little French Songs", em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São
Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$ 480 Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
Assista ao clipe da música que dá título ao novo trabalho
Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua carreira, “Little French
Songs”, em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$
480. O grande destaque da apresentação será a voz suave e sensual de Bruni, que lhe consagrou em discos
anteriores, como o primeiro “Quelqu’un M’a Dit”, de 2002. Nas letras, suas próprias experiências se tornam
matéria-prima. Fala, por exemplo, sobre seu casamento com o ex-presidente da França Nicholas Sarkozy na
canção “Mon Raymond”. Também brinca com sua condição de artista na música “Pas Une Dame”. Franco-
italiana, Bruni ainda homenagem suas origens em “Dolce Francia”.
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Leonardo/Chagall/Cartas Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br)
Leonardo da Vinci
(Tribunal de Contas da União, em Brasília, até 27/9)
Exposição com projetos, desenhos e maquetes do gênio italiano, destacando seu lado inventor
Chagall e La Fontaine
(Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, até 20/9) Mostra traz gravuras em metal feitas pelo russo Marc Chagall inspiradas nas fábulas de Jean de La Fontaine
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Cartas Libanesas
(Teatro Livraria da Vila, em São Paulo, até 27/9)
Jovem libanês vem para o Brasil com o plano de ganhar dinheiro e voltar para o Líbano. Anos depois, decide
ficar e convencer a mulher a morar com ele
Gênios da lâmpada Exposição faz um panorama da arte contemporânea mundial a partir de um passeio pela
história da ciência nos últimos 150 anos por Paula Alzugaray
Invento – As Revoluções que nos Inventaram/ Oca, SP/ de 5/8 a 4/10 A lâmpada elétrica incandescente, essa brilhante invenção de Thomas Edison que iluminou lares, fábricas e
cabeças durante todo o século 20 e que em 2015 chega ao fim de sua comercialização no mercado brasileiro,
ganha um obituário à altura de sua relevância, na exposição “Invento”, em cartaz em São Paulo, a partir de
quarta 5. O triste fim das lâmpadas com filamento incandescente é o tema da obra “Crepúsculo”, que o artista
francês Christian Boltanski realiza especialmente para a exposição, a convite dos curadores Marcello Dantas e
Agnaldo Farias. “Existe um homem que fez quase toda sua obra baseada na morte. Ele é Christian Boltanski.
Estava na hora dele fazer uma homenagem a um objeto que vai morrer”, diz Marcello Dantas. A obra é
composta por 480 lâmpadas que queimarão uma a uma, de hora em hora, durante toda a duração da exposição,
até 10 de outubro. Esta é, sem dúvida, uma grande ideia – uma entre as 35 (obras) de 30 artistas e inventores,
que estão expostas na Oca. “Invento” reúne as grandes invenções dos últimos 150 anos, desfuncionalizadas ou
reinventadas por alguns dos mais geniais artífices da arte moderna e contemporânea. A obra mais antiga – e
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talvez mais emblemática – da exposição é “Gift”, realizada em 1921 pelo surrealista Man Ray. Trata-se de um
ferro de passar, invenção de 1882, que tem sua função subvertida por uma linha de pregos afiados. Televisão,
rádio, telefone, telefone celular, elevador, máquina de escrever, automóveis, aparelho de barbear, avião, asa
delta, sistemas de vigilância, raio-x e guitarra elétrica tampouco passam incólumes pelo crivo da arte.
ARTISTA INVENTOR
"Rádios Pescando", obra de Guto Lacaz, realizada em 1986, subverte função de objetos
OBJETO SURREAL
"Gift", realizado por Man Ray em 1921, é obra precursora na exposição
Um dos trabalhos mais esperados é a alternativa criada pelo artista mexicano Pedro Reyes para uma das
maiores invenções do século 20, a psicanálise. Reyes montará dentro da Oca um complexo de ambientes
terapêuticos, inspirados em métodos de Paulo Freire, Lygia Clark e Augusto Boal, aberto ao público para
sessões coletivas de análise. Um sucesso garantido, na linha das sessões do Método de Marina Abramovic,
ministradas no Sesc Pompéia no começo do ano. Destaque também para “Little Sun”, criação do artista-
inventor Olafur Eliasson, lâmpadas de energia solar, concebidas com o objetivo de favorecer populações que
não tem acesso à eletricidade. Resta saber se o voraz mercado de arte internacional vai permitir que o objetivo
se cumpra, sem inflacionar o preço de maneira irreversível. Entre os artistas, não poderia faltar, é claro, Guto
Lacaz, o Professor Pardal da arte brasileira, com sua já célebre invenção “Rádios Pescando”, de 1986,
instalação com um conjunto de rádios colocados em linha para um fim inusitado: a pesca com antenas.
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YING YANG
"O Bem e o Mau Entendido", realizado em 1986 por Jarbas Lopes, faz releitura do automóvel
Novos navios negreiros Africa Africans/ Museu Afro Brasil, SP/ até 30/8 Paula Alzugaray
Num momento em que a África está na agenda internacional da arte – com a Bienal de Veneza sob a tutela de
um curador africano por primeira vez em 120 anos de história –, e se mantém à berlinda da pauta geopolítica –
com um assustador crescimento de mortes de refugiados naufragados no mar Mediterrâneo – vale atentar para
uma mostra de arte contemporânea africana que o Museu Afro Brasil, em São Paulo, apresenta até o final de
agosto.
Com curadoria de Emanoel Araújo, diretor do museu e dono de importante coleção de arte africana que fica
permanentemente ao alcance do público, a exposição “Africa Africans” é irregular. Tem momentos altos,
como a apresentação de “Skylines” (2008), escultura monumental de El Anatsui, ganês radicado na Nigéria e
vencedor do Leão de Ouro na 56ª Bienal de Veneza, em cartaz até 22/11. Trata-se de uma excelente
oportunidade de entrar em contato com a obra de um artista de importância reconhecida, que trabalha
materiais flexíveis e reciclados, que se adaptam visualmente a cada instalação. A presente obra assemelha-se
não apenas a uma paisagem urbana, mas a um imenso e luxuoso manto tribal.
Outra obra de interesse é “The British Library”, de Yinka Shonibare MBE (foto). Nascido na Nigéria e
residente em Londres, ele tem o pós-colonialismo e a imigração entre seus temas de pesquisa. Composta por
6.225 livros encapados por tecidos tradicionais africanos e dispostos em prateleiras, a instalação ganha
intensidade e sentido se o visitante atentar aos vídeos dispostos em monitores sobre mesas. São extratos de
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documentários e reportagens produzidos pela televisão britânica sobre desaparecimentos no mar durante
travessias ilegais. Trágicas histórias e depoimentos de sobreviventes ou familiares de vítimas desses que são
hoje autênticos navios negreiros. Mas nesta mostra que se apresenta como um panorama da produção visual
do continente, lamenta-se a ausência de nomes relevantes como Romuald Hazoumé, do Benim, que realiza
uma obra de forte acento crítico sobre a miserável realidade africana, que atira seus habitantes para o mar, em
busca de uma vida mais digna.
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"Instituto Lula se diz vítima de atentado político"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Uma bomba caseira de baixo potencial foi lançada no final da noite da quinta-feira 30 contra a sede do
Instituto Lula, em São Paulo. Ninguém se feriu, e o artefato, que teria sido arremessado por ocupantes de um
automóvel, danificou somente a porta da garagem. O Instituto classificou o episódio como “atentado político”,
pedindo a responsabilização criminal de seus autores – imagens do circuito de segurança interno de tevê
poderão auxiliar na identificação do carro e das pessoas. Na manhã da sexta-feira, o secretário da Segurança
Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, comunicou o fato por telefone ao ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, e a polícia deu início aos trabalhos de perícia no local. Atentados, em quaisquer
circunstâncias, são acontecimentos graves. Se de fato ficar provado que o Instituto foi vítima de um ataque,
em um momento de instabilidade e radicalismo como o atual, a temperatura dessa gravidade subirá e
exacerbará ainda mais a própria crise política.
"População do Brasil diminuirá em 2100"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
A população brasileira é aproximadamente de 207 milhões de habitantes. Daqui a 85 anos, no entanto, o País
terá apenas 200 milhões. É o que revelou o relatório “Perspectivas da População Mundial”, divulgado na
quarta-feira 29 pela ONU. Enquanto o número de pessoas em todo o mundo deve crescer 53% até 2100,
saltando de 7,3 bilhões para 11,2 bilhões, o Brasil viverá o oposto.
"MP, OAB, juiz e STF: todos são contra a convocação da advogada"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
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A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário Federal estão dando uma aula de
competência e legalidade ao longo da Operação Lava Jato. Quanto à CPI da Petrobras, se está disposta a
auxiliar, ótimo. Mas o que se viu na terça-feira 28, no entanto, só faz desviar o foco ao se propor
inconstitucionalidades: manter a convocação da advogada Beatriz Catta Pretta para argui-la sobre a origem
dos recursos que compõem seus honorários. Outro ponto inconstitucional surgiu na quarta-feira: a proposta de
que sejam vedados salários compostos com dinheiro de origem duvidosa. Os operários da Petrobras teriam
então de ter seus contracheques suspensos quando corria solta a propinagem? A melhor proposta da CPI para
o Brasil, nesse momento, é a de transformar a corrupção em geral (também de políticos portanto) em crime
hediondo. No início da quinta-feira, o Ministério Público Federal (assim como o juiz Sérgio Moro e a OAB)
se posicionou contrário a convocação.
Imigração ilegal
"O túnel dos desesperados"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Na semana passada foi o Eurotúnel, que une a França à Grã-Bretanha em seus 50,5 quilômetros de extensão
sob o Canal da Mancha, o caminho do desespero de imigrantes africanos e também europeus que querem
ingressar clandestinamente na Inglaterra. Até a sexta-feira 31, por exemplo, cerca de cinco mil pessoas
tentaram atravessar o túnel, e isso em apenas 48 horas – houve pelo menos cinco mortes. O Ministério do
Interior da França reforçou o policiamento em Passo de Calais, onde há a maior concentração de pessoas.
Mais: essa região francesa é um dos termômetros do quanto segue grave a questão migratória. Desde janeiro,
cerca de 38 mil pessoas foram interceptadas quando tentavam atravessar o túnel, mas nos últimos dias a
situação se agravou devido a diversas greves na empresa que o administra. Isso facilitou para muita gente a
possibilidade de viajar escondido sob o chassi de caminhões, ainda que se corra alto risco de morte com tal ato
de desespero.
"Brasileiro consome bebida alcoólica acima da média mundial"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Estudo da OMS revela: brasileiros adultos bebem anualmente, em média, 8,7 litros de álcool puro (bebida
alcoólica não combinada com refrigerantes, água, energéticos). A média mundial é de 6,2 litros por ano. Entre
países pesquisados nas Américas, o Brasil está na nona posição do ranking. Segundo a OMS, bebidas
alcoólicas estão presentes em cerca de 200 enfermidades – como cirrose hepática, doenças infecciosas e
câncer.
As bebidas mais consumidas
Cerveja....................55%
Uísque e vodca.........30%
Vinho.......................15%
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"Dilma se atem a meta "
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Agora sim ficou clara a posição do governo federal sobre o Pronatec Aprendiz: “não vamos colocar meta.
Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”, declarou Dilma sobre a
meta na terça-feira 28.
testosterona a mais
"Cai a lei do hormônio"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Deixou de valer na quarta-feira 29, por decisão do Tribunal Arbitral do Esporte, a regra que definia se uma
mulher podia ou não participar de competições, nas mais diversas modalidades, na categoria feminina: se seu
organismo produzisse mais de dez nanomoles de testosterona, ela estaria vetada. Não se incluiria em categoria
masculina, é claro, por não ser homem; mas também não era considerada mulher. Alegava-se que,
naturalmente, leva vantagens em relação às concorrentes. A decisão do tribunal abrange todas atletas, e se deu
pontualmente no caso da indiana Dutee Chand, 18 anos, campeã asiática júnior dos 200 metros. Com base na
regra que acaba de ser derrubada (chamada lei do hiperandrogenismo), a Federação Internacional de Atletismo
queria lhe tirar o título. Agora ele será mantido.
Defesa
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"A taxa de juros ameaçou derrubar os caças suecos"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
O negócio de US$ 5,4 bilhões, fechado no ano passado entre Brasil e Suécia na aquisição para a FAB de 36
caças Gripen NG, quase ruiu na última semana. Motivo: devido ao ajuste fiscal, o ministro da Defesa, Jacques
Wagner, falou em diminuir a taxa de juros do financiamento das aeronaves, já acordada em 2,54% ao ano. Ele
queria 1,98%. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi mais radical ainda: sua proposta era de 1,54%. Na
quarta-feira 29 chegou-se a uma solução. Segundo Wagner, valerá a taxa que estiver vigorando na assinatura
do contrato (se fosse na própria quarta-feira, ela ficaria em 2,19%). A entrega do primeiro caça está prevista
para 2019.
aliado de Osama Bin Laden
"Líder do Talibã está morto há dois anos"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Autoridades do Afeganistão revelaram na quarta-feira 29 que o mulá Mohammed Omar, líder do Talibã e um
dos principais aliados de Osama Bin Laden, morreu há dois anos em um hospital do Paquistão “em
circunstâncias misteriosas”. A informação foi dada à Rede BBC. Omar não era visto em público desde 2001 e
o anúncio de sua morte redesenha o poder no interior do próprio Talibã. Se ficarão mais fáceis ou mais
difíceis as negociações de paz, isso somente o futuro mostrará.
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"Judeu ultraortodoxo esfaqueia seis pessoas em parada gay"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
O judeu ultraortodoxo Yishai Schlissel ficou dez anos preso em Israel depois que feriu a facadas em 2005
diversos participantes da parada do orgulho gay em Jerusalém. Deixou a prisão há três semanas. Na quinta-
feira 30 ele repetiu a ação: feriu seis pessoas em Jerusalém novamente, e também novamente na parada gay.
Schlissel tirou de seu casaco a faca, apontou-a para o céu e na sequência iniciou o ataque. O primeiro-ministro
Binyamin Netanyahu condenou o ato, definindo-o como um “grave incidente”. O presidente Reuven Rivlin
declarou que o fato se traduz em “terrível crime de ódio”. Apesar da intolerância dos ultraortodoxos, Israel
contempla os gays com direitos civis (a proibição de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo deixou de
ser proibida no país em 1988).
"MP denuncia o empresário Bené"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
O Ministério Público Federal em Brasília denunciou à Justiça o empresário Benedito Rodrigues Oliveira Neto,
conhecido por Bené e ligado a campanhas do PT. A denúncia pede que ele responda pelos crimes de peculato
e fraude em licitação na organização de 14 eventos promovidos pelo Ministério das Cidades. O empresário é
investigado também no STJ por supostas ilicitudes no financiamento e prestação de contas da campanha em
Minas Gerais do governador petista Fernando Pimentel. Mais: o TER mineiro determinou o prosseguimento
da tramitação da ação de investigação judicial que pede a cassação de Pimentel sob a acusação de abuso
econômico.
"R$ 100 mil"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
R$ 100 mil, entre todo o montante da propina que ao longo das gestões petistas chegou às mãos do ex-diretor
da Petrobras Renato Duque, foi roubado por assaltantes nas proximidades da sede da estatal, no Rio de
Janeiro. Esse valor, em espécie, estava sendo transportado pelo executivo João Antônio Bernardi Filho. Essa
dinheirama da gatunagem do andar de cima do petrolão anda em poder da gatunagem rastaquera.
"5 países"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
5 países, e somente 5 países, estão exportando menos que o Brasil em proporção ao PIB que apresentam – isso
numa lista de 150 nações. O Brasil está à frente apenas de Burundi, República Centro-Africana, Sudão,
Afeganistão e Kiribati. As exportações brasileiras têm em relação ao PIB o índice proporcional de 11,5%. A
média mundial é de 29,8%
Alerta
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"Dopping em campeonatos de videogame"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Para aumentar o seu rendimento em competições esportivas, alguns atletas burlam a lei e fazem uso de
substâncias ilícitas. É o doping. Agora ele começa a chegar também aos campeonatos internacionais de
videogames, famosos por distribuírem prêmios milionários. O fato veio à tona com o ciberatleta americano
Kori Friesen. Na semana passada ele declarou que sua equipe valeu-se recentemente de medicações indicadas
para déficit de atenção em um campeonato de vídeo games. A notícia correu o mundo e serviu de alerta para
as entidades que organizam os torneios: agora haverá exames antidoping também em competidores de
certames virtuais.
"A Vale volta a lucrar"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Após arcar com prejuízo de US$ 3,118 bilhões no primeiro trimestre de 2015, a Vale anunciou na quinta-feira
30 lucro líquido de US$ 1,675 bilhão entre os meses de abril e junho. Redução de despesas e maiores preços
na venda de minério de ferro respondem pela lucratividade que ultrapassou.
Lucros e prejuízos da Vale (em bilhões)
2º trimestre de 2015
+ R$ 5,144
1º trimestre de 2015
– R$ 9,538
4º trimestre de 2014
– R$ 4,761
3º trimestre de 2014
– R$ 3,381
2º trimestre de 2014
+ R$ 3,187
contra a corrupção
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"500 dias de luta contra a corrupção"
por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz
Na quinta-feira 30 a Operação Lava Jato completou 500 dias de existência – e a cada etapa de seu
cumprimento vem se consolidando como a maior ação contra a corrupção já realizada no País. Se lembrarmos
que há 500 dias ela deu seu primeiro passo quando a PF invadiu com ordem judicial um posto de gasolina em
Brasília no qual se “lavava” dinheiro (vem daí o nome da operação), é difícil imaginar que a Lava Jato
chegaria onde chegou. Deve o pódio anticorrupção ao trabalho da PF de Curitiba, à força-tarefa do Ministério
Público Federal e ao corajoso juiz federal Sérgio Moro. Em números, nesses 500 dias, a Lava Jato se traduz
em:
R$ 2,4 bilhões bloqueados pela Justiça
R$ 870 milhões já recuperados
48 prisões preventivas decretadas
46 prisões temporárias efetivadas
53 mandados de busca e apreensão cumpridos
138 envolvidos denunciados
30 réus condenados